Tem um começo devagar, com uma vibe meio novela das 9. No princípio, conhecemos muito pouco dos personagens e, enquanto isso não é desenvolvido, algumas cenas não causam o que talvez pretendessem causar. Com o próprio tempo de tela, a janela vai abrindo e a gente vai lentamente conhecendo algumas camadas da história.
O filme é bem simples, não parece ter pretensões muito grandiosas. Uma música de fundo num violão de nylon bem madrileno que de vez em quando entra pra dar o tom de melancolia, paisagens muito bonitas, um duo/trio de protagonistas que carregam a peteca muito bem. Agradável de ver, se alinharmos as expectativas direitinho no começo. O cachorro acho que foi colocado no elenco pra criar alguns momentos de fofura,
Bom filme. Triste, angustiante, mas convincente, verdadeiro. É uma história que serve de pretexto para falar sobre diversos ângulos que são expostos, como o da miséria, da corrupção, do desamparo estatal para com parte do povo, da marginalização do indivíduo. Não entendo muito dos assuntos socio-políticos tratados no filme, nem como era a antiga Iugoslávia que deu lugar à Sérvia que vemos, então meu ponto de vista foi o de um leigo funcional.
A jornada do Nikola começa sem o conhecimento dele, no pátio daquela escola, na cena da autoimolação; ela termina naquela cozinha solitária enquanto ele digere a semana que acabou e a próxima que virá. Mas pra mim essa história foi só um pretexto para o filme, como falei acima. Quem se apega demais a ela, pode acabar frustrado, pode achar o fim abruto ou incompleto.
Penso que o filme em si usa esse episódio da mãe e depois a peregrinação do protagonista como base para o restante das coisas que ele quer mostrar. Ele nos mostra a pobreza extrema, a miséria; mostra como são o presente e a perspectiva de futuro de quem vive nela; mostra também como a sociedade é irremediavelmente despreparada para essas pessoas ("Pague as contas atrasadas". "Compre uma geladeira para o verão", "Compre um notebook, estamos no séc. XXI", "Envie um e-mail para nossa ouvidoria"). Por mais que aquele projeto de MILICIANO de terno e gravata tenha agido de forma criminosa, o tempo todo fica evidente que ele tem o amparo da máquina para fazê-lo.
É um daqueles filmes que em diversos momentos fica algo entalado na garganta. É revolta, é impotência.
Nikola vai em busca de justiça. Na verdade, ele só quer ser ouvido. Se você é pobre, se não sabe o que vai comer daqui a 2,3 dias, e a máquina resolve jogar contra você, você coloca a única coisa de valor que tem na mesa: sua vida. Ele vai em busca disso da única forma que pode, se expondo ao seu fim o tempo todo, O perigo vem de todas as direções: de lobos a moradores de rua, de engravatados a veículos em autoestradas.
O filme mostra uma série de encontros ao longo do caminho. Nenhum deles é muito longo, mas todos contam algo sobre o mundo em que vive Nikola. Seja um cão faminto que vira companhia que tão logo é perdida; seja um atendente de posto que é humilhado no dia-a-dia e ainda encontra energia para ter empatia e fazer o bem; seja o filho da puta engravatado que assinou uma carta-esmola que ele sabia não ser solução pra nada, mas quis sair por cima, com uma foto com a sub-celebridade quente do momento. É um mundo extremamente cruel e desolador, em que se tem pouquíssimos motivos pra ter esperança. Mesmo quando as perdas materiais não advêm da maldade humana (como mostra a inesquecível cena final após o esvaziamento da casa dele) há então o oportunismo. Há um envenenamento das pessoas em decorrência das "regras do jogo". É assim que é.
A mensagem "positiva" que consigo tirar dessa catástrofe social que assisti é que o amor realmente é a coisa mais forte e mais valiosa do mundo. Quando se tem ele, é possível abrir mão de coisas inimagináveis. Em nome dele, passamos fome, frio, medo, dor. A vida do Nikola não tem motivos pra mudar da noite pro dia, nem a de tantos Nikolas espalhados pelo mundo. Mas a esperança que o filme mantém acesa dentro dele por duas horas pelo menos segue viva. O diretor deixa alguns fios bem finos pra gente imaginar e seguir. Talvez a assistente social consiga desembaralhar algum acordo; talvez o amigo da van consiga ajuda-los a sumir do mapa; a verdade é que o filme nunca prometeu essas respostas, ele só quer que a gente reflita sobre os recortes que ele mostra.
Distraído, dá pra passar o tempo. Mas a história não é interessante, sendo mais do mesmo. Chutaria que 70% do tempo de filme são cenas de 'tailing', pessoas 1,2,3 seguindo alvos 1,2,3, repetidamente, Faltou inspiração. Roteiro fraco e personagens também são bem previsíveis, sendo basicamente arquétipos:
- detetive grosseiro/tosco, mulherengo, com diversos problemas que tem seus momentos brilhantes e conquista a confiança de alguns com essa dinâmica; - detetive parceiro é mais caseiro, mais contido, mais apresentável, mas é um escudeiro leal; - traficante europeu da terceira idade com roupas mais elegantes, bengala/guarda-chuva dão aquele toque 'vou escapar por entre seus dedos porque sou inteligente e classudo'; - pretos marginalizados envolvidos com drogas/bares ilegais, exceto por aquele eventual policial infiltrado que chega a ter que levar porrada pra "manter as aparências";
Outro ponto que incomoda as pessoas em diferentes níveis, mas a mim muito, é a falta de coerência de várias cenas, das pequenas às mais importantes. Exemplos:
- O cara sobe de escada até a cobertura de um prédio onde há um sniper que tentou matá-lo. Chegando lá, olha para o térreo e vê o cara correndo em disparada para longe dali. Ele sai da sacada, desce todos os andares de volta e, chegando lá embaixo, ele tá a cerca de 5 segundos de alcançar o cara. Oi?
- Desmontam um automóvel clássico, bonito, à base da marretada e faca, virando o carro quase literalmente do avesso para encontrar drogas. Ponto 1: volantes e área embaixo da mala, as partes mais óbvias, foram esquecidas/deixadas para o fim? Ponto 2: a velocidade com que aquele carro foi remontado e devolvido é simplesmente um insulto á nossa inteligência.
- Um terrorista baleia (e mata?) um policial dentro do trem e na sequência faz o maquinista de refém. Como assim as pessoas 5 minutos depois estão andando pelo primeiro vagão do trem, perguntando se "está tudo bem aí, maquinista?". Parecia que eu tava jogando GTA San Andreas nessa cena. Dividindo a calçada com pedestres normalmente depois de acertar um tiro de bazuca em um caminhão.
Coisas desse gênero são pra mim bastante perdoáveis em filmes que, à parte delas, são coesos e imersivos, estimulantes. Mas, em filmes que já não enchiam os olhos, elas são bem difíceis de ignorar.
Não é um filme repugnante, inassistível, nada do tipo; só é fraquinho.
Distraído, dá pra passar o tempo. Mas a história não é interessante, sendo mais do mesmo. Chutaria que 70% do tempo de filme são cenas de 'tailing', pessoas 1,2,3 seguindo alvos 1,2,3, repetidamente, Faltou inspiração. Roteiro fraco e personagens também são bem previsíveis, sendo basicamente arquétipos:
- detetive grosseiro/tosco, mulherengo, com diversos problemas que tem seus momentos brilhantes e conquista a confiança de alguns com essa dinâmica; - detetive parceiro é mais caseiro, mais contido, mais apresentável, mas é um escudeiro leal; - traficante europeu da terceira idade com roupas mais elegantes, bengala/guarda-chuva dão aquele toque 'vou escapar por entre seus dedos porque sou inteligente e classudo'; - pretos marginalizados envolvidos com drogas/bares ilegais, exceto por aquele eventual policial infiltrado que chega a ter que levar porrada pra "manter as aparências";
Outro ponto que incomoda as pessoas em diferentes níveis, mas a mim muito, é a falta de coerência de várias cenas, das pequenas às mais importantes. Exemplos:
- O cara sobe de escada até a cobertura de um prédio onde há um sniper que tentou matá-lo. Chegando lá, olha para o térreo e vê o cara correndo em disparada para longe dali. Ele sai da sacada, desce todos os andares de volta e, chegando lá embaixo, ele tá a cerca de 5 segundos de alcançar o cara. Oi?
- Desmontam um automóvel clássico, bonito, à base da marretada e faca, virando o carro quase literalmente do avesso para encontrar drogas. Ponto 1: volantes e área embaixo da mala, as partes mais óbvias, foram esquecidas/deixadas para o fim? Ponto 2: a velocidade com que aquele carro foi remontado e devolvido é simplesmente um insulto á nossa inteligência.
- Um terrorista baleia (e mata?) um policial dentro do trem e na sequência faz o maquinista de refém. Como assim as pessoas 5 minutos depois estão andando pelo primeiro vagão do trem, perguntando se "está tudo bem aí, maquinista?". Parecia que eu tava jogando GTA San Andreas nessa cena. Dividindo a calçada com pedestres normalmente depois de acertar um tiro de bazuca em um caminhão.
Coisas desse gênero são pra mim bastante perdoáveis em filmes que, à parte delas, são coesos e imersivos, estimulantes. Mas, em filmes que já não enchiam os olhos, elas são bem difíceis de ignorar.
Não é um filme repugnante, inassistível, nada do tipo; só é fraquinho.
Não gostei. Apesar de curto, pareceu longo. Contemplativo "demais", documental "demais", não parece feito pra ser entretenimento, mas um diário sobre a a velhice e as dificuldades compartilhadas por dois personagens idosos em um lugar remoto, praticamente desconhecido à sociedade.
Os dois protagonistas por vezes não parecem atores e sim nativos da região. Não digo isso como um elogio. Havia uma artificialidade, cenas pouco naturais no longa, frases soando ensaiadas. Em termos de recheio, há muito pouco nesse filme. Ele começa devagar-quase-parando e não muda de marcha praticamente em momento nenhum. Uma ou outra cena trazem um pouco mais de angústia, mas fica nisso. Difícil de assistir.
- É algo meu, mas não consigo dizer que "terror" e "pós-apocalíptico" são dois gêneros que podem ser a mesma coisa, a depender do filme. Claro que é tudo questão de gosto e afinidade pessoal, mas eu acho que filmes pós-apocalípticos têm se tornado um dos assuntos que eu menos gosto no cinema (terror também, mas isso é outra conversa). Preciso abrir uma lista dos pós/pré apocalípticos mais importantes e checar se estou falando alguma besteira,
mas eu sinto o mesmo DNA em todos: clichês, decisões duvidosas, atos de heroísmo e sacrifícios perfeitamente previsíveis, sentimento de desolação. E nada disso me parece construído de forma rica. Vai mais pro lado da preguiça, de repetir uma fórmula já estabelecida. É medo, exploração, alguém faz cagada(s), pondera, e no fim vira tudo correria, seguida de alguma esperança.
Sinto falta de um toque mais cabeça, de mais criatividade, de sair um pouquinho do livro de receita. Já que o tema atiça nossa curiosidade, por que não dar uma sacudida nele?
- O filme não é ruim! Aliás, o tempo fiquei razoavelmente curioso. O problema, como já falei aí em cima, é que agora olhando em retrospectiva ele tem todos os traços pra virar aquela experiência que daqui a duas semanas eu não lembro nome, enredo, final, nada, só por alto mesmo. E isso é uma bosta (mas se você curte o gênero, cai dentro, provavelmente você vai curtir [se já não tiver visto a essa altura, né]).
- Falando em idade do filme, que videozinho nojento. A qualidade das filmagens é ruim demais. Ponto. Envelheceu mal. Tenho dúvidas se algum dia foi considerada bonita. "Ah, é estética" - não! É feio mesmo. Parece que to vendo um vídeo gravado no celular daquele menino rico e talentoso da turma do ensino médio nos anos 2000. O celular dele era absurdo pra época, mas levar as gravações dele pro cinema é complicado. A gente acaba acostumando com o andar do filme, mas fica o engasgo. E a sensação de que dava pra ser bem mais caprichado. Dizem que ajudou nas gravações "ágeis", pra aproveitar os momentos da cidade vazia e desmontar rápido pra mudar de locação.
- O que me leva ao último item: que doideira ver Londres, por diversos ângulos, deserta. Passei um bom tempo achando que tinha dedo grande de computador nessas cenas, mas ao que parece, foi daquele jeito que rolou mesmo. Travando trânsito e aproveitando as primeiras horas do dia!
Tinha potencial, mas a sensação que dá é que foi "só mais um" filme sobre vingança. O filme não consegue se sobressair nem quando tem suspense, nem quando tem romance, nem quando tem humor. Fica evidente a crítica aos homens, mas os personagens me pareceram tão caricatos, as cenas tão rápidas, que não dá pra levar aqueles caras a sério.
"A maioria dos homens é exatamente assim."
Eu imagino, mas colocar macho escroto em habitat natural sem criar uma narrativa mais legal, nem que fosse pela história, não criou entretenimento diferente do que já tem a rodo por aí. Não sei bem que mensagem tirar de tudo que rolou. Não é ruim, mas deixa um gosto de "que pena que não foi mais".
Fazia muito tempo que eu não ficava tão puto torcendo pra um filme acabar logo. Horrível, pastelão, machista, afundado em clichês, uma bagunça sem qualquer inspiração, lógica ou coerência. Nem a possível ponta de nostalgia do jogo que o filme deixaria termos salva qualquer parte desse desastre. Pavoroso.
Vi sem qualquer expectativa e curti demais. A história é extremamente simples e batida, mas o toque técnico do diretor e personagens bem escritos fazem toda a diferença, né? É gostoso demais ver o protagonista e o universo de suporte ao redor dele navegarem pelas águas da Rushmore. Algo que me agradou foi o tipo de humor que é usado nas cenas, às vezes debochado, ácido ou repentinamente infantil, é como se essas facetas adicionassem uma imprevisibilidade boa às histórias.
É como se o filme é fosse a consequência de colocarem a sessão da tarde numa colônia de férias cult. A simplicidade e a acessibilidade estão ali, mas há um cuidado técnico e uma criatividade que deram um up muito bom no conjunto da obra.
A essa altura eu podia abrir um clube de críticos amadores de cinema no Filmow, anota aí alguns nomes...
Bem mais ou menos. Concordo com algumas leituras abaixo, tinha potencial, mas a história nao é coesa. Parece juntar coisa demais, em espaço de menos. Dada a quantidade de elementos que resolveram botar na trama, precisavam de mais capricho em ligar os pontos, na hora de escrever personagens também - eles parecem viver em uma realidade muito simplista, imediadista.
Esse aqui é difícil fazer comentário curto. Mas acho que fazer comentário longo também seria... Então resolvi fazer pontuações gerais:
- Interessante ver como ele baila entre gêneros. Não é comédia e não é drama, apesar de ser ambos. Por vezes, a virada de chave entre humor e melancolia é tão sutil que você não percebe de imediato. - Achei a narrativa bem original. As partes isoladas do que ele faz talvez não fossem originais por si, mas o todo ficou bacana.
Chuto que 99% de nós já viu filmes com cenas de personagens enchendo a cara e curtindo a noite, mas eu pessoalmente nunca cheguei tão perto de me SENTIR bêbado vendo uma cena com personagens bêbados como rolou aqui kkkkk. A sequência do "capítulo exagero" do experimento é cinema do mais alto nível, diversos nuances, uma montanha russa de emoções.
- Mads Mikkelsen é um ator extraordinário, e olha que a cara natural dele está longe de ser expressiva. O cara deu aula no papel de professor semi desiludido, estacionado com o boi em uma sombra meio bosta na vida, mas com combustível pra queimar e experiências pra viver. - Pessoalmente, acho adolescentes e jovens meio chatos. Os que estão no ápice alcóolico da vida são especialmente chatos. Por sorte, o filme não dá tanta moral pra eles (em tempo de tela e importância na narrativa). - Pra mim é um filme slow burn. Lentidão obviamente é algo subjetivo e tem gente que vai discordar de mim, mas tudo bem. O filme é contemplativo, é sobre estar perdido e encontrar, não necessariamente só coisas boas.
A reta final, que parece ter agradado bastante gente, eu achei um pouco acelerada.
Achei que essa escalada do enterro para o almoço para mensagem da ex para a dança no meio dos alunos meio corrida, sem desenvolver tão bem as emoções (não tirando o mérito do amigo dançarino no final, que foi um arraso kkkk).
O cúmulo disso pra mim foi a cena aleatória em que um Bruce Willis completamente sem carisma aqui desabafa pro coroa stalker ensandencido: "- e agora, o que eu faço? - ... Vá para onde há pessoas (??????), [abra os bracos pra encostar nelas e brincar de minority report...]
A primeira metade do filme é aceitável, ninguém aqui em casa estava incomodado com o filme, mas a partir de certo ponto parece que o balde é chutado, passaram a marcha dos clichês aleatorios e não olharam mais pra trás.
Fofo, agradável, com boas tiradas, curto. Inofensivo, não parece almejar a "reinvenção da roda", fica em território seguro (de alto nível!).
Aos que não conseguem evitar comparações do bem, não causou o impacto emocional contido em Up ou Viva, por exemplo. Achei esse mais contido, com personagens muito, mas muito menos profundos ou trabalhados. Simplicidade é a palavra de ordem aqui. Quase tudo que vemos, da motivação do protagonista até os minions-celestes-do-bem, são transparentes e simples.
Um filme que estreou na melhor ocasião do ano pra ser visto, uma tarde de natal preguiçosa, pós almoço, pra dar umas risadas e curtir a estética padrão Pixar de qualidade.
Repare que as reviravoltas e surpresas parecem orquestradas, executadas à perfeição. Há várias, mas nenhuma parece ser "acima da verdade". O próprio Darin, quando faz uso incansável dos seus "golpinhos" clichês, como nas ocasiões em que combina com alguem de roubar a maleta aos 45 do 2o tempo, está perfeitamente dentro do seu personagem e do que se esperaria dele. Você sabia que certas coisas iam acontecer, mas elas acontecem sem destoar. No fim das contas, o filme nada mais é do que o suposto aluno dando uma aula no suposto professor, em um nível que este, apesar de macaco velho, nem sequer cogita.
Ah, como eu queria que tantos filmes orientais aprendessem a dosar os plot twists como esse filme aqui. Até o fim, o cheiro de "algo vai acontecer" fica no ar. E não incomoda, é um jogo divertido de jogar como expectador. Não tive a sensação em momento nenhum de que estavam forçando a barra, a dúvida sempre foi "qual vai ser a próxima picaretagem?"
Quando tudo acaba e fazemos um exercício de recriar cada passo, colocamos os pingos nos i's e aplaudimos. Baita filme pra se ver pela segunda vez!
Excelente filme. Mostra de uma forma delicada, cuidadosa, porém atroz o mergulhar em uma vida completamente diferente e cruel aos nossos ouvidos destreinados para ela. Não sei se é impressão, mas senti o tempo todo uma pegada que vai na contramão do que normalmente vemos em dramas típicos de Hollywood. Vi aqui calma, cadência, um refletir a cada cena, um amadurecimento de personagem e expectador, uma história que não está preocupada em aparar cada aresta, em direcionar cada fio solto, sem se tornar chato em momento nenhum.
Acaba não sendo sobre o Vietnã, nem sobre os "subversistas", nem sobre o sistema jurídico. As 3 perspectivas acabam simplificadas ao extremo e o filme em si é mais um esforço artificial que, ora inflama, ora indigna, mas não se decide sobre o que falar como gente grande.
Olhando de longe, é como se víssemos hippies de um lado, a politicagem podre do outro, e a partir daí é uma corrida pra ver quantos minutos aguentamos até arremessar o controle na tela na direção do juiz. A história em si acontece mais nos parágrafos antes dos créditos que no filme.
Mas não é ruim não. É so mais um que entra pra lista dos
"filmes de tribunal (mas não é possível que isso seja frustrante assim na vida real)"
Uma das experiências mais bizarras que já vi. Não vou escrever nada muito longo porque ja faz umas semanas que assisti, mas uma coisa me marcou - pra filme bizarro funcionar minimamente comigo, tem que ir ficando bizarro aos poucos, com jeitinho. Abre com uma pegada meio suspense, meio policial. Vai abrindo espaço como quem não quer nada praquelas pitadas de sobrenatural. Antes de chutar o balde, eu preciso me interessar pelas pessoas ou pela história. Só aí você me
mostra dois seres de uma raça superior desconhecida fazendo sexo explícito ao melhor estilo "plantando a sementinha quando se amam muito.
Nada espetacular como um todo, mas definitivamente diferente, inovador. Quando acabar, a maioria não vai estar boquiaberta (isso fica a cargo de outras cenas), mas imagino que minimamente surpresa com o rumo que a coisa levou.
Ah, se você não viu ainda, da uma olhada no que o pessoal da maquiagem fez nesse filme com os protagonistas. Palmas de pé pra eles!!
É um filme esquisito. Não é ruim, mas também não é bom. Não é um filme do subgênero 'fuga de prisão'. É quase uma sátira a ele. Mas é também tanta coisa estranha junta que não sei bem. Roberto Benigni tem uma aura engraçada. É impossível não gostar dele em cena. Acho que se ele fizer papel de Bolsonaro eu não vou conseguir odiar ele.
Enfim. É uma distração legal, mas bem lento, bem exótico. A história contida nele poderia ser quase um curta. Não reclamando da duração, que é tranquila, mas poderia. Realmente pouca coisa acontece.
Ah, e "Dunbailó?" Azar de quem achei que a indústria de nomes de filmes por aqui não tinha mais como me surpreender.
Assisti esse filme com expectativa grande. Parece contraditório pra alguém que esperou mais de ano podendo ver, mas é verdade. Quando entrou no meu radar de novo recentemente, tinha os ingredientes que costumam me agradar. Direção de arte impecável, fotografia que parecia dar um tom que é mistura de nostalgia com pertencimento, com amor, com reflexão. Artistas fodas carregando o piano.
Mas tirando os artistas, eu achei esse filme extremamente chato. Ele parece ser um recorte de uma ou mais histórias interessantes, mas do jeito que veio não é em si interessante. A crítica social é clara e importante, mas ela sozinha não me vendeu um filme de duas horas.
Adoro o fato de que poderíamos ser eu e você. Poderiam ser nossos pais. História de gente como a gente, atravessando mais baixos do que altos. E não é assim que costuma ser?
Experiência rara que combina romance, drama e comédia sem pisar em falso nem por um segundo sequer. Personagens interessantes e especialmente humanos. É um filme que provavelmente dialoga mais intensamente com quem já viveu um amor, com quem acompanhou os capítulos iniciais e a sua queda. O filme é uma reescrita dessas quedas. Fantasiosa? Talvez, mas profundamente crível.
A vibe Show de Truman está aqui, fortíssima. Assim como por lá, é parte vital da narrativa. E talvez ainda mais especialmente, porque aqui quem mexe as marionetes é também parte dessa história - o roteiro é escrito coletivamente e enquanto a trama progride. Ah, e as atuações de atores e atrizes brincando de vida real são simplesmente fenomenais. Carregam o filme do início ao fim. Maravilhosos.
E me alegro em poder dizer que o filme não toma a saída mais fácil das situações que cria. O botão chamado clichê-master fica coçando no fundo da minha mente, aquele trauma de ver algo desmoronar sem aviso só porque a produção está ficando sem dinheiro, ou porque precisa agradar a determinada fatia do público, ou apenas porque a alternativa é complicada demais? Quem for esperando aquela linha piegas, esperando aquele desenlace padrão, praticamente não vai vê-los. Essa jornada pelo amor termina como começa, com energia, com autoconhecimento, com bagagem, com história pra contar.
E que venha o próximo capítulo pra todos nós. É o que a gente ama fazer, afinal, né?
"Vindo de fora, é difícil compreender onde termina a pobreza e começa o romance quando se olha para Havana. Como tantos outros lugares pelo mundo onde música poderosa foi criada em circunstâncias desesperadoras, um misticismo evoluiu ao longo do tempo e ocultou suas origens. Apesar de não ser intencional, essa mesma barreira existe nesse filme (...). Esse documentário deixou sempre a sensação de não conseguir, de fato, compreender a música."
Esse trecho acima, de uma crítica que li em site concorrente e me marcou e me identifico muito com a leitura que faz. É também sobre a crítica mais frequente que você encontra por aí sobre Buena Vista Social Club - o filme que "ignora" aquilo que vai além do básico. Na prática, isso significa que dão tempo às cenas apenas pra te situar nos "quem/quando/onde/como", mas pula-se completamente o "por que".
Que gênero musical é esse, quais suas raízes, ele era uma resposta a quê, influenciou e foi influenciado por que e tudo mais. Não tenho conhecimento da história cubana, mas quem tem ficou um pouco decepcionado. Daqueles filmes que a gente gosta, mas sabe que não tirou 10.
Fora esse ponto, é uma experiência grande. A história por trás da "coincidência" que foi a banda é muito bonita, e os músicos por trás dela, mais ainda.
A sequência final mostrando um pouquinho do que foi a visita a Nova Iorque para a apresentação no Carnegie Hall é linda, apesar de simples.
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O que concluo no final é que tem tanto talento, história, musicalidade e energia naquilo tudo que não tem como atravessar o filme sem sentir um pouco dessa carga. Quem não conheceu os caras, que bela porta de entrada!
Um bom filme, dependendo do seu estado de espírito.
Fé Corrompida é uma experiência sombria, melancólica. Um homem que parece estar pagando os pecados de uma dezena, um passado com cicatrizes que simplesmente não têm como fechar, um presente feito de solidão e apatia, uma completa falta de propósito na vida fazem da dor do reverendo Toller a nossa própria. A tristeza do personagem é muito bem retratada e parece que entramos em uma espiral de sofrimento junto com ele, e lentamente vamos descendo...
O roteiro não é mirabolante, mas sua simplicidade não o impediu de me surpreender mais de uma vez com o rumo que tomava. O filme dialoga centralmente com questões existenciais, ambientais, religiosas, capitalistas e isso é feito com limitações, não é aprofundado. Consigo entender que alguns se frustrem caso o assistam com foco nessas temáticas.
Não, o filme é mais sobre o homem do que sobre o mundo. Eu vi o mundo e suas mazelas como pano de fundo pra história desse cara e assisti-lo pouco a pouco perder o pouco de controle que tinha sobre a vida é angustiante. Hawke está muito bem, e os diálogos são interessantíssimos. Exemplo ótimo de filme que controla muito bem seus momentos de menos intensidade com conteúdo, reflexões.
Algo que me marcou, obviamente, foi a cena final. Tem cenas finais que, quando chegam bruscas como foi o caso dessa, deixam a gente puto. Indignado. Essa não. Não pra mim, pelo menos. Os minutos finais são intensos, com adrenalina e a surpresa mal chega - os créditos sobem (não sem alguns segundos de tela preta antes, pra criar ainda mais ansiedade). Alguns dizem que o final aparentemente feliz é meio inadequado pelo que foi o filme. Eu discordo totalmente que sequer seja um final feliz. O mundo parece ter vencido. O cara enlouqueceu, chutou o balde, está com uma doença em estado grave, se não terminal. Não vejo muita saída. O desfecho me pareceu mais uma forma de se despedir com uma lembrança gostosa, alegre. Mas não deixa de ser uma despedida.
O filme tem não só na premissa, mas no ritmo características bem diferentes. À primeira vista, vendo trailers ou fotos do filme, ficamos intrigados com o que vemos. Diferentemente de tudo que estamos acostumados a ver em filmes sobre fantasmas, aqui eles perambulam para cima e pra baixo em sua clássica forma infantil de lençol-que-flutua (Casey Affleck realmente interpreta o fantasma em cena e para isso colocou enchimentos e um arco sobre a cabeça, dando forma ao espectro).
É difícil definir um único tema para o filme. Ao mesmo tempo que aborda a vida e a morte, saudade e perda, ele dialoga intensamente com o passar do tempo. Aqui, passado, presente e futuro tem contornos pouco definidos e somos convidados a refletir sobre como viemos parar aqui e para onde estamos indo. O filme é extremamente contemplativo e se desenvolve sem pressa nenhuma, algo que certamente desagrada uma parcela da audiência. O diretor usa takes longos para desenvolver diversas cenas e mostra não ter pressa alguma para chegar ao seu destino final. Destino final este, suspeito, talvez nem ele saiba ao certo qual é e fique mais em um plano abstrato, diferente pra cada pessoa que assiste.
Algumas cenas se demoram a ponto de nos questionarmos se alguém esqueceu a câmera ligada e precisou sair do set, lembrou que deixou o fogão aceso, talvez.
Em uma de suas icônicas cenas, Rooney Mara é o foco da imagem durante mais de cinco minutos, com pouquíssimos cortes, enquanto come uma torta. Contudo, trata-se de uma cena intensa e emocional. Ela foi feita em apenas um take (apesar de inúmeras tortas sem glúten e de chocolate vegano terem sido assadas pela produção) e a atriz e o diretor divergem em relação à sua qualidade (da torta, não da cena).
O filme inteiro é apresentado em um formato de tela diferente do padrão, praticamente quadrado, em vez do tradicional aspecto retangular. David Lowery, diretor e roteirista do longa, afirma que essa opção pareceu esteticamente correta e que ele busca transmitir a sensação de “estarmos presos em uma caixa por toda a eternidade”. A bela fotografia e uma trilha sonora que transmite a dose certa de mistério e melancolia, dão ao filme um ponto de destaque nos quesitos técnicos. A dor e o vazio de ver lugares familiares mudados, vazios, abandonados são sentidos em primeira mão por quem assiste. Por mais que a morte seja uma certeza indiscutível na vida de todos, o filme escancara alguns de seus desdobramentos e nos desafia a aceitarmos que, independente de como e quando aconteça com a gente, as coisas não param e nunca vão parar. Amores partem, sonhos acabam, encontros não acontecem e a vida continua, como sempre continuou desde tempos remotos.
Apesar dessa vibe introspectiva e da beleza da sua mensagem, o filme não é uma venda fácil de fazer pros amigos e é preciso escolher a dedo o tipo de pessoa que gosta de encarar rolês assim. Ele tem uma abordagem que definitivamente exige paciência do público e não é do tipo que “queima devagar até que explode”. Ele queima devagar e se apaga devagar, com a esperança de que, enquanto brilhou, conseguimos nos envolver o suficiente com sua luz trêmula. Muita gente não conseguiu. Arrisco dizer que é um candidato forte à categoria dos “ame-os ou deixe-os”.
Em uma nota mais leve, na ocasião das filmagens, Rooney Mara foi instruída
a realmente escrever uma mensagem no bilhete que sua personagem deixa escondido no vão da parede e solicitada que não a revelasse a ninguém. A mensagem ainda estava lá quando a casa foi demolida e atualmente a atriz não se recorda do que estava escrito.
Poucas coisas são tão irritantes quanto os exageros desnecessários de alguns filmes orientais (1) e quando cineastas perdem a mão com os famigerados plot twists (2). Quando combinam as duas coisas, puta que pariu. Me diga aqui, qual a vantagem de introduzir plot twists desde o meio de um filme e seguir fazendo um atrás do outro?
Em determinado ponto você tem, além de uma historia ruim, uma historia que já deixou claro que nada do que está dizendo deve ser levado em consideração. É banho de sangue tosco pra tudo que é lado, é um pano de fundo completamente sem graça, cheio de personagem chato e sem carisma, é dedo no cu e gritaria metade das cenas do filme... As atuações são tão meia-bocas, tão inexpressivas que mesmo quando mudam toda a linha de raciocínio do personagem tal, você não se importa.
Parece que o roteiro foi escrito por um adolescente recém apresentado ao universo das fan fics. Nem se você abrir o jornal de domingo vai encontrar tantas caricaturas quanto nesse filme. Nada nem ninguém aqui é normal, ou crível. Não dá pra se envolver com um filme que tenta ser realista mas se passa em Nárnia.
Truman
3.9 151 Assista AgoraTem um começo devagar, com uma vibe meio novela das 9. No princípio, conhecemos muito pouco dos personagens e, enquanto isso não é desenvolvido, algumas cenas não causam o que talvez pretendessem causar. Com o próprio tempo de tela, a janela vai abrindo e a gente vai lentamente conhecendo algumas camadas da história.
O filme é bem simples, não parece ter pretensões muito grandiosas. Uma música de fundo num violão de nylon bem madrileno que de vez em quando entra pra dar o tom de melancolia, paisagens muito bonitas, um duo/trio de protagonistas que carregam a peteca muito bem. Agradável de ver, se alinharmos as expectativas direitinho no começo. O cachorro acho que foi colocado no elenco pra criar alguns momentos de fofura,
e pra realizarem o clichê anunciado desde os primeiros 15 minutos de filme de que seria adotado pelo amigo do polo norte.
Pai
3.9 13Bom filme. Triste, angustiante, mas convincente, verdadeiro. É uma história que serve de pretexto para falar sobre diversos ângulos que são expostos, como o da miséria, da corrupção, do desamparo estatal para com parte do povo, da marginalização do indivíduo. Não entendo muito dos assuntos socio-políticos tratados no filme, nem como era a antiga Iugoslávia que deu lugar à Sérvia que vemos, então meu ponto de vista foi o de um leigo funcional.
A jornada do Nikola começa sem o conhecimento dele, no pátio daquela escola, na cena da autoimolação; ela termina naquela cozinha solitária enquanto ele digere a semana que acabou e a próxima que virá. Mas pra mim essa história foi só um pretexto para o filme, como falei acima. Quem se apega demais a ela, pode acabar frustrado, pode achar o fim abruto ou incompleto.
Penso que o filme em si usa esse episódio da mãe e depois a peregrinação do protagonista como base para o restante das coisas que ele quer mostrar. Ele nos mostra a pobreza extrema, a miséria; mostra como são o presente e a perspectiva de futuro de quem vive nela; mostra também como a sociedade é irremediavelmente despreparada para essas pessoas ("Pague as contas atrasadas". "Compre uma geladeira para o verão", "Compre um notebook, estamos no séc. XXI", "Envie um e-mail para nossa ouvidoria"). Por mais que aquele projeto de MILICIANO de terno e gravata tenha agido de forma criminosa, o tempo todo fica evidente que ele tem o amparo da máquina para fazê-lo.
É um daqueles filmes que em diversos momentos fica algo entalado na garganta. É revolta, é impotência.
Nikola vai em busca de justiça. Na verdade, ele só quer ser ouvido. Se você é pobre, se não sabe o que vai comer daqui a 2,3 dias, e a máquina resolve jogar contra você, você coloca a única coisa de valor que tem na mesa: sua vida. Ele vai em busca disso da única forma que pode, se expondo ao seu fim o tempo todo, O perigo vem de todas as direções: de lobos a moradores de rua, de engravatados a veículos em autoestradas.
O filme mostra uma série de encontros ao longo do caminho. Nenhum deles é muito longo, mas todos contam algo sobre o mundo em que vive Nikola. Seja um cão faminto que vira companhia que tão logo é perdida; seja um atendente de posto que é humilhado no dia-a-dia e ainda encontra energia para ter empatia e fazer o bem; seja o filho da puta engravatado que assinou uma carta-esmola que ele sabia não ser solução pra nada, mas quis sair por cima, com uma foto com a sub-celebridade quente do momento. É um mundo extremamente cruel e desolador, em que se tem pouquíssimos motivos pra ter esperança. Mesmo quando as perdas materiais não advêm da maldade humana (como mostra a inesquecível cena final após o esvaziamento da casa dele) há então o oportunismo. Há um envenenamento das pessoas em decorrência das "regras do jogo". É assim que é.
A mensagem "positiva" que consigo tirar dessa catástrofe social que assisti é que o amor realmente é a coisa mais forte e mais valiosa do mundo. Quando se tem ele, é possível abrir mão de coisas inimagináveis. Em nome dele, passamos fome, frio, medo, dor. A vida do Nikola não tem motivos pra mudar da noite pro dia, nem a de tantos Nikolas espalhados pelo mundo. Mas a esperança que o filme mantém acesa dentro dele por duas horas pelo menos segue viva. O diretor deixa alguns fios bem finos pra gente imaginar e seguir. Talvez a assistente social consiga desembaralhar algum acordo; talvez o amigo da van consiga ajuda-los a sumir do mapa; a verdade é que o filme nunca prometeu essas respostas, ele só quer que a gente reflita sobre os recortes que ele mostra.
Operação França
3.9 253 Assista AgoraDistraído, dá pra passar o tempo. Mas a história não é interessante, sendo mais do mesmo. Chutaria que 70% do tempo de filme são cenas de 'tailing', pessoas 1,2,3 seguindo alvos 1,2,3, repetidamente, Faltou inspiração. Roteiro fraco e personagens também são bem previsíveis, sendo basicamente arquétipos:
- detetive grosseiro/tosco, mulherengo, com diversos problemas que tem seus momentos brilhantes e conquista a confiança de alguns com essa dinâmica;
- detetive parceiro é mais caseiro, mais contido, mais apresentável, mas é um escudeiro leal;
- traficante europeu da terceira idade com roupas mais elegantes, bengala/guarda-chuva dão aquele toque 'vou escapar por entre seus dedos porque sou inteligente e classudo';
- pretos marginalizados envolvidos com drogas/bares ilegais, exceto por aquele eventual policial infiltrado que chega a ter que levar porrada pra "manter as aparências";
Outro ponto que incomoda as pessoas em diferentes níveis, mas a mim muito, é a falta de coerência de várias cenas, das pequenas às mais importantes. Exemplos:
- O cara sobe de escada até a cobertura de um prédio onde há um sniper que tentou matá-lo. Chegando lá, olha para o térreo e vê o cara correndo em disparada para longe dali. Ele sai da sacada, desce todos os andares de volta e, chegando lá embaixo, ele tá a cerca de 5 segundos de alcançar o cara. Oi?
- Desmontam um automóvel clássico, bonito, à base da marretada e faca, virando o carro quase literalmente do avesso para encontrar drogas. Ponto 1: volantes e área embaixo da mala, as partes mais óbvias, foram esquecidas/deixadas para o fim? Ponto 2: a velocidade com que aquele carro foi remontado e devolvido é simplesmente um insulto á nossa inteligência.
- Um terrorista baleia (e mata?) um policial dentro do trem e na sequência faz o maquinista de refém. Como assim as pessoas 5 minutos depois estão andando pelo primeiro vagão do trem, perguntando se "está tudo bem aí, maquinista?". Parecia que eu tava jogando GTA San Andreas nessa cena. Dividindo a calçada com pedestres normalmente depois de acertar um tiro de bazuca em um caminhão.
Coisas desse gênero são pra mim bastante perdoáveis em filmes que, à parte delas, são coesos e imersivos, estimulantes. Mas, em filmes que já não enchiam os olhos, elas são bem difíceis de ignorar.
Não é um filme repugnante, inassistível, nada do tipo; só é fraquinho.
Operação França
3.9 253 Assista AgoraDistraído, dá pra passar o tempo. Mas a história não é interessante, sendo mais do mesmo. Chutaria que 70% do tempo de filme são cenas de 'tailing', pessoas 1,2,3 seguindo alvos 1,2,3, repetidamente, Faltou inspiração. Roteiro fraco e personagens também são bem previsíveis, sendo basicamente arquétipos:
- detetive grosseiro/tosco, mulherengo, com diversos problemas que tem seus momentos brilhantes e conquista a confiança de alguns com essa dinâmica;
- detetive parceiro é mais caseiro, mais contido, mais apresentável, mas é um escudeiro leal;
- traficante europeu da terceira idade com roupas mais elegantes, bengala/guarda-chuva dão aquele toque 'vou escapar por entre seus dedos porque sou inteligente e classudo';
- pretos marginalizados envolvidos com drogas/bares ilegais, exceto por aquele eventual policial infiltrado que chega a ter que levar porrada pra "manter as aparências";
Outro ponto que incomoda as pessoas em diferentes níveis, mas a mim muito, é a falta de coerência de várias cenas, das pequenas às mais importantes. Exemplos:
- O cara sobe de escada até a cobertura de um prédio onde há um sniper que tentou matá-lo. Chegando lá, olha para o térreo e vê o cara correndo em disparada para longe dali. Ele sai da sacada, desce todos os andares de volta e, chegando lá embaixo, ele tá a cerca de 5 segundos de alcançar o cara. Oi?
- Desmontam um automóvel clássico, bonito, à base da marretada e faca, virando o carro quase literalmente do avesso para encontrar drogas. Ponto 1: volantes e área embaixo da mala, as partes mais óbvias, foram esquecidas/deixadas para o fim? Ponto 2: a velocidade com que aquele carro foi remontado e devolvido é simplesmente um insulto á nossa inteligência.
- Um terrorista baleia (e mata?) um policial dentro do trem e na sequência faz o maquinista de refém. Como assim as pessoas 5 minutos depois estão andando pelo primeiro vagão do trem, perguntando se "está tudo bem aí, maquinista?". Parecia que eu tava jogando GTA San Andreas nessa cena. Dividindo a calçada com pedestres normalmente depois de acertar um tiro de bazuca em um caminhão.
Coisas desse gênero são pra mim bastante perdoáveis em filmes que, à parte delas, são coesos e imersivos, estimulantes. Mas, em filmes que já não enchiam os olhos, elas são bem difíceis de ignorar.
Não é um filme repugnante, inassistível, nada do tipo; só é fraquinho.
Eternidade
3.9 21Não gostei. Apesar de curto, pareceu longo. Contemplativo "demais", documental "demais", não parece feito pra ser entretenimento, mas um diário sobre a a velhice e as dificuldades compartilhadas por dois personagens idosos em um lugar remoto, praticamente desconhecido à sociedade.
Os dois protagonistas por vezes não parecem atores e sim nativos da região. Não digo isso como um elogio. Havia uma artificialidade, cenas pouco naturais no longa, frases soando ensaiadas. Em termos de recheio, há muito pouco nesse filme. Ele começa devagar-quase-parando e não muda de marcha praticamente em momento nenhum. Uma ou outra cena trazem um pouco mais de angústia, mas fica nisso. Difícil de assistir.
Extermínio
3.7 946Notas pessoais soltas sobre o filme:
- É algo meu, mas não consigo dizer que "terror" e "pós-apocalíptico" são dois gêneros que podem ser a mesma coisa, a depender do filme. Claro que é tudo questão de gosto e afinidade pessoal, mas eu acho que filmes pós-apocalípticos têm se tornado um dos assuntos que eu menos gosto no cinema (terror também, mas isso é outra conversa). Preciso abrir uma lista dos pós/pré apocalípticos mais importantes e checar se estou falando alguma besteira,
mas eu sinto o mesmo DNA em todos: clichês, decisões duvidosas, atos de heroísmo e sacrifícios perfeitamente previsíveis, sentimento de desolação. E nada disso me parece construído de forma rica. Vai mais pro lado da preguiça, de repetir uma fórmula já estabelecida. É medo, exploração, alguém faz cagada(s), pondera, e no fim vira tudo correria, seguida de alguma esperança.
- O filme não é ruim! Aliás, o tempo fiquei razoavelmente curioso. O problema, como já falei aí em cima, é que agora olhando em retrospectiva ele tem todos os traços pra virar aquela experiência que daqui a duas semanas eu não lembro nome, enredo, final, nada, só por alto mesmo. E isso é uma bosta (mas se você curte o gênero, cai dentro, provavelmente você vai curtir [se já não tiver visto a essa altura, né]).
- Falando em idade do filme, que videozinho nojento. A qualidade das filmagens é ruim demais. Ponto. Envelheceu mal. Tenho dúvidas se algum dia foi considerada bonita. "Ah, é estética" - não! É feio mesmo. Parece que to vendo um vídeo gravado no celular daquele menino rico e talentoso da turma do ensino médio nos anos 2000. O celular dele era absurdo pra época, mas levar as gravações dele pro cinema é complicado. A gente acaba acostumando com o andar do filme, mas fica o engasgo. E a sensação de que dava pra ser bem mais caprichado. Dizem que ajudou nas gravações "ágeis", pra aproveitar os momentos da cidade vazia e desmontar rápido pra mudar de locação.
- O que me leva ao último item: que doideira ver Londres, por diversos ângulos, deserta. Passei um bom tempo achando que tinha dedo grande de computador nessas cenas, mas ao que parece, foi daquele jeito que rolou mesmo. Travando trânsito e aproveitando as primeiras horas do dia!
Bela Vingança
3.8 1,3K Assista AgoraTinha potencial, mas a sensação que dá é que foi "só mais um" filme sobre vingança. O filme não consegue se sobressair nem quando tem suspense, nem quando tem romance, nem quando tem humor. Fica evidente a crítica aos homens, mas os personagens me pareceram tão caricatos, as cenas tão rápidas, que não dá pra levar aqueles caras a sério.
"A maioria dos homens é exatamente assim."
Eu imagino, mas colocar macho escroto em habitat natural sem criar uma narrativa mais legal, nem que fosse pela história, não criou entretenimento diferente do que já tem a rodo por aí. Não sei bem que mensagem tirar de tudo que rolou. Não é ruim, mas deixa um gosto de "que pena que não foi mais".
Os 7 Suspeitos
3.8 355 Assista AgoraFazia muito tempo que eu não ficava tão puto torcendo pra um filme acabar logo. Horrível, pastelão, machista, afundado em clichês, uma bagunça sem qualquer inspiração, lógica ou coerência. Nem a possível ponta de nostalgia do jogo que o filme deixaria termos salva qualquer parte desse desastre. Pavoroso.
Três é Demais
3.8 274 Assista AgoraVi sem qualquer expectativa e curti demais. A história é extremamente simples e batida, mas o toque técnico do diretor e personagens bem escritos fazem toda a diferença, né?
É gostoso demais ver o protagonista e o universo de suporte ao redor dele navegarem pelas águas da Rushmore. Algo que me agradou foi o tipo de humor que é usado nas cenas, às vezes debochado, ácido ou repentinamente infantil, é como se essas facetas adicionassem uma imprevisibilidade boa às histórias.
É como se o filme é fosse a consequência de colocarem a sessão da tarde numa colônia de férias cult. A simplicidade e a acessibilidade estão ali, mas há um cuidado técnico e uma criatividade que deram um up muito bom no conjunto da obra.
A essa altura eu podia abrir um clube de críticos amadores de cinema no Filmow, anota aí alguns nomes...
Terapia de Risco
3.6 1,0K Assista AgoraBem mais ou menos. Concordo com algumas leituras abaixo, tinha potencial, mas a história nao é coesa. Parece juntar coisa demais, em espaço de menos. Dada a quantidade de elementos que resolveram botar na trama, precisavam de mais capricho em ligar os pontos, na hora de escrever personagens também - eles parecem viver em uma realidade muito simplista, imediadista.
Druk: Mais Uma Rodada
3.9 798 Assista AgoraEsse aqui é difícil fazer comentário curto. Mas acho que fazer comentário longo também seria... Então resolvi fazer pontuações gerais:
- Interessante ver como ele baila entre gêneros. Não é comédia e não é drama, apesar de ser ambos. Por vezes, a virada de chave entre humor e melancolia é tão sutil que você não percebe de imediato.
- Achei a narrativa bem original. As partes isoladas do que ele faz talvez não fossem originais por si, mas o todo ficou bacana.
Chuto que 99% de nós já viu filmes com cenas de personagens enchendo a cara e curtindo a noite, mas eu pessoalmente nunca cheguei tão perto de me SENTIR bêbado vendo uma cena com personagens bêbados como rolou aqui kkkkk. A sequência do "capítulo exagero" do experimento é cinema do mais alto nível, diversos nuances, uma montanha russa de emoções.
- Mads Mikkelsen é um ator extraordinário, e olha que a cara natural dele está longe de ser expressiva. O cara deu aula no papel de professor semi desiludido, estacionado com o boi em uma sombra meio bosta na vida, mas com combustível pra queimar e experiências pra viver.
- Pessoalmente, acho adolescentes e jovens meio chatos. Os que estão no ápice alcóolico da vida são especialmente chatos. Por sorte, o filme não dá tanta moral pra eles (em tempo de tela e importância na narrativa).
- Pra mim é um filme slow burn. Lentidão obviamente é algo subjetivo e tem gente que vai discordar de mim, mas tudo bem. O filme é contemplativo, é sobre estar perdido e encontrar, não necessariamente só coisas boas.
A reta final, que parece ter agradado bastante gente, eu achei um pouco acelerada.
Achei que essa escalada do enterro para o almoço para mensagem da ex para a dança no meio dos alunos meio corrida, sem desenvolver tão bem as emoções (não tirando o mérito do amigo dançarino no final, que foi um arraso kkkk).
Corpo Fechado
3.7 1,3K Assista AgoraIdeia boa, roteiro parece redação do Enem mal feita...
Os diálogos e os eventos vão de aceitáveis até completamente toscos. Nao existe uma crescente, não existe um propósito claro, um clímax, pontos altos.
O cúmulo disso pra mim foi a cena aleatória em que um Bruce Willis completamente sem carisma aqui desabafa pro coroa stalker ensandencido: "- e agora, o que eu faço? - ... Vá para onde há pessoas (??????), [abra os bracos pra encostar nelas e brincar de minority report...]
A primeira metade do filme é aceitável, ninguém aqui em casa estava incomodado com o filme, mas a partir de certo ponto parece que o balde é chutado, passaram a marcha dos clichês aleatorios e não olharam mais pra trás.
Soul
4.3 1,4KFofo, agradável, com boas tiradas, curto. Inofensivo, não parece almejar a "reinvenção da roda", fica em território seguro (de alto nível!).
Aos que não conseguem evitar comparações do bem, não causou o impacto emocional contido em Up ou Viva, por exemplo. Achei esse mais contido, com personagens muito, mas muito menos profundos ou trabalhados. Simplicidade é a palavra de ordem aqui. Quase tudo que vemos, da motivação do protagonista até os minions-celestes-do-bem, são transparentes e simples.
Nem vilão temos!
Um filme que estreou na melhor ocasião do ano pra ser visto, uma tarde de natal preguiçosa, pós almoço, pra dar umas risadas e curtir a estética padrão Pixar de qualidade.
Nove Rainhas
4.2 463 Assista AgoraFilmaço!
Não se demora mais do que o necessário, tem uma dupla de protagonistas dinâmica e bem entrosada, com diálogos ótimos, afiados, ligeiros.
Conduz o expectador na palma da mão.
Repare que as reviravoltas e surpresas parecem orquestradas, executadas à perfeição. Há várias, mas nenhuma parece ser "acima da verdade". O próprio Darin, quando faz uso incansável dos seus "golpinhos" clichês, como nas ocasiões em que combina com alguem de roubar a maleta aos 45 do 2o tempo, está perfeitamente dentro do seu personagem e do que se esperaria dele. Você sabia que certas coisas iam acontecer, mas elas acontecem sem destoar. No fim das contas, o filme nada mais é do que o suposto aluno dando uma aula no suposto professor, em um nível que este, apesar de macaco velho, nem sequer cogita.
Ah, como eu queria que tantos filmes orientais aprendessem a dosar os plot twists como esse filme aqui. Até o fim, o cheiro de "algo vai acontecer" fica no ar. E não incomoda, é um jogo divertido de jogar como expectador. Não tive a sensação em momento nenhum de que estavam forçando a barra, a dúvida sempre foi "qual vai ser a próxima picaretagem?"
Quando tudo acaba e fazemos um exercício de recriar cada passo, colocamos os pingos nos i's e aplaudimos. Baita filme pra se ver pela segunda vez!
O Som do Silêncio
4.1 986 Assista AgoraExcelente filme. Mostra de uma forma delicada, cuidadosa, porém atroz o mergulhar em uma vida completamente diferente e cruel aos nossos ouvidos destreinados para ela.
Não sei se é impressão, mas senti o tempo todo uma pegada que vai na contramão do que normalmente vemos em dramas típicos de Hollywood. Vi aqui calma, cadência, um refletir a cada cena, um amadurecimento de personagem e expectador, uma história que não está preocupada em aparar cada aresta, em direcionar cada fio solto, sem se tornar chato em momento nenhum.
Os 7 de Chicago
4.0 581 Assista AgoraMuitos nomes fortes, mas assolado por clichês.
Acaba não sendo sobre o Vietnã, nem sobre os "subversistas", nem sobre o sistema jurídico. As 3 perspectivas acabam simplificadas ao extremo e o filme em si é mais um esforço artificial que, ora inflama, ora indigna, mas não se decide sobre o que falar como gente grande.
Olhando de longe, é como se víssemos hippies de um lado, a politicagem podre do outro, e a partir daí é uma corrida pra ver quantos minutos aguentamos até arremessar o controle na tela na direção do juiz. A história em si acontece mais nos parágrafos antes dos créditos que no filme.
Mas não é ruim não. É so mais um que entra pra lista dos
"filmes de tribunal (mas não é possível que isso seja frustrante assim na vida real)"
Border
3.6 219 Assista AgoraUma das experiências mais bizarras que já vi. Não vou escrever nada muito longo porque ja faz umas semanas que assisti, mas uma coisa me marcou - pra filme bizarro funcionar minimamente comigo, tem que ir ficando bizarro aos poucos, com jeitinho. Abre com uma pegada meio suspense, meio policial. Vai abrindo espaço como quem não quer nada praquelas pitadas de sobrenatural. Antes de chutar o balde, eu preciso me interessar pelas pessoas ou pela história. Só aí você me
mostra dois seres de uma raça superior desconhecida fazendo sexo explícito ao melhor estilo "plantando a sementinha quando se amam muito.
Nada espetacular como um todo, mas definitivamente diferente, inovador. Quando acabar, a maioria não vai estar boquiaberta (isso fica a cargo de outras cenas), mas imagino que minimamente surpresa com o rumo que a coisa levou.
Ah, se você não viu ainda, da uma olhada no que o pessoal da maquiagem fez nesse filme com os protagonistas. Palmas de pé pra eles!!
Daunbailó
4.1 134 Assista AgoraÉ um filme esquisito. Não é ruim, mas também não é bom. Não é um filme do subgênero 'fuga de prisão'. É quase uma sátira a ele. Mas é também tanta coisa estranha junta que não sei bem. Roberto Benigni tem uma aura engraçada. É impossível não gostar dele em cena. Acho que se ele fizer papel de Bolsonaro eu não vou conseguir odiar ele.
Enfim. É uma distração legal, mas bem lento, bem exótico. A história contida nele poderia ser quase um curta. Não reclamando da duração, que é tranquila, mas poderia. Realmente pouca coisa acontece.
Ah, e "Dunbailó?" Azar de quem achei que a indústria de nomes de filmes por aqui não tinha mais como me surpreender.
O Último Homem Negro em San Francisco
3.8 51Assisti esse filme com expectativa grande. Parece contraditório pra alguém que esperou mais de ano podendo ver, mas é verdade. Quando entrou no meu radar de novo recentemente, tinha os ingredientes que costumam me agradar. Direção de arte impecável, fotografia que parecia dar um tom que é mistura de nostalgia com pertencimento, com amor, com reflexão. Artistas fodas carregando o piano.
Mas tirando os artistas, eu achei esse filme extremamente chato. Ele parece ser um recorte de uma ou mais histórias interessantes, mas do jeito que veio não é em si interessante. A crítica social é clara e importante, mas ela sozinha não me vendeu um filme de duas horas.
Eu tava facinho, mas não rolou.
Belle Epoque
3.8 47 Assista AgoraAdoro o fato de que poderíamos ser eu e você. Poderiam ser nossos pais. História de gente como a gente, atravessando mais baixos do que altos. E não é assim que costuma ser?
Experiência rara que combina romance, drama e comédia sem pisar em falso nem por um segundo sequer. Personagens interessantes e especialmente humanos. É um filme que provavelmente dialoga mais intensamente com quem já viveu um amor, com quem acompanhou os capítulos iniciais e a sua queda. O filme é uma reescrita dessas quedas. Fantasiosa? Talvez, mas profundamente crível.
A vibe Show de Truman está aqui, fortíssima. Assim como por lá, é parte vital da narrativa. E talvez ainda mais especialmente, porque aqui quem mexe as marionetes é também parte dessa história - o roteiro é escrito coletivamente e enquanto a trama progride. Ah, e as atuações de atores e atrizes brincando de vida real são simplesmente fenomenais. Carregam o filme do início ao fim. Maravilhosos.
E me alegro em poder dizer que o filme não toma a saída mais fácil das situações que cria. O botão chamado clichê-master fica coçando no fundo da minha mente, aquele trauma de ver algo desmoronar sem aviso só porque a produção está ficando sem dinheiro, ou porque precisa agradar a determinada fatia do público, ou apenas porque a alternativa é complicada demais? Quem for esperando aquela linha piegas, esperando aquele desenlace padrão, praticamente não vai vê-los. Essa jornada pelo amor termina como começa, com energia, com autoconhecimento, com bagagem, com história pra contar.
E que venha o próximo capítulo pra todos nós. É o que a gente ama fazer, afinal, né?
Buena Vista Social Club
4.3 130 Assista Agora"Vindo de fora, é difícil compreender onde termina a pobreza e começa o romance quando se olha para Havana. Como tantos outros lugares pelo mundo onde música poderosa foi criada em circunstâncias desesperadoras, um misticismo evoluiu ao longo do tempo e ocultou suas origens. Apesar de não ser intencional, essa mesma barreira existe nesse filme (...).
Esse documentário deixou sempre a sensação de não conseguir, de fato, compreender a música."
Esse trecho acima, de uma crítica que li em site concorrente e me marcou e me identifico muito com a leitura que faz. É também sobre a crítica mais frequente que você encontra por aí sobre Buena Vista Social Club - o filme que "ignora" aquilo que vai além do básico. Na prática, isso significa que dão tempo às cenas apenas pra te situar nos "quem/quando/onde/como", mas pula-se completamente o "por que".
Que gênero musical é esse, quais suas raízes, ele era uma resposta a quê, influenciou e foi influenciado por que e tudo mais. Não tenho conhecimento da história cubana, mas quem tem ficou um pouco decepcionado. Daqueles filmes que a gente gosta, mas sabe que não tirou 10.
Fora esse ponto, é uma experiência grande. A história por trás da "coincidência" que foi a banda é muito bonita, e os músicos por trás dela, mais ainda.
A sequência final mostrando um pouquinho do que foi a visita a Nova Iorque para a apresentação no Carnegie Hall é linda, apesar de simples.
O que concluo no final é que tem tanto talento, história, musicalidade e energia naquilo tudo que não tem como atravessar o filme sem sentir um pouco dessa carga.
Quem não conheceu os caras, que bela porta de entrada!
Fé Corrompida
3.7 375 Assista AgoraUm bom filme, dependendo do seu estado de espírito.
Fé Corrompida é uma experiência sombria, melancólica. Um homem que parece estar pagando os pecados de uma dezena, um passado com cicatrizes que simplesmente não têm como fechar, um presente feito de solidão e apatia, uma completa falta de propósito na vida fazem da dor do reverendo Toller a nossa própria. A tristeza do personagem é muito bem retratada e parece que entramos em uma espiral de sofrimento junto com ele, e lentamente vamos descendo...
O roteiro não é mirabolante, mas sua simplicidade não o impediu de me surpreender mais de uma vez com o rumo que tomava. O filme dialoga centralmente com questões existenciais, ambientais, religiosas, capitalistas e isso é feito com limitações, não é aprofundado. Consigo entender que alguns se frustrem caso o assistam com foco nessas temáticas.
Não, o filme é mais sobre o homem do que sobre o mundo. Eu vi o mundo e suas mazelas como pano de fundo pra história desse cara e assisti-lo pouco a pouco perder o pouco de controle que tinha sobre a vida é angustiante. Hawke está muito bem, e os diálogos são interessantíssimos. Exemplo ótimo de filme que controla muito bem seus momentos de menos intensidade com conteúdo, reflexões.
Algo que me marcou, obviamente, foi a cena final. Tem cenas finais que, quando chegam bruscas como foi o caso dessa, deixam a gente puto. Indignado. Essa não. Não pra mim, pelo menos. Os minutos finais são intensos, com adrenalina e a surpresa mal chega - os créditos sobem (não sem alguns segundos de tela preta antes, pra criar ainda mais ansiedade).
Alguns dizem que o final aparentemente feliz é meio inadequado pelo que foi o filme. Eu discordo totalmente que sequer seja um final feliz. O mundo parece ter vencido. O cara enlouqueceu, chutou o balde, está com uma doença em estado grave, se não terminal. Não vejo muita saída. O desfecho me pareceu mais uma forma de se despedir com uma lembrança gostosa, alegre. Mas não deixa de ser uma despedida.
Sombras da Vida
3.8 1,3K Assista AgoraO filme tem não só na premissa, mas no ritmo características bem diferentes. À primeira vista, vendo trailers ou fotos do filme, ficamos intrigados com o que vemos. Diferentemente de tudo que estamos acostumados a ver em filmes sobre fantasmas, aqui eles perambulam para cima e pra baixo em sua clássica forma infantil de lençol-que-flutua (Casey Affleck realmente interpreta o fantasma em cena e para isso colocou enchimentos e um arco sobre a cabeça, dando forma ao espectro).
É difícil definir um único tema para o filme. Ao mesmo tempo que aborda a vida e a morte, saudade e perda, ele dialoga intensamente com o passar do tempo. Aqui, passado, presente e futuro tem contornos pouco definidos e somos convidados a refletir sobre como viemos parar aqui e para onde estamos indo. O filme é extremamente contemplativo e se desenvolve sem pressa nenhuma, algo que certamente desagrada uma parcela da audiência. O diretor usa takes longos para desenvolver diversas cenas e mostra não ter pressa alguma para chegar ao seu destino final. Destino final este, suspeito, talvez nem ele saiba ao certo qual é e fique mais em um plano abstrato, diferente pra cada pessoa que assiste.
Algumas cenas se demoram a ponto de nos questionarmos se alguém esqueceu a câmera ligada e precisou sair do set, lembrou que deixou o fogão aceso, talvez.
Em uma de suas icônicas cenas, Rooney Mara é o foco da imagem durante mais de cinco minutos, com pouquíssimos cortes, enquanto come uma torta. Contudo, trata-se de uma cena intensa e emocional. Ela foi feita em apenas um take (apesar de inúmeras tortas sem glúten e de chocolate vegano terem sido assadas pela produção) e a atriz e o diretor divergem em relação à sua qualidade (da torta, não da cena).
O filme inteiro é apresentado em um formato de tela diferente do padrão, praticamente quadrado, em vez do tradicional aspecto retangular. David Lowery, diretor e roteirista do longa, afirma que essa opção pareceu esteticamente correta e que ele busca transmitir a sensação de “estarmos presos em uma caixa por toda a eternidade”. A bela fotografia e uma trilha sonora que transmite a dose certa de mistério e melancolia, dão ao filme um ponto de destaque nos quesitos técnicos. A dor e o vazio de ver lugares familiares mudados, vazios, abandonados são sentidos em primeira mão por quem assiste.
Por mais que a morte seja uma certeza indiscutível na vida de todos, o filme escancara alguns de seus desdobramentos e nos desafia a aceitarmos que, independente de como e quando aconteça com a gente, as coisas não param e nunca vão parar. Amores partem, sonhos acabam, encontros não acontecem e a vida continua, como sempre continuou desde tempos remotos.
Apesar dessa vibe introspectiva e da beleza da sua mensagem, o filme não é uma venda fácil de fazer pros amigos e é preciso escolher a dedo o tipo de pessoa que gosta de encarar rolês assim. Ele tem uma abordagem que definitivamente exige paciência do público e não é do tipo que “queima devagar até que explode”. Ele queima devagar e se apaga devagar, com a esperança de que, enquanto brilhou, conseguimos nos envolver o suficiente com sua luz trêmula. Muita gente não conseguiu. Arrisco dizer que é um candidato forte à categoria dos “ame-os ou deixe-os”.
Em uma nota mais leve, na ocasião das filmagens, Rooney Mara foi instruída
a realmente escrever uma mensagem no bilhete que sua personagem deixa escondido no vão da parede e solicitada que não a revelasse a ninguém. A mensagem ainda estava lá quando a casa foi demolida e atualmente a atriz não se recorda do que estava escrito.
Gente como a gente, não?
Confissões
4.2 854Poucas coisas são tão irritantes quanto os exageros desnecessários de alguns filmes orientais (1) e quando cineastas perdem a mão com os famigerados plot twists (2). Quando combinam as duas coisas, puta que pariu. Me diga aqui, qual a vantagem de introduzir plot twists desde o meio de um filme e seguir fazendo um atrás do outro?
Em determinado ponto você tem, além de uma historia ruim, uma historia que já deixou claro que nada do que está dizendo deve ser levado em consideração.
É banho de sangue tosco pra tudo que é lado, é um pano de fundo completamente sem graça, cheio de personagem chato e sem carisma, é dedo no cu e gritaria metade das cenas do filme... As atuações são tão meia-bocas, tão inexpressivas que mesmo quando mudam toda a linha de raciocínio do personagem tal, você não se importa.
Parece que o roteiro foi escrito por um adolescente recém apresentado ao universo das fan fics. Nem se você abrir o jornal de domingo vai encontrar tantas caricaturas quanto nesse filme. Nada nem ninguém aqui é normal, ou crível. Não dá pra se envolver com um filme que tenta ser realista mas se passa em Nárnia.