Não é apenas Hollywood que tem seus épicos, outros países possuem heróis que ainda são desconhecidos. ... Em Medieval acompanhamos Jan Zizka e um grupo de mercenários batalhando na região da Boêmia, no início do século XV, quando toda a Europa sofria com constantes conflitos entre reinos e as consequências da peste negra. ... O roteiro utiliza esse estado de permanente guerra como pano de fundo para mostrar um recorte na vida do comandante Zizka, com foco no sequestro da noiva do rei Henrique de Rosemberg. Basicamente a mulher é sequestrada e resgatada várias e várias vezes até o espectador (ou mesmo os personagens) não saberem mais quem está sequestrando ou resgatando. ... São idas e vindas que tornam a narrativa cansativa e confusa, fundamentado num roteiro simplista e protocolar, com alguns diálogos soando exageradamente didáticos e frequentemente complementados com cenas óbvias. ... Felizmente a produção se dedicou à parte técnica da ambientação, figurinos e cenas de batalhas. Desta última, inclusive, presenciamos construções estratégicas variadas e inventivas, com confrontos violentos e bastante gráficos. ... Mas os problemas de ritmo do roteiro se aprofundam ainda mais pela escolha da Netflix em deixar a fala dos personagens nas legendas empoladas e nada naturais, característica que não encontra paralelo com o idioma original.
Algumas perdas demoram a ser superadas, outras nunca são. ... Em Juntos Novamente conhecemos Gina, uma promissora empresária musical que depois da morte do irmão num acidente se carro entrou em depressão, mas passados 10 anos descobre que um garoto compositor pode ser a reencarnação de seu irmão. ... Uma história bem água com açúcar que mistura o tema do pós vida (ou do retorno da morte) com uma ambientação escolar e embalado por surfmusic. ... Se fosse apenas pelo roteiro clichê e previsível até poderia ser aceitável, mas nenhum dos atores ajudam e existe um sério problema de captação de som que deixa claro que muitas das cenas foram dubladas na pós produção e terrivelmente dubladas.
O impossível pode ser uma mentira muito bem contada, ou simplesmente uma conveniência. ... No filme O Milagre acompanhamos Elizabeth Wright, uma enfermeira do século XIX contratada por um grupo de pessoas influentes de uma pequena cidade irlandesa para investigar um milagre (ou fraude), uma garota que não se alimentava fazia mais de quatro meses e aparentava estar normal. ... Uma trama baseada em eventos que ocorriam com certa recorrência na Era Vitoriana com embasamento em vasta documentação. Trata-se se um drama psicológico bastante lento que perpassa motivações religiosas, políticas e sensacionalistas a qual a enfermeira se contrapõe. ... O início do filme é nada menos que peculiar, pois nunca esperamos ver o esqueleto dos cenários como a um making off, principalmente numa produção de época, uma escolha interessante que poderia indicar uma construção mais teatral ou uma metáfora para os enganos, os subterfúgios promovidos pelo cinema criador de realidades e que faz o espectador acreditar (e até viver) por meio de um acordo silencioso. Mas ao utilizar o recurso apenas às primeiras e últimas cenas, a intenção ficou meio perdida no contexto geral. ... E assim, não podemos esquecer do maior destaque, a protagonista, pois é um filme onde Florence Pugh brilha mais uma vez, se mostrando uma das principais atrizes de sua geração.
A humanidade tem alguns sonhos que são quase independentes da cultura, mas todo desejo deve ser feito com cuidado. ... Com nome de terror B dos anos 80, Herança Maldita conta a história de Mary Aldrich, uma mulher que vai com o marido para uma ilha isolada verificar o túmulo da mãe que foi vandalizado, mas acaba ficando presa no local. ... É uma produção de baixo orçamento que abraça a estética B ao utilizar sem medo uma mescla de elementos narrativos e de linguagem que referencia o cinema da década de 1930 à 1990. Uma interessante proposta, mas que infelizmente não foi bem dosada e nem sempre funciona. ... Assim, depois de um monólogo delirante inicial de uma mulher que parece falar com o espectador sobre a impossibilidade de fugir dos próprios pesadelos, somos levados para uma ilha povoada por pessoas excêntricas que aparecem e desaparecem em meio à névoa. ... Névoa que contribui para criar a ambientação soturna e misteriosa, não nos permitindo enxergar para além de alguns metros à frente, e assim se valer de apenas poucos elementos visuais para sugerir o terror. Ainda assim, não tem como não pensar num jogo "point and click" dos anos 1990 do qual o horizonte era sempre "borrado" por uma neblina. ... Com uma divisão em capítulos entrecortados por alguns flashbacks, temos pistas sobre os passados da protagonista e sua mãe, bem como do que acontece na ilha, mas sem muito aprofundamento. Tecnicamente o que vemos por mais tempo é apenas a Mary correndo de um lado para o outro em uma ilha quase deserta. ... A atriz que faz a protagonista é competente, apesar de não se exigir muito de sua atuação; e o ritmo lento procura remeter ao horror lovecraftiano, ainda que algumas escolhas tornam o filme um pouco cansativo mesmo ele já sendo curto. ... Por fim, os sons estridentes e a trilha sonora incessante são recursos ultrapassados, mas que claramente não foram colocados apenas para preencher o silêncio. Assim temos um filme que funciona mais como laboratório do que um produto comercial, mas que pode agradar se tiver as expectativas calibradas.
A liberdade pode ser interpretada de várias formas, a única constante é que sempre terá alguém querendo destruí-la. ... Um Lugar Bem Longe Daqui começa com uma morte no pântano, Chase Andrews, o quarterback mulherengo do povoado, não tão querido, mas certamente conhecido por todos. A primeira suspeita é uma garota que mora nesse mesmo pântano e para complicar ela resolve fugir da polícia. Mas o que mais estaria por trás disso? ... Passamos então a garota Kya Clark que narra sua história para o advogado que vai representá-la. Conhecemos sobre sua infância de abandono, um pai violento que afastou a esposa e todos seus filhos, até que ele mesmo vai embora e deixa a pequena Kya à própria sorte. ... Com o julgamento deixado para segundo plano por um bom tempo ao longo do filme, o que temos é um romance dramático sobre uma garota solitária abandonada por todos à sua volta, que sofre com a violência de formas diretas e indiretas, mas por nunca se integrar à cidade, tornou-se a vítima perfeita para ser acusada. ... Seu ritmo é lento, contemplativo, trazendo a desconexão da protagonista com o tempo do mundo urbano, ainda que esse urbano é o de uma pequena cidade de interior em meados do século XX. Mas ele nunca se torna tedioso, simplesmente reflete o ambiente onde a história se passa. ... O elenco bem escolhido e dirigido traz vida à trama provocando sentimentos e conduzindo Kya, uma personagem complexa, que quebrar o estereótipo de inocência ao apresentar uma garota que precisou crescer muito rápido e mesmo a parte da sociedade, conhece seus perigos e os evita. ... E por fim não tenho como não mencionar a fotografia que captura a beleza dos pântanos e brejos da Carolina do Norte que também se encontra com o oceano. Natureza está que nos remete ao bucólico pela paleta de cores, embora não esconda um lado selvagem.
Para um ator, a crise da meia idade é geralmente resolvida com um filme sobre si mesmo. Assim, para os cinéfilos nada melhor que ver um dos atores que mais trabalha em Hollywood. ... O Insuportável Peso de um Grande Talento conta a história de Nicolas Cage, no seu primeiro filme depois de pagar todas as contas pendentes na última década, fazendo uma versão ainda mais estereotipada (será?) dele mesmo que, ao tentar um novo papel, revisita todos os filmes que já tinha feito. ... A história é uma desculpa para intercalar vários memes e cenas um atrás do outro como se fosse um grande quiz sobre a carreira do ator para os fãs e por isso acaba não se sustentando para além do próprio Cage. ... Assim, acompanhamos uma comédia com que transita em momentos de drama ou ação com atuações sempre exageradas mostrando como o ator não tem vergonha de parecer bobo. Quem o acompanha muito bem é Pedro Pascal como um fã milionário que quer seu ídolo em um filme roteirizado por ele. ... E como se não bastasse a todo momento termos frases, objetos de cena ou mesmo sequências "recorta e cola", ele também contracena com uma versão ainda mais louca e jovem dele mesmo em alguns momentos de maior crise interna. ... Mas é só isso, chega a ser divertido para quem assistiu boa parte da filmografia de Nick, mas não vai muito além disto.
Vez ou outra aparece nos catálogos de streaming o "subgênero" filmes de Pandemia, eis que temos mais um com Maldição da Floresta. ... Nesse filme acompanhamos um cientista e uma guarda florestal atravessando uma floresta para o local onde um grupo estaria pesquisando a cura para uma doença mortal que colocou os sobreviventes em isolamento. ... No meio da viagem, a dupla é atacada no meio da noite e tem seus pertences roubados, em especial os sapatos (muito importante). A dupla então encontra no dia seguinte uma pessoa excêntrica e definitivamente nada confiável. ... O filme fica mais e mais estranho a medida que o tempo passa com conversas com a natureza por meio de sons, luzes e até mesmo manifestações artísticas. Nesse momento já sabemos que a trama de sobrevivência, que havia se mesclado à questões científicas e religiosas, toma um caminho sem volta para a psicodelia, com direito a sons bizarros, luzes piscantes e imagens calendoscópicas.
Todos precisamos nos reinventar, até o demônio para possuir novas vítimas. ... Em Na Mente do Demônio conhecemos Carly, uma mulher solitária e depressiva que descobre que a mãe está em coma numa instituição médica de alta tecnologia que quer testar uma realidade virtual capaz de entrar na mente do paciente. A protagonista logo é tomada por alucinações, sua melhor amiga desaparece e ela se encontra no meio de teorias conspiratórias envolvendo a Igreja. ... Um suspense de ritmo extremamente lento e monótono, com atores que, talvez por falha na direção, apresentam atuações tão fracas que nem parece terem lido o roteiro antes (supondo que tenha existido um) numa história que definitivamente não consegue cativar. ... Ainda assim, algumas soluções estéticas para o baixo orçamento são interessantes, como o uso da rotoscopia com saturação ressaltada complementada pelo cenário inacabado e com falhas no estilo The Sims, quando imergimos na Realidade Virtual. Mas até ela é pouco usada, e quando aparece tem um aspecto de tecnologia ultrapassada.
Um filme nem sempre se mede apenas pela qualidade ou pelo sucesso mas bilheterias, algumas vezes ele supera a si mesmo e atinge o público por sua representatividade. ... O primeiro l Pantera Negra já não seria apenas mais uma origem de super herói no cinema, seus produtores queriam chegar à outros públicos, ou pelo menos os fãs de forma diferente. Ele cumpriu o papel e mais pessoas encontraram um herói em quem se reconhecer (ainda que um monarca) com algo que ia além de apenas a troca de socos e raios. ... De 2018 para 2022 o universo da Marvel era outra, mas a principal mudança de percurso foi a perda de Chadwick Bowsman, ator que deu vida ao Pantera e infelizmente foi vítima de um câncer. Ele não foi embora sem deixar um legado e a sequência de Pantera Negra, antes era inevitável, agora tinha se tornado um desafio ainda maior. ... Assim, nesse segundo filme o luto e a dor perpassam toda a história com a figura de Chadwick como principal referência, mas se estendendo para um contexto de vingança e guerra. No roteiro um misto vindo das consequências de um povo que nutriu ódio contra a superfície ao longo de séculos e que se sentiu forçado a se revelar. ... Tais críticas políticas são o ponto mais fraco da trama, pois o envolvimento de França e EUA numa tentativa de roubar vibranium, espionar os wakandanos e exercerem seu imperialismo tradicional acabou sendo superficial e até esquecido. ... Ainda assim, o que domina é um tom mais sóbrio que até flerta com o horror na forma como os subaquáticos se revelam para o espectador, mas nunca para os viventes da superfície, uma possível referência dos quadrinhos, se alguém quiser ler algo do príncipe submarino leia "Namor - Nas Profundezas". ... Temos também a produção mais brutal da Marvel, talvez porque as perdas sejam reais, mas principalmente pelo roteiro respeitosos que não se perde em piadas sem graça, elas existem, mas são pontuais e não atrapalham, não tiram o peso como é de costume. ... Outro elemento que precisa ser ressaltado é que se trata de uma história independente, o Thanos atacou a Terra, mas as relações políticas da nação wakandana com o resto do mundo não tem nada a ver com super-heróis. E assim, também não espere nenhuma participação especial de outro herói do cenário, aqui o micro universo do Pantera Negra se basta. ... Esteticamente, o cenário de Wakanda ganhou mais espaço para novas tecnologias e que contratam com o fantástico mundo asteca subaquático do Namor, este com uma mistura ainda mais orgânica e que consegue adquirir uma identidade própria sem repetir a Atlântida do Aquaman. A própria fotografia desse local é baseada em contrastes, tudo é mais turvo, com a água atrapalhando nossa visão que acaba por receber ainda mais impacto no momento que a estética de inspiração mesoamerica aparece, tomando nossos olhos de tantas cores. ... O subtema da modernidade versus tradição do primeiro filme ganha novas nuances, com a maior importância que a Churi dá à tecnologia, e um dos desafios é justamente encontrar o ponto de equilíbrio que manteve a nação de Wakanda unida e isolada por tanto tempo.
Pode parecer clichê, mas o cinema tem uma característica mágica de nos arrancar de nossa realidade e levar para outros mundos, outros tempos, provocando sentimentos que une pessoas completamente diferentes, mesmo que apenas enquanto o filme passa. ... Era uma vez em Staten Island acompanha uma família de classe média de Staten Island em 1982, dia do lançamento do terceiro filme do Rocky. Data importante, pois toda a história orbita a estreia e esta desperta provoca em todos a vontade de mudar, de lutar suas próprias batalhas. ... Transitando bem entre a comédia e o drama, o filme divide sua narrativa nos membros da família que encaram desafios que vão desde atravessar a ilha para encontrar uma paixão até enfrentar os preconceitos impostos pela sociedade. ... Ao abordar os medos cotidianos, tem o Rocky como catalisador que inspira ao mesmo tempo que torna-se uma espécie de culto na qual falar mal vai despertar o ódio e a vingança da população. ... Afinal, Rocky é um herói, a representação de que é possível acreditar em algo, enfrentar os medos e mudar. Essa chama inspiradora é apenas um exemplo do que o cinema pode representar para as pessoas, a ficção criando heróis que fazem o que não podemos ou não temos coragem, mas ainda assim nos inspira. ... Assim, o filme brinca com a metalinguagem e costura abordagens diferentes por meio da família que ganha momentos de catarse, amadurecimento e transformação diferentes ao longo da história, mas todos com o mesmo peso e importância. ... Jornadas diferentes, mas com o mesmo objetivo de encontrar a felicidade e liberdade numa condução precisa de ritmo envolvente, que nos faz acreditar nas angústias de cada personagem. ... Infelizmente as atuações não acompanham o mesmo patamar exigido pelos aspectos técnicos e narrativos, embora tenha sim um elenco de peso, parece ter faltando alguma unidade e as interpretações se mostram irregulares.
Não é incomum encontrarmos adaptações de grandes clássicos e personagens icônicos para outras interpretações, sua qualidade varia bastante, mas certamente é sempre cercada de comentários, em 2022 foi a vez do detetive da Baker Street ganhar uma irmã mais nova igualmente inteligente e aspirante à detetive. ... Depois de resolver seu primeiro grande caso, o segundo filme de Enola Holmes à apresenta com o desafio de encontrar clientes para sua recém aberta agência de detetives. Mas por ser muito jovem, uma garota e ter um irmão celebridade, é praticamente ignorada, pelo menos nos primeiros cinco minutos de filme que servem como reapresentação para o espectador. ... A história começa mesmo quando a detetive, prestes a fechar de vez seu escritório, é contratada por uma garotinha pobre para investigar o sumiço de uma sua irmã que trabalha numa fábrica de fósforos. Uma premissa simples e que até parece ser apenas um primeiro passo para algo maior, mas que rapidamente revela ser muito mais complexo que imaginávamos. ... É um filme de aventura voltado para o público infanto juvenil, mas com potencial de também agradar adultos. Ele apresenta um roteiro que se preocupa em nos imergir na época por meio tanto de uma boa apresentação, figurino e cenário, como inserindo eventos históricos chave que podem ser pouco conhecidos, mas que demarcaram os primeiros movimentos feministas e tem sua importância na composição da personagem da Enola. ... A narrativa é dinâmica e ganha ritmo acelerado devido a montagem "estilo Guy Ritchie" que se mistura a sequências animadas mostrando os planos e reconstruções hipotéticas da investigação da protagonista. Aprimoraram também as "conversas" que Enola tem com o público, agora mais pontuais e sem representar uma grande quebra no desenvolvimento da história. ... Vale ressaltar o elenco, que já estava bem entrosado no primeiro filme, aqui ganha ainda mais oportunidade com situações diferentes que abrem espaço para desenvolvimento, não apenas dos personagens separados, mas em sincronicidade. ... Apesar de uma ótima diversão, essa sequência perdeu um pouco de fôlego em relação ao original, devido ao mistério inicialmente pouco empolgante com cara de "caso da semana" e a duração que ultrapassa duas horas. ...
Ditaduras deixam marcas na sociedade que não se curam, mas devem ser evidenciadas para que ela nunca mais possa voltar. ... Argentina 1985 é um filme que vai nos levar a esses anos pós liberação democrática pelos olhos da família de Júlio, um promotor civil que assume a missão de investiga e processar a ditadura militar junto a sua jovem equipe de advogados. ... Com pouco mais de duas horas, passamos brevemente pela aceitação da missão, criação do grupo de trabalho e recolha de provas com levantamento de depoimentos por toda a Argentina, para finamente focarmos num longo segundo ato passado quase exclusivamente no julgamento. ... Um filme de tribunal, que trata de um tema que ainda nos assombra, e no qual a promotoria corre real risco de vida, simplesmente por confrontar os mais importantes generais de uma instituição que dizimou a população para se manter no poder apenas a poucos anos do fim da ditadura. ... Desta forma, acompanhamos depoimentos reais e altamente emocionantes, reproduzidos a partir dos registros do evento que esse roteiro se inspirou e que conseguem impactar o espectador com a mesma força da época. Neste aspecto, não tem nem o que falar da qualidade de atuação do elenco, que não se resume apenas ao protagonista interpretado pelo Ricardo Darín. ... Mas apesar da tensão crescente criada pelo roteiro em relação às ameaças e que todo o trabalho poderia ser invalidado por algum acordo que não temos conhecimento, ela possui alguns alívios narrativos ao inserir um tom sarcástico em alguns momentos nos diálogos. Recurso que junto a um domínio dos tempos e da montagem, contribuíram para um ritmo agradável e bastante fluído. ... Enfim, uma produção relevante, que foi pensada para o público argentino, mas que conversar muito bem com todo o mundo.
Em meio a tanto caos acontecendo nas produções live-action da Dc, com inúmeros cancelamentos e abandonos, é bom saber que o setor de animação continua se aprimorando. ... Em Lanterna Verde: Cuidado com meu poder acompanhamos John Stewart, um veterano de guerra condecorado traumatizado que é escolhido por um anel verde por causa da sua capacidade de vencer o medo. ... Essa origem nos é apresentada junto à outras histórias que não se contenta apenas com uma simples aventura inicial, mas leva um reticente e destreinado possível herói para o meio da guerra galáctica entre Rann e Thanagar. ... Uma releitura bastante orgânica de histórias conhecidas dos quadrinhos com um grau de violência maior que o esperado, sem ser gratuito ou cínico. Ainda encontramos o lado mais inocente do super-heróico, mas mortes às vezes são inevitáveis num conflito e a animação não nos poupa dessa possibilidade.
Muitas coisas podem dar errado numa viagem, mas uma bastante irritante é o overbooking na estadia. ... Em Noites Brutais acompanhamos Tess Marshall que, numa noite chuvosa, chega em sua casa alugada pelo Airbnb para descobrir que outra pessoa também alugou a casa no mesmo período por outro site. Mas seria apenas isso? ... Em determinado momento, a narrativa se desloca para outro personagem, um ator em crise na carreira que precisa vender suas propriedades a fim de pagar os custos com advogados e descobre que uma de suas casas esconde um segredo sombrio. ... É um filme de terror e suspense com ótimos atores e que traz personagens bem demarcados nas suas personalidades diversas. A ambientação do subúrbio abandonado de Detroit é interessante, e serve como uma releitura do cenário de casa isolada que é típico do gênero, apenas com um toque de questão social ao sugerir elementos de uma urbanidade decadente. ... A decadência maior se revela quase como um sobrevoo, quando trata da sociedade de aparências, esta representada tanto na figura do ator, como na destruição física do bairro com o passar dos anos. A isso soma-se o horror imposto pela sociedade patriarcal, onde o medo e a descrença são prerrogativas cotidianas para as mulheres. ... Há uma estrutura narrativa bem dividida que se destaca de produções semelhantes, modificando o próprio tom da história, que assume características diferentes em cada uma das partes. Começando com o constante e crescente desconforto vindo das estranhas coincidências; para a seguir se transformar em algo com toques sarcásticos a partir da inserção de um novo protagonista, que é cada vez mais desagradável (para dizer o mínimo).
O luto pode ser vivido de várias formas e se revoltar com a vida é um deles. ... Em Wendell e Wild conhecemos Kat, uma garotinha órfã que se culpa pela morte dos pais, antigos donos de uma enorme cervejaria responsável pelos empregos de toda a cidade, mas que pegou fogo misteriosamente no enterro dos donos. ... Acompanhamos a garota alguns anos mais velha, quando é levada para um colégio interno depois de ter passado por uma instituição prisional. De comportamento rebelde, Kat ao mesmo tempo que conhece novas pessoas, começa a ter visões sobre a morte e convocar demônios do inferno. ... Chama a atenção por se tratar de um cenário bastante complexo que mistura uma hierarquia demoníaca que tenta se libertar do inferno e trazer os mortos de volta à vida com uma trama imobiliária do casal de empresários querendo lucrar com a exploração da implantação de uma prisão e a órfã rebelde em luto protagonizando os conflitos. ... Dirigido pelo já consagrado Jack Skelington, de Estranho Mundo de Jack e Coraline e com participação de Jordan Pele, era de se esperar uma grande produção, mas que infelizmente falharam pelo excesso. ... Todos esses elementos apontados na história são interessantes, personagens e cenário com muito à falar, mas ficaram excessivos, o roteiro se perdeu ao tentar trabalhar com tudo ao mesmo tempo e acabou deixando a desejar. ... O destaque vai para a magia da animação em stopmotion que se mistura com efeitos digitais de forma tão orgânica que muitas vezes pensamos que o real é um efeito e efeito se passa por real.
Filmes são sempre grandes projetos, alguns apenas de realização pessoal, mas dentro de uma indústria como Hollywood duas opções se destacam: bilheteria e prêmios, então nada melhor para essa conquista do que autorreferenciar a própria história do cinema. ... O Artista nos leva para o fim da era de ouro do cinema, os anos 1920, quando o som dos filmes vinha unicamente da orquestra à frente no palco. Assim acompanhamos George Valentin, um astro de filmes mudos que vive seu sucesso (e de seu companheiro canino) com bastante alegria, mas precisando lidar com inveja e ciúmes dos companheiros de palco e sentimentos (principalmente depois de conhecer uma fã, Peppy Miller, que é aspirante à atriz. ... A medida que o som domina o cinema vemos a carreira de ambos os personagens correrem de forma diametralmente oposta, a novidade que logo conquista o público e substitui a forma tradicional da época. Conflito que é reproduzido a todo momento, sendo inclusive bastante enfático nos primeiros minutos que mostra o protagonista do Artista sendo torturado em um filme que ele participava para falar e ele heroicamente resistindo. ... Ausência que se mantém muda por praticamente todo o filme, acompanhado apenas pela trilha sonora que seria externa à produção da época e de alguns sons pontuais vindos em pesadelos ou após sua aceitação. ... É um drama movido pela arrogância e resistência às mudanças que apresenta uma jornada de autoconhecimento pelos fracassos e conquistas perfeitamente dirigido e com capacidade de nós manter entretidos mesmo utilizando praticamente apenas os recursos da época. A razão de aspecto, trilha, transição de cenas e até o exagero interpretativo estão todos lá, mas o ritmo é dinâmico, atual (embora pudesse ser ligeiramente menor). ... o Artista pode ser apreciado junto com outro filme clássico que conversa tematicamente e também situa seus conflitos nesse momento de transição da mídia: Cantando na Chuva. E ainda nos permite ressaltar as diferentes formas escolhidas para tratar o tema como ousar utilizar apenas o silêncio em contraponto de um musical.
Histórias sobre julgamentos quando não são inspiradas em crimes reais tem muito pouco para contar, então porque não jogar um tempero e colocar tudo no pós morte? ... Em Limbo - entre o céu e o inferno (nada como a velha redundância nos títulos nacionais), acompanhamos Jimmy, um assaltante que acabou depois de morto foi para o limbo ter sua alma julgada. ... É uma produção de baixíssimo orçamento que resolveu economizar inclusive no tribunal e utilizar apenas o micro cenário de um escritório bagunçado para colocar os personagens em confronto. Mas orçamentos minimalistas são oportunidade para grandes ideias, e devo dizer que a equipe deste filme se esforçou e conseguiu um bom trabalho. ... Temos atores suficientemente convincentes em atuações sarcásticas e superlativas, num bom ritmo orquestrado por sequências e flashs pontuais que nos contam a história do condenado ao tormento eterno.
Por mais que queremos acreditar no melhor, existem barreiras que só uma sociedade pode vencer, e enquanto isso não ocorre, o preconceito continua fazendo vítimas. ... No filme O Homem do Jazz conhecemos Bayou e Leanne, um jovem casal que vivia numa comunidade próximo aos pântanos no sul dos EUA, mas que se separaram por dez anos até se reencontrar em condições extremas: ele ainda apaixonado, e ela fingindo ser branca e prometida a um importante morador da cidade. ... Antes disso, o espectador é levado ao passado aos poucos, com uma idosa trazendo cartas para um político em ascensão sobre um crime ocorrido 40 anos antes e com participação da policia. A partir da leitura das cartas voltamos no tempo para 1937, vemos o casal se conhecendo, e depois avançamos até 1947 momento em que a trama atinge seu ápice. ... A competente direção de Tyler Perry, que também assina o roteiro, conduz o espectador ao longo de duas horas num bom ritmo e com uma boa distribuição de tempos reservados para cada época retratada, sem apressar ou enrolar nenhuma delas. Porém, a escolha em revelar a morte que ocorreria no final do filme logo nas primeiras cenas justifica a entrega das cartas, mas tirou um pouco do impacto final que poderia trazer um fator de surpresa. Pelo contrário, ela acabou de tornando muito previsível. ... Desta forma, identificamos o deslocamento da atenção do espectador que estaria na trama, para o contexto, esse sim trabalhado com maestria tanto sem apelar ao sensacionalismo, mas evidenciando a violência generalizada que poderia ser observada desde o banco de ônibus separado à impossibilidade de assistir shows em estabelecimentos no centro das cidades. ... Trata-se de um drama que reúne dois temas bem revistados pelo cinema: o clássico romance "Romeu e Julieta", com a questão racial dos EUA em meados do século XX. Segregação, pobreza e violência de uma população que era impedida de viver e que até suas vitórias ocorriam com a permissão e exclusividade dos brancos. ... O elenco heterogêneo de novatos e veteranos no cinema atuou muito bem e a ambientação, figurinos e fotografia complementam a recriação de uma época marcada pelo racismo e que ainda explica muito da estrutura dos preconceitos em nossa sociedade. Gostaria apenas de ver um pouco mais da música que aparece ao longo do filme, mas de forma apenas pontual e para ambientação.
Governantes mesquinhos que dominam pelo medo e ignorância existem aos montes na história, ao se valer da violência e arrogância deixam brechas para serem enganados. ... Em Roubando Mussolini acompanhamos um grupo de trambiqueiros que sobrevive na Milão dominada pelo exército fascista em 1945 praticando pequenos golpes, interceptando armas e vendendo à resistência. Um dia eles descobrem que os fascistas estavam planejando fugir e levar todo o ouro da Itália. ... Com nada a perder em meio à guerra e muita sorte, um plano impossível é elaborado com ajuda de aliados improváveis. Um típico filme de roubo, mas que ganha feições de farsa ao se localizar no iminente fim da Segunda Guerra e caricaturizar os personagens e cenas. ... Foi interessante a forma como a direção trouxe velocidade e um ritmo dinâmico para todo o filme, resumindo apresentações e planos com sequências de animação de storyboards. Mas na busca pelo frenético, se perde, deixando de aprofundar minimamente alguns personagens, ou mesmo concluir arcos de forma satisfatória e conectar cenas. ... Essa estética escolhida transborda para outros elementos da produção que até se saem melhor, como as músicas mais agitadas de épocas mais contemporâneas e a fotografia saturada que passa um aspecto irreal, como se estivéssemos lendo uma história em quadrinhos ou assistindo uma animação.
O medo de envelhecer está presente em nossa sociedade em diversos níveis, desde os mais pessoais até nas questões macro econômicas. ... Em Lar dos Esquecidos conhecemos um mundo onde a população idosa começa a atacar outras pessoas durante uma onda de calor. Depois de uma introdução mostrando o dia do evento voltamos no tempo e passamos a acompanhar uma família que viaja para a antiga casa dos pais, no interior da Alemanha, para uma festa de casamento. ... Ao longo da festa conhecemos os principais personagens, mas assim que ela termina, como uma infestação de zumbis, os idosos parecem enlouquecer e começam a matar geral. ... É um horror alemão com uma trama bastante triste, sobre pessoas que, no fim da vida, são abandonadas por seus familiares em casas de repouso que mais parecem depósitos. O roteiro então se vale dos clichês dos zumbis para iniciar um novo tipo de caos com toques de questões sociais. ... As mortes são apresentadas de maneira bem gráfica e sempre com efeitos práticos, forma que contribui para um maior realismo. Mas se destaca por não parar apenas nisso, pois acaba levantando questões sobre o medo do envelhecimento, e como ele nos leva a esconder e tentar esquecer essa fase final da vida na mesma medida que cultuamos a eterna juventude. Medo que também é possível encontrar até nas esferas de política nacional, a qual sofre ao ver sua força de trabalho cada vez menor. ... A direção em geral consegue conduzir bem a história, mas existe um ruído, há uma desconexão entre a introdução e o início do filme que passa a sensação de termos perdido algo. É uma boa sequência que exprime elementos tanto da criação de cenário, quanto na ação, mas passa a sensação de algo sobrando, como se fosse um extra explicativo, mas desnecessário pelo adiantamento dos conflitos futuros e que demorariam para ressurgir.
Velhas casas sempre possuem seus esqueletos no armário. ... No filme O Ritual - Presença Maligna, acompanhamos uma família nos anos que antecedem a Segunda Guerra Mundial que muda para uma casa rural num vilarejo inglês e começa a ter experiências sobrenaturais. ... O roteiro trabalha com fanatismo religioso da parte do patriarca que trabalha como vigário na igreja local e logo descobrimos que o bispo possui objetivos obscuros em relação à ocupação da casa. Porém, o foco narrativo fica em Marianne e sua filha que começam a ter encontros estranhos na casa. ... A direção tenta variar nas tomadas, mas sem criar uma estética própria e faz parecer que são mais experimentos da produção sem uma função específica. ... A atmosfera de guerra que permeia o filme tem a intenção de ampliar a sensação de perigo que se manifesta dentro e fora da casa, mas a construção foi falha e confusa. A falta de ritmo prejudica ainda mais nossa imersão e o filme se mostra cansativo mesmo com a pouca duração. ... O melhor do filme é a locação da casa mal assombrada, pois possui vários quartos sem uso e corredores escondidos que fazem os personagens e espectadores se perderem no local.
Reencontrar um velho amigo está sempre a uma ligação de distância, sempre. ... O Telefone do Sr. Harrigan conta a história de um garoto órfão de mãe que passa a visitar a casa de um bilionário que vive em sua cidade para ler livros, já que por causa da idade avançada não consegue mais fazer isso sozinho. ... Assim, a medida que o filme se desenvolve a influência do Sr. Harrigan segue com o garoto, mesmo depois que a distância entre os dois se torna intransponível. Uma trama sobre crescer e amadurecer, mas que não se volta para o mais tradicional dos relacionamentos. ... Mas por ser inspirado num conto do Stephen King, mesmo encabeçado por um protagonista jovem, não podemos esperar algo voltado para o público infantil, ainda que também não estamos diante de uma obra de horror. ... O sobrenatural é sugerido numa perspectiva de fábula contemporânea, um drama sobre um adolescente que lidou com a perda, enterrando ela, mas que precisa encará-la outras vezes e assumir responsabilidades sobre seus desejos. ... É difícil dissociar a atmosfera cinzenta do Maine de um drama ou horror, ela por si só já traz uma carga mais pesada e depressiva. E nesse ambiente tanto Jaeden Martell, como Donald Sutelherland, dominam o filme, com suas atuações carregadas de uma emoção soturna. ... Ambientado em meados da década de 2000, o celular ainda é uma novidade estranha e aparece no filme como uma ferramenta capaz de revolucionar o mundo com sua velocidade de conexão, da mesma forma que manipula e cria verdades. ... É interessante também como o roteiro mostra que dentro da escola a posse desses telefones designa status, com os grupos de popularidade se dividindo de acordo com as marcas da época, claro, com o "inovador" iPhone como protagonista.
Filmes sobre personagens de videogames sempre deixam apreensivos, mas depois de um primeiro susto, Sonic se provou ao público e ganhou uma continuação. ... No segundo filme descobrimos que as tentativas do Doutor Robotinic fugir do Mundo dos Cogumelos chamou a atenção de outros planetas o suficiente para encontrar um aliado e uma oportunidade. Enquanto na Terra o porco espinhos azul se diverte como uma espécie de super-herói velocista salvando o mundo com o mínimo de responsabilidade e causando enorme destruição. ... Mas não para nisso, pois Knuckles, a última equidna guerreira do universo aparece para derrotar o porco sapinho e conquistar o poder absoluto das esmeraldas mestre. Felizmente uma certa raposa de duas caldas aparece para ajudar o Sonic. ... O filme é divertido, mas ele parece ainda mais voltado para o público infantil que o anterior, e desenvolve uma trama sobre confiança, responsabilidade e amadurecimento de um personagem que demonstra ter entre 10 e 12 anos de idade. ... A parte mais fraca fica por conta da parte dos dramas humanos que são bem bobos em contraponto com as interações dos animais alienígenas superpoderosos. É incrível como o Jim Carrey é o único humano que funciona entre os heróis coloridos, inclusive ele quase não se encontra com os outros humanos. ... Os feitos especiais são essenciais nesse tipo de produção e conecta muito bem realidade e fantasia, falhando apenas na parte narrativa de cenas estendidas desnecessariamente entre os humanos, principalmente no casamento. ... Então, divirta-se com os eastereggs que aparecem em peso nesta segunda parte que vem dos inúmeros jogos da franquia com um tom mais aventuresco.
Fracassos também são oportunidades, assim como estar no lugar errado, na hora errada pode trazer esperança para um último desejo. ... Em Adeus Idiotas acompanhamos a história de duas pessoas improváveis se cruzando: Suze, uma cabeleireira que desenvolveu uma doença pulmonar autoimune por causa do uso excessivo de spray; e Jean, um técnico em segurança de rede que foi despedido por ser muito velho. ... A mulher então resolve ir atrás de um filho que ela doou logo depois do parto e chantageia o técnico que falhou numa tentativa de suicídio acertando um colega de trabalho. ... Essa série de situações improváveis vai colocar a polícia e o serviço secreto atrás do técnico que passa a ser considerado terrorista, mas para escapar precisa da ajuda e ajudar a cabeleireira. ... Apesar dos acontecimentos bizarros, o filme assume tons de drama que vão escalonando até tomar todo o ato final, com alguns respiros de comédia física centrado num coadjuvante cego que acompanha a dupla.
Medieval
3.1 42 Assista AgoraNão é apenas Hollywood que tem seus épicos, outros países possuem heróis que ainda são desconhecidos.
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Em Medieval acompanhamos Jan Zizka e um grupo de mercenários batalhando na região da Boêmia, no início do século XV, quando toda a Europa sofria com constantes conflitos entre reinos e as consequências da peste negra.
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O roteiro utiliza esse estado de permanente guerra como pano de fundo para mostrar um recorte na vida do comandante Zizka, com foco no sequestro da noiva do rei Henrique de Rosemberg. Basicamente a mulher é sequestrada e resgatada várias e várias vezes até o espectador (ou mesmo os personagens) não saberem mais quem está sequestrando ou resgatando.
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São idas e vindas que tornam a narrativa cansativa e confusa, fundamentado num roteiro simplista e protocolar, com alguns diálogos soando exageradamente didáticos e frequentemente complementados com cenas óbvias.
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Felizmente a produção se dedicou à parte técnica da ambientação, figurinos e cenas de batalhas. Desta última, inclusive, presenciamos construções estratégicas variadas e inventivas, com confrontos violentos e bastante gráficos.
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Mas os problemas de ritmo do roteiro se aprofundam ainda mais pela escolha da Netflix em deixar a fala dos personagens nas legendas empoladas e nada naturais, característica que não encontra paralelo com o idioma original.
Juntos Novamente
2.6 3Algumas perdas demoram a ser superadas, outras nunca são.
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Em Juntos Novamente conhecemos Gina, uma promissora empresária musical que depois da morte do irmão num acidente se carro entrou em depressão, mas passados 10 anos descobre que um garoto compositor pode ser a reencarnação de seu irmão.
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Uma história bem água com açúcar que mistura o tema do pós vida (ou do retorno da morte) com uma ambientação escolar e embalado por surfmusic.
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Se fosse apenas pelo roteiro clichê e previsível até poderia ser aceitável, mas nenhum dos atores ajudam e existe um sério problema de captação de som que deixa claro que muitas das cenas foram dubladas na pós produção e terrivelmente dubladas.
O Milagre
3.5 219O impossível pode ser uma mentira muito bem contada, ou simplesmente uma conveniência.
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No filme O Milagre acompanhamos Elizabeth Wright, uma enfermeira do século XIX contratada por um grupo de pessoas influentes de uma pequena cidade irlandesa para investigar um milagre (ou fraude), uma garota que não se alimentava fazia mais de quatro meses e aparentava estar normal.
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Uma trama baseada em eventos que ocorriam com certa recorrência na Era Vitoriana com embasamento em vasta documentação. Trata-se se um drama psicológico bastante lento que perpassa motivações religiosas, políticas e sensacionalistas a qual a enfermeira se contrapõe.
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O início do filme é nada menos que peculiar, pois nunca esperamos ver o esqueleto dos cenários como a um making off, principalmente numa produção de época, uma escolha interessante que poderia indicar uma construção mais teatral ou uma metáfora para os enganos, os subterfúgios promovidos pelo cinema criador de realidades e que faz o espectador acreditar (e até viver) por meio de um acordo silencioso. Mas ao utilizar o recurso apenas às primeiras e últimas cenas, a intenção ficou meio perdida no contexto geral.
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E assim, não podemos esquecer do maior destaque, a protagonista, pois é um filme onde Florence Pugh brilha mais uma vez, se mostrando uma das principais atrizes de sua geração.
Herança Maldita
2.1 33 Assista AgoraA humanidade tem alguns sonhos que são quase independentes da cultura, mas todo desejo deve ser feito com cuidado.
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Com nome de terror B dos anos 80, Herança Maldita conta a história de Mary Aldrich, uma mulher que vai com o marido para uma ilha isolada verificar o túmulo da mãe que foi vandalizado, mas acaba ficando presa no local.
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É uma produção de baixo orçamento que abraça a estética B ao utilizar sem medo uma mescla de elementos narrativos e de linguagem que referencia o cinema da década de 1930 à 1990. Uma interessante proposta, mas que infelizmente não foi bem dosada e nem sempre funciona.
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Assim, depois de um monólogo delirante inicial de uma mulher que parece falar com o espectador sobre a impossibilidade de fugir dos próprios pesadelos, somos levados para uma ilha povoada por pessoas excêntricas que aparecem e desaparecem em meio à névoa.
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Névoa que contribui para criar a ambientação soturna e misteriosa, não nos permitindo enxergar para além de alguns metros à frente, e assim se valer de apenas poucos elementos visuais para sugerir o terror. Ainda assim, não tem como não pensar num jogo "point and click" dos anos 1990 do qual o horizonte era sempre "borrado" por uma neblina.
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Com uma divisão em capítulos entrecortados por alguns flashbacks, temos pistas sobre os passados da protagonista e sua mãe, bem como do que acontece na ilha, mas sem muito aprofundamento. Tecnicamente o que vemos por mais tempo é apenas a Mary correndo de um lado para o outro em uma ilha quase deserta.
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A atriz que faz a protagonista é competente, apesar de não se exigir muito de sua atuação; e o ritmo lento procura remeter ao horror lovecraftiano, ainda que algumas escolhas tornam o filme um pouco cansativo mesmo ele já sendo curto.
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Por fim, os sons estridentes e a trilha sonora incessante são recursos ultrapassados, mas que claramente não foram colocados apenas para preencher o silêncio. Assim temos um filme que funciona mais como laboratório do que um produto comercial, mas que pode agradar se tiver as expectativas calibradas.
Um Lugar Bem Longe Daqui
3.7 337 Assista AgoraA liberdade pode ser interpretada de várias formas, a única constante é que sempre terá alguém querendo destruí-la.
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Um Lugar Bem Longe Daqui começa com uma morte no pântano, Chase Andrews, o quarterback mulherengo do povoado, não tão querido, mas certamente conhecido por todos. A primeira suspeita é uma garota que mora nesse mesmo pântano e para complicar ela resolve fugir da polícia. Mas o que mais estaria por trás disso?
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Passamos então a garota Kya Clark que narra sua história para o advogado que vai representá-la. Conhecemos sobre sua infância de abandono, um pai violento que afastou a esposa e todos seus filhos, até que ele mesmo vai embora e deixa a pequena Kya à própria sorte.
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Com o julgamento deixado para segundo plano por um bom tempo ao longo do filme, o que temos é um romance dramático sobre uma garota solitária abandonada por todos à sua volta, que sofre com a violência de formas diretas e indiretas, mas por nunca se integrar à cidade, tornou-se a vítima perfeita para ser acusada.
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Seu ritmo é lento, contemplativo, trazendo a desconexão da protagonista com o tempo do mundo urbano, ainda que esse urbano é o de uma pequena cidade de interior em meados do século XX. Mas ele nunca se torna tedioso, simplesmente reflete o ambiente onde a história se passa.
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O elenco bem escolhido e dirigido traz vida à trama provocando sentimentos e conduzindo Kya, uma personagem complexa, que quebrar o estereótipo de inocência ao apresentar uma garota que precisou crescer muito rápido e mesmo a parte da sociedade, conhece seus perigos e os evita.
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E por fim não tenho como não mencionar a fotografia que captura a beleza dos pântanos e brejos da Carolina do Norte que também se encontra com o oceano. Natureza está que nos remete ao bucólico pela paleta de cores, embora não esconda um lado selvagem.
O Peso do Talento
3.4 253 Assista AgoraPara um ator, a crise da meia idade é geralmente resolvida com um filme sobre si mesmo. Assim, para os cinéfilos nada melhor que ver um dos atores que mais trabalha em Hollywood.
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O Insuportável Peso de um Grande Talento conta a história de Nicolas Cage, no seu primeiro filme depois de pagar todas as contas pendentes na última década, fazendo uma versão ainda mais estereotipada (será?) dele mesmo que, ao tentar um novo papel, revisita todos os filmes que já tinha feito.
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A história é uma desculpa para intercalar vários memes e cenas um atrás do outro como se fosse um grande quiz sobre a carreira do ator para os fãs e por isso acaba não se sustentando para além do próprio Cage.
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Assim, acompanhamos uma comédia com que transita em momentos de drama ou ação com atuações sempre exageradas mostrando como o ator não tem vergonha de parecer bobo. Quem o acompanha muito bem é Pedro Pascal como um fã milionário que quer seu ídolo em um filme roteirizado por ele.
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E como se não bastasse a todo momento termos frases, objetos de cena ou mesmo sequências "recorta e cola", ele também contracena com uma versão ainda mais louca e jovem dele mesmo em alguns momentos de maior crise interna.
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Mas é só isso, chega a ser divertido para quem assistiu boa parte da filmografia de Nick, mas não vai muito além disto.
Maldição da Floresta
2.1 61Vez ou outra aparece nos catálogos de streaming o "subgênero" filmes de Pandemia, eis que temos mais um com Maldição da Floresta.
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Nesse filme acompanhamos um cientista e uma guarda florestal atravessando uma floresta para o local onde um grupo estaria pesquisando a cura para uma doença mortal que colocou os sobreviventes em isolamento.
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No meio da viagem, a dupla é atacada no meio da noite e tem seus pertences roubados, em especial os sapatos (muito importante). A dupla então encontra no dia seguinte uma pessoa excêntrica e definitivamente nada confiável.
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O filme fica mais e mais estranho a medida que o tempo passa com conversas com a natureza por meio de sons, luzes e até mesmo manifestações artísticas. Nesse momento já sabemos que a trama de sobrevivência, que havia se mesclado à questões científicas e religiosas, toma um caminho sem volta para a psicodelia, com direito a sons bizarros, luzes piscantes e imagens calendoscópicas.
Na Mente do Demônio
1.7 63 Assista AgoraTodos precisamos nos reinventar, até o demônio para possuir novas vítimas.
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Em Na Mente do Demônio conhecemos Carly, uma mulher solitária e depressiva que descobre que a mãe está em coma numa instituição médica de alta tecnologia que quer testar uma realidade virtual capaz de entrar na mente do paciente. A protagonista logo é tomada por alucinações, sua melhor amiga desaparece e ela se encontra no meio de teorias conspiratórias envolvendo a Igreja.
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Um suspense de ritmo extremamente lento e monótono, com atores que, talvez por falha na direção, apresentam atuações tão fracas que nem parece terem lido o roteiro antes (supondo que tenha existido um) numa história que definitivamente não consegue cativar.
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Ainda assim, algumas soluções estéticas para o baixo orçamento são interessantes, como o uso da rotoscopia com saturação ressaltada complementada pelo cenário inacabado e com falhas no estilo The Sims, quando imergimos na Realidade Virtual. Mas até ela é pouco usada, e quando aparece tem um aspecto de tecnologia ultrapassada.
Pantera Negra: Wakanda Para Sempre
3.5 799 Assista AgoraUm filme nem sempre se mede apenas pela qualidade ou pelo sucesso mas bilheterias, algumas vezes ele supera a si mesmo e atinge o público por sua representatividade.
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O primeiro l Pantera Negra já não seria apenas mais uma origem de super herói no cinema, seus produtores queriam chegar à outros públicos, ou pelo menos os fãs de forma diferente. Ele cumpriu o papel e mais pessoas encontraram um herói em quem se reconhecer (ainda que um monarca) com algo que ia além de apenas a troca de socos e raios.
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De 2018 para 2022 o universo da Marvel era outra, mas a principal mudança de percurso foi a perda de Chadwick Bowsman, ator que deu vida ao Pantera e infelizmente foi vítima de um câncer. Ele não foi embora sem deixar um legado e a sequência de Pantera Negra, antes era inevitável, agora tinha se tornado um desafio ainda maior.
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Assim, nesse segundo filme o luto e a dor perpassam toda a história com a figura de Chadwick como principal referência, mas se estendendo para um contexto de vingança e guerra. No roteiro um misto vindo das consequências de um povo que nutriu ódio contra a superfície ao longo de séculos e que se sentiu forçado a se revelar.
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Tais críticas políticas são o ponto mais fraco da trama, pois o envolvimento de França e EUA numa tentativa de roubar vibranium, espionar os wakandanos e exercerem seu imperialismo tradicional acabou sendo superficial e até esquecido.
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Ainda assim, o que domina é um tom mais sóbrio que até flerta com o horror na forma como os subaquáticos se revelam para o espectador, mas nunca para os viventes da superfície, uma possível referência dos quadrinhos, se alguém quiser ler algo do príncipe submarino leia "Namor - Nas Profundezas".
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Temos também a produção mais brutal da Marvel, talvez porque as perdas sejam reais, mas principalmente pelo roteiro respeitosos que não se perde em piadas sem graça, elas existem, mas são pontuais e não atrapalham, não tiram o peso como é de costume.
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Outro elemento que precisa ser ressaltado é que se trata de uma história independente, o Thanos atacou a Terra, mas as relações políticas da nação wakandana com o resto do mundo não tem nada a ver com super-heróis. E assim, também não espere nenhuma participação especial de outro herói do cenário, aqui o micro universo do Pantera Negra se basta.
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Esteticamente, o cenário de Wakanda ganhou mais espaço para novas tecnologias e que contratam com o fantástico mundo asteca subaquático do Namor, este com uma mistura ainda mais orgânica e que consegue adquirir uma identidade própria sem repetir a Atlântida do Aquaman. A própria fotografia desse local é baseada em contrastes, tudo é mais turvo, com a água atrapalhando nossa visão que acaba por receber ainda mais impacto no momento que a estética de inspiração mesoamerica aparece, tomando nossos olhos de tantas cores.
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O subtema da modernidade versus tradição do primeiro filme ganha novas nuances, com a maior importância que a Churi dá à tecnologia, e um dos desafios é justamente encontrar o ponto de equilíbrio que manteve a nação de Wakanda unida e isolada por tanto tempo.
Era uma Vez em Staten Island
2.2 12 Assista AgoraPode parecer clichê, mas o cinema tem uma característica mágica de nos arrancar de nossa realidade e levar para outros mundos, outros tempos, provocando sentimentos que une pessoas completamente diferentes, mesmo que apenas enquanto o filme passa.
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Era uma vez em Staten Island acompanha uma família de classe média de Staten Island em 1982, dia do lançamento do terceiro filme do Rocky. Data importante, pois toda a história orbita a estreia e esta desperta provoca em todos a vontade de mudar, de lutar suas próprias batalhas.
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Transitando bem entre a comédia e o drama, o filme divide sua narrativa nos membros da família que encaram desafios que vão desde atravessar a ilha para encontrar uma paixão até enfrentar os preconceitos impostos pela sociedade.
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Ao abordar os medos cotidianos, tem o Rocky como catalisador que inspira ao mesmo tempo que torna-se uma espécie de culto na qual falar mal vai despertar o ódio e a vingança da população.
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Afinal, Rocky é um herói, a representação de que é possível acreditar em algo, enfrentar os medos e mudar. Essa chama inspiradora é apenas um exemplo do que o cinema pode representar para as pessoas, a ficção criando heróis que fazem o que não podemos ou não temos coragem, mas ainda assim nos inspira.
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Assim, o filme brinca com a metalinguagem e costura abordagens diferentes por meio da família que ganha momentos de catarse, amadurecimento e transformação diferentes ao longo da história, mas todos com o mesmo peso e importância.
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Jornadas diferentes, mas com o mesmo objetivo de encontrar a felicidade e liberdade numa condução precisa de ritmo envolvente, que nos faz acreditar nas angústias de cada personagem.
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Infelizmente as atuações não acompanham o mesmo patamar exigido pelos aspectos técnicos e narrativos, embora tenha sim um elenco de peso, parece ter faltando alguma unidade e as interpretações se mostram irregulares.
Enola Holmes 2
3.6 208Não é incomum encontrarmos adaptações de grandes clássicos e personagens icônicos para outras interpretações, sua qualidade varia bastante, mas certamente é sempre cercada de comentários, em 2022 foi a vez do detetive da Baker Street ganhar uma irmã mais nova igualmente inteligente e aspirante à detetive.
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Depois de resolver seu primeiro grande caso, o segundo filme de Enola Holmes à apresenta com o desafio de encontrar clientes para sua recém aberta agência de detetives. Mas por ser muito jovem, uma garota e ter um irmão celebridade, é praticamente ignorada, pelo menos nos primeiros cinco minutos de filme que servem como reapresentação para o espectador.
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A história começa mesmo quando a detetive, prestes a fechar de vez seu escritório, é contratada por uma garotinha pobre para investigar o sumiço de uma sua irmã que trabalha numa fábrica de fósforos. Uma premissa simples e que até parece ser apenas um primeiro passo para algo maior, mas que rapidamente revela ser muito mais complexo que imaginávamos.
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É um filme de aventura voltado para o público infanto juvenil, mas com potencial de também agradar adultos. Ele apresenta um roteiro que se preocupa em nos imergir na época por meio tanto de uma boa apresentação, figurino e cenário, como inserindo eventos históricos chave que podem ser pouco conhecidos, mas que demarcaram os primeiros movimentos feministas e tem sua importância na composição da personagem da Enola.
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A narrativa é dinâmica e ganha ritmo acelerado devido a montagem "estilo Guy Ritchie" que se mistura a sequências animadas mostrando os planos e reconstruções hipotéticas da investigação da protagonista. Aprimoraram também as "conversas" que Enola tem com o público, agora mais pontuais e sem representar uma grande quebra no desenvolvimento da história.
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Vale ressaltar o elenco, que já estava bem entrosado no primeiro filme, aqui ganha ainda mais oportunidade com situações diferentes que abrem espaço para desenvolvimento, não apenas dos personagens separados, mas em sincronicidade.
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Apesar de uma ótima diversão, essa sequência perdeu um pouco de fôlego em relação ao original, devido ao mistério inicialmente pouco empolgante com cara de "caso da semana" e a duração que ultrapassa duas horas.
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Argentina, 1985
4.3 334Ditaduras deixam marcas na sociedade que não se curam, mas devem ser evidenciadas para que ela nunca mais possa voltar.
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Argentina 1985 é um filme que vai nos levar a esses anos pós liberação democrática pelos olhos da família de Júlio, um promotor civil que assume a missão de investiga e processar a ditadura militar junto a sua jovem equipe de advogados.
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Com pouco mais de duas horas, passamos brevemente pela aceitação da missão, criação do grupo de trabalho e recolha de provas com levantamento de depoimentos por toda a Argentina, para finamente focarmos num longo segundo ato passado quase exclusivamente no julgamento.
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Um filme de tribunal, que trata de um tema que ainda nos assombra, e no qual a promotoria corre real risco de vida, simplesmente por confrontar os mais importantes generais de uma instituição que dizimou a população para se manter no poder apenas a poucos anos do fim da ditadura.
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Desta forma, acompanhamos depoimentos reais e altamente emocionantes, reproduzidos a partir dos registros do evento que esse roteiro se inspirou e que conseguem impactar o espectador com a mesma força da época. Neste aspecto, não tem nem o que falar da qualidade de atuação do elenco, que não se resume apenas ao protagonista interpretado pelo Ricardo Darín.
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Mas apesar da tensão crescente criada pelo roteiro em relação às ameaças e que todo o trabalho poderia ser invalidado por algum acordo que não temos conhecimento, ela possui alguns alívios narrativos ao inserir um tom sarcástico em alguns momentos nos diálogos. Recurso que junto a um domínio dos tempos e da montagem, contribuíram para um ritmo agradável e bastante fluído.
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Enfim, uma produção relevante, que foi pensada para o público argentino, mas que conversar muito bem com todo o mundo.
Lanterna Verde: Cuidado Com Meu Poder
3.2 48 Assista AgoraEm meio a tanto caos acontecendo nas produções live-action da Dc, com inúmeros cancelamentos e abandonos, é bom saber que o setor de animação continua se aprimorando.
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Em Lanterna Verde: Cuidado com meu poder acompanhamos John Stewart, um veterano de guerra condecorado traumatizado que é escolhido por um anel verde por causa da sua capacidade de vencer o medo.
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Essa origem nos é apresentada junto à outras histórias que não se contenta apenas com uma simples aventura inicial, mas leva um reticente e destreinado possível herói para o meio da guerra galáctica entre Rann e Thanagar.
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Uma releitura bastante orgânica de histórias conhecidas dos quadrinhos com um grau de violência maior que o esperado, sem ser gratuito ou cínico. Ainda encontramos o lado mais inocente do super-heróico, mas mortes às vezes são inevitáveis num conflito e a animação não nos poupa dessa possibilidade.
Noites Brutais
3.4 1,0K Assista AgoraMuitas coisas podem dar errado numa viagem, mas uma bastante irritante é o overbooking na estadia.
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Em Noites Brutais acompanhamos Tess Marshall que, numa noite chuvosa, chega em sua casa alugada pelo Airbnb para descobrir que outra pessoa também alugou a casa no mesmo período por outro site. Mas seria apenas isso?
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Em determinado momento, a narrativa se desloca para outro personagem, um ator em crise na carreira que precisa vender suas propriedades a fim de pagar os custos com advogados e descobre que uma de suas casas esconde um segredo sombrio.
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É um filme de terror e suspense com ótimos atores e que traz personagens bem demarcados nas suas personalidades diversas. A ambientação do subúrbio abandonado de Detroit é interessante, e serve como uma releitura do cenário de casa isolada que é típico do gênero, apenas com um toque de questão social ao sugerir elementos de uma urbanidade decadente.
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A decadência maior se revela quase como um sobrevoo, quando trata da sociedade de aparências, esta representada tanto na figura do ator, como na destruição física do bairro com o passar dos anos. A isso soma-se o horror imposto pela sociedade patriarcal, onde o medo e a descrença são prerrogativas cotidianas para as mulheres.
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Há uma estrutura narrativa bem dividida que se destaca de produções semelhantes, modificando o próprio tom da história, que assume características diferentes em cada uma das partes. Começando com o constante e crescente desconforto vindo das estranhas coincidências; para a seguir se transformar em algo com toques sarcásticos a partir da inserção de um novo protagonista, que é cada vez mais desagradável (para dizer o mínimo).
Wendell & Wild
3.3 73 Assista AgoraO luto pode ser vivido de várias formas e se revoltar com a vida é um deles.
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Em Wendell e Wild conhecemos Kat, uma garotinha órfã que se culpa pela morte dos pais, antigos donos de uma enorme cervejaria responsável pelos empregos de toda a cidade, mas que pegou fogo misteriosamente no enterro dos donos.
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Acompanhamos a garota alguns anos mais velha, quando é levada para um colégio interno depois de ter passado por uma instituição prisional. De comportamento rebelde, Kat ao mesmo tempo que conhece novas pessoas, começa a ter visões sobre a morte e convocar demônios do inferno.
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Chama a atenção por se tratar de um cenário bastante complexo que mistura uma hierarquia demoníaca que tenta se libertar do inferno e trazer os mortos de volta à vida com uma trama imobiliária do casal de empresários querendo lucrar com a exploração da implantação de uma prisão e a órfã rebelde em luto protagonizando os conflitos.
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Dirigido pelo já consagrado Jack Skelington, de Estranho Mundo de Jack e Coraline e com participação de Jordan Pele, era de se esperar uma grande produção, mas que infelizmente falharam pelo excesso.
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Todos esses elementos apontados na história são interessantes, personagens e cenário com muito à falar, mas ficaram excessivos, o roteiro se perdeu ao tentar trabalhar com tudo ao mesmo tempo e acabou deixando a desejar.
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O destaque vai para a magia da animação em stopmotion que se mistura com efeitos digitais de forma tão orgânica que muitas vezes pensamos que o real é um efeito e efeito se passa por real.
O Artista
4.2 2,1K Assista AgoraFilmes são sempre grandes projetos, alguns apenas de realização pessoal, mas dentro de uma indústria como Hollywood duas opções se destacam: bilheteria e prêmios, então nada melhor para essa conquista do que autorreferenciar a própria história do cinema.
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O Artista nos leva para o fim da era de ouro do cinema, os anos 1920, quando o som dos filmes vinha unicamente da orquestra à frente no palco. Assim acompanhamos George Valentin, um astro de filmes mudos que vive seu sucesso (e de seu companheiro canino) com bastante alegria, mas precisando lidar com inveja e ciúmes dos companheiros de palco e sentimentos (principalmente depois de conhecer uma fã, Peppy Miller, que é aspirante à atriz.
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A medida que o som domina o cinema vemos a carreira de ambos os personagens correrem de forma diametralmente oposta, a novidade que logo conquista o público e substitui a forma tradicional da época. Conflito que é reproduzido a todo momento, sendo inclusive bastante enfático nos primeiros minutos que mostra o protagonista do Artista sendo torturado em um filme que ele participava para falar e ele heroicamente resistindo.
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Ausência que se mantém muda por praticamente todo o filme, acompanhado apenas pela trilha sonora que seria externa à produção da época e de alguns sons pontuais vindos em pesadelos ou após sua aceitação.
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É um drama movido pela arrogância e resistência às mudanças que apresenta uma jornada de autoconhecimento pelos fracassos e conquistas perfeitamente dirigido e com capacidade de nós manter entretidos mesmo utilizando praticamente apenas os recursos da época. A razão de aspecto, trilha, transição de cenas e até o exagero interpretativo estão todos lá, mas o ritmo é dinâmico, atual (embora pudesse ser ligeiramente menor).
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o Artista pode ser apreciado junto com outro filme clássico que conversa tematicamente e também situa seus conflitos nesse momento de transição da mídia: Cantando na Chuva. E ainda nos permite ressaltar as diferentes formas escolhidas para tratar o tema como ousar utilizar apenas o silêncio em contraponto de um musical.
Limbo: Entre o Céu e o Inferno
2.8 37Histórias sobre julgamentos quando não são inspiradas em crimes reais tem muito pouco para contar, então porque não jogar um tempero e colocar tudo no pós morte?
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Em Limbo - entre o céu e o inferno (nada como a velha redundância nos títulos nacionais), acompanhamos Jimmy, um assaltante que acabou depois de morto foi para o limbo ter sua alma julgada.
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É uma produção de baixíssimo orçamento que resolveu economizar inclusive no tribunal e utilizar apenas o micro cenário de um escritório bagunçado para colocar os personagens em confronto. Mas orçamentos minimalistas são oportunidade para grandes ideias, e devo dizer que a equipe deste filme se esforçou e conseguiu um bom trabalho.
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Temos atores suficientemente convincentes em atuações sarcásticas e superlativas, num bom ritmo orquestrado por sequências e flashs pontuais que nos contam a história do condenado ao tormento eterno.
O Homem do Jazz
3.4 22 Assista AgoraPor mais que queremos acreditar no melhor, existem barreiras que só uma sociedade pode vencer, e enquanto isso não ocorre, o preconceito continua fazendo vítimas.
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No filme O Homem do Jazz conhecemos Bayou e Leanne, um jovem casal que vivia numa comunidade próximo aos pântanos no sul dos EUA, mas que se separaram por dez anos até se reencontrar em condições extremas: ele ainda apaixonado, e ela fingindo ser branca e prometida a um importante morador da cidade.
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Antes disso, o espectador é levado ao passado aos poucos, com uma idosa trazendo cartas para um político em ascensão sobre um crime ocorrido 40 anos antes e com participação da policia. A partir da leitura das cartas voltamos no tempo para 1937, vemos o casal se conhecendo, e depois avançamos até 1947 momento em que a trama atinge seu ápice.
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A competente direção de Tyler Perry, que também assina o roteiro, conduz o espectador ao longo de duas horas num bom ritmo e com uma boa distribuição de tempos reservados para cada época retratada, sem apressar ou enrolar nenhuma delas. Porém, a escolha em revelar a morte que ocorreria no final do filme logo nas primeiras cenas justifica a entrega das cartas, mas tirou um pouco do impacto final que poderia trazer um fator de surpresa. Pelo contrário, ela acabou de tornando muito previsível.
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Desta forma, identificamos o deslocamento da atenção do espectador que estaria na trama, para o contexto, esse sim trabalhado com maestria tanto sem apelar ao sensacionalismo, mas evidenciando a violência generalizada que poderia ser observada desde o banco de ônibus separado à impossibilidade de assistir shows em estabelecimentos no centro das cidades.
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Trata-se de um drama que reúne dois temas bem revistados pelo cinema: o clássico romance "Romeu e Julieta", com a questão racial dos EUA em meados do século XX. Segregação, pobreza e violência de uma população que era impedida de viver e que até suas vitórias ocorriam com a permissão e exclusividade dos brancos.
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O elenco heterogêneo de novatos e veteranos no cinema atuou muito bem e a ambientação, figurinos e fotografia complementam a recriação de uma época marcada pelo racismo e que ainda explica muito da estrutura dos preconceitos em nossa sociedade. Gostaria apenas de ver um pouco mais da música que aparece ao longo do filme, mas de forma apenas pontual e para ambientação.
Roubando Mussolini
2.9 6Governantes mesquinhos que dominam pelo medo e ignorância existem aos montes na história, ao se valer da violência e arrogância deixam brechas para serem enganados.
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Em Roubando Mussolini acompanhamos um grupo de trambiqueiros que sobrevive na Milão dominada pelo exército fascista em 1945 praticando pequenos golpes, interceptando armas e vendendo à resistência. Um dia eles descobrem que os fascistas estavam planejando fugir e levar todo o ouro da Itália.
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Com nada a perder em meio à guerra e muita sorte, um plano impossível é elaborado com ajuda de aliados improváveis. Um típico filme de roubo, mas que ganha feições de farsa ao se localizar no iminente fim da Segunda Guerra e caricaturizar os personagens e cenas.
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Foi interessante a forma como a direção trouxe velocidade e um ritmo dinâmico para todo o filme, resumindo apresentações e planos com sequências de animação de storyboards. Mas na busca pelo frenético, se perde, deixando de aprofundar minimamente alguns personagens, ou mesmo concluir arcos de forma satisfatória e conectar cenas.
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Essa estética escolhida transborda para outros elementos da produção que até se saem melhor, como as músicas mais agitadas de épocas mais contemporâneas e a fotografia saturada que passa um aspecto irreal, como se estivéssemos lendo uma história em quadrinhos ou assistindo uma animação.
Lar dos Esquecidos
2.6 129 Assista AgoraO medo de envelhecer está presente em nossa sociedade em diversos níveis, desde os mais pessoais até nas questões macro econômicas.
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Em Lar dos Esquecidos conhecemos um mundo onde a população idosa começa a atacar outras pessoas durante uma onda de calor. Depois de uma introdução mostrando o dia do evento voltamos no tempo e passamos a acompanhar uma família que viaja para a antiga casa dos pais, no interior da Alemanha, para uma festa de casamento.
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Ao longo da festa conhecemos os principais personagens, mas assim que ela termina, como uma infestação de zumbis, os idosos parecem enlouquecer e começam a matar geral.
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É um horror alemão com uma trama bastante triste, sobre pessoas que, no fim da vida, são abandonadas por seus familiares em casas de repouso que mais parecem depósitos. O roteiro então se vale dos clichês dos zumbis para iniciar um novo tipo de caos com toques de questões sociais.
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As mortes são apresentadas de maneira bem gráfica e sempre com efeitos práticos, forma que contribui para um maior realismo. Mas se destaca por não parar apenas nisso, pois acaba levantando questões sobre o medo do envelhecimento, e como ele nos leva a esconder e tentar esquecer essa fase final da vida na mesma medida que cultuamos a eterna juventude. Medo que também é possível encontrar até nas esferas de política nacional, a qual sofre ao ver sua força de trabalho cada vez menor.
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A direção em geral consegue conduzir bem a história, mas existe um ruído, há uma desconexão entre a introdução e o início do filme que passa a sensação de termos perdido algo. É uma boa sequência que exprime elementos tanto da criação de cenário, quanto na ação, mas passa a sensação de algo sobrando, como se fosse um extra explicativo, mas desnecessário pelo adiantamento dos conflitos futuros e que demorariam para ressurgir.
O Ritual: Presença Maligna
1.8 31Velhas casas sempre possuem seus esqueletos no armário.
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No filme O Ritual - Presença Maligna, acompanhamos uma família nos anos que antecedem a Segunda Guerra Mundial que muda para uma casa rural num vilarejo inglês e começa a ter experiências sobrenaturais.
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O roteiro trabalha com fanatismo religioso da parte do patriarca que trabalha como vigário na igreja local e logo descobrimos que o bispo possui objetivos obscuros em relação à ocupação da casa. Porém, o foco narrativo fica em Marianne e sua filha que começam a ter encontros estranhos na casa.
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A direção tenta variar nas tomadas, mas sem criar uma estética própria e faz parecer que são mais experimentos da produção sem uma função específica.
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A atmosfera de guerra que permeia o filme tem a intenção de ampliar a sensação de perigo que se manifesta dentro e fora da casa, mas a construção foi falha e confusa. A falta de ritmo prejudica ainda mais nossa imersão e o filme se mostra cansativo mesmo com a pouca duração.
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O melhor do filme é a locação da casa mal assombrada, pois possui vários quartos sem uso e corredores escondidos que fazem os personagens e espectadores se perderem no local.
O Telefone do Sr. Harrigan
2.8 216 Assista AgoraReencontrar um velho amigo está sempre a uma ligação de distância, sempre.
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O Telefone do Sr. Harrigan conta a história de um garoto órfão de mãe que passa a visitar a casa de um bilionário que vive em sua cidade para ler livros, já que por causa da idade avançada não consegue mais fazer isso sozinho.
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Assim, a medida que o filme se desenvolve a influência do Sr. Harrigan segue com o garoto, mesmo depois que a distância entre os dois se torna intransponível. Uma trama sobre crescer e amadurecer, mas que não se volta para o mais tradicional dos relacionamentos.
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Mas por ser inspirado num conto do Stephen King, mesmo encabeçado por um protagonista jovem, não podemos esperar algo voltado para o público infantil, ainda que também não estamos diante de uma obra de horror.
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O sobrenatural é sugerido numa perspectiva de fábula contemporânea, um drama sobre um adolescente que lidou com a perda, enterrando ela, mas que precisa encará-la outras vezes e assumir responsabilidades sobre seus desejos.
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É difícil dissociar a atmosfera cinzenta do Maine de um drama ou horror, ela por si só já traz uma carga mais pesada e depressiva. E nesse ambiente tanto Jaeden Martell, como Donald Sutelherland, dominam o filme, com suas atuações carregadas de uma emoção soturna.
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Ambientado em meados da década de 2000, o celular ainda é uma novidade estranha e aparece no filme como uma ferramenta capaz de revolucionar o mundo com sua velocidade de conexão, da mesma forma que manipula e cria verdades.
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É interessante também como o roteiro mostra que dentro da escola a posse desses telefones designa status, com os grupos de popularidade se dividindo de acordo com as marcas da época, claro, com o "inovador" iPhone como protagonista.
Sonic 2: O Filme
3.5 269 Assista AgoraFilmes sobre personagens de videogames sempre deixam apreensivos, mas depois de um primeiro susto, Sonic se provou ao público e ganhou uma continuação.
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No segundo filme descobrimos que as tentativas do Doutor Robotinic fugir do Mundo dos Cogumelos chamou a atenção de outros planetas o suficiente para encontrar um aliado e uma oportunidade. Enquanto na Terra o porco espinhos azul se diverte como uma espécie de super-herói velocista salvando o mundo com o mínimo de responsabilidade e causando enorme destruição.
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Mas não para nisso, pois Knuckles, a última equidna guerreira do universo aparece para derrotar o porco sapinho e conquistar o poder absoluto das esmeraldas mestre. Felizmente uma certa raposa de duas caldas aparece para ajudar o Sonic.
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O filme é divertido, mas ele parece ainda mais voltado para o público infantil que o anterior, e desenvolve uma trama sobre confiança, responsabilidade e amadurecimento de um personagem que demonstra ter entre 10 e 12 anos de idade.
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A parte mais fraca fica por conta da parte dos dramas humanos que são bem bobos em contraponto com as interações dos animais alienígenas superpoderosos. É incrível como o Jim Carrey é o único humano que funciona entre os heróis coloridos, inclusive ele quase não se encontra com os outros humanos.
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Os feitos especiais são essenciais nesse tipo de produção e conecta muito bem realidade e fantasia, falhando apenas na parte narrativa de cenas estendidas desnecessariamente entre os humanos, principalmente no casamento.
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Então, divirta-se com os eastereggs que aparecem em peso nesta segunda parte que vem dos inúmeros jogos da franquia com um tom mais aventuresco.
Adeus, Idiotas
3.1 27 Assista AgoraFracassos também são oportunidades, assim como estar no lugar errado, na hora errada pode trazer esperança para um último desejo.
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Em Adeus Idiotas acompanhamos a história de duas pessoas improváveis se cruzando: Suze, uma cabeleireira que desenvolveu uma doença pulmonar autoimune por causa do uso excessivo de spray; e Jean, um técnico em segurança de rede que foi despedido por ser muito velho.
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A mulher então resolve ir atrás de um filho que ela doou logo depois do parto e chantageia o técnico que falhou numa tentativa de suicídio acertando um colega de trabalho.
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Essa série de situações improváveis vai colocar a polícia e o serviço secreto atrás do técnico que passa a ser considerado terrorista, mas para escapar precisa da ajuda e ajudar a cabeleireira.
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Apesar dos acontecimentos bizarros, o filme assume tons de drama que vão escalonando até tomar todo o ato final, com alguns respiros de comédia física centrado num coadjuvante cego que acompanha a dupla.