Esse filme é quase inacreditável. Triste mesmo. O que pensar daquele momento quando eles registram a encenação de um ataque do grupo paramilitar contra uma vila de camponeses usando os próprios moradores como atores? Mesmo depois de terminada a gravação daquela insanidade e o diretor ter gritado "corta! corta!", as crianças continuam chorando desesperadas e aquela senhora entra em choque como se estivessem (re?)vivendo uma cena de terror inscrita brutalmente no imaginário daquela sociedade ao longo dos últimos cinquenta anos. Como fica você assistindo a isso? É assustador. Muito triste mesmo. Difícil de digerir...
O filme questiona as possíveis causas do chamado "Incidente Amakasu" de 1923, no qual o anarquista Ôsugi Sakae, sua companheira, a anarquista e feminista Ito Noe, e o sobrinho de Ôsugi (de apenas seis anos) foram espancados até a morte por um policial nacionalista japonês chamado Masahiko Amakasu. Através desta questão, Yoshida levanta diversas reflexões sobre o amor livre, sobre a política/o poder, sobre a mulher na sociedade japonesa - além da constante reflexão metalinguística sobre a própria possibilidade de "filmar o passado".
Mas o que mais me impressionou foi a forma como ele constrói (ou destrói!) a narrativa através da quebra da temporalidade para desenvolver a investigação sobre o incidente. Na impossibilidade de filmar o próprio passado, ou seja, estando obrigado a "recriar" o passado através da ficção, Yoshida faz dois jovens japoneses radicais de fins da década de 1960, interessados nas teses sobre o amor livre de Ôsugi, investigarem sobre sua relação com Ito Noe e seu assassinato. Com isso, o diretor faz a própria audiência almejada para o filme (a juventude japonesa de 1969), ela mesma, ir em busca das causas do incidente. O filme destrói a diferença entre passado e presente (com personagens do passado invadindo o presente e vice-versa) para criar uma nova temporalidade na qual a própria pergunta ("por quê eles foram assassinados?" ou "qual é o significado do incidente Amakasu?") faça sentido e possa ser respondida (resposta essa que ele não dá!, mas espera que a audiência encontre).
O filme é genial mesmo e conta com atuações impecáveis de todo o elenco, com uma trilha sonora perfeita e com uma fotografia e jogos de enquadramento realmente únicos. Foi impossível não favoritar...
Parece que "Eros + Massacre" (1969) forma uma trilogia informal do diretor sobre a juventude rebelde japonesa com "Purgatório Heróica" (1970) e "Golpe de Estado" (1973). Não sei se isso é verdade, e, de qualquer jeito, ainda não assisti os outros filmes, mas talvez seja recomendável vê-los juntos ou ao menos em diálogo. Além disso, recomendo muito esses dois vídeos no youtube nos quais Yoshida fala sobre "Eros + Massacre" [http://youtu.be/Im_FSt1oTlU] e sobre "Purgatório Heróica" [http://youtu.be/GteZtojTOXo]. Boa sessão!
Não entendo porque esse filme é tão subestimado. Na minha leitura, com "Rapsódia em Agosto", Kurosawa quer resgatar a memória do lançamento da bomba atômica e, ao mesmo tempo, fazer uma reflexão sobre a guerra. Não a Segunda Guerra Mundial em particular, mas a guerra de um modo geral. Isto ele faz de modo incrível e tocante, focando nas cicatrizes deixadas pelo lançamento da bomba nas pessoas e no próprio espaço físico da cidade de Nagasaki.
O encontro entre Kane (e toda a família) com Clark ressalta a necessidade e possibilidade da superação das diferenças culturais e reconciliação. Isto porque a hostilidade mútua não é, necessariamente, o principal efeito da guerra. Na verdade, é sua brutalidade que nunca poderá ser superada completamente. Isso Kurosawa expressa de maneira magistral na cena final do filme: ao invés de literalmente recriar uma cena da guerra, ele nos faz reviver o desespero de Kane que, 45 anos depois da explosão da bomba, ainda está procurando seu marido morto nos destroços de Nagasaki.
Trata-se de um filme de memória, que não nos permite esquecer os horrores da guerra, mas nos obriga a lidar com eles encarando de frente seus efeitos devastadores.
"Eles jogaram a bomba, e não gostam de ser lembrados disso? Não precisam ficar lembrando, só não aceito que finjam ignorar. Eles alegam que a jogaram para acabar com a guerra. Isso foi há 45 anos... e a guerra não acabou! A guerra continua matando gente. A guerra é a culpada, sabiam? As pessoas fazem qualquer coisa para ganhar uma guerra. Cedo ou tarde, ela destruirá a todos."
Esse filme é sólido e foda. Desculpem o palavreado, mas, depois de sentir na pele a tensão vivida por Sandra, a personagem principal brilhantemente interpretada pela genial Marillon Cotillard, minha vontade é de xingar.
Não vou falar da trama em si, apenas da minha leitura sobre o filme: ele trata sobre o indivíduo e a sociedade. A crise econômica não é realmente o protagonista do filme, mas a situação estrutural que se impõe sobre a trajetória de cada indivíduo, redefinindo a forma como as pessoas interagem entre si. Sandra se vê na posição desconfortável de tentar influenciar essa situação apelando individualmente à cada um de seus colegas de fábrica. O filme elabora a evolução individual da personagem principal e, através de sua trajetória ao longo dos dois dias e uma noite, revela as situações individuais dos outros empregados da fábrica Solwal. A atriz brilhantemente faz o telespectador sentir sua situação opressiva: ela precisar combater o risco do desemprego enquanto combate a própria depressão, a qual precisa superar para conseguir lidar individualmente com seus colegas. Assim, o filme atenta para a dimensão individual das relações sociais, mas também fala dessas relações em si mesmas. Tratam-se de relações de poder e solidariedade instáveis, que se impõem sobre as vidas dos indivíduos, mas são, talvez, influenciáveis por eles. No limite, porém, resta uma relação de poder de classe: se Sandra pode tentar apelar aos seus colegas de trabalho para enfrentar o risco iminente do desemprego, no fim, esta situação é determinada e orientada pela relação de poder de classe entre patrões e trabalhadores. Seu patrão iria mandá-la embora de qualquer forma, pois determinou que um trabalhador a menos não reduziria a produtividade da fábrica (e poderia aumentar seu lucro). Ou seja, algum dos funcionários seria inevitavelmente mandado embora. Mesmo que Sandra fosse recontratada dali a dois meses, como seu chefe Dupont propõe, alguém precisaria ser mandado embora para ela voltar. "Foi uma batalha bem lutada", como ela diz, mas uma batalha difícil de se vencer sozinha. O sorriso no rosto de Sandra ao fim do filme vêm justamente do fato de sua descoberta de que não está sozinha, mas possui a solidariedade de seus colegas (e do marido). Foi, assim, capaz de lutar.
Se "Deux jours, une nuit" é um filme tenso, pois nos faz viver a situação emergencial e opressiva de Sandra, ele passa uma grata sensação de recompensa pela força descoberta pela personagem para a enfrentar. É um filme que levanta reflexões sociais e morais importantíssimas. Recomendadíssimo.
A fotografia é magnífica, e a Liv Tyler é mais magnífica ainda. Mas, sendo um filme do Bertollucci, e com um elenco desses (Liv Tyler, Rachel Weisz, Jeremy Irons...), eu esperava mais...
Pessoas, por favor, não percam seu tempo. Assistam a série original e seus dois respectivos filmes. Os Rebuilds e esse papo de tornar a série "mais acessível" é ridículo. A Gainax realmente não precisa partir do princípio que seus telespectadores são burros. A série original é uma obra prima da animação japonesa, mas os Rebuilds são um lixo. A trama da série foi, literalmente, reconstruída, mas as reflexões que a série original propunha foram abandonadas. Na minha modesta opinião isso não é Evangelion.
O Ato de Matar
4.3 135Esse filme é quase inacreditável. Triste mesmo. O que pensar daquele momento quando eles registram a encenação de um ataque do grupo paramilitar contra uma vila de camponeses usando os próprios moradores como atores? Mesmo depois de terminada a gravação daquela insanidade e o diretor ter gritado "corta! corta!", as crianças continuam chorando desesperadas e aquela senhora entra em choque como se estivessem (re?)vivendo uma cena de terror inscrita brutalmente no imaginário daquela sociedade ao longo dos últimos cinquenta anos. Como fica você assistindo a isso? É assustador. Muito triste mesmo. Difícil de digerir...
Valerie e Sua Semana de Deslumbramentos
3.9 191 Assista AgoraMeu deus, que trilha sonora é essa, minha gente!
Luboš Fišer - Valerie a týden divů:
http://youtu.be/1ROCrl5Aunc
Vai o The Valerie Project também: http://youtu.be/X9zLcHSilHY
Eros + Massacre
4.1 11O filme questiona as possíveis causas do chamado "Incidente Amakasu" de 1923, no qual o anarquista Ôsugi Sakae, sua companheira, a anarquista e feminista Ito Noe, e o sobrinho de Ôsugi (de apenas seis anos) foram espancados até a morte por um policial nacionalista japonês chamado Masahiko Amakasu. Através desta questão, Yoshida levanta diversas reflexões sobre o amor livre, sobre a política/o poder, sobre a mulher na sociedade japonesa - além da constante reflexão metalinguística sobre a própria possibilidade de "filmar o passado".
Mas o que mais me impressionou foi a forma como ele constrói (ou destrói!) a narrativa através da quebra da temporalidade para desenvolver a investigação sobre o incidente. Na impossibilidade de filmar o próprio passado, ou seja, estando obrigado a "recriar" o passado através da ficção, Yoshida faz dois jovens japoneses radicais de fins da década de 1960, interessados nas teses sobre o amor livre de Ôsugi, investigarem sobre sua relação com Ito Noe e seu assassinato. Com isso, o diretor faz a própria audiência almejada para o filme (a juventude japonesa de 1969), ela mesma, ir em busca das causas do incidente. O filme destrói a diferença entre passado e presente (com personagens do passado invadindo o presente e vice-versa) para criar uma nova temporalidade na qual a própria pergunta ("por quê eles foram assassinados?" ou "qual é o significado do incidente Amakasu?") faça sentido e possa ser respondida (resposta essa que ele não dá!, mas espera que a audiência encontre).
O filme é genial mesmo e conta com atuações impecáveis de todo o elenco, com uma trilha sonora perfeita e com uma fotografia e jogos de enquadramento realmente únicos. Foi impossível não favoritar...
Parece que "Eros + Massacre" (1969) forma uma trilogia informal do diretor sobre a juventude rebelde japonesa com "Purgatório Heróica" (1970) e "Golpe de Estado" (1973). Não sei se isso é verdade, e, de qualquer jeito, ainda não assisti os outros filmes, mas talvez seja recomendável vê-los juntos ou ao menos em diálogo.
Além disso, recomendo muito esses dois vídeos no youtube nos quais Yoshida fala sobre "Eros + Massacre" [http://youtu.be/Im_FSt1oTlU] e sobre "Purgatório Heróica" [http://youtu.be/GteZtojTOXo].
Boa sessão!
Rapsódia em Agosto
4.0 85Não entendo porque esse filme é tão subestimado. Na minha leitura, com "Rapsódia em Agosto", Kurosawa quer resgatar a memória do lançamento da bomba atômica e, ao mesmo tempo, fazer uma reflexão sobre a guerra. Não a Segunda Guerra Mundial em particular, mas a guerra de um modo geral. Isto ele faz de modo incrível e tocante, focando nas cicatrizes deixadas pelo lançamento da bomba nas pessoas e no próprio espaço físico da cidade de Nagasaki.
O encontro entre Kane (e toda a família) com Clark ressalta a necessidade e possibilidade da superação das diferenças culturais e reconciliação. Isto porque a hostilidade mútua não é, necessariamente, o principal efeito da guerra. Na verdade, é sua brutalidade que nunca poderá ser superada completamente. Isso Kurosawa expressa de maneira magistral na cena final do filme: ao invés de literalmente recriar uma cena da guerra, ele nos faz reviver o desespero de Kane que, 45 anos depois da explosão da bomba, ainda está procurando seu marido morto nos destroços de Nagasaki.
Trata-se de um filme de memória, que não nos permite esquecer os horrores da guerra, mas nos obriga a lidar com eles encarando de frente seus efeitos devastadores.
"Eles jogaram a bomba, e não gostam de ser lembrados disso? Não precisam ficar lembrando, só não aceito que finjam ignorar. Eles alegam que a jogaram para acabar com a guerra. Isso foi há 45 anos... e a guerra não acabou! A guerra continua matando gente. A guerra é a culpada, sabiam? As pessoas fazem qualquer coisa para ganhar uma guerra. Cedo ou tarde, ela destruirá a todos."
A Floresta dos Lamentos
4.0 40Masamichi Shigeno - The Mourning Forest OST:
https://www.youtube.com/watch?v=kCJ6F4bXO1k
Dois Dias, Uma Noite
3.9 542Esse filme é sólido e foda. Desculpem o palavreado, mas, depois de sentir na pele a tensão vivida por Sandra, a personagem principal brilhantemente interpretada pela genial Marillon Cotillard, minha vontade é de xingar.
Não vou falar da trama em si, apenas da minha leitura sobre o filme: ele trata sobre o indivíduo e a sociedade. A crise econômica não é realmente o protagonista do filme, mas a situação estrutural que se impõe sobre a trajetória de cada indivíduo, redefinindo a forma como as pessoas interagem entre si. Sandra se vê na posição desconfortável de tentar influenciar essa situação apelando individualmente à cada um de seus colegas de fábrica.
O filme elabora a evolução individual da personagem principal e, através de sua trajetória ao longo dos dois dias e uma noite, revela as situações individuais dos outros empregados da fábrica Solwal. A atriz brilhantemente faz o telespectador sentir sua situação opressiva: ela precisar combater o risco do desemprego enquanto combate a própria depressão, a qual precisa superar para conseguir lidar individualmente com seus colegas. Assim, o filme atenta para a dimensão individual das relações sociais, mas também fala dessas relações em si mesmas. Tratam-se de relações de poder e solidariedade instáveis, que se impõem sobre as vidas dos indivíduos, mas são, talvez, influenciáveis por eles.
No limite, porém, resta uma relação de poder de classe: se Sandra pode tentar apelar aos seus colegas de trabalho para enfrentar o risco iminente do desemprego, no fim, esta situação é determinada e orientada pela relação de poder de classe entre patrões e trabalhadores. Seu patrão iria mandá-la embora de qualquer forma, pois determinou que um trabalhador a menos não reduziria a produtividade da fábrica (e poderia aumentar seu lucro). Ou seja, algum dos funcionários seria inevitavelmente mandado embora. Mesmo que Sandra fosse recontratada dali a dois meses, como seu chefe Dupont propõe, alguém precisaria ser mandado embora para ela voltar.
"Foi uma batalha bem lutada", como ela diz, mas uma batalha difícil de se vencer sozinha. O sorriso no rosto de Sandra ao fim do filme vêm justamente do fato de sua descoberta de que não está sozinha, mas possui a solidariedade de seus colegas (e do marido). Foi, assim, capaz de lutar.
Se "Deux jours, une nuit" é um filme tenso, pois nos faz viver a situação emergencial e opressiva de Sandra, ele passa uma grata sensação de recompensa pela força descoberta pela personagem para a enfrentar. É um filme que levanta reflexões sociais e morais importantíssimas. Recomendadíssimo.
Jimmy's Hall
3.6 32 Assista AgoraEsquerdismo e dança/música tradicional irlandesa. Belíssimo. Filme fantástico mesmo.
"(...) eu é que vou dizer o que é um sacrilégio, Padre. É ter mais ódio do que amor no seu coração."
Acordar para a Vida
4.3 789Maneiro. E que puta trilha sonora! Além da ótima cena com Jesse e Celine ^^
Beleza Roubada
3.5 259A fotografia é magnífica, e a Liv Tyler é mais magnífica ainda. Mas, sendo um filme do Bertollucci, e com um elenco desses (Liv Tyler, Rachel Weisz, Jeremy Irons...), eu esperava mais...
Evangelion 3.33: Você (Não) Pode Refazer
3.9 108 Assista AgoraPessoas, por favor, não percam seu tempo. Assistam a série original e seus dois respectivos filmes. Os Rebuilds e esse papo de tornar a série "mais acessível" é ridículo. A Gainax realmente não precisa partir do princípio que seus telespectadores são burros. A série original é uma obra prima da animação japonesa, mas os Rebuilds são um lixo. A trama da série foi, literalmente, reconstruída, mas as reflexões que a série original propunha foram abandonadas. Na minha modesta opinião isso não é Evangelion.
Lieksa!
3.4 5Preciso de uma legenda em português desse filme! Pelo menos uma boa legenda em inglês já dava...