Dá uma flopada de início, mas retoma o brilhantismo da primeira temporada da metade em diante. O que essa série faz com uma louvável audácia é flertar com os gatilhos culturais de nosso tempo dançando à beira do precipício. Ela consegue se antecipar às nossas reações e respostas e, então, usá-las para adensar a exploração dramática dos personagens e se dirigir a alguns dos grandes debates de nossos dias, aqueles que frequentemente aparecem sob a designação de "pautas identitárias" e "questões de gênero".
Insanamente corajosa na concepção, diabolicamente engenhosa na execução.
Que filmaço! Do riso às lágrimas numa transição de cena, com diálogos espirituosos e personagens que não cedem nem à melancolia e nem à caricatura. Tudo isto ganhando corpo a partir da inspiradíssima atuação do Paul Giamatti e da Kathryn Hahn.
As músicas estão muito, mas muito bem encaixadas no filme. A organicidade de vida e arte é extremamente bem trabalhada nesse film. E, claro, o Andrew Garfield está brilhando.
Tenho a impressão de que o filme correu junto demais da fidedignidade histórica. Um pouquinho mais de liberdade poética, e podia ter sido bem mais impactante como filme. Um pouco menos de flerte com Hollywood e teria sido um ótimo documentário.
Esse filme é tão bem feito, tão despretensioso, tão competente, e tão sóbrio no que diz respeito ao seu assunto e à sua abordagem dele, que fica difícil dizer porque ele é tão bom. Mas é.
Gosto da maneira como esse filme não fica querendo idealizar nem coitadizar a vida dos personagens menos afortunados. Ao invés da pena, a admiração pela peleja deles.
Tem cara de história do Murakami mesmo, e como nelas, a sutileza é tanta que a gente fica tentando achar o gancho dramático, o voadeira filosófica, e nem sempre acha. A elegância e o perfeccionismo do cinematografia são kubrickianas.
Não sei dizer bem porque gostei, mas gostei. Talvez tenha um certo nostalgismo de sugestão, um conjunto de evocações de cultura pop que está lá, uma tensão erótica pontuando a trama. Alguma coisa no meio dessa triangulação.
Suspeito que os sotaques foram um pouco exagerados. Apesar do grande narrador que é Ridley Scott, o filme é dos personagens mesmo, o que diluiu um pouco a precisão narrativa que caracteriza, p.ex., 'Alien' e 'Gladiador', ou, mais recentemente, 'O último duelo'. Nada que constitua um defeito, bem entendido, mas que deixa menos visível a assinatura do diretor, digamos assim.
Com esse deslocamento, quem brilhou de fato foram os atores, em especial o Jared Leto, que virou outro bicho nesse filme, e o Adam Driver, que consegue a impressionante proeza de ser tão elegante mesmo daquele tamanho. O cara é enorme, tem ombros largos, um rosto gigante de vilão da Disney (com a compra do Star Wars ele tecnicamente é, né?) e ainda assim altamente convincente como o sutilíssimo Maurizio. A Lady Gaga também está ótima, eu sei, mas confesso que senti um certo exagero caricatural nela dessa vez. Ainda que a gente considere que a Patrizia Reggiani do filme seja talhada como uma personagem 'de-origens-humildes-filha-de-um-plebeu-enriquecido-e-portanto-uma-arrivista-sem-sangue-azul-mas-com-muita-atitude', ainda sobra um certo exagero. Talvez haja verossimilhança, não vou excluir isto, mas combinada com o sotaque carregado, incomoda um pouco sim.
A química essencial da série, entre o Arkin e Douglas, se esboroou e só foi razoavelmente retomada com o Martin, mas não a ponto de evitar que a coisa toda decaísse sensivelmente. A elegância do Norman evitava que a caricatura tomasse conta da série, ao passo que, com o Martin como que assumindo seu lugar (mais os ensandecidos recém-órfãos), a série passou a repousar em demasia sobre a comédia mais desabrida, perdendo seu apelo dramático mais "sério". Aliás, eu diria que a série fez isto APESAR do Michael Douglas, que fez o que pôde para não deixar a graça fácil tomar conta.
Achei particularmente ruim a guinada insana tomada pela filha do Norman, logo ela que vinha de um arco dramático de redenção muito bem construído da última temporada...
Mantém a excelência e em grande estilo. A série não se contenta em encontrar aquele sweet spot das séries e sentar ali em cima sem efetivamente ameaçar um deslocamento para fora desse ponto (isto é, aquela premissa de que tudo o que estava assentado no início do episódio tem que ser retomado no final apesar da ameaça a esse assentamento que constitui efetivamente o episódio). O que acontece realmente movimenta o enredo e os personagens, pondo-os para reagir a esses acontecimentos e evoluir, levando a gente junto. Apesar dos abusos de ironia, a envergadura desses monstros sagrados que são o Allan Arkin e o Michael Douglas impede que a coisa toda descambe pro cinismo puro e simples.
Fraquinho que só. Suspeito que o problema tenha a ver com 1) personagem demais; 2) personagens que são deuses e, portanto, só lateralmente relatable com dilemas humanos; 3) ação com pouca relevância dramática; e 4) o fato de os personagens constantemente ignorarem o quanto intereferem na história humana apesar de estarem o tempo todo 'debatendo-se' com esse dilema. Graus variáveis de 1, 2, 3 e 4 (e combinações) são observáveis ao longo do filme.
Tenho a impressão de que um mergulho mais profundo na dimensão filosófica poderia ter dado a esse filme uma chance, e não esse cafuné filosófico pausterizado e estreito (para e pensa: eles teoricamente estão vivendo o conflto de Prometeu, ou do Lúcifer de Milton, e mesmo assim o pepino maior é um bando de cachorros aberração e um monstrengo de granito). Ao fim e ao cabo parece que sempre tem que prevalecer um bom-mocismo bobo e condescendente, que dificulta muito a chance de que um conflito pra valer pudesse acontecer.
Triste em dizer que está bem abaixo do primeiro. O espetáculo final (a tal odisseia espacial) floppou, e suspeito que um dos problemas foram as músicas, que não eram tão empolgantes quanto às do show final do primeiro filme, e que não podiam contar com a familiaridade do público por serem originais. Ao fim e ao cabo, o filme descreveu uma linha descendente: mais divertido no início, pouco empolgante no final.
U-fucking-au! Que filme bom, e que roteiro bem escrito. Dá gosto de ver como tudo no filme vai contando a história: o cenário não é só pano de fundo os personagens coadjuvantes não são só instrumentos de roteiro que servem ao protagonista e sua jornada, nem sequer a porcaria das frutas na fruteira da mesa são só frutas numa fruteira de mesa! A direção da Maggie Gyllenhaal é contemplativa, com closes e cenas abertas na hora certa, sem cortes bruscos ou em demasia, e que valoriza muito a já-normalmente-excelente atuação da Olivia Colman. Há nesta uma precisão invejável quanto à construção das emoções e dos estados de espírito no seu semblante, um cuidado sutil, mas ainda assim notável, de fazer com que seu rosto, seu corpo e sua fala sirvam perfeitamente ao conjunto da história e à construção da cena.
Junte a isto tudo um flâneur elegante numa daquelas lindas cidades costeiras da Itália e seu grande argumento sobre a maternidade e, voilà, um excelente filme!
História boboca e algo previsível, mas que é tranquilamente aceitável por causa de três fatores que fazem com que esse filme esteja na metade de cima dos filmes da Marvel: 1) excelentes cenas de luta (com coreografia muito bem feita e grande dose de criatividade); 2) exuberância visual digna de nota (em especial por aquele dragão maravilhoso!); e 3) um dos melhores alívios cômicos do MCU, a personagem da Awkwafina!
The Morning Show (2ª Temporada)
3.6 66 Assista AgoraDá uma flopada de início, mas retoma o brilhantismo da primeira temporada da metade em diante. O que essa série faz com uma louvável audácia é flertar com os gatilhos culturais de nosso tempo dançando à beira do precipício. Ela consegue se antecipar às nossas reações e respostas e, então, usá-las para adensar a exploração dramática dos personagens e se dirigir a alguns dos grandes debates de nossos dias, aqueles que frequentemente aparecem sob a designação de "pautas identitárias" e "questões de gênero".
Insanamente corajosa na concepção, diabolicamente engenhosa na execução.
Jovem Sheldon (5ª Temporada)
4.1 28 Assista AgoraAcho que já podíamos começar a pensar em terminar, não?
The Boys (3ª Temporada)
4.2 560 Assista AgoraMermão, quando coragem e insanidade caminham juntas os níveis de absurdo ultrapassam 9000.
Doutor Estranho no Multiverso da Loucura
3.5 1,2K Assista AgoraSó faltou o multiverso, né? Para além daquela sequência deles passando (mas só por um segundo) em vários universos, só teve um "biverso" mesmo.
Mais Uma Chance
3.5 98 Assista AgoraQue filmaço! Do riso às lágrimas numa transição de cena, com diálogos espirituosos e personagens que não cedem nem à melancolia e nem à caricatura. Tudo isto ganhando corpo a partir da inspiradíssima atuação do Paul Giamatti e da Kathryn Hahn.
tick, tick... BOOM!
3.8 450As músicas estão muito, mas muito bem encaixadas no filme. A organicidade de vida e arte é extremamente bem trabalhada nesse film. E, claro, o Andrew Garfield está brilhando.
Operação Final
3.6 118 Assista AgoraTenho a impressão de que o filme correu junto demais da fidedignidade histórica. Um pouquinho mais de liberdade poética, e podia ter sido bem mais impactante como filme. Um pouco menos de flerte com Hollywood e teria sido um ótimo documentário.
A Pior Pessoa do Mundo
4.0 600 Assista AgoraEsse filme é tão bem feito, tão despretensioso, tão competente, e tão sóbrio no que diz respeito ao seu assunto e à sua abordagem dele, que fica difícil dizer porque ele é tão bom. Mas é.
Finch
3.6 221 Assista AgoraA gente já sabia que ia chorar quando viu o cartaz, né? Tom Hanks, um robô e um cachorro.
O Monstro ao Lado (1ª Temporada)
4.0 34 Assista AgoraAbsolutamente aterrorizante.
No Ritmo do Coração
4.1 751 Assista AgoraGosto da maneira como esse filme não fica querendo idealizar nem coitadizar a vida dos personagens menos afortunados. Ao invés da pena, a admiração pela peleja deles.
Batman
4.0 1,9K Assista AgoraNão querendo bancar o hipster, mas eu sempre acreditei no Pattinson de Batman.
Drive My Car
3.8 381 Assista AgoraTem cara de história do Murakami mesmo, e como nelas, a sutileza é tanta que a gente fica tentando achar o gancho dramático, o voadeira filosófica, e nem sempre acha. A elegância e o perfeccionismo do cinematografia são kubrickianas.
Licorice Pizza
3.5 596Não sei dizer bem porque gostei, mas gostei. Talvez tenha um certo nostalgismo de sugestão, um conjunto de evocações de cultura pop que está lá, uma tensão erótica pontuando a trama. Alguma coisa no meio dessa triangulação.
Red: Crescer é uma Fera
3.9 554 Assista AgoraQue delicadeza em lidar com uma questão tão espinhosa.
Free Guy - Assumindo o Controle
3.5 578 Assista AgoraInesperadamente interessante. Tem mais que pirotecnia nesse filme.
A Crônica Francesa
3.5 285 Assista AgoraUma abordagem muito criativa do Maio de 68.
Casa Gucci
3.2 705 Assista AgoraSuspeito que os sotaques foram um pouco exagerados. Apesar do grande narrador que é Ridley Scott, o filme é dos personagens mesmo, o que diluiu um pouco a precisão narrativa que caracteriza, p.ex., 'Alien' e 'Gladiador', ou, mais recentemente, 'O último duelo'. Nada que constitua um defeito, bem entendido, mas que deixa menos visível a assinatura do diretor, digamos assim.
Com esse deslocamento, quem brilhou de fato foram os atores, em especial o Jared Leto, que virou outro bicho nesse filme, e o Adam Driver, que consegue a impressionante proeza de ser tão elegante mesmo daquele tamanho. O cara é enorme, tem ombros largos, um rosto gigante de vilão da Disney (com a compra do Star Wars ele tecnicamente é, né?) e ainda assim altamente convincente como o sutilíssimo Maurizio. A Lady Gaga também está ótima, eu sei, mas confesso que senti um certo exagero caricatural nela dessa vez. Ainda que a gente considere que a Patrizia Reggiani do filme seja talhada como uma personagem 'de-origens-humildes-filha-de-um-plebeu-enriquecido-e-portanto-uma-arrivista-sem-sangue-azul-mas-com-muita-atitude', ainda sobra um certo exagero. Talvez haja verossimilhança, não vou excluir isto, mas combinada com o sotaque carregado, incomoda um pouco sim.
O Método Kominsky (3ª Temporada)
4.0 50A química essencial da série, entre o Arkin e Douglas, se esboroou e só foi razoavelmente retomada com o Martin, mas não a ponto de evitar que a coisa toda decaísse sensivelmente. A elegância do Norman evitava que a caricatura tomasse conta da série, ao passo que, com o Martin como que assumindo seu lugar (mais os ensandecidos recém-órfãos), a série passou a repousar em demasia sobre a comédia mais desabrida, perdendo seu apelo dramático mais "sério". Aliás, eu diria que a série fez isto APESAR do Michael Douglas, que fez o que pôde para não deixar a graça fácil tomar conta.
Achei particularmente ruim a guinada insana tomada pela filha do Norman, logo ela que vinha de um arco dramático de redenção muito bem construído da última temporada...
O Método Kominsky (2ª Temporada)
4.3 50 Assista AgoraMantém a excelência e em grande estilo. A série não se contenta em encontrar aquele sweet spot das séries e sentar ali em cima sem efetivamente ameaçar um deslocamento para fora desse ponto (isto é, aquela premissa de que tudo o que estava assentado no início do episódio tem que ser retomado no final apesar da ameaça a esse assentamento que constitui efetivamente o episódio). O que acontece realmente movimenta o enredo e os personagens, pondo-os para reagir a esses acontecimentos e evoluir, levando a gente junto. Apesar dos abusos de ironia, a envergadura desses monstros sagrados que são o Allan Arkin e o Michael Douglas impede que a coisa toda descambe pro cinismo puro e simples.
Eternos
3.4 1,1K Assista AgoraFraquinho que só. Suspeito que o problema tenha a ver com 1) personagem demais; 2) personagens que são deuses e, portanto, só lateralmente relatable com dilemas humanos; 3) ação com pouca relevância dramática; e 4) o fato de os personagens constantemente ignorarem o quanto intereferem na história humana apesar de estarem o tempo todo 'debatendo-se' com esse dilema. Graus variáveis de 1, 2, 3 e 4 (e combinações) são observáveis ao longo do filme.
Tenho a impressão de que um mergulho mais profundo na dimensão filosófica poderia ter dado a esse filme uma chance, e não esse cafuné filosófico pausterizado e estreito (para e pensa: eles teoricamente estão vivendo o conflto de Prometeu, ou do Lúcifer de Milton, e mesmo assim o pepino maior é um bando de cachorros aberração e um monstrengo de granito). Ao fim e ao cabo parece que sempre tem que prevalecer um bom-mocismo bobo e condescendente, que dificulta muito a chance de que um conflito pra valer pudesse acontecer.
Sing 2
3.9 163 Assista AgoraTriste em dizer que está bem abaixo do primeiro. O espetáculo final (a tal odisseia espacial) floppou, e suspeito que um dos problemas foram as músicas, que não eram tão empolgantes quanto às do show final do primeiro filme, e que não podiam contar com a familiaridade do público por serem originais. Ao fim e ao cabo, o filme descreveu uma linha descendente: mais divertido no início, pouco empolgante no final.
A Filha Perdida
3.6 573U-fucking-au! Que filme bom, e que roteiro bem escrito. Dá gosto de ver como tudo no filme vai contando a história: o cenário não é só pano de fundo os personagens coadjuvantes não são só instrumentos de roteiro que servem ao protagonista e sua jornada, nem sequer a porcaria das frutas na fruteira da mesa são só frutas numa fruteira de mesa! A direção da Maggie Gyllenhaal é contemplativa, com closes e cenas abertas na hora certa, sem cortes bruscos ou em demasia, e que valoriza muito a já-normalmente-excelente atuação da Olivia Colman. Há nesta uma precisão invejável quanto à construção das emoções e dos estados de espírito no seu semblante, um cuidado sutil, mas ainda assim notável, de fazer com que seu rosto, seu corpo e sua fala sirvam perfeitamente ao conjunto da história e à construção da cena.
Junte a isto tudo um flâneur elegante numa daquelas lindas cidades costeiras da Itália e seu grande argumento sobre a maternidade e, voilà, um excelente filme!
Shang-Chi e a Lenda dos Dez Anéis
3.8 895 Assista AgoraHistória boboca e algo previsível, mas que é tranquilamente aceitável por causa de três fatores que fazem com que esse filme esteja na metade de cima dos filmes da Marvel: 1) excelentes cenas de luta (com coreografia muito bem feita e grande dose de criatividade); 2) exuberância visual digna de nota (em especial por aquele dragão maravilhoso!); e 3) um dos melhores alívios cômicos do MCU, a personagem da Awkwafina!