Cara, simplesmente o filme é uma representação do que uma loura pir*ca pode fazer na vida de alguém (ou louras, né não? A mãe tb. DURO). A Katherine Heigl impecável como sempre, porém, aquilo, né? Traumas familiares fortíssimos presentes. A Julia coitada, só se fodeu. Esse noivo dela é um bananão (acho que o horário já permite). O maluco é um pai ausente, um noivo ausente, ou seja, o cara é um merda. Vamos mandar a real aqui, né? A trama com o ex da Julia, tal do Michael, meio solta não é não? Mas ver a Katherine piroca das ideias com ódio valeu. Gosto dela atuando. Uma boa loura. Vestiu bem a personagem. Levou o filme nas costas. Mas é isso... Filminho pra passar o tempo e ficar alerta porque de repente você pode acabar em situação de
PUTA FILMASSO! se esse filme não ganhar um prêmio eu sou maluca. PUTA MERDA, que filme fenomenal. do jeitinho que a gente precisava. quem cresceu com PM dentro de casa sabe a dureza que é quebrar certos engessamentos... filme GENIAL
Trata-se de uma crítica ao capitalismo e ao negacionismo da direita sob o prisma de um filme meio besteirol norte americano... Elenco de peso contando com a Lawrence, o Chalamet, o DiCaprio e a Streep, mas não sei se compensa o roteiro excessivo.
O longa-metragem "Sole" acompanha a história de Lena, jovem polaca grávida de 7 meses e Ermanno, seu parceiro na missão de facilitar o processo de adoção de seu bebê. Este processo, todavia, não é o de uma simples adoção, e sim de um esquema que consiste em vender o bebê para o tio de Ermanno, Fábio, e sua esposa, Bianca, uma vez ambos não conseguem ter filhos. Lena e Ermanno precisam viver juntos até que o neném nasça e tenha condições de viver com a família adotiva. Neste cenário, ambos passam a compartilhar a vida e a rotina durante dois ou três meses.
Com direção do italiano Carlos Sironi, o drama nos convida a pôr em questão nosso próprio julgamento moral sobre as ações dos personagens, deixando evidente a complexidade não-verbalizada que envolve cada ato.
Ao longo do filme, temos alguns poucos vestígios da vida dos personagens. Sabemos que Lena, que sai da Polônia para Itália visando a venda de seu bebê, possui sonhos e planos. Almeja recomeçar sua vida na Alemanha com o dinheiro que receberá por abrir mão de sua filha. Já Ermanno, desde o início da obra temos notícias incontestáveis da profunda tristeza que o perpassa, bem como de seu vício por jogo. A atuação de Claudio Segaluscio é digna de uma nota a parte. Seus olhares transmitem, sem necessitar do acessório da palavra, toda melancolia que o atravessa. Sabemos, em um dos poucos diálogos mais profundos que teve com seu tio, do (provável) suicídio cometido por seu pai e da forma como se sente "feito para nada".
Da nulidade de sentido que compunha sua vida antes de Lena e sua filha, Ermanno começa a tecer, e, ao que parece, sem nem ao menos notar, sentidos que o enlaçam a vida através do cuidado e de um amor silencioso.
É um obra interessante, cujo final me apeteceu, apesar de não me ser surpreendente. Enfim, mais uma vez reitero a impecável atuação de Segaluscio, que para mim foi o ponto alto do filme.
“Eu não tenho dúvidas de que o Calabouço, respeitando todas suas limitações, foi a grande fagulha que serviu como estopim para incendiar o Brasil daquele momento de resposta a ditadura que tomou conta do país e que, mais tarde, resultou na resistência armada”.
Muito foda essa documentação que traz, através da narrativa dos protagonistas reais da luta, a história do Calabouço, do Edson Luís e da resistência a ditadura brasileira.
O documentário "Allende, Meu Avô Allende" é uma obra de coragem. Tratar de temas relegados, ativamente, ao esquecimento é uma tarefa difícil. Esse lugar que alguns acontecimentos se assentam, um espaço recoberto por um tapete que busca proteger a todos das angustias e das dores das lembranças - é um lugar árduo de acessar. Marcia Tambutti, através de suas perguntas e de seu interesse, consegue abalar certas bases e fazer emergir um novo presente com a atualização e verbalização do passado. Os incômodos que esse movimento traz são mostrados, o que faz este documentário transparecer uma dimensão ainda mais íntima e real. Enfim, gostei! Vale a pena assistir!
Que filme incrível! As personagens suuuuper bem construídas, trabalha questões familiares de uma forma sutil e inteligente. Gostei muito! Penelope maravilhosa! Tb me remeteu a Pedro Páramo do Juan Rulfo em alguns pontos, ou seja, genial.
cara... genéricão. sinto que já vi esse mesmo filme no mínimo umas 30 vezes. mas é aquilo. a gal é linda e eu gosto de olhar pra ela. esse é o ponto positivo do filme. o the rock... sustentando o mesmo personagem de TODOS os outros filmes que ele já fez então... nada de novo. é isso. assiste se quiser não se deparar com o desconhecido.
Certamente um dos filmes mais interessantes e bem produzidos que já vi sobre o pós primeira guerra. Traz personagens complexas e incitantes, nos convida a refletirmos e a adentrarmos a dor e a singularidade da existência de cada um. Edouard é de uma genialidade extremamente sensível que me cativou muitíssimo. Além disso, o filme tem uma pegada surrealista/onírica que amo e uma teatralidade muito foda que se reflete, principalmente, nas máscaras que são confeccionadas. Máscaras estas que me fizeram estar em constante anseio pela próxima. Enfim, muito bom!
Em "Luto e Melancolia" Freud (1917) aborda a temática da perda de um objeto amado e o longo trabalho envolvido na simbolização dessa perda. Podemos adjetivar esse processo como doloroso, árduo e, sob certa perspectiva, autônomo. Penso a autonomia do luto no que toca ao tempo que consome e a fragilidade posta ao Eu frente este trabalhoso acometimento que tanto o inibe.
O longa-metragem "J'ai perdu mon corps", segundo a lente desta expectadora que aqui escreve, ilustra com sutileza os inúmeros lutos de uma vida ainda tão recente, a do jovem Naoufel.
Ainda criança, Naoufel sofre um acidente que anuncia sua perda mais evidente, a de seu pai e a de sua mãe. Todavia, outras ausências podem ser elencadas na trama de nosso protagonista.
Ao retornarmos a Freud (1917) temos notícia de que o luto não é um processo que se refere exclusivamente a morte de um ente querido. O desencadeador desse trabalho pode ser a perda de um ideal, de um futuro esperado e sonhado, de uma visão sobre si ou sobre a própria vida que não mais pode ser sustentada ou até mesmo a impossibilidade de ocupar uma posição que se ocupava frente um olhar amoroso.
Ao longo do filme podemos observar a tentativa de elaboração de Naoufel no que toca tanto a perda de seus pais quanto a perda de sua própria vida futura imaginada. Podemos ver a brutalidade com que seu sonho de ser um pianista-astronauta se dissolve. Uma construção simbólica de futuro que é interrompida pelo real. Real este que não se preocupa em seguir roteiro algum. Real este que desrespeita todos os planos.
Durante o trabalho do luto o psiquismo age como que movido por um ímpeto em se ocupar com aquilo que partiu. Esse movimento faz do ausente ainda mais presente. O hábito de Naoufel de reescutar áudios gravados na sua infância ilustra bem esse processo. Mas, além de presentificar o som da voz de seus pais, também nesse ato vemos uma tentativa de simbolizar o que ocorreu, de tentar encontrar ou construir um sentido para o traumático sem porquê.
O autor português Valter Hugo Mãe em uma passagem de “Homens imprudentemente poéticos” afirma que “O amor, na perda, era tentacular. Uma criatura a expandir, gorda, gorda, gorda. Até tudo em volta ser esse amor sem mais correspondência, sem companhia...”. Percebo Naoufel como um personagem tomado por suas perdas. Sua paixão (ou obsessão) repentina pela Gabrielle me parece nada mais do que uma tentativa de se precipitar para fora do circuito que vive. De pôr-se fora desse presente embaçado por um passado que não diminui, que ocupa maior parte da tela de sua vida atual.
Na psicanálise costumamos dizer que o corpo é um presente da linguagem. É a partir de uma alienação ao discurso do Outro que podemos advir enquanto sujeito. Leio a perda da mão de Naoufel como uma materialização de outras perdas. Vejo essa tentativa de sua mão de se reencontrar com seu corpo como a tentativa de Naoufel de reencontrar com a imagem de si antes projetada – e o longo processo de aceitação frente certas ausências incontornáveis.
No fim da trama, quando reencontra seu corpo, a mão percebe a impossibilidade de retorno. Do mesmo modo, Naoufel, ao realizar o simbólico salto que o faz deixar para trás seu gravador, me parece ter dado um passo em relação a possibilidade de aceitar sua(s) perda(s) e de, enfim, seguir.
(Para além dessa leitura, o filme é realmente muito bonito e bem construído. Gostei muito de assisti-lo).
Nossa, ainda tem a questão da culpa, né? A mão posta fora do carro é o que faz o pai de Naoufel olhar para trás, perder a atenção na estrada e sofrer o acidente. LITERALMENTE FRITANDO SE O ACIDENTE COM SUA MÃO NÃO FOI UMA PASSAGEM AO ATO. Perder a mão - que materializava sua culpa - o possibilitou dar um salto. Enfim!!!! Muitas camadas nesse filme!!!! Bom demais!
Assim, devo confessar que fiquei pensando na lucratividade que esse médico tem, tendo em vista que ele não recebe, né? Ou será que ele conta depois que aquilo foi a consulta? Isso é ético? Para de funcionar se ele conta? E se as pessoas se recusarem a pagar?
Muitas questões e poucas respostas!!! Mas, como disse, é filme maneirinho pra passar o tempo e se divertir um pouquinho.
As medianeras são integras, concretas e cinzas. Os personagens, ao fazerem furo nesse cinza, puderam deixar a luz entrar. E junto dela um pouco de vida.
É um filme muito bonito e bem construído. Tem um ritmo lento, um pouco melancólico (mas não muito) e é bastante poético. Parece uma poesia. Dessas que exigem que entremos em uma sintonia específica para que a compreendamos, ao mesmo tempo que ela própria nos convoca para bailar em seu próprio ritmo.
Os paralelos feitos entre a cidade e os indivíduos são inteligentes e muitas vezes não precisam utilizar da palavra para transmitir o que buscam.
Tem uma passagem do Valter Hugo Mãe que eu gosto muito e que me lembrei enquanto assistia. Ele diz que "o toque de alguém é o verdadeiro lado de cá da pele. Quem não é tocado não se cobre nunca, anda como nu. De ossos à mostra". Pensei nesse trecho porque me pareceu que esse filme também retrata uma busca por driblar o frio que essa nudez impõe. A nudez da solidão moderna.
Enfim, gostei muito! Talvez seja um dos filmes mais legais que assisti nos últimos tempos.
É um filme interessante. As discussões principais transitam entre a moralidade kantiana e a liberdade de escolha existencialista, em que nomes como Sartre e Kierkeegard são citados. Uma releitura moderna de uma das questões levantas por Raskolnikóv: será mesmo que matar é categoricamente algo condenável?
Raskolnikóv, ao assassinar a usurária, buscava provar sua teoria de que existiriam homens extraordinários e homens ordinários e, mais do que isso, de que ele próprio seria extraordinário - capaz de ultrapassar os limites da moral, uma ruptura que, por fim, leva-o a um caminho distinto do trilhado por Abe.
No que se refere ao Abe, protagonista da trama, desde o princípio podemos perceber um personagem que se encontra desanimado em relação a vida. Seu passado o precede e anuncia uma multiplicidade de vivências, de ações engajadas e de tentativas de mudar o estado das coisas no mundo. Podemos visualizar que a história da sua vida ultrapassa ações meramente teóricas. Apesar disso, como bem aponta uma de suas primeiras falas, há um "fundo do poço" o qual seria necessário de se chegar, e podemos concluir que é neste ponto que essa figura se encontra até a virada principal do enredo.
De início, Abe é parabenizado por um dos colegas de docência a respeito do seu ensaio sobre 'ética situacional'. A questão do imperativo categórico kantiano circunda suas reflexões, bem como a 'teoria do crime justificável' tratada por Raskolnikóv. Em síntese, Abe busca com seu discurso (e teoricamente também com suas ações - apesar do quão paradoxal isso possa parecer) um posicionamento que rompa com a tentativa de seguir um padrão moral inequívoco e indiscutível. Todavia, ao longo da trama, observamos as fortes contradições entre seu agir e aquilo que defende.
Ao cometer o "crime perfeito", Abe diz sentir-se como um autêntico ser humano. Acredita que com sua liberdade de escolha executou uma ação ética, que livrou a humanidade de um estorvo que a tornava pior, que fez, factivelmente, algo de bom. Parece, neste ponto, apostar em um maniqueísmo entre o bem e o mal, de tal modo que ele próprio encarna o bem e o juiz Spangler, quase como um doppelganger sombrio, o mal.
Nesse mesmo sentido, se pensarmos a respeito da cena da roleta russa em que alguém diz para ele que "se você quer se matar, vá ao laboratório de química e beba cianeto" e que é precisamente desta forma que executa seu crime, podemos inferir que o assassinato do juiz não é senão uma tentativa de matar no outro uma parte de si próprio, a parte má, a parte que morta tornaria tudo melhor.
Assim, diferentemente de Raskolnikóv que é acometido por uma culpa quase material, física, Abe parece não apresentar indícios desse sentimento. Além de assassinar um desconhecido, não hesita em manipular as pessoas que o cercam, em tentar matar um jovem 'inocente' e em deixar um 'inocente' ser condenado. Ações que põem em questão tudo que defende.
Por fim, um último elemento que gostaria de abordar se refere a Jill e as transições das cenas entre o que era vivido por ela em detrimento do que era vivido pelo Abe. Apesar do corte que poderia ser lido enquanto algo que apontava para opostos, penso que podemos pensar sobre o que tinham em comum: ambos compartilhavam uma forte paixão por uma ideia.
Enfim, muitas reflexões possíveis sobre essa trama!!!!! Mas resumindo: filme maneirinho vale a pena assistir!!!!!
Li recentemente a afirmação “o que importa em um texto é se ele nos afeta, ou não”. Refletindo em torno disso, pensei: em um filme, também o mais relevante são os afetos que ele é capaz de suscitar. A memória é intrinsecamente imanente e afetiva. Lembramo-nos do que aflige nosso âmago, do que nos faz conjecturar e elaborar questões.
O filme "El abrazo de la serpiente" dirigido por Ciro Guerra e indicado ao Oscar na categoria melhor filme estrangeiro em 2016, deixou em mim uma marca reavivada por uma cena específica. Antes de relatá-la, cabe realizarmos uma breve descrição do filme.
A trama parte de uma ficcionalização de duas figuras reais, Theodor Koch-Grunberg e Richard Evan Schultes. O primeiro, um etnólogo alemão que, no começo do século XX, estudou os povos indígenas da floresta amazônica, e o segundo, o Schultes, um biólogo norte-americano que adentrou nossa selva em meados do mesmo século para estudar as plantas utilizadas pelas populações indígenas.
A narrativa traz o índio Karamakate, último sobrevivente de uma tribo indígena, em dois momentos distintos de sua vida, acompanhando os personagens que representam os estudiosos estrangeiros em duas jornadas pela floresta. Há uma confusão temporal entre o presente e o passado em que podemos observá-lo ainda jovem com o primeiro viajante, e depois já ancião, com o segundo estudioso.
O plano de fundo histórico que constitui a obra aponta para a Guerra da Borracha, conflito a que podemos atribuir parte relevante do genocídio da população indígena.
A discussão política efervescente no filme me remeteu a uma fala recente do ambientalista Ailton Krenak em que ele nos diz que “o presente é ancestral”. A linha que tece o hoje é composta pelo ontem e pelo amanhã. Karamakate perdeu a interlocução com seus pares, a imanência da memória que se constitui nas trocas se enfraquece e em uma cena marcante, o índio chora.
As lágrimas escorrem e o murmúrio desse choro traz uma denúncia de um apagamento que vai além de suas próprias memórias. É delatado o desaparecimento genocida de seu povo, de sua tradição, de sua ancestralidade.
Em uma cena um pequeno índio se apresenta aos protagonistas dizendo seu nome. Logo em seguida é corrigido, pois tem que assumir a nova identidade e seu novo nome atribuído pelos religiosos. Pensei sobre a violência simbólica dessa cena. Perder seu próprio nome e ser proibido de falar a própria língua. Uma violência absurda frente à sua ancestralidade. Como se uma dose da água do rio Lete fosse ofertada, sem possibilidade de recusa.
Sobre o Messias que aparece na segunda visita ao mosteiro (acredito que seja um mosteiro) refleti muito em torno da fala de Karamakate. Segundo ele, os índios cristianizados ficaram com “o pior dos dois mundos”. Os padres e a imposição de uma crença destroçam as bases e vínculos mais originários, mas não por completo, levando ao estado de coisas que podemos ver na festa que Schultes e Karamakate participam.
Conversando com um amigo, descobri que é comum em algumas cosmovisões das tribos amazônicas a crença de que uma fotografia rouba a alma daquele que é fotografado. A discussão em torno do Chullachaqui (nossa representação na fotografia) me parece ter alguma conexão com isto. Karamakate, ao ser fotografado pelo Theodor, afirma que o Chullachaqui “parece conosco, mas é oco, vazio, sem memória”.
Ao tratar desse duplo, o índio não traz como se fosse uma representação, e sim ele próprio - porém de uma outra forma, sem raízes com a tradição, disperso pelo mundo. A noção entre representação/imagem/realidade toma contornos não-óbvios.
Além disso, também refleti em alguns momentos sobre a valorização do material escrito por parte do Theodor e do Schultes. A memória do estudioso se compõe nessas marcas feitas no papel. Em um dado momento afirma que caso apenas diga, ninguém acreditará nele. Me indaguei sobre o desvalor sobre a fala.
Iniciei essas considerações relatando uma cena que me deixou uma marca e sobre como a memória é afetiva. Trata-se do momento em que o Theodor, ao deixar o mosteiro, não consegue pegar de volta sua bússula. Apenas descobri que já havia assistido esse filme neste momento, pois me lembrei com exatidão do insight que tive quando ele afirma que não se tratava de egoísmo e sim do receio de que houvesse um apagamento do conhecimento ancestral daquele grupo. E da resposta que recebeu, que apontava que conhecimento não é algo a ser privado.
Recordo-me que essa cena descreve bem a impossibilidade de um maniqueísmo. De fato, seria importante que esse saber não se perdesse (quer dizer, seria?). De fato, conhecimento não se priva. De fato, é impossível o controle sobre o que será um acontecimento capaz de bifurcar caminhos e o que não será.
Por fim, penso sobre a cena em que Schultes se recusa a se livrar de uma única caixa: a que é capaz de reproduzir uma música. Schoppenhauer eleva a música a uma categoria sublime. Em um filme em que mais de 5 línguas são faladas, pensei neste momento como aquele em que há o compartilhamento de uma língua universal. (Claro, uma hipotetização minha. Karamakate podia estar odiando).
(Bom, é isso. Acredito que deixei de fora desse breve comentários algumas discussões importantes como a que envolve o nome do filme, a flor tão buscada e meandros de sua produção. Porém, quis de fato apenas trazer o recorte enviesado de minhas afetações).
O cenário do longa-metragem de Bertolucci é a França de 1968. A trama perpassa o triângulo Matthew, intercambista estadunidense, e os irmãos Isabelle e Theo, os quais compartilham a paixão por produções da sétima arte. O contexto que desemboca no momento vivido na trama pode auxiliar na assimilação dos meandros que compõe esta obra. A França tinha como presidente o general, patente importante de se ressaltar tendo em vista que dá indícios de uma certa ótica conservadora e tradicional, Charles de Gaulle, que foi justamente o fundador e presidente da Quinta República Francesa, a qual durou entre 1959 e 1969, com sua renúncia um ano após a reivindicações de 68. Todavia, antes de chegarmos em 68, cabe apontar que após a Segunda Guerra Mundial em 1945, com a impossibilidade de velamento da iminente finitude, se tem com maior afinco o início de um processo de questionamento dos valores tradicionais e conservadores na sociedade da época. Além disso, alguns outros acontecimentos importantes neste período compõem todo plano de fundo do enredo. Em 18 de agosto de 1960 a ciência corrobora ao desenvolvimento de um remédio libertário: a pílula anticoncepcional. Este feito, conjuntamente ao fato de que a AIDS ainda não existia, levou a um despudoramento sexual intenso, em um período de descobertas inédito após tantos anos de intensa repressão sexual. Estamos aqui falando da famosa geração “sexo, drogas e rock ‘n roll” a qual nos anos 60, década de ascensão do movimento hippie e da revolução sexual, punha em questão interdições e convenções morais como a monogamia, a família nuclear e o casamento. O que estava em pauta era a monotonia roteirizada da vida prática e linear e o controle pré-estabelecido dos corpos e das relações, haja vista a morte escancarada e revelada pela mídia. A Guerra do Vietnã, por exemplo, tema de debates entre Theo e Matthew em alguns momentos do filme, foi uma batalha entre os Estados Unidos e os vietnamitas do norte, que perdurou entre 1959 e 1975 tendo seu momento mais sangrento precisamente em 68. As imagens da violência do sangue escarlate derramado ainda não eram uma banalidade e assim foram responsáveis por causar uma grande comoção social. Nesta síntese contextual pôde-se vislumbrar o caldo caótico e efervescente em que se encontrava a juventude dos anos 60 e imersa nela Theo, Isabelle e também o Matthew. Um ponto de reflexão que tive foi sobre a subversão micropolítica realizada por estes personagens, não sigo a via de acreditar que haja um contraponto ou uma hipocrisia nas ações e no discurso deles como Matthew parece pensar, sinto que os meandros de uma revolução no nível micro do corpo ocorre no despudoramento que vivem na intimidade. Eles faziam política com os próprios corpos. Agora, para finalizar este comentário busco abarcar uma pequena leitura psicanalítica do emaranhado relacional deste filme. Freud (1913) em Totem e Tabu aponta duas bases para o surgimento e sustentação da civilização: o incesto e exogamia. Estas bases gritam basicamente uma lei: DESEJE FORA! O Édipo é o complexo responsável por organizar a possibilidade do desejo. Theo e Isabelle parecem afrouxar os meandros tradicionais ao não recalcar o óbvio movimento direção ao incesto, apesar de não concretizarem uma relação carnal factível. Isabelle me pareceu assumir uma posição histérica de abstenção de si e entrega enquanto objeto do outro. Matthew, ao questioná-la enquanto unidade, perguntando-a sobre seu quarto, suas vontades, chamando-a para um encontro dual com ele, parece força-la a construir uma via de reconhecimento do intransponível fato: ela e Theo não fazem um, apesar de toda dor que esta constatação a traz. Uma constatação que tive foi que, na trama, a cultura interdita até mesmo a morte. O barulho revolucionário de fora perfura a capsula mortífera da tendência ao uno que perpassa os gêmeos e inclui o Mathew. A consciência de culpa da Isabelle bem sabe que fora daquelas paredes algo terá de ser interditado. Matthew e a cultura expressa pela revolução são o terceiro elemento que forçam, em parte, os primeiros passos do advento do Theo enquanto Theo e da Isabelle enquanto Isabelle. Um outro aspecto que me remeteu se refere ao que elaborei enquanto “respiro pela arte” Freud (1930) em “Mal estar na civilização” traz que “a vida, tal como nos é imposta, é muito árdua para nós” e anuncia, então, três lenitivos imprescindíveis para fazê-la seguir funcionando, sendo estes 1. distrações poderosas, 2. entorpecentes e 3. satisfações substitutivas que nos amenizem o sofrimento, e aponta que “satisfações substitutivas tais como oferecidas pela arte são ilusões se comparadas com a realidade, mas mesmo assim não são menos eficazes psiquicamente”. Este ponto estabelece a arte em seu lugar decisivo bem como ocupa na trama. A redoma que a tríade se estabelece e o contraponto do ruído extremo do mundo com a nutritiva ambiência de referências e exercício intelectual e artístico que vivem. Por fim, foi um filme que me prendeu intensamente enquanto eu o expectava. Me suscitou reflexões múltiplas e me mobilizou a pesquisar sobre diversos assuntos. Em síntese: MASSA DEMAIS!!!!!!!!!!!!!!
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Ninguém Ama Ninguém... Por Mais de Dois Anos
3.2 43Eu não tô louco não, eu tô muito bem. E aproveito para comunicar aos senhores que
irei me desquitar de minha esposa, sua filha, Terezinha. E me casarei com a minha criada, Mariana.
Vamos Mariana, que ele está armado!
OBRA PRIMAAAAAAAAAAAAA
Paixão Obsessiva
2.6 276 Assista AgoraCara, simplesmente o filme é uma representação do que uma loura pir*ca pode fazer na vida de alguém (ou louras, né não? A mãe tb. DURO). A Katherine Heigl impecável como sempre, porém, aquilo, né? Traumas familiares fortíssimos presentes. A Julia coitada, só se fodeu. Esse noivo dela é um bananão (acho que o horário já permite). O maluco é um pai ausente, um noivo ausente, ou seja, o cara é um merda. Vamos mandar a real aqui, né? A trama com o ex da Julia, tal do Michael, meio solta não é não? Mas ver a Katherine piroca das ideias com ódio valeu. Gosto dela atuando. Uma boa loura. Vestiu bem a personagem. Levou o filme nas costas. Mas é isso... Filminho pra passar o tempo e ficar alerta porque de repente você pode acabar em situação de
assassinar pessoas
Deserto Particular
3.8 183 Assista AgoraPUTA FILMASSO! se esse filme não ganhar um prêmio eu sou maluca.
PUTA MERDA, que filme fenomenal. do jeitinho que a gente precisava. quem cresceu com PM dentro de casa sabe a dureza que é quebrar certos engessamentos... filme GENIAL
Não Olhe para Cima
3.7 1,9K Assista AgoraTrata-se de uma crítica ao capitalismo e ao negacionismo da direita sob o prisma de um filme meio besteirol norte americano... Elenco de peso contando com a Lawrence, o Chalamet, o DiCaprio e a Streep, mas não sei se compensa o roteiro excessivo.
Em síntese, filme pra passar tempo...
Sole
3.6 3O longa-metragem "Sole" acompanha a história de Lena, jovem polaca grávida de 7 meses e Ermanno, seu parceiro na missão de facilitar o processo de adoção de seu bebê. Este processo, todavia, não é o de uma simples adoção, e sim de um esquema que consiste em vender o bebê para o tio de Ermanno, Fábio, e sua esposa, Bianca, uma vez ambos não conseguem ter filhos. Lena e Ermanno precisam viver juntos até que o neném nasça e tenha condições de viver com a família adotiva. Neste cenário, ambos passam a compartilhar a vida e a rotina durante dois ou três meses.
Com direção do italiano Carlos Sironi, o drama nos convida a pôr em questão nosso próprio julgamento moral sobre as ações dos personagens, deixando evidente a complexidade não-verbalizada que envolve cada ato.
Ao longo do filme, temos alguns poucos vestígios da vida dos personagens. Sabemos que Lena, que sai da Polônia para Itália visando a venda de seu bebê, possui sonhos e planos. Almeja recomeçar sua vida na Alemanha com o dinheiro que receberá por abrir mão de sua filha. Já Ermanno, desde o início da obra temos notícias incontestáveis da profunda tristeza que o perpassa, bem como de seu vício por jogo. A atuação de Claudio Segaluscio é digna de uma nota a parte. Seus olhares transmitem, sem necessitar do acessório da palavra, toda melancolia que o atravessa. Sabemos, em um dos poucos diálogos mais profundos que teve com seu tio, do (provável) suicídio cometido por seu pai e da forma como se sente "feito para nada".
É um obra interessante, cujo final me apeteceu, apesar de não me ser surpreendente. Enfim, mais uma vez reitero a impecável atuação de Segaluscio, que para mim foi o ponto alto do filme.
Calabouço 1968 - Um Tiro no Coração do Brasil
3.7 2“Eu não tenho dúvidas de que o Calabouço, respeitando todas suas limitações, foi a grande fagulha que serviu como estopim para incendiar o Brasil daquele momento de resposta a ditadura que tomou conta do país e que, mais tarde, resultou na resistência armada”.
Muito foda essa documentação que traz, através da narrativa dos protagonistas reais da luta, a história do Calabouço, do Edson Luís e da resistência a ditadura brasileira.
Realmente indispensável.
Allende, Meu Avô Allende
3.7 4O documentário "Allende, Meu Avô Allende" é uma obra de coragem. Tratar de temas relegados, ativamente, ao esquecimento é uma tarefa difícil. Esse lugar que alguns acontecimentos se assentam, um espaço recoberto por um tapete que busca proteger a todos das angustias e das dores das lembranças - é um lugar árduo de acessar. Marcia Tambutti, através de suas perguntas e de seu interesse, consegue abalar certas bases e fazer emergir um novo presente com a atualização e verbalização do passado. Os incômodos que esse movimento traz são mostrados, o que faz este documentário transparecer uma dimensão ainda mais íntima e real. Enfim, gostei! Vale a pena assistir!
Febre do Rato
4.0 657Liberdade e direito à paz! Além de teto, comida, anarquia e sexo!
Maneiríssimo esse filme!
Volver
4.1 1,1K Assista AgoraQue filme incrível! As personagens suuuuper bem construídas, trabalha questões familiares de uma forma sutil e inteligente. Gostei muito! Penelope maravilhosa! Tb me remeteu a Pedro Páramo do Juan Rulfo em alguns pontos, ou seja, genial.
Alerta Vermelho
3.1 528cara... genéricão. sinto que já vi esse mesmo filme no mínimo umas 30 vezes. mas é aquilo. a gal é linda e eu gosto de olhar pra ela. esse é o ponto positivo do filme. o the rock... sustentando o mesmo personagem de TODOS os outros filmes que ele já fez então... nada de novo. é isso. assiste se quiser não se deparar com o desconhecido.
Nos Vemos no Paraíso
4.0 52 Assista AgoraCertamente um dos filmes mais interessantes e bem produzidos que já vi sobre o pós primeira guerra. Traz personagens complexas e incitantes, nos convida a refletirmos e a adentrarmos a dor e a singularidade da existência de cada um. Edouard é de uma genialidade extremamente sensível que me cativou muitíssimo. Além disso, o filme tem uma pegada surrealista/onírica que amo e uma teatralidade muito foda que se reflete, principalmente, nas máscaras que são confeccionadas. Máscaras estas que me fizeram estar em constante anseio pela próxima. Enfim, muito bom!
Suk Suk - Um Amor em Segredo
3.9 43 Assista AgoraFilme lindo, maravilhoso, sensível!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!! P*T# M#RD% QUE FILMASSO
Perdi Meu Corpo
3.8 351 Assista AgoraEm "Luto e Melancolia" Freud (1917) aborda a temática da perda de um objeto amado e o longo trabalho envolvido na simbolização dessa perda. Podemos adjetivar esse processo como doloroso, árduo e, sob certa perspectiva, autônomo. Penso a autonomia do luto no que toca ao tempo que consome e a fragilidade posta ao Eu frente este trabalhoso acometimento que tanto o inibe.
O longa-metragem "J'ai perdu mon corps", segundo a lente desta expectadora que aqui escreve, ilustra com sutileza os inúmeros lutos de uma vida ainda tão recente, a do jovem Naoufel.
Ainda criança, Naoufel sofre um acidente que anuncia sua perda mais evidente, a de seu pai e a de sua mãe. Todavia, outras ausências podem ser elencadas na trama de nosso protagonista.
Ao retornarmos a Freud (1917) temos notícia de que o luto não é um processo que se refere exclusivamente a morte de um ente querido. O desencadeador desse trabalho pode ser a perda de um ideal, de um futuro esperado e sonhado, de uma visão sobre si ou sobre a própria vida que não mais pode ser sustentada ou até mesmo a impossibilidade de ocupar uma posição que se ocupava frente um olhar amoroso.
Ao longo do filme podemos observar a tentativa de elaboração de Naoufel no que toca tanto a perda de seus pais quanto a perda de sua própria vida futura imaginada. Podemos ver a brutalidade com que seu sonho de ser um pianista-astronauta se dissolve. Uma construção simbólica de futuro que é interrompida pelo real. Real este que não se preocupa em seguir roteiro algum. Real este que desrespeita todos os planos.
Durante o trabalho do luto o psiquismo age como que movido por um ímpeto em se ocupar com aquilo que partiu. Esse movimento faz do ausente ainda mais presente. O hábito de Naoufel de reescutar áudios gravados na sua infância ilustra bem esse processo. Mas, além de presentificar o som da voz de seus pais, também nesse ato vemos uma tentativa de simbolizar o que ocorreu, de tentar encontrar ou construir um sentido para o traumático sem porquê.
O autor português Valter Hugo Mãe em uma passagem de “Homens imprudentemente poéticos” afirma que “O amor, na perda, era tentacular. Uma criatura a expandir, gorda, gorda, gorda. Até tudo em volta ser esse amor sem mais correspondência, sem companhia...”. Percebo Naoufel como um personagem tomado por suas perdas. Sua paixão (ou obsessão) repentina pela Gabrielle me parece nada mais do que uma tentativa de se precipitar para fora do circuito que vive. De pôr-se fora desse presente embaçado por um passado que não diminui, que ocupa maior parte da tela de sua vida atual.
Na psicanálise costumamos dizer que o corpo é um presente da linguagem. É a partir de uma alienação ao discurso do Outro que podemos advir enquanto sujeito. Leio a perda da mão de Naoufel como uma materialização de outras perdas. Vejo essa tentativa de sua mão de se reencontrar com seu corpo como a tentativa de Naoufel de reencontrar com a imagem de si antes projetada – e o longo processo de aceitação frente certas ausências incontornáveis.
No fim da trama, quando reencontra seu corpo, a mão percebe a impossibilidade de retorno. Do mesmo modo, Naoufel, ao realizar o simbólico salto que o faz deixar para trás seu gravador, me parece ter dado um passo em relação a possibilidade de aceitar sua(s) perda(s) e de, enfim, seguir.
(Para além dessa leitura, o filme é realmente muito bonito e bem construído. Gostei muito de assisti-lo).
Nossa, ainda tem a questão da culpa, né? A mão posta fora do carro é o que faz o pai de Naoufel olhar para trás, perder a atenção na estrada e sofrer o acidente. LITERALMENTE FRITANDO SE O ACIDENTE COM SUA MÃO NÃO FOI UMA PASSAGEM AO ATO. Perder a mão - que materializava sua culpa - o possibilitou dar um salto. Enfim!!!! Muitas camadas nesse filme!!!! Bom demais!
Lendo os outros comentários vi que tem uma leitura de que ele se suicida!!!! Cho.ca.da demais!!!!
Toc Toc
3.7 597É um filme maneiro!
Assim, devo confessar que fiquei pensando na lucratividade que esse médico tem, tendo em vista que ele não recebe, né? Ou será que ele conta depois que aquilo foi a consulta? Isso é ético? Para de funcionar se ele conta? E se as pessoas se recusarem a pagar?
Muitas questões e poucas respostas!!! Mas, como disse, é filme maneirinho pra passar o tempo e se divertir um pouquinho.
Medianeras: Buenos Aires na Era do Amor Virtual
4.3 2,3K Assista AgoraAs medianeras são integras, concretas e cinzas. Os personagens, ao fazerem furo nesse cinza, puderam deixar a luz entrar. E junto dela um pouco de vida.
É um filme muito bonito e bem construído. Tem um ritmo lento, um pouco melancólico (mas não muito) e é bastante poético. Parece uma poesia. Dessas que exigem que entremos em uma sintonia específica para que a compreendamos, ao mesmo tempo que ela própria nos convoca para bailar em seu próprio ritmo.
Os paralelos feitos entre a cidade e os indivíduos são inteligentes e muitas vezes não precisam utilizar da palavra para transmitir o que buscam.
Tem uma passagem do Valter Hugo Mãe que eu gosto muito e que me lembrei enquanto assistia. Ele diz que "o toque de alguém é o verdadeiro lado de cá da pele. Quem não é tocado não se cobre nunca, anda como nu. De ossos à mostra". Pensei nesse trecho porque me pareceu que esse filme também retrata uma busca por driblar o frio que essa nudez impõe. A nudez da solidão moderna.
Enfim, gostei muito! Talvez seja um dos filmes mais legais que assisti nos últimos tempos.
A Nova Cinderela
3.0 905 Assista AgoraMAIOR E MELHOR! NENHUM FILME ACIMA DESTE! (ecos da Dara adolescente que resiste em existir)
Adeus, Lenin!
4.2 1,1K Assista AgoraEle faz a reunificação dele!!! Filme MANEIRO!
A Terra e a Sombra
3.8 52 Assista AgoraExcepcional e impressionante! Parece uma obra de arte esse filme. Daquelas tão verossímeis que fazem chorar.
O Homem Irracional
3.5 551 Assista AgoraÉ um filme interessante. As discussões principais transitam entre a moralidade kantiana e a liberdade de escolha existencialista, em que nomes como Sartre e Kierkeegard são citados. Uma releitura moderna de uma das questões levantas por Raskolnikóv: será mesmo que matar é categoricamente algo condenável?
Raskolnikóv, ao assassinar a usurária, buscava provar sua teoria de que existiriam homens extraordinários e homens ordinários e, mais do que isso, de que ele próprio seria extraordinário - capaz de ultrapassar os limites da moral, uma ruptura que, por fim, leva-o a um caminho distinto do trilhado por Abe.
No que se refere ao Abe, protagonista da trama, desde o princípio podemos perceber um personagem que se encontra desanimado em relação a vida. Seu passado o precede e anuncia uma multiplicidade de vivências, de ações engajadas e de tentativas de mudar o estado das coisas no mundo. Podemos visualizar que a história da sua vida ultrapassa ações meramente teóricas. Apesar disso, como bem aponta uma de suas primeiras falas, há um "fundo do poço" o qual seria necessário de se chegar, e podemos concluir que é neste ponto que essa figura se encontra até a virada principal do enredo.
De início, Abe é parabenizado por um dos colegas de docência a respeito do seu ensaio sobre 'ética situacional'. A questão do imperativo categórico kantiano circunda suas reflexões, bem como a 'teoria do crime justificável' tratada por Raskolnikóv. Em síntese, Abe busca com seu discurso (e teoricamente também com suas ações - apesar do quão paradoxal isso possa parecer) um posicionamento que rompa com a tentativa de seguir um padrão moral inequívoco e indiscutível. Todavia, ao longo da trama, observamos as fortes contradições entre seu agir e aquilo que defende.
Ao cometer o "crime perfeito", Abe diz sentir-se como um autêntico ser humano. Acredita que com sua liberdade de escolha executou uma ação ética, que livrou a humanidade de um estorvo que a tornava pior, que fez, factivelmente, algo de bom. Parece, neste ponto, apostar em um maniqueísmo entre o bem e o mal, de tal modo que ele próprio encarna o bem e o juiz Spangler, quase como um doppelganger sombrio, o mal.
Nesse mesmo sentido, se pensarmos a respeito da cena da roleta russa em que alguém diz para ele que "se você quer se matar, vá ao laboratório de química e beba cianeto" e que é precisamente desta forma que executa seu crime, podemos inferir que o assassinato do juiz não é senão uma tentativa de matar no outro uma parte de si próprio, a parte má, a parte que morta tornaria tudo melhor.
Assim, diferentemente de Raskolnikóv que é acometido por uma culpa quase material, física, Abe parece não apresentar indícios desse sentimento. Além de assassinar um desconhecido, não hesita em manipular as pessoas que o cercam, em tentar matar um jovem 'inocente' e em deixar um 'inocente' ser condenado. Ações que põem em questão tudo que defende.
Por fim, um último elemento que gostaria de abordar se refere a Jill e as transições das cenas entre o que era vivido por ela em detrimento do que era vivido pelo Abe. Apesar do corte que poderia ser lido enquanto algo que apontava para opostos, penso que podemos pensar sobre o que tinham em comum: ambos compartilhavam uma forte paixão por uma ideia.
Enfim, muitas reflexões possíveis sobre essa trama!!!!! Mas resumindo: filme maneirinho vale a pena assistir!!!!!
O Abraço da Serpente
4.4 237 Assista AgoraFilme 1 da série Colômbia.
Li recentemente a afirmação “o que importa em um texto é se ele nos afeta, ou não”. Refletindo em torno disso, pensei: em um filme, também o mais relevante são os afetos que ele é capaz de suscitar. A memória é intrinsecamente imanente e afetiva. Lembramo-nos do que aflige nosso âmago, do que nos faz conjecturar e elaborar questões.
O filme "El abrazo de la serpiente" dirigido por Ciro Guerra e indicado ao Oscar na categoria melhor filme estrangeiro em 2016, deixou em mim uma marca reavivada por uma cena específica. Antes de relatá-la, cabe realizarmos uma breve descrição do filme.
A trama parte de uma ficcionalização de duas figuras reais, Theodor Koch-Grunberg e Richard Evan Schultes. O primeiro, um etnólogo alemão que, no começo do século XX, estudou os povos indígenas da floresta amazônica, e o segundo, o Schultes, um biólogo norte-americano que adentrou nossa selva em meados do mesmo século para estudar as plantas utilizadas pelas populações indígenas.
A narrativa traz o índio Karamakate, último sobrevivente de uma tribo indígena, em dois momentos distintos de sua vida, acompanhando os personagens que representam os estudiosos estrangeiros em duas jornadas pela floresta. Há uma confusão temporal entre o presente e o passado em que podemos observá-lo ainda jovem com o primeiro viajante, e depois já ancião, com o segundo estudioso.
O plano de fundo histórico que constitui a obra aponta para a Guerra da Borracha, conflito a que podemos atribuir parte relevante do genocídio da população indígena.
A discussão política efervescente no filme me remeteu a uma fala recente do ambientalista Ailton Krenak em que ele nos diz que “o presente é ancestral”. A linha que tece o hoje é composta pelo ontem e pelo amanhã. Karamakate perdeu a interlocução com seus pares, a imanência da memória que se constitui nas trocas se enfraquece e em uma cena marcante, o índio chora.
As lágrimas escorrem e o murmúrio desse choro traz uma denúncia de um apagamento que vai além de suas próprias memórias. É delatado o desaparecimento genocida de seu povo, de sua tradição, de sua ancestralidade.
Em uma cena um pequeno índio se apresenta aos protagonistas dizendo seu nome. Logo em seguida é corrigido, pois tem que assumir a nova identidade e seu novo nome atribuído pelos religiosos. Pensei sobre a violência simbólica dessa cena. Perder seu próprio nome e ser proibido de falar a própria língua. Uma violência absurda frente à sua ancestralidade. Como se uma dose da água do rio Lete fosse ofertada, sem possibilidade de recusa.
Sobre o Messias que aparece na segunda visita ao mosteiro (acredito que seja um mosteiro) refleti muito em torno da fala de Karamakate. Segundo ele, os índios cristianizados ficaram com “o pior dos dois mundos”. Os padres e a imposição de uma crença destroçam as bases e vínculos mais originários, mas não por completo, levando ao estado de coisas que podemos ver na festa que Schultes e Karamakate participam.
Conversando com um amigo, descobri que é comum em algumas cosmovisões das tribos amazônicas a crença de que uma fotografia rouba a alma daquele que é fotografado. A discussão em torno do Chullachaqui (nossa representação na fotografia) me parece ter alguma conexão com isto. Karamakate, ao ser fotografado pelo Theodor, afirma que o Chullachaqui “parece conosco, mas é oco, vazio, sem memória”.
Ao tratar desse duplo, o índio não traz como se fosse uma representação, e sim ele próprio - porém de uma outra forma, sem raízes com a tradição, disperso pelo mundo. A noção entre representação/imagem/realidade toma contornos não-óbvios.
Além disso, também refleti em alguns momentos sobre a valorização do material escrito por parte do Theodor e do Schultes. A memória do estudioso se compõe nessas marcas feitas no papel. Em um dado momento afirma que caso apenas diga, ninguém acreditará nele. Me indaguei sobre o desvalor sobre a fala.
Iniciei essas considerações relatando uma cena que me deixou uma marca e sobre como a memória é afetiva. Trata-se do momento em que o Theodor, ao deixar o mosteiro, não consegue pegar de volta sua bússula. Apenas descobri que já havia assistido esse filme neste momento, pois me lembrei com exatidão do insight que tive quando ele afirma que não se tratava de egoísmo e sim do receio de que houvesse um apagamento do conhecimento ancestral daquele grupo. E da resposta que recebeu, que apontava que conhecimento não é algo a ser privado.
Recordo-me que essa cena descreve bem a impossibilidade de um maniqueísmo. De fato, seria importante que esse saber não se perdesse (quer dizer, seria?). De fato, conhecimento não se priva. De fato, é impossível o controle sobre o que será um acontecimento capaz de bifurcar caminhos e o que não será.
Por fim, penso sobre a cena em que Schultes se recusa a se livrar de uma única caixa: a que é capaz de reproduzir uma música. Schoppenhauer eleva a música a uma categoria sublime. Em um filme em que mais de 5 línguas são faladas, pensei neste momento como aquele em que há o compartilhamento de uma língua universal. (Claro, uma hipotetização minha. Karamakate podia estar odiando).
(Bom, é isso. Acredito que deixei de fora desse breve comentários algumas discussões importantes como a que envolve o nome do filme, a flor tão buscada e meandros de sua produção. Porém, quis de fato apenas trazer o recorte enviesado de minhas afetações).
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Os Sonhadores
4.1 1,9K Assista AgoraO cenário do longa-metragem de Bertolucci é a França de 1968. A trama perpassa o triângulo Matthew, intercambista estadunidense, e os irmãos Isabelle e Theo, os quais compartilham a paixão por produções da sétima arte.
O contexto que desemboca no momento vivido na trama pode auxiliar na assimilação dos meandros que compõe esta obra. A França tinha como presidente o general, patente importante de se ressaltar tendo em vista que dá indícios de uma certa ótica conservadora e tradicional, Charles de Gaulle, que foi justamente o fundador e presidente da Quinta República Francesa, a qual durou entre 1959 e 1969, com sua renúncia um ano após a reivindicações de 68.
Todavia, antes de chegarmos em 68, cabe apontar que após a Segunda Guerra Mundial em 1945, com a impossibilidade de velamento da iminente finitude, se tem com maior afinco o início de um processo de questionamento dos valores tradicionais e conservadores na sociedade da época.
Além disso, alguns outros acontecimentos importantes neste período compõem todo plano de fundo do enredo. Em 18 de agosto de 1960 a ciência corrobora ao desenvolvimento de um remédio libertário: a pílula anticoncepcional. Este feito, conjuntamente ao fato de que a AIDS ainda não existia, levou a um despudoramento sexual intenso, em um período de descobertas inédito após tantos anos de intensa repressão sexual.
Estamos aqui falando da famosa geração “sexo, drogas e rock ‘n roll” a qual nos anos 60, década de ascensão do movimento hippie e da revolução sexual, punha em questão interdições e convenções morais como a monogamia, a família nuclear e o casamento.
O que estava em pauta era a monotonia roteirizada da vida prática e linear e o controle pré-estabelecido dos corpos e das relações, haja vista a morte escancarada e revelada pela mídia. A Guerra do Vietnã, por exemplo, tema de debates entre Theo e Matthew em alguns momentos do filme, foi uma batalha entre os Estados Unidos e os vietnamitas do norte, que perdurou entre 1959 e 1975 tendo seu momento mais sangrento precisamente em 68. As imagens da violência do sangue escarlate derramado ainda não eram uma banalidade e assim foram responsáveis por causar uma grande comoção social.
Nesta síntese contextual pôde-se vislumbrar o caldo caótico e efervescente em que se encontrava a juventude dos anos 60 e imersa nela Theo, Isabelle e também o Matthew. Um ponto de reflexão que tive foi sobre a subversão micropolítica realizada por estes personagens, não sigo a via de acreditar que haja um contraponto ou uma hipocrisia nas ações e no discurso deles como Matthew parece pensar, sinto que os meandros de uma revolução no nível micro do corpo ocorre no despudoramento que vivem na intimidade. Eles faziam política com os próprios corpos.
Agora, para finalizar este comentário busco abarcar uma pequena leitura psicanalítica do emaranhado relacional deste filme. Freud (1913) em Totem e Tabu aponta duas bases para o surgimento e sustentação da civilização: o incesto e exogamia. Estas bases gritam basicamente uma lei: DESEJE FORA! O Édipo é o complexo responsável por organizar a possibilidade do desejo. Theo e Isabelle parecem afrouxar os meandros tradicionais ao não recalcar o óbvio movimento direção ao incesto, apesar de não concretizarem uma relação carnal factível.
Isabelle me pareceu assumir uma posição histérica de abstenção de si e entrega enquanto objeto do outro. Matthew, ao questioná-la enquanto unidade, perguntando-a sobre seu quarto, suas vontades, chamando-a para um encontro dual com ele, parece força-la a construir uma via de reconhecimento do intransponível fato: ela e Theo não fazem um, apesar de toda dor que esta constatação a traz.
Uma constatação que tive foi que, na trama, a cultura interdita até mesmo a morte. O barulho revolucionário de fora perfura a capsula mortífera da tendência ao uno que perpassa os gêmeos e inclui o Mathew. A consciência de culpa da Isabelle bem sabe que fora daquelas paredes algo terá de ser interditado. Matthew e a cultura expressa pela revolução são o terceiro elemento que forçam, em parte, os primeiros passos do advento do Theo enquanto Theo e da Isabelle enquanto Isabelle.
Um outro aspecto que me remeteu se refere ao que elaborei enquanto “respiro pela arte” Freud (1930) em “Mal estar na civilização” traz que “a vida, tal como nos é imposta, é muito árdua para nós” e anuncia, então, três lenitivos imprescindíveis para fazê-la seguir funcionando, sendo estes 1. distrações poderosas, 2. entorpecentes e 3. satisfações substitutivas que nos amenizem o sofrimento, e aponta que “satisfações substitutivas tais como oferecidas pela arte são ilusões se comparadas com a realidade, mas mesmo assim não são menos eficazes psiquicamente”. Este ponto estabelece a arte em seu lugar decisivo bem como ocupa na trama. A redoma que a tríade se estabelece e o contraponto do ruído extremo do mundo com a nutritiva ambiência de referências e exercício intelectual e artístico que vivem.
Por fim, foi um filme que me prendeu intensamente enquanto eu o expectava. Me suscitou reflexões múltiplas e me mobilizou a pesquisar sobre diversos assuntos. Em síntese: MASSA DEMAIS!!!!!!!!!!!!!!
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