Tem que ter coragem pra chamar esse filme de feminista. Eu fico de cara em ver como a Sofia Coppola consegue ser uma diretora cagona e omissa, às vezes. Ela é, literalmente, a única mulher em Hollywood que tem carta branca para dirigir e criticar o que quiser, mas em vez disso prefere abraçar uns discursos pra lá de esquisitos e inócuos. Você vai assistir o filme na fé, na maior disposição e boa vontade, pois, afinal, ninguém melhor do que uma mulher para contar uma história sobre mulheres, certo? Errado. O que ela fez aqui foi higienizar a obra original, eliminando a única personagem negra da trama e diluindo sem dó a complexidade dos três personagens principais (Martha, o soldado e Edwina). É completamente inverossímil uma história ambientada nesse contexto histórico e geográfico sem a presença de um(a) negro(a) sequer. Entretanto, não posso dizer que estou surpresa. Como alguém que já viu toda a filmografia da diretora, digo que é bizarra a ausência de pessoas de cor em suas produções. Coincidência? Depende da sua ingenuidade. Alguns falam, ainda, em "poder feminino", e eu me pergunto onde está esse poder. A verdade é que Sofia nunca dirigiu mulheres fortes, sempre pareceu se interessar muito mais por figuras passivas, apáticas e nada inspiradoras. Só posso desejar que ela acerte na próxima e que Deus nos livre desse feminismo branco.
Muito bobinho e esteriotipado. Esse lance de trocar de corpo para sentir na pele o quanto a pressão estética é uma porcaria sem sentido o Mel Gibson já fez lá no início dos anos 2000 e a gente cansou de ver na sessão da tarde. Compreender as violências que mulheres sofrem numa sociedade patriarcal e misógina é mais complexo do que colocar homens performando feminilidade e mulheres fazendo o inverso. É muito cansativo esse discurso vazio e delirante de que "ô, tá vendo como também seria péssimo um mundo onde as mulheres passassem a oprimir os homens". É delirante porque esse mundo nunca vai existir, assim como não haverá uma realidade onde negros oprimam brancos, e por aí vai. Por isso, penso que o filme mais atrapalha do que agrega ao debate. Ele, inclusive, ignora que a classe masculina que se encontra fora do espectro do que é considerado ser homem também enfrenta problemas de gênero (óbvio que esses problemas não se equiparam em medida ao que é causado às mulheres, mas eles existem). É bem questionável uma obra ter que chegar ao extremo do caricatural e da tosqueira para que se entenda todo processo sistemático de agressão ao qual uma classe da sociedade tem sido historicamente submetida. A luta pela libertação feminina deve ser apoiada porque essa estrutura ceifa vidas inocentes diariamente, não porque depilar a virilha é desconfortável ou qualquer coisa que o valha. Não rolou para mim. Talvez role para quem viva debaixo de uma pedra e não faça ideia das transformações culturais pela qual a sociedade ocidental está passando. Tem gente que só entende certas coisas através do ridículo e não se importa em ter a própria inteligência insultada.
A primeira coisa que me chama a atenção é a consciência que Fellini tinha do contexto político e cultural no qual estava inserido. "Le Notti di Cabiria" é mais do que uma estória de desesperança e desilusão, é um retrato de uma Itália pós-segunda guerra impregnada de machismo e submissão feminina. As desigualdades sociais e de gênero são profundas, elas ecoam em cada canto da cidade. Mediante a dureza da vida lá fora, nossa personagem sobrevive como pode, sempre orgulhosa de sua casinha modesta. Afinal, o pouco é sempre muito para quem não tem nada. À semelhança de Passolini, que conseguia criticar e ao mesmo tempo humanizar seus personagens burgueses, assim faz Fellini com Cabíria, que representa uma classe historicamente marginalizada, desprezada. Esta não é somente uma mulher com projeções românticas inocentes ou uma desencantada que vende o próprio corpo em troca de alguns tostões; Cabíria tem sonhos, anseios e um coração do tamanho de seu temperamento agitado. Me ponho em seu lugar e penso no quão desafiador deve ser transmitir amor quando você nunca o teve. Um amor que não cede, nem às piores tragédias. Sei que a última cena pode parecer um desfecho triste e doloroso, mas ela serve como testemunho de que seguir em frente é necessário e permanece valendo a pena. Cada um de nós passou, passa ou passará por infortúnios que nos farão, mesmo que momentaneamente, acreditar que a vida é uma causa perdida. O cinema grita em alto e bom som que não, não é. É papel da arte esmagar a mediocridade e nos levar a crer em algo além da desmedida pequenez humana. Tudo se transforma, e olhares melhores virão. Um das mais belas e arrebatadoras obras do neorrealismo italiano. Até aqui, meu Fellini favorito.
“Oscar D'Onofrio: Não se preocupe. Há coisas que a vulgaridade não toca. Alguém saberá apreciá-la. Sempre há alguém na multidão que irá compreendê-la.”
Chatééééérrimo. Experiência péssima, traumatizante. Deu nem meia hora e eu já tava pedindo arrego. Depois que fechei o player parecia que eu tinha passado por um rodízio de Rivotril, ainda tô desnorteada. O filme trata de duas desgraças: a do protagonista, que descobre um assassinato(?), e a do espectador, que passará por uma verdadeira prova de resistência durante essas quase duas 2 horas de projeção. Demorei 24 anos para iniciar no cinema de Antonioni, provavelmente vou demorar mais 24 para reincidir. Truffaut tinha razão: BORING, BORING, BORING.
Imagina alguém chegando pra Susan Orlean e dizendo: “Eu tenho duas notícias pra você: uma boa e uma ruim. A ruim é que cagaram teu livro inteiro. A boa é que a Meryl Streep vai te interpretar ”.
Construção de roteiro genial. Duas horas de verborragia do Kaufman falando através do Cage e um inception metalinguístico que não se via desde Otto e Mezzo. Cinema em seu estado mais puro e latente. Kaufman é MONSTRO demais!
Que tortura chegar até o final disto. Na boa, é tão patético como brancos se acham os salvadores do mundo. Eu não apenas consegui criar zero empatia pela figura desse garoto insuportável, como nutri desde o início uma antipatia enorme por ele. Que sujeitinho egoísta, mimado, irresponsável e burro. Sim, burro. Altamente burro. Conseguiu ser mais burro do que o carinha de into the wild, e olha que esse outro tinha critérios bem mais convincentes para morrer por droga nenhuma. É tanta contradição e babaquice numa pessoa só que eu nem sei por onde começar... Na primeira discussão com a namorada fica claro o tipinho de playboy machista que ele é ao tentar diminuir o intelecto da companheira vociferando loucamente que estudou nas universidades e escolas mais tops (palavra usada por ele, risos) do Rio de Janeiro. Eu quis parar de ver o filme aí, mas decidi seguir em frente e observar até onde iria nosso amiguinho não-sou-branco-sou-brasileiro que deixou de ganhar muito dinheiro com o mercado financeiro (BUÁÁ!) para dedicar sua vida aos pobres e necessitados do continente esquecido. Ô dó! Ah, ele também dizia que não precisava de nada além de seus olhos, mas não largava por nada sua câmera profissional. Aparentemente a Nikon gerava menos peso na consciência do que colocar um Adidas no pé. Vai ver era por causa das fotos no instagram com as criancinhas pretas, sei lá. Não consigo romantizar, ver pureza ou ingenuidade nesse tipo de comportamento. Essa elite que se sente culpada por seus privilégios possui um discurso raso que diverge constantemente de suas ações. Depois que se cansam de brincar, voltam para o status quo de sempre. Enfim, não vale a pena perder tempo com tanta hipocrisia. Gabriel é o típico esquerdomacho politizado que vai tentar te conquistar recitando poesia e cantando MPB, e isso é tudo que você precisa saber.
Me pergunto como conseguiram a proeza de produzir um material tão desinteressante sobre uma figura tão interessante. Chatíssimo ver aquelas imagens passando como se fosse uma apresentação de power point. Montagem super estranha. Além disso, não vislumbrei nada de imperdível no documentário, principalmente para quem já leu "Carta ao Pai". Talvez sirva para despertar o desejo de ler Kafka em quem nunca o leu. Pra mim, que já tenho certa intimidade com a obra do autor, foi bem decepcionante. Dá nem vontade de escrever sobre. Sigo lendo os livros.
"O Poder é irmão da burrice, que é prima carnal do Estado e de uma cega chamada Justiça."
História, poesia, sertão, cordel, Lampião e Maria Bonita. Qualquer filme que explore algum desses elementos, me interessa. Não conhecia esse lado diretor/roteirista de Alceu, mas não dá pra esperar pouca coisa de um artista desse nível, né? Dá pra ver que cada detalhe foi cuidado com todo carinho e esmero do mundo. Com relação aos comentários negativos, só acho que a galera desenvolve critérios equivocados para a avaliação de certos filmes, e eu não consigo entender essa lógica torta. Parece que não pegaram a vibe teatral e lúdica da coisa, o que é uma pena. Não sei se é bairrismo ou o quê, mas penso que os defeitos que o longa carrega não se sobrepõem ao restante da obra. Para mim, cada minuto foi de pura contemplação e encantamento. Ah! Irandhir Santos é gênio!
GENIAL. GENIAL. E digo mais: GENIAL. Não é exagero afirmar que este seja, talvez, o melhor documentário de todos os tempos. A verdade é que há muito estava para ver "Cabra Marcado Para Morrer", mas havia resolvido assistir a obra apenas depois de ir visitar o museu de João Pedro Teixeira, em Sapé, lá na Paraíba. O que posso dizer é que essa decisão só engrandeceu minha experiência, e muito. Inevitável não pensar no sonho da reforma agrária - que até hoje não se concretizou. Perante tanta falta de comprometimento com o fim das desigualdades, injustiças e opressões, se faz mais necessário do que nunca seguir acreditando na flor que fura “o asfalto, o tédio, o nojo e o ódio.” E viva a mente de Eduardo Coutinho, que na sua humanidade e compromisso com a realidade concreta da vida diária, me ensinou a olhar o cinema com outros olhos!
Nelson Pereira dos Santos é um dos meus diretores preferidos e não me canso de revisitá-lo. Depois de uma revisita que durou quase dez anos para acontecer, me pergunto até quando este filme continuará terrivelmente atual. Passados sessenta e três anos, ainda me custa acreditar que essa realidade permanece quase intacta e o Brasil continua tão desigual quanto antes. Numa época em que tanta gente adora ver a pobreza fantasiada, Rio, 40 Graus segue sendo uma obra que fala por nós.
Sobre o poder da propaganda e narrativas apagadas. O que Hollywood sistematicamente fez com os árabes, à semelhança de como Goebbels retratou os judeus na propaganda nazista, também fez com os índios, negros, japoneses, russos e latinos. É conveniente fazer com que a população mundial tema um povo ao colocá-lo como bárbaro, pois assim torna-se mais fácil justificar invasões militares nesses países, entre outras violências. Essas narrativas distorcidas simplesmente roubam a humanidade de todo um povo e constroem o mundo em que vivemos, tudo isso através de filmes, séries e desenhos que ingenuamente assistimos. "Arte neutra" é uma falácia, sobretudo quando leva-se em consideração toda ideologia incutida no imperialismo americano. Cabe a nós buscarmos novas referências fora das lentes etnocêntricas da indústria cinematográfica de Hollywood.
Documentário muito necessário. Pena que um material com tamanha importância seja pouco conhecido e gere tão pouco interesse no grande público.
Eu me lembro de ir ao cinema São Luiz e assistir ao filme de Kleber Mendonça Filho pela primeira vez, há cinco anos atrás. Desde então, as histórias contadas aqui crescem um pouco dentro de mim a cada revisita. O Som ao Redor é daquelas obras que reafirmam o papel político e social do cinema. Assim como Glauber Rocha, Kleber usa o cinema como instrumento de catarse e provocação. Caetano tem razão, é mesmo um dos melhores filmes feitos recentemente no mundo. Cinema pernambucano é o novo Cinema Novo!
P.S.: A cena da cachoeira de sangue é tranquilamente a metáfora visual mais poderosa que eu já vi para o que foi e continua sendo o Brasil.
O Beijo no Asfalto foi a primeira peça de Nelson Rodrigues que eu li, lá pelos meus 11, 12 anos. Peguei o livro aleatoriamente na biblioteca da minha antiga cidade. Na época, não saquei muito a mensagem do texto porque nem sequer conhecia o autor. Esta adaptação costumava ser um desses filmes que passavam nas madrugadas da Globo, logo após o Programa do Jô. Me lembro de ter assistido às escondidas. Valeu a pena revisitar.
Ao final do filme eu, imediatamente, lembrei de Animais Noturnos. Não apenas pela misoginia incutida em ambos os roteiros, mas também pela facilidade em perdoar/remidir personagens masculinos violentos. Fiquei com a impressão de que o estupro da garota não passou de uma historinha de fundo para justificar atitudes execráveis de homens assumidamente racistas, homofóbicos e perigosos. Algumas atuações chegam a ser constrangedoras. A namorada do ex-marido de Mildred, por exemplo, não passa de um estereótipo mal construído. A ideia de ter na trama uma mulher abobalhada que fala o tempo todo coisas desconexas parece atender a dois propósitos muito claros: o de tentar forçar que o espectador desenvolva alguma empatia pelo ex-marido agressor e o de usar a 'burrice' feminina como alívio cômico. Eu preciso mesmo explicar porque é machista retratar mulheres dessa forma?
Sobre o personagem de Sam Rockwell e sua incoerência:
Nesse tipo de drama hollywoodiano, há sempre uma espécie de humanização do personagem ignorante. Como o próprio chefe de polícia descreve em sua carta de suicídio: "no fundo, ele é um homem decente". O problema é que nada em Dixon me diz que ele não cometeria, se tivesse a oportunidade, o mesmo crime que tanto parece lhe causar revolta. Aliás, é válido pensar se o estupro da adolescente geraria nele toda essa indignação se ela fosse negra. Na cena em que ele invade o estabelecimento para espancar o garoto que lá trabalha, é possível perceber pelo soco que ele disfere no rosto da secretária que o sujeito não se importava nem um pouco em fazer o mesmo com uma mulher. Mas tá tudo bem, ele só estava defendendo a honra do defunto amigo. Além disso, rolou até um pedido de desculpas depois (para o garoto, claro, não para a mulher que poderia ter morrido com aquele soco).
A cena em que a mãe deseja o estupro da própria filha durante uma discussão me incomodou, não era necessária. Recurso utilizado somente para intensificar a culpa na mulher. Ok, jovens são estúpidos o suficiente a ponto de berrar tais bobagens impensadas. Mas uma mãe dizer aquilo? Sério? O cretino do pai ainda tem a pachorra de usar isso para tentar culpa-lá ainda mais (logo depois de estrangulá-la). Faça-me o favor.
Também não entendi a função do anão para o desenvolvimento da trama. Qual era a dele? Ajudar a Mildred em troca de favores sexuais? Não duvido, foi o que pareceu. Btw, bem patético aquele sermão que ele dá no meio do restaurante.
Ao contrário do que possa parecer, eu não odiei a obra – até porque, querendo ou não, me peguei bastante comovida em certos momentos. Há cenas muito bem construídas, como a cena do monólogo com o padre. Em todo caso, o fato do roteiro ser tão problemático me impediu de apreciar a história e ser completamente envolvida pela sua tragédia. É o tipo de filme que vale a pena pelas excelentes atuações. Infelizmente, não me provocou grandes reflexões.
Olha, me desculpem, não gostei. Boring, despropositado, artificial, diria até irritante. Alguns diálogos são tão pretensiosos que quase me fizeram revirar os olhos. Nenhuma conversa soa orgânica, nada do que qualquer personagem fala parece natural, e toda vez que aquele moleque chato abria a boca eu tinha vontade de fechar o player e acabar de vez com a tortura que foi assistir esse filme até o final. Sem falar que essa estética clean me cansa um pouco. Mas ok, há quem curta. Talvez eu mude de ideia depois de discutir o filme com algumas pessoas cuja opinião eu respeito bastante. Por enquanto, posso dizer que, pessoalmente, a obra não me disse nada. Uma pena, pois considero Dente Canino um dos melhores roteiros já escritos nos últimos dez anos.
Filmes ruins que tratam de assassinos costumam desumanizar seus algozes, transformando-os em seres unidimensionais e estereotipados. Não é o caso de Hounds of Love. Abrindo mão da violência fetichista, o diretor Ben Young (que também assina o roteiro) parece compreender muito bem que o impacto não está no que é apresentado graficamente, mas na sugestão daquilo que não está sob o domínio dos olhos.
O quão vulnerável e manipulável pode ser uma pessoa que se encontra num estado crescente de miséria emocional?
Gostaria de focar na personagem Evelyn, pois é ela que oferece o contraponto. Sua falta de amor-próprio parece tão profunda e tão real que não pude deixar de sentir pena. Ao descobrirmos o quanto a ausência dos filhos lhe desestabiliza, percebemos que, embora não estivesse presa fisicamente, emocionalmente se encontrava tão amarrada e impotente quanto Vicki. É devastador acompanhá-la tentando, de todas as maneiras, agradar seu "companheiro" em troca de migalhas de amor e reconhecimento. Eu tive muita pena, mesmo. Baita atuação da atriz, que consegue passar toda fragilidade necessária para que o público se emocione e entenda um pouco dos conflitos internos que a personagem vivencia.
A narrativa calma e, por vezes, contemplativa, contrasta de maneira muito bonita com o elevado nível de brutalidade que o longa exibe. Enfim, uma verdadeira aula de como transformar uma estória banal em algo absurdamente bem feito. Recomendadíssimo.
Se por um lado o documentário traz uma visão interessante da vida artística de Brando, por outro há claramente uma tentativa de suavizar questões obscuras de sua personalidade e vida pessoal. Não é um material ruim. Seu problema é ser omisso quanto a realidade dos fatos. Vale a pena a conferida, mas não é, nem de longe, um registro imparcial da vida de Marlon Brando.
Talvez o filme mais desafiador da carreira de David Cronenberg. Tudo aqui é metáfora para uma análise profunda dá degradação humana. Consegui (depois da 3ª tentativa, diga-se de passagem) terminar o livro recentemente e confesso que não me agradou 100%. Apesar de Burroughs não ser o meu escritor favorito da literatura beat, é certamente o que mais me incomoda e exerce fascínio. Creio que a melhor forma de compreender um pouco dessa estória é concebê-la como um retrato da mente de um viciado e a descoberta de sua sexualidade (principalmente se você nunca leu nada do autor em questão). Fora disso, é complicado tentar encontrar qualquer lógica em tanta loucura. O excesso de surrealismo pode agredir a sensibilidade de alguns, mas não vejo como poderia ter sido diferente. É realmente uma pena um filme tão bom ser tão subestimado. Recomendadíssimo.
Uma obra feita com esmero, resultado de um ótimo trabalho de decupagem. O maior acerto do documentário é, de longe, trazer o passado à tona sem fazer uso de uma narrativa construída sobre a morte de Kurt.
Eu não espero nenhuma participação do Dave Grohl em qualquer produção que tenha o envolvimento da Courtney. Só acho que Novoselic, sendo o único da banda a ser entrevistado, poderia ter dito muito mais do que disse. Senti um misto de má vontade e desânimo toda vez que ele falava.
É um excelente material, que vale a pena ser conferido.
Há uma pedra estranha que me diz Que o vento se esconde num sopé Que o fogo é escravo de um pajé E que a água há de ser cristalizada Nas paredes da pedra encantada Os segredos talhados por sumé
Como se não bastasse a explicação mastigada no final, Aronofsky não se aguentou e saiu explicando as entrelinhas do filme nas entrevistas que andou dando por aí, parecendo nenhum pouco interessado na capacidade interpretativa de seu público. Em menos de uma semana a internet inteira já tinha sacado todas as simbologias e metáforas. Ele poderia ter dado uma de Lynch e entendido que o espectador precisa conversar com a obra, não com o diretor.
O Estranho que Nós Amamos
3.2 616 Assista AgoraTem que ter coragem pra chamar esse filme de feminista.
Eu fico de cara em ver como a Sofia Coppola consegue ser uma diretora cagona e omissa, às vezes. Ela é, literalmente, a única mulher em Hollywood que tem carta branca para dirigir e criticar o que quiser, mas em vez disso prefere abraçar uns discursos pra lá de esquisitos e inócuos. Você vai assistir o filme na fé, na maior disposição e boa vontade, pois, afinal, ninguém melhor do que uma mulher para contar uma história sobre mulheres, certo? Errado. O que ela fez aqui foi higienizar a obra original, eliminando a única personagem negra da trama e diluindo sem dó a complexidade dos três personagens principais (Martha, o soldado e Edwina). É completamente inverossímil uma história ambientada nesse contexto histórico e geográfico sem a presença de um(a) negro(a) sequer. Entretanto, não posso dizer que estou surpresa. Como alguém que já viu toda a filmografia da diretora, digo que é bizarra a ausência de pessoas de cor em suas produções. Coincidência? Depende da sua ingenuidade. Alguns falam, ainda, em "poder feminino", e eu me pergunto onde está esse poder. A verdade é que Sofia nunca dirigiu mulheres fortes, sempre pareceu se interessar muito mais por figuras passivas, apáticas e nada inspiradoras.
Só posso desejar que ela acerte na próxima e que Deus nos livre desse feminismo branco.
Eu Não Sou um Homem Fácil
3.5 734 Assista AgoraMuito bobinho e esteriotipado.
Esse lance de trocar de corpo para sentir na pele o quanto a pressão estética é uma porcaria sem sentido o Mel Gibson já fez lá no início dos anos 2000 e a gente cansou de ver na sessão da tarde. Compreender as violências que mulheres sofrem numa sociedade patriarcal e misógina é mais complexo do que colocar homens performando feminilidade e mulheres fazendo o inverso. É muito cansativo esse discurso vazio e delirante de que "ô, tá vendo como também seria péssimo um mundo onde as mulheres passassem a oprimir os homens". É delirante porque esse mundo nunca vai existir, assim como não haverá uma realidade onde negros oprimam brancos, e por aí vai. Por isso, penso que o filme mais atrapalha do que agrega ao debate. Ele, inclusive, ignora que a classe masculina que se encontra fora do espectro do que é considerado ser homem também enfrenta problemas de gênero (óbvio que esses problemas não se equiparam em medida ao que é causado às mulheres, mas eles existem). É bem questionável uma obra ter que chegar ao extremo do caricatural e da tosqueira para que se entenda todo processo sistemático de agressão ao qual uma classe da sociedade tem sido historicamente submetida. A luta pela libertação feminina deve ser apoiada porque essa estrutura ceifa vidas inocentes diariamente, não porque depilar a virilha é desconfortável ou qualquer coisa que o valha.
Não rolou para mim. Talvez role para quem viva debaixo de uma pedra e não faça ideia das transformações culturais pela qual a sociedade ocidental está passando. Tem gente que só entende certas coisas através do ridículo e não se importa em ter a própria inteligência insultada.
Noites de Cabíria
4.5 382 Assista AgoraA primeira coisa que me chama a atenção é a consciência que Fellini tinha do contexto político e cultural no qual estava inserido. "Le Notti di Cabiria" é mais do que uma estória de desesperança e desilusão, é um retrato de uma Itália pós-segunda guerra impregnada de machismo e submissão feminina. As desigualdades sociais e de gênero são profundas, elas ecoam em cada canto da cidade. Mediante a dureza da vida lá fora, nossa personagem sobrevive como pode, sempre orgulhosa de sua casinha modesta. Afinal, o pouco é sempre muito para quem não tem nada. À semelhança de Passolini, que conseguia criticar e ao mesmo tempo humanizar seus personagens burgueses, assim faz Fellini com Cabíria, que representa uma classe historicamente marginalizada, desprezada. Esta não é somente uma mulher com projeções românticas inocentes ou uma desencantada que vende o próprio corpo em troca de alguns tostões; Cabíria tem sonhos, anseios e um coração do tamanho de seu temperamento agitado. Me ponho em seu lugar e penso no quão desafiador deve ser transmitir amor quando você nunca o teve. Um amor que não cede, nem às piores tragédias.
Sei que a última cena pode parecer um desfecho triste e doloroso, mas ela serve como testemunho de que seguir em frente é necessário e permanece valendo a pena. Cada um de nós passou, passa ou passará por infortúnios que nos farão, mesmo que momentaneamente, acreditar que a vida é uma causa perdida. O cinema grita em alto e bom som que não, não é. É papel da arte esmagar a mediocridade e nos levar a crer em algo além da desmedida pequenez humana. Tudo se transforma, e olhares melhores virão.
Um das mais belas e arrebatadoras obras do neorrealismo italiano. Até aqui, meu Fellini favorito.
“Oscar D'Onofrio: Não se preocupe. Há coisas que a vulgaridade não toca. Alguém saberá apreciá-la. Sempre há alguém na multidão que irá compreendê-la.”
Blow-Up: Depois Daquele Beijo
3.9 370 Assista AgoraChatééééérrimo. Experiência péssima, traumatizante. Deu nem meia hora e eu já tava pedindo arrego. Depois que fechei o player parecia que eu tinha passado por um rodízio de Rivotril, ainda tô desnorteada. O filme trata de duas desgraças: a do protagonista, que descobre um assassinato(?), e a do espectador, que passará por uma verdadeira prova de resistência durante essas quase duas 2 horas de projeção. Demorei 24 anos para iniciar no cinema de Antonioni, provavelmente vou demorar mais 24 para reincidir. Truffaut tinha razão: BORING, BORING, BORING.
Adaptação.
3.9 707 Assista AgoraImagina alguém chegando pra Susan Orlean e dizendo: “Eu tenho duas notícias pra você: uma boa e uma ruim. A ruim é que cagaram teu livro inteiro. A boa é que a Meryl Streep vai te interpretar ”.
Construção de roteiro genial. Duas horas de verborragia do Kaufman falando através do Cage e um inception metalinguístico que não se via desde Otto e Mezzo. Cinema em seu estado mais puro e latente. Kaufman é MONSTRO demais!
Gabriel e a Montanha
3.7 141 Assista AgoraQue tortura chegar até o final disto. Na boa, é tão patético como brancos se acham os salvadores do mundo. Eu não apenas consegui criar zero empatia pela figura desse garoto insuportável, como nutri desde o início uma antipatia enorme por ele. Que sujeitinho egoísta, mimado, irresponsável e burro. Sim, burro. Altamente burro. Conseguiu ser mais burro do que o carinha de into the wild, e olha que esse outro tinha critérios bem mais convincentes para morrer por droga nenhuma. É tanta contradição e babaquice numa pessoa só que eu nem sei por onde começar... Na primeira discussão com a namorada fica claro o tipinho de playboy machista que ele é ao tentar diminuir o intelecto da companheira vociferando loucamente que estudou nas universidades e escolas mais tops (palavra usada por ele, risos) do Rio de Janeiro. Eu quis parar de ver o filme aí, mas decidi seguir em frente e observar até onde iria nosso amiguinho não-sou-branco-sou-brasileiro que deixou de ganhar muito dinheiro com o mercado financeiro (BUÁÁ!) para dedicar sua vida aos pobres e necessitados do continente esquecido. Ô dó!
Ah, ele também dizia que não precisava de nada além de seus olhos, mas não largava por nada sua câmera profissional. Aparentemente a Nikon gerava menos peso na consciência do que colocar um Adidas no pé. Vai ver era por causa das fotos no instagram com as criancinhas pretas, sei lá. Não consigo romantizar, ver pureza ou ingenuidade nesse tipo de comportamento. Essa elite que se sente culpada por seus privilégios possui um discurso raso que diverge constantemente de suas ações. Depois que se cansam de brincar, voltam para o status quo de sempre.
Enfim, não vale a pena perder tempo com tanta hipocrisia. Gabriel é o típico esquerdomacho politizado que vai tentar te conquistar recitando poesia e cantando MPB, e isso é tudo que você precisa saber.
Quem Foi Kafka?
3.8 15Me pergunto como conseguiram a proeza de produzir um material tão desinteressante sobre uma figura tão interessante. Chatíssimo ver aquelas imagens passando como se fosse uma apresentação de power point. Montagem super estranha. Além disso, não vislumbrei nada de imperdível no documentário, principalmente para quem já leu "Carta ao Pai".
Talvez sirva para despertar o desejo de ler Kafka em quem nunca o leu. Pra mim, que já tenho certa intimidade com a obra do autor, foi bem decepcionante. Dá nem vontade de escrever sobre. Sigo lendo os livros.
A Luneta do Tempo
3.4 88"O Poder é irmão da burrice, que é prima carnal do Estado e de uma cega chamada Justiça."
História, poesia, sertão, cordel, Lampião e Maria Bonita. Qualquer filme que explore algum desses elementos, me interessa. Não conhecia esse lado diretor/roteirista de Alceu, mas não dá pra esperar pouca coisa de um artista desse nível, né? Dá pra ver que cada detalhe foi cuidado com todo carinho e esmero do mundo. Com relação aos comentários negativos, só acho que a galera desenvolve critérios equivocados para a avaliação de certos filmes, e eu não consigo entender essa lógica torta. Parece que não pegaram a vibe teatral e lúdica da coisa, o que é uma pena. Não sei se é bairrismo ou o quê, mas penso que os defeitos que o longa carrega não se sobrepõem ao restante da obra. Para mim, cada minuto foi de pura contemplação e encantamento.
Ah! Irandhir Santos é gênio!
Cabra Marcado Para Morrer
4.5 253GENIAL. GENIAL. E digo mais: GENIAL. Não é exagero afirmar que este seja, talvez, o melhor documentário de todos os tempos.
A verdade é que há muito estava para ver "Cabra Marcado Para Morrer", mas havia resolvido assistir a obra apenas depois de ir visitar o museu de João Pedro Teixeira, em Sapé, lá na Paraíba. O que posso dizer é que essa decisão só engrandeceu minha experiência, e muito. Inevitável não pensar no sonho da reforma agrária - que até hoje não se concretizou. Perante tanta falta de comprometimento com o fim das desigualdades, injustiças e opressões, se faz mais necessário do que nunca seguir acreditando na flor que fura “o asfalto, o tédio, o nojo e o ódio.”
E viva a mente de Eduardo Coutinho, que na sua humanidade e compromisso com a realidade concreta da vida diária, me ensinou a olhar o cinema com outros olhos!
Rio, 40 Graus
3.9 86 Assista AgoraNelson Pereira dos Santos é um dos meus diretores preferidos e não me canso de revisitá-lo. Depois de uma revisita que durou quase dez anos para acontecer, me pergunto até quando este filme continuará terrivelmente atual. Passados sessenta e três anos, ainda me custa acreditar que essa realidade permanece quase intacta e o Brasil continua tão desigual quanto antes. Numa época em que tanta gente adora ver a pobreza fantasiada, Rio, 40 Graus segue sendo uma obra que fala por nós.
São Bernardo
4.1 66“Agitam-se em mim sentimentos inconciliáveis, colerizo-me e enterneço-me; bato na mesa e tenho vontade de chorar.”
O cinema nacional vive, assim como vivem os sertões de Graciliano Ramos, Guimarães Rosa e Euclides da Cunha.
Filmes Ruins, Árabes Malvados
4.2 28Sobre o poder da propaganda e narrativas apagadas. O que Hollywood sistematicamente fez com os árabes, à semelhança de como Goebbels retratou os judeus na propaganda nazista, também fez com os índios, negros, japoneses, russos e latinos. É conveniente fazer com que a população mundial tema um povo ao colocá-lo como bárbaro, pois assim torna-se mais fácil justificar invasões militares nesses países, entre outras violências. Essas narrativas distorcidas simplesmente roubam a humanidade de todo um povo e constroem o mundo em que vivemos, tudo isso através de filmes, séries e desenhos que ingenuamente assistimos. "Arte neutra" é uma falácia, sobretudo quando leva-se em consideração toda ideologia incutida no imperialismo americano. Cabe a nós buscarmos novas referências fora das lentes etnocêntricas da indústria cinematográfica de Hollywood.
Documentário muito necessário. Pena que um material com tamanha importância seja pouco conhecido e gere tão pouco interesse no grande público.
O Som ao Redor
3.8 1,1K Assista AgoraEu me lembro de ir ao cinema São Luiz e assistir ao filme de Kleber Mendonça Filho pela primeira vez, há cinco anos atrás. Desde então, as histórias contadas aqui crescem um pouco dentro de mim a cada revisita. O Som ao Redor é daquelas obras que reafirmam o papel político e social do cinema. Assim como Glauber Rocha, Kleber usa o cinema como instrumento de catarse e provocação. Caetano tem razão, é mesmo um dos melhores filmes feitos recentemente no mundo.
Cinema pernambucano é o novo Cinema Novo!
P.S.: A cena da cachoeira de sangue é tranquilamente a metáfora visual mais poderosa que eu já vi para o que foi e continua sendo o Brasil.
O Beijo no Asfalto
3.8 124O Beijo no Asfalto foi a primeira peça de Nelson Rodrigues que eu li, lá pelos meus 11, 12 anos. Peguei o livro aleatoriamente na biblioteca da minha antiga cidade. Na época, não saquei muito a mensagem do texto porque nem sequer conhecia o autor. Esta adaptação costumava ser um desses filmes que passavam nas madrugadas da Globo, logo após o Programa do Jô. Me lembro de ter assistido às escondidas.
Valeu a pena revisitar.
Três Anúncios Para um Crime
4.2 2,0K Assista AgoraAo final do filme eu, imediatamente, lembrei de Animais Noturnos. Não apenas pela misoginia incutida em ambos os roteiros, mas também pela facilidade em perdoar/remidir personagens masculinos violentos. Fiquei com a impressão de que o estupro da garota não passou de uma historinha de fundo para justificar atitudes execráveis de homens assumidamente racistas, homofóbicos e perigosos.
Algumas atuações chegam a ser constrangedoras. A namorada do ex-marido de Mildred, por exemplo, não passa de um estereótipo mal construído. A ideia de ter na trama uma mulher abobalhada que fala o tempo todo coisas desconexas parece atender a dois propósitos muito claros: o de tentar forçar que o espectador desenvolva alguma empatia pelo ex-marido agressor e o de usar a 'burrice' feminina como alívio cômico. Eu preciso mesmo explicar porque é machista retratar mulheres dessa forma?
Sobre o personagem de Sam Rockwell e sua incoerência:
Nesse tipo de drama hollywoodiano, há sempre uma espécie de humanização do personagem ignorante. Como o próprio chefe de polícia descreve em sua carta de suicídio: "no fundo, ele é um homem decente". O problema é que nada em Dixon me diz que ele não cometeria, se tivesse a oportunidade, o mesmo crime que tanto parece lhe causar revolta. Aliás, é válido pensar se o estupro da adolescente geraria nele toda essa indignação se ela fosse negra. Na cena em que ele invade o estabelecimento para espancar o garoto que lá trabalha, é possível perceber pelo soco que ele disfere no rosto da secretária que o sujeito não se importava nem um pouco em fazer o mesmo com uma mulher. Mas tá tudo bem, ele só estava defendendo a honra do defunto amigo. Além disso, rolou até um pedido de desculpas depois (para o garoto, claro, não para a mulher que poderia ter morrido com aquele soco).
A cena em que a mãe deseja o estupro da própria filha durante uma discussão me incomodou, não era necessária. Recurso utilizado somente para intensificar a culpa na mulher. Ok, jovens são estúpidos o suficiente a ponto de berrar tais bobagens impensadas. Mas uma mãe dizer aquilo? Sério? O cretino do pai ainda tem a pachorra de usar isso para tentar culpa-lá ainda mais (logo depois de estrangulá-la). Faça-me o favor.
Também não entendi a função do anão para o desenvolvimento da trama. Qual era a dele? Ajudar a Mildred em troca de favores sexuais? Não duvido, foi o que pareceu. Btw, bem patético aquele sermão que ele dá no meio do restaurante.
Ao contrário do que possa parecer, eu não odiei a obra – até porque, querendo ou não, me peguei bastante comovida em certos momentos. Há cenas muito bem construídas, como a cena do monólogo com o padre. Em todo caso, o fato do roteiro ser tão problemático me impediu de apreciar a história e ser completamente envolvida pela sua tragédia. É o tipo de filme que vale a pena pelas excelentes atuações. Infelizmente, não me provocou grandes reflexões.
O Sacrifício do Cervo Sagrado
3.7 1,2K Assista AgoraOlha, me desculpem, não gostei. Boring, despropositado, artificial, diria até irritante. Alguns diálogos são tão pretensiosos que quase me fizeram revirar os olhos. Nenhuma conversa soa orgânica, nada do que qualquer personagem fala parece natural, e toda vez que aquele moleque chato abria a boca eu tinha vontade de fechar o player e acabar de vez com a tortura que foi assistir esse filme até o final.
Sem falar que essa estética clean me cansa um pouco. Mas ok, há quem curta.
Talvez eu mude de ideia depois de discutir o filme com algumas pessoas cuja opinião eu respeito bastante. Por enquanto, posso dizer que, pessoalmente, a obra não me disse nada. Uma pena, pois considero Dente Canino um dos melhores roteiros já escritos nos últimos dez anos.
Predadores do Amor
3.5 79Filmes ruins que tratam de assassinos costumam desumanizar seus algozes, transformando-os em seres unidimensionais e estereotipados. Não é o caso de Hounds of Love. Abrindo mão da violência fetichista, o diretor Ben Young (que também assina o roteiro) parece compreender muito bem que o impacto não está no que é apresentado graficamente, mas na sugestão daquilo que não está sob o domínio dos olhos.
O quão vulnerável e manipulável pode ser uma pessoa que se encontra num estado crescente de miséria emocional?
Gostaria de focar na personagem Evelyn, pois é ela que oferece o contraponto. Sua falta de amor-próprio parece tão profunda e tão real que não pude deixar de sentir pena. Ao descobrirmos o quanto a ausência dos filhos lhe desestabiliza, percebemos que, embora não estivesse presa fisicamente, emocionalmente se encontrava tão amarrada e impotente quanto Vicki. É devastador acompanhá-la tentando, de todas as maneiras, agradar seu "companheiro" em troca de migalhas de amor e reconhecimento. Eu tive muita pena, mesmo.
Baita atuação da atriz, que consegue passar toda fragilidade necessária para que o público se emocione e entenda um pouco dos conflitos internos que a personagem vivencia.
A narrativa calma e, por vezes, contemplativa, contrasta de maneira muito bonita com o elevado nível de brutalidade que o longa exibe. Enfim, uma verdadeira aula de como transformar uma estória banal em algo absurdamente bem feito.
Recomendadíssimo.
A Verdade sobre Marlon Brando
4.4 71 Assista AgoraSe por um lado o documentário traz uma visão interessante da vida artística de Brando, por outro há claramente uma tentativa de suavizar questões obscuras de sua personalidade e vida pessoal. Não é um material ruim. Seu problema é ser omisso quanto a realidade dos fatos.
Vale a pena a conferida, mas não é, nem de longe, um registro imparcial da vida de Marlon Brando.
Eu, Tu, Eles
3.1 135Trilha sonora mais linda que existe, assinada pelo artista mais lindo do mundo!
Mistérios e Paixões
3.8 312 Assista AgoraTalvez o filme mais desafiador da carreira de David Cronenberg. Tudo aqui é metáfora para uma análise profunda dá degradação humana.
Consegui (depois da 3ª tentativa, diga-se de passagem) terminar o livro recentemente e confesso que não me agradou 100%. Apesar de Burroughs não ser o meu escritor favorito da literatura beat, é certamente o que mais me incomoda e exerce fascínio.
Creio que a melhor forma de compreender um pouco dessa estória é concebê-la como um retrato da mente de um viciado e a descoberta de sua sexualidade (principalmente se você nunca leu nada do autor em questão). Fora disso, é complicado tentar encontrar qualquer lógica em tanta loucura. O excesso de surrealismo pode agredir a sensibilidade de alguns, mas não vejo como poderia ter sido diferente.
É realmente uma pena um filme tão bom ser tão subestimado.
Recomendadíssimo.
Cobain: Montage of Heck
4.2 344 Assista AgoraUma obra feita com esmero, resultado de um ótimo trabalho de decupagem. O maior acerto do documentário é, de longe, trazer o passado à tona sem fazer uso de uma narrativa construída sobre a morte de Kurt.
O cinismo dos pais e da madrasta é impressionante. Sério, quem é que acredita naquele discurso tão dissonante e fajuto?!
Eu não espero nenhuma participação do Dave Grohl em qualquer produção que tenha o envolvimento da Courtney. Só acho que Novoselic, sendo o único da banda a ser entrevistado, poderia ter dito muito mais do que disse. Senti um misto de má vontade e desânimo toda vez que ele falava.
É um excelente material, que vale a pena ser conferido.
Soaked In Bleach
3.2 31Aberração cinematográfica é pouco pra esse lixo misógino, sensacionalista e pretensioso.
Nas Paredes da Pedra Encantada
3.7 5Há uma pedra estranha que me diz
Que o vento se esconde num sopé
Que o fogo é escravo de um pajé
E que a água há de ser cristalizada
Nas paredes da pedra encantada
Os segredos talhados por sumé
Mãe!
4.0 3,9K Assista AgoraComo se não bastasse a explicação mastigada no final, Aronofsky não se aguentou e saiu explicando as entrelinhas do filme nas entrevistas que andou dando por aí, parecendo nenhum pouco interessado na capacidade interpretativa de seu público. Em menos de uma semana a internet inteira já tinha sacado todas as simbologias e metáforas. Ele poderia ter dado uma de Lynch e entendido que o espectador precisa conversar com a obra, não com o diretor.