Obra prima do gênero! Consolida de fato o diretor Chang Cheh como grande mestre de filmes de Kung Fu (Wuxia), ao lado de King Hu.
Chang Cheh é considerado o "John Ford" do cinema chinês, é ele que introduz a virilidade do western nos filmes de kung fu, que até então tinha figuras femininas muito fortes - vide os filmes de King Hu, onde teremos mulheres protagonistas e guerreiras, o que era uma tradição da literatura Wuxia clássica. Para Cheh, a força, a violência e a brutalidade só podiam ser encarnadas pelo homem e as mulheres tornam-se secundárias em seus filmes, vide aqui neste Cinco Venenos, onde não há personagens femininas - elas surgem apenas como figurantes e olhe lá. A violência gráfica dos seus filmes irá emular também a outro diretor de westerns - Sam Peckinpah, do qual o diretor chinês se inspira para criar uma estética de violência com cenas sanguíneas e golpes em câmera lenta.
Aqui já estamos na fase de declínio dos filmes de Kung Fu que haviam experimentado uma "fase de ouro" entre 1970 e 1975, as lutas que vemos são o máximo que foi atingido em virtuosismo técnico e físico dos atores, lembrando mais as danças pra lá de elaboradas de um Fred Astaire ou um Gene Kelly do que propriamente porradaria - e isso é um elogio pois elas são um deleite!
Mas o que realmente nos pega neste filme não são as coreografias espetaculares, mas a trama política impressa por Cheh, diferenciando esse filme dos congêneres da época. É preciso prestar atenção para captar todos os detalhes e as nuances de um jogo político de interesses, corrupção, crueldade e ambição. Chang Cheh foi em sua juventude membro do partido comunista chinês, portanto não é atoa que a política tem papel privilegiado em sua filmografia, mas aqui, sem querer dar detalhes pois você precisa assistir, ela chega ao sublime, lembrando de certa forma outra obra prima de um diretor de westerns italianos, "O Vingador Silencioso" de Sérgio Corbucci.
Neste filme, Jimmy Wang claramente tenta repetir o estrondoso sucesso de o "Espadachim de um só braço" de Chang Cheh, que foi um marco no cinema de Kung Fu (Wuxia). Como novidade teremos batalhas resolvidas com socos e pontapés, diferente do usual confronto com espadas ou lanças que dominavam o cinema de então, e na primeira parte do filme esses confrontos conseguem ser bastante realistas, porém o filme descambará para a fantasia e magias (além de personagens bastante cartunescos) - Bruce Lee iria focar e aprimorar acertadamente o realismo dos confrontos em sua breve carreira.
Pesa o fato de não termos aqui um diretor experiente no projeto, por muitos momentos o filme parece se perder após ter um excelente começo.
Consigo reconhecer toda a beleza técnica e criativa do diretor, porém para engolir o roteiro é preciso aceitar a ideologia torpe norte americana que justificou o massacre de vietnamitas na guerra do Vietnã.
Acompanhamos um grupo de mercenários dispostos a tudo e a todas as atrocidades para combater o comunismo, "o grande mal da humanidade" segundo a visão destes. Angie Dickinson, lindíssima, faz Lucky Legs, uma espiã a serviço dos norte americanos, capaz de trair a confiança do seu próprio povo por uma chance de ter uma vida confortável para seu filho vietnamita nos EUA. O pai da criança (o herói do filme) é um mercenário ianque racista que se recusa a crer que uma criança de olhos puxados seja seu filho. Ambos protagonizam uma cena romântica desprezível (que por muito pouco não termina na cama) após matar um soldado inimigo em um posto de observação e lançar seu corpo pela janela, enquanto seus companheiros esperam do lado de fora. Me lembrou muito uma cena de "Bacurau" quando americanos psicopatas transam alucinadamente após uma chacina enquanto seus companheiros espionam por um drone.
Lee Van Cleef de general vietnamita é a cereja do bolo racista que é este filme, onde todos os "chinas" parecem imbecis.
Nat King Cole e sua voz, numa musica lindíssima, são um alento nesse imbróglio conservador.
A primeira metade do filme é excelente, em alguns momentos lembra bastante o filme "O Nascimento de uma Nação" - mas aquele do Nate Parker de 2016, e não o clássico racista que exalta a KKK de 1915 -, o que pode significar que em parte serviu de inspiração. Porém, a segunda metade do filme é extremamente problemática. Enquanto que a primeira parte nos mostra o racismo e repressão existente na sociedade congolesa no período colonial britânico, a segunda parte, ao tratar da guerra revolucionária de independência iniciada pelos MAU MAU, afrouxa as rédeas e parece justificar o racismo britânico, apresentando os negros revolucionários como "vilões terríveis" que tiraram o obediente servo Sidney Poitier do "bom caminho", justificam a tortura física e psicológica adotada pelos britânicos como sendo "um mau necessário" e inclusive apresentam o que parece ser uma "tortura cultural religiosa" como uma espécie de "tortura boa e aceitável", levando os colonizadores a vencerem os rebeldes que tentavam se libertar da servidão com táticas "malvadas", já que os brancos eram os donos da terra, pois pagaram por ela. Rock Hudson, coroando o final racista e hipócrita típico do cinema hollywoodiano deste período, adota uma criança negra, filho do seu ex-amigo rebelde. O branco bom e magnânimo x o negro revoltado e mau. Mais tarde Richard Brooks vai rever alguns posicionamentos em seu excelente e moralmente superior "Os Profissionais".
Filme maravilhoso! Uma grata surpresa para mim que o desconhecia. A história não tem nada de muito criativa, a velha e boa vingança que consta na maioria dos filmes de wuxia desse período, mas visualmente é um deleite, cenas de luta muito bem coreografadas, uma câmera pegando movimentos estilosos, sem grandes firulas e exageros, Alexander Fu Sheng brilha no auge de seu carisma, Ti Lung como sempre eficiente, recomendo para os que gostam do gênero, é um belíssimo exemplar.
Filme datado e mal desenvolvido, porém ainda consegue divertir. Tem um enredo levemente copiado de Juventude Transviada, com uma mistura de sci-fi. É interessante de se ver, com Steve Mcqueen em seu primeiro papel principal.
Filme sofrível de se ver, Steve McQueen ainda muito inseguro como ator, roteiro fraquíssimo, não há muito mais o que dizer, não se encontram qualidades nessa película que provavelmente foi feita para a TV, serve como curiosidade para quem acompanhou a carreira do ator mais icônico de Hollywood.
Filme excepcional do diretor Chabrol, cujo título nacional é um absurdo, não condiz com o tema do filme - o título original é "A Cerimônia". Chabrol aborda o ódio entre as classes passado o período revolucionário pós 68 na França. Acompanhamos uma empregada analfabeta (e que esconde isso com todas as forças, pois é algo que lhe humilha profundamente) contratada por uma família intelectual burguesa cheia de amabilidades para com ela, mas Chabrol brinca com isso, pois tratasse de uma falsa amabilidade, pontuada por toques de humilhação e opressão, que fazem crescer o ódio de classe nesta, ódio temperado com as intrigas de uma nova amiga. Ambas, irmanadas na marginalidade e na humilhação, partem para um tipo de vingança sangrenta contra a burguesia. Obra-prima.
Filme do diretor Grigori Chukhrai (que lutou em Stalingrado na 2ª guerra mundial). É uma obra prima do cinema russo e mundial, sem mais, uma história terna e poética, que o diretor escreveu para aqueles que haviam lutado ao seu lado. Acompanhamos um jovem soldado que, graças a um ato de bravura, ganha dois dias de licença para visitar sua mãe. No caminho ele se depara com pessoas e situações e somos cativados pelo seu humanismo. É um filme que acredita no ser humano, apesar das adversidades. Trilha maravilhosa.
De NINOTCHKA (1939) à A FILHA AMERICANA (1995): Em "Ninotchka" teremos uma comédia primorosa do diretor Ernst Lubitsch, onde membros do partido comunista vão à Paris negociar uma joia e sucumbem ao capitalismo ocidental. Ninotchka, a comunista exemplar, encanta-se por um chapéu que seria uma aquisição impossível na Russia soviética. A liberdade capitalista suprema encontra-se na possibilidade de você poder comprar o que quiser com seu dinheiro, mesmo que seja um chapéu ridículo. Já em "A filha americana" vemos um contraponto. O diretor Karen Shakhnazarov faz o caminho inverso, um pai russo comunista vai aos EUA para resgatar a filha que lhe foi tirada pela mãe que a levou embora para casar com um capitalista rico. A menina tem tudo, uma vida abastada, estuda em colégio particular, os melhores brinquedos (como diz sua mãe), mesmo assim há um vazio ali, que ela preenche ao reencontrar o pai e por consequência o seu ideal de vida. Claro que não existe tal link entre os filmes, a socialista que abandona tudo por um chapéu, a menina rica que abandona os brinquedos por um ideal, tudo é interpretação minha, mas indico que vejam os dois filmes! (spoiler) Karen termina seu filme com uma fuga de helicóptero, uma cena bastante absurda não fosse sua representatividade: a juventude socialista carregando os socialistas da velha guarda e os desvalidos e rejeitados do capitalismo para um novo horizonte, uma nova aurora. Quem dera pudéssemos ser otimistas assim.
Filme excepcional do grande Spike Lee! Um policial negro e seu parceiro (branco e judeu) se infiltram na klu klux klan afim de monitorar possíveis crimes dos supremacistas brancos. O filme se passa em 1973 mas é impressionante como Spike consegue nos conectar aos dias de hoje, fazendo uma ponte terrível e assustadora desnudando a era Trump, e por tabela a era Bolsonaro no Brasil. O filme tem um humor irônico e sarcástico típico do diretor, tem ótimas atuações e momentos de incrível beleza visual, como num discurso do lendário Carmichael (líder dos panteras negras) onde as imagens do público negro se misturam a um discurso de beleza e orgulho racial. Há momentos de forte tensão e a violência é moral, pois é duro vermos e convivermos com o grupo supremacista branco, em sua maioria ex-militares, a ignorância chega a doer. Há uma cena incrível onde um velho militante do movimento pela igualdade racial conta a história de um linchamento, e este momento é intercalado com um ritual de iniciação da kkk... cena terrível e de muita Inspiração do Spike. Filme obrigatório!
Eu pretendia falar do Sicário 2, que vi ontem, mas aí a vontade de falar desse primeiro foi muito maior, pois ele é muito superior, e enquanto o segundo tenta engrenar uma franquia de ação como mero entretenimento, apenas ambientada no mundo do narcotráfico, este primeiro nos levanta questões reflexivas sobre nós mesmos, sobre nossa humanidade, que o deixam num patamar superior.
Temos três personagens aqui que conduzem a história: Josh Brolin faz o militar obcecado, bitolado, cujos fins justificam os meios, "traficante bom é traficante maleável", não se importa com o jogo sujo. Benicio Del Toro faz um tipo de Juiz Moro vingativo, que já não acredita na justiça dos homens, absorvido pela violência, metamorfoseado na besta que ele antes combatia, o sicário. Emily Blunt faz a policial incorruptível, humana, acredita na justiça, acredita na luta contra o crime, acredita no que é certo e que pessoas dedicadas podem fazer a diferença.
Emily é a idealista, nós a amamos com facilidade. Del Toro o justiceiro, gostamos dele, pois ele traz a tona nosso lado violento, porém sentimos toda sua ameaça na cena final, quando ele encara Emily - o caminho da violência é o caminho errado. Josh é o militar sem escrúpulos, o fascistóide ianque, não gostamos dele de cara.
A fotografia do filme é extraordinária, de um realismo quase documental. Algo que me incomodou no 2 foi o tom farsesco do filme, cenários falsos, uma realidade de mentirinha. Mas no primeiro não, o que encaramos ali é o mundo real, tal como ele é. Obra-prima do diretor Denis Villeneuve.
O filme começa muito bonito, mostrando as paisagens do Rio Grande do Sul, os cenários por onde a história se passará. Essas primeiras imagens são realmente excepcionais, me lembraram o início de "Prometheus", do Ridley Scott, aquela exuberância... Porém creio que ao longo do filme essa estupefação com o ambiente atrapalha, pois em muitas cenas o cenário passa ao primeiro plano, tornando os personagens algo secundário, talvez para nos mostrar nossa pequenez diante do mundo... O homem passará, o ambiente permanecerá imutável ao longo dos séculos. Ainda assim preferia algo mais "Fordiano", nos filmes do mestre John Ford o famoso Monument Valley nunca passa ao primeiro plano, apesar da sua beleza estonteante, o homem é sempre o foco da sua câmera. Questão de gosto pessoal.
Os personagens centrais são apresentados rapidamente logo no início, e isso é muito bom, conheceremos os perseguidos e os perseguidores, que depois inverterão estes papéis. A falha, creio eu, neste início, fica por conta da caracterização do personagem do Coronel Firmino, um "vilão" dos mais caricatos, não sei se por escolha do texto ou do ator, isso atrapalha um pouco, mas logo esse personagem será totalmente deixado de lado (ainda bem).
Murilo Rosa interpreta o Major Ramiro de Oliveira, um paulista que acompanha os Ximangos na guerra, soldados a serviço do governo. Não ficou muito claro porque um paulista os acompanha, e quando questiona sobre o sentido daquela guerra, pois ele está à deriva, jogado lá no meio, sempre é respondido com um "é coisa de gaúcho, um paulista não entenderia", só que eu que sou gaúcho tampouco entendi, faltou o roteiro nos situar naquele conflito, pois também ficamos perdidos e à deriva. Murilo tem uma atuação que não compromete, tem uma boa presença, passa a impressão de desinteresse e tédio, mas acredito que isso convém ao personagem, ele é o soldado que segue as regras, o oficial aristocrático, por isso me incomodei um pouco com sua aparência maltrapilha, incapaz de fazer a barba mesmo quando se apresenta ao governador, não condiz com o Major aristocrata, detalhes...
Quanto ao Leonardo Machado, que faz o Capitão Francisco Saraiva, um rebelde, filho de Gumercindo Saraiva, pra mim é a espinha dorsal do filme, um personagem que nos foi entregue com uma atuação apaixonada. Enquanto ele está em cena ficamos vidrados na sua figura, ele me lembrou muito o Antonio das Mortes, do "O dragão da maldade contra santo guerreiro", do Glauber Rocha, não sei se propositalmente, mas muito me agradou a semelhança e torci por ele do começo ao fim. O elenco de apoio também é muito bom, em especial Allan Souza Lima e Marcos Verza, que na minha opinião roubam a cena em muitos momentos.
Acho que o roteiro teve alguns problemas mal contornados, como por exemplo em determinado momento que os personagens do bando Saraiva se separam em dois grupos, cada qual para um lado, e pouco depois já estão unidos novamente, em tocaia, achei estranho. Há um conflito ali também entre irmãos que ficou confuso, pouco explorado, e de repente explode sem mais nem menos.
As cenas de ação decepcionam um pouco... Quem sabe uma influência de Faroeste Spaghetti caísse bem: close nos olhos, nas mãos, elas se aproximando do coldre, música de tensão, suor descendo pelo rosto... mas as cenas são rápidas demais, ninguém nunca erra um tiro, a câmera parece acompanhar o trajeto da bala, vemos exatamente onde cada bala foi parar... Prefiro a confusão, o caos, dos duelos de um Clint Eastwood, tiros que explodem como balas de canhão... Faltou se assumir mais como western, creio. Quem sabe um duelo no final, entre Rosa e Machado, a la mexicana, um de frente para o outro? Mais Western.
Se pareço estar cobrando muito do filme é porque desejei demais que fosse uma obra prima do nosso cinema, um faroeste gaudério! E é um bom filme, muito melhor que faroestes italianos que são badalados por aqui, como "Dólar furado" por exemplo - pois entre os dois fico com Gumercindo. Tem uma trilha sonora ótima, uma fotografia linda, boas atuações, ótimos momentos - gosto muito da cena das degolas por exemplo, foi algo que me remeteu a Sergio Leone, em "Três homens em conflito", quando o homem sem nome e seu companheiro se encontram em meio à uma disputa estúpida por uma ponte. Lindo filme, desejo muito que seja um sucesso para que venham mais desta lavra!
"Quando o mundo acabar, essas tais pessoas civilizadas vão comer umas as outras."
Que filme excepcional esse BATMAN - CAVALEIRO DAS TREVAS, nossa! O Coringa neste filme é um personagem de uma força esmagadora, e por sua atualidade, assustadora.
"Introduza um pouco de anarquia. Perturbe a ordem vigente e então tudo se torna um caos. Eu sou um agente do caos. E sabe, a chave do caos é o medo!"
A descrença das pessoas nas instituições, sua imersão no medo, a rejeição ao herói em detrimento das ameças de um psicopata, o discurso inflamado do "antes eles do que nós" quando cidadãos tem nas mãos a escolha explodir um bando de detentos para se salvar, uma Gotham violenta, corrupta, que não acredita mais na salvação... O herói deste filme é na verdade Harvey Dent (Duas-caras), o paladino que defende as instituições da cidade, que acredita nas leis e que o bem no final sobrepujará o mal. Esse herói é virado pelo avesso e tornado naquilo que ele próprio combatia - um assassino frio.
"Ou se morre como herói, ou vive-se o bastante para se tornar o vilão."
O Coringa é que aquilo que o Batman poderia ter se tornado, são duas faces da mesma moeda, o vigilante que ultrapassa os limites se torna um violento agente do caos, um não existiria sem o outro. E quem poderia delimitar onde o vigilante deixa de existir para dar lugar ao anarquista?
"Alguns homens não procuram nada lógico como o dinheiro. Eles não são compráveis, ameaçáveis, razoáveis ou negociáveis. Alguns homens só querem ver o circo pegar fogo."
Uma obra-prima do cinema moderno. Filme para se ver, divertir e refletir.
O embate entre o homem e sua ambição desmedida contra a natureza. A luta pelo poder que gera ódio e destruição, a exploração dos recursos naturais e o fim do equilíbrio do homem e o meio em que vive - reflexões que facilmente carregamos para nossos dias. Ashitaka, o personagem central, é o homem pacífico, amaldiçoado por um ódio que não é seu, a deriva num mundo violento e cheio de conflitos, ele é o ser-humano idealizado, como deveríamos ser. A beleza preenche cada quadro desta animação e a trilha sonora é incrível. Uma obra-prima dos estúdios Ghibli.
Nem sei o que comentar desse filme, a única coisa que se salva é a vontade que dá de ver os dois primeiros de novo, faz eles parecerem obras primas. Faz até a bombinha "Predadores" parecer bom.
Boyd Holbrook, que ator mequetrefe! Aliás, o elenco inteiro é sem brilho, a direção é sem brilho... Quem espera cenas de ação incríveis como no filme do Arnold com certeza sairá bem decepcionado, não lembro de uma sequer, aliás, toda a ação é bem banal e entediante. Aí vemos como o John Mctiernan era um diretor do balacobaco, dos melhores diretores de ação dos anos 80.
Li por aí que ao menos o humor era bom e se assemelhava ao humor do primeiro filme. Mas isso passa longe de ser verdade, apesar de ser o mesmo roteirista (e de em ambos rolar umas piadinhas sujas bem descartáveis).
Esse é humor do tipo: um dos mercenários chama o Predador de Woopy Golberg. Detalhe que ele não tinha visto o Predador ainda, apenas de muito longe. Então isso está mais para uma piada gratuita do roteirista que a achou genial. E o filme está cheio disso - se dá até o direito de fazer uma piada escrota sobre estupro!
Uma criança genial que se comunica com Predadores e sabe usar a tecnologia desses... Isso é tão babaca que faz pensar por um momento que o filme é direcionado para um público infantil, mas então porque a classificação 18 anos? Aliás a criança recebe parte da armadura do Predador pelo correio (nossa!).
"Primeiro sangue" é o nome do livro e do primeiro filme de Rambo, conta o drama de um soldado americano que volta do Vietnã perturbado pelo que viu e que de volta em casa não consegue se adaptar, vira um pária da sociedade, tratado como vagabundo por um delegado, o que faz com que sua fúria sanguinária desperte. É um filme "crítica de guerra", bolado inicialmente para ser um drama sério, Steve McQueen recusou o papel principal que acabou por alavancar a carreira do iniciante Sylvester Stallone. Após Stallone assinar contrato como a estrela do filme mudanças foram feitas no roteiro, foram incluídas cenas de ação desenfreada e o final foi alterado, inicialmente Rambo morreria. É um filme ruim? De maneira nenhuma, é ótimo, mesmo hoje envelheceu pouco, as cenas de ação são incríveis apesar do Sylvester não segurar bem o drama, mas a história convence. O inicio é ótimo, quando Rambo é levado para fora da cidade pelo xerife e, indignado, resolve voltar, o que leva a sua prisão, injusta já que ele não havia cometido crime algum. O filme serve como denúncia para várias coisas, contra a guerra, contra abusos policiais e etc, também funciona como diversão já que praticamente pulamos da cadeira nas cenas de ação. Os demais filmes da franquia são fracos em comparação a este, neles Rambo virou um super herói, um super soldado, mas neste primeiro vemos o que resta do seu lado humano, isso torna o filme, junto com o primeiro Rocky, o mais interessante feito por Stallone.
Décadas antes de Tarantino revolucionar a linguagem cinematográfica com Pulp Fiction, Stanley Kubrick já aprontava das suas e fez neste filme exatamente aquilo que o Tarantino fez em Pulp, mostrando pontos de vistas de diferentes personagens indo e voltando no tempo para contar a história, sem falar no grupo de ladrões estilizados, clara influência de Tarantino para "Cães de Aluguel". Um filme moderno, realista, quase documental, tão cheio de detalhes que facilmente podemos nos perder no roteiro... É a história de um assalto a um hipódromo, praticado por um grupo de vigaristas que facilmente ganham nossa simpatia, estrelado por um Sterling Hayden afiado como nunca, sua melhor atuação desde Johnny Guitar. É a primeira obra-prima do Kubrick, depois viriam várias mais.
Geralmente o gênero "romance" é estereotipado como "filme de mulher" - assim como faroestes são "filmes para homens" - mas é claro que isso é uma grande bobagem e como prova "Tarde demais para esquecer" é um daqueles filmes que, apesar de pertencerem a um gênero, é capaz de agradar a qualquer um. A começar pela dupla de atores que é sensacional e que está em incrível sintonia no filme, Cary Grant e Debora Kerr e com uma direção segura do já calejado Leo McCarey, sem falar na ótima trilha sonora. O filme conta a história de um homem e uma mulher que se encontram em um cruzeiro, ambos comprometidos, e que ao se conhecerem acabam se envolvendo e se apaixonando, então resolvem marcar um encontro para dali 6 meses para terem tempo de arrumarem suas vidas. Um filme romântico que não cai nunca no sentimentalismo barato nem na pieguice e que, apesar do final sentimental, não nos faz, em nenhum momento, perder o interesse pelo que estamos vendo. Um grande filme, recomendo!
É muito bacana que a série "Piratas do Caribe" tenha ressuscitado este gênero cinematográfico que estava bem esquecido, o filme de pirata. Legal perceber a quantidade de referências e homenagens que o Piratas do caribe faz aos grandes clássicos de piratas como "Capitão Blood", "Gavião do Mar", "O Cisne Negro" e "O Pirata Sangrento", algumas cenas mesmo são idênticas a cenas destes filmes, principalmente do Pirata Sangrento. E o que esperar de um filme de pirata, com o Burt Lancaster, este ator sensacional, fazendo piruetas e acrobacias (feitas por ele mesmo já que ele já tinha sido artista de circo antes de astro de Hollywood) e com romance, aventura, humor...? Escapismo da melhor qualidade, grande divertimento, do início ao fim, é o mínimo que se pode dizer deste filme, com certeza um dos grandes do gênero!
Belíssimo filme que narra a história de um velho marujo(Fernando Torres) que chega a uma ilha, ao qual morava anteriormente, e não encontra os seus moradores, pai (Lima Duarte) e filha(Leandra Leal), que lá haviam ficado. Na procura ele reconstitui o que pode ter acontecido através de suas lembranças e através do diário de Marcela, que ele encontra ao acaso. É a história de uma menina que se torna mulher e de um pai que tem medo de perdê-la, é a história do amor entre uma menina e o vento e sua ânsia de fugir e conhecer o mundo. Filme excepcional e que vale muito a pena ser visto.
O filme começa com a morte de um senhor que não conhecemos mas que iremos conhecer a partir de uma caixa de cartas e fotos e matérias de jornal, encontrados por sua neta após sua morte, e é assim que embarcamos ao passado para uma jornada ideológica.
O filme é bastante inspirado no livro do George Orwell "Lutando na Espanha", que narra a história verdadeira, do ponto de vista do Orwell (no filme do ponto de vista de um trabalhador inglês e comunista) sobre o que ocorreu na revolução espanhola. Portanto vai passar da euforia das primeiras vitórias, até a derrota e perseguição dos Stalinistas. Não chega a abordar o governo fascista de franco, apenas de longe, por insinuações, pois a revolução espanhola morreu mesmo a partir do momento que os Stalinistas resolveram tomar as rédeas, tornar a revolução proletária numa revolução partidária e bolchevique.
É um filme apaixonado de um diretor engajado com a ideologia, o Ken Loach, grande diretor inglês. É um filme tocante sem ser piegas, ideológico sem ser partidário, inteligente sem ser maçante. Está tudo la, os diversos processos e formas de pensamento por que passou a revolução espanhola, é uma aula de história e uma aula de cinema, um dos maiores filmes políticos já feitos e o maior filme sobre a revolução espanhola. Uma obra-prima. Recomendo!
Uma trilha sonora sombria toca ao fundo lembrando mais um filme clássico de terror, de uma carruagem desce Danton, artífice da revolução francesa, o povo o aclama. De um quarto fúnebre Robespierre acorda de uma doença, ele também é artífice da revolução, alguém lê para ele o seguinte "melhor condenar uma pessoa inocente do que inocentar uma pessoa culpada". Danton representa o romantismo da revolução, Robespierre a dureza. O filme tratará das diferenças entre estes dois homens, entre suas formas de pensar, vai tratar da ruptura, da condenação e culminará com a morte da revolução e a vitória da ditadura, do terror. Um filme excepcional, com atuações apaixonadas... não se trata apenas de política, é sobre personalidades que se completam, sobre a mediocridade, sobre o heroísmo de morrer por um ideal, um filme para se carregar consigo por muito e muito tempo.
Os Cinco Venenos de Shaolin
3.5 36 Assista AgoraObra prima do gênero! Consolida de fato o diretor Chang Cheh como grande mestre de filmes de Kung Fu (Wuxia), ao lado de King Hu.
Chang Cheh é considerado o "John Ford" do cinema chinês, é ele que introduz a virilidade do western nos filmes de kung fu, que até então tinha figuras femininas muito fortes - vide os filmes de King Hu, onde teremos mulheres protagonistas e guerreiras, o que era uma tradição da literatura Wuxia clássica. Para Cheh, a força, a violência e a brutalidade só podiam ser encarnadas pelo homem e as mulheres tornam-se secundárias em seus filmes, vide aqui neste Cinco Venenos, onde não há personagens femininas - elas surgem apenas como figurantes e olhe lá. A violência gráfica dos seus filmes irá emular também a outro diretor de westerns - Sam Peckinpah, do qual o diretor chinês se inspira para criar uma estética de violência com cenas sanguíneas e golpes em câmera lenta.
Aqui já estamos na fase de declínio dos filmes de Kung Fu que haviam experimentado uma "fase de ouro" entre 1970 e 1975, as lutas que vemos são o máximo que foi atingido em virtuosismo técnico e físico dos atores, lembrando mais as danças pra lá de elaboradas de um Fred Astaire ou um Gene Kelly do que propriamente porradaria - e isso é um elogio pois elas são um deleite!
Mas o que realmente nos pega neste filme não são as coreografias espetaculares, mas a trama política impressa por Cheh, diferenciando esse filme dos congêneres da época. É preciso prestar atenção para captar todos os detalhes e as nuances de um jogo político de interesses, corrupção, crueldade e ambição. Chang Cheh foi em sua juventude membro do partido comunista chinês, portanto não é atoa que a política tem papel privilegiado em sua filmografia, mas aqui, sem querer dar detalhes pois você precisa assistir, ela chega ao sublime, lembrando de certa forma outra obra prima de um diretor de westerns italianos, "O Vingador Silencioso" de Sérgio Corbucci.
Grande Cheh!
O Lutador de um Braço Só
4.0 10Neste filme, Jimmy Wang claramente tenta repetir o estrondoso sucesso de o "Espadachim de um só braço" de Chang Cheh, que foi um marco no cinema de Kung Fu (Wuxia). Como novidade teremos batalhas resolvidas com socos e pontapés, diferente do usual confronto com espadas ou lanças que dominavam o cinema de então, e na primeira parte do filme esses confrontos conseguem ser bastante realistas, porém o filme descambará para a fantasia e magias (além de personagens bastante cartunescos) - Bruce Lee iria focar e aprimorar acertadamente o realismo dos confrontos em sua breve carreira.
Pesa o fato de não termos aqui um diretor experiente no projeto, por muitos momentos o filme parece se perder após ter um excelente começo.
No Umbral da China
3.8 9Filme bastante problemático do Fuller.
Consigo reconhecer toda a beleza técnica e criativa do diretor, porém para engolir o roteiro é preciso aceitar a ideologia torpe norte americana que justificou o massacre de vietnamitas na guerra do Vietnã.
Acompanhamos um grupo de mercenários dispostos a tudo e a todas as atrocidades para combater o comunismo, "o grande mal da humanidade" segundo a visão destes. Angie Dickinson, lindíssima, faz Lucky Legs, uma espiã a serviço dos norte americanos, capaz de trair a confiança do seu próprio povo por uma chance de ter uma vida confortável para seu filho vietnamita nos EUA. O pai da criança (o herói do filme) é um mercenário ianque racista que se recusa a crer que uma criança de olhos puxados seja seu filho. Ambos protagonizam uma cena romântica desprezível (que por muito pouco não termina na cama) após matar um soldado inimigo em um posto de observação e lançar seu corpo pela janela, enquanto seus companheiros esperam do lado de fora. Me lembrou muito uma cena de "Bacurau" quando americanos psicopatas transam alucinadamente após uma chacina enquanto seus companheiros espionam por um drone.
Lee Van Cleef de general vietnamita é a cereja do bolo racista que é este filme, onde todos os "chinas" parecem imbecis.
Nat King Cole e sua voz, numa musica lindíssima, são um alento nesse imbróglio conservador.
Sangue Sobre a Terra
3.5 6 Assista AgoraA primeira metade do filme é excelente, em alguns momentos lembra bastante o filme "O Nascimento de uma Nação" - mas aquele do Nate Parker de 2016, e não o clássico racista que exalta a KKK de 1915 -, o que pode significar que em parte serviu de inspiração.
Porém, a segunda metade do filme é extremamente problemática. Enquanto que a primeira parte nos mostra o racismo e repressão existente na sociedade congolesa no período colonial britânico, a segunda parte, ao tratar da guerra revolucionária de independência iniciada pelos MAU MAU, afrouxa as rédeas e parece justificar o racismo britânico, apresentando os negros revolucionários como "vilões terríveis" que tiraram o obediente servo Sidney Poitier do "bom caminho", justificam a tortura física e psicológica adotada pelos britânicos como sendo "um mau necessário" e inclusive apresentam o que parece ser uma "tortura cultural religiosa" como uma espécie de "tortura boa e aceitável", levando os colonizadores a vencerem os rebeldes que tentavam se libertar da servidão com táticas "malvadas", já que os brancos eram os donos da terra, pois pagaram por ela. Rock Hudson, coroando o final racista e hipócrita típico do cinema hollywoodiano deste período, adota uma criança negra, filho do seu ex-amigo rebelde. O branco bom e magnânimo x o negro revoltado e mau. Mais tarde Richard Brooks vai rever alguns posicionamentos em seu excelente e moralmente superior "Os Profissionais".
A Vingança do Águia
4.1 3Filme maravilhoso! Uma grata surpresa para mim que o desconhecia. A história não tem nada de muito criativa, a velha e boa vingança que consta na maioria dos filmes de wuxia desse período, mas visualmente é um deleite, cenas de luta muito bem coreografadas, uma câmera pegando movimentos estilosos, sem grandes firulas e exageros, Alexander Fu Sheng brilha no auge de seu carisma, Ti Lung como sempre eficiente, recomendo para os que gostam do gênero, é um belíssimo exemplar.
A Bolha
3.2 102 Assista AgoraFilme datado e mal desenvolvido, porém ainda consegue divertir. Tem um enredo levemente copiado de Juventude Transviada, com uma mistura de sci-fi. É interessante de se ver, com Steve Mcqueen em seu primeiro papel principal.
O Grande Roubo de St. Louis
2.9 10 Assista AgoraFilme sofrível de se ver, Steve McQueen ainda muito inseguro como ator, roteiro fraquíssimo, não há muito mais o que dizer, não se encontram qualidades nessa película que provavelmente foi feita para a TV, serve como curiosidade para quem acompanhou a carreira do ator mais icônico de Hollywood.
Mulheres Diabólicas
4.0 85 Assista AgoraFilme excepcional do diretor Chabrol, cujo título nacional é um absurdo, não condiz com o tema do filme - o título original é "A Cerimônia". Chabrol aborda o ódio entre as classes passado o período revolucionário pós 68 na França. Acompanhamos uma empregada analfabeta (e que esconde isso com todas as forças, pois é algo que lhe humilha profundamente) contratada por uma família intelectual burguesa cheia de amabilidades para com ela, mas Chabrol brinca com isso, pois tratasse de uma falsa amabilidade, pontuada por toques de humilhação e opressão, que fazem crescer o ódio de classe nesta, ódio temperado com as intrigas de uma nova amiga. Ambas, irmanadas na marginalidade e na humilhação, partem para um tipo de vingança sangrenta contra a burguesia. Obra-prima.
A Balada do Soldado
4.3 48 Assista AgoraFilme do diretor Grigori Chukhrai (que lutou em Stalingrado na 2ª guerra mundial). É uma obra prima do cinema russo e mundial, sem mais, uma história terna e poética, que o diretor escreveu para aqueles que haviam lutado ao seu lado. Acompanhamos um jovem soldado que, graças a um ato de bravura, ganha dois dias de licença para visitar sua mãe. No caminho ele se depara com pessoas e situações e somos cativados pelo seu humanismo. É um filme que acredita no ser humano, apesar das adversidades. Trilha maravilhosa.
Filha Americana
3.7 4De NINOTCHKA (1939) à A FILHA AMERICANA (1995): Em "Ninotchka" teremos uma comédia primorosa do diretor Ernst Lubitsch, onde membros do partido comunista vão à Paris negociar uma joia e sucumbem ao capitalismo ocidental. Ninotchka, a comunista exemplar, encanta-se por um chapéu que seria uma aquisição impossível na Russia soviética. A liberdade capitalista suprema encontra-se na possibilidade de você poder comprar o que quiser com seu dinheiro, mesmo que seja um chapéu ridículo.
Já em "A filha americana" vemos um contraponto. O diretor Karen Shakhnazarov faz o caminho inverso, um pai russo comunista vai aos EUA para resgatar a filha que lhe foi tirada pela mãe que a levou embora para casar com um capitalista rico. A menina tem tudo, uma vida abastada, estuda em colégio particular, os melhores brinquedos (como diz sua mãe), mesmo assim há um vazio ali, que ela preenche ao reencontrar o pai e por consequência o seu ideal de vida.
Claro que não existe tal link entre os filmes, a socialista que abandona tudo por um chapéu, a menina rica que abandona os brinquedos por um ideal, tudo é interpretação minha, mas indico que vejam os dois filmes!
(spoiler) Karen termina seu filme com uma fuga de helicóptero, uma cena bastante absurda não fosse sua representatividade: a juventude socialista carregando os socialistas da velha guarda e os desvalidos e rejeitados do capitalismo para um novo horizonte, uma nova aurora. Quem dera pudéssemos ser otimistas assim.
Deus Não Está Morto
2.8 1,4K Assista AgoraMalhação na tv Record.
Infiltrado na Klan
4.3 1,9K Assista AgoraFilme excepcional do grande Spike Lee!
Um policial negro e seu parceiro (branco e judeu) se infiltram na klu klux klan afim de monitorar possíveis crimes dos supremacistas brancos.
O filme se passa em 1973 mas é impressionante como Spike consegue nos conectar aos dias de hoje, fazendo uma ponte terrível e assustadora desnudando a era Trump, e por tabela a era Bolsonaro no Brasil.
O filme tem um humor irônico e sarcástico típico do diretor, tem ótimas atuações e momentos de incrível beleza visual, como num discurso do lendário Carmichael (líder dos panteras negras) onde as imagens do público negro se misturam a um discurso de beleza e orgulho racial.
Há momentos de forte tensão e a violência é moral, pois é duro vermos e convivermos com o grupo supremacista branco, em sua maioria ex-militares, a ignorância chega a doer.
Há uma cena incrível onde um velho militante do movimento pela igualdade racial conta a história de um linchamento, e este momento é intercalado com um ritual de iniciação da kkk... cena terrível e de muita Inspiração do Spike.
Filme obrigatório!
Sicario: Terra de Ninguém
3.7 940 Assista AgoraEu pretendia falar do Sicário 2, que vi ontem, mas aí a vontade de falar desse primeiro foi muito maior, pois ele é muito superior, e enquanto o segundo tenta engrenar uma franquia de ação como mero entretenimento, apenas ambientada no mundo do narcotráfico, este primeiro nos levanta questões reflexivas sobre nós mesmos, sobre nossa humanidade, que o deixam num patamar superior.
Temos três personagens aqui que conduzem a história:
Josh Brolin faz o militar obcecado, bitolado, cujos fins justificam os meios, "traficante bom é traficante maleável", não se importa com o jogo sujo.
Benicio Del Toro faz um tipo de Juiz Moro vingativo, que já não acredita na justiça dos homens, absorvido pela violência, metamorfoseado na besta que ele antes combatia, o sicário.
Emily Blunt faz a policial incorruptível, humana, acredita na justiça, acredita na luta contra o crime, acredita no que é certo e que pessoas dedicadas podem fazer a diferença.
Emily é a idealista, nós a amamos com facilidade. Del Toro o justiceiro, gostamos dele, pois ele traz a tona nosso lado violento, porém sentimos toda sua ameaça na cena final, quando ele encara Emily - o caminho da violência é o caminho errado. Josh é o militar sem escrúpulos, o fascistóide ianque, não gostamos dele de cara.
A fotografia do filme é extraordinária, de um realismo quase documental. Algo que me incomodou no 2 foi o tom farsesco do filme, cenários falsos, uma realidade de mentirinha. Mas no primeiro não, o que encaramos ali é o mundo real, tal como ele é. Obra-prima do diretor Denis Villeneuve.
A Cabeça de Gumercindo Saraiva
3.3 12O filme começa muito bonito, mostrando as paisagens do Rio Grande do Sul, os cenários por onde a história se passará. Essas primeiras imagens são realmente excepcionais, me lembraram o início de "Prometheus", do Ridley Scott, aquela exuberância... Porém creio que ao longo do filme essa estupefação com o ambiente atrapalha, pois em muitas cenas o cenário passa ao primeiro plano, tornando os personagens algo secundário, talvez para nos mostrar nossa pequenez diante do mundo... O homem passará, o ambiente permanecerá imutável ao longo dos séculos. Ainda assim preferia algo mais "Fordiano", nos filmes do mestre John Ford o famoso Monument Valley nunca passa ao primeiro plano, apesar da sua beleza estonteante, o homem é sempre o foco da sua câmera. Questão de gosto pessoal.
Os personagens centrais são apresentados rapidamente logo no início, e isso é muito bom, conheceremos os perseguidos e os perseguidores, que depois inverterão estes papéis. A falha, creio eu, neste início, fica por conta da caracterização do personagem do Coronel Firmino, um "vilão" dos mais caricatos, não sei se por escolha do texto ou do ator, isso atrapalha um pouco, mas logo esse personagem será totalmente deixado de lado (ainda bem).
Murilo Rosa interpreta o Major Ramiro de Oliveira, um paulista que acompanha os Ximangos na guerra, soldados a serviço do governo. Não ficou muito claro porque um paulista os acompanha, e quando questiona sobre o sentido daquela guerra, pois ele está à deriva, jogado lá no meio, sempre é respondido com um "é coisa de gaúcho, um paulista não entenderia", só que eu que sou gaúcho tampouco entendi, faltou o roteiro nos situar naquele conflito, pois também ficamos perdidos e à deriva. Murilo tem uma atuação que não compromete, tem uma boa presença, passa a impressão de desinteresse e tédio, mas acredito que isso convém ao personagem, ele é o soldado que segue as regras, o oficial aristocrático, por isso me incomodei um pouco com sua aparência maltrapilha, incapaz de fazer a barba mesmo quando se apresenta ao governador, não condiz com o Major aristocrata, detalhes...
Quanto ao Leonardo Machado, que faz o Capitão Francisco Saraiva, um rebelde, filho de Gumercindo Saraiva, pra mim é a espinha dorsal do filme, um personagem que nos foi entregue com uma atuação apaixonada. Enquanto ele está em cena ficamos vidrados na sua figura, ele me lembrou muito o Antonio das Mortes, do "O dragão da maldade contra santo guerreiro", do Glauber Rocha, não sei se propositalmente, mas muito me agradou a semelhança e torci por ele do começo ao fim. O elenco de apoio também é muito bom, em especial Allan Souza Lima e Marcos Verza, que na minha opinião roubam a cena em muitos momentos.
Acho que o roteiro teve alguns problemas mal contornados, como por exemplo em determinado momento que os personagens do bando Saraiva se separam em dois grupos, cada qual para um lado, e pouco depois já estão unidos novamente, em tocaia, achei estranho. Há um conflito ali também entre irmãos que ficou confuso, pouco explorado, e de repente explode sem mais nem menos.
As cenas de ação decepcionam um pouco... Quem sabe uma influência de Faroeste Spaghetti caísse bem: close nos olhos, nas mãos, elas se aproximando do coldre, música de tensão, suor descendo pelo rosto... mas as cenas são rápidas demais, ninguém nunca erra um tiro, a câmera parece acompanhar o trajeto da bala, vemos exatamente onde cada bala foi parar... Prefiro a confusão, o caos, dos duelos de um Clint Eastwood, tiros que explodem como balas de canhão... Faltou se assumir mais como western, creio. Quem sabe um duelo no final, entre Rosa e Machado, a la mexicana, um de frente para o outro? Mais Western.
Se pareço estar cobrando muito do filme é porque desejei demais que fosse uma obra prima do nosso cinema, um faroeste gaudério! E é um bom filme, muito melhor que faroestes italianos que são badalados por aqui, como "Dólar furado" por exemplo - pois entre os dois fico com Gumercindo. Tem uma trilha sonora ótima, uma fotografia linda, boas atuações, ótimos momentos - gosto muito da cena das degolas por exemplo, foi algo que me remeteu a Sergio Leone, em "Três homens em conflito", quando o homem sem nome e seu companheiro se encontram em meio à uma disputa estúpida por uma ponte.
Lindo filme, desejo muito que seja um sucesso para que venham mais desta lavra!
Batman: O Cavaleiro das Trevas
4.5 3,8K Assista Agora"Quando o mundo acabar, essas tais pessoas civilizadas vão comer umas as outras."
Que filme excepcional esse BATMAN - CAVALEIRO DAS TREVAS, nossa! O Coringa neste filme é um personagem de uma força esmagadora, e por sua atualidade, assustadora.
"Introduza um pouco de anarquia. Perturbe a ordem vigente e então tudo se torna um caos. Eu sou um agente do caos. E sabe, a chave do caos é o medo!"
A descrença das pessoas nas instituições, sua imersão no medo, a rejeição ao herói em detrimento das ameças de um psicopata, o discurso inflamado do "antes eles do que nós" quando cidadãos tem nas mãos a escolha explodir um bando de detentos para se salvar, uma Gotham violenta, corrupta, que não acredita mais na salvação... O herói deste filme é na verdade Harvey Dent (Duas-caras), o paladino que defende as instituições da cidade, que acredita nas leis e que o bem no final sobrepujará o mal. Esse herói é virado pelo avesso e tornado naquilo que ele próprio combatia - um assassino frio.
"Ou se morre como herói, ou vive-se o bastante para se tornar o vilão."
O Coringa é que aquilo que o Batman poderia ter se tornado, são duas faces da mesma moeda, o vigilante que ultrapassa os limites se torna um violento agente do caos, um não existiria sem o outro. E quem poderia delimitar onde o vigilante deixa de existir para dar lugar ao anarquista?
"Alguns homens não procuram nada lógico como o dinheiro.
Eles não são compráveis, ameaçáveis, razoáveis ou negociáveis. Alguns homens só querem ver o circo pegar fogo."
Uma obra-prima do cinema moderno. Filme para se ver, divertir e refletir.
Princesa Mononoke
4.4 944 Assista AgoraO embate entre o homem e sua ambição desmedida contra a natureza. A luta pelo poder que gera ódio e destruição, a exploração dos recursos naturais e o fim do equilíbrio do homem e o meio em que vive - reflexões que facilmente carregamos para nossos dias. Ashitaka, o personagem central, é o homem pacífico, amaldiçoado por um ódio que não é seu, a deriva num mundo violento e cheio de conflitos, ele é o ser-humano idealizado, como deveríamos ser. A beleza preenche cada quadro desta animação e a trilha sonora é incrível. Uma obra-prima dos estúdios Ghibli.
O Predador
2.5 649Que bomba, nossa!
Nem sei o que comentar desse filme, a única coisa que se salva é a vontade que dá de ver os dois primeiros de novo, faz eles parecerem obras primas. Faz até a bombinha "Predadores" parecer bom.
Boyd Holbrook, que ator mequetrefe! Aliás, o elenco inteiro é sem brilho, a direção é sem brilho... Quem espera cenas de ação incríveis como no filme do Arnold com certeza sairá bem decepcionado, não lembro de uma sequer, aliás, toda a ação é bem banal e entediante. Aí vemos como o John Mctiernan era um diretor do balacobaco, dos melhores diretores de ação dos anos 80.
Li por aí que ao menos o humor era bom e se assemelhava ao humor do primeiro filme. Mas isso passa longe de ser verdade, apesar de ser o mesmo roteirista (e de em ambos rolar umas piadinhas sujas bem descartáveis).
Esse é humor do tipo: um dos mercenários chama o Predador de Woopy Golberg. Detalhe que ele não tinha visto o Predador ainda, apenas de muito longe. Então isso está mais para uma piada gratuita do roteirista que a achou genial. E o filme está cheio disso - se dá até o direito de fazer uma piada escrota sobre estupro!
Uma criança genial que se comunica com Predadores e sabe usar a tecnologia desses... Isso é tão babaca que faz pensar por um momento que o filme é direcionado para um público infantil, mas então porque a classificação 18 anos? Aliás a criança recebe parte da armadura do Predador pelo correio (nossa!).
A cientista pacata que vira a vingadora "Viúva Negra", desferindo chutes e porradas no predador, de uma coragem inabalável.
Um Predador gigante evoluído que é mais burro que o Yeti do chapolim.
E o Grand Finale é uma armadura a la Homem de Ferro do Predador, sugerindo que teremos uma continuação (Jesus, me poupe disto!).
Rambo: Programado Para Matar
3.7 579 Assista Agora"Primeiro sangue" é o nome do livro e do primeiro filme de Rambo, conta o drama de um soldado americano que volta do Vietnã perturbado pelo que viu e que de volta em casa não consegue se adaptar, vira um pária da sociedade, tratado como vagabundo por um delegado, o que faz com que sua fúria sanguinária desperte. É um filme "crítica de guerra", bolado inicialmente para ser um drama sério, Steve McQueen recusou o papel principal que acabou por alavancar a carreira do iniciante Sylvester Stallone. Após Stallone assinar contrato como a estrela do filme mudanças foram feitas no roteiro, foram incluídas cenas de ação desenfreada e o final foi alterado, inicialmente Rambo morreria. É um filme ruim? De maneira nenhuma, é ótimo, mesmo hoje envelheceu pouco, as cenas de ação são incríveis apesar do Sylvester não segurar bem o drama, mas a história convence. O inicio é ótimo, quando Rambo é levado para fora da cidade pelo xerife e, indignado, resolve voltar, o que leva a sua prisão, injusta já que ele não havia cometido crime algum. O filme serve como denúncia para várias coisas, contra a guerra, contra abusos policiais e etc, também funciona como diversão já que praticamente pulamos da cadeira nas cenas de ação. Os demais filmes da franquia são fracos em comparação a este, neles Rambo virou um super herói, um super soldado, mas neste primeiro vemos o que resta do seu lado humano, isso torna o filme, junto com o primeiro Rocky, o mais interessante feito por Stallone.
O Grande Golpe
4.1 236 Assista AgoraDécadas antes de Tarantino revolucionar a linguagem cinematográfica com Pulp Fiction, Stanley Kubrick já aprontava das suas e fez neste filme exatamente aquilo que o Tarantino fez em Pulp, mostrando pontos de vistas de diferentes personagens indo e voltando no tempo para contar a história, sem falar no grupo de ladrões estilizados, clara influência de Tarantino para "Cães de Aluguel". Um filme moderno, realista, quase documental, tão cheio de detalhes que facilmente podemos nos perder no roteiro... É a história de um assalto a um hipódromo, praticado por um grupo de vigaristas que facilmente ganham nossa simpatia, estrelado por um Sterling Hayden afiado como nunca, sua melhor atuação desde Johnny Guitar. É a primeira obra-prima do Kubrick, depois viriam várias mais.
Tarde Demais para Esquecer
4.1 151 Assista AgoraGeralmente o gênero "romance" é estereotipado como "filme de mulher" - assim como faroestes são "filmes para homens" - mas é claro que isso é uma grande bobagem e como prova "Tarde demais para esquecer" é um daqueles filmes que, apesar de pertencerem a um gênero, é capaz de agradar a qualquer um. A começar pela dupla de atores que é sensacional e que está em incrível sintonia no filme, Cary Grant e Debora Kerr e com uma direção segura do já calejado Leo McCarey, sem falar na ótima trilha sonora. O filme conta a história de um homem e uma mulher que se encontram em um cruzeiro, ambos comprometidos, e que ao se conhecerem acabam se envolvendo e se apaixonando, então resolvem marcar um encontro para dali 6 meses para terem tempo de arrumarem suas vidas. Um filme romântico que não cai nunca no sentimentalismo barato nem na pieguice e que, apesar do final sentimental, não nos faz, em nenhum momento, perder o interesse pelo que estamos vendo. Um grande filme, recomendo!
O Pirata Sangrento
3.6 21 Assista AgoraÉ muito bacana que a série "Piratas do Caribe" tenha ressuscitado este gênero cinematográfico que estava bem esquecido, o filme de pirata. Legal perceber a quantidade de referências e homenagens que o Piratas do caribe faz aos grandes clássicos de piratas como "Capitão Blood", "Gavião do Mar", "O Cisne Negro" e "O Pirata Sangrento", algumas cenas mesmo são idênticas a cenas destes filmes, principalmente do Pirata Sangrento.
E o que esperar de um filme de pirata, com o Burt Lancaster, este ator sensacional, fazendo piruetas e acrobacias (feitas por ele mesmo já que ele já tinha sido artista de circo antes de astro de Hollywood) e com romance, aventura, humor...? Escapismo da melhor qualidade, grande divertimento, do início ao fim, é o mínimo que se pode dizer deste filme, com certeza um dos grandes do gênero!
A Ostra e o Vento
3.6 70Belíssimo filme que narra a história de um velho marujo(Fernando Torres) que chega a uma ilha, ao qual morava anteriormente, e não encontra os seus moradores, pai (Lima Duarte) e filha(Leandra Leal), que lá haviam ficado. Na procura ele reconstitui o que pode ter acontecido através de suas lembranças e através do diário de Marcela, que ele encontra ao acaso. É a história de uma menina que se torna mulher e de um pai que tem medo de perdê-la, é a história do amor entre uma menina e o vento e sua ânsia de fugir e conhecer o mundo. Filme excepcional e que vale muito a pena ser visto.
Terra e Liberdade
4.1 45O filme começa com a morte de um senhor que não conhecemos mas que iremos conhecer a partir de uma caixa de cartas e fotos e matérias de jornal, encontrados por sua neta após sua morte, e é assim que embarcamos ao passado para uma jornada ideológica.
O filme é bastante inspirado no livro do George Orwell "Lutando na Espanha", que narra a história verdadeira, do ponto de vista do Orwell (no filme do ponto de vista de um trabalhador inglês e comunista) sobre o que ocorreu na revolução espanhola. Portanto vai passar da euforia das primeiras vitórias, até a derrota e perseguição dos Stalinistas. Não chega a abordar o governo fascista de franco, apenas de longe, por insinuações, pois a revolução espanhola morreu mesmo a partir do momento que os Stalinistas resolveram tomar as rédeas, tornar a revolução proletária numa revolução partidária e bolchevique.
É um filme apaixonado de um diretor engajado com a ideologia, o Ken Loach, grande diretor inglês. É um filme tocante sem ser piegas, ideológico sem ser partidário, inteligente sem ser maçante. Está tudo la, os diversos processos e formas de pensamento por que passou a revolução espanhola, é uma aula de história e uma aula de cinema, um dos maiores filmes políticos já feitos e o maior filme sobre a revolução espanhola. Uma obra-prima. Recomendo!
Danton: O Processo da Revolução
3.8 72Uma trilha sonora sombria toca ao fundo lembrando mais um filme clássico de terror, de uma carruagem desce Danton, artífice da revolução francesa, o povo o aclama. De um quarto fúnebre Robespierre acorda de uma doença, ele também é artífice da revolução, alguém lê para ele o seguinte "melhor condenar uma pessoa inocente do que inocentar uma pessoa culpada". Danton representa o romantismo da revolução, Robespierre a dureza. O filme tratará das diferenças entre estes dois homens, entre suas formas de pensar, vai tratar da ruptura, da condenação e culminará com a morte da revolução e a vitória da ditadura, do terror. Um filme excepcional, com atuações apaixonadas... não se trata apenas de política, é sobre personalidades que se completam, sobre a mediocridade, sobre o heroísmo de morrer por um ideal, um filme para se carregar consigo por muito e muito tempo.