A história verídica da rivalidade entre dois pilotos cujas personalidades eram opostas mas que se completavam dentro das pistas, a primazia técnica versus coragem romântica, um instigando o outro a se superar, grande filme mesmo para aqueles que, como eu, nunca se ligaram muito em fórmula 1.
Filme sobre a destruição de uma família puritana, sobre as perversões que se escondem embaixo do tapete da tradição familiar, a decadência da burguesia brasileira que vive da lembrança de uma morta. Tudo muda com a chegada de Geni, uma prostituta por quem o pai da família, um puritano assumido, se apaixona. Uma crítica feroz temperada com um humor sarcástico, é cinema de primeira! Direção de Arnaldo Jabor.
Filmaço brasileiro do cineasta Heitor Dhalia com uma grande atuação de Selton Mello. O filme é de um humor ácido, que nos faz rir ao mesmo tempo que nos sentimos culpados pelas risadas... trata de um sujeito que trabalha com penhores cuja sensação de poder, provocada pelo dinheiro, aumenta na medida que aumenta o fedor do cheiro do ralo. O próprio personagem, em determinado momento, fala sobre sua profissão, o quanto ela exigia que este se torne frio aos sentimentos, e quanto mais frio e mais dinheiro, aumenta sua sensação de poder, fazendo-o acreditar no direito de humilhar os pobres coitados que estão lá para vender um bem pessoal em troca de uns poucos trocados... com o passar do tempo e o aumento do fedor do ralo o protagonista acredita mesmo poder comprar as pessoas, ao invés dos objetos que estas tentam penhorar, acredita poder comprar um pai para si, já que não conheceu o verdadeiro, acredita poder comprar uma bunda, já que é incapaz de relacionar-se, pois um relacionamento exige dedicação a outra pessoa, algo que definitivamente o herói do filme não procura, dedicar-se ao próximo. Uma crítica deliciosa ao Deus dinheiro.
Filme brasileiro sobre o choque cultural entre dois mundos, a tribo indígena Guaicuru e o colonizador português, onde uma verdadeira batalha é travada pela defesa das terras do pantanal, filme que fala da mitologia e história do povo brasileiro. Vale muito.
Adaptação do livro bíblico sobre a libertação dos Hebreus do Egito, dirigido por Ridley Scott e com Christian Bale interpretando Moisés.
O filme não foi o sucesso esperado, sendo praticamente ignorado pela crítica e pelo público. Os mais religiosos malharam o filme por "falta de fidelidade" com a bíblia.
O fato é que o Ridley Scott fez um filme muito pessoal, apesar de tratar de uma história que todos já sabem de cor e salteado. Como característica dos filmes do diretor, ele está mais preocupado com o rigor histórico e com a estética do filme do que em ser fiel à história bíblica. Sua fidelidade é com os tempos de hoje, como faz questão de mostrar quando Moisés se volta para os Hebreus libertados e diz que seu medo é como controlar tanta gente quando pararem de ser perseguidos, evocando a Israel dos dias de hoje cujo povo deixou de ser "perseguido" e se tornou "perseguidor", como os conflitos atuais demonstram.
Ridley nunca foi dos queridos pela crítica, intercalando alguns sucessos com filmes bem ruins, nunca foi um diretor constante. Tem dois clássicos absolutos no currículo - "Alien - o oitavo passageiro" e "Blade Runner", ambos de ficção científica, gênero revisitado recentemente em "Prometheus" e que fica distante da qualidade dos primeiros.
Alien ainda é considerado por muitos como plágio de "Planeta dos Vampiros" de Mário Bava, e realmente muitas coisas ele copiou do filme do Bava, ainda assim Alien é um dos maiores filmes de Sci-fi (e meu favorito) já feitos. Também foi acusado de copiar "A Queda do Império Romano" de Anthonny Mann em seu "O Gladiador", que é um filme defendido por uns e rejeitado por outros.
As acusações tem fundamento mas não impedem Alien e Gladiador de serem grandes filmes. Blade Runner é sua obra-prima.
Enfim, em meio a infantilização do cinema com uma overdose de personagens de gibis nas telas, a revisão da história de Moisés feita por Ridley é muito bem vinda, o filme serve como entretenimento e contém a critica social atual e com certeza proposital do diretor. Vale muito a pena.
Filmaço sobre a primeira viagem feita por Che Guevara pela América Latina, considerado o ponto de partida ideológico do Comandante cubano, cuja ideologia naquele momento estava apenas se formando. É um filme de estrada com consciência política. Vale muito a pena. Eu particularmente sempre me emociono no final, com o simbolismo da travessia do rio empreendida pelo Che, a nado, para ir de encontro às pessoas isoladas devido a lepra. Belíssimas fotografia e trilha sonora, dirigido pelo brasileiro Walter Salles. Gael Garcia Bernal se parece muito com o Che quando jovem.
O diretor do filme é Michael Mann, um dos grandes diretores americanos atuais e que tem um estilo próprio que eu particularmente adoro, bem moderno, seus filmes tem cara de seriado de TV dos anos 80 (não é atoa que ele se destacou dirigindo seriados).
Conheci-o através dos excepcionais filmes policiais que fez - Fogo Contra Fogo, Colateral, Inimigos Públicos e Miami Vice são ótimos, sem falar em O Informante e a cine-biografia Ali, sobre a vida de Muhammad Ali, que são dois filmaços. Ainda não tinha visto este MANHUNTER (ou Dragão Vermelho, ou O Sexto Sentido, ou Caçador de Assassinos - o filme tem vários nomes em português!), é o seu terceiro filme.
Os filmes do Mann geralmente são bem escuros, e muitas vezes utiliza uma iluminação azulada, são bem estilizados, cheios de cores, muito "pop-art". Há muita câmera na mão, que faz algumas cenas ficarem "frenéticas", e as trilhas que o Mann escolhe são sempre bem modernas, com sucessos da época.
Manhunter é um pré-Silêncio dos Inocentes, a história do policial que caça um serial killer e para isso solicita a ajuda de outro assassino que ele mesmo havia capturado - é o famoso Hannibal Lecter em sua primeira aparição no cinema.
Injustamente o filme encontra-se um tanto esquecido, ofuscado pelos super sucessos de filmes do mesmo gênero como "Silêncio dos Inocentes" e "Seven" mas certamente é o grande precursor do gênero. Vale muito a pena conhecer!
Apesar do nome que recebeu no Brasil ele não é uma refilmagem de "Os 7 Samurais", tampouco trata-se de um filme de kung fu. É na verdade um ótimo exemplar de filmes wuxia pian, cinema tradicional chinês, do diretor pouco conhecido Chang Cheh - que certamente é um dos maiores diretores chineses (senão o maior). Ele começa um pouco complicado (principalmente para quem, como eu, não viu o primeiro filme, já que este é uma continuação) pois não conhecemos a intricada história das guerras na China antiga, nem sabemos quem são os 108 heróis de quem tanto falam. Após uma introdução um pouco longa que nos apresenta uma cidade inviolável cujo governador se rebelou, ocorre a apresentação dos 7 guerreiros escolhidos para invadirem a cidade e encontrarem a brecha que possibilitará o exército do imperador invadir e retomar a cidade. Essa apresentação dos 7 heróis é bem divertida e é um bom momento do filme. Basicamente é a história da "guerra de Tróia". David Chiang é o grande astro do filme, ele que é o alter ego do diretor Chang cheh. Seu personagem é o guerreiro habilidoso e malandrão, bem ao gosto de Cheh, que tinha uma queda pela nova geração Hollywoodiana (James Dean, Brando, Newman). Vale destacar também o ótimo Kuan Tai Chen, que era um habilidoso lutador de kung fu, dos primeiros a tornarem-se atores, precedendo o próprio Bruce Lee. Ti Lung, que é outro dos favoritos de Cheh, é apenas um coadjuvante (aparentemente ele tem papel central no primeiro filme). É um filme de guerra, com muitas lutas, pitadas de humor, atores carismáticas e uma missão suicida a executarem, um ótimo exemplar para amantes do gênero (pois quem não está acostumado sempre vem com aquela história de "esse cara mata todo mundo e ninguém acerta ele", algo bem chato de se ouvir). Enfim, excelente exemplar do estilo de Chang Cheh - heroísmo, amizade, sacrifícios. Recomendo.
As aventuras "Capa & Espada" nas décadas de 20 e 30 e até a metade de 40 eram o máximo que havia de entretenimento, algo como são hoje os filmes de super-heróis da Marvel. A denominação "Capa & Espada" era devido a serem filmes épicos, com heróis de roupas espalhafatosas (e capas!), e o clímax eram as lutas de esgrima. Muitos atores ficaram famosos fazendo esse tipo de filme, entre eles dá para citar por exemplo Errol Flynn e Tyrone Power, sendo o primeiro talvez o mais importante e lembrado nos dias de hoje. Flynn ficou famoso com os personagens de Robin Hood e Capitão Blood, personagens ícones do cinema de aventura. Capitão Blood serve como base para o atual Piratas do Caribe (que em comparação é muito inferior ao Blood) e não é querer ir muito longe comparar as roupas ridículas dos heróis épicos com os trajes ridículos dos heróis atuais. Flynn era considerado mal ator, destruiu sua carreira e morreu precocemente devido aos excessos cometidos (álcool e noitadas de sexo), ainda assim não houve nem haverá melhor representante do herói galante que enfrenta os vilões sorrindo e conquista o coração das donzelas, e acreditamos nele!, mesmo com as roupas e perucas ridículas como em Robin Hood. Então quem melhor para fazer o famoso Don Juan em um filme de Capa & Espada? O filme é um primor, uma pérola perdida e ignorada. Flynn faz o famoso espanhol (contraponto dos personagens ingleses anteriores, que enfrentava os espanhóis como em Capitão Blood e Gaviões do Mar) que salva o reino de um golpe militar. O roteiro tem grandes sacadas e o diretor Vincent Sherman faz um excelente trabalho. Na época essas aventuras já não eram tão lucrativas (apesar de grandes clássicos do gênero terem sido feitos depois, como por exemplo "Os Três Mosqueteiros" de Gene Kelly e "Scaramouche"), o filme teve um orçamento reduzido e foram usadas algumas cenas que sobraram de "Aventuras de Robin Hood", um montagem bem visível, sem falar que o figurino foi reaproveitado de "Meu Reino por um Amor", apesar de ter ganho o Oscar neste quesito. O filme começa com muito humor e trapalhadas do Don que em meio à conquistas tem que fugir dos maridos, até que o perigo de uma guerra iminente entre Espanha e Inglaterra o faz voltar para o reino onde ele tenta se comportar. Fiel (e apaixonado) à rainha ele acaba por descobrir um complô do general da corte que planeja um golpe - após ser preso e torturado e fugir ele subleva aqueles que permaneceram fiéis ao rei da Espanha (que é um bunda-mole) e impede o golpe. As lutas de esgrima são sensacionais, tudo é muito bem feito, tudo na medida certa, humor, ação e política. A trilha sonora de Max Steiner é fantástica. Também foi uma grande sacada ele ficar apaixonado pela rainha que resiste a ele já que tem nas mãos a responsabilidade de cuidar do estado, enquanto que ele, irresponsável nato só a prejudicaria com um romance. Filme para ser redescoberto!
Promotoria de Miami, afim de tentar encontrar o assassino de um líder sindical e com isso atrair publicidade e apoio político, resolve, através da manipulação de uma repórter, plantar uma falsa notícia incriminando um homem inocente cujo pai era um mafioso. Filme excepcional que fala sobre a manipulação da mídia, da fragilidade da verdade nos meios de comunicação e de até onde vai a liberdade de imprensa e a responsabilidade dos jornalistas perante a sociedade. Obrigatório para nós que vivemos num país onde a imprensa não tem escrúpulos e pública as mentiras que quer a seu bel prazer chamando isso de "liberdade de imprensa". Grande atuação de Paul Newman (novidade?).
Um dos últimos filmes do diretor Billy Wilder, Avanti!, hoje passa despercebido e ignorado pelo público. Wilder foi durante muito tempo, um dos maiores diretores de Hollywood, com filmes como "Pacto de Sangue", "Crepúsculo dos Deuses", "Quanto mais Quente Melhor", "Testemunha de Acusação" e muitos outros filmes excepcionais em seu currículo. Com uma forte pegada para a comédia, o diretor ficou conhecido por seu senso de humor cínico que criticava o conservadorismo da sociedade, é assim em "O Pecado Mora ao Lado" ou em "Beija-me Idiota" por ex. Em Avanti! não é diferente, Jack Lemmon (humorista excepcional com trejeitos que lembram o atual Jim Carrey) interpreta o filho de um empresário multimilionário americano que vai até uma ilha paradisíaca da Itália para transportar o corpo do pai de volta para os EUA, pois este morreu em um acidente de carro. Chegando lá descobre que o pai tinha uma amante e em meio a inúmeras peripécias acaba se envolvendo em confusões com a filha "fofinha" da amante do pai. Lemmon é o capitalista moralista americano e reprimido sexualmente, não acredita no amor e acha que o dinheiro pode comprar tudo, perdoaria umas trepadas ocasionais do pai mas não um caso apaixonado... Mas uma Itália paradisíaca é o lugar ideal para deixar o amor florescer, até mesmo para os duros de coração. Cheio de piadinhas com os americanos reprimidos e com o militarismo ianque, o filme é uma comédia sensacional... ok que está longe de ser uma das obras-primas do Wilder mas, assim como se pode dizer de um filme do Hitchcock, um Wilder menor ainda assim é superior à média.
Sou da geração que cresceu vendo Cavaleiros na TV Manchete, o horário do desenho era sagrado, não podia perder de maneira alguma. Lembro das cartas que eu mandava pra concorrer a ganhar um boneco dos cavaleiros, lembro de uma apresentação que fizemos em nossa escola, no dia do diretor, caracterizados com armaduras de papelão e cantando a música de abertura do desenho - fomos precursores dos cosplays, lembro também da preocupação dos pais com o desenho, devido a sua violência, estávamos destinados a virar adultos desnaturados com tanto sangue. Anos mais tarde fui ver a reprise que começaria a passar na Band e então foi uma decepção, achei chato, ruim, exagerado... infelizmente eu havia crescido. Para comemorar os 40 anos de criação dos Cavaleiros os japoneses fizeram um filme homenagem recontando a Saga do Santuário, que sempre foi a Saga favorita de todos. Me assustei com tantas críticas negativas sobre o filme, inclusive de gente especializada em nerdices, dizendo que o filme era péssimo e etc. Bom, fui ver. A princípio achei que teria bastante criança no cinema mas para minha surpresa o público era composto de, na maioria, pessoas da minha idade, os fãs que cresceram vendo o desenho. Qualquer um sabe como os fãs podem ser incrivelmente chatos, por ex: um dos pontos mais criticados é que não há sangue no filme, e que isso seria um absurdo. Pois achei o filme bem divertido, com algumas coisas negativas, claro, mas me diverti bastante e ainda tive um reencontro com minha infância. Pensei que não haveria como amarrar uma historia que levaram 100 episódios para contar em um filme de 1 hora e meia, mas a história está muito bem amarrada, com vários alívios cômicos e cenas de batalha, os gráficos são excelentes e as armaduras ficaram incríveis. Tem-se que levar em conta que o filme foi apresentado também a um novo público, não podemos ser egoístas em querer um filme apenas para a nossa geração. A violência foi cortada mas não faz falta (e por que deveria ter feito?). Também houveram mudanças em relação ao desenho antigo, das quais a pior foi a criação do cavaleiro de Câncer, mas as demais são todos justificadas no filme, o que é uma coisa boa pois torna a história diferente e não sabemos bem o que vai acontecer mesmo conhecendo de cor o seriado. Enfim, caso você seja da mesma geração deve assistir, vale muito a pena, deve ir com a mente aberta para mudanças e deve relaxar e deixar-se viver novamente na infância, por 1 hora e meia.
Del Toro quis com esse filme voltar a sua infância, fez uma homenagem aos seriados japoneses (Jaspion, Changeman, Ultraman...) que fazia a cabeça da molecada mexicana na década de 70, e da brasileira na década de 80. Correu o risco de não atingir o grande público, de atingir apenas uma parcela de adultos que cresceu nesta época e de atingir a molecada dos dias de hoje (talvez para uma criança de 12 anos esse seja o maior filme de todos os tempos!). O filme não foi bem de crítica, foi acusado de ser confuso, de ter cenas excessivas de lutas entre robôs e pouquíssimas cenas para desenvolver melhor os personagens (a dupla central é ótima!), mas há quem discorde das críticas, eu por exemplo achei um dos melhores entretenimentos de 2013 (senão o melhor). O apuro estético do filme não deixa a desejar em nada, o estilo visual já consagrado de Del Toro está todo lá, uma estética que ele desenvolveu em seus filmes do HellBoy e no excepcional "Labirinto do Fauno (seu melhor filme até então)". Um filme pop entregue em papel de presente dos mais coloridos. A trilha sonora casa de maneira perfeita. Se você cresceu durante a década de 80 como não lembrar do gigante Daileon quando acionado o soco foguete? Ou como não lembrar do próprio Jiraya quando acionada a espada que irá cortar o monstro ao meio? Um filme que me fez ser criança de novo e a isso eu agradeço o Del Toro.
Nicholas Cage, de cabelos compridos balançando ao vento, meio musculoso (só meio), em câmera lenta com explosões ao fundo, fazendo cara de fodão... É o primeiro filme do diretor Simon West, que nunca mais fez nada de notável. Cage é o militar esquentadinho que mata um bêbado numa briga de bar e que vai preso deixando a esposa grávida. 7 anos se passam e ele vai reencontrar sua amada e fiel esposa e ver pela primeira vez sua adorada e angelical filha mas o avião em que ele é transportado é tomado por um grupo de prisioneiros, o grupo mais malvado de todos diga-se de passagem. Cheio de frases de efeitos um dos pontos máximos é quando Cage acaba com a raça de um dos bandidos que ameaçava seu coelhinho rosa de pelúcia (e é isso mesmo!), não falta nem a frase "coloque o coelho de volta na caixa, agora!" com olhar de mal. John Malkovich faz o vilão caricato e malvadão (muito engraçado). John Cusack (sempre ótimo) faz o policial correto, com consciência social, que cita Dostoievski ao falar de bandidos e que briga o tempo todo com outro policial, esse militarista que quer acabar com a raça dos sequestradores e ponto final! (spoiler = o happy end chega até mesmo para os dois policiais que viram amiguinhos, apesar das diferenças). Steve Buscemi é o serial killer mais perigoso dos EUA (matou já 37 pessoas), que em determinado momento fica sozinho com uma menina que o convence a deixar de matar quando lhe diz "moço, o sr parece doente" (tocante - momento que merece lágrimas). Cage ora com suas caretas habituais, ora fazendo cara de coitadinho ao lembrar a esposa - com a música romântica apropriada tocando ao fundo. O filme começa fazendo um elogio aos militares, os "grandes heróis da nação" e depois passa a fazer piadas o tempo todo com o militarismo ianque. Há uma forte influência do cinema chinês de ação, que nos anos 90 conquistou os EUA, misturando cenas de ação absurdas com bom humor. O fato é que não sei até agora se o filme é uma grande sátira com filmes de ação ou se era pra ser levado a sério... mas adorei, baita entretenimento!
Filme que catapultou a carreira de Arnold Schwarzenegger tornando-o um grande astro da noite para o dia. É uma das grandes aventuras da década de 80, tem uma direção competente de John Milius, que incrivelmente não foi muito longe como diretor e não fez mais nada notável, também vale destacar a ótima Sandahl Bergman, fazendo a guerreira/par romântico, e que também não fez mais nada de notável. O filme foi todo feito em locações verdadeiras e os cenários construídos em tamanho real, o que dá uma autenticidade incrível à história. O enredo também é muito bem construído, baseado nas histórias em quadrinhos de Conan, talvez a maior modificação na adaptação tenha sido transformar os dois principais vilões, o líder militar e o líder religioso, em um só personagem - mas quem se importa? O filme foi bastante criticado por suas cenas violentas e pelas cenas de sexo, o que fez com que o segundo, a pretensa continuação, pegasse muito mais leve e parecesse até infantil. Grande aventura épica, serviu de base para tudo que foi feito depois no gênero e envelheceu muito bem. Vale dizer também que a trilha sonora é um primor.
Filme pouco comentado do astro Alain Delon, mesmo assim um ótimo filme que merece ser descoberto. Fala do sistema penal francês e da pena de morte, sobre como é duro para um ex-condenado se reintegrar à sociedade já que sofre uma resistência e desconfiança extrema perante ela. É aí que entra Jean Gabin fazendo um papel excepcional como Educador, uma função semelhante ao de assistente social, que ajuda o ex-preso em sua reintegração. Tudo fica difícil para o ex-condenado Delon quando um policial obsessivamente o persegue acreditando que este trama um novo assalto à banco. Delon era um ator controverso, com opiniões polêmicas, de direita, a favor da pena de morte, ainda assim sabia escolher muito bem seus projetos e suas opiniões pessoais não o impediam de trabalhar com diretores de esquerda como Joseph Losey ou Luchino Visconti, nem a fazer um filme que critica duramente a pena de morte, mostrando como ela é retrograda e cruel, como este "Dois Homens Contra uma Cidade", inclusive foi um de seus produtores. Ótimo filme, recomendo.
Filme sátira que tira onda com fascistas e militaristas. Tropas é um filme de ficção científica do diretor holandês Paul Verhoeven, conhecido por ter dirigido "Instinto Selvagem". Faz parte dos grandes filmes de ficção científica dos anos 90 e é o terceiro do gênero do diretor (que também fez "Robocop" e "Vingador do Futuro"). Robocop já era um filme bastante político, pois trata da fascistização da polícia. No final do filme o lado humano de Alex Murphy (o Robocop) supera seu lado "máquina de matar" do estado. Em Tropas Verhoeven vai além, faz uma sátira bem humorada dos EUA da era Bush e sua política externa, viajando para um futuro fascista onde um estado militar está sempre em constante prontidão para repelir ataques dos insetos - não é preciso muito para entender que os insetos somos nós, qualquer outra nação que não seja a americana. O mundo neste futuro é ianque, o estado é controlado pelo exército e todos os chavões militares são usados para ironizar esse poder constituído, o filme praticamente termina com a propaganda "Aliste-se você também!" enquanto soldados sorridentes, patriotas e cabeças de vento marcham felizes para a guerra. Inacreditável que um filme desses tenha sido feito em Hollywood, mais inacreditável ainda é que muitos críticos acusaram Verhoeven de ter feito um filme nazista, praticamente ignorando a crítica escancarada e bem humorada que o diretor imprimiu em seu filme. Infelizmente o filme também sepultou a carreira do diretor nos EUA, inviabilizando qualquer futuro projeto, prova de que teve quem entendesse a ironia nas "entrelinhas". Mais tarde Verhoeven voltou para Holanda onde filmou o ótimo drama de guerra "A Espiã", provando que ainda é um dos diretores mais criativos das últimas décadas no cinema.
Em tempos de tantos ódios entre esquerda e direita vale dar uma olhada nesse romance do ótimo Sydney Pollack. É a história dos opostos que se atraem, ele, Robert Redford (o alter ego do Pollack) é um playboy bem de vida, o individualista americano que quer aproveitar os prazeres da vida... ela, Barbra Streisand é a comunista da pá virada, que luta pelos desvalidos contra as injustiças sociais... e não é que se apaixonam? Barbra está gatinha no papel de comunista, consolidando sua carreira de atriz definitivamente. É o terceiro filme da dupla Pollack e Redford, anteriormente já haviam feito o fraco "Esta Mulher é Proibida" e o ótimo faroeste ecológico "Mais Forte que a Vingança" (mais tarde ainda fariam os excepcionais "Três dias de Condor" e "Entre Dois Amores"), aqui ambos já estavam afiados. A trilha sonora é famosa até hoje, grande canção de Barbra. Filme muito bonito.
Em 1979 os cinemas australianos bateram recordes de bilheteria com o filme Mad Max, onde o diretor estreante George Miller e mais o astro estreante Mel Gibson surgiam num filme futurista apocalíptico onde a sociedade por alguma razão (uma guerra talvez) entrou em colapso irremediável e a violência tomou conta das ruas, personificada pelas gangues de "selvagens", e o combustível vale ouro. Os únicos a fazerem frente a essa ameaça era uma força policial que tentava manter a paz a todo custo, dentre eles Max que ao longo da película vai assumindo a alcunha de Mad devido a loucura violenta ao qual é jogado. O filme tem um elenco de apoio de canastrões e percebesse as condições precárias de cenário, porém virou cult devido a sua originalidade e as cenas de perseguições são extremamente bem feitas e realistas, algo que se tornaria marca registrada da trilogia - as cenas de perseguições são reais e feitas por dublês extremamente competentes e mais Mads que o próprio Max. A continuação não tardou a vir devido ao sucesso do primeiro filme mas, como o primeiro filme havia passado em branco em grande parte do mundo (trata-se de um filme genuinamente australiano) nos EUA ele não foi tratado como continuação e ganhou o nome de Road Warrior (Guerreiro das Estradas). Mad Max 2 vai muito além do primeiro filme, desta vez não há precariedade de cenários e o elenco de apoio é ótimo. O filme segue uma lógica de faroeste, Max é o cavaleiro solitário que chega para salvar os moradores de um forte (a refinaria) contra os índios selvagens (os punks do deserto). Ele é "o cara", chega em cena arrasando e sai de cena arrasando, começa como um anti-herói e aos poucos suas ações lhe tornam um herói completo, ele é aquele que se sacrifica por uma causa maior, mesmo contra sua vontade, pois ele é um homem de ação e não de discursos, aliás os diálogos são bem escassos. As cenas de perseguição são de deixar o cabelo em pé e lembram mesmo as cenas de perseguição dos faroestes como no filme "No tempo das Diligências" onde índios perseguem a caravana, só que desta vez os selvagens perseguem um caminhão. Grande filme que ficou gravado na história do cinema como um dos maiores filmes de ação dos anos 80, mesmo hoje continua excepcional. O sucesso foi tanto que houve um terceiro filme, com Mel Gib e Tina Turner. Desta vez (por imposição do estúdio) toda a violência dos dois primeiros foi suprimida e o filme foi quase infantilizado (para ter classificação 12 anos e render mais em bilheterias). Com isso o filme perdeu muito de sua força e pode ser considerado o pior da trilogia, ainda assim é bem bacana de se ver, com algumas idéias originais, como o duelo na Cúpula do Trovão.
Filme baseado no livro de mesmo nome do escritor francês Emile Zola que fala sobre o início dos movimentos sindicais. Existe uma parcela grande de pessoas que veem o movimento sindical como algo nocivo, algo ligado a partidos políticos e portanto prejudicial ao trabalhador. A luta sindical é muito mais antiga que o sistema político que temos hoje, trata-se da luta do trabalhador contra o patrão em prol da melhoria de sua condição de trabalho e de vida. Vale lembrar que a nossa situação hoje de trabalho existe graças às lutas sindicais, coisas como 13° salário, férias, seguro desemprego, salário maternidade, aposentadoria, atestado médico remunerado, jornada de 44 horas semanais, vale-transporte... tudo isso se conseguiu com a luta sindical, com a luta do trabalhador e muito sangue foi derramado para que chegássemos até este ponto. O filme ilustra bem o que é esta luta e porque ela deve continuar e critica seus excessos. Grande filme. Vale falar das ótimas interpretações de Gerard Depardieu e Miou Miou, o casal de mineradores que luta para sobreviver em meio à fome; e de Renaud, o intelectual socialista que vai à frente na liderança da greve.
The Great Scape ou Fugindo do Inferno é com certeza um dos maiores filmes de ação/aventura já feitos, ainda hoje causa um forte impacto em quem o assiste (o que é raro tendo em vista que os filmes de ação atuais exigem um tipo de ação bombada ininterrupta). Tudo começou quando John Sturges (um dos grandes diretores de ação do cinema clássico hollywoodiano - que hoje praticamente caiu no esquecimento e encontra-se ausente de livros e enciclopédias cinematográficas - que deixou grandes obras que existem em DVD para quem quiser ver, como "Sete Homens e Um Destino", "Conspiração do Silêncio, "Sem lei, Sem Alma"...) leu o livro sobre a maior fuga real já empreendida de um campo de prisioneiros nazista e se apaixonou pela história. O campo em questão não se tratava de um campo de concentração mas sim de um campo de prisioneiros de guerra, todos pilotos, protegidos pelas normas da Convenção de Genebra. A ideia era manter os pilotos presos para que estes não voltassem a pilotar aviões contra os alemães. Embuídos de senso de patriotismo e dever estes pilotos planejaram uma fuga espetacular do campo afim de atrapalhar o máximo que pudessem as linhas inimigas. O campo era especial pois só entrava lá aqueles que já haviam tentado escapar anteriormente, portanto era "um sexto para ovos podres". A fuga, planejada com o auxílio de pilotos de todas as nacionalidades, coordenada por um comando rebelde centralizado, seria levada a cabo por 250 prisioneiros, dos quais 76 efetivamente conseguiram escapar, sendo até hoje a maior fuga já empreendida. Destes 76 apenas 03 conseguiram fugir da Alemanha o restante sendo capturado. Hitler em pessoa ordenou o fuzilamento de 50 dos 73 prisioneiros que acreditavam que seriam apenas reenviados para o campo. Um crime covarde. Claro que trata-se de um drama de guerra mas transposto para o cinema tornou-se uma aventura. O filme recebeu críticas devido à "hollywoodização" da história, pois o tom dado foi outro, existe muitos elementos de comédia no filme, a importância dada aos americanos e as cenas de ação pós-fuga são pura ficção. Alguns personagens podem ser levemente inspirados em pessoas reais porém muito é ficção para agradar ao público, como por exemplo o personagem de Steve McQueen, "Hilts", que nunca existiu. Talvez o mais fiel ao que aconteceu seja os detalhes técnicos da fuga em si, que teve a supervisão de um dos próprios fugitivos. Houve uma pequena queda de braço entre John Sturges e Steve McQueen durante o filme, McQueen era praticamente um personagem secundário sendo que o personagem de maior destaque cabia a James Garner. O ator, ressentido com Sturges que havia lhe prometido o papel central, abandonou as filmagens que tiveram que ser suspensas por alguns dias enquanto os produtores tentavam "consertar" as coisas entre os dois. Tratava-se de uma rixa a lá "Aquiles x Agamenon" - comandante x astro. Tudo se resolveu quando o contrato de McQueen foi revisto, mais cenas suas foram incluídas e para o climax foi criada uma cena para o ator pilotar uma moto alemã. Claro que a cena com a moto é totalmente ficcional, foi criticada pelos sobreviventes do campo, mas cá entre nós, que cena ESPETACULAR, uma das maiores cenas de ação já feitas. Tudo começa com McQueen, roubando a moto e o uniforme de um soldado alemão, dá um chute em outro soldado que o para numa averiguação, começa então uma perseguição de tirar o fôlego que é concluída com um salto sensacional do motoqueiro sobre uma cerca de arame farpado, tudo feito no braço, sem efeitos digitais como hoje. Por muito tempo acreditou-se no mito de que McQueen teria feito a cena sem dublê, o que não é verdade, porém o ator realmente queria dar o salto mas foi impedido pelos produtores que haviam investido demais no ator para arriscarem perdê-lo em um acidente. No final o diretor optou por terminar o filme de uma maneira otimista e não pessimista como a história realmente era. McQueen "Hilts" ao longo do filme vai várias vezes para a solitária, sempre confrontando a autoridade pois ele é um rebelde, é a encarnação perfeita do espírito rebelde, o americano individualista, aquele que não se dobra e não aceita a injustiça, e em cada vez que é levado para a solitária ele vai com um sorriso sarcástico no rosto, com sua luva e sua bola de beisebol, que ele joga contra a parede da solitária enquanto planeja a próxima tentativa de fuga, um diabo esperto, e sabemos que ele vai fugir, que é apenas questão de tempo... O filme foi um grande sucesso de bilheteria e transformou Steve McQueen no maior astro de sua época. O ator e o diretor nunca mais trabalharam juntos e a carreira de Sturges caiu em declínio. Mais tarde Fugindo no Inferno foi homenageado com um "remake" infantil chamado "Fuga das Galinhas". Grande filme, grande cinema.
A diretora Italiana Liliana Cavani (polêmica devido a um filme onde uma torturada se apaixona por seu torturador) resolveu transpôr para as telas do cinema pela segunda vez, sob um ângulo diferente, a vida de Francisco de Assis (São Francisco para os católicos). A abordagem desta vez seria a de um Francisco em busca de sua espiritualidade (no primeiro filme a abordagem era de um Francisco que se rebela contra a igreja da idade média). Não dá para negar que sua visão agora é uma visão madura e com uma interessante discussão filosófica, apesar de ter resultado em um filme ruim. Vemos o Francisco humano, anti-materialista, que busca a comunhão com Deus, é um personagem que, em busca de sua identidade Cristã renega toda a vida material sem se tornar um "marxista", buscando mais o sentido cristão do anti-materialismo. Não há política no discurso deste personagem, como seria habitual no cinema italiano, o modelo proposto de um Cristo é um tanto diferente do apresentado por Pasolini em "O Evangelho Segundo São Mateus" por exemplo, Francisco não se insurge contra a classe dominante, não guarda rancores ou se rebela contra o sistema feudal medieval, ele desce ao mais pobre dos pobres, se desfaz de tudo para se tornar um homem que nada possui e nada deseja, que está abaixo de todos os homens, sua inspiração são as palavras de Cristo segundo o evangelho - "vai, vende tudo o que tens e dá aos pobres...", palavras tiradas de um evangelho que Francisco encontra de um morto enquanto era cativo de guerra. Francisco era rico, de uma família abastada e pretendia se tornar cavaleiro mas tornou-se refém em uma das guerras entre famílias daqueles tempos e conheceu todo o horror de que o homem era capaz, a partir daí algo muda dentro dele e ele rompe com sua antiga vida a procura de uma nova que começa quando ele abandona a casa paterna, totalmente nu, para livrar-se de toda sua vida material e social. É tomado por louco mas logo outros começam a lhe seguir, dão tudo o que possuem e vão morar com os pobres e leprosos. Logo a igreja começa a se preocupar e chama o homem para uma entrevista, começa aí a ordem dos Franciscanos. A discussão na verdade se prende no seguinte - para ser realmente cristão devemos abandonar a vida material? Afinal de contas é isso que Cristo diz a seus apóstolos quando os ordena que levem apenas a roupa que carregam no corpo e lhe sigam - partindo deste pressuposto então o cristianismo não existe no mundo moderno, onde é praticamente impossível abandonar a vida material. Tal como o Francisco do filme acredita, é necessário o abandono da vida material, tornar-se o mais humilde dos mendigos, ser considerado louco pela sociedade, pois é realmente isso que nos parece, que Francisco enlouqueceu. Logo chegam estudantes do mundo todo para incorporarem a ordem dos Franciscanos, mais controlada pela igreja católica do que por Francisco. A ordem é aumentada por eruditos, filhos de famílias ricas, estudantes, por todo tipo que vê no Francisco um mártir a ser seguido e exigem deste que elabore regras e uma hierarquia. Francisco rejeita a tudo e a todos, diz que a regra é o evangelho e que nada sabe, nada tem a ensinar alem daquilo que já está escrito. Logo a ordem franciscana começa a elaborar suas próprias regras abandonando o próprio Francisco que cai numa profunda crise espiritual. Como todos sabem de cor e salteado a igreja católica santificou Francisco e atribui ao "santo" vários milagres. Cavani não mostra milagre algum durante o filme, apresentando Francisco apenas como homem. No final, após um tormentoso período de meditação em busca de Deus, Francisco se retira e retorna com o corpo coberto de chagas - as chagas de Cristo, porem não fica claro se não foi o próprio Francisco que auto-infligiu os ferimentos. O filme começa com seus seguidores trazendo o corpo do "santo" e a narrativa se baseia em lembranças de cada um deles, seguindo o tipo de narrativa de um "Cidadão Kane", onde várias pessoas contam, sob seu ponto de vista pessoal, uma parte da história. Mas o filme é ruim, em nenhum momento se torna realmente interessante, temos apenas esperanças de que melhore no decorrer dos minutos. A começar pela escolha errada do ator pois inacreditavelmente Cavani escolhe o astro decadente Mickey Rourke como seu Francisco. Rourke havia se tornado astro anos antes interpretando filmes como Dinner, 9 e meia Semanas de Amor, Coração Satânico... e havia declarado guerra a todos os críticos de cinema e aos grandes produtores de Hollywood, escolhendo atuar em filmes de baixo orçamento, todos medíocres, soterrando uma das carreiras mais promissoras dos anos 80 e tornando-o então, por mais de uma década, um ocasional coadjuvante. Será por isso a escolha de Cavani? A identificação de um Rourke rejeitando Hollywood com um Francisco rejeitando a vida material? Alguns cenas do filme são francamente constrangedoras, como por exemplo quando Francisco sente tesão por uma mulher, Rouke tira a roupa e corre nu na neve, gemendo sem parar, outra cena constrangedora é o final - meditando a procura de Deus, Francisco/Rourke prorrompe numa torrente de lágrimas e gemidos incontroláveis (alguém devia ter dito ao ator: "vai com calma, cara!"). Também é estranho ver um Francisco que é uma montanha de músculos. Outra coisa estranha é ver suas várias tatuagens, que incrivelmente não foram apagadas por maquiagem. Em determinado momento Rourke fica sem um dente na boca, isso se deve provavelmente a sua carreira paralela de boxeador. Enfim, talvez se Cavani tivesse atualizado o Francisco, nos mostrando um magnata que vira mendigo em algum gueto dos EUA, seria mais condizente com a figura de Rourke, com seus maneirismos malandros, seu cabelo rebelde, seus músculos, tatoos, e o desprezo pela sua própria imagem.
Filme policial francês de Jean-Pierre Melville, que se especializou no gênero e criou um estilo próprio que chegou à maestria em "O Samurai". Aqui, em Expresso para Bourdeaux, ele novamente trabalha com seu alter ego Alain Delon, que faz um policial que investiga uma quadrilha liderada por um ladrão especialista, interpretado por Richard Crenna (aquele tiozinho do Rambo). A cumplicidade/rivalidade entre os dois é o foco do filme, eles são lados opostos da mesma moeda e há entre eles tanto respeito quanto admiração, pois esse é o mundo de Melville, policiais e bandidos vivem à margem de uma sociedade indiferente (ou seria melhor dizer que eles são indiferentes à sociedade?). Pessoas comuns são meros coadjuvantes para Melville, o grande drama de seus filmes se desenrola na vida marginal. Vale destacar a lindíssima Catherine Deneuve, que é o ponto de ligação entre os dois, policial e ladrão, os torna ainda mais próximos pois ambos são seus amantes. O mesmo tema mais tarde será abordado em "Fogo Contra Fogo" de Michael Mann, diretor americano que mais se aproxima do estilo de Melville. Ótimo filme policial.
Faroestes são conhecido pela matança indiscriminada de índios que sempre eram visto como "selvagens maus". À partir da década de 50 surgiram faroestes revisionistas onde não mais tratavam a condição do índio unicamente através do olhar do branco colonizador. Nessa época surgiram filmes expondo a condição do índio que luta pela sobrevivência de sua raça, é isso que vemos em filmes como "O Caminho do Diabo", "Apache", "Terra Bruta" e Estrela de Fogo", filmes dirigidos por diretores excepcionais: John Ford, Robert Aldrich, Anthony Mann e Don Siegel. Em Estrela de fogo, filme de Don Siegel, vemos o ator Elvis Presley, que nos brinda com uma atuação brilhante, envolto num conflito sangrento entre brancos e índios. Filho de um branco com uma índia, portanto um mestiço, se vê alvo do ódio dos brancos que, após serem atacados por índios revoltosos, agem com mais ódio e sangue frio do que seus "inimigos selvagens". Filme brilhante ao tratar sobre preconceito racial e também atualíssimo, nos ensina muito sobre preconceito.
Rush: No Limite da Emoção
4.2 1,3K Assista AgoraA história verídica da rivalidade entre dois pilotos cujas personalidades eram opostas mas que se completavam dentro das pistas, a primazia técnica versus coragem romântica, um instigando o outro a se superar, grande filme mesmo para aqueles que, como eu, nunca se ligaram muito em fórmula 1.
Toda Nudez Será Castigada
3.6 117Filme sobre a destruição de uma família puritana, sobre as perversões que se escondem embaixo do tapete da tradição familiar, a decadência da burguesia brasileira que vive da lembrança de uma morta. Tudo muda com a chegada de Geni, uma prostituta por quem o pai da família, um puritano assumido, se apaixona. Uma crítica feroz temperada com um humor sarcástico, é cinema de primeira! Direção de Arnaldo Jabor.
O Cheiro do Ralo
3.7 1,1K Assista AgoraFilmaço brasileiro do cineasta Heitor Dhalia com uma grande atuação de Selton Mello. O filme é de um humor ácido, que nos faz rir ao mesmo tempo que nos sentimos culpados pelas risadas... trata de um sujeito que trabalha com penhores cuja sensação de poder, provocada pelo dinheiro, aumenta na medida que aumenta o fedor do cheiro do ralo. O próprio personagem, em determinado momento, fala sobre sua profissão, o quanto ela exigia que este se torne frio aos sentimentos, e quanto mais frio e mais dinheiro, aumenta sua sensação de poder, fazendo-o acreditar no direito de humilhar os pobres coitados que estão lá para vender um bem pessoal em troca de uns poucos trocados... com o passar do tempo e o aumento do fedor do ralo o protagonista acredita mesmo poder comprar as pessoas, ao invés dos objetos que estas tentam penhorar, acredita poder comprar um pai para si, já que não conheceu o verdadeiro, acredita poder comprar uma bunda, já que é incapaz de relacionar-se, pois um relacionamento exige dedicação a outra pessoa, algo que definitivamente o herói do filme não procura, dedicar-se ao próximo. Uma crítica deliciosa ao Deus dinheiro.
Brava Gente Brasileira
3.3 19 Assista AgoraFilme brasileiro sobre o choque cultural entre dois mundos, a tribo indígena Guaicuru e o colonizador português, onde uma verdadeira batalha é travada pela defesa das terras do pantanal, filme que fala da mitologia e história do povo brasileiro. Vale muito.
Êxodo: Deuses e Reis
3.1 1,2K Assista AgoraAdaptação do livro bíblico sobre a libertação dos Hebreus do Egito, dirigido por Ridley Scott e com Christian Bale interpretando Moisés.
O filme não foi o sucesso esperado, sendo praticamente ignorado pela crítica e pelo público. Os mais religiosos malharam o filme por "falta de fidelidade" com a bíblia.
O fato é que o Ridley Scott fez um filme muito pessoal, apesar de tratar de uma história que todos já sabem de cor e salteado. Como característica dos filmes do diretor, ele está mais preocupado com o rigor histórico e com a estética do filme do que em ser fiel à história bíblica. Sua fidelidade é com os tempos de hoje, como faz questão de mostrar quando Moisés se volta para os Hebreus libertados e diz que seu medo é como controlar tanta gente quando pararem de ser perseguidos, evocando a Israel dos dias de hoje cujo povo deixou de ser "perseguido" e se tornou "perseguidor", como os conflitos atuais demonstram.
Ridley nunca foi dos queridos pela crítica, intercalando alguns sucessos com filmes bem ruins, nunca foi um diretor constante. Tem dois clássicos absolutos no currículo - "Alien - o oitavo passageiro" e "Blade Runner", ambos de ficção científica, gênero revisitado recentemente em "Prometheus" e que fica distante da qualidade dos primeiros.
Alien ainda é considerado por muitos como plágio de "Planeta dos Vampiros" de Mário Bava, e realmente muitas coisas ele copiou do filme do Bava, ainda assim Alien é um dos maiores filmes de Sci-fi (e meu favorito) já feitos. Também foi acusado de copiar "A Queda do Império Romano" de Anthonny Mann em seu "O Gladiador", que é um filme defendido por uns e rejeitado por outros.
As acusações tem fundamento mas não impedem Alien e Gladiador de serem grandes filmes. Blade Runner é sua obra-prima.
Enfim, em meio a infantilização do cinema com uma overdose de personagens de gibis nas telas, a revisão da história de Moisés feita por Ridley é muito bem vinda, o filme serve como entretenimento e contém a critica social atual e com certeza proposital do diretor. Vale muito a pena.
Diários de Motocicleta
3.9 827Filmaço sobre a primeira viagem feita por Che Guevara pela América Latina, considerado o ponto de partida ideológico do Comandante cubano, cuja ideologia naquele momento estava apenas se formando. É um filme de estrada com consciência política. Vale muito a pena. Eu particularmente sempre me emociono no final, com o simbolismo da travessia do rio empreendida pelo Che, a nado, para ir de encontro às pessoas isoladas devido a lepra. Belíssimas fotografia e trilha sonora, dirigido pelo brasileiro Walter Salles. Gael Garcia Bernal se parece muito com o Che quando jovem.
Caçador de Assassinos
3.5 158 Assista AgoraO diretor do filme é Michael Mann, um dos grandes diretores americanos atuais e que tem um estilo próprio que eu particularmente adoro, bem moderno, seus filmes tem cara de seriado de TV dos anos 80 (não é atoa que ele se destacou dirigindo seriados).
Conheci-o através dos excepcionais filmes policiais que fez - Fogo Contra Fogo, Colateral, Inimigos Públicos e Miami Vice são ótimos, sem falar em O Informante e a cine-biografia Ali, sobre a vida de Muhammad Ali, que são dois filmaços. Ainda não tinha visto este MANHUNTER (ou Dragão Vermelho, ou O Sexto Sentido, ou Caçador de Assassinos - o filme tem vários nomes em português!), é o seu terceiro filme.
Os filmes do Mann geralmente são bem escuros, e muitas vezes utiliza uma iluminação azulada, são bem estilizados, cheios de cores, muito "pop-art". Há muita câmera na mão, que faz algumas cenas ficarem "frenéticas", e as trilhas que o Mann escolhe são sempre bem modernas, com sucessos da época.
Manhunter é um pré-Silêncio dos Inocentes, a história do policial que caça um serial killer e para isso solicita a ajuda de outro assassino que ele mesmo havia capturado - é o famoso Hannibal Lecter em sua primeira aparição no cinema.
Injustamente o filme encontra-se um tanto esquecido, ofuscado pelos super sucessos de filmes do mesmo gênero como "Silêncio dos Inocentes" e "Seven" mas certamente é o grande precursor do gênero. Vale muito a pena conhecer!
Os 7 Guerreiros do Kung-Fu
3.8 2Apesar do nome que recebeu no Brasil ele não é uma refilmagem de "Os 7 Samurais", tampouco trata-se de um filme de kung fu. É na verdade um ótimo exemplar de filmes wuxia pian, cinema tradicional chinês, do diretor pouco conhecido Chang Cheh - que certamente é um dos maiores diretores chineses (senão o maior).
Ele começa um pouco complicado (principalmente para quem, como eu, não viu o primeiro filme, já que este é uma continuação) pois não conhecemos a intricada história das guerras na China antiga, nem sabemos quem são os 108 heróis de quem tanto falam. Após uma introdução um pouco longa que nos apresenta uma cidade inviolável cujo governador se rebelou, ocorre a apresentação dos 7 guerreiros escolhidos para invadirem a cidade e encontrarem a brecha que possibilitará o exército do imperador invadir e retomar a cidade. Essa apresentação dos 7 heróis é bem divertida e é um bom momento do filme. Basicamente é a história da "guerra de Tróia".
David Chiang é o grande astro do filme, ele que é o alter ego do diretor Chang cheh. Seu personagem é o guerreiro habilidoso e malandrão, bem ao gosto de Cheh, que tinha uma queda pela nova geração Hollywoodiana (James Dean, Brando, Newman). Vale destacar também o ótimo Kuan Tai Chen, que era um habilidoso lutador de kung fu, dos primeiros a tornarem-se atores, precedendo o próprio Bruce Lee. Ti Lung, que é outro dos favoritos de Cheh, é apenas um coadjuvante (aparentemente ele tem papel central no primeiro filme).
É um filme de guerra, com muitas lutas, pitadas de humor, atores carismáticas e uma missão suicida a executarem, um ótimo exemplar para amantes do gênero (pois quem não está acostumado sempre vem com aquela história de "esse cara mata todo mundo e ninguém acerta ele", algo bem chato de se ouvir).
Enfim, excelente exemplar do estilo de Chang Cheh - heroísmo, amizade, sacrifícios.
Recomendo.
As Aventuras de Don Juan
4.0 7As aventuras "Capa & Espada" nas décadas de 20 e 30 e até a metade de 40 eram o máximo que havia de entretenimento, algo como são hoje os filmes de super-heróis da Marvel. A denominação "Capa & Espada" era devido a serem filmes épicos, com heróis de roupas espalhafatosas (e capas!), e o clímax eram as lutas de esgrima.
Muitos atores ficaram famosos fazendo esse tipo de filme, entre eles dá para citar por exemplo Errol Flynn e Tyrone Power, sendo o primeiro talvez o mais importante e lembrado nos dias de hoje. Flynn ficou famoso com os personagens de Robin Hood e Capitão Blood, personagens ícones do cinema de aventura. Capitão Blood serve como base para o atual Piratas do Caribe (que em comparação é muito inferior ao Blood) e não é querer ir muito longe comparar as roupas ridículas dos heróis épicos com os trajes ridículos dos heróis atuais.
Flynn era considerado mal ator, destruiu sua carreira e morreu precocemente devido aos excessos cometidos (álcool e noitadas de sexo), ainda assim não houve nem haverá melhor representante do herói galante que enfrenta os vilões sorrindo e conquista o coração das donzelas, e acreditamos nele!, mesmo com as roupas e perucas ridículas como em Robin Hood.
Então quem melhor para fazer o famoso Don Juan em um filme de Capa & Espada?
O filme é um primor, uma pérola perdida e ignorada. Flynn faz o famoso espanhol (contraponto dos personagens ingleses anteriores, que enfrentava os espanhóis como em Capitão Blood e Gaviões do Mar) que salva o reino de um golpe militar. O roteiro tem grandes sacadas e o diretor Vincent Sherman faz um excelente trabalho. Na época essas aventuras já não eram tão lucrativas (apesar de grandes clássicos do gênero terem sido feitos depois, como por exemplo "Os Três Mosqueteiros" de Gene Kelly e "Scaramouche"), o filme teve um orçamento reduzido e foram usadas algumas cenas que sobraram de "Aventuras de Robin Hood", um montagem bem visível, sem falar que o figurino foi reaproveitado de "Meu Reino por um Amor", apesar de ter ganho o Oscar neste quesito.
O filme começa com muito humor e trapalhadas do Don que em meio à conquistas tem que fugir dos maridos, até que o perigo de uma guerra iminente entre Espanha e Inglaterra o faz voltar para o reino onde ele tenta se comportar. Fiel (e apaixonado) à rainha ele acaba por descobrir um complô do general da corte que planeja um golpe - após ser preso e torturado e fugir ele subleva aqueles que permaneceram fiéis ao rei da Espanha (que é um bunda-mole) e impede o golpe. As lutas de esgrima são sensacionais, tudo é muito bem feito, tudo na medida certa, humor, ação e política. A trilha sonora de Max Steiner é fantástica.
Também foi uma grande sacada ele ficar apaixonado pela rainha que resiste a ele já que tem nas mãos a responsabilidade de cuidar do estado, enquanto que ele, irresponsável nato só a prejudicaria com um romance.
Filme para ser redescoberto!
Ausência de Malícia
3.3 17 Assista AgoraPromotoria de Miami, afim de tentar encontrar o assassino de um líder sindical e com isso atrair publicidade e apoio político, resolve, através da manipulação de uma repórter, plantar uma falsa notícia incriminando um homem inocente cujo pai era um mafioso. Filme excepcional que fala sobre a manipulação da mídia, da fragilidade da verdade nos meios de comunicação e de até onde vai a liberdade de imprensa e a responsabilidade dos jornalistas perante a sociedade. Obrigatório para nós que vivemos num país onde a imprensa não tem escrúpulos e pública as mentiras que quer a seu bel prazer chamando isso de "liberdade de imprensa". Grande atuação de Paul Newman (novidade?).
Avanti... Amantes à Italiana
3.6 23Um dos últimos filmes do diretor Billy Wilder, Avanti!, hoje passa despercebido e ignorado pelo público. Wilder foi durante muito tempo, um dos maiores diretores de Hollywood, com filmes como "Pacto de Sangue", "Crepúsculo dos Deuses", "Quanto mais Quente Melhor", "Testemunha de Acusação" e muitos outros filmes excepcionais em seu currículo. Com uma forte pegada para a comédia, o diretor ficou conhecido por seu senso de humor cínico que criticava o conservadorismo da sociedade, é assim em "O Pecado Mora ao Lado" ou em "Beija-me Idiota" por ex. Em Avanti! não é diferente, Jack Lemmon (humorista excepcional com trejeitos que lembram o atual Jim Carrey) interpreta o filho de um empresário multimilionário americano que vai até uma ilha paradisíaca da Itália para transportar o corpo do pai de volta para os EUA, pois este morreu em um acidente de carro. Chegando lá descobre que o pai tinha uma amante e em meio a inúmeras peripécias acaba se envolvendo em confusões com a filha "fofinha" da amante do pai. Lemmon é o capitalista moralista americano e reprimido sexualmente, não acredita no amor e acha que o dinheiro pode comprar tudo, perdoaria umas trepadas ocasionais do pai mas não um caso apaixonado... Mas uma Itália paradisíaca é o lugar ideal para deixar o amor florescer, até mesmo para os duros de coração. Cheio de piadinhas com os americanos reprimidos e com o militarismo ianque, o filme é uma comédia sensacional... ok que está longe de ser uma das obras-primas do Wilder mas, assim como se pode dizer de um filme do Hitchcock, um Wilder menor ainda assim é superior à média.
Os Cavaleiros do Zodíaco: A Lenda do Santuário
2.5 810 Assista AgoraSou da geração que cresceu vendo Cavaleiros na TV Manchete, o horário do desenho era sagrado, não podia perder de maneira alguma. Lembro das cartas que eu mandava pra concorrer a ganhar um boneco dos cavaleiros, lembro de uma apresentação que fizemos em nossa escola, no dia do diretor, caracterizados com armaduras de papelão e cantando a música de abertura do desenho - fomos precursores dos cosplays, lembro também da preocupação dos pais com o desenho, devido a sua violência, estávamos destinados a virar adultos desnaturados com tanto sangue. Anos mais tarde fui ver a reprise que começaria a passar na Band e então foi uma decepção, achei chato, ruim, exagerado... infelizmente eu havia crescido.
Para comemorar os 40 anos de criação dos Cavaleiros os japoneses fizeram um filme homenagem recontando a Saga do Santuário, que sempre foi a Saga favorita de todos. Me assustei com tantas críticas negativas sobre o filme, inclusive de gente especializada em nerdices, dizendo que o filme era péssimo e etc. Bom, fui ver. A princípio achei que teria bastante criança no cinema mas para minha surpresa o público era composto de, na maioria, pessoas da minha idade, os fãs que cresceram vendo o desenho. Qualquer um sabe como os fãs podem ser incrivelmente chatos, por ex: um dos pontos mais criticados é que não há sangue no filme, e que isso seria um absurdo. Pois achei o filme bem divertido, com algumas coisas negativas, claro, mas me diverti bastante e ainda tive um reencontro com minha infância. Pensei que não haveria como amarrar uma historia que levaram 100 episódios para contar em um filme de 1 hora e meia, mas a história está muito bem amarrada, com vários alívios cômicos e cenas de batalha, os gráficos são excelentes e as armaduras ficaram incríveis. Tem-se que levar em conta que o filme foi apresentado também a um novo público, não podemos ser egoístas em querer um filme apenas para a nossa geração. A violência foi cortada mas não faz falta (e por que deveria ter feito?). Também houveram mudanças em relação ao desenho antigo, das quais a pior foi a criação do cavaleiro de Câncer, mas as demais são todos justificadas no filme, o que é uma coisa boa pois torna a história diferente e não sabemos bem o que vai acontecer mesmo conhecendo de cor o seriado. Enfim, caso você seja da mesma geração deve assistir, vale muito a pena, deve ir com a mente aberta para mudanças e deve relaxar e deixar-se viver novamente na infância, por 1 hora e meia.
Círculo de Fogo
3.8 2,6K Assista AgoraDel Toro quis com esse filme voltar a sua infância, fez uma homenagem aos seriados japoneses (Jaspion, Changeman, Ultraman...) que fazia a cabeça da molecada mexicana na década de 70, e da brasileira na década de 80. Correu o risco de não atingir o grande público, de atingir apenas uma parcela de adultos que cresceu nesta época e de atingir a molecada dos dias de hoje (talvez para uma criança de 12 anos esse seja o maior filme de todos os tempos!). O filme não foi bem de crítica, foi acusado de ser confuso, de ter cenas excessivas de lutas entre robôs e pouquíssimas cenas para desenvolver melhor os personagens (a dupla central é ótima!), mas há quem discorde das críticas, eu por exemplo achei um dos melhores entretenimentos de 2013 (senão o melhor). O apuro estético do filme não deixa a desejar em nada, o estilo visual já consagrado de Del Toro está todo lá, uma estética que ele desenvolveu em seus filmes do HellBoy e no excepcional "Labirinto do Fauno (seu melhor filme até então)". Um filme pop entregue em papel de presente dos mais coloridos. A trilha sonora casa de maneira perfeita. Se você cresceu durante a década de 80 como não lembrar do gigante Daileon quando acionado o soco foguete? Ou como não lembrar do próprio Jiraya quando acionada a espada que irá cortar o monstro ao meio? Um filme que me fez ser criança de novo e a isso eu agradeço o Del Toro.
Con Air: A Rota da Fuga
3.5 390 Assista AgoraNicholas Cage, de cabelos compridos balançando ao vento, meio musculoso (só meio), em câmera lenta com explosões ao fundo, fazendo cara de fodão... É o primeiro filme do diretor Simon West, que nunca mais fez nada de notável. Cage é o militar esquentadinho que mata um bêbado numa briga de bar e que vai preso deixando a esposa grávida. 7 anos se passam e ele vai reencontrar sua amada e fiel esposa e ver pela primeira vez sua adorada e angelical filha mas o avião em que ele é transportado é tomado por um grupo de prisioneiros, o grupo mais malvado de todos diga-se de passagem. Cheio de frases de efeitos um dos pontos máximos é quando Cage acaba com a raça de um dos bandidos que ameaçava seu coelhinho rosa de pelúcia (e é isso mesmo!), não falta nem a frase "coloque o coelho de volta na caixa, agora!" com olhar de mal. John Malkovich faz o vilão caricato e malvadão (muito engraçado). John Cusack (sempre ótimo) faz o policial correto, com consciência social, que cita Dostoievski ao falar de bandidos e que briga o tempo todo com outro policial, esse militarista que quer acabar com a raça dos sequestradores e ponto final! (spoiler = o happy end chega até mesmo para os dois policiais que viram amiguinhos, apesar das diferenças). Steve Buscemi é o serial killer mais perigoso dos EUA (matou já 37 pessoas), que em determinado momento fica sozinho com uma menina que o convence a deixar de matar quando lhe diz "moço, o sr parece doente" (tocante - momento que merece lágrimas). Cage ora com suas caretas habituais, ora fazendo cara de coitadinho ao lembrar a esposa - com a música romântica apropriada tocando ao fundo. O filme começa fazendo um elogio aos militares, os "grandes heróis da nação" e depois passa a fazer piadas o tempo todo com o militarismo ianque. Há uma forte influência do cinema chinês de ação, que nos anos 90 conquistou os EUA, misturando cenas de ação absurdas com bom humor. O fato é que não sei até agora se o filme é uma grande sátira com filmes de ação ou se era pra ser levado a sério... mas adorei, baita entretenimento!
Conan, o Bárbaro
3.5 370 Assista AgoraFilme que catapultou a carreira de Arnold Schwarzenegger tornando-o um grande astro da noite para o dia. É uma das grandes aventuras da década de 80, tem uma direção competente de John Milius, que incrivelmente não foi muito longe como diretor e não fez mais nada notável, também vale destacar a ótima Sandahl Bergman, fazendo a guerreira/par romântico, e que também não fez mais nada de notável. O filme foi todo feito em locações verdadeiras e os cenários construídos em tamanho real, o que dá uma autenticidade incrível à história. O enredo também é muito bem construído, baseado nas histórias em quadrinhos de Conan, talvez a maior modificação na adaptação tenha sido transformar os dois principais vilões, o líder militar e o líder religioso, em um só personagem - mas quem se importa? O filme foi bastante criticado por suas cenas violentas e pelas cenas de sexo, o que fez com que o segundo, a pretensa continuação, pegasse muito mais leve e parecesse até infantil. Grande aventura épica, serviu de base para tudo que foi feito depois no gênero e envelheceu muito bem. Vale dizer também que a trilha sonora é um primor.
Dois Homens Contra uma Cidade
3.6 4Filme pouco comentado do astro Alain Delon, mesmo assim um ótimo filme que merece ser descoberto. Fala do sistema penal francês e da pena de morte, sobre como é duro para um ex-condenado se reintegrar à sociedade já que sofre uma resistência e desconfiança extrema perante ela. É aí que entra Jean Gabin fazendo um papel excepcional como Educador, uma função semelhante ao de assistente social, que ajuda o ex-preso em sua reintegração. Tudo fica difícil para o ex-condenado Delon quando um policial obsessivamente o persegue acreditando que este trama um novo assalto à banco.
Delon era um ator controverso, com opiniões polêmicas, de direita, a favor da pena de morte, ainda assim sabia escolher muito bem seus projetos e suas opiniões pessoais não o impediam de trabalhar com diretores de esquerda como Joseph Losey ou Luchino Visconti, nem a fazer um filme que critica duramente a pena de morte, mostrando como ela é retrograda e cruel, como este "Dois Homens Contra uma Cidade", inclusive foi um de seus produtores.
Ótimo filme, recomendo.
Tropas Estelares
3.5 464 Assista AgoraFilme sátira que tira onda com fascistas e militaristas. Tropas é um filme de ficção científica do diretor holandês Paul Verhoeven, conhecido por ter dirigido "Instinto Selvagem". Faz parte dos grandes filmes de ficção científica dos anos 90 e é o terceiro do gênero do diretor (que também fez "Robocop" e "Vingador do Futuro"). Robocop já era um filme bastante político, pois trata da fascistização da polícia. No final do filme o lado humano de Alex Murphy (o Robocop) supera seu lado "máquina de matar" do estado. Em Tropas Verhoeven vai além, faz uma sátira bem humorada dos EUA da era Bush e sua política externa, viajando para um futuro fascista onde um estado militar está sempre em constante prontidão para repelir ataques dos insetos - não é preciso muito para entender que os insetos somos nós, qualquer outra nação que não seja a americana. O mundo neste futuro é ianque, o estado é controlado pelo exército e todos os chavões militares são usados para ironizar esse poder constituído, o filme praticamente termina com a propaganda "Aliste-se você também!" enquanto soldados sorridentes, patriotas e cabeças de vento marcham felizes para a guerra. Inacreditável que um filme desses tenha sido feito em Hollywood, mais inacreditável ainda é que muitos críticos acusaram Verhoeven de ter feito um filme nazista, praticamente ignorando a crítica escancarada e bem humorada que o diretor imprimiu em seu filme. Infelizmente o filme também sepultou a carreira do diretor nos EUA, inviabilizando qualquer futuro projeto, prova de que teve quem entendesse a ironia nas "entrelinhas". Mais tarde Verhoeven voltou para Holanda onde filmou o ótimo drama de guerra "A Espiã", provando que ainda é um dos diretores mais criativos das últimas décadas no cinema.
Nosso Amor de Ontem
3.9 116 Assista AgoraEm tempos de tantos ódios entre esquerda e direita vale dar uma olhada nesse romance do ótimo Sydney Pollack. É a história dos opostos que se atraem, ele, Robert Redford (o alter ego do Pollack) é um playboy bem de vida, o individualista americano que quer aproveitar os prazeres da vida... ela, Barbra Streisand é a comunista da pá virada, que luta pelos desvalidos contra as injustiças sociais... e não é que se apaixonam? Barbra está gatinha no papel de comunista, consolidando sua carreira de atriz definitivamente. É o terceiro filme da dupla Pollack e Redford, anteriormente já haviam feito o fraco "Esta Mulher é Proibida" e o ótimo faroeste ecológico "Mais Forte que a Vingança" (mais tarde ainda fariam os excepcionais "Três dias de Condor" e "Entre Dois Amores"), aqui ambos já estavam afiados. A trilha sonora é famosa até hoje, grande canção de Barbra. Filme muito bonito.
Mad Max 2: A Caçada Continua
3.8 476 Assista AgoraEm 1979 os cinemas australianos bateram recordes de bilheteria com o filme Mad Max, onde o diretor estreante George Miller e mais o astro estreante Mel Gibson surgiam num filme futurista apocalíptico onde a sociedade por alguma razão (uma guerra talvez) entrou em colapso irremediável e a violência tomou conta das ruas, personificada pelas gangues de "selvagens", e o combustível vale ouro. Os únicos a fazerem frente a essa ameaça era uma força policial que tentava manter a paz a todo custo, dentre eles Max que ao longo da película vai assumindo a alcunha de Mad devido a loucura violenta ao qual é jogado. O filme tem um elenco de apoio de canastrões e percebesse as condições precárias de cenário, porém virou cult devido a sua originalidade e as cenas de perseguições são extremamente bem feitas e realistas, algo que se tornaria marca registrada da trilogia - as cenas de perseguições são reais e feitas por dublês extremamente competentes e mais Mads que o próprio Max.
A continuação não tardou a vir devido ao sucesso do primeiro filme mas, como o primeiro filme havia passado em branco em grande parte do mundo (trata-se de um filme genuinamente australiano) nos EUA ele não foi tratado como continuação e ganhou o nome de Road Warrior (Guerreiro das Estradas). Mad Max 2 vai muito além do primeiro filme, desta vez não há precariedade de cenários e o elenco de apoio é ótimo. O filme segue uma lógica de faroeste, Max é o cavaleiro solitário que chega para salvar os moradores de um forte (a refinaria) contra os índios selvagens (os punks do deserto). Ele é "o cara", chega em cena arrasando e sai de cena arrasando, começa como um anti-herói e aos poucos suas ações lhe tornam um herói completo, ele é aquele que se sacrifica por uma causa maior, mesmo contra sua vontade, pois ele é um homem de ação e não de discursos, aliás os diálogos são bem escassos. As cenas de perseguição são de deixar o cabelo em pé e lembram mesmo as cenas de perseguição dos faroestes como no filme "No tempo das Diligências" onde índios perseguem a caravana, só que desta vez os selvagens perseguem um caminhão. Grande filme que ficou gravado na história do cinema como um dos maiores filmes de ação dos anos 80, mesmo hoje continua excepcional.
O sucesso foi tanto que houve um terceiro filme, com Mel Gib e Tina Turner. Desta vez (por imposição do estúdio) toda a violência dos dois primeiros foi suprimida e o filme foi quase infantilizado (para ter classificação 12 anos e render mais em bilheterias). Com isso o filme perdeu muito de sua força e pode ser considerado o pior da trilogia, ainda assim é bem bacana de se ver, com algumas idéias originais, como o duelo na Cúpula do Trovão.
Germinal
3.9 122Filme baseado no livro de mesmo nome do escritor francês Emile Zola que fala sobre o início dos movimentos sindicais. Existe uma parcela grande de pessoas que veem o movimento sindical como algo nocivo, algo ligado a partidos políticos e portanto prejudicial ao trabalhador. A luta sindical é muito mais antiga que o sistema político que temos hoje, trata-se da luta do trabalhador contra o patrão em prol da melhoria de sua condição de trabalho e de vida. Vale lembrar que a nossa situação hoje de trabalho existe graças às lutas sindicais, coisas como 13° salário, férias, seguro desemprego, salário maternidade, aposentadoria, atestado médico remunerado, jornada de 44 horas semanais, vale-transporte... tudo isso se conseguiu com a luta sindical, com a luta do trabalhador e muito sangue foi derramado para que chegássemos até este ponto. O filme ilustra bem o que é esta luta e porque ela deve continuar e critica seus excessos. Grande filme. Vale falar das ótimas interpretações de Gerard Depardieu e Miou Miou, o casal de mineradores que luta para sobreviver em meio à fome; e de Renaud, o intelectual socialista que vai à frente na liderança da greve.
Fugindo do Inferno
4.1 142 Assista AgoraThe Great Scape ou Fugindo do Inferno é com certeza um dos maiores filmes de ação/aventura já feitos, ainda hoje causa um forte impacto em quem o assiste (o que é raro tendo em vista que os filmes de ação atuais exigem um tipo de ação bombada ininterrupta). Tudo começou quando John Sturges (um dos grandes diretores de ação do cinema clássico hollywoodiano - que hoje praticamente caiu no esquecimento e encontra-se ausente de livros e enciclopédias cinematográficas - que deixou grandes obras que existem em DVD para quem quiser ver, como "Sete Homens e Um Destino", "Conspiração do Silêncio, "Sem lei, Sem Alma"...) leu o livro sobre a maior fuga real já empreendida de um campo de prisioneiros nazista e se apaixonou pela história. O campo em questão não se tratava de um campo de concentração mas sim de um campo de prisioneiros de guerra, todos pilotos, protegidos pelas normas da Convenção de Genebra. A ideia era manter os pilotos presos para que estes não voltassem a pilotar aviões contra os alemães. Embuídos de senso de patriotismo e dever estes pilotos planejaram uma fuga espetacular do campo afim de atrapalhar o máximo que pudessem as linhas inimigas. O campo era especial pois só entrava lá aqueles que já haviam tentado escapar anteriormente, portanto era "um sexto para ovos podres". A fuga, planejada com o auxílio de pilotos de todas as nacionalidades, coordenada por um comando rebelde centralizado, seria levada a cabo por 250 prisioneiros, dos quais 76 efetivamente conseguiram escapar, sendo até hoje a maior fuga já empreendida. Destes 76 apenas 03 conseguiram fugir da Alemanha o restante sendo capturado. Hitler em pessoa ordenou o fuzilamento de 50 dos 73 prisioneiros que acreditavam que seriam apenas reenviados para o campo. Um crime covarde.
Claro que trata-se de um drama de guerra mas transposto para o cinema tornou-se uma aventura. O filme recebeu críticas devido à "hollywoodização" da história, pois o tom dado foi outro, existe muitos elementos de comédia no filme, a importância dada aos americanos e as cenas de ação pós-fuga são pura ficção. Alguns personagens podem ser levemente inspirados em pessoas reais porém muito é ficção para agradar ao público, como por exemplo o personagem de Steve McQueen, "Hilts", que nunca existiu. Talvez o mais fiel ao que aconteceu seja os detalhes técnicos da fuga em si, que teve a supervisão de um dos próprios fugitivos.
Houve uma pequena queda de braço entre John Sturges e Steve McQueen durante o filme, McQueen era praticamente um personagem secundário sendo que o personagem de maior destaque cabia a James Garner. O ator, ressentido com Sturges que havia lhe prometido o papel central, abandonou as filmagens que tiveram que ser suspensas por alguns dias enquanto os produtores tentavam "consertar" as coisas entre os dois. Tratava-se de uma rixa a lá "Aquiles x Agamenon" - comandante x astro. Tudo se resolveu quando o contrato de McQueen foi revisto, mais cenas suas foram incluídas e para o climax foi criada uma cena para o ator pilotar uma moto alemã. Claro que a cena com a moto é totalmente ficcional, foi criticada pelos sobreviventes do campo, mas cá entre nós, que cena ESPETACULAR, uma das maiores cenas de ação já feitas. Tudo começa com McQueen, roubando a moto e o uniforme de um soldado alemão, dá um chute em outro soldado que o para numa averiguação, começa então uma perseguição de tirar o fôlego que é concluída com um salto sensacional do motoqueiro sobre uma cerca de arame farpado, tudo feito no braço, sem efeitos digitais como hoje. Por muito tempo acreditou-se no mito de que McQueen teria feito a cena sem dublê, o que não é verdade, porém o ator realmente queria dar o salto mas foi impedido pelos produtores que haviam investido demais no ator para arriscarem perdê-lo em um acidente. No final o diretor optou por terminar o filme de uma maneira otimista e não pessimista como a história realmente era. McQueen "Hilts" ao longo do filme vai várias vezes para a solitária, sempre confrontando a autoridade pois ele é um rebelde, é a encarnação perfeita do espírito rebelde, o americano individualista, aquele que não se dobra e não aceita a injustiça, e em cada vez que é levado para a solitária ele vai com um sorriso sarcástico no rosto, com sua luva e sua bola de beisebol, que ele joga contra a parede da solitária enquanto planeja a próxima tentativa de fuga, um diabo esperto, e sabemos que ele vai fugir, que é apenas questão de tempo... O filme foi um grande sucesso de bilheteria e transformou Steve McQueen no maior astro de sua época. O ator e o diretor nunca mais trabalharam juntos e a carreira de Sturges caiu em declínio. Mais tarde Fugindo no Inferno foi homenageado com um "remake" infantil chamado "Fuga das Galinhas". Grande filme, grande cinema.
Francesco - A História de São Francisco de Assis
3.3 20 Assista AgoraA diretora Italiana Liliana Cavani (polêmica devido a um filme onde uma torturada se apaixona por seu torturador) resolveu transpôr para as telas do cinema pela segunda vez, sob um ângulo diferente, a vida de Francisco de Assis (São Francisco para os católicos). A abordagem desta vez seria a de um Francisco em busca de sua espiritualidade (no primeiro filme a abordagem era de um Francisco que se rebela contra a igreja da idade média).
Não dá para negar que sua visão agora é uma visão madura e com uma interessante discussão filosófica, apesar de ter resultado em um filme ruim. Vemos o Francisco humano, anti-materialista, que busca a comunhão com Deus, é um personagem que, em busca de sua identidade Cristã renega toda a vida material sem se tornar um "marxista", buscando mais o sentido cristão do anti-materialismo. Não há política no discurso deste personagem, como seria habitual no cinema italiano, o modelo proposto de um Cristo é um tanto diferente do apresentado por Pasolini em "O Evangelho Segundo São Mateus" por exemplo, Francisco não se insurge contra a classe dominante, não guarda rancores ou se rebela contra o sistema feudal medieval, ele desce ao mais pobre dos pobres, se desfaz de tudo para se tornar um homem que nada possui e nada deseja, que está abaixo de todos os homens, sua inspiração são as palavras de Cristo segundo o evangelho - "vai, vende tudo o que tens e dá aos pobres...", palavras tiradas de um evangelho que Francisco encontra de um morto enquanto era cativo de guerra. Francisco era rico, de uma família abastada e pretendia se tornar cavaleiro mas tornou-se refém em uma das guerras entre famílias daqueles tempos e conheceu todo o horror de que o homem era capaz, a partir daí algo muda dentro dele e ele rompe com sua antiga vida a procura de uma nova que começa quando ele abandona a casa paterna, totalmente nu, para livrar-se de toda sua vida material e social. É tomado por louco mas logo outros começam a lhe seguir, dão tudo o que possuem e vão morar com os pobres e leprosos. Logo a igreja começa a se preocupar e chama o homem para uma entrevista, começa aí a ordem dos Franciscanos.
A discussão na verdade se prende no seguinte - para ser realmente cristão devemos abandonar a vida material? Afinal de contas é isso que Cristo diz a seus apóstolos quando os ordena que levem apenas a roupa que carregam no corpo e lhe sigam - partindo deste pressuposto então o cristianismo não existe no mundo moderno, onde é praticamente impossível abandonar a vida material. Tal como o Francisco do filme acredita, é necessário o abandono da vida material, tornar-se o mais humilde dos mendigos, ser considerado louco pela sociedade, pois é realmente isso que nos parece, que Francisco enlouqueceu. Logo chegam estudantes do mundo todo para incorporarem a ordem dos Franciscanos, mais controlada pela igreja católica do que por Francisco. A ordem é aumentada por eruditos, filhos de famílias ricas, estudantes, por todo tipo que vê no Francisco um mártir a ser seguido e exigem deste que elabore regras e uma hierarquia. Francisco rejeita a tudo e a todos, diz que a regra é o evangelho e que nada sabe, nada tem a ensinar alem daquilo que já está escrito. Logo a ordem franciscana começa a elaborar suas próprias regras abandonando o próprio Francisco que cai numa profunda crise espiritual.
Como todos sabem de cor e salteado a igreja católica santificou Francisco e atribui ao "santo" vários milagres. Cavani não mostra milagre algum durante o filme, apresentando Francisco apenas como homem. No final, após um tormentoso período de meditação em busca de Deus, Francisco se retira e retorna com o corpo coberto de chagas - as chagas de Cristo, porem não fica claro se não foi o próprio Francisco que auto-infligiu os ferimentos.
O filme começa com seus seguidores trazendo o corpo do "santo" e a narrativa se baseia em lembranças de cada um deles, seguindo o tipo de narrativa de um "Cidadão Kane", onde várias pessoas contam, sob seu ponto de vista pessoal, uma parte da história. Mas o filme é ruim, em nenhum momento se torna realmente interessante, temos apenas esperanças de que melhore no decorrer dos minutos. A começar pela escolha errada do ator pois inacreditavelmente Cavani escolhe o astro decadente Mickey Rourke como seu Francisco. Rourke havia se tornado astro anos antes interpretando filmes como Dinner, 9 e meia Semanas de Amor, Coração Satânico... e havia declarado guerra a todos os críticos de cinema e aos grandes produtores de Hollywood, escolhendo atuar em filmes de baixo orçamento, todos medíocres, soterrando uma das carreiras mais promissoras dos anos 80 e tornando-o então, por mais de uma década, um ocasional coadjuvante. Será por isso a escolha de Cavani? A identificação de um Rourke rejeitando Hollywood com um Francisco rejeitando a vida material? Alguns cenas do filme são francamente constrangedoras, como por exemplo quando Francisco sente tesão por uma mulher, Rouke tira a roupa e corre nu na neve, gemendo sem parar, outra cena constrangedora é o final - meditando a procura de Deus, Francisco/Rourke prorrompe numa torrente de lágrimas e gemidos incontroláveis (alguém devia ter dito ao ator: "vai com calma, cara!"). Também é estranho ver um Francisco que é uma montanha de músculos. Outra coisa estranha é ver suas várias tatuagens, que incrivelmente não foram apagadas por maquiagem. Em determinado momento Rourke fica sem um dente na boca, isso se deve provavelmente a sua carreira paralela de boxeador. Enfim, talvez se Cavani tivesse atualizado o Francisco, nos mostrando um magnata que vira mendigo em algum gueto dos EUA, seria mais condizente com a figura de Rourke, com seus maneirismos malandros, seu cabelo rebelde, seus músculos, tatoos, e o desprezo pela sua própria imagem.
Expresso para Bordeaux
3.6 20Filme policial francês de Jean-Pierre Melville, que se especializou no gênero e criou um estilo próprio que chegou à maestria em "O Samurai". Aqui, em Expresso para Bourdeaux, ele novamente trabalha com seu alter ego Alain Delon, que faz um policial que investiga uma quadrilha liderada por um ladrão especialista, interpretado por Richard Crenna (aquele tiozinho do Rambo). A cumplicidade/rivalidade entre os dois é o foco do filme, eles são lados opostos da mesma moeda e há entre eles tanto respeito quanto admiração, pois esse é o mundo de Melville, policiais e bandidos vivem à margem de uma sociedade indiferente (ou seria melhor dizer que eles são indiferentes à sociedade?). Pessoas comuns são meros coadjuvantes para Melville, o grande drama de seus filmes se desenrola na vida marginal. Vale destacar a lindíssima Catherine Deneuve, que é o ponto de ligação entre os dois, policial e ladrão, os torna ainda mais próximos pois ambos são seus amantes. O mesmo tema mais tarde será abordado em "Fogo Contra Fogo" de Michael Mann, diretor americano que mais se aproxima do estilo de Melville. Ótimo filme policial.
Estrela de Fogo
3.5 29 Assista AgoraFaroestes são conhecido pela matança indiscriminada de índios que sempre eram visto como "selvagens maus". À partir da década de 50 surgiram faroestes revisionistas onde não mais tratavam a condição do índio unicamente através do olhar do branco colonizador. Nessa época surgiram filmes expondo a condição do índio que luta pela sobrevivência de sua raça, é isso que vemos em filmes como "O Caminho do Diabo", "Apache", "Terra Bruta" e Estrela de Fogo", filmes dirigidos por diretores excepcionais: John Ford, Robert Aldrich, Anthony Mann e Don Siegel. Em Estrela de fogo, filme de Don Siegel, vemos o ator Elvis Presley, que nos brinda com uma atuação brilhante, envolto num conflito sangrento entre brancos e índios. Filho de um branco com uma índia, portanto um mestiço, se vê alvo do ódio dos brancos que, após serem atacados por índios revoltosos, agem com mais ódio e sangue frio do que seus "inimigos selvagens". Filme brilhante ao tratar sobre preconceito racial e também atualíssimo, nos ensina muito sobre preconceito.