Lucas Soares

Um filme bastante atual que revela um EUA diferente dos grandes centros econômicos conhecidos no mundo como NY e Califórnia e que explica muito a vitória de Trump, pois justamente essa classe média branca que pouco se adaptou ao globalismo tecnológico(as câmeras no banco são simbólicas) compareceu as urnas em massa para votar. Engraçado como comparado a La La Land são dois EUA diferentes, cada com suas ambições e que explicam muito porque um lado era pró-Hillaty e o outro pró-Trump.

No mais ótimo roteiro, não é preguiçoso e não se preocupa em ficar esclarecendo para o espectador as resoluções do filme. Merecida a indicação ao oscar!

Esta aqui um Diretor que nunca me decepcionou, O Túmulo dos Vagalumes é meu filme preferido de todos os tempos, PomPoko e Only Yesterday são tão obras primas quanto.

Como podem ver minhas expectativas já eram super altas, mas Takahata é tão maravilhoso, que conseguiu supera-la em todos os sentidos, já considero essa não só a melhor animação, mas o melhor filme do ano. Nenhum filme me tocou tanto quanto esse, a história é riquíssima e com uma arte de se encher os olhos.

O começo tem um tom super nostálgico, muitos irão se identificar com a infância de Kaguya, brincadeiras, canções, aventuras, e tudo num tom bastante cômico, impossível não soltar um sorriso sequer com a pequena Kaguya. Não se sabe ao certo se por uma decisão divina ou do destino, Kaguya deve se tornar uma princesa na terra, e aqui começa todo o seu drama.

Ghibli é bastante conhecido por seus personagens femininos fortes e aqui não é diferente, o filme consegue retratar fielmente a vida das mulheres da época na posição da personagem, mulheres riquíssimas mas presas ao costumes, as tradições, e principalmente a vontade de sua família. Tudo isso entra em conflito com os que realmente deseja a princesa. Vi muito do cinema de mizoguchi aqui, vemos de certa forma o papel secundário da mulher nessa sociedade, como visto no aniversário de Kaguya, bom talvez seja só uma impressão minha.

O final é perfeito, não sei ao certo quanto a fidelidade em relação ao conto original, porém sinto que não poderia haver um final tão brilhante que se encaixasse tão bem no filme. Fiquei imaginando ao longo do filme, se esse fosse um filme Disney, a história seria limitada a kaguya tentar encontrar o romance da vida dela, o amigo pobre, e o final seria o mais óbvio possível.

Ao final, fica meu agradecimento a esse lendário Diretor, Isao Takahata, o uso de técnicas convencionais encaixa perfeitamente com o filme e esse tom naturalista que ele tem. Cito também a trilha sonora de Joe Hisaishi, esplêndida, já baixei e coloquei no meu celular, a musica tema é linda, além das canções folclóricas que são cantadas durante o filme.

Será o céu tão desejado assim? Um mundo sem dores, angustias, e de alegria eterna é realmente o que desejamos do fundo do coração? Quando esse dia chegar, será que estaremos dispostos a abandonar todos nossos laços e memórias que aqui se encontram?

Obra Prima das Obras primas incomparável em sua proposta de filme. Nasci em um lar cristão bem tradicional e consegui identificar e assemelhar os dilemas vividos pelas famílias com situações aos quais convivi no meio. Amor, fé e conflitos de convicções são assuntos discutido de forma maestral.

Eu que não sou cristão, não senti em nenhum momento o desconforto que tenho em alguns filmes de temas religiosos quando usam-no como forma de evangelização, Ordet, ao contrario indico pra todos independente de ser cristão ou não. O tema principal do filme são os limites da fé e de suas convicções religiosas e ate onde são aplicáveis, eh um questionamento que qualquer pessoa compartilhando a crença que for tende de refletir.

O roteiro eh magistral, direção e atuações são impecáveis, destaque para o Sr. Borgen e obviamente seu filho Johannes Borgen, que destrói na cena final do filme, alias, que final impactante, eh de arrepiar!