À primeira vista, "Bloodshot" parece seguir a mesma cartilha dos demais filmes de Vin Diesel, mais especificamente "Velozes e Furiosos". Com um protagonista portando regata, pegando a mulher atraente, sendo um líder de sua equipe, careca reluzindo ao por do sol. No entanto, assim que o enredo enfim se revela percebe-se que a verdadeira intenção do longa é expor que todos aqueles arquétipos pertencem apenas uma fantasia heterossexual frágil. Assim, não é surpreendente que "Bloodshot" tenha tantos ecos com o cinema de Paul Verhoeven. Mais especificamente "Robocop" (o homem que se vê dentro de uma fantasia fascista) e "O Vingador do Futuro" (até mesmo existe um clímax em um elevador com o antagonista ridiculamente antipático). Só por fazer essa crítica ao cinema de ação moderno e pela coragem em tirar sarro da filmografia anterior de seu protagonista, "Bloodshot" já é muito melhor do que toda a franquia "Velozes e Furiosos". O que faltou mesmo para deixar o blockbuster camp mais polido, foi ter um diretor com visão mais focada. Assim como o já citado Paul Verhoeven, ou até mesmo James Wan. Esse último, infelizmente tendo em seu currículo "Velozes e Furiosos" ficaria muito feliz em trabalhar em uma narrativa de ação sem um protagonista com masculinidade frágil.
O mais interessante em "O Homem Invisível" é perceber a quantidade de temas que circundam a narrativa, especialmente após uma análise retrospectiva história. Existem reflexos das pessoas invisíveis a sociedade com mente pequena, que ao tentar se destacarem são rechaçadas pelos cidadãos locais ao tentarem serem vistos. E o mais curioso, trata da ameaça invisível que surge aos poucos e toma dimensões genocidas. Como por exemplo, o nazismo de Hitler. Que começou praticamente invisível até se tornar o que todos sabemos hoje. Não à toa, o personagem título da obra é o maior assassino de todos os monstros da Universal. Nenhum dos vilões de terror do estúdio possui uma contagem de corpos tão expressiva quanto o homem invisível (Claude Rains, em interpretação espetacular). O filme não é irretocável, as inserções de humor de James Whale ainda eram muito gratuitas e brutas. Especialmente em comparação com a perfeita mescla de humor e terror na obra-prima "A Noiva de Frankenstein". Ainda assim, "O Homem Invisível" sobrevive ao tempo pela amplitude de fascinantes temas que circundam a história. E pelos revolucionários efeitos especiais, que botam muito cgi moderno no chinelo.
Mesmo sendo um filme de gangster, "Aliança do Crime" é assumidamente um produto pós 11 de setembro. Na qual a temática do inimigo criado pelo próprio estado se tornou mais forte. Assim, o filme não esconde que enxerga o protagonista como o próprio diabo e o pacto firmado com o FBI como faustiano. O próprio título original "black mass" referencia uma missa satânica (o fato de todos os gangsters presentes serem irlandeses americanos católicos não é a toa). Ou então, a cena na qual o personagem de Johnny Depp adentra sorrateiramente o quarto de uma personagem (enquanto esta lê "O Exorcista"). Logo fica claro que a ambição da narrativa é demonstrar como a América cria seus demônios de estimação, afinal Bulger (uma atuação assustadora de Johnny Depp) além de ser um informante do FBI também é irmão de um senador amado pelo povo. Portanto, a mensagem que o filme traz é mais assustadora do que as atrocidades do protagonista. A noção de que é extremamente conveniente a um governo ter um monstro de estimação.
Inquestionavelmente um espetáculo técnico, a pretensão de Sam Mendes em emular uma experiência de guerra "sem cortes" certamente é ambiciosa. No entanto, se retirado o plano-sequência simulado o filme perderia força. Pois enquanto os dois protagonistas vivenciam verdadeiros desafios e horrores da guerra, não são mais do personagens de um jogo como Battlefield. A estratégia do roteiro é que tal qual em um jogo FPS o espectador preencha todas as lacunas do protagonista com sua história. O objetivo é que você esteja ali dentro. O problema é que logo a tensão e medo somem, fazendo com que o espectador não encare o longa como uma narrativa. Mas apenas como uma partida (se um deles morrer, tudo bem, basta tentar a fase de novo). Tudo isso fica mais claro com a presença pontual de atores como Mark Strong, Colin Firth, Benedict Cumberbatch e Andrew Scott. Surgindo apenas como o ponto inicial de cada uma das fases que o jogador/espectador terá que passar, sumindo posteriormente (servindo apenas para dizer "agora faça aquilo, cuidado com o desafio x"). Sem dúvida Sam Mendes e Roger Deakins merecem os louros pelo desafio de filmar "1917", uma pena que a narrativa não possua a mesma minuciosidade que os esforços técnicos empregados.
Enquanto as atuações de Robert De Niro comandadas por Scorsese em "Táxi Driver" e "Touro Indomável" são lembradas e aclamadas, seu retrato como Max Cady em "Cabo do Medo" muitas vezes é esquecido. Muitos atribuem isso ao fato de que Scorsese não ter encabeçado o projeto desde o início, já que seu amigo Spielberg lhe passou o cargo de direção quando se viu ocupado com a pré produção de "A Lista de Schindler". Assim, "Cabo do Medo" em tese seria um filme encomendado. O que não é verdade, já que Scorsese imprime suas digitais ao longo de todos os 128 minutos de projeção. Em um filme que satiriza e critica o estado democrático de direito, o sistema legal, seus representantes (advogados, promotores, juízes, réus). Além do caráter satírico se tornar mais evidente com as opções estilísticas da fotografia, o personagem de De Niro reflete toda mensagem do filme. Um homem tão perigoso quanto Travis Bickle em "Táxi Driver", conhecedor dos seus direitos e das proteções que a lei confere-lhe. Que com forte sotaque sulista, entoa passagens bíblicas (e por vezes fala em línguas) como um pastor fundamentalista. O mais próximo que Scorsese teve de um monstro no único filme de terror da sua filmografia (o que é evidenciado até mesmo na cena do teatro, já que o personagem sai de dentro da casa de biscoitos da bruxa má de chapéuzinho vermelho).
Mesmo não matando o personagem de Nick Nolte ou sua família, Max Cady (Robert De Niro) cumpriu seu objetivo: tirar a paz da consciência de todos eles pelo resto de suas vidas.
Enquanto é divertido rever personagens tão característicos de comédias dos anos 90, é triste ver como Kevin Smith parece ter perdido o talento para o timing de piadas. Basta observar toda a cena do julgamento, apenas bons atores envolvidos e humor totalmente forçado. Porém o mais curioso é perceber que por vezes o Kevin Smith talentoso que escreveu "O Balconista" surge no texto. Como por exemplo, na madura cena trazendo o personagem de Ben Affleck de "Procura-se Amy" fazendo um profundo discurso. Uma pena que ótimas cenas assim são raras, mas ainda assim salvam o filme de ser um desastre. É melhor que "Yoga Hosers" ou "Tusk"? Muito melhor. Porém ainda é uma comédia medíocre, especialmente se compararmos com o humor anárquico do diretor em obras como "Dogma". Ainda há certa esperança de que Smith reveja a cena que gravou com Ben Affleck e perceba a qualidade no texto. Quem sabe não se anime em escrever mais material assim. Pois assistindo aquela cena o espectador percebe que estava com saudade daqueles personagens.
A estréia de Stan Winston no posto de direção não surpreendeu apenas por apresentar um monstro magnífico. Todos já sabiam que Winston era um mestre na concepção de criaturas. O grande atrativo foi atribuir tanto folclore, mitologia e atmosfera ao monstro Pumpkinhead. Que determina todo o caráter lendário da história, uma fábula digna de ser contada a crianças antes de dormir. Tratando sobre a natureza da perda e o prato frio da vingança. Basta notar na simplicidade dos papéis desempenhados entre os personagens, todos parecendo ter saído de um conto de fadas dos Irmãos Grimm.
Esquecido nos filmes de Drácula da Hammer, "O Perfil do Diabo" conta com alguns dos melhores momentos da série. Trazendo à tona vários temas familiares dos longas anteriores (o embate entre fanatismo religioso e a sexualidade), o filme brilha com uma gama de coadjuvantes verdadeiramente marcantes. O jovem ateu pobre com sonhos de tornar-se literato, a taverneira devassa, sua rival casta, o monsenhor. Todos trazendo facetas e temas inerentes a obra original de Drácula, que usa seu tempo de tela para vingar-se das tentativas de santificar seu território. Ver Christopher Lee encarnando um dos maiores vilões do cinema já tornaria este um filme obrigatório, além claro da opção do diretor em mexer com os filtros de cor da câmera em todas as aparições de Drácula. Deixando claro que todas as vezes que o vampiro surge em cena, o cenário torna-se onírico e as leis da natureza não se aplicam. Assim, faz-se o mesmo convite ao espectador. Ignorar os inúmeros problemas orçamentários presentes (como filmar de dia, simulando a noite), e ater-se a um dos melhores filmes do Drácula de Christopher Lee.
A mais recente adaptação do vampiro mais famoso da história, "Drácula" é um toque fresco ao personagem título. Que interpretado por Claes Bang exibe toda perversidade, crueldade, charme e sedução característicos (sendo a melhor interpretação de Drácula desde Gary Oldman na adaptação de Coppola em 1992). Os dois primeiros episódios são excepcionais, verdadeiras homenagens aos Dráculas anteriores (existem traços de Christopher Lee, Bela Lugosi, além da atmosfera remeter imediatamente aos longas da Hammer). Enquanto que o terceiro e derradeiro episódio da série optou por traçar uma análise metalinguística do livro de Bram Stoker. No entanto, enquanto busca demonstrar motivações e analisar o personagem, o roteiro esquece de refinar seu texto. Passagens que mesmo recheadas de significado, se tornam enfadonhas. Ao final, o saldo ainda é positivo. Mas fica a impressão que a dupla de roteiristas cometeu o mesmo pecado que na última temporada de Sherlock: se empolgaram tanto em entender e desvendar o personagem para o espectador, que esqueceram de dar atenção à narrativa. Assim, diferente dos dois primeiros episódios, o último terço da narrativa deixa a desejar.
Usando uma trama simplória para abordar temas ambiciosos, "Longe de Casa" consegue ser um entretenimento que satisfaz o espectador a ponto de anular seus nítidos problemas. Enquanto as cenas de ação se tornaram espetaculares (em oposição a "De Volta ao Lar", onde tudo era ameno), alguns dos coadjuvantes permanecem caricatos e toscos (o bully que tira sarro pelo nerd ser pobre, quase que extraído diretamente dos anos 90). Outro ponto que torna a trama menos densa é a quantidade de recursos que Peter Parker (Tom Holland) possui com o apoio da Stark. Quase se tornando um 007 dos super heróis, cheio de gadjets e até mesmo ostentando um criador automático de uniformes. A comparação com o agente com licença para matar se torna ainda mais justa não apenas pela quantidade de cenários europeus, mas sim pelo tema das fake news. Ter um vilão cujo objetivo é forjar a verdade é o maior terrorismo moderno que um super-herói de quadrinhos poderia ter.
Sendo uma produção para tv, percebe-se muito esmero do roteiro em tornar a trama de Bram Stoker concisa e mais direta. Removendo personagens que não adicionavam à narrativa principal e restringindo passagens mais longas do livro. Por mais que Jack Palance tenha sido um grande ator, seu Drácula jamais passa medo. Mas sim tormento pela dor em ter perdido seu grande amor. Esse último ponto, inclusive, reflete toda a importância nesta adaptação. Pois em muito inspirou a aclamada visão de Coppola sobre o vampiro mais famoso do cinema. Seja na criação de uma paixão ancestral reencarnada de Drácula, até a cena final antes dos créditos (idêntica ao último plano de "Drácula de Bram Stoker"). Lamenta-se apenas que este Drácula até possui presença e é uma figura forte. Mas não assusta o espectador como muito bem fizeram Bela Lugosi, Christopher Lee e Gary Oldman.
Poucas vezes na Televisão uma série conseguiu ser tão engraçada, cativante, triste e profunda quanto "Fleabag". Uma mistura que nas mãos de um showrunner afobado, ou um roteirista despreparado poderia sair irregular. Mas não sob o comando de Phoebe Waller-Bridge, que constrói um número de piadas e situações dramáticas sempre sob a cumplicidade dos espectadores (incluindo um sem par de momentos quebrando a quarta parede, e incorporando isso à narrativa). Vi um sem número de crítica chamando a autora como "a mais nova (comediante homem x)". O que é absolutamente injusto: ela é a primeira e única Phoebe Waller-Bridge. A quem devemos agradecer por oferecer e nos permitir acompanhar (quase como personagens) sua visão excepcional.
Diferente do seu antecessor, "It-Capítulo Dois" é um filme com clara inspiração nos longas bem humorados de terror dos anos 80. Como as continuações de "A Hora do Pesadelo" (já que o original se levava a sério), "A Hora do Espanto", "Evil Dead 2", "Reanimator". Filmes com muita criatividade, inúmeras criaturas grotescas e situações hilárias. O problema é que falta foco a trama de "It-Capítulo Dois", já que cada susto é construído como uma fase de videogame e não possui importância para a trama. O que dizer então do retorno de determinado personagem do filme anterior? Pode ser fiel ao livro, porém não adiciona nada a inchada história. Que contando com três horas de duração, é uma experiência divertida. Mas que peca pela ausência de foco narrativo e de um bom design de criaturas. Pois tomando como exemplo a forma final de Pennywise, a única coisa que nos dará medo em todo filme será sua a falta de criatividade.
Irônico que estejam preocupados com "Coringa", pois é um filme com uma visão clara que dentro de uma sociedade doente surgirão ícones igualmente insalubres. Como o personagem título, e futuramente seu rival. Ambos senhores da violência que não possuem qualquer nobreza em suas ações. Palmas para Warner e pro diretor Todd Phillips, pela coragem em fazer um filme que confia no discernimento do espectador ao abordar temas tão complicados e indigestos. Em tempos nos quais tantas narrativas chegam mastigadas e explícitas, uma que oferece discussão e reflexão confiando que o espectador entenderá a mensagem tem que ser louvada mesmo. E todos os louros a Joaquin Phoenix, que traz o Coringa mais assustador do cinema. Como explícito em uma das trilhas do filme: "Send in the clowns".
A verdade é que Tarantino pode ter feito um dos mais leves filmes de sua carreira, porém não reduz a melancolia presente ao final da projeção. Revelando uma das obras mais maduras do texano (sem utilizar em demasia as marcas estilísticas de sua carreira), menos pesadas no texto (ao invés de personagens verborrágicos, vemos pessoas que aproveitam momentos de silêncio). Fica nítido que estamos acompanhando o começo do fim da trajetória cinematográfica do diretor, que começou seu epílogo em excelente forma.
O protagonista Moondog (Matthew McConaughey) até tenta se igualar a uma figura como o eterno Dude (Jeff Bridges) de "O Grande Lebowski". No entanto, o que o diretor Harmony Korine esqueceu é que não basta criar uma figura excêntrica que carregará o filme nas costas. Em "O Grande Lebowski" o personagem certamente era peculiar, mas a graça estava justamente em uma figura atípica dessas ser a voz da razão em um mundo muito mais surtado. Em "The Beach Bum" o personagem de Matthew McCounaghey é hilário nos primeiros dez minutos de filme. Mas começa a cansar conforme o espectador percebe que apenas ele está nesse estado de espírito, como se apenas ele tivesse recebido um convite pra uma festa a fantasia. O resultado final é menos uma narrativa e mais um esquete estendido ruim do "Saturday Night Live". Quer rir de uma comédia chapada? Busque "O Grande Lebowski", "Segurando as Pontas" ou até o mais recente "Vício Inerente". Todos filmes que compreenderam que é uma linha muito tênue entre rir do protagonista e rir com ele.
O mais curioso ao se avaliar a série de erros em "Holmes e Watson", é perceber que já existe um filme com todas as características de uma boa paródia de Sherlock Holmes: as duas adaptações de Guy Ritchie estreladas por Robert Downey Jr. Em Holmes e Watson o roteiro tenta aproveitar o bom elenco que tem, no entanto utiliza inúmeras piadas escatológicas, uma trama que não é realmente engraçada. Assim, os atores soam todos deslocados. Não é pra menos, quem já viu os outros filmes produzidos por Adam Mckay e estrelados por Will Ferrell sabe que a graça dos roteiros era explorar o absurdo no cotidiano norte-americano (as notícias/mídia em "O Âncora", o esporte em "Ricky Bobby"). Aqui, a impressão é que os norte-americanos não conheciam o suficiente a cultura britânica para assim destrinchá-la em sátira. Coisa que Guy Ritchie como bom inglês soube muito bem em seu Sherlock Holmes. Filme este que ganha muito se o considerarmos uma paródia do maior detetive da ficção.
Encerrando sua trilogia, Shyamalan faz em Vidro um final adequado. Porém não tão inspirado quanto os dois longas anteriores. A necessidade em botar uma reviravolta tentando gerar catarse na platéia não funciona bem (rendendo um momento piegas), as exposições do roteiro chegam a beirar a paródia. No entanto, a história principal é bem conduzida. O elenco está muito bem (James McAvoy roubando todas as cenas), a ação é bem feita. Só poderia ter economizado nas inúmeras cenas nas quais os personagens se comparam a quadrinhos, quase vira uma paródia do gênero de super-heróis como Pânico fez pro terror ("nesse momento, o vilão age", "isso é o que chamamos de edição limitada").
Passando pela comédia looney tunes, o western spaghetti nonsense, a tragédia grega, o épico da natureza e o macabro, o novo filme dos Irmãos Coen pode até parecer não ter uma ligação em suas seis histórias. Mas a verdade é que o tema é herdeiro de toda filmografia deles (desde sua estréia: "Gosto de Sangue"): é impossível fugir do inevitável. E considerando que a morte é a única certeza inevitável da vida, já se pode prever o tom mórbido presente em "A Balada de Buster Scruggs".
Revendo o filme alguns anos depois, algumas coisas ficam mais claras. O tom satírico empregado por Miller revela-se proposital, diversas críticas ao gênero de super-heróis mostram-se apropriadas (ainda mais com o saturamento do gênero). O problema, é que o diretor não sabe filmar. O longa jamais sabe o que abraçar: por vezes o tom é de uma comédia, mas as piadas não funcionam. Noutros um noir, sem qualquer relevância na trama (com inclusive, dois macguffins). Basta ver as cenas de ação, que não possuem impacto ou coerência alguma. Não penso que seja uma bagunça completa (até mesmo os personagens ressaltam o absurdo da história, como dito por Samuel L. Jackson em certo momento "Talvez as coisas começarão a fazer sentido"). Mas poderia ter sido bem melhor nas mãos de um diretor experiente.
Terrence Malick faz novos encaixes de temas já desenvolvidos em filmes anteriores, apresentando momentos tão belos e ao mesmo tempo tão pequenos na vida de alguns personagens. No entanto, este parece ser o filme no qual o diretor teve menos cuidado na montagem.
Me refiro por exemplo, à participação de Val Kilmer na trama (alguém consegue dizer o que estava tentando se passar na cena?).
Elenco, fotografia (do colaborador frequente de Malick, Lubezki, que merecia mais um Oscar), direção, tudo dá a impressão que há um grande filme em "De Canção em Canção". No entanto, parece ser o trabalho no qual Malick menos teve controle e noção do que queria dizer (por conta da simultaneidade das filmagens de "Knight of Cups"?). Ainda assim, o filme vale pelo registro de pequenos e simplórios momentos da vida, que mesmo breves como um show de rock, possuem natureza quase divina. Uma pena que tal abordagem já tenha sido melhor desenvolvida em trabalhos anteriores do diretor, o que torna impossível não sentir o terrível gosto de desapontamento.
A impressão que fica após se assistir "O Contador", é que o roteiro do filme foi sendo transformado ao longo das filmagens. Pois se do início até a metade é entregue uma história séria, mais pra metade torna-se uma comédia e ao final um feel good movie (com direito a música country calma e pôr do sol). O que é uma pena, pois em todos os momentos o filme é extremamente bem produzido. As cenas de ação são muito bem dirigidas (o design sonoro inclusive, deixa os sons dos tiros mais altos do que a maioria dos filmes de ação. Assim, o espectador tem a mesma reação de susto e confusão dos terceiros presentes nos tiroteios), o elenco é muito competente e a trama por si só é interessante. Infelizmente, além da mudança de tom que já citei um outro problema é a investigação conduzida pelos personagens de J.K Simmons e Cynthia Addai Robbinson: não tem qualquer relevância pra trama. Somando isso aos flashbacks que são incorporados de maneira no mínimo amadora na trama, o espectador não consegue esconder sua decepção.
Bloodshot
2.7 277 Assista AgoraÀ primeira vista, "Bloodshot" parece seguir a mesma cartilha dos demais filmes de Vin Diesel, mais especificamente "Velozes e Furiosos". Com um protagonista portando regata, pegando a mulher atraente, sendo um líder de sua equipe, careca reluzindo ao por do sol. No entanto, assim que o enredo enfim se revela percebe-se que a verdadeira intenção do longa é expor que todos aqueles arquétipos pertencem apenas uma fantasia heterossexual frágil. Assim, não é surpreendente que "Bloodshot" tenha tantos ecos com o cinema de Paul Verhoeven. Mais especificamente "Robocop" (o homem que se vê dentro de uma fantasia fascista) e "O Vingador do Futuro" (até mesmo existe um clímax em um elevador com o antagonista ridiculamente antipático). Só por fazer essa crítica ao cinema de ação moderno e pela coragem em tirar sarro da filmografia anterior de seu protagonista, "Bloodshot" já é muito melhor do que toda a franquia "Velozes e Furiosos". O que faltou mesmo para deixar o blockbuster camp mais polido, foi ter um diretor com visão mais focada. Assim como o já citado Paul Verhoeven, ou até mesmo James Wan. Esse último, infelizmente tendo em seu currículo "Velozes e Furiosos" ficaria muito feliz em trabalhar em uma narrativa de ação sem um protagonista com masculinidade frágil.
O Homem Invisível
3.9 156 Assista AgoraO mais interessante em "O Homem Invisível" é perceber a quantidade de temas que circundam a narrativa, especialmente após uma análise retrospectiva história. Existem reflexos das pessoas invisíveis a sociedade com mente pequena, que ao tentar se destacarem são rechaçadas pelos cidadãos locais ao tentarem serem vistos. E o mais curioso, trata da ameaça invisível que surge aos poucos e toma dimensões genocidas. Como por exemplo, o nazismo de Hitler. Que começou praticamente invisível até se tornar o que todos sabemos hoje. Não à toa, o personagem título da obra é o maior assassino de todos os monstros da Universal. Nenhum dos vilões de terror do estúdio possui uma contagem de corpos tão expressiva quanto o homem invisível (Claude Rains, em interpretação espetacular). O filme não é irretocável, as inserções de humor de James Whale ainda eram muito gratuitas e brutas. Especialmente em comparação com a perfeita mescla de humor e terror na obra-prima "A Noiva de Frankenstein". Ainda assim, "O Homem Invisível" sobrevive ao tempo pela amplitude de fascinantes temas que circundam a história. E pelos revolucionários efeitos especiais, que botam muito cgi moderno no chinelo.
Aliança do Crime
3.4 408 Assista AgoraMesmo sendo um filme de gangster, "Aliança do Crime" é assumidamente um produto pós 11 de setembro. Na qual a temática do inimigo criado pelo próprio estado se tornou mais forte. Assim, o filme não esconde que enxerga o protagonista como o próprio diabo e o pacto firmado com o FBI como faustiano. O próprio título original "black mass" referencia uma missa satânica (o fato de todos os gangsters presentes serem irlandeses americanos católicos não é a toa). Ou então, a cena na qual o personagem de Johnny Depp adentra sorrateiramente o quarto de uma personagem (enquanto esta lê "O Exorcista"). Logo fica claro que a ambição da narrativa é demonstrar como a América cria seus demônios de estimação, afinal Bulger (uma atuação assustadora de Johnny Depp) além de ser um informante do FBI também é irmão de um senador amado pelo povo. Portanto, a mensagem que o filme traz é mais assustadora do que as atrocidades do protagonista. A noção de que é extremamente conveniente a um governo ter um monstro de estimação.
1917
4.2 1,8K Assista AgoraInquestionavelmente um espetáculo técnico, a pretensão de Sam Mendes em emular uma experiência de guerra "sem cortes" certamente é ambiciosa. No entanto, se retirado o plano-sequência simulado o filme perderia força. Pois enquanto os dois protagonistas vivenciam verdadeiros desafios e horrores da guerra, não são mais do personagens de um jogo como Battlefield. A estratégia do roteiro é que tal qual em um jogo FPS o espectador preencha todas as lacunas do protagonista com sua história. O objetivo é que você esteja ali dentro. O problema é que logo a tensão e medo somem, fazendo com que o espectador não encare o longa como uma narrativa. Mas apenas como uma partida (se um deles morrer, tudo bem, basta tentar a fase de novo). Tudo isso fica mais claro com a presença pontual de atores como Mark Strong, Colin Firth, Benedict Cumberbatch e Andrew Scott. Surgindo apenas como o ponto inicial de cada uma das fases que o jogador/espectador terá que passar, sumindo posteriormente (servindo apenas para dizer "agora faça aquilo, cuidado com o desafio x"). Sem dúvida Sam Mendes e Roger Deakins merecem os louros pelo desafio de filmar "1917", uma pena que a narrativa não possua a mesma minuciosidade que os esforços técnicos empregados.
Cabo do Medo
3.8 907 Assista AgoraEnquanto as atuações de Robert De Niro comandadas por Scorsese em "Táxi Driver" e "Touro Indomável" são lembradas e aclamadas, seu retrato como Max Cady em "Cabo do Medo" muitas vezes é esquecido. Muitos atribuem isso ao fato de que Scorsese não ter encabeçado o projeto desde o início, já que seu amigo Spielberg lhe passou o cargo de direção quando se viu ocupado com a pré produção de "A Lista de Schindler". Assim, "Cabo do Medo" em tese seria um filme encomendado. O que não é verdade, já que Scorsese imprime suas digitais ao longo de todos os 128 minutos de projeção. Em um filme que satiriza e critica o estado democrático de direito, o sistema legal, seus representantes (advogados, promotores, juízes, réus). Além do caráter satírico se tornar mais evidente com as opções estilísticas da fotografia, o personagem de De Niro reflete toda mensagem do filme. Um homem tão perigoso quanto Travis Bickle em "Táxi Driver", conhecedor dos seus direitos e das proteções que a lei confere-lhe. Que com forte sotaque sulista, entoa passagens bíblicas (e por vezes fala em línguas) como um pastor fundamentalista. O mais próximo que Scorsese teve de um monstro no único filme de terror da sua filmografia (o que é evidenciado até mesmo na cena do teatro, já que o personagem sai de dentro da casa de biscoitos da bruxa má de chapéuzinho vermelho).
Mesmo não matando o personagem de Nick Nolte ou sua família, Max Cady (Robert De Niro) cumpriu seu objetivo: tirar a paz da consciência de todos eles pelo resto de suas vidas.
O Império (do Besteirol) Contra-Ataca: Reboot
2.9 49 Assista AgoraEnquanto é divertido rever personagens tão característicos de comédias dos anos 90, é triste ver como Kevin Smith parece ter perdido o talento para o timing de piadas. Basta observar toda a cena do julgamento, apenas bons atores envolvidos e humor totalmente forçado.
Porém o mais curioso é perceber que por vezes o Kevin Smith talentoso que escreveu "O Balconista" surge no texto. Como por exemplo, na madura cena trazendo o personagem de Ben Affleck de "Procura-se Amy" fazendo um profundo discurso. Uma pena que ótimas cenas assim são raras, mas ainda assim salvam o filme de ser um desastre.
É melhor que "Yoga Hosers" ou "Tusk"? Muito melhor. Porém ainda é uma comédia medíocre, especialmente se compararmos com o humor anárquico do diretor em obras como "Dogma". Ainda há certa esperança de que Smith reveja a cena que gravou com Ben Affleck e perceba a qualidade no texto. Quem sabe não se anime em escrever mais material assim. Pois assistindo aquela cena o espectador percebe que estava com saudade daqueles personagens.
A Vingança do Diabo
3.3 103A estréia de Stan Winston no posto de direção não surpreendeu apenas por apresentar um monstro magnífico. Todos já sabiam que Winston era um mestre na concepção de criaturas. O grande atrativo foi atribuir tanto folclore, mitologia e atmosfera ao monstro Pumpkinhead. Que determina todo o caráter lendário da história, uma fábula digna de ser contada a crianças antes de dormir. Tratando sobre a natureza da perda e o prato frio da vingança. Basta notar na simplicidade dos papéis desempenhados entre os personagens, todos parecendo ter saído de um conto de fadas dos Irmãos Grimm.
Drácula: O Perfil do Diabo
3.5 32Esquecido nos filmes de Drácula da Hammer, "O Perfil do Diabo" conta com alguns dos melhores momentos da série. Trazendo à tona vários temas familiares dos longas anteriores (o embate entre fanatismo religioso e a sexualidade), o filme brilha com uma gama de coadjuvantes verdadeiramente marcantes. O jovem ateu pobre com sonhos de tornar-se literato, a taverneira devassa, sua rival casta, o monsenhor. Todos trazendo facetas e temas inerentes a obra original de Drácula, que usa seu tempo de tela para vingar-se das tentativas de santificar seu território. Ver Christopher Lee encarnando um dos maiores vilões do cinema já tornaria este um filme obrigatório, além claro da opção do diretor em mexer com os filtros de cor da câmera em todas as aparições de Drácula. Deixando claro que todas as vezes que o vampiro surge em cena, o cenário torna-se onírico e as leis da natureza não se aplicam. Assim, faz-se o mesmo convite ao espectador. Ignorar os inúmeros problemas orçamentários presentes (como filmar de dia, simulando a noite), e ater-se a um dos melhores filmes do Drácula de Christopher Lee.
Drácula (1ª Temporada)
3.1 420A mais recente adaptação do vampiro mais famoso da história, "Drácula" é um toque fresco ao personagem título. Que interpretado por Claes Bang exibe toda perversidade, crueldade, charme e sedução característicos (sendo a melhor interpretação de Drácula desde Gary Oldman na adaptação de Coppola em 1992). Os dois primeiros episódios são excepcionais, verdadeiras homenagens aos Dráculas anteriores (existem traços de Christopher Lee, Bela Lugosi, além da atmosfera remeter imediatamente aos longas da Hammer). Enquanto que o terceiro e derradeiro episódio da série optou por traçar uma análise metalinguística do livro de Bram Stoker. No entanto, enquanto busca demonstrar motivações e analisar o personagem, o roteiro esquece de refinar seu texto. Passagens que mesmo recheadas de significado, se tornam enfadonhas.
Ao final, o saldo ainda é positivo. Mas fica a impressão que a dupla de roteiristas cometeu o mesmo pecado que na última temporada de Sherlock: se empolgaram tanto em entender e desvendar o personagem para o espectador, que esqueceram de dar atenção à narrativa. Assim, diferente dos dois primeiros episódios, o último terço da narrativa deixa a desejar.
Homem-Aranha: Longe de Casa
3.6 1,3K Assista AgoraUsando uma trama simplória para abordar temas ambiciosos, "Longe de Casa" consegue ser um entretenimento que satisfaz o espectador a ponto de anular seus nítidos problemas. Enquanto as cenas de ação se tornaram espetaculares (em oposição a "De Volta ao Lar", onde tudo era ameno), alguns dos coadjuvantes permanecem caricatos e toscos (o bully que tira sarro pelo nerd ser pobre, quase que extraído diretamente dos anos 90). Outro ponto que torna a trama menos densa é a quantidade de recursos que Peter Parker (Tom Holland) possui com o apoio da Stark. Quase se tornando um 007 dos super heróis, cheio de gadjets e até mesmo ostentando um criador automático de uniformes. A comparação com o agente com licença para matar se torna ainda mais justa não apenas pela quantidade de cenários europeus, mas sim pelo tema das fake news. Ter um vilão cujo objetivo é forjar a verdade é o maior terrorismo moderno que um super-herói de quadrinhos poderia ter.
Drácula – O Demônio das Trevas
3.3 18 Assista AgoraSendo uma produção para tv, percebe-se muito esmero do roteiro em tornar a trama de Bram Stoker concisa e mais direta. Removendo personagens que não adicionavam à narrativa principal e restringindo passagens mais longas do livro. Por mais que Jack Palance tenha sido um grande ator, seu Drácula jamais passa medo. Mas sim tormento pela dor em ter perdido seu grande amor. Esse último ponto, inclusive, reflete toda a importância nesta adaptação. Pois em muito inspirou a aclamada visão de Coppola sobre o vampiro mais famoso do cinema. Seja na criação de uma paixão ancestral reencarnada de Drácula, até a cena final antes dos créditos (idêntica ao último plano de "Drácula de Bram Stoker"). Lamenta-se apenas que este Drácula até possui presença e é uma figura forte. Mas não assusta o espectador como muito bem fizeram Bela Lugosi, Christopher Lee e Gary Oldman.
Fleabag (1ª Temporada)
4.4 630 Assista AgoraPoucas vezes na Televisão uma série conseguiu ser tão engraçada, cativante, triste e profunda quanto "Fleabag". Uma mistura que nas mãos de um showrunner afobado, ou um roteirista despreparado poderia sair irregular. Mas não sob o comando de Phoebe Waller-Bridge, que constrói um número de piadas e situações dramáticas sempre sob a cumplicidade dos espectadores (incluindo um sem par de momentos quebrando a quarta parede, e incorporando isso à narrativa). Vi um sem número de crítica chamando a autora como "a mais nova (comediante homem x)". O que é absolutamente injusto: ela é a primeira e única Phoebe Waller-Bridge. A quem devemos agradecer por oferecer e nos permitir acompanhar (quase como personagens) sua visão excepcional.
It: Capítulo Dois
3.4 1,5K Assista AgoraDiferente do seu antecessor, "It-Capítulo Dois" é um filme com clara inspiração nos longas bem humorados de terror dos anos 80. Como as continuações de "A Hora do Pesadelo" (já que o original se levava a sério), "A Hora do Espanto", "Evil Dead 2", "Reanimator". Filmes com muita criatividade, inúmeras criaturas grotescas e situações hilárias. O problema é que falta foco a trama de "It-Capítulo Dois", já que cada susto é construído como uma fase de videogame e não possui importância para a trama. O que dizer então do retorno de determinado personagem do filme anterior? Pode ser fiel ao livro, porém não adiciona nada a inchada história. Que contando com três horas de duração, é uma experiência divertida. Mas que peca pela ausência de foco narrativo e de um bom design de criaturas. Pois tomando como exemplo a forma final de Pennywise, a única coisa que nos dará medo em todo filme será sua a falta de criatividade.
Coringa
4.4 4,1K Assista AgoraIrônico que estejam preocupados com "Coringa", pois é um filme com uma visão clara que dentro de uma sociedade doente surgirão ícones igualmente insalubres. Como o personagem título, e futuramente seu rival. Ambos senhores da violência que não possuem qualquer nobreza em suas ações. Palmas para Warner e pro diretor Todd Phillips, pela coragem em fazer um filme que confia no discernimento do espectador ao abordar temas tão complicados e indigestos. Em tempos nos quais tantas narrativas chegam mastigadas e explícitas, uma que oferece discussão e reflexão confiando que o espectador entenderá a mensagem tem que ser louvada mesmo. E todos os louros a Joaquin Phoenix, que traz o Coringa mais assustador do cinema. Como explícito em uma das trilhas do filme: "Send in the clowns".
Era Uma Vez em... Hollywood
3.8 2,3K Assista AgoraA verdade é que Tarantino pode ter feito um dos mais leves filmes de sua carreira, porém não reduz a melancolia presente ao final da projeção. Revelando uma das obras mais maduras do texano (sem utilizar em demasia as marcas estilísticas de sua carreira), menos pesadas no texto (ao invés de personagens verborrágicos, vemos pessoas que aproveitam momentos de silêncio). Fica nítido que estamos acompanhando o começo do fim da trajetória cinematográfica do diretor, que começou seu epílogo em excelente forma.
The Beach Bum: Levando a Vida Numa Boa
2.9 47O protagonista Moondog (Matthew McConaughey) até tenta se igualar a uma figura como o eterno Dude (Jeff Bridges) de "O Grande Lebowski". No entanto, o que o diretor Harmony Korine esqueceu é que não basta criar uma figura excêntrica que carregará o filme nas costas. Em "O Grande Lebowski" o personagem certamente era peculiar, mas a graça estava justamente em uma figura atípica dessas ser a voz da razão em um mundo muito mais surtado. Em "The Beach Bum" o personagem de Matthew McCounaghey é hilário nos primeiros dez minutos de filme. Mas começa a cansar conforme o espectador percebe que apenas ele está nesse estado de espírito, como se apenas ele tivesse recebido um convite pra uma festa a fantasia. O resultado final é menos uma narrativa e mais um esquete estendido ruim do "Saturday Night Live". Quer rir de uma comédia chapada? Busque "O Grande Lebowski", "Segurando as Pontas" ou até o mais recente "Vício Inerente". Todos filmes que compreenderam que é uma linha muito tênue entre rir do protagonista e rir com ele.
Deadwood: O Filme
3.6 32 Assista AgoraMagnífico epitáfio pra uma das melhores séries já feitas.
Holmes & Watson
2.3 47 Assista AgoraO mais curioso ao se avaliar a série de erros em "Holmes e Watson", é perceber que já existe um filme com todas as características de uma boa paródia de Sherlock Holmes: as duas adaptações de Guy Ritchie estreladas por Robert Downey Jr.
Em Holmes e Watson o roteiro tenta aproveitar o bom elenco que tem, no entanto utiliza inúmeras piadas escatológicas, uma trama que não é realmente engraçada. Assim, os atores soam todos deslocados.
Não é pra menos, quem já viu os outros filmes produzidos por Adam Mckay e estrelados por Will Ferrell sabe que a graça dos roteiros era explorar o absurdo no cotidiano norte-americano (as notícias/mídia em "O Âncora", o esporte em "Ricky Bobby"). Aqui, a impressão é que os norte-americanos não conheciam o suficiente a cultura britânica para assim destrinchá-la em sátira. Coisa que Guy Ritchie como bom inglês soube muito bem em seu Sherlock Holmes. Filme este que ganha muito se o considerarmos uma paródia do maior detetive da ficção.
Vidro
3.5 1,3K Assista AgoraEncerrando sua trilogia, Shyamalan faz em Vidro um final adequado. Porém não tão inspirado quanto os dois longas anteriores. A necessidade em botar uma reviravolta tentando gerar catarse na platéia não funciona bem (rendendo um momento piegas), as exposições do roteiro chegam a beirar a paródia. No entanto, a história principal é bem conduzida. O elenco está muito bem (James McAvoy roubando todas as cenas), a ação é bem feita. Só poderia ter economizado nas inúmeras cenas nas quais os personagens se comparam a quadrinhos, quase vira uma paródia do gênero de super-heróis como Pânico fez pro terror ("nesse momento, o vilão age", "isso é o que chamamos de edição limitada").
A Balada de Buster Scruggs
3.7 537 Assista AgoraPassando pela comédia looney tunes, o western spaghetti nonsense, a tragédia grega, o épico da natureza e o macabro, o novo filme dos Irmãos Coen pode até parecer não ter uma ligação em suas seis histórias. Mas a verdade é que o tema é herdeiro de toda filmografia deles (desde sua estréia: "Gosto de Sangue"): é impossível fugir do inevitável. E considerando que a morte é a única certeza inevitável da vida, já se pode prever o tom mórbido presente em "A Balada de Buster Scruggs".
The Spirit: O Filme
2.5 496 Assista AgoraRevendo o filme alguns anos depois, algumas coisas ficam mais claras. O tom satírico empregado por Miller revela-se proposital, diversas críticas ao gênero de super-heróis mostram-se apropriadas (ainda mais com o saturamento do gênero). O problema, é que o diretor não sabe filmar. O longa jamais sabe o que abraçar: por vezes o tom é de uma comédia, mas as piadas não funcionam. Noutros um noir, sem qualquer relevância na trama (com inclusive, dois macguffins). Basta ver as cenas de ação, que não possuem impacto ou coerência alguma. Não penso que seja uma bagunça completa (até mesmo os personagens ressaltam o absurdo da história, como dito por Samuel L. Jackson em certo momento "Talvez as coisas começarão a fazer sentido"). Mas poderia ter sido bem melhor nas mãos de um diretor experiente.
De Canção Em Canção
2.9 375 Assista AgoraTerrence Malick faz novos encaixes de temas já desenvolvidos em filmes anteriores, apresentando momentos tão belos e ao mesmo tempo tão pequenos na vida de alguns personagens. No entanto, este parece ser o filme no qual o diretor teve menos cuidado na montagem.
Me refiro por exemplo, à participação de Val Kilmer na trama (alguém consegue dizer o que estava tentando se passar na cena?).
Silêncio
3.8 578"Sua verdade é como veneno".
"Que curioso um padre dizer isso".
O Contador
3.7 647 Assista AgoraA impressão que fica após se assistir "O Contador", é que o roteiro do filme foi sendo transformado ao longo das filmagens. Pois se do início até a metade é entregue uma história séria, mais pra metade torna-se uma comédia e ao final um feel good movie (com direito a música country calma e pôr do sol). O que é uma pena, pois em todos os momentos o filme é extremamente bem produzido. As cenas de ação são muito bem dirigidas (o design sonoro inclusive, deixa os sons dos tiros mais altos do que a maioria dos filmes de ação. Assim, o espectador tem a mesma reação de susto e confusão dos terceiros presentes nos tiroteios), o elenco é muito competente e a trama por si só é interessante. Infelizmente, além da mudança de tom que já citei um outro problema é a investigação conduzida pelos personagens de J.K Simmons e Cynthia Addai Robbinson: não tem qualquer relevância pra trama. Somando isso aos flashbacks que são incorporados de maneira no mínimo amadora na trama, o espectador não consegue esconder sua decepção.