Não foi por causa da Pandemia que os crimes pararam de acontecer. ... Em Infiesto acompanhamos a investigação sobre uma garota que reaparece na cidade depois de três meses desaparecida. Em poucos dias a polícia descobre uma possível ligação com uma série de crimes ritualísticos conectando-os ao sequestro de outras cinco crianças. ... Começando no primeiro dia de lockdown da pandemia de covid, assume esse evento recente como um fantasma ao longo de toda a história, de elementos de cena à função narrativa, temos a doença no uso ou esquecimento das máscaras, diálogos, cobranças, complicações e até mesmo motivação. ... Um bom suspense que se favorece das locações sempre chuvoso do norte da Espanha, e que nem precisa exagerar no filtro de cena azulado para criar a ambientação obscura. Somados às mortes que começam a acontecer aos montes, o clima ganha ainda mais densidade. ... Em decorrência da trama ser cheia de elementos, a história parece acelerada em tela e na duração, nos conduzindo por uma investigação muito linear, onde quase todas as pistas e descobertas levam com poucos erros até a conclusão. Felizmente isso não significa que não podemos nos surpreender. ... Disponível: #netflix ... 6/10
É sempre bom reencontrar amigos que não vemos à muito tempo, mas antes de passar o fim de semanas juntos é bom descobrir se não existe nenhuma mágoa escondida. ... Em Morte, Morte, Morte acompanhamos um grupo de amigos que se reúne depois de muito tempo e depois de muita drogas e bebedeira resolvem brincar de uma versão mais agressiva de Detetive enquanto uma tempestade destrói tudo fora da casa. ... A estrutura do terror adolescente todo mundo conhece, mas desde a chegada do casal protagonista à casa já percebemos que a tal amizade não parece assim tão real. E nessa relação de confiança se deteriorando a cada minuto que se revela o humor sarcástico expondo preconceitos, racismos e hipocrisias engolidas por anos, sobretudo quando um deles aparece morto. ... O elenco é bastante entrosado e embarca nesse terrir com realidade, por mais que não dê para gostar de nenhum deles. E faz graça a partir de superficialidades da geração Tik Tok que só pensam em ativismos Instagramáveis ... O mistério, por sua vez, é previsível e não demora muito para ser desvendado pelo espectador, sobretudo se ele não exagerar nos alucinógenos. ... Disponível: #hbomax ... 6,5/10
Elevadores são caixas mágicas instaladas em edifícios que nos levam de um andar para outro, ou não. ... Feliz Ano Nosso vai mostrar uma das piores viradas de ano que alguém poderia imaginar: ficar preso num elevador com um desconhecido. ... É uma comédia, mas todo humor francês tem seus toques de drama, e estes aparecem como viagens que cada um faz nos traumas de infância e de relacionamentos, sempre utilizando um interessante recurso de "sair" do elevador e reviver as piores memórias. ... 6/10
Quando o fim do mundo é inevitável, saber sobre ele só nos leva à depressão. ... Em Outra Vida astrônomos descobrem que um cometa está vindo em direção à Terra e depois de um encontro casual numa festa, Cole e Maya passam a (sobre)viver juntos. ... É um filme independente de baixíssimo orçamento que começa ruim e vai piorando ao se voltar para intermináveis discussões do casal e alucinações autoreflexivas. ... Disponível: #hbomax ... 2/10
Já comentei como as tramas "Agatha Christie" vem ganhando espaço nos últimos anos, para vem ou para o mal e Entre Facas e Segredos apareceu como um dos melhores e mais azarados, pois sua estreia nos cinemas ocorreu bem no decreto da Pandemia. ... O filme foi redirecionado para o streaming e em poucos anos temos a continuação lançada direto na Netflix: Glass Onion. E a história começa com uma caixa quebra-cabeças misteriosa enviada para várias personalidades com um convite para participarem de um jogo numa ilha grega deserta. ... Seguimos para o encontro dos Disruptores com o detetive Benoit Blanc que faz o papel do espectador ao ser apresentado e nos apresentar aos excêntricos "jogadores de mistérios". Aos poucos os personagens estereotipados vão mostrando seus conflitos e que não medem esforços para conquistar os objetivos. ... E depois de um longo, mas nem por isso tedioso, primeiro o ato onde descobrimos todas os motivos para o assassinato do anfitrião, que deveria ser falso, mas logo se transforma num enigma digno do Sr.Blanc (que deixa de ser os olhos do espectador para ganhar o protagonismo). ... A princípio parece ser apenas uma comédia, sátira com outras produções do gênero e se ficasse apenas nisso já funcionaria muito bem, mas da mesma forma que uma cebola, e assumindo o título dessa continuação, tudo está à mostra, ao mesmo tempo que se revela em várias camadas. ... É possível que o espectador participe do jogo com apresentação de mistérios muito bem amarrados e que não depende de um Deus Ex Machina. ... Disponível: #netflix ... 8/10
Não importa o quanto mudemos nossas vidas, o passado está sempre à espreita para nós assombrar. ... O Garoto Perdido acompanha Fern, uma veterana do exército que volta para casa depois de 15 anos para viver onde morava na infância, uma cidade pequena no interior dos EUA. Mas é um local decadente e que parece ainda mais perigoso que o campo de batalha. ... Em meio a adaptação e enquanto procura o irmão desaparecido, encontra um garoto na floresta que tenta ajudar e passam a morar juntos. Mas Fern começa a apresentar alguns problemas de saúde e isso pode estar ligado a uma antiga lenda local. Mas onde a verdade se encontra com o preconceito? ... Temos um drama sobre traumas não resolvidos e de como a violência, além de deixar cicatrizes evidentes, elas não são apenas físicas. Um recorte do presente, de uma sociedade destruída marcada pelo crescente abismo social que abandona e segrega. ... Os pântanos estadunidenses, que sempre invocam uma aura de decadência, mais uma vez foi utilizado como pano de fundo transformando o seu entorno. Mas o roteiro aproveita isso para discutir sobre aparências, medos criados para o controle que precisam ser superados. ... Ambientação, atuação e trilha sonora, tudo convergindo para uma sinergia incomoda e impactante de um mundo que tentamos fechar os olhos. ... 8/10
A guerra é uma indústria de moer carne, formado por covardes em suas torres que enviam crianças iludidas para se transformarem em herois de uma pátria que nem elas mesmas sabem o que significa. ... Em Nada de Novo no Front acompanhamos um grupo de jovens que se alista para participar da Grande Guerra do lado da Alemanha, conflito que em 1917 já se encontrava em seu terceiro ano, mas do qual pouca informação chegava nos centros onde residiam os possíveis recrutas. Sem treinamento, vemos os amigos se perdendo um a um, descobrindo que não passam de meros alvos. ... Para o espectador, essa percepção de inutilidade é colocada logo na introdução, ao nos mostrar uma batalha como outra qualquer que resulta em centenas de mortos enterrados em valas comuns e despidos de seus uniformes para vestir os novos soldados que chegariam em breve num ciclo sem fim. ... A narrativa se detém no Front, para mostrar os soldados, humanizados e despidos de ideologias e escolhas políticas, dentro das trincheiras só existe a ameaça constante da morte. Ainda assim, acompanhamos passagens referentes à burocracia, dos acordos entre os líderes de alta patente, generais seguros em seus palácios, irritados pela derrota que covardemente enviam soldados para morte. Nada de novo no Front. ... Com confrontos secos e soldados caindo a todo momento, o trauma deixa todos com a humanidade anestesiada, onde os poucos momentos de respiro na história nos convidam a acreditar em momentos de paz junto com os personagens, apenas para nos conquistar com esperanças falsas. ... O bom ritmo narrativo aliado à ambientação enevoada das bombas imerge o espectador nas trincheiras, incomodando e provocando com o cenário claustrofóbico. ... Como curiosidade, este filme foi inspirado num livro de 1929 que, por sua vez, serviu como base para um filme em 1930 que foi banido por Hitler por passar uma mensagem que para ele soava derrotista. ... Disponível: #netflix ... 8,5/10
O filme Pânico não foi responsável apenas por uma franquia, mas por cópias que se saíram (geralmente) pior com o passar do tempo. ... Uma dessas produções foi Lenda Urbana, onde acompanhamos um grupo de universitários que começa a morrer um a um de acordo com lendas urbanas. ... Nostalgicamente eu lembro de gostar muito quando assisti na adolescência e os tema que serve como inspiração para as mortes continua interessante; também me surpreendi com o elenco que reúne um grupo grande de atores que se mantiveram na mídia só longo dos últimos vinte anos. ... Mas o filme é muito ruim, os atores ainda são bem fracos, com um ou outro se saindo melhor; o ritmo de desenvolvimento é lento e ainda que o regime de mortes seja bem distribuído, parece que o tempo não passa, em decorrência de uma montagem e direção apenas protocolar. ... Enfim, triste revisão de algo que eu tinha uma boa lembrança. ... 3/10
De vez em quando, a música pode ser a única forma de se expressar. ... Em Cântico dos Nomes acompanhamos Martin, um músico caçador de talentos que durante uma competição descobre pistas sobre um gênio do violino que viveu com ele na infância, mas que sumiu no dia que iria se apresentar no principal teatro de Londres. ... O filme se passa em dois tempos intercalados, a infância de Martin e sua amizade com Dovidl e o presente (meados da década de 1980), quando David começa sua jornada para reencontrar o velho amigo desaparecido. ... Durante a infância vemos o companheirismo da dupla crescendo ao mesmo tempo que precisam enfrentar o medo da guerra que pode ter matado os pais de Dovidl e também os ameaça todas as noites. A história avança aos poucos e logo os reencontramos já jovens com planos de crescer no meio musical e Dovidl sem saber o que aconteceu com a família. ... O elenco é sensacional, Tim Roth leva grande parte da história, mas já é um ator reconhecido, agora, quem rouba a cena na primeira metade do filme são os jovens Misha Handley e Luke Doyle, com a brilhante performance de Luke no violino que na época tinha apenas onze anos. ... Disponível: #netflix ... 9/10
O natal em nossa sociedade é uma data familiar importante, independente da religião que seguimos ou deixamos de seguir, mas até onde estamos dispostos para manter essa tradição? ... Em O Preço da Família conhecemos Carlo e Anna, pais coruja que passaram a ser ignorados pelos filhos assim que eles saíram de casa. Para tentar chamar a atenção e garantir o almoço de natal em família, o casal contou uma pequena mentira, que ganharam uma herança milionária de uma tia distante. Por interesse e falsidade, o plano de reunião começa a funcionar, mas as desculpas vão escalonando e logo tudo sai do controle. ... Uma comédia italiana familiar e divertida com uma ótima química de elenco e que testa todos os limites da convivência e da mentira. ... 6/10
Nunca crie expectativa para nada, isso ajuda a não nos decepcionarmos (já falei aqui algumas vezes e sempre funciona... Ou pelo menos na maior parte das vezes). ... Ainda assim, é difícil levar a sério algo que se transformou numa paródia de si mesmo. A franquia do Parque dos Dinossauros nunca foi grande coisa, pois apenas o primeiro filme era realmente bom. Mas mesmo assim, os dinos foram ressuscitados num remake autoindulgente em Jurassic World. ... O reinício foi um remake; sua continuação, uma tentativa de trazer novas temáticas; e agora o terceiro, um mosaico de referências que vão de Indiana Jones a Missão Impossível, nunca empolgando tanto, mas sempre deixando claro suas "inspirações". ... Assim, como uma grande comemoração, temos a reunião dos protagonistas de ambas as trilogias num enredo mal colado mesclando duas narrativas: o resgate de Maise, a adolescente clone descoberta por Claire e Owen; e a praga dos gafanhotos mutantes criado pela Biosyns. Duas tramas que se encontram de sopetão para juntar todos os personagens. ... Jurassic World: Domínio começa com um documentário em tom de teoria conspiratória que nos contextualiza sobre o que ocorreu após a fuga dos dinossauros para o mundo, como se transformaram em animais exóticos explorados ao mesmo tempo que ameaçam os humanos e outros animais que ainda não tinham sido extintos. ... Em seguida conhecemos a situação de cada um dos personagens nesse novo contexto, novos e velhos, para só então as duas principais tramas começarem. Ambas orbitando a preocupação com desequilíbrio ecológico e as questões éticas de criar e manipular a vida, mas sempre de forma bem superficial, o foco mesmo é a correria e a mãozinha encantadora de dinossauros. ... O segredo para se divertir é embarcar na galhofagem e nos quase superpoderes de cada personagem que dependem enormemente da sorte, conveniência e burrice aleatória para continuarem vivos ou perseguindo implacavelmente seus objetivos. ... Até mesmo o efeito especial parece cair de qualidade em algumas sequências, o que me fez duvidar da conexão da internet, mas confirmei o problema em outras críticas. ... Por fim, foi um encerramento de ciclo fraco comparado ao potencial apresentado até mesmo por ele próprio, mas funciona como um filme de ação com as pitadas de nostalgia. ... 6,5/10
Alguns momentos da vida somos confrontados com uma realidade que não controlamos, não importa o quanto nos planejamos para algo. ... Em Como seria se...? conhecemos Natalie, uma garota que no dia da formatura descobre que ficou grávida de seu melhor amigo... E também que não ficou grávida de seu melhor amigo. Confuso? Talvez, mas o que o filme propõe é contar as duas possibilidades, com dificuldades e alegrias advindos de cada um. ... É uma comédia dramática leve que encara as questões sobre amadurecimento alternando em duas frentes: a maternidade de um lado e o primeiro emprego de outro. Ambos caminhos conduzidos com certo otimismo, mas também com realismo, sem se render para a fantasia de uma comédia romântica idealizada e glamourizada, ou para um dramalhão. ... Assim, acompanhamos duas possibilidades, entre tantas outras que poderiam acontecer, sem nenhum amor predestinado ou trabalho enobrecedor e definitivo, simplesmente escolhas com planos e sonhos que precisam ser adaptados e suas consequências. Felizmente, sem querer dar nenhuma lição de moral, para nenhum dos lados (algo que poderia acontecer facilmente). ... Mas para além do roteiro, o filme conquista pelo carisma da protagonista, favorecido pela direção e montagem que conduzem as duas narrativas sem tornar confuso nenhuma das linhas do tempo. Um domínio conquistado pela boa sinergia entre os três elementos mencionados e que dispensa até o tradicional recurso de filtros coloridos para pontuar cada possibilidade, fazendo apenas por meio das mudanças no figurino e atuação. ... 7,5/10
O cinema sempre se inspira na sociedade para suas histórias, mas são os horrores estruturais que mais apavoram. ... No filme A Babá conhecemos Aisha, imigrante senegalesa que foi morar nos EUA para tentar dar uma vida melhor para o filho que ficou com uma prima em Senegal. Ela começa a trabalhar como babá para uma família enquanto sofre com a distância de seu filho. ... A solidão e saudade, ligada à alguns abusos que sofre, aos poucos provocam pesadelos e alucinações, prenúncios de um mal ainda não identificado. Essa construção cria uma atmosfera de tensão que resulta num ritmo lento, mas que convida o espectador a se conectar profundamente com Aisha. ... É um drama com alguns elementos visuais de horror (marca da produtora Blumhouse) que discute sobre a dificuldade dos imigrantes em se adaptar e serem aceitos, a segregação que resulta de estruturas sociais hipócritas e preconceituosas, o falso progressismo desconstruído que se encerra nas aparências. ... Vários temas que se alinham bem, mas existe uma literalidade desnecessária em algumas passagens, momentos que já estavam claros são reafirmados enfraquecendo o filme. Além disso, o encerramento falha ao ficar num meio termo entre o apressado e prolongado (aqui fica difícil não entrar em spoilers, mas o filme ganharia em dramaticidade com um minuto a menos, quem assistir vai entender). ... Ainda assim, para além dos elementos narrativos, a produção se destaca pelo cuidado em construir uma Nova York autêntica, incomum, trazendo costumes e estéticas de diferentes países da África que formam bairros que reúnem as populações africanas que vivem em comunidade na cidade. ... 8/10
Ninguém é isento de fazer algo ruim, mas sempre me surpreendo com algumas participações. ... O filme As Aventuras de Agamenon - o repórter, conta a história de um repórter fictício por meio de uma narrativa de falso documentário narrada pela Fernanda Montenegro (sim, Fernanda Montenegro !!!). ... Com humor ralo, bobo e sem graça, é quase sempre racista, misógino, homofóbico ou fruto de algum outro preconceito. Parece que escolheram as piores ideias do Casseta e Planeta para o filme, não sei como alguém deu sinal verde pra produção e ainda lançou o filme. ... Não vale a pena assistir, mas se existe algo razoável é o formato de documentário. Além de ver atores e personalidade passando vergonha, com alguns ainda tentando entregar algo, e outros que não vale nem a pena comentar. ... 0/10
Conhecer pessoas é sempre algo difícil, principalmente numa carona de longa distância. ... Em Viagem entre Estranhos acompanhamos quatro pessoas reunidas por um aplicativo de carona para um trajeto de quatro horas entre Madrid e Murcia. ... A comédia se passa quase que inteiramente dentro do carro que, assim como as viagens reais, os diálogos são tão constrangedores quanto os silêncios. O que destoa (assim espero) é apenas a situação do motorista do filme que parece estar mentido sobre suas intenções. ... Uma história curta e dinâmica, que conseguiu um bom ritmo ao equilibrar gêneros narrativos do humor ao terror, passando pelo drama e suspense a partir da provocação em relação ao nível de estranheza que os passageiros conseguiam admitir contra o motorista antes de surtar completamente. ... 7,5/10
A realidade consegue ser muito pior que o sobrenatural. ... Em Madres acompanhamos Diana e Beto, um casal de latinos que, no fim da década de 1970, passa a morar numa cidadezinha do interior da Califórnia que reúne uma comunidade mexicana. Beto é supervisor de trabalhadores no campo e Diana uma jornalista que pretende escrever um livro enquanto espera o fim da gravidez. ... Não é preciso dizer como esse cenário é uma somatória de clichês e que esteticamente ele ainda se vale de cenas clássicas como a panorâmica do carro chegando na nova casa ou as sequências que criam tensão apenas para assustar em seguida. ... Clichês que servem de base para a questão dos imigrantes latinos nos EUA: da xenofobia aos abusos trabalhistas, o uso sem controle dos agrotóxicos e até mesmo uma complexa trama de eugenia. Elementos inspirados em eventos reais que ainda acontecem nos EUA, mas que não ganham espaço na mídia e são prontamente abafados pelo Estado. ... Infelizmente o desenvolvimento é bastante superficial, com o roteiro se agarrando na fórmula padrão de filmes de horror B ao trazer uma maldição que mascara a realidade e não deixando a trama de saúde pública avançar como poderia (discutindo inclusive a questão cultural como forma de controle). ... Ainda assim, o tema proposto é interessante, apresentando bom ritmo e tempo de filme suficiente para evoluir a história sem torná-la cansativa, com atores pouco conhecidos, mas que fazem um bom trabalho. ... Infelizmente ele é dependente do epílogo textual que deixou mais claro a conexão com eventos reais e ainda em conflito jurídico, ressaltando a atualidade do que foi apresentado. Porém, poderia ser muito melhor. ... 6/10
O ruído branco é um som aleatório de frequência variada, mas de potência constante que atrapalha a atenção, uma cacofonia que nos impede focar em qualquer coisa. ... O filme Ruído Branco, nos apresenta uma feliz família que mora numa cidadezinha estadunidense no início da década de 1980. Ela é formada por quatro filhos neuróticos, uma esposa com problemas de memória e um pai professor universitário, o maior especialista em Hitler. ... Um belo dia, acontece um acidente químico num descarrilamento próximo da cidade e uma nuvem tóxica surge ameaçando e expulsando todos de suas casas. Ao ser exposto à nuvem, o professor Jack Gladney descobre que pode ter apenas mais 15 anos de vida, em média, e isso coloca sua mortalidade em perspectiva. ... É uma comédia dramática que se apresenta por meio de uma cadeia de acontecimentos surreais entre personagens com excentricidades naturalizadas, e a série de situações provoca o expectador a tomar consciência de das próprias excentricidades. ... A ambientação oitentista é o melhor da produção, pois ela reconstrói a década de 1980 em todos os aspectos, preocupando-se com os mínimos elementos dos cenários até o zeitgeist da época que traz uma mistura de medo e desinformação. O elenco complementa muito bem, com destaque para Adam Driver que protagoniza o filme. ... Infelizmente o desenvolvimento é muito confuso, com ideias inseridas e esquecidas com o passar dos três atos que são demarcados telas de título, quase numa estrutura de série sitcom, na qual nem tudo se resolve dentro de um mesmo episódio, mas pouca coisa é levada para o próximo. ... 7/10
Muito se fala que não existe mais imaginação no cinema atual, que tudo que assistimos é copiado de algo, mas mesmo o tão aclamado Shakespeare teve suas inspirações. ... Em O Homem do Norte acompanhamos Amlet, um jovem príncipe nórdico do século IX baseado na mitologia nórdica, sobre um príncipe que jurou vingança contra o tio que matou seu pai quando era criança, o Homem do Norte além de trazer o personagem que inspirou Shakespeare a criar Hamlet, empresta do autor inglês a linguagem teatral. ... Esse épico dramático de ação mistura elementos vindos de diferentes mídias em suas sequências da geografia teatral onde pequenas narrativas acontecem como se espalhadas no palco, apenas esperando o olhar do espectador guiado a partir de planos sequência. ... A própria narrativa dividida explicitamente em vários atos com títulos anunciando as mudanças até a própria atuação e tipos de enquadramento escolhidos que ampliam a carga dramática. ... A fotografia aproveita as fantásticas paisagens islandesas, mas se destaca nas passagens internas ou quando a escuridão emoldura as cenas, as transformando em pinturas na qual os protagonistas ganham destaque pelas cores mais fortes e pelo movimento que muitas vezes são os únicos a se mexer, ressaltando ainda mais a impressão do contraste entre o estático e o movimento. ... 9/10
Qual o limite do amor dos pais para um filho? Até onde ele pode ser protegido? ... Em Anjo Maldito acompanhamos Lenore Harker que por causa da gravidez, abandona a faculdade para viver com o namorado numa casa de campo. O bebê apresenta um crescimento inesperado que a obriga fazer uma cesariana com uma gestação de seis meses. ... O parto acontece, mas assim que o bebê é retirado do corpo da mãe, descobrimos toda a equipe médica brutalmente assassinada. A partir de então coisas estranhas começam a acontecer com a mãe e o bebê. ... É um remake desconhecido de um filme obscuro de 1974 e o tom de horror bizarro se mantém. Como produção de baixo orçamento até que se sai muito bem em estabelecer ritmo e desenvolvimento. Também é interessante a forma como o filme "não mostra" os atos de violência, apenas seus chocantes resultados. ... No entanto, as atuações são muito irregulares, a protagonista se destaca por ser a pior de todas, perdendo até para o bebê em efeitos digitais. Efeitos que são bem precários, mas que amplificam a aura trash que temos desde a trama. ... Além disso, a direção insiste nos batidos sons que anunciam os sustos, isso mais incomoda do que ajuda em alguma coisa. Som, aliás, não é o forte, já que aparentemente houve falha na captação e os diálogos parecem todos dublados (mesmo na língua original). ... 5,5/10
No início da década de 1970 a editora Marvel encontrou um nicho de mercado abandonado alguns anos antes por uma política de censura, o terror. Assim vários personagens foram criados ou sofreram releituras do clássico com o superheroico. ... Assim nasceu Morbius, uma mistura de Médico e Monstro com Drácula e pitadas de Frankenstein. Explico, ele é um médico com uma doença debilitante que na tentativa de descobrir uma cura, acaba se transformando numa criatura sedenta por sangue, mas que também passa a sofrer por sua nova condição. ... A versão em carne e osso da Sony que se passa numa espécie de universo apêndice da Marvel que inclui o Venom traz essa origem. E para criar conflitos mais combativos insere um melhor amigo que também toma o soro, mas não se importa onde coloca suas presas. ... A produção tem um visual legal, gostei da forma como o Morbius se transforma e os efeitos dos poderes, mas os combates não tem muita imaginação e definitivamente não empolgam, além de serem confusos. ... Os problemas não param, pois falta ritmo e tem uma montagem (e consequente continuidade capenga). O roteiro também não consegue encontrar alguém para temer ou nos importarmos, os atores estão sempre com aquela cara de paisagem e mesmo o Jered Leto (que tanto "se entrega" para seus personagens) pareceu apagado. ... Apesar de tudo, ele não é aquele desesperador pior filme já produzido, é simplesmente ok, tem um espírito da década de 2000, quando os estúdios tinham um pouco de vergonha desse tipo de adaptação, mas não ofende como Venom.
Inspirado num livro de Louis Bayerd, publicado em 2003, somos levados aos Estados Unidos de 1830 num suspense que conta com a presença do jovem Edgar Allan Poe. ... Pálido Olho Azul conta a história da investigação sobre um jovem soldado da academia militar que foi encontrado enforcado e o coração arrancado. Quem assume o trabalho é Augustus Landor, um detetive aposentado que faz parceria com o empolgado cadete Allan Poe. ... O roteiro não perde tempo na apresentação do protagonista, e logo nos coloca em meio a interrogatórios e recolha de pistas. Impondo um bom ritmo narrativo de descobertas intercalados com diálogos que nos ajudam a organizar as informações. ... A ambientação envolta em névoa e campos nevados oprime nosso olhar, flertando com o sobrenatural e ganhando tons góticos. Mas o maior destaque fica com o desenvolvimento de Landon e Poe. ... Os protagonistas são antagônicos e complementares. A figura de Allan Poe é inteligente, eloquente e parece absorver tudo que vivencia, juntando as peças quase inexistentes de quebra-cabeças mentais. Landon, por sua vez, carrega a certeza da experiência, descobrindo aos poucos elementos bizarros sem ser afetado por eles ao mesmo tempo em que a mágoa pela filha desaparecida parece ser a única coisa que o mantém vivo. ... É um filme que captura o espectador, mas com algumas conveniências no desenvolvimento da investigação e que ganha força se conhecermos o Allan Poe histórico, como se essa experiência fosse essencial para quem ele viria a ser.
Muitos foram os revivals e reboots lançados nos últimos anos, mas poucos podem se orgulhar de superar o original, Top Gun é um deles. . Em Top Gun: Maverick acompanhamos o piloto rebelde Pete "Maverick" Mitchell, mais de 35 anos depois dos eventos mostrados no filme original, trabalhando como piloto de testes para a marinha, quando recebe a missão de treinar jovens pilotos para uma missão impossível. . A direção foi bem consciente na criação de uma ambientação sem pressa e embalada apenas por sons locais e a trilha sonora do filme de 1986. Leva o espectador a esse outro mundo aos poucos, numa grande sequência videoclíptica de aviões decolando e pousando num porta-aviões para em seguida mostrar o Tom Cruise que chega com toda marra numa base aérea de testes. . É um roteiro simples que amarra vários clichês, situações típicas dessas produções pautadas pela nostalgia, mas bem conduzido, de forma a ganhar ainda mais peso quando sequências e músicas são referenciadas com reencontros recorrentes. ... E como muitos revivals, Top Gun traz o conflito de gerações entre o velho herói e um novo tempo. Inicialmente até temos a trama da tecnologia substituindo o piloto (já trabalhada em outros filmes como o terror Stealth). Mas o foco se volta para Maverick precisado domar os jovens pilotos que vão encarar uma missão suicida, conflito que fica mais complexo quando descobre que um deles é filho de um amigo já falecido. ... Mas apesar de ser favorecido pela lembrança do filme dirigido por Tony Scott em 1986, ele não se basta a um montado de recordações. O filme funciona por si só, apresentando personagens novos, ainda que pudesse aprofundar mais em um ou outro novato. ... Os conflitos do Maverick, que nunca superou as perdas do passado, é equilibrado com sequências de ação realistas de tirar o fôlego, pode parecer inacreditável (e é), mas Tom Cruise faz a maioria das cenas dentro dos caças (e obrigou seu jovens colegas a fazer o mesmo). ... Por outro lado, incomodou um pouco a falta de consequências mais trágicas por maiores os riscos que existem e nos deixam tensos todo o tempo. Outra decisão discutível é a criação de uma nação vilã final que é genérica, afinal, desta vez a produção não foi "bancada" pela força aérea como o primeiro e nem estamos na guerra fria mais, mas também não atrapalha (e um bom observador consegue identificar algumas possibilidades).
Algumas amizades levamos para o resto da vida, mas invariavelmente mudamos e reencontrar um amigo pode despertar ao mesmo tempo uma viagem no tempo nostálgica e uma preguiça imensa. ... Em de Férias de Família acompanhamos Sonny, um "dono de casa" supercontrolador com os filhos que é coagido pela esposa para ficar sozinho em casa enquanto ela viaja. Mas na incompetência de se divertir sozinho, resolve encontrar um velho amigo super descolado em sua festa de 44 anos. ... É uma fórmula bem recorrente nos filmes do Mark Wahlberg, ele é sempre o cara de meia idade radical que se mistura entre os "jovens" que encontra outra pessoa da mesma idade, mas que não se encaixa com nada apesar de fazer o padrão mais quadrado possível. Pode ser engraçado? Sim, mas o tipo de piada que vem disso já está bem desgastado. ... Assim, temos um filme que tenta, mas o riso é forçado, o Kevin Hart rapidamente perde a graça com as situações cada vez mais absurdas que se mete. E não sei o motivo de usar CGI em algumas cenas, pois fica pior que o velho "boneco de testes" que era jogado de um lado para o outro antigamente.
O que acontece quando percebemos que o tempo passou e não vivemos a vida que sempre quisemos? . Em X - A Marca da Morte, uma equipe de produção de filmes pornôs aluga uma cabana dentro de uma fazenda para fazer um filme de baixo orçamento, mas acabam se confrontando com um casal de idosos, donos da fazenda. . Ao trabalhar com o tema do confronto entre a juventude e a velhice, o diretor identifica o sexo como marcador não apenas de liberdade, como também de vida ou mera sobrevivência. Tudo encapsulado num terror slasher bastante gore, que homenageia as origens do gênero a partir não apenas dos temas, como à estética de fins da década de 1970. Vale ressaltar a proposta de trilogia semestral (até o momento já foi lançado a prequel e existe uma sequência em produção) que faz lembrar outra série de filmes de terror lançada pela Netflix em 2021. . O diretor trouxe alguns elementos técnicos de montagem que merecem destaque tanto pelo ritmo, que acabou empregando, quanto por decisões que acabam se tornando marcas pessoais na montagem. Criando a densa atmosfera sem pressa e com personagens arquetípicos, mas com elementos suficientes para nos importamos com eles. . Então, temos desde os cortes secos e paralelos espelhados (num ponto específico de mudança de ato), que remetem às produções da época; até (e principalmente) nas transições entre sequências feitas de forma progressiva, com trechos da sequência seguinte aparecendo antes de mudar em definitivo, como se aquele outro momento precisasse "pegar no tranco". . E ao ambientar em 1979 observamos não apenas os temas do cinema referenciados, mas uma especial atenção ao contexto de crise econômica e política que colocou em cheque a ideia de sonho americano, que apesar de ainda defendido, não passava de um sonho ingênuo. . Quebra de expectativa que representou uma mudança brusca na sociedade que passou a buscar respostas hora na liberdade individual evidenciados por Hollywood e a indústria nascente dos filmes independentes de homevideo, como, por outro lado, no fundamentalismo religioso que condenava tais comportamentos.
Infiesto
2.8 65 Assista AgoraNão foi por causa da Pandemia que os crimes pararam de acontecer.
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Em Infiesto acompanhamos a investigação sobre uma garota que reaparece na cidade depois de três meses desaparecida. Em poucos dias a polícia descobre uma possível ligação com uma série de crimes ritualísticos conectando-os ao sequestro de outras cinco crianças.
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Começando no primeiro dia de lockdown da pandemia de covid, assume esse evento recente como um fantasma ao longo de toda a história, de elementos de cena à função narrativa, temos a doença no uso ou esquecimento das máscaras, diálogos, cobranças, complicações e até mesmo motivação.
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Um bom suspense que se favorece das locações sempre chuvoso do norte da Espanha, e que nem precisa exagerar no filtro de cena azulado para criar a ambientação obscura. Somados às mortes que começam a acontecer aos montes, o clima ganha ainda mais densidade.
...
Em decorrência da trama ser cheia de elementos, a história parece acelerada em tela e na duração, nos conduzindo por uma investigação muito linear, onde quase todas as pistas e descobertas levam com poucos erros até a conclusão. Felizmente isso não significa que não podemos nos surpreender.
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Disponível: #netflix
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6/10
Morte Morte Morte
3.1 638 Assista AgoraÉ sempre bom reencontrar amigos que não vemos à muito tempo, mas antes de passar o fim de semanas juntos é bom descobrir se não existe nenhuma mágoa escondida.
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Em Morte, Morte, Morte acompanhamos um grupo de amigos que se reúne depois de muito tempo e depois de muita drogas e bebedeira resolvem brincar de uma versão mais agressiva de Detetive enquanto uma tempestade destrói tudo fora da casa.
...
A estrutura do terror adolescente todo mundo conhece, mas desde a chegada do casal protagonista à casa já percebemos que a tal amizade não parece assim tão real. E nessa relação de confiança se deteriorando a cada minuto que se revela o humor sarcástico expondo preconceitos, racismos e hipocrisias engolidas por anos, sobretudo quando um deles aparece morto.
...
O elenco é bastante entrosado e embarca nesse terrir com realidade, por mais que não dê para gostar de nenhum deles. E faz graça a partir de superficialidades da geração Tik Tok que só pensam em ativismos Instagramáveis
...
O mistério, por sua vez, é previsível e não demora muito para ser desvendado pelo espectador, sobretudo se ele não exagerar nos alucinógenos.
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Disponível: #hbomax
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6,5/10
Feliz Ano Nosso
2.4 5 Assista AgoraElevadores são caixas mágicas instaladas em edifícios que nos levam de um andar para outro, ou não.
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Feliz Ano Nosso vai mostrar uma das piores viradas de ano que alguém poderia imaginar: ficar preso num elevador com um desconhecido.
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É uma comédia, mas todo humor francês tem seus toques de drama, e estes aparecem como viagens que cada um faz nos traumas de infância e de relacionamentos, sempre utilizando um interessante recurso de "sair" do elevador e reviver as piores memórias.
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6/10
Em Outra Vida
2.2 11Quando o fim do mundo é inevitável, saber sobre ele só nos leva à depressão.
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Em Outra Vida astrônomos descobrem que um cometa está vindo em direção à Terra e depois de um encontro casual numa festa, Cole e Maya passam a (sobre)viver juntos.
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É um filme independente de baixíssimo orçamento que começa ruim e vai piorando ao se voltar para intermináveis discussões do casal e alucinações autoreflexivas.
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Disponível: #hbomax
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2/10
Glass Onion: Um Mistério Knives Out
3.5 651 Assista AgoraJá comentei como as tramas "Agatha Christie" vem ganhando espaço nos últimos anos, para vem ou para o mal e Entre Facas e Segredos apareceu como um dos melhores e mais azarados, pois sua estreia nos cinemas ocorreu bem no decreto da Pandemia.
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O filme foi redirecionado para o streaming e em poucos anos temos a continuação lançada direto na Netflix: Glass Onion. E a história começa com uma caixa quebra-cabeças misteriosa enviada para várias personalidades com um convite para participarem de um jogo numa ilha grega deserta.
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Seguimos para o encontro dos Disruptores com o detetive Benoit Blanc que faz o papel do espectador ao ser apresentado e nos apresentar aos excêntricos "jogadores de mistérios". Aos poucos os personagens estereotipados vão mostrando seus conflitos e que não medem esforços para conquistar os objetivos.
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E depois de um longo, mas nem por isso tedioso, primeiro o ato onde descobrimos todas os motivos para o assassinato do anfitrião, que deveria ser falso, mas logo se transforma num enigma digno do Sr.Blanc (que deixa de ser os olhos do espectador para ganhar o protagonismo).
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A princípio parece ser apenas uma comédia, sátira com outras produções do gênero e se ficasse apenas nisso já funcionaria muito bem, mas da mesma forma que uma cebola, e assumindo o título dessa continuação, tudo está à mostra, ao mesmo tempo que se revela em várias camadas.
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É possível que o espectador participe do jogo com apresentação de mistérios muito bem amarrados e que não depende de um Deus Ex Machina.
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Disponível: #netflix
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8/10
O Garoto Perdido
3.3 12Não importa o quanto mudemos nossas vidas, o passado está sempre à espreita para nós assombrar.
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O Garoto Perdido acompanha Fern, uma veterana do exército que volta para casa depois de 15 anos para viver onde morava na infância, uma cidade pequena no interior dos EUA. Mas é um local decadente e que parece ainda mais perigoso que o campo de batalha.
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Em meio a adaptação e enquanto procura o irmão desaparecido, encontra um garoto na floresta que tenta ajudar e passam a morar juntos. Mas Fern começa a apresentar alguns problemas de saúde e isso pode estar ligado a uma antiga lenda local. Mas onde a verdade se encontra com o preconceito?
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Temos um drama sobre traumas não resolvidos e de como a violência, além de deixar cicatrizes evidentes, elas não são apenas físicas. Um recorte do presente, de uma sociedade destruída marcada pelo crescente abismo social que abandona e segrega.
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Os pântanos estadunidenses, que sempre invocam uma aura de decadência, mais uma vez foi utilizado como pano de fundo transformando o seu entorno. Mas o roteiro aproveita isso para discutir sobre aparências, medos criados para o controle que precisam ser superados.
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Ambientação, atuação e trilha sonora, tudo convergindo para uma sinergia incomoda e impactante de um mundo que tentamos fechar os olhos.
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8/10
Nada de Novo no Front
4.0 611 Assista AgoraA guerra é uma indústria de moer carne, formado por covardes em suas torres que enviam crianças iludidas para se transformarem em herois de uma pátria que nem elas mesmas sabem o que significa.
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Em Nada de Novo no Front acompanhamos um grupo de jovens que se alista para participar da Grande Guerra do lado da Alemanha, conflito que em 1917 já se encontrava em seu terceiro ano, mas do qual pouca informação chegava nos centros onde residiam os possíveis recrutas. Sem treinamento, vemos os amigos se perdendo um a um, descobrindo que não passam de meros alvos.
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Para o espectador, essa percepção de inutilidade é colocada logo na introdução, ao nos mostrar uma batalha como outra qualquer que resulta em centenas de mortos enterrados em valas comuns e despidos de seus uniformes para vestir os novos soldados que chegariam em breve num ciclo sem fim.
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A narrativa se detém no Front, para mostrar os soldados, humanizados e despidos de ideologias e escolhas políticas, dentro das trincheiras só existe a ameaça constante da morte. Ainda assim, acompanhamos passagens referentes à burocracia, dos acordos entre os líderes de alta patente, generais seguros em seus palácios, irritados pela derrota que covardemente enviam soldados para morte. Nada de novo no Front.
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Com confrontos secos e soldados caindo a todo momento, o trauma deixa todos com a humanidade anestesiada, onde os poucos momentos de respiro na história nos convidam a acreditar em momentos de paz junto com os personagens, apenas para nos conquistar com esperanças falsas.
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O bom ritmo narrativo aliado à ambientação enevoada das bombas imerge o espectador nas trincheiras, incomodando e provocando com o cenário claustrofóbico.
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Como curiosidade, este filme foi inspirado num livro de 1929 que, por sua vez, serviu como base para um filme em 1930 que foi banido por Hitler por passar uma mensagem que para ele soava derrotista.
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Disponível: #netflix
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8,5/10
Lenda Urbana
2.8 764O filme Pânico não foi responsável apenas por uma franquia, mas por cópias que se saíram (geralmente) pior com o passar do tempo.
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Uma dessas produções foi Lenda Urbana, onde acompanhamos um grupo de universitários que começa a morrer um a um de acordo com lendas urbanas.
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Nostalgicamente eu lembro de gostar muito quando assisti na adolescência e os tema que serve como inspiração para as mortes continua interessante; também me surpreendi com o elenco que reúne um grupo grande de atores que se mantiveram na mídia só longo dos últimos vinte anos.
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Mas o filme é muito ruim, os atores ainda são bem fracos, com um ou outro se saindo melhor; o ritmo de desenvolvimento é lento e ainda que o regime de mortes seja bem distribuído, parece que o tempo não passa, em decorrência de uma montagem e direção apenas protocolar.
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Enfim, triste revisão de algo que eu tinha uma boa lembrança.
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3/10
O Cântico dos Nomes
3.4 34 Assista AgoraDe vez em quando, a música pode ser a única forma de se expressar.
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Em Cântico dos Nomes acompanhamos Martin, um músico caçador de talentos que durante uma competição descobre pistas sobre um gênio do violino que viveu com ele na infância, mas que sumiu no dia que iria se apresentar no principal teatro de Londres.
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O filme se passa em dois tempos intercalados, a infância de Martin e sua amizade com Dovidl e o presente (meados da década de 1980), quando David começa sua jornada para reencontrar o velho amigo desaparecido.
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Durante a infância vemos o companheirismo da dupla crescendo ao mesmo tempo que precisam enfrentar o medo da guerra que pode ter matado os pais de Dovidl e também os ameaça todas as noites. A história avança aos poucos e logo os reencontramos já jovens com planos de crescer no meio musical e Dovidl sem saber o que aconteceu com a família.
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O elenco é sensacional, Tim Roth leva grande parte da história, mas já é um ator reconhecido, agora, quem rouba a cena na primeira metade do filme são os jovens Misha Handley e Luke Doyle, com a brilhante performance de Luke no violino que na época tinha apenas onze anos.
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Disponível: #netflix
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9/10
O Preço da Família
3.1 16 Assista AgoraO natal em nossa sociedade é uma data familiar importante, independente da religião que seguimos ou deixamos de seguir, mas até onde estamos dispostos para manter essa tradição?
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Em O Preço da Família conhecemos Carlo e Anna, pais coruja que passaram a ser ignorados pelos filhos assim que eles saíram de casa. Para tentar chamar a atenção e garantir o almoço de natal em família, o casal contou uma pequena mentira, que ganharam uma herança milionária de uma tia distante. Por interesse e falsidade, o plano de reunião começa a funcionar, mas as desculpas vão escalonando e logo tudo sai do controle.
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Uma comédia italiana familiar e divertida com uma ótima química de elenco e que testa todos os limites da convivência e da mentira.
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6/10
Jurassic World: Domínio
2.8 548 Assista AgoraNunca crie expectativa para nada, isso ajuda a não nos decepcionarmos (já falei aqui algumas vezes e sempre funciona... Ou pelo menos na maior parte das vezes).
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Ainda assim, é difícil levar a sério algo que se transformou numa paródia de si mesmo. A franquia do Parque dos Dinossauros nunca foi grande coisa, pois apenas o primeiro filme era realmente bom. Mas mesmo assim, os dinos foram ressuscitados num remake autoindulgente em Jurassic World.
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O reinício foi um remake; sua continuação, uma tentativa de trazer novas temáticas; e agora o terceiro, um mosaico de referências que vão de Indiana Jones a Missão Impossível, nunca empolgando tanto, mas sempre deixando claro suas "inspirações".
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Assim, como uma grande comemoração, temos a reunião dos protagonistas de ambas as trilogias num enredo mal colado mesclando duas narrativas: o resgate de Maise, a adolescente clone descoberta por Claire e Owen; e a praga dos gafanhotos mutantes criado pela Biosyns. Duas tramas que se encontram de sopetão para juntar todos os personagens.
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Jurassic World: Domínio começa com um documentário em tom de teoria conspiratória que nos contextualiza sobre o que ocorreu após a fuga dos dinossauros para o mundo, como se transformaram em animais exóticos explorados ao mesmo tempo que ameaçam os humanos e outros animais que ainda não tinham sido extintos.
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Em seguida conhecemos a situação de cada um dos personagens nesse novo contexto, novos e velhos, para só então as duas principais tramas começarem. Ambas orbitando a preocupação com desequilíbrio ecológico e as questões éticas de criar e manipular a vida, mas sempre de forma bem superficial, o foco mesmo é a correria e a mãozinha encantadora de dinossauros.
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O segredo para se divertir é embarcar na galhofagem e nos quase superpoderes de cada personagem que dependem enormemente da sorte, conveniência e burrice aleatória para continuarem vivos ou perseguindo implacavelmente seus objetivos.
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Até mesmo o efeito especial parece cair de qualidade em algumas sequências, o que me fez duvidar da conexão da internet, mas confirmei o problema em outras críticas.
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Por fim, foi um encerramento de ciclo fraco comparado ao potencial apresentado até mesmo por ele próprio, mas funciona como um filme de ação com as pitadas de nostalgia.
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6,5/10
Como Seria se...?
3.4 182 Assista AgoraAlguns momentos da vida somos confrontados com uma realidade que não controlamos, não importa o quanto nos planejamos para algo.
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Em Como seria se...? conhecemos Natalie, uma garota que no dia da formatura descobre que ficou grávida de seu melhor amigo... E também que não ficou grávida de seu melhor amigo. Confuso? Talvez, mas o que o filme propõe é contar as duas possibilidades, com dificuldades e alegrias advindos de cada um.
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É uma comédia dramática leve que encara as questões sobre amadurecimento alternando em duas frentes: a maternidade de um lado e o primeiro emprego de outro. Ambos caminhos conduzidos com certo otimismo, mas também com realismo, sem se render para a fantasia de uma comédia romântica idealizada e glamourizada, ou para um dramalhão.
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Assim, acompanhamos duas possibilidades, entre tantas outras que poderiam acontecer, sem nenhum amor predestinado ou trabalho enobrecedor e definitivo, simplesmente escolhas com planos e sonhos que precisam ser adaptados e suas consequências. Felizmente, sem querer dar nenhuma lição de moral, para nenhum dos lados (algo que poderia acontecer facilmente).
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Mas para além do roteiro, o filme conquista pelo carisma da protagonista, favorecido pela direção e montagem que conduzem as duas narrativas sem tornar confuso nenhuma das linhas do tempo. Um domínio conquistado pela boa sinergia entre os três elementos mencionados e que dispensa até o tradicional recurso de filtros coloridos para pontuar cada possibilidade, fazendo apenas por meio das mudanças no figurino e atuação.
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7,5/10
A Babá
3.0 97 Assista AgoraO cinema sempre se inspira na sociedade para suas histórias, mas são os horrores estruturais que mais apavoram.
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No filme A Babá conhecemos Aisha, imigrante senegalesa que foi morar nos EUA para tentar dar uma vida melhor para o filho que ficou com uma prima em Senegal. Ela começa a trabalhar como babá para uma família enquanto sofre com a distância de seu filho.
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A solidão e saudade, ligada à alguns abusos que sofre, aos poucos provocam pesadelos e alucinações, prenúncios de um mal ainda não identificado. Essa construção cria uma atmosfera de tensão que resulta num ritmo lento, mas que convida o espectador a se conectar profundamente com Aisha.
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É um drama com alguns elementos visuais de horror (marca da produtora Blumhouse) que discute sobre a dificuldade dos imigrantes em se adaptar e serem aceitos, a segregação que resulta de estruturas sociais hipócritas e preconceituosas, o falso progressismo desconstruído que se encerra nas aparências.
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Vários temas que se alinham bem, mas existe uma literalidade desnecessária em algumas passagens, momentos que já estavam claros são reafirmados enfraquecendo o filme. Além disso, o encerramento falha ao ficar num meio termo entre o apressado e prolongado (aqui fica difícil não entrar em spoilers, mas o filme ganharia em dramaticidade com um minuto a menos, quem assistir vai entender).
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Ainda assim, para além dos elementos narrativos, a produção se destaca pelo cuidado em construir uma Nova York autêntica, incomum, trazendo costumes e estéticas de diferentes países da África que formam bairros que reúnem as populações africanas que vivem em comunidade na cidade.
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8/10
As Aventuras de Agamenon - O Repórter
1.2 1,0KNinguém é isento de fazer algo ruim, mas sempre me surpreendo com algumas participações.
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O filme As Aventuras de Agamenon - o repórter, conta a história de um repórter fictício por meio de uma narrativa de falso documentário narrada pela Fernanda Montenegro (sim, Fernanda Montenegro !!!).
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Com humor ralo, bobo e sem graça, é quase sempre racista, misógino, homofóbico ou fruto de algum outro preconceito. Parece que escolheram as piores ideias do Casseta e Planeta para o filme, não sei como alguém deu sinal verde pra produção e ainda lançou o filme.
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Não vale a pena assistir, mas se existe algo razoável é o formato de documentário. Além de ver atores e personalidade passando vergonha, com alguns ainda tentando entregar algo, e outros que não vale nem a pena comentar.
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0/10
Viagem Entre Estranhos
3.1 13 Assista AgoraConhecer pessoas é sempre algo difícil, principalmente numa carona de longa distância.
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Em Viagem entre Estranhos acompanhamos quatro pessoas reunidas por um aplicativo de carona para um trajeto de quatro horas entre Madrid e Murcia.
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A comédia se passa quase que inteiramente dentro do carro que, assim como as viagens reais, os diálogos são tão constrangedores quanto os silêncios. O que destoa (assim espero) é apenas a situação do motorista do filme que parece estar mentido sobre suas intenções.
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Uma história curta e dinâmica, que conseguiu um bom ritmo ao equilibrar gêneros narrativos do humor ao terror, passando pelo drama e suspense a partir da provocação em relação ao nível de estranheza que os passageiros conseguiam admitir contra o motorista antes de surtar completamente.
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7,5/10
Madres, Mães de Ninguém
2.5 34A realidade consegue ser muito pior que o sobrenatural.
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Em Madres acompanhamos Diana e Beto, um casal de latinos que, no fim da década de 1970, passa a morar numa cidadezinha do interior da Califórnia que reúne uma comunidade mexicana. Beto é supervisor de trabalhadores no campo e Diana uma jornalista que pretende escrever um livro enquanto espera o fim da gravidez.
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Não é preciso dizer como esse cenário é uma somatória de clichês e que esteticamente ele ainda se vale de cenas clássicas como a panorâmica do carro chegando na nova casa ou as sequências que criam tensão apenas para assustar em seguida.
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Clichês que servem de base para a questão dos imigrantes latinos nos EUA: da xenofobia aos abusos trabalhistas, o uso sem controle dos agrotóxicos e até mesmo uma complexa trama de eugenia. Elementos inspirados em eventos reais que ainda acontecem nos EUA, mas que não ganham espaço na mídia e são prontamente abafados pelo Estado.
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Infelizmente o desenvolvimento é bastante superficial, com o roteiro se agarrando na fórmula padrão de filmes de horror B ao trazer uma maldição que mascara a realidade e não deixando a trama de saúde pública avançar como poderia (discutindo inclusive a questão cultural como forma de controle).
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Ainda assim, o tema proposto é interessante, apresentando bom ritmo e tempo de filme suficiente para evoluir a história sem torná-la cansativa, com atores pouco conhecidos, mas que fazem um bom trabalho.
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Infelizmente ele é dependente do epílogo textual que deixou mais claro a conexão com eventos reais e ainda em conflito jurídico, ressaltando a atualidade do que foi apresentado. Porém, poderia ser muito melhor.
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6/10
Ruído Branco
2.7 204O ruído branco é um som aleatório de frequência variada, mas de potência constante que atrapalha a atenção, uma cacofonia que nos impede focar em qualquer coisa.
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O filme Ruído Branco, nos apresenta uma feliz família que mora numa cidadezinha estadunidense no início da década de 1980. Ela é formada por quatro filhos neuróticos, uma esposa com problemas de memória e um pai professor universitário, o maior especialista em Hitler.
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Um belo dia, acontece um acidente químico num descarrilamento próximo da cidade e uma nuvem tóxica surge ameaçando e expulsando todos de suas casas. Ao ser exposto à nuvem, o professor Jack Gladney descobre que pode ter apenas mais 15 anos de vida, em média, e isso coloca sua mortalidade em perspectiva.
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É uma comédia dramática que se apresenta por meio de uma cadeia de acontecimentos surreais entre personagens com excentricidades naturalizadas, e a série de situações provoca o expectador a tomar consciência de das próprias excentricidades.
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A ambientação oitentista é o melhor da produção, pois ela reconstrói a década de 1980 em todos os aspectos, preocupando-se com os mínimos elementos dos cenários até o zeitgeist da época que traz uma mistura de medo e desinformação. O elenco complementa muito bem, com destaque para Adam Driver que protagoniza o filme.
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Infelizmente o desenvolvimento é muito confuso, com ideias inseridas e esquecidas com o passar dos três atos que são demarcados telas de título, quase numa estrutura de série sitcom, na qual nem tudo se resolve dentro de um mesmo episódio, mas pouca coisa é levada para o próximo.
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7/10
O Homem do Norte
3.7 938 Assista AgoraMuito se fala que não existe mais imaginação no cinema atual, que tudo que assistimos é copiado de algo, mas mesmo o tão aclamado Shakespeare teve suas inspirações.
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Em O Homem do Norte acompanhamos Amlet, um jovem príncipe nórdico do século IX baseado na mitologia nórdica, sobre um príncipe que jurou vingança contra o tio que matou seu pai quando era criança, o Homem do Norte além de trazer o personagem que inspirou Shakespeare a criar Hamlet, empresta do autor inglês a linguagem teatral.
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Esse épico dramático de ação mistura elementos vindos de diferentes mídias em suas sequências da geografia teatral onde pequenas narrativas acontecem como se espalhadas no palco, apenas esperando o olhar do espectador guiado a partir de planos sequência.
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A própria narrativa dividida explicitamente em vários atos com títulos anunciando as mudanças até a própria atuação e tipos de enquadramento escolhidos que ampliam a carga dramática.
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A fotografia aproveita as fantásticas paisagens islandesas, mas se destaca nas passagens internas ou quando a escuridão emoldura as cenas, as transformando em pinturas na qual os protagonistas ganham destaque pelas cores mais fortes e pelo movimento que muitas vezes são os únicos a se mexer, ressaltando ainda mais a impressão do contraste entre o estático e o movimento.
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9/10
Anjo Maldito
1.4 179Qual o limite do amor dos pais para um filho? Até onde ele pode ser protegido?
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Em Anjo Maldito acompanhamos Lenore Harker que por causa da gravidez, abandona a faculdade para viver com o namorado numa casa de campo. O bebê apresenta um crescimento inesperado que a obriga fazer uma cesariana com uma gestação de seis meses.
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O parto acontece, mas assim que o bebê é retirado do corpo da mãe, descobrimos toda a equipe médica brutalmente assassinada. A partir de então coisas estranhas começam a acontecer com a mãe e o bebê.
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É um remake desconhecido de um filme obscuro de 1974 e o tom de horror bizarro se mantém. Como produção de baixo orçamento até que se sai muito bem em estabelecer ritmo e desenvolvimento. Também é interessante a forma como o filme "não mostra" os atos de violência, apenas seus chocantes resultados.
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No entanto, as atuações são muito irregulares, a protagonista se destaca por ser a pior de todas, perdendo até para o bebê em efeitos digitais. Efeitos que são bem precários, mas que amplificam a aura trash que temos desde a trama.
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Além disso, a direção insiste nos batidos sons que anunciam os sustos, isso mais incomoda do que ajuda em alguma coisa. Som, aliás, não é o forte, já que aparentemente houve falha na captação e os diálogos parecem todos dublados (mesmo na língua original).
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5,5/10
Morbius
2.3 522No início da década de 1970 a editora Marvel encontrou um nicho de mercado abandonado alguns anos antes por uma política de censura, o terror. Assim vários personagens foram criados ou sofreram releituras do clássico com o superheroico.
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Assim nasceu Morbius, uma mistura de Médico e Monstro com Drácula e pitadas de Frankenstein. Explico, ele é um médico com uma doença debilitante que na tentativa de descobrir uma cura, acaba se transformando numa criatura sedenta por sangue, mas que também passa a sofrer por sua nova condição.
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A versão em carne e osso da Sony que se passa numa espécie de universo apêndice da Marvel que inclui o Venom traz essa origem. E para criar conflitos mais combativos insere um melhor amigo que também toma o soro, mas não se importa onde coloca suas presas.
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A produção tem um visual legal, gostei da forma como o Morbius se transforma e os efeitos dos poderes, mas os combates não tem muita imaginação e definitivamente não empolgam, além de serem confusos.
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Os problemas não param, pois falta ritmo e tem uma montagem (e consequente continuidade capenga). O roteiro também não consegue encontrar alguém para temer ou nos importarmos, os atores estão sempre com aquela cara de paisagem e mesmo o Jered Leto (que tanto "se entrega" para seus personagens) pareceu apagado.
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Apesar de tudo, ele não é aquele desesperador pior filme já produzido, é simplesmente ok, tem um espírito da década de 2000, quando os estúdios tinham um pouco de vergonha desse tipo de adaptação, mas não ofende como Venom.
O Pálido Olho Azul
3.3 272 Assista AgoraInspirado num livro de Louis Bayerd, publicado em 2003, somos levados aos Estados Unidos de 1830 num suspense que conta com a presença do jovem Edgar Allan Poe.
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Pálido Olho Azul conta a história da investigação sobre um jovem soldado da academia militar que foi encontrado enforcado e o coração arrancado. Quem assume o trabalho é Augustus Landor, um detetive aposentado que faz parceria com o empolgado cadete Allan Poe.
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O roteiro não perde tempo na apresentação do protagonista, e logo nos coloca em meio a interrogatórios e recolha de pistas. Impondo um bom ritmo narrativo de descobertas intercalados com diálogos que nos ajudam a organizar as informações.
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A ambientação envolta em névoa e campos nevados oprime nosso olhar, flertando com o sobrenatural e ganhando tons góticos. Mas o maior destaque fica com o desenvolvimento de Landon e Poe.
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Os protagonistas são antagônicos e complementares. A figura de Allan Poe é inteligente, eloquente e parece absorver tudo que vivencia, juntando as peças quase inexistentes de quebra-cabeças mentais. Landon, por sua vez, carrega a certeza da experiência, descobrindo aos poucos elementos bizarros sem ser afetado por eles ao mesmo tempo em que a mágoa pela filha desaparecida parece ser a única coisa que o mantém vivo.
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É um filme que captura o espectador, mas com algumas conveniências no desenvolvimento da investigação e que ganha força se conhecermos o Allan Poe histórico, como se essa experiência fosse essencial para quem ele viria a ser.
Top Gun: Maverick
4.2 1,1K Assista AgoraMuitos foram os revivals e reboots lançados nos últimos anos, mas poucos podem se orgulhar de superar o original, Top Gun é um deles.
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Em Top Gun: Maverick acompanhamos o piloto rebelde Pete "Maverick" Mitchell, mais de 35 anos depois dos eventos mostrados no filme original, trabalhando como piloto de testes para a marinha, quando recebe a missão de treinar jovens pilotos para uma missão impossível.
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A direção foi bem consciente na criação de uma ambientação sem pressa e embalada apenas por sons locais e a trilha sonora do filme de 1986. Leva o espectador a esse outro mundo aos poucos, numa grande sequência videoclíptica de aviões decolando e pousando num porta-aviões para em seguida mostrar o Tom Cruise que chega com toda marra numa base aérea de testes.
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É um roteiro simples que amarra vários clichês, situações típicas dessas produções pautadas pela nostalgia, mas bem conduzido, de forma a ganhar ainda mais peso quando sequências e músicas são referenciadas com reencontros recorrentes.
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E como muitos revivals, Top Gun traz o conflito de gerações entre o velho herói e um novo tempo. Inicialmente até temos a trama da tecnologia substituindo o piloto (já trabalhada em outros filmes como o terror Stealth). Mas o foco se volta para Maverick precisado domar os jovens pilotos que vão encarar uma missão suicida, conflito que fica mais complexo quando descobre que um deles é filho de um amigo já falecido.
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Mas apesar de ser favorecido pela lembrança do filme dirigido por Tony Scott em 1986, ele não se basta a um montado de recordações. O filme funciona por si só, apresentando personagens novos, ainda que pudesse aprofundar mais em um ou outro novato.
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Os conflitos do Maverick, que nunca superou as perdas do passado, é equilibrado com sequências de ação realistas de tirar o fôlego, pode parecer inacreditável (e é), mas Tom Cruise faz a maioria das cenas dentro dos caças (e obrigou seu jovens colegas a fazer o mesmo).
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Por outro lado, incomodou um pouco a falta de consequências mais trágicas por maiores os riscos que existem e nos deixam tensos todo o tempo. Outra decisão discutível é a criação de uma nação vilã final que é genérica, afinal, desta vez a produção não foi "bancada" pela força aérea como o primeiro e nem estamos na guerra fria mais, mas também não atrapalha (e um bom observador consegue identificar algumas possibilidades).
De Férias da Família
2.5 78 Assista AgoraAlgumas amizades levamos para o resto da vida, mas invariavelmente mudamos e reencontrar um amigo pode despertar ao mesmo tempo uma viagem no tempo nostálgica e uma preguiça imensa.
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Em de Férias de Família acompanhamos Sonny, um "dono de casa" supercontrolador com os filhos que é coagido pela esposa para ficar sozinho em casa enquanto ela viaja. Mas na incompetência de se divertir sozinho, resolve encontrar um velho amigo super descolado em sua festa de 44 anos.
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É uma fórmula bem recorrente nos filmes do Mark Wahlberg, ele é sempre o cara de meia idade radical que se mistura entre os "jovens" que encontra outra pessoa da mesma idade, mas que não se encaixa com nada apesar de fazer o padrão mais quadrado possível. Pode ser engraçado? Sim, mas o tipo de piada que vem disso já está bem desgastado.
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Assim, temos um filme que tenta, mas o riso é forçado, o Kevin Hart rapidamente perde a graça com as situações cada vez mais absurdas que se mete. E não sei o motivo de usar CGI em algumas cenas, pois fica pior que o velho "boneco de testes" que era jogado de um lado para o outro antigamente.
X: A Marca da Morte
3.4 1,2K Assista AgoraO que acontece quando percebemos que o tempo passou e não vivemos a vida que sempre quisemos?
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Em X - A Marca da Morte, uma equipe de produção de filmes pornôs aluga uma cabana dentro de uma fazenda para fazer um filme de baixo orçamento, mas acabam se confrontando com um casal de idosos, donos da fazenda.
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Ao trabalhar com o tema do confronto entre a juventude e a velhice, o diretor identifica o sexo como marcador não apenas de liberdade, como também de vida ou mera sobrevivência. Tudo encapsulado num terror slasher bastante gore, que homenageia as origens do gênero a partir não apenas dos temas, como à estética de fins da década de 1970. Vale ressaltar a proposta de trilogia semestral (até o momento já foi lançado a prequel e existe uma sequência em produção) que faz lembrar outra série de filmes de terror lançada pela Netflix em 2021.
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O diretor trouxe alguns elementos técnicos de montagem que merecem destaque tanto pelo ritmo, que acabou empregando, quanto por decisões que acabam se tornando marcas pessoais na montagem. Criando a densa atmosfera sem pressa e com personagens arquetípicos, mas com elementos suficientes para nos importamos com eles.
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Então, temos desde os cortes secos e paralelos espelhados (num ponto específico de mudança de ato), que remetem às produções da época; até (e principalmente) nas transições entre sequências feitas de forma progressiva, com trechos da sequência seguinte aparecendo antes de mudar em definitivo, como se aquele outro momento precisasse "pegar no tranco".
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E ao ambientar em 1979 observamos não apenas os temas do cinema referenciados, mas uma especial atenção ao contexto de crise econômica e política que colocou em cheque a ideia de sonho americano, que apesar de ainda defendido, não passava de um sonho ingênuo.
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Quebra de expectativa que representou uma mudança brusca na sociedade que passou a buscar respostas hora na liberdade individual evidenciados por Hollywood e a indústria nascente dos filmes independentes de homevideo, como, por outro lado, no fundamentalismo religioso que condenava tais comportamentos.