Um belo argumento! O que está subentendido na angustiante espera do fantasma acaba por mexer conosco, nos colocando frente ao dilema do existir/não existir. O ponto fraco é que o filme acaba tendo mais força na morte do que na vida, o que acaba de certa forma causando uma sensação de incredulidade na fixação representada. Difícil imaginar obstinação sem paixão a priori. Os personagens vivos exalam a apatia hipster tão pandêmica nos retratos humanos atuais. Por outro lado, reitero que o diretor consegue conectar o telespectador através da angústia, da desoladora solidão da morte. Portanto, acaba sendo uma experiência mais positiva que negativa no final das contas.
Um conto folclórico como pano de fundo para uma história de amor que acaba por refletir elementos como temporalidade, alegria, desapego, banalidade da vida (tá tudo lá no texto, basta não se deixar ludibriar pela inconvencionalidade)... Mas o mais legal é que tudo isso é feito de maneira leve, deliciosamente prazerosa de assistir. Uma pérola
do cinema independente, com uma protagonista que é uma convulsão magnética, nos arrastando para nos apaixonarmos por ela, pela simplicidade de gozar a vida... Lindo!
Filme psicológico, em que o roteiro funciona como uma metáfora sobre a superação do autoenclausuramento, do distanciamento social cada vez mais comum à medida que o ser humano dispõe de recursos para escolher uma vida solitária.
Os zumbis são a sociedade que Sam sente que o oprime, os mortos são suas relações mais significativas, seus conflitos com seus pais, sua denegação e, posteriormente, aceitação de sua responsabilidade pelo rompimento com sua namorada. No fim ele acaba por queimar suas gravações musicais (já que sua relação com a música é também solitária) e escolhe ver a cidade, a sociedade, escolhe viver.
Não obstante o bom roteiro, a boa atuação de Anders Danielsen, a boa fotografia, os ótimos efeitos de maquiagem, alguns aspectos da película a empobrecem um pouco: destaco o que mais me incomodou, a trilha sonora em situações-limite, que empresta um tom altamente anti-climático na tentativa de criar um clima (!) de compaixão. No geral, um filme muito bom.
Daqueles filmes que utilizam os conflitos psicológicos do personagem principal pra montar uma história densa e aparentemente confusa, convidando o espectador a desvendar o enigma narrativo que se apresenta. Tal recurso, tão utilizado em diversos thrillers, por vezes rende filmes muito bons (Perfect Blue, 1997; Clube da Luta, 1999; Alta Tensão, 2003; e por aí vai), por vezes medianos, e tantas outras vezes películas de má qualidade. O Amante Duplo, pra ser justo, é um bom filme. Pouco mais que mediano. A colagem da história funciona bem, os elementos simbólicos são bem concatenados na análise final do quadro mental da personagem Chloé, mostrando um roteiro feito com cuidado e observância aos detalhes. O ponto fraco, contudo, se dá no aspecto estético, principalmente das cenas de sexo. A fotografia e a coreografia "soft porn" comprometem bastante o estilo do filme, que se torna empobrecido, lembrando coisas do tipo "Cinquenta Tons de Cinza" (2015).
Considerando que a doença de Chloé tem como sintoma principal a frigidez, a trama, naturalmente, acaba por girar em sua maior parte em torno de sua vida sexual, fazendo com que tal defeito acabe por comprometer consideravelmente o resultado final.
O cinema norte-americano tem um problema crônico que parece irreparável: Há uma rigidez estrutural que faz com que os mais variados filmes, dos mais variados gêneros, pareçam ser o mesmo filme. Com raras exceções, não há variações estéticas ou narrativas impactantes. Mesmo aquilo que é supostamente feito para ser subversivo, é embalado em um produto digerível aos sensíveis padrões morais da sociedade do Tio Sam. Para quem assiste ao cinema produzido fora da grande indústria hollywoodiana, fica mais evidente a pouca criatividade e ousadia dos filmes americanos. E, mais além ainda, para quem gosta do gênero horror, com todas as suas variações, sente ainda mais as amarras, visto que esse tipo de cinema tem em seu âmago a exploração livre da imaginação, expondo nossos medos e hipocrisias através de suas imagens e sugestões. Para um filme vendido como um "terrir" subversivo e criativo, não vejo qualquer diferença deste Society para um A Morte Lhe Cai Bem (Death Becomes Her, 1992) da vida, além do fato deste último ser visto, sem equívoco, como um filme claramente comercial.
"Get Out" tem um bom roteiro, não é brilhante, nem medíocre, apenas bom. Os aspectos técnicos da direção, se não são virtuosos, tampouco comprometem negativamente. De excepcional mesmo, somente a atuação de Daniel Kaluuya, que mantém a sobriedade do personagem mesmo nos momentos mais vacilantes da obra. Certamente, o fato de ter se destacado tão positivamente frente ao público e à crítica se deve menos a fatores artísticos em si do que a aspectos político-econômicos: estar dentro da "máquina", por mais que com uma produção claramente barata, não faz mal a ninguém. Não é que seja um filme ruim, não, sua crítica é relevante e sua metáfora coerente historicamente (negros tendo de sacrificar suas vidas em prol de homens brancos ricos) e atualizada (a "tolerância" só é possível se o diferente se tornar, de certa forma, um par, um igual, um familiar [!]). Todavia, a ideia de se fazer uma película híbrida, transitando por nuances de diferentes gêneros, pode ser insidiosa e acabar por comprometer a coesão do produto final. E é exatamente isso que acontece aqui. O filme acaba por não ter uma "cara", seus personagens aparecem e desaparecem sem dizer a que vieram. Há, ainda, os velhos e saturados clichês do cinema norte-americano: jump scares, trilha sonora em momentos desnecessários, etc. Ao final, contudo, pode-se dizer que é um bom filme, que, como dito, trata de questões, infelizmente, ainda relevantes, e, portanto, imprescindíveis ao debate e reflexão; além de funcionar como entretenimento e apresentar um protagonista que te inspira a acompanhá-lo ao longo do enredo.
Não, esse não é um filme nonsense! Rubber trata, primordialmente, sobre o processo de concepção do cinema enquanto produto de entretenimento. Marcado pelo humor ácido do diretor, a narrativa é construída em cima de uma crítica que analisa os dois lados da experiência cinematográfica, realizador e espectador, fazendo uso de diálogos tão perspicazes quanto irônicos:
quando o tenente/diretor explica a falta de motivo, razão, de determinados aspectos contidos em alguns filmes, ele cita o fato de um estranho matar o presidente Kennedy no filme JFK como algo "sem razão". Dupieux claramente ironiza ao citar um acontecimento da "vida real" enquanto algo despropositadamente colocado em um filme, filme este, que lembremos, possui caráter biográfico.
O grande "truque" de Dupieux é justamente mostrar como, através de técnicas de filmagem e montagem, e clichês de roteiro, qualquer história pode prender a atenção do espectador (já "doutrinado" a ingerir coisas de má qualidade), até mesmo a de um pneu assassino. Não se enganem pelo filme dentro do filme, ele não é o fim, mas o meio pelo qual o diretor leva sua mensagem aos espectadores, e aos famosos letreiros de Hollywood, com toda a carga simbólica neles contida.
Um filme de vanguarda que, além de Tarantino, influenciou diversos outros diretores com sua estilística peculiar até então. Shurayukihime se apropria de elementos gráficos dos HQs, principalmente, para criar uma experiência sensorial visceral. Seu roteiro é mais 'sério' do que o costumeiro nesse tipo de filme (artes marciais) e denuncia uma sociedade japonesa toda corrompida, desde a base até o topo da pirâmide social. No entanto, justamente onde está sua força imagética, é onde está, também, suas fraquezas. Ao se apropriar da linguagem dos HQs o trabalho de construção psicológica dos personagens fica a desejar. Fujita utiliza-os primordialmente como representações de extratos sociais, o que faz com que percam força psicológica e, por conseguinte, identificação enquanto espelho humano, necessária à linguagem cinematográfica (principalmente ao cinema que propõem mais do que o puro entretenimento). Daí, por exemplo, surgem diversas frases autoexplicativas nas falas do personagem. Sendo, contudo, os méritos infinitamentes maiores do que os deméritos, Shurayukihime é uma obra maior, obrigatória a todo e qualquer amante da sétima arte.
Mais do que um terror psicológico, aqui temos um terror psicanalítico. Bergman se apropria de conceitos cunhados pela psicanálise para criar um universo onírico. As lentes do mestre divagam pela obscuridade da mente de um artista consumido pela culpa. Culpa essa representada em seu escopo mais amplo, desde a culpa infantil até a culpa adulta, permeada pelos significantes sócio-históricos da monogamia. Tudo isso filmado e montado com o primor habitual do gênio sueco. Acrescento ainda a perspicácia do uso da metalinguagem, que, tão comum na obra de Bergman, certamente aparece mais por necessidade de expressão _ de um artista autoral_, que por pedantismo.
O diretor estreante mostra bom apuro técnico e boa capacidade de criar enquadramentos climáticos. A bela fotografia é o ponto alto do filme. Entretanto, os méritos do diretor esbarram na composição física da personagem principal. A exploração da tríade edípica e da religião como elementos de construção dos mais variados desvios comportamentais (o que sempre foi muito prolífico ao cinema, principalmente ao de horror), que serveriam para gerar uma personagem perturbadora, falha ao se materializar em uma figura incongruente. A Francisa, da belíssima Kika Magalhães, tem a aparência de uma figura urbana, embora viva em ambiente rural inóspito; suas sobrancelhas extremamente bem delineadas e seu aspecto alinhado, conquanto vestida de maneira simples, contrastam imensamente com todo o entorno físico e psicológico do ambiente apresentado. Em uma análise rasa, poder-se-ia dizer que isso não é tão importante. Mas o que seria de qualquer obra narrativa se não fosse a força descritiva de suas personagens? Em se tratando de uma obra em que a personagem principal domina grande parte da história, uma figura destoante, sem que haja um propósito nisto, compromete completamente a fruição do espetáculo.
Parece uma imensa propaganda do Governo Federal sobre o Dia do Índio. Ou é? Porque enquanto linguagem cinematográfica é uma tragédia. Roteiro precário, personagens tão profundos psicologicamente quanto os de uma novela das 7. A direção de atores é tão pífia que temos a impressão de estarmos assistindo a um filme da década de 60, tamanho o automatismo das falas e expressões. Tão raso e medíocre que é aconselhável a quem quiser conhecer melhor sobre os feitos dos irmãos Villas Bôas procurar outras fontes de pesquisa. Nem como entretenimento, que é o que a globo filmes visa proporcionar, funciona.
Tarkovsky desmancha-se entre lirismo e análise histórica. Ao encenar recortes de sua vida nos brinda com conflitos psicológicos, que são universais, mergulhados em uma bela estética que passeia de paisagens vastas a ambientes fechados, de situações encerradas no corpo da sociedade stalinista soviética até àquelas vivenciadas no âmago da subjetividade humana. O que vemos é um espelho, a princípio, de todos nós ocidentais, e, em um reflexo mais claro, de todo ser humano dito civilizado. O tempo é o elemento chave dessa obra filosófico-existencial, mostrando que o ser não está sujeito a cronologia, mas que ele perdura transgeracionalmente, com seus traços de afeto mais profundos, formando uma consciência ontológica que independe de seu tempo (como no déjà vu de Ignat na cena que ajuda a mãe a recolher os objetos da bolsa dela, ou na sua comoção perante sua imagem no espelho). Enfim, uma grande obra de arte cuja fruição que se obtém ao longo da experiência é que vai determinar a avaliação final do espectador.
O cara da trilha pega o cd "trilha para filme indie americano", dá o play nos créditos iniciais e vai pra casa; Julianne "joga no piloto automático", faz suas cenas e vai embora. O que fica do filme no final é o talento absurdo da descoberta (pelo menos para mim) mirim Onata Aprile, que dá um baile e carrega o filme nas costas. Skarsgard filho e Vanderham também dão um empurrão na obra, emprestando carisma aos seus personagens, o que faz com que nos identifiquemos com o casal.
Ótimo trabalho do competentíssimo Peter Weir. O trabalho "passivo" das câmeras permite que a história se desenvolva através da pura encenação, sem muitas inferências técnicas, emprestando um tom documental à mise-en-scène que enriquece completamente a experiência de sua apreciação. Weir utiliza do personagem Allie Fox (só posso me referir ao trabalho do diretor, pois não li o livro) para mostrar a complexa relação de tentativa de ruptura com um sistema filosófico/político. A crítica ao comunismo é evidente, desde a irreverente ironia da compra de Jeronimo, a 'terra prometida', de um "bêbado alemão", até a imposição didatória que Allie submete sua família e aqueles que discordam de seu ponto de vista. A partir do 3º ato Weir explora a figura despótica do pai/chefe e toda a implicação psicológica que esse fenômeno judaico-cristão desenhou no espírito e cultura ocidentais. Todavia, é justamente aqui que os personagens perdem força, assim como, consequentemente, o filme.
A arte da delicadeza asiática, da elucubração morosa na construção de seu discurso. Aqui, temos os três diretores trabalhando nessa maneira compassada e primorosa, destilando composições estéticas e narrativas particulares de seus cinemas, porém tratando de temas universais da condição humana: morte, culpa, envelhecimento, sucesso, fracasso, inveja, e diversos outros. Em Box, Miike nos brinda com uma obra-prima. Seu devaneio onírico-edipiano é de uma composição impecável. Os conflitos inconcientes da(s) personagem(ns) são retratados com a técnica e a sensibilidade que só mesmo um mestre da arte cinematográfica dispõe. A fotografia ora carnal, brasiva, ora límpida, asseada, denunciam o conflito vivido pela personagem. O final, maravilhoso, expõe a deformidade que a cisão provocada pelo trauma trouxera. Lindo! Falo com mais veemência sobre Box, pois, na minha opinião, foi o melhor dos três. Há de se destacar também que tanto Dumplings, com sua crítica à busca "doentia" pela eterna aparência jovial, quanto o exercício metalinguístico do excelente Chan-wook Park, Cut, são muito bons.
Uma grata surpresa, visto que a referência que eu tinha desse diretor era o fraquíssimo A Cadeira do Diabo. Uma pena que o roteiro tenha um fim tão aquém do desenvolvimento realizado ao longo do filme.
Repleto de metáforas, metalinguagem e simbolismos, Greenway realiza uma obra minimalista e complexa sobre o homem capitalista moderno. Em meio ao deslumbre visual da fotografia altamente sujestiva, presenciamos o espetáculo da satisfação de nossos instintos primários e a maneira como os déspotas que regem o sistema se apropriam dos mesmos, manipulando e dominando seus subalternos. Um verdadeiro tratado das relações capitalistas onde, no entanto, a intenção é, acima de tudo, a da expressão artística.
Por que o filme se chama Ted e quem protagoniza é o insuportável casal? Entre fábula às avessas, romance, diálogos politicamente incorretos, o diretor se esquece de fazer um filme, e o pior, perde a chance de aproveitar o ursinho fodão cheio de personalidade e acaba por fazer mais um enlatado com a fórmula quanto-mais-pessoas-tiverem-acesso-e-assistirem-melhor. Ka-shing!
Um roteiro extremamente pobre, personagens precariamente mal concebidos (o antagonista é uma piada) e muitas piadas óbvias demais. No entanto, Mr. Bean sempre consegue arrancar boas risadas com sua peculiar "xeretagem" e expressão corporal ímpar.
Mérito em mostrar a superficialidade das relações no mundo contemporâneo, criando um paralelo (obviamente) com a própria rede social Facebook. No entanto, os personagens são palpérrimos psicologicamente, o melhorzinho acaba sendo o injuriado Eduardo Saverin (Garfield esteve muito bem). A redundante intenção de Fincher em mostrar um ultra-rápido Zuckerberg em pensar e mega lento em se relacionar acaba por desmerecer a complexidade que todos nos humanos carregamos em si. De resto temos tudo o que somente os detentores da grande mídia como hollywood e a rede globo (vender a Grazi Massafera como atriz, putz...) conseguem: transformar o filme em uma unanimidade entre os críticos, reafirmar a "genialidade" de David Ficher, fazer-nos engolir a atuação de...Justin Timberlake!, e por aí vai...Se não fosse pelos grandes nomes envolvidos neste projeto jamais passaria de um filme qualquer.
Harrison Ford salva o pequeno mexicano, os imigrantes trabalham friamente contra seu próprio povo enquanto Ashley Judd se compadece dos mesmos.
Quem produziu esse filme? Goebbels? Apesar de Wayne Kramer ser um ótimo diretor, haja visto o maravilhoso The Cooler, e ser sul-africano, sua visão heroica da America acolhedora por essência parece ter sido dirigida por um redneck republicano. Em alguns momentos a técnica de Kramer chega até a dar um leve brilho nos olhos em lindos enquadramentos, o que justifica minha uma estrela e meia.
A Fistful of Fingers
3.2 8Um curta para apresentar na feira de ciências da molecada aí já seria suficiente.
Sombras da Vida
3.8 1,3K Assista AgoraUm belo argumento! O que está subentendido na angustiante espera do fantasma acaba por mexer conosco, nos colocando frente ao dilema do existir/não existir. O ponto fraco é que o filme acaba tendo mais força na morte do que na vida, o que acaba de certa forma causando uma sensação de incredulidade na fixação representada. Difícil imaginar obstinação sem paixão a priori. Os personagens vivos exalam a apatia hipster tão pandêmica nos retratos humanos atuais. Por outro lado, reitero que o diretor consegue conectar o telespectador através da angústia, da desoladora solidão da morte. Portanto, acaba sendo uma experiência mais positiva que negativa no final das contas.
O Alvo
3.1 188 Assista AgoraTiro porrada e pomba!😜
Amor Debaixo D'água
3.2 9Um conto folclórico como pano de fundo para uma história de amor que acaba por refletir elementos como temporalidade, alegria, desapego, banalidade da vida (tá tudo lá no texto, basta não se deixar ludibriar pela inconvencionalidade)... Mas o mais legal é que tudo isso é feito de maneira leve, deliciosamente prazerosa de assistir. Uma pérola
(anal)
A Noite Devorou o Mundo
3.2 362 Assista AgoraFilme psicológico, em que o roteiro funciona como uma metáfora sobre a superação do autoenclausuramento, do distanciamento social cada vez mais comum à medida que o ser humano dispõe de recursos para escolher uma vida solitária.
Os zumbis são a sociedade que Sam sente que o oprime, os mortos são suas relações mais significativas, seus conflitos com seus pais, sua denegação e, posteriormente, aceitação de sua responsabilidade pelo rompimento com sua namorada. No fim ele acaba por queimar suas gravações musicais (já que sua relação com a música é também solitária) e escolhe ver a cidade, a sociedade, escolhe viver.
O Amante Duplo
3.3 107Daqueles filmes que utilizam os conflitos psicológicos do personagem principal pra montar uma história densa e aparentemente confusa, convidando o espectador a desvendar o enigma narrativo que se apresenta. Tal recurso, tão utilizado em diversos thrillers, por vezes rende filmes muito bons (Perfect Blue, 1997; Clube da Luta, 1999; Alta Tensão, 2003; e por aí vai), por vezes medianos, e tantas outras vezes películas de má qualidade. O Amante Duplo, pra ser justo, é um bom filme. Pouco mais que mediano. A colagem da história funciona bem, os elementos simbólicos são bem concatenados na análise final do quadro mental da personagem Chloé, mostrando um roteiro feito com cuidado e observância aos detalhes. O ponto fraco, contudo, se dá no aspecto estético, principalmente das cenas de sexo. A fotografia e a coreografia "soft porn" comprometem bastante o estilo do filme, que se torna empobrecido, lembrando coisas do tipo "Cinquenta Tons de Cinza" (2015).
Considerando que a doença de Chloé tem como sintoma principal a frigidez, a trama, naturalmente, acaba por girar em sua maior parte em torno de sua vida sexual, fazendo com que tal defeito acabe por comprometer consideravelmente o resultado final.
A Sociedade dos Amigos do Diabo
3.3 121 Assista AgoraO cinema norte-americano tem um problema crônico que parece irreparável: Há uma rigidez estrutural que faz com que os mais variados filmes, dos mais variados gêneros, pareçam ser o mesmo filme. Com raras exceções, não há variações estéticas ou narrativas impactantes. Mesmo aquilo que é supostamente feito para ser subversivo, é embalado em um produto digerível aos sensíveis padrões morais da sociedade do Tio Sam. Para quem assiste ao cinema produzido fora da grande indústria hollywoodiana, fica mais evidente a pouca criatividade e ousadia dos filmes americanos. E, mais além ainda, para quem gosta do gênero horror, com todas as suas variações, sente ainda mais as amarras, visto que esse tipo de cinema tem em seu âmago a exploração livre da imaginação, expondo nossos medos e hipocrisias através de suas imagens e sugestões. Para um filme vendido como um "terrir" subversivo e criativo, não vejo qualquer diferença deste Society para um A Morte Lhe Cai Bem (Death Becomes Her, 1992) da vida, além do fato deste último ser visto, sem equívoco, como um filme claramente comercial.
Corra!
4.2 3,6K Assista Agora"Get Out" tem um bom roteiro, não é brilhante, nem medíocre, apenas bom. Os aspectos técnicos da direção, se não são virtuosos, tampouco comprometem negativamente. De excepcional mesmo, somente a atuação de Daniel Kaluuya, que mantém a sobriedade do personagem mesmo nos momentos mais vacilantes da obra. Certamente, o fato de ter se destacado tão positivamente frente ao público e à crítica se deve menos a fatores artísticos em si do que a aspectos político-econômicos: estar dentro da "máquina", por mais que com uma produção claramente barata, não faz mal a ninguém. Não é que seja um filme ruim, não, sua crítica é relevante e sua metáfora coerente historicamente (negros tendo de sacrificar suas vidas em prol de homens brancos ricos) e atualizada (a "tolerância" só é possível se o diferente se tornar, de certa forma, um par, um igual, um familiar [!]). Todavia, a ideia de se fazer uma película híbrida, transitando por nuances de diferentes gêneros, pode ser insidiosa e acabar por comprometer a coesão do produto final. E é exatamente isso que acontece aqui. O filme acaba por não ter uma "cara", seus personagens aparecem e desaparecem sem dizer a que vieram. Há, ainda, os velhos e saturados clichês do cinema norte-americano: jump scares, trilha sonora em momentos desnecessários, etc. Ao final, contudo, pode-se dizer que é um bom filme, que, como dito, trata de questões, infelizmente, ainda relevantes, e, portanto, imprescindíveis ao debate e reflexão; além de funcionar como entretenimento e apresentar um protagonista que te inspira a acompanhá-lo ao longo do enredo.
Rubber
3.2 307 Assista AgoraNão, esse não é um filme nonsense! Rubber trata, primordialmente, sobre o processo de concepção do cinema enquanto produto de entretenimento. Marcado pelo humor ácido do diretor, a narrativa é construída em cima de uma crítica que analisa os dois lados da experiência cinematográfica, realizador e espectador, fazendo uso de diálogos tão perspicazes quanto irônicos:
quando o tenente/diretor explica a falta de motivo, razão, de determinados aspectos contidos em alguns filmes, ele cita o fato de um estranho matar o presidente Kennedy no filme JFK como algo "sem razão". Dupieux claramente ironiza ao citar um acontecimento da "vida real" enquanto algo despropositadamente colocado em um filme, filme este, que lembremos, possui caráter biográfico.
O grande "truque" de Dupieux é justamente mostrar como, através de técnicas de filmagem e montagem, e clichês de roteiro, qualquer história pode prender a atenção do espectador (já "doutrinado" a ingerir coisas de má qualidade), até mesmo a de um pneu assassino. Não se enganem pelo filme dentro do filme, ele não é o fim, mas o meio pelo qual o diretor leva sua mensagem aos espectadores, e aos famosos letreiros de Hollywood, com toda a carga simbólica neles contida.
Lady Snowblood: Vingança na Neve
4.1 128Um filme de vanguarda que, além de Tarantino, influenciou diversos outros diretores com sua estilística peculiar até então. Shurayukihime se apropria de elementos gráficos dos HQs, principalmente, para criar uma experiência sensorial visceral. Seu roteiro é mais 'sério' do que o costumeiro nesse tipo de filme (artes marciais) e denuncia uma sociedade japonesa toda corrompida, desde a base até o topo da pirâmide social. No entanto, justamente onde está sua força imagética, é onde está, também, suas fraquezas. Ao se apropriar da linguagem dos HQs o trabalho de construção psicológica dos personagens fica a desejar. Fujita utiliza-os primordialmente como representações de extratos sociais, o que faz com que percam força psicológica e, por conseguinte, identificação enquanto espelho humano, necessária à linguagem cinematográfica (principalmente ao cinema que propõem mais do que o puro entretenimento). Daí, por exemplo, surgem diversas frases autoexplicativas nas falas do personagem. Sendo, contudo, os méritos infinitamentes maiores do que os deméritos, Shurayukihime é uma obra maior, obrigatória a todo e qualquer amante da sétima arte.
A Hora do Lobo
4.2 308Mais do que um terror psicológico, aqui temos um terror psicanalítico. Bergman se apropria de conceitos cunhados pela psicanálise para criar um universo onírico. As lentes do mestre divagam pela obscuridade da mente de um artista consumido pela culpa. Culpa essa representada em seu escopo mais amplo, desde a culpa infantil até a culpa adulta, permeada pelos significantes sócio-históricos da monogamia. Tudo isso filmado e montado com o primor habitual do gênio sueco. Acrescento ainda a perspicácia do uso da metalinguagem, que, tão comum na obra de Bergman, certamente aparece mais por necessidade de expressão _ de um artista autoral_, que por pedantismo.
Os Olhos de Minha Mãe
3.6 180 Assista AgoraO diretor estreante mostra bom apuro técnico e boa capacidade de criar enquadramentos climáticos. A bela fotografia é o ponto alto do filme. Entretanto, os méritos do diretor esbarram na composição física da personagem principal. A exploração da tríade edípica e da religião como elementos de construção dos mais variados desvios comportamentais (o que sempre foi muito prolífico ao cinema, principalmente ao de horror), que serveriam para gerar uma personagem perturbadora, falha ao se materializar em uma figura incongruente. A Francisa, da belíssima Kika Magalhães, tem a aparência de uma figura urbana, embora viva em ambiente rural inóspito; suas sobrancelhas extremamente bem delineadas e seu aspecto alinhado, conquanto vestida de maneira simples, contrastam imensamente com todo o entorno físico e psicológico do ambiente apresentado. Em uma análise rasa, poder-se-ia dizer que isso não é tão importante. Mas o que seria de qualquer obra narrativa se não fosse a força descritiva de suas personagens? Em se tratando de uma obra em que a personagem principal domina grande parte da história, uma figura destoante, sem que haja um propósito nisto, compromete completamente a fruição do espetáculo.
Xingu
3.6 426Parece uma imensa propaganda do Governo Federal sobre o Dia do Índio. Ou é? Porque enquanto linguagem cinematográfica é uma tragédia. Roteiro precário, personagens tão profundos psicologicamente quanto os de uma novela das 7. A direção de atores é tão pífia que temos a impressão de estarmos assistindo a um filme da década de 60, tamanho o automatismo das falas e expressões. Tão raso e medíocre que é aconselhável a quem quiser conhecer melhor sobre os feitos dos irmãos Villas Bôas procurar outras fontes de pesquisa. Nem como entretenimento, que é o que a globo filmes visa proporcionar, funciona.
O Espelho
4.3 264 Assista AgoraTarkovsky desmancha-se entre lirismo e análise histórica. Ao encenar recortes de sua vida nos brinda com conflitos psicológicos, que são universais, mergulhados em uma bela estética que passeia de paisagens vastas a ambientes fechados, de situações encerradas no corpo da sociedade stalinista soviética até àquelas vivenciadas no âmago da subjetividade humana. O que vemos é um espelho, a princípio, de todos nós ocidentais, e, em um reflexo mais claro, de todo ser humano dito civilizado. O tempo é o elemento chave dessa obra filosófico-existencial, mostrando que o ser não está sujeito a cronologia, mas que ele perdura transgeracionalmente, com seus traços de afeto mais profundos, formando uma consciência ontológica que independe de seu tempo (como no déjà vu de Ignat na cena que ajuda a mãe a recolher os objetos da bolsa dela, ou na sua comoção perante sua imagem no espelho). Enfim, uma grande obra de arte cuja fruição que se obtém ao longo da experiência é que vai determinar a avaliação final do espectador.
Pelos Olhos de Maisie
4.1 472 Assista AgoraO cara da trilha pega o cd "trilha para filme indie americano", dá o play nos créditos iniciais e vai pra casa; Julianne "joga no piloto automático", faz suas cenas e vai embora. O que fica do filme no final é o talento absurdo da descoberta (pelo menos para mim) mirim Onata Aprile, que dá um baile e carrega o filme nas costas. Skarsgard filho e Vanderham também dão um empurrão na obra, emprestando carisma aos seus personagens, o que faz com que nos identifiquemos com o casal.
A Costa do Mosquito
3.3 57 Assista AgoraÓtimo trabalho do competentíssimo Peter Weir. O trabalho "passivo" das câmeras permite que a história se desenvolva através da pura encenação, sem muitas inferências técnicas, emprestando um tom documental à mise-en-scène que enriquece completamente a experiência de sua apreciação. Weir utiliza do personagem Allie Fox (só posso me referir ao trabalho do diretor, pois não li o livro) para mostrar a complexa relação de tentativa de ruptura com um sistema filosófico/político. A crítica ao comunismo é evidente, desde a irreverente ironia da compra de Jeronimo, a 'terra prometida', de um "bêbado alemão", até a imposição didatória que Allie submete sua família e aqueles que discordam de seu ponto de vista. A partir do 3º ato Weir explora a figura despótica do pai/chefe e toda a implicação psicológica que esse fenômeno judaico-cristão desenhou no espírito e cultura ocidentais. Todavia, é justamente aqui que os personagens perdem força, assim como, consequentemente, o filme.
Três... Extremos
3.7 99A arte da delicadeza asiática, da elucubração morosa na construção de seu discurso. Aqui, temos os três diretores trabalhando nessa maneira compassada e primorosa, destilando composições estéticas e narrativas particulares de seus cinemas, porém tratando de temas universais da condição humana: morte, culpa, envelhecimento, sucesso, fracasso, inveja, e diversos outros. Em Box, Miike nos brinda com uma obra-prima. Seu devaneio onírico-edipiano é de uma composição impecável. Os conflitos inconcientes da(s) personagem(ns) são retratados com a técnica e a sensibilidade que só mesmo um mestre da arte cinematográfica dispõe. A fotografia ora carnal, brasiva, ora límpida, asseada, denunciam o conflito vivido pela personagem. O final, maravilhoso, expõe a deformidade que a cisão provocada pelo trauma trouxera. Lindo! Falo com mais veemência sobre Box, pois, na minha opinião, foi o melhor dos três. Há de se destacar também que tanto Dumplings, com sua crítica à busca "doentia" pela eterna aparência jovial, quanto o exercício metalinguístico do excelente Chan-wook Park, Cut, são muito bons.
Rios de Sangue
2.5 42 Assista AgoraUma grata surpresa, visto que a referência que eu tinha desse diretor era o fraquíssimo A Cadeira do Diabo. Uma pena que o roteiro tenha um fim tão aquém do desenvolvimento realizado ao longo do filme.
O Cozinheiro, o Ladrão, sua Mulher e o Amante
4.1 155Repleto de metáforas, metalinguagem e simbolismos, Greenway realiza uma obra minimalista e complexa sobre o homem capitalista moderno. Em meio ao deslumbre visual da fotografia altamente sujestiva, presenciamos o espetáculo da satisfação de nossos instintos primários e a maneira como os déspotas que regem o sistema se apropriam dos mesmos, manipulando e dominando seus subalternos. Um verdadeiro tratado das relações capitalistas onde, no entanto, a intenção é, acima de tudo, a da expressão artística.
Ted
3.1 3,4K Assista AgoraPor que o filme se chama Ted e quem protagoniza é o insuportável casal? Entre fábula às avessas, romance, diálogos politicamente incorretos, o diretor se esquece de fazer um filme, e o pior, perde a chance de aproveitar o ursinho fodão cheio de personalidade e acaba por fazer mais um enlatado com a fórmula quanto-mais-pessoas-tiverem-acesso-e-assistirem-melhor. Ka-shing!
O Retorno de Johnny English
3.1 511 Assista AgoraUm roteiro extremamente pobre, personagens precariamente mal concebidos (o antagonista é uma piada) e muitas piadas óbvias demais. No entanto, Mr. Bean sempre consegue arrancar boas risadas com sua peculiar "xeretagem" e expressão corporal ímpar.
Otis: O Ninfomaníaco
2.7 78 Assista AgoraCom toda ctz, uma das piores merdas já feitas na história do cinema.
A Rede Social
3.6 3,1K Assista AgoraMérito em mostrar a superficialidade das relações no mundo contemporâneo, criando um paralelo (obviamente) com a própria rede social Facebook. No entanto, os personagens são palpérrimos psicologicamente, o melhorzinho acaba sendo o injuriado Eduardo Saverin (Garfield esteve muito bem). A redundante intenção de Fincher em mostrar um ultra-rápido Zuckerberg em pensar e mega lento em se relacionar acaba por desmerecer a complexidade que todos nos humanos carregamos em si. De resto temos tudo o que somente os detentores da grande mídia como hollywood e a rede globo (vender a Grazi Massafera como atriz, putz...) conseguem: transformar o filme em uma unanimidade entre os críticos, reafirmar a "genialidade" de David Ficher, fazer-nos engolir a atuação de...Justin Timberlake!, e por aí vai...Se não fosse pelos grandes nomes envolvidos neste projeto jamais passaria de um filme qualquer.
Território Restrito
3.2 139 Assista grátisHarrison Ford salva o pequeno mexicano, os imigrantes trabalham friamente contra seu próprio povo enquanto Ashley Judd se compadece dos mesmos.
Quem produziu esse filme? Goebbels? Apesar de Wayne Kramer ser um ótimo diretor, haja visto o maravilhoso The Cooler, e ser sul-africano, sua visão heroica da America acolhedora por essência parece ter sido dirigida por um redneck republicano. Em alguns momentos a técnica de Kramer chega até a dar um leve brilho nos olhos em lindos enquadramentos, o que justifica minha uma estrela e meia.