Antes de mais nada vale dizer que já havia visto esse filme algumas vezes em DVD mas foi vendo em Bluray que tive a impressão de tê-lo visto pela primeira vez, com imagem e som de qualidades apropriados se percebe o quanto é bom este faroeste. Clint Eastwood (astro e diretor do filme) faz aqui uma espécie de inversão ao clássico "Matar ou Morrer" com Gary Cooper. Em "Matar ou Morrer" Cooper faz o delegado que aguarda a chegada dos bandidos que juraram vingança assim que saíssem da prisão. Cooper, o pistoleiro honrado e galante, desesperado busca o apoio dos amigos e dos cidadãos que lhe viram as costas. Em "O Estranho sem Nome" Clint praticamente inverte esta mesma história. Ele é o pistoleiro vagabundo e sem honra que chega em uma cidade apavorada com o retorno dos criminosos que já cumpriram sua pena e vê no pistoleiro sua chance de livrarem-se do problema sem sujarem as mãos, mas Clint está pouco interessado em defender a cidade, tira proveito da situação e quando a coisa esquenta pega seu cavalo e vai embora - claro que no final é ele quem duela com os bandidões mas não sem antes fazer os cidadãos expiarem seus pecados - o abandono do xerife anterior, assassinado pelos vilões. É como se fosse a vingança do delegado abandonado pela cidade em "Matar ou Morrer". Grande faroeste!
Direção de Bruno Barreto, inspirado na obra do baiano Jorge Amado, tendo como trilha musical uma bossa nova da Simone. Sonia Braga é dona Flor, a protagonista do filme - não sei dizer se era uma grande atriz, mas com certeza é uma das grandes estrelas do cinema nacional, sua beleza preenche o filme. José Wilker, um tanto exagerado, faz o primeiro marido, Vadinho, vagabundo, cafajeste, jogador, mulherengo, bate na mulher, rouba seu dinheiro, não trabalha, passa noites em bordéis, ainda assim é machão e não quer ver a mulher em ambientes que não são para moças direitas, a gente se pergunta porque dona Flor suporta tanto desse cara, mas é simples, ela é passiva, a esposa submissa, e também por ser o marido um homem bom de cama, que sacia sua volúpia, por isso, apesar de tantas infidelidades e de tanto ser maltratada por ele, ainda corre atrás e fica exultante de felicidade quando ele reaparece depois de ter se enfiado 4 dias seguidos em um bordel. Morto o primeiro marido entra em cena o segundo, Teodoro, feito por Mauro Mendonça, este agora é o oposto do primeiro, correto, trabalhador, conservador, puritano, de melhor posição social, o sonho de qualquer sogra, mas patético e insosso na cama, não quer ver dona Flôr trabalhando pra fora, assume as rédeas da casa ao demitir a empregada de confiança de Flôr, quer uma mulher submissa e obediente. A aceitação social do segundo marido faz Flôr pensar que desta vez a coisa vai, só que não vai, e falta algo, ela sente um vazio, e é por esse vazio que se cria a fantasia de trazer de volta o antigo marido, a felicidade vai ser atingida pela junção dos dois, o correto e trabalhador, o safado e bom de cama, essa é a ilusão da mulher brasileira. O público acompanha tudo de fora e sabe que a felicidade não virá desta junção, mas sim na emancipação desta mulher, quando ela finalmente se ver livre da dominação do homem, livre de ambos os tipos de machismos, do macho malandro e do puritano conservador, só assim ela poderá tomar o rumo próprio de sua vida e experimentar uma verdadeira liberdade. Um filme bem brasileiro. No final, a cena que ficou comigo, foi a cena no restaurante chique, onde Vadinho leva Flôr para comemorarem seu aniversário de casamento e Flôr experimenta caviar e pergunta para o marido o que ele achou, ele prova e diz que "tem o cheirinho e o gosto da...(e fala um nome que já não lembro qual mas que significa exatamente aquilo que os maliciosos pensaram)", Flôr fica envergonhada, olha de canto para os lados e depois solta um risinho maroto e comedido. Sonia Braga, maravilhosa!
Tema recorrente no cinema nacional, o filme trata da luta revolucionária contra a ditadura, mais especificamente do sequestro do embaixador norte americano, história verídica narrada em livro por Fernando Gabeira e que inspirou o filme. É uma pena que sempre que se tenta fazer um filme político sobre o período o nosso cinema fica só na promessa, o que nos falta? Acreditar no público? Este filme, assim como muitos filmes políticos do cinema nacional, tem a profundidade de uma poça d'água, soa falso. O diretor Bruno Barreto opta por ficar em cima do muro, por vezes parece defender a repressão mostrando na tela como a juventude que pegou em armas para lutar contra a ditadura estava errada e era ingênua, em determinado momento um dos personagens diz "vocês e os militares são as duas pontas da mesma ferradura", por vezes o filme até mesmo parece benevolente com os militares, mas enfim... O elenco é muito bom e se dá ao luxo de ótimas pontas, como a da Fernanda Montenegro - o erro fica por conta de colocar a dupla Fernanda Torres e Fernando Guimarães, que faz o casal da comédia de "Os Normais", pois parece que o filme vai descambar pro humor pastelão a qualquer momento. As cenas de ação são bem eficientes e lembram antigos filmes americanos sobre roubos, há a cena do assalto ao banco, há a cena do sequestro, e há a cena da libertação do embaixador que lembra "Golpe à Italiana" com o Michael Caine (só que este uma comédia). No interior da casa onde sequestradores e sequestrado ficam entocados poderia haver uma discussão política mais aprofundada, aos moldes de "Estado de Sítio", do Costa Gavras ou mesmo como o recente e pop "Os Edukadores". Mas nada acontece dentro da casa, não há defesa do capitalismo, tampouco do socialismo, no final o filme trata apenas de um sequestro orquestrado por jovens que não tinham ideia do que estavam fazendo. Ainda assim quando surgem os créditos finais com uma foto ao fundo de jovens sendo mandados embora do país, com as marcas da tortura, nos toca pensar nessa juventude que, errados ou não mas certamente ingênuos, pegou em armas pois acreditou que poderiam criar um mundo melhor.
Arnold Schwarzenegger já havia se consolidado como astro com os ótimos "Conan, o bárbaro" e "O exterminador do futuro" e O Predador manteve-o no status do grande astro de ação. Era praticamente a estréia de John McTiernan na direção, ele havia feito um filme que passou batido e O Predador foi sua grande chance de mostrar o quanto era competente, e assim ele o fez, implacando o seu primeiro grande filme, depois viriam mais dois sensacionais, "Duro de Matar" e "Caçada ao Outubro Vermelho" até cair no esquecimento com um punhado de filmes medíocres e chegar ao fundo do poço após ser preso por contratar um detetive para vigiar seu produtor. O enredo é digno de filme B, um grupo de militares desce em uma selva latino-americana afim de desbaratar uma guerrilha mas passam a ser caçados por um alienígena que busca troféus entre os homens. O resultado poderia ter sido uma bomba, e quase foi, o alien era tosco, parecendo um dinossauro, Van Damme pré-fama fazia os movimentos e saiu do projeto quando adivinhou que não daria certo, então um gigante foi contratado para fazer o monstro - Kevin Peter Hall - e voltaram a mesa de desenhos para achar outro visual, e esse se tornou o Predador que todos conhecem hoje. Há uma junção no filme de ação, ficção científica e suspense, tudo muito bem amarrado, empolgam muito as cenas iniciais da batalha contra a guerrilha, esquecemos até que se trata de um sci-fi, para depois sermos lançados no suspense da caçada, a visão do Predador observando de perto os caçados em primeira pessoa cria um clima sensacional. O filme se tornou um clássico dos anos 80 é não envelheceu nada. Gerou uma franquia de filmes e gibis do personagem que, vale dizer, não chegam perto da qualidade deste primeiro filme.
O filme nasceu na cabeça de Bruce Lee quando ele teve a ideia de criar um final onde o herói teria que subir de níveis enfrentando em cada nível um chefe mais forte, até chegar ao chefão final (algo que foi utilizado depois nos jogos de luta como Mortal Kombat e Street Fighter). Apesar de não ter nenhum roteiro pronto ele começou a filmar o que seria o final do filme, com as cenas de luta dirigidas por ele. O filme se passaria na China e Bruce já andava atrás do seu elenco até que numa tarde sentiu-se mal, tomou uma aspirina e foi dormir. Morreu enquanto dormia devido a uma reação alérgica provocada pela aspirina que fez com que seu cérebro inchasse (a quem diga que foi assassinado pela máfia chinesa devido ao ódio que alguns chineses tradicionais tinham por ele ensinar suas técnicas aos ocidentais). Muito pouca coisa havia sido filmada, três combates finais apenas e que provavelmente seriam retrabalhados. Bruce ainda tinha pouca experiência como diretor mas já era um astro. Seus dois primeiros filmes chineses são ótimos e o consagraram na China (O Dragão Chinês e Fúria do Dragão), são muito bem dirigidos. Depois viria uma tentativa de direção em "O Vôo do Dragão", um filme ruim, com roteiro fraco (escrito pelo próprio Bruce) e mal dirigido, veículo para Bruce mostrar suas técnicas. O que se salva em Vôo do Dragão é a batalha final entre Bruce e Chuck Norris, uma luta épica do gênero de artes marciais, mas nem tão boa assim. O próximo filme seria "Operação Dragão", seu primeiro filme americano como astro e que o consagrou no mundo todo. É um filme melhor produzido, tem mais grana na jogada, dinheiro americano, ainda assim é inferior aos dois primeiros filmes chineses. Não dá para imaginar como seria "O Jogo da Morte" se Bruce o tivesse completado. Os produtores do filme resolveram terminá-lo mesmo assim. Contrataram um elenco de atores americanos canastrões e tentaram caracterizar o dublê de Lee como se fosse o astro. O roteiro é capenga, nunca convence. O dublê de Lee não é parecido, não luta nada, não convence ninguém, ainda colocam gritinhos de Lee o tempo todo como se para convencer de que se trata do astro. Lá pelas tantas colocam cenas verdadeiras do enterro de Bruce, o que nos parece muito bizarro e insensível, nos faz perguntar como sua família pôde permitir isso, enfim... Algumas cenas de Lee dos filmes anteriores pipocam na tela lá de vez em quando, tentando nos enganar. No final, depois de 1 hora e 20 minutos (pra quê tanto!), se ainda tivermos resistido bravamente e não termos desligado a tv, enfastiados, chega a parte que realmente importa, Bruce Lee entra em cena, por 10 minutos, é a luta final filmada por Lee e posso dizer que vale muito a pena esperar até esse momento, a cena final é um primor, excepcional, nos faz pensar que o filme poderia ter sido muito bom. No final a intenção é que vale, filme ruim e muito mal costurado mas a cena com o Bruce verdadeiro sobreviveu e posteriormente seria homenageada por Tarantino em Kill Bill.
Eu sinceramente não entendo patavinas de beisebol, que é um esporte tradicionalmente norte-americano, identificado com o "estilo de vida americano" onde um indivíduo pode fazer a diferença e tornar-se um herói. Meu conhecimento sobre este esporte se resume a isto. Porque então ver um filme sobre beisebol? Em primeiro lugar é preciso explicar o que no beisebol significa ser o gerente do time: o gerente é um cargo intermediário que é superior ao técnico e inferior ao diretor, o técnico cuida do treinamento do time e comanda os jogos, o gerente cuida de todo o resto - contratação e venda de jogadores por ex. O filme conta a história verídica de Billy Beane, gerente dos Oakland A's que, encurralado devido a falta de dinheiro e a perda sucessiva de seus melhores jogadores se viu no dilema de encontrar uma forma alternativa de reformular o time. Encontrou esta fórmula através de Peter Brand, um economista que acreditava nas estatísticas matemáticas do jogo. Com isso Beane enfrentou mais de 100 anos de tradição do esporte, cujos métodos de escolha de jogadores era de, através de olheiros, encontrar jogadores perfeitos - bonitos, rápidos, fortes, com belas namoradas e comportados. Beane montou um time de excluídos, acreditou que cada um desses excluídos possuía fortes habilidades comprovadas por estatísticas mas que eram ignoradas por preconceitos por não serem bonitos, por terem passado da idade, por lançarem a bola de um jeito estranho, por serem rebeldes, etc... Beane montou um time de excluídos que, através de cálculos matemáticos e táticas, combatia de igual para igual os times milionários com seus astros. Beane foi acusado de acabar com o romantismo do jogo e enfrentou a fúria da velha guarda... É disto que trata o filme, de uma maneira sóbria, sem tomar partidos e sem cair no sentimentalismo, que é comum nos filmes de esporte. Vale a pena ver esse filme? Sim, é um filme muito bem feito e mesmo se você não souber nada de beisebol, como eu, vai vibrar com os lances de bastidores encabeçados por Beane/Pitt. Beane acabou com o romantismo do jogo? Respondo a essa pergunta com outra pergunta: não é romântico um time de excluídos enfrentar os melhores dos melhores astros e ainda assim vencer?
Quem está acostumado a assistir as novelas globais e esperava algo do gênero não irá se decepcionar, o longa segue a linha de seriados como "A Casa das Sete Mulheres", dando pouco atenção para ação e carregando no melodrama. Quem, como eu, esperava um faroeste gaudério vai se decepcionar. Talvez a história dos personagens no livro seja longa e complexa demais para se colocar em duas horas de filme, percebe-se que ao contar a história de Ana Terra em um hora e levar o mesmo tempo para contar a história do Capitão Rodrigo e Bibiana foi um erro, o filme fica fragmentado demais, talvez o mais acertado fosse centrar apenas no Capitão Rodrigo, que é quem rouba a história para si e traz vigor ao filme. O ritmo de novela incomoda, a música sentimental incessante para acentuar o melodrama incomoda demais, inclusive a presença de fantasmas, como toda novela/seriado da globo deve ter, incomoda, mas não dava para esperar algo diferente com Jayme Monjardim por trás de tudo, entrega-se o resumo de uma novela em duas horas, com cenas românticas melosas e cenas feitas para chorar. A história de Rodrigo Cambará exige mais, ele é o pistoleiro gaudério que chega num pequeno povoado e enfrenta o grande senhor de terras do local que se posta como juiz de tudo e de todos. Há o romance, lógico, mas o tom que o Veríssimo deu a história é o tom de um filme de faroeste. Thiago Lacerda dá ao personagem uma interpretação correta, sem dúvida é ele quem carrega o filme nas costas, enquanto ele está na tela, sendo o Cambará, chama a atenção toda para si, é engraçado e atrevido no tom certo, faz imaginar que o filme poderia ter sido muito melhor.
Estava apreensivo quanto a este filme, considerado um dos grandes filmes dos anos 90. Tinha uma breve recordação de algumas cenas - todas românticas - das vezes que passou na tv e que me fizeram ficar afastado. O diretor do filme é Michael Mann, um dos grandes diretores americanos atuais e que tem um estilo próprio que eu particularmente adoro. Claro que na época que este filme passava na tv eu nunca tinha ouvido falar do Mann, depois conheci-o através dos excepcionais filmes policiais que fez - Fogo Contra Fogo e Colateral são obras primas e Inimigos Públicos e Miami Vice são ótimos, sem falar em O Informante e a cine-biografia Ali, sobre a vida de Muhammad Ali, que são dois filmaços. Os filmes do Mann geralmente são bem escuros, ele tanta sempre utilizar a iluminação ambiente, há muita câmera na mão, que faz algumas cenas ficarem "frenéticas", sem falar nas trilhas que o Mann escolhe, um som sempre bem moderno, por essas e outras tive um certo receio de ver o Moicanos, achei que talvez o estilo moderno do diretor não combinasse com um filme épico, e ver o filme só me provou o quanto isso era uma bobagem, que seria impossível para alguém com o talento do Mann fazer um filme desinteressante. Com uma fotografia extraordinária, uma trilha sonora excepcional, boas atuações e uma ótima direção "O último dos Moicanos" é sim um dos grandes filmes da década de 90. O romance, que havia me afastado num primeiro momento, mostra que não há nada de piegas ali, nada de excessivamente sentimental. A história se passa durante a guerra de independência dos EUA, onde, com o apoio da França, os colonos lutavam para expulsar os ingleses. Aparentemente à parte do conflito e desinteressado da luta, o herói do filme se apaixona pela filha de um oficial inglês, o que faz com que, de uma maneira ou outra, acabe tomando partido na guerra. Um grande filme que merece ser visto.
A FÚRIA DO DRAGÃO (1972) - Este filme narra a história do herói chinês Chen Zhen, interpretado pelo lendário Bruce Lee. Ao retornar de viagem, Chen descobre que seu mestre esta morto. Não aceitando de forma alguma as humilhações impostas pelos japoneses à sua escola, Chen desconfia que seu mestre foi assassinado e parte em uma jornada em busca de justiça e vingança. O filme não deixa claro em que época se passa mas podemos crer que seria em 1910. É preciso entender que nesta época a China havia sido dominada por potências estrangeiras que impunham um governo humilhante aos chineses. As principais cidades da China eram consideradas área "internacional" e os chineses eram tratados com extremo preconceito em sua própria terra. Estas cidades haviam sido dominadas durante a Revolta dos Boxers, quando lutadores de artes marciais chineses resistiram contra a infiltração ocidental na China lutando com os próprios punhos contra estrangeiros armados. No início do século XX a revolta havia sido derrotada o que permitiu a ocupação estrangeira em suas cidades. Chen Zhen é um personagem fictício cuja história é baseada na vida de Huo Yuanjia que viveu na China no final do século XIX e início do XX. Nessa época, afim de humilhar os chineses que eram muito dedicados às artes marciais, os estrangeiros (que já controlavam parte do território chinês) promoviam torneios de lutas onde geralmente os chineses eram derrotados. Huo Yuanjia era filho de um mestre em Wushu, que o desencorajava a seguir nas artes marciais devido à Yuanjia sofrer de várias doenças que o debilitavam. Por dez anos ele treinou escondido apenas observando as aulas de seu pai para seus alunos. Certo dia seu irmão foi derrotado em uma luta por um lutador de outra escola, que por sua vez foi derroto por Yuanjia, isso fez seu pai tomá-lo como aluno e Yuanjia passou a vencer várias lutas e se tornou famoso. Se tornou herói nacional após vencer vários estrangeiros em desafios de artes marciais, na época foi considerado o homem mais forte do mundo. Morreu envenenado em 1910. Chen Zhen portanto seria o aluno vingador do mestre assassinado. No filme uma foto de Huo Yuanjia fica visível na parede da escola de artes marciais. Este é com certeza o melhor filme do astro Bruce Lee. Ele havia feito apenas um filme como protagonista (sem contar o seriado Besouro Verde, onde vivia o personagem Kato). Lee alcançou o estrelado devido ao seu carisma extraordinário. Mesmo sendo um ator ruim é praticamente impossível tirar os olhos dele na tela. Também foi um lutador formidável, as cenas de luta são de parar o coração e são sempre convincentes. O cinema de artes marciais chinês surgiu no início dos anos 70 e havia muitas debilidades, não houve anteriormente nenhum grande movimento cinematográfico no país. Baseado nos filmes de samurais japoneses os chineses trataram logo de encontrar seu próprio estilo e colocaram a linguagem cinematográfico dentro de suas próprias tradições fazendo filmes sobre as várias escolas de kung fu e outros estilos. Logo os filmes chineses ganharam o mundo e seu principal astro era Bruce Lee, que passou a ser cultuado também no ocidente. Mas voltando ao filme: dá para dizer que há muitas qualidades e muitos defeitos. A indústria chinesa de cinema era iniciante, os cenários são amadores, as interpretações são muito fracas e alguns elementos desnecessários foram colocados para ganhar público, como por exemplo o romance forçado de Chen Zhen com outra aluna e o alívio cômico quando Chen se fantasia de técnico de telefones - são cenas desnecessárias. A história é ótima e poderia ter sido melhor aproveitada (mais tarde será refilmada com Jet Li no papel principal, no filme "Matar ou Morrer"). Mas falemos então do principal, as cenas de pancadaria: são excelentes, de tirar o fôlego mesmo se vistas hoje. Uma das cenas foi homenageada por Quentin Tarantino em Kill Bill, a cena em que Chen Zhen entra na escola adversária e enfrenta todos os japoneses armado de um tchaco foi a base para Quentin fazer a luta da noiva contra os 88 loucos. Apesar de precária a cena original não fica atrás da super produzida em Kill Bill. E o que dizer da luta de Chen contra o russo, ou do duelo entre o samurai e sua Katana contra Chen e seu Tchaco? Memoráveis! E que Tarantino me perdoe mas o soco que Chen desfere contra quem assassinou seu mestre sim que faz explodir o coração do adversário, muito mais eficiente que a técnica dos 5 dedos. É bonito de ver o Bruce Lee lutar, ele era inigualável. É um grande filme de artes marciais, apesar de toda a precariedade da produção. É graças a este cinema nascente chines que hoje temos obras-primas como "O Tigre e o Dragão" ou "O Clã das Adagas Voadoras" ou "Cinzas do Passado". Vale muito a pena.
O diretor Alan Parker tem pelo menos 2 ótimos filmes em sua filmografia, "Coração Satânico" e "Mississipi em Chamas", ambos se passam num ambiente sulista norte-americano onde a segregação racial é muito presente (há quem goste ainda de "Asas da Liberdade" mas é preciso engolir muito sentimentalismo barato para gostar deste filme). Em Mississipi em Chamas o conflito racial é o núcleo do filme, já em Coração Satânico ele é mais o pano de fundo onde se desenvolve a história. Em Coração, Parker faz um filme noir, ambientado numa Harlen com uma cultura negra muito forte, e adiciona o elemento de horror - tudo isso funciona muito bem. O elenco de apoio do filme é ótimo, temos um Robert De Niro afiado e uma Charlotte Rampling belíssima, mas é inegavelmente um filme para firmar o rebelde Mickey Rourke ao estrelato e, estranhamente, foi seu último bom filme por mais de uma década, já que pouco depois, brigado com a crítica que só o malhava (e más escolhas que o ator fez), abandonou o cinema para virar boxeador. Ainda assim dá gosto de ver Rourke em seu auge, e pessoalmente me deprime por tudo o que ele podia ter sido e não foi. Rourke é o Detetive Harry Angel contratado por Louis Cyphre (De Niro) para encontrar um cantor desaparecido, mas coisas estranhas acontecem, assassinatos, voodoos, perseguições e música soul, o detetive Angel nos remete a outros detetives famosos do cinema clássico noir, como Bogart em À Beira do Abismo ou Nicholson em Chinatown. Lisa Bonet faz o "par romântico", lindíssima! Entretenimento de primeira.
Filme clássico de terror do diretor Jacques Tourneur, e a confirmação de seu talento. Simone Simon com seu rosto felino interpreta Irena, uma mulher reprimida sexualmente que se casa e tem medo de consumar o casamento, seu marido então passa a se aproximar cada vez mais de uma amiga, o que faz com que Irena, descendente de bruxas Sérvias, se torne uma pantera disposta a tudo para defender seu território. Devido ao baixo orçamento do filme todas as cenas de terror são apenas sugeridas com barulhos e sombras, em pouquíssimas cenas algo é realmente mostrado, e isso funciona muito bem pois o filme não envelheceu nada nada. Vale destacar o ataque da pantera na piscina, uma cena excepcional que nos deixa estáticos.
Filme magnífico de Zurlini, baseado no assassinato de Patrice Lumunda (no filme o nome foi alterado para Maurice Lalubi), um líder revolucionário africano que lutou contra o imperialismo em seu país e pela liberdade do seu povo. Na verdade há um paralelo óbvio e forte entre a história de Lalubi e a de Jesus Cristo, e o filme começa com uma traição (Judas) de um dos homens de Lalubi, que informa a localização do líder revolucionário aos militares belgas (Romanos). Na prisão Lalubi é barbaramente torturado (assim como Cristo pelos romanos). Lalubi é levado pelos Belgas (sua via crúcis) juntamente com dois criminosos para um local seguro onde será assassinado e onde não deverão restar testemunhas. O ponto alto do filme é a relação de um dos criminosos, um ladrão comum, com o líder revolucionário, pois ele é o único que presta solidariedade ao sofrimento de Lalubi, ganhando assim sua redenção cristã. É um filme cristão e político. Militarismo e cristianismo não caminham juntos. Sobre o filme de Zurlini: é tocante, grande filme sobre o homem.
Filme brilhante do diretor Ettore Scola, com duas interpretações magníficas de Marcello Mastroianni e Sophia Loren. Tudo se passa em um dia. Todos os moradores de um condomínio italiano vão participar de um comício fascista no dia em que Hitler esteve com Mussolini. Duas pessoas ficam no condomínio, Antonietta (Sophia) - a dona de casa alienada e cansada da vida doméstica, que vê em Mussolini o homem ideal dos romances da sua juventude, uma esposa e mãe passiva, controlada pelo marido autoritário e pelos filhos e presa a uma monotonia que lhe angustia; e Gabriele (Marcello) - um intelectual homossexual que foi demitido do seu emprego por "depravação" já que na sociedade fascista só há lugar para homens que sejam maridos-pais-soldados. Dois solitários que se encontram e que de certa forma suprem o vazio que sentem e isso lhes da esperança de continuar. Filme belíssimo e tocante, o final é excepcional. Uma experiência que vale muito a pena.
Trata-se de um filme de guerra padrão: um grupo de soldados é designado para cumprir uma missão destruindo uma base inimiga, mas na volta da missão as coisas se complicam quando são perseguidos e ficam impedidos de sair da mata fechada. Existe ali todos os chavões de filmes de guerra da época dispostos a fazer com que os jovens se alistassem no exército (a segunda guerra ainda estava em vigor e os filmes sobre o assunto eram todos propaganda). Os japoneses eram os vilões malvados, os soldados americanos eram como uma família, existe um heroísmo sublimado o tempo todo... Um filme chavão? Poderia ser mas não é. Trata-se de uma das maiores aventuras de guerra já feitas, continua sensacional! Houve a polêmica de que o grupo de soldados, no filme, ser quase que exclusivamente de americanos e que a história verdadeira - pois é baseado em fato verídico - foi protagonizada por britânicos, motivo pelo qual o filme foi muito mal recebido na Inglaterra. Mas enfim, polêmicas à parte é uma das preciosidades do gênero. Isso se deve à direção brilhante do então calejado Raoul Walsh, diretor competentíssimo e subestimado, cuja especialidade eram os gêneros de aventura e ação. Existe no filme muitas inovações, inclusive em termos de violência que era ousada para a época, as cenas são muito bem feitas, com closes o tempo todo invocando o heroísmo, cenas reais colocadas entre cenas filmadas que passam uma ideia de documentário - acreditamos realmente na história. Também seria impossível não exaltar o ator Errol Flynn, o astro cujo carisma é parte importante do sucesso do filme. Flynn não era um grande ator mas tinha um magnetismo que fazia o grande público adorá-lo, ele se popularizou graças ao seu bom físico em aventuras épicas como filmes de piratas e faroestes e mais tarde em filmes de guerra - ele teve uma vida turbulenta, com muito álcool, noitadas e mulheres, o que fez com que envelhecesse rápido e morresse muito jovem. Flynn e Walsh formaram uma das grandes duplas do cinema em sua época, ele era o alter ego do diretor que o usou em muitos de seus filmes, vale destacar este "Um Punhado de Bravos", "O Ídolo do Público", "O Intrépido General Custer" e "Três Dias de Glória", e talvez sejam mesmo os melhores filmes do diretor que ainda possui grandes obras na carreira e que trabalhou com grandes astros, como James Cagney, Humphrey Bogart, John Wayne, Gary Cooper, Robert Mitchum e Gregory Peck - portanto não era pouca coisa para o Flynn ser o alter ego do Walsh. Vale a pena para quem gosta dos gêneros de ação, guerra e aventura... é uma grande demonstração do que a dupla Walsh-Flynn era capaz de fazer. E é um dos meus filmes de guerra favoritos, confesso!
"Planeta dos Macacos - A Origem" me remeteu aos filmes sobre revoltas contra condições ultrajantes, como "Spartacus" e "O Grande Motim", estava com um certo receio por ser fã do filme clássico de 1968 e por já ter me decepcionado com a versão de 2001, do Tim Burton, mas a ligação e as referências que este filme possui com a versão clássica eu diria que só a complementam. Também vale lembrar os livro clássicos "A Revolução dos Bichos" e "Frankenstein". No início tudo é um experimento de um cientista envolvido emocionalmente com seu trabalho que ousa atravessar a linha do permissível dentro da ciência, criando assim seu monstro de Frankenstein, ou melhor dizendo, criando César, um macaco inteligente e consciente de si. César começa a se questionar quando tenta uma aproximação com o mundo do lado de fora (já que ele vive preso em casa) e percebe que não é aceito pelas pessoas que o temem e exteriorizam este temor com agressividade, a estranheza do contato com o mundo humano, a percepção do conceito de ser um animal de estimação, de ter de usar coleira, de perceber que seu semelhante, o macaco, vive preso e confinado, submisso, cria em César a centelha da revolta que o leva a lutar contra o humano pela liberdade de sua espécie. Um ótimo filme que tem muito a dizer sobre nós mesmos. Recomendo!
Primeiro me falaram muito mal do filme, então procurei alguma crítica interessante e as críticas também falavam muito mal, fiquei com preconceito desde o início, o que é uma burrada, o melhor é a gente ver um filme sem saber a opinião de ninguém, mas enfim... Vi e me surpreendi, achei o filme muito bem feito e um ótimo divertimento, não entendi porque tanta malhação. A meu ver o filme faz várias pequenas homenagens, primeiro aos faroestes do diretor americano John Ford (Cavalo de Ferro, Rastros de ódio, O Homem que Matou o Facínora), depois ao faroestes italianos do diretor Sérgio Leone (Três homens em Conflito, Era uma vez no Oeste). O faroeste americano fez muito sucesso nas décadas de 40/50 e nos anos 60 começou a decair, o que fez surgir o faroeste italiano que deu novo fôlego ao gênero até os anos 70. Hoje faroestes estão fora de moda, será por isso que o filme foi um fracasso? Delírio meu ou não, senti no filme uma forte homenagem ao "A General" de Buster Keaton (que o Deep já imitou num dos seus primeiros filmes) e, lógico, ao seriado "O Cavaleiro Solitário" e a seriados similares, que eram a sensação nos anos 50/60. O filme me remeteu aos bons filmes de aventura dos anos 40... O filme me fez lembrar tantos outros filmes e seriados que gosto que seria impossível não ter gostado. Porque o fracasso? Não sei, ao meu ver seria completamente compreensível um sucesso de bilheteria já que o filme não exige que se conheça tantas referências antigas e pode muito bem ser apreciado pelos olhos de uma criança tanto quanto pelos olhos do pessoal mais velho que gostava de faroestes.
O Estranho Sem Nome
3.8 253Antes de mais nada vale dizer que já havia visto esse filme algumas vezes em DVD mas foi vendo em Bluray que tive a impressão de tê-lo visto pela primeira vez, com imagem e som de qualidades apropriados se percebe o quanto é bom este faroeste. Clint Eastwood (astro e diretor do filme) faz aqui uma espécie de inversão ao clássico "Matar ou Morrer" com Gary Cooper. Em "Matar ou Morrer" Cooper faz o delegado que aguarda a chegada dos bandidos que juraram vingança assim que saíssem da prisão. Cooper, o pistoleiro honrado e galante, desesperado busca o apoio dos amigos e dos cidadãos que lhe viram as costas. Em "O Estranho sem Nome" Clint praticamente inverte esta mesma história. Ele é o pistoleiro vagabundo e sem honra que chega em uma cidade apavorada com o retorno dos criminosos que já cumpriram sua pena e vê no pistoleiro sua chance de livrarem-se do problema sem sujarem as mãos, mas Clint está pouco interessado em defender a cidade, tira proveito da situação e quando a coisa esquenta pega seu cavalo e vai embora - claro que no final é ele quem duela com os bandidões mas não sem antes fazer os cidadãos expiarem seus pecados - o abandono do xerife anterior, assassinado pelos vilões. É como se fosse a vingança do delegado abandonado pela cidade em "Matar ou Morrer". Grande faroeste!
Dona Flor e Seus Dois Maridos
3.5 171Direção de Bruno Barreto, inspirado na obra do baiano Jorge Amado, tendo como trilha musical uma bossa nova da Simone. Sonia Braga é dona Flor, a protagonista do filme - não sei dizer se era uma grande atriz, mas com certeza é uma das grandes estrelas do cinema nacional, sua beleza preenche o filme.
José Wilker, um tanto exagerado, faz o primeiro marido, Vadinho, vagabundo, cafajeste, jogador, mulherengo, bate na mulher, rouba seu dinheiro, não trabalha, passa noites em bordéis, ainda assim é machão e não quer ver a mulher em ambientes que não são para moças direitas, a gente se pergunta porque dona Flor suporta tanto desse cara, mas é simples, ela é passiva, a esposa submissa, e também por ser o marido um homem bom de cama, que sacia sua volúpia, por isso, apesar de tantas infidelidades e de tanto ser maltratada por ele, ainda corre atrás e fica exultante de felicidade quando ele reaparece depois de ter se enfiado 4 dias seguidos em um bordel.
Morto o primeiro marido entra em cena o segundo, Teodoro, feito por Mauro Mendonça, este agora é o oposto do primeiro, correto, trabalhador, conservador, puritano, de melhor posição social, o sonho de qualquer sogra, mas patético e insosso na cama, não quer ver dona Flôr trabalhando pra fora, assume as rédeas da casa ao demitir a empregada de confiança de Flôr, quer uma mulher submissa e obediente.
A aceitação social do segundo marido faz Flôr pensar que desta vez a coisa vai, só que não vai, e falta algo, ela sente um vazio, e é por esse vazio que se cria a fantasia de trazer de volta o antigo marido, a felicidade vai ser atingida pela junção dos dois, o correto e trabalhador, o safado e bom de cama, essa é a ilusão da mulher brasileira.
O público acompanha tudo de fora e sabe que a felicidade não virá desta junção, mas sim na emancipação desta mulher, quando ela finalmente se ver livre da dominação do homem, livre de ambos os tipos de machismos, do macho malandro e do puritano conservador, só assim ela poderá tomar o rumo próprio de sua vida e experimentar uma verdadeira liberdade. Um filme bem brasileiro.
No final, a cena que ficou comigo, foi a cena no restaurante chique, onde Vadinho leva Flôr para comemorarem seu aniversário de casamento e Flôr experimenta caviar e pergunta para o marido o que ele achou, ele prova e diz que "tem o cheirinho e o gosto da...(e fala um nome que já não lembro qual mas que significa exatamente aquilo que os maliciosos pensaram)", Flôr fica envergonhada, olha de canto para os lados e depois solta um risinho maroto e comedido. Sonia Braga, maravilhosa!
O Que é Isso, Companheiro?
3.8 339Tema recorrente no cinema nacional, o filme trata da luta revolucionária contra a ditadura, mais especificamente do sequestro do embaixador norte americano, história verídica narrada em livro por Fernando Gabeira e que inspirou o filme. É uma pena que sempre que se tenta fazer um filme político sobre o período o nosso cinema fica só na promessa, o que nos falta? Acreditar no público? Este filme, assim como muitos filmes políticos do cinema nacional, tem a profundidade de uma poça d'água, soa falso. O diretor Bruno Barreto opta por ficar em cima do muro, por vezes parece defender a repressão mostrando na tela como a juventude que pegou em armas para lutar contra a ditadura estava errada e era ingênua, em determinado momento um dos personagens diz "vocês e os militares são as duas pontas da mesma ferradura", por vezes o filme até mesmo parece benevolente com os militares, mas enfim... O elenco é muito bom e se dá ao luxo de ótimas pontas, como a da Fernanda Montenegro - o erro fica por conta de colocar a dupla Fernanda Torres e Fernando Guimarães, que faz o casal da comédia de "Os Normais", pois parece que o filme vai descambar pro humor pastelão a qualquer momento. As cenas de ação são bem eficientes e lembram antigos filmes americanos sobre roubos, há a cena do assalto ao banco, há a cena do sequestro, e há a cena da libertação do embaixador que lembra "Golpe à Italiana" com o Michael Caine (só que este uma comédia). No interior da casa onde sequestradores e sequestrado ficam entocados poderia haver uma discussão política mais aprofundada, aos moldes de "Estado de Sítio", do Costa Gavras ou mesmo como o recente e pop "Os Edukadores". Mas nada acontece dentro da casa, não há defesa do capitalismo, tampouco do socialismo, no final o filme trata apenas de um sequestro orquestrado por jovens que não tinham ideia do que estavam fazendo. Ainda assim quando surgem os créditos finais com uma foto ao fundo de jovens sendo mandados embora do país, com as marcas da tortura, nos toca pensar nessa juventude que, errados ou não mas certamente ingênuos, pegou em armas pois acreditou que poderiam criar um mundo melhor.
O Predador
3.8 818 Assista AgoraArnold Schwarzenegger já havia se consolidado como astro com os ótimos "Conan, o bárbaro" e "O exterminador do futuro" e O Predador manteve-o no status do grande astro de ação. Era praticamente a estréia de John McTiernan na direção, ele havia feito um filme que passou batido e O Predador foi sua grande chance de mostrar o quanto era competente, e assim ele o fez, implacando o seu primeiro grande filme, depois viriam mais dois sensacionais, "Duro de Matar" e "Caçada ao Outubro Vermelho" até cair no esquecimento com um punhado de filmes medíocres e chegar ao fundo do poço após ser preso por contratar um detetive para vigiar seu produtor.
O enredo é digno de filme B, um grupo de militares desce em uma selva latino-americana afim de desbaratar uma guerrilha mas passam a ser caçados por um alienígena que busca troféus entre os homens. O resultado poderia ter sido uma bomba, e quase foi, o alien era tosco, parecendo um dinossauro, Van Damme pré-fama fazia os movimentos e saiu do projeto quando adivinhou que não daria certo, então um gigante foi contratado para fazer o monstro - Kevin Peter Hall - e voltaram a mesa de desenhos para achar outro visual, e esse se tornou o Predador que todos conhecem hoje.
Há uma junção no filme de ação, ficção científica e suspense, tudo muito bem amarrado, empolgam muito as cenas iniciais da batalha contra a guerrilha, esquecemos até que se trata de um sci-fi, para depois sermos lançados no suspense da caçada, a visão do Predador observando de perto os caçados em primeira pessoa cria um clima sensacional. O filme se tornou um clássico dos anos 80 é não envelheceu nada. Gerou uma franquia de filmes e gibis do personagem que, vale dizer, não chegam perto da qualidade deste primeiro filme.
Jogo da Morte
3.4 144 Assista AgoraO filme nasceu na cabeça de Bruce Lee quando ele teve a ideia de criar um final onde o herói teria que subir de níveis enfrentando em cada nível um chefe mais forte, até chegar ao chefão final (algo que foi utilizado depois nos jogos de luta como Mortal Kombat e Street Fighter). Apesar de não ter nenhum roteiro pronto ele começou a filmar o que seria o final do filme, com as cenas de luta dirigidas por ele. O filme se passaria na China e Bruce já andava atrás do seu elenco até que numa tarde sentiu-se mal, tomou uma aspirina e foi dormir. Morreu enquanto dormia devido a uma reação alérgica provocada pela aspirina que fez com que seu cérebro inchasse (a quem diga que foi assassinado pela máfia chinesa devido ao ódio que alguns chineses tradicionais tinham por ele ensinar suas técnicas aos ocidentais). Muito pouca coisa havia sido filmada, três combates finais apenas e que provavelmente seriam retrabalhados.
Bruce ainda tinha pouca experiência como diretor mas já era um astro. Seus dois primeiros filmes chineses são ótimos e o consagraram na China (O Dragão Chinês e Fúria do Dragão), são muito bem dirigidos. Depois viria uma tentativa de direção em "O Vôo do Dragão", um filme ruim, com roteiro fraco (escrito pelo próprio Bruce) e mal dirigido, veículo para Bruce mostrar suas técnicas. O que se salva em Vôo do Dragão é a batalha final entre Bruce e Chuck Norris, uma luta épica do gênero de artes marciais, mas nem tão boa assim. O próximo filme seria "Operação Dragão", seu primeiro filme americano como astro e que o consagrou no mundo todo. É um filme melhor produzido, tem mais grana na jogada, dinheiro americano, ainda assim é inferior aos dois primeiros filmes chineses. Não dá para imaginar como seria "O Jogo da Morte" se Bruce o tivesse completado.
Os produtores do filme resolveram terminá-lo mesmo assim. Contrataram um elenco de atores americanos canastrões e tentaram caracterizar o dublê de Lee como se fosse o astro. O roteiro é capenga, nunca convence. O dublê de Lee não é parecido, não luta nada, não convence ninguém, ainda colocam gritinhos de Lee o tempo todo como se para convencer de que se trata do astro. Lá pelas tantas colocam cenas verdadeiras do enterro de Bruce, o que nos parece muito bizarro e insensível, nos faz perguntar como sua família pôde permitir isso, enfim... Algumas cenas de Lee dos filmes anteriores pipocam na tela lá de vez em quando, tentando nos enganar. No final, depois de 1 hora e 20 minutos (pra quê tanto!), se ainda tivermos resistido bravamente e não termos desligado a tv, enfastiados, chega a parte que realmente importa, Bruce Lee entra em cena, por 10 minutos, é a luta final filmada por Lee e posso dizer que vale muito a pena esperar até esse momento, a cena final é um primor, excepcional, nos faz pensar que o filme poderia ter sido muito bom. No final a intenção é que vale, filme ruim e muito mal costurado mas a cena com o Bruce verdadeiro sobreviveu e posteriormente seria homenageada por Tarantino em Kill Bill.
O Homem que Mudou o Jogo
3.7 931Eu sinceramente não entendo patavinas de beisebol, que é um esporte tradicionalmente norte-americano, identificado com o "estilo de vida americano" onde um indivíduo pode fazer a diferença e tornar-se um herói. Meu conhecimento sobre este esporte se resume a isto. Porque então ver um filme sobre beisebol?
Em primeiro lugar é preciso explicar o que no beisebol significa ser o gerente do time: o gerente é um cargo intermediário que é superior ao técnico e inferior ao diretor, o técnico cuida do treinamento do time e comanda os jogos, o gerente cuida de todo o resto - contratação e venda de jogadores por ex.
O filme conta a história verídica de Billy Beane, gerente dos Oakland A's que, encurralado devido a falta de dinheiro e a perda sucessiva de seus melhores jogadores se viu no dilema de encontrar uma forma alternativa de reformular o time. Encontrou esta fórmula através de Peter Brand, um economista que acreditava nas estatísticas matemáticas do jogo.
Com isso Beane enfrentou mais de 100 anos de tradição do esporte, cujos métodos de escolha de jogadores era de, através de olheiros, encontrar jogadores perfeitos - bonitos, rápidos, fortes, com belas namoradas e comportados. Beane montou um time de excluídos, acreditou que cada um desses excluídos possuía fortes habilidades comprovadas por estatísticas mas que eram ignoradas por preconceitos por não serem bonitos, por terem passado da idade, por lançarem a bola de um jeito estranho, por serem rebeldes, etc... Beane montou um time de excluídos que, através de cálculos matemáticos e táticas, combatia de igual para igual os times milionários com seus astros.
Beane foi acusado de acabar com o romantismo do jogo e enfrentou a fúria da velha guarda... É disto que trata o filme, de uma maneira sóbria, sem tomar partidos e sem cair no sentimentalismo, que é comum nos filmes de esporte.
Vale a pena ver esse filme? Sim, é um filme muito bem feito e mesmo se você não souber nada de beisebol, como eu, vai vibrar com os lances de bastidores encabeçados por Beane/Pitt.
Beane acabou com o romantismo do jogo? Respondo a essa pergunta com outra pergunta: não é romântico um time de excluídos enfrentar os melhores dos melhores astros e ainda assim vencer?
O Tempo e o Vento
3.6 453Quem está acostumado a assistir as novelas globais e esperava algo do gênero não irá se decepcionar, o longa segue a linha de seriados como "A Casa das Sete Mulheres", dando pouco atenção para ação e carregando no melodrama. Quem, como eu, esperava um faroeste gaudério vai se decepcionar. Talvez a história dos personagens no livro seja longa e complexa demais para se colocar em duas horas de filme, percebe-se que ao contar a história de Ana Terra em um hora e levar o mesmo tempo para contar a história do Capitão Rodrigo e Bibiana foi um erro, o filme fica fragmentado demais, talvez o mais acertado fosse centrar apenas no Capitão Rodrigo, que é quem rouba a história para si e traz vigor ao filme. O ritmo de novela incomoda, a música sentimental incessante para acentuar o melodrama incomoda demais, inclusive a presença de fantasmas, como toda novela/seriado da globo deve ter, incomoda, mas não dava para esperar algo diferente com Jayme Monjardim por trás de tudo, entrega-se o resumo de uma novela em duas horas, com cenas românticas melosas e cenas feitas para chorar.
A história de Rodrigo Cambará exige mais, ele é o pistoleiro gaudério que chega num pequeno povoado e enfrenta o grande senhor de terras do local que se posta como juiz de tudo e de todos. Há o romance, lógico, mas o tom que o Veríssimo deu a história é o tom de um filme de faroeste. Thiago Lacerda dá ao personagem uma interpretação correta, sem dúvida é ele quem carrega o filme nas costas, enquanto ele está na tela, sendo o Cambará, chama a atenção toda para si, é engraçado e atrevido no tom certo, faz imaginar que o filme poderia ter sido muito melhor.
O Último dos Moicanos
3.8 374Estava apreensivo quanto a este filme, considerado um dos grandes filmes dos anos 90. Tinha uma breve recordação de algumas cenas - todas românticas - das vezes que passou na tv e que me fizeram ficar afastado. O diretor do filme é Michael Mann, um dos grandes diretores americanos atuais e que tem um estilo próprio que eu particularmente adoro. Claro que na época que este filme passava na tv eu nunca tinha ouvido falar do Mann, depois conheci-o através dos excepcionais filmes policiais que fez - Fogo Contra Fogo e Colateral são obras primas e Inimigos Públicos e Miami Vice são ótimos, sem falar em O Informante e a cine-biografia Ali, sobre a vida de Muhammad Ali, que são dois filmaços.
Os filmes do Mann geralmente são bem escuros, ele tanta sempre utilizar a iluminação ambiente, há muita câmera na mão, que faz algumas cenas ficarem "frenéticas", sem falar nas trilhas que o Mann escolhe, um som sempre bem moderno, por essas e outras tive um certo receio de ver o Moicanos, achei que talvez o estilo moderno do diretor não combinasse com um filme épico, e ver o filme só me provou o quanto isso era uma bobagem, que seria impossível para alguém com o talento do Mann fazer um filme desinteressante.
Com uma fotografia extraordinária, uma trilha sonora excepcional, boas atuações e uma ótima direção "O último dos Moicanos" é sim um dos grandes filmes da década de 90. O romance, que havia me afastado num primeiro momento, mostra que não há nada de piegas ali, nada de excessivamente sentimental. A história se passa durante a guerra de independência dos EUA, onde, com o apoio da França, os colonos lutavam para expulsar os ingleses. Aparentemente à parte do conflito e desinteressado da luta, o herói do filme se apaixona pela filha de um oficial inglês, o que faz com que, de uma maneira ou outra, acabe tomando partido na guerra. Um grande filme que merece ser visto.
A Fúria do Dragão
3.9 114A FÚRIA DO DRAGÃO (1972) - Este filme narra a história do herói chinês Chen Zhen, interpretado pelo lendário Bruce Lee.
Ao retornar de viagem, Chen descobre que seu mestre esta morto. Não aceitando de forma alguma as humilhações impostas pelos japoneses à sua escola, Chen desconfia que seu mestre foi assassinado e parte em uma jornada em busca de justiça e vingança.
O filme não deixa claro em que época se passa mas podemos crer que seria em 1910. É preciso entender que nesta época a China havia sido dominada por potências estrangeiras que impunham um governo humilhante aos chineses. As principais cidades da China eram consideradas área "internacional" e os chineses eram tratados com extremo preconceito em sua própria terra. Estas cidades haviam sido dominadas durante a Revolta dos Boxers, quando lutadores de artes marciais chineses resistiram contra a infiltração ocidental na China lutando com os próprios punhos contra estrangeiros armados. No início do século XX a revolta havia sido derrotada o que permitiu a ocupação estrangeira em suas cidades.
Chen Zhen é um personagem fictício cuja história é baseada na vida de Huo Yuanjia que viveu na China no final do século XIX e início do XX. Nessa época, afim de humilhar os chineses que eram muito dedicados às artes marciais, os estrangeiros (que já controlavam parte do território chinês) promoviam torneios de lutas onde geralmente os chineses eram derrotados. Huo Yuanjia era filho de um mestre em Wushu, que o desencorajava a seguir nas artes marciais devido à Yuanjia sofrer de várias doenças que o debilitavam. Por dez anos ele treinou escondido apenas observando as aulas de seu pai para seus alunos. Certo dia seu irmão foi derrotado em uma luta por um lutador de outra escola, que por sua vez foi derroto por Yuanjia, isso fez seu pai tomá-lo como aluno e Yuanjia passou a vencer várias lutas e se tornou famoso. Se tornou herói nacional após vencer vários estrangeiros em desafios de artes marciais, na época foi considerado o homem mais forte do mundo. Morreu envenenado em 1910. Chen Zhen portanto seria o aluno vingador do mestre assassinado. No filme uma foto de Huo Yuanjia fica visível na parede da escola de artes marciais.
Este é com certeza o melhor filme do astro Bruce Lee. Ele havia feito apenas um filme como protagonista (sem contar o seriado Besouro Verde, onde vivia o personagem Kato). Lee alcançou o estrelado devido ao seu carisma extraordinário. Mesmo sendo um ator ruim é praticamente impossível tirar os olhos dele na tela. Também foi um lutador formidável, as cenas de luta são de parar o coração e são sempre convincentes. O cinema de artes marciais chinês surgiu no início dos anos 70 e havia muitas debilidades, não houve anteriormente nenhum grande movimento cinematográfico no país. Baseado nos filmes de samurais japoneses os chineses trataram logo de encontrar seu próprio estilo e colocaram a linguagem cinematográfico dentro de suas próprias tradições fazendo filmes sobre as várias escolas de kung fu e outros estilos. Logo os filmes chineses ganharam o mundo e seu principal astro era Bruce Lee, que passou a ser cultuado também no ocidente.
Mas voltando ao filme: dá para dizer que há muitas qualidades e muitos defeitos. A indústria chinesa de cinema era iniciante, os cenários são amadores, as interpretações são muito fracas e alguns elementos desnecessários foram colocados para ganhar público, como por exemplo o romance forçado de Chen Zhen com outra aluna e o alívio cômico quando Chen se fantasia de técnico de telefones - são cenas desnecessárias. A história é ótima e poderia ter sido melhor aproveitada (mais tarde será refilmada com Jet Li no papel principal, no filme "Matar ou Morrer"). Mas falemos então do principal, as cenas de pancadaria: são excelentes, de tirar o fôlego mesmo se vistas hoje. Uma das cenas foi homenageada por Quentin Tarantino em Kill Bill, a cena em que Chen Zhen entra na escola adversária e enfrenta todos os japoneses armado de um tchaco foi a base para Quentin fazer a luta da noiva contra os 88 loucos. Apesar de precária a cena original não fica atrás da super produzida em Kill Bill. E o que dizer da luta de Chen contra o russo, ou do duelo entre o samurai e sua Katana contra Chen e seu Tchaco? Memoráveis! E que Tarantino me perdoe mas o soco que Chen desfere contra quem assassinou seu mestre sim que faz explodir o coração do adversário, muito mais eficiente que a técnica dos 5 dedos. É bonito de ver o Bruce Lee lutar, ele era inigualável. É um grande filme de artes marciais, apesar de toda a precariedade da produção. É graças a este cinema nascente chines que hoje temos obras-primas como "O Tigre e o Dragão" ou "O Clã das Adagas Voadoras" ou "Cinzas do Passado".
Vale muito a pena.
Coração Satânico
3.9 494O diretor Alan Parker tem pelo menos 2 ótimos filmes em sua filmografia, "Coração Satânico" e "Mississipi em Chamas", ambos se passam num ambiente sulista norte-americano onde a segregação racial é muito presente (há quem goste ainda de "Asas da Liberdade" mas é preciso engolir muito sentimentalismo barato para gostar deste filme). Em Mississipi em Chamas o conflito racial é o núcleo do filme, já em Coração Satânico ele é mais o pano de fundo onde se desenvolve a história. Em Coração, Parker faz um filme noir, ambientado numa Harlen com uma cultura negra muito forte, e adiciona o elemento de horror - tudo isso funciona muito bem. O elenco de apoio do filme é ótimo, temos um Robert De Niro afiado e uma Charlotte Rampling belíssima, mas é inegavelmente um filme para firmar o rebelde Mickey Rourke ao estrelato e, estranhamente, foi seu último bom filme por mais de uma década, já que pouco depois, brigado com a crítica que só o malhava (e más escolhas que o ator fez), abandonou o cinema para virar boxeador. Ainda assim dá gosto de ver Rourke em seu auge, e pessoalmente me deprime por tudo o que ele podia ter sido e não foi.
Rourke é o Detetive Harry Angel contratado por Louis Cyphre (De Niro) para encontrar um cantor desaparecido, mas coisas estranhas acontecem, assassinatos, voodoos, perseguições e música soul, o detetive Angel nos remete a outros detetives famosos do cinema clássico noir, como Bogart em À Beira do Abismo ou Nicholson em Chinatown. Lisa Bonet faz o "par romântico", lindíssima! Entretenimento de primeira.
Sangue de Pantera
3.7 99Filme clássico de terror do diretor Jacques Tourneur, e a confirmação de seu talento. Simone Simon com seu rosto felino interpreta Irena, uma mulher reprimida sexualmente que se casa e tem medo de consumar o casamento, seu marido então passa a se aproximar cada vez mais de uma amiga, o que faz com que Irena, descendente de bruxas Sérvias, se torne uma pantera disposta a tudo para defender seu território. Devido ao baixo orçamento do filme todas as cenas de terror são apenas sugeridas com barulhos e sombras, em pouquíssimas cenas algo é realmente mostrado, e isso funciona muito bem pois o filme não envelheceu nada nada. Vale destacar o ataque da pantera na piscina, uma cena excepcional que nos deixa estáticos.
Sentado à Sua Direita
4.0 3Filme magnífico de Zurlini, baseado no assassinato de Patrice Lumunda (no filme o nome foi alterado para Maurice Lalubi), um líder revolucionário africano que lutou contra o imperialismo em seu país e pela liberdade do seu povo. Na verdade há um paralelo óbvio e forte entre a história de Lalubi e a de Jesus Cristo, e o filme começa com uma traição (Judas) de um dos homens de Lalubi, que informa a localização do líder revolucionário aos militares belgas (Romanos). Na prisão Lalubi é barbaramente torturado (assim como Cristo pelos romanos). Lalubi é levado pelos Belgas (sua via crúcis) juntamente com dois criminosos para um local seguro onde será assassinado e onde não deverão restar testemunhas. O ponto alto do filme é a relação de um dos criminosos, um ladrão comum, com o líder revolucionário, pois ele é o único que presta solidariedade ao sofrimento de Lalubi, ganhando assim sua redenção cristã. É um filme cristão e político. Militarismo e cristianismo não caminham juntos. Sobre o filme de Zurlini: é tocante, grande filme sobre o homem.
Um Dia Muito Especial
4.4 92Filme brilhante do diretor Ettore Scola, com duas interpretações magníficas de Marcello Mastroianni e Sophia Loren. Tudo se passa em um dia. Todos os moradores de um condomínio italiano vão participar de um comício fascista no dia em que Hitler esteve com Mussolini. Duas pessoas ficam no condomínio, Antonietta (Sophia) - a dona de casa alienada e cansada da vida doméstica, que vê em Mussolini o homem ideal dos romances da sua juventude, uma esposa e mãe passiva, controlada pelo marido autoritário e pelos filhos e presa a uma monotonia que lhe angustia; e Gabriele (Marcello) - um intelectual homossexual que foi demitido do seu emprego por "depravação" já que na sociedade fascista só há lugar para homens que sejam maridos-pais-soldados. Dois solitários que se encontram e que de certa forma suprem o vazio que sentem e isso lhes da esperança de continuar. Filme belíssimo e tocante, o final é excepcional. Uma experiência que vale muito a pena.
Um Punhado de Bravos
3.9 5Trata-se de um filme de guerra padrão: um grupo de soldados é designado para cumprir uma missão destruindo uma base inimiga, mas na volta da missão as coisas se complicam quando são perseguidos e ficam impedidos de sair da mata fechada. Existe ali todos os chavões de filmes de guerra da época dispostos a fazer com que os jovens se alistassem no exército (a segunda guerra ainda estava em vigor e os filmes sobre o assunto eram todos propaganda). Os japoneses eram os vilões malvados, os soldados americanos eram como uma família, existe um heroísmo sublimado o tempo todo... Um filme chavão? Poderia ser mas não é. Trata-se de uma das maiores aventuras de guerra já feitas, continua sensacional!
Houve a polêmica de que o grupo de soldados, no filme, ser quase que exclusivamente de americanos e que a história verdadeira - pois é baseado em fato verídico - foi protagonizada por britânicos, motivo pelo qual o filme foi muito mal recebido na Inglaterra. Mas enfim, polêmicas à parte é uma das preciosidades do gênero. Isso se deve à direção brilhante do então calejado Raoul Walsh, diretor competentíssimo e subestimado, cuja especialidade eram os gêneros de aventura e ação.
Existe no filme muitas inovações, inclusive em termos de violência que era ousada para a época, as cenas são muito bem feitas, com closes o tempo todo invocando o heroísmo, cenas reais colocadas entre cenas filmadas que passam uma ideia de documentário - acreditamos realmente na história.
Também seria impossível não exaltar o ator Errol Flynn, o astro cujo carisma é parte importante do sucesso do filme. Flynn não era um grande ator mas tinha um magnetismo que fazia o grande público adorá-lo, ele se popularizou graças ao seu bom físico em aventuras épicas como filmes de piratas e faroestes e mais tarde em filmes de guerra - ele teve uma vida turbulenta, com muito álcool, noitadas e mulheres, o que fez com que envelhecesse rápido e morresse muito jovem. Flynn e Walsh formaram uma das grandes duplas do cinema em sua época, ele era o alter ego do diretor que o usou em muitos de seus filmes, vale destacar este "Um Punhado de Bravos", "O Ídolo do Público", "O Intrépido General Custer" e "Três Dias de Glória", e talvez sejam mesmo os melhores filmes do diretor que ainda possui grandes obras na carreira e que trabalhou com grandes astros, como James Cagney, Humphrey Bogart, John Wayne, Gary Cooper, Robert Mitchum e Gregory Peck - portanto não era pouca coisa para o Flynn ser o alter ego do Walsh.
Vale a pena para quem gosta dos gêneros de ação, guerra e aventura... é uma grande demonstração do que a dupla Walsh-Flynn era capaz de fazer. E é um dos meus filmes de guerra favoritos, confesso!
Planeta dos Macacos: A Origem
3.8 3,2K"Planeta dos Macacos - A Origem" me remeteu aos filmes sobre revoltas contra condições ultrajantes, como "Spartacus" e "O Grande Motim", estava com um certo receio por ser fã do filme clássico de 1968 e por já ter me decepcionado com a versão de 2001, do Tim Burton, mas a ligação e as referências que este filme possui com a versão clássica eu diria que só a complementam. Também vale lembrar os livro clássicos "A Revolução dos Bichos" e "Frankenstein". No início tudo é um experimento de um cientista envolvido emocionalmente com seu trabalho que ousa atravessar a linha do permissível dentro da ciência, criando assim seu monstro de Frankenstein, ou melhor dizendo, criando César, um macaco inteligente e consciente de si. César começa a se questionar quando tenta uma aproximação com o mundo do lado de fora (já que ele vive preso em casa) e percebe que não é aceito pelas pessoas que o temem e exteriorizam este temor com agressividade, a estranheza do contato com o mundo humano, a percepção do conceito de ser um animal de estimação, de ter de usar coleira, de perceber que seu semelhante, o macaco, vive preso e confinado, submisso, cria em César a centelha da revolta que o leva a lutar contra o humano pela liberdade de sua espécie. Um ótimo filme que tem muito a dizer sobre nós mesmos. Recomendo!
O Cavaleiro Solitário
3.2 1,4KPrimeiro me falaram muito mal do filme, então procurei alguma crítica interessante e as críticas também falavam muito mal, fiquei com preconceito desde o início, o que é uma burrada, o melhor é a gente ver um filme sem saber a opinião de ninguém, mas enfim... Vi e me surpreendi, achei o filme muito bem feito e um ótimo divertimento, não entendi porque tanta malhação.
A meu ver o filme faz várias pequenas homenagens, primeiro aos faroestes do diretor americano John Ford (Cavalo de Ferro, Rastros de ódio, O Homem que Matou o Facínora), depois ao faroestes italianos do diretor Sérgio Leone (Três homens em Conflito, Era uma vez no Oeste). O faroeste americano fez muito sucesso nas décadas de 40/50 e nos anos 60 começou a decair, o que fez surgir o faroeste italiano que deu novo fôlego ao gênero até os anos 70. Hoje faroestes estão fora de moda, será por isso que o filme foi um fracasso?
Delírio meu ou não, senti no filme uma forte homenagem ao "A General" de Buster Keaton (que o Deep já imitou num dos seus primeiros filmes) e, lógico, ao seriado "O Cavaleiro Solitário" e a seriados similares, que eram a sensação nos anos 50/60. O filme me remeteu aos bons filmes de aventura dos anos 40... O filme me fez lembrar tantos outros filmes e seriados que gosto que seria impossível não ter gostado.
Porque o fracasso? Não sei, ao meu ver seria completamente compreensível um sucesso de bilheteria já que o filme não exige que se conheça tantas referências antigas e pode muito bem ser apreciado pelos olhos de uma criança tanto quanto pelos olhos do pessoal mais velho que gostava de faroestes.