O que atrapalha muito Dark Shadows de se tornar um filme inesquecível é essa fusão estranha de gêneros; que ora flerta demais com um tipo de humor carregado de referências – que funcionam até certo ponto -, um tipo de drama inconsistente, uma atmosfera de suspense previsível e um excesso de elementos fantasiosos mal trabalhados; aspectos decisivos que comprometem demais a obra e a transformam rapidamente em um produto mal aproveitado e decepcionante.
Num contexto mais geral o filme tem lá seus acertos, sobretudo quando sabe construir um clima misterioso conduzido lentamente através de uma atmosfera sombria, melancólica e densa (pelo menos inicialmente). Tais aspectos são bem trabalhados e mostram que a direção reciclada e excêntrica de Tim Burton se foca bastante em questões visuais para tentar mascarar de alguma forma o enredo batido e sem graça que se desenvolve em subsequencia. A história é bastante problemática – apesar de ser bastante explicadinha, minimamente detalhista e pouco didática – pois envolve em seu desenvolvimento um excesso de personagens caricatos mal trabalhados, o que resulta inevitavelmente na perda de foco e profundidade de alguns – como a personagem Carolyn vivida por Chloe Moretz, que é extremamente subdesenvolvida, mal aproveitada e vítima de uma situação para criar uma possível reviravolta – é algo que compromete bastante esse tipo de escolha narrativa pouco dinâmica.
Em questões de interpretações e caracterizações o filme não decepciona. Johnny Depp apesar de estar no seu lugar comum de personagens excêntricos parecidos, aqui sabe lidar muito bem com a personalidade de Barnabas Collins, e mesmo que seja um tipo de interpretação automática e pouco exigente, ele definitivamente sabe conduzir o personagem com eficiência. O elenco feminino também é muito consistente. Eva Green está ótima no papel de Angelique – uma típica vilã forte, divertida e sensual. Helena Bonham Carter é a que menos se destaca, juntamente com Michelle Pfeiffer que pouco aparece além dos momentos iniciais. No mais, outros personagens como a Victoria – que é utilizada como um avanço na história e uma desculpa meio óbvia para as motivações de Barnabas – e David que também presta um papel pequeno dentro da história estão ali apenas explicar situações pré-determinadas e anteriormente mencionadas.
Talvez o elemento mais legal de Dark Shadows seja o contexto da época setentista em que a história é desenvolvida. A cultura dos anos 70 empregada dentro da narrativa através de uma trilha sonora inspiradora, o uso de cores vibrantes que predominavam nessa época, algumas situações referentes ao estilo e tipos de comportamento vividos pelas pessoas da época, é sem duvida o ponto mais interessante a ser considerável. Elementos remetentes divertidos e eficientes para a proposta do filme e que foram trabalhados com cuidado, apesar de não ser marcante o suficiente.
Apesar de tudo Dark Shadows tem seus momentos que funcionam, algumas escolhas são óbvias demais e visivelmente recicladas, algumas outras até funcionam como deveriam, mas no geral é uma decepção ver que a falta de criatividade atingiu em cheio as produções de um diretor conhecido pela originalidade e personalidade própria em seus filmes, e isso é algo bastante desanimador.
Com sua originalidade e firmeza de idéias The Cabin in The Woods é simplesmente um deconstrutor de clichês do gênero terror/suspense, e, sobretudo, uma homenagem a tudo que envolve produções nesse estilo, e só por isso já merece ter seu destaque entre os filmes do ano, pois arrisca em mostrar diferentes situações com um tipo de humor espontâneo sem forçar demais e com isso consegue ser extremamente eficiente em sua proposta bizarra e original.
Enganam-se aqueles que procuram aqui um filme de terror padrão. O filme envolve sim alguns aspectos clichês típicos de filmes do mesmo gênero, mas incorpora alguns elementos muito mais interessantes e bizarros dentro de uma narrativa ágil e divertida. Inclusive abre espaço para satirizar ironicamente a manipulação de situações aterrorizantes em forma de espetáculo, o que nos leva a uma quase crítica sobre o que pode ser considerado “real” ou “manipulado” nos diferentes tipos de mídia em geral. Junte a isso situações imprevisíveis, personagens intencionalmente estereotipados e pronto: temos a formula quase perfeita para um filme funcionar. E se a proposta – por mais bizarra e estranha que seja ainda consegue ser extremamente divertida e original –, questionar a qualidade do filme em si apenas por ser diferente do comum, é algo que não se aplica muito bem, pois o filme em nenhum momento se leva a sério, e é isso que o faz ser tão interessante dentro desses padrões de filmes iguais e repetitivos.
Tanto estruturalmente quanto tecnicamente o filme não decepciona. O uso de referências remetentes a clássicos do gênero como: Evil Dead, O Iluminado, It e Hellraiser só pra citar alguns, é um que o categoriza como filme homenagem e o uso dessas referências – às vezes sutis outras vezes escancaradas – é sem duvida alguma um grande acerto e agrado para os fãs. O elenco também está muito bem, apesar de ter alguns personagens menos carismáticos do que outros, nenhum deles parece extremamente desfocado. E mesmo que o desenvolvimento dos mesmos seja apenas baseado em uma situação rápida que não remete a qualquer tipo de profundidade, não há uma necessidade maior em desenvolvê-los, pois o conceito é pré-programado e essas questões são indiferentes.
Por mais que seja um filme estranho, bizarro e um pouco pretensioso demais The Cabin in The Woods acerta muito por ser ousado, dinâmico e original e se destaca como uma grande surpresa diante de um gênero saturado carente de criatividade nos dias de hoje.
Filmes de baixo orçamento geralmente necessitam de artifícios que vão além de suas limitações orçamentárias para tentar conquistar o espectador de alguma forma, e através disso tentar se sobressair diante de um estilo de produção limitada que é um fator prejudicialmente definitivo se cair em mãos erradas. Em Kingdom of Gladiators nem a intenção de fazer algo nesse estilo é um fator a ser considerável, pois além de ser um filme que se leva a sério demais (não deveria), suas incapacidades e limitações são aspectos unânimes para defini-lo como uma tortura visual em forma de filme.
O roteiro (que roteiro?) se propõe em mostrar de uma forma extremamente didática e caricata uma estória batida sobre um rei que faz um pacto com o demônio em busca de poder, mas que precisa abdicar de sua descendência para que tal acordo se cumpra. Em conjunto a esse enredo (mais clichê impossível) algumas escolhas equivocadas acontecem com frequência e são definitivamente o que tornam o filme ainda mais patético e sem sentido. O forte uso de elementos sombrios – que definitivamente não funcionam como deveria – um tipo de suspense inexistente que é carregado por uma trilha sonora exagerada, constante, excessiva e irritante, e, sobretudo, uma gama de personagens inexpressivos - acompanhados de um elenco visivelmente deslocado e amador -, que assim como a estória, não procuram buscar um sentido ou respostas para suas motivações pessoais (se é que podem ser chamadas disso) e que prestam um papel mínimo e ineficiente dentro do enredo.
Tecnicamente o filme é um show de bizarrices, com direito a muitos efeitos de sangue artificial produzidos digitalmente, uma câmera instável e sem foco que nunca fica parada, cenas de luta patéticas sem sincronia ou emoção alguma e planos sequência visivelmente mal produzidos, longos demais e sem qualquer tipo de impacto visual ou audiovisual. É ainda notável ver que a repetição desses fatores citados tentam de alguma forma justificar a falta de criatividade dos produtores em construir algo mais palpável que seja minimamente convincente, mas são aspectos de qualidade duvidosa que o tornam ainda pior pelo forte conteúdo amador que exemplifica com clareza sua proposta entediante e patética.
Fica um pouco difícil definir em poucas palavras o que esse show de horror em forma de filme significa, pois além de ser algo extremamente mal feito e visivelmente mal produzido o tédio inevitável que acompanha toda sua execução é um fator definitivo para categorizá-lo como um filme péssimo, patético e sem sentido. Terrível.
Psicologicamente, Dead Ringers é um desafio ameaçador, pois envolve dentro de sua exploração temática perturbadora um grande conflito psicológico sobre a conexão entre dois irmãos caracteristicamente complexos e diferentes entre si - com personalidades distintas -, e dentro desse ambiente cirúrgico carregado de tensão e mistério transferir para o filme o tom psicológico necessário que o mesmo necessita, tornando-se assim, uma obra extremamente controversa, envolvente e agonizante.
A história em si se desenvolve muito lentamente, pois foca-se quase inteiramente em construir a personalidade dos gêmeos exemplificando o comportamento dos mesmos através de uma divisão de etapas entre: ascensão e construção de uma carreira sólida, romance compartilhado e obsessão pelo vício em drogas, que é essencialmente o elemento chave que unifica os personagens em uma jornada de autodestruição e abstinência. Em meio à exploração desses temas pesados – que são muito bem desenvolvidos e certamente relevantes de serem abordados – a forma com que os personagens lidam com suas limitações e incapacidade de autocontrole.
A personalidade distinta dos gêmeos incorporada a um tipo de narrativa extremamente analítica ajuda muito a entender os conflitos dos mesmos – Bervely que basicamente é o irmão inseguro, com um tipo de personalidade frágil remetente a um comportamento infantil destoa bastante do seu irmão Elliot, que é claramente o irmão protetor e seguro de si (aquele quem faz os discursos, como o próprio Bervely diz em um momento) agressivo e sedutor. Não é muito difícil identificar esses elementos da personalidade dos dois, pois o roteiro deixa bem claro (sem abrir muito espaço para dúvidas ou questionamentos) o tipo de papel que cada um exerce dentro da história e, sobretudo, a conexão que os dois possuem desde sempre. E mesmo que o relacionamento entre os dois seja algo bem explorado, o tipo de escolhas em mostrá-los apenas como parceiros unidos acima de qualquer situação ou circunstância, ainda sim é um pouco decepcionante enxergá-los apenas como protetores entre si.
Cronenberg realmente sabe como montar e conduzir um tipo de suspense/terror psicológico com elementos bizarros que inclusive estão presentes em várias outras obras de sua filmografia. E, (não somente) por isso, Dead Ringers merece ter seu destaque não por ser apenas mais um filme bizarro e controverso, mas principalmente por ser uma obra bastante original, carregada de psicologia, surtos e bizarrices.
Acho o cúmulo da pretensão e do egocentrismo dizer que quem não entendeu o filme é burro ou algo do tipo e ainda por cima utilizar o velho argumento do “não gostou porque não entendeu”. Ninguém é obrigado a gostar de nada, muito menos tentar entender algo que pessoalmente não faça sentido, mas por outro lado acho questionável também a pessoa chegar por aqui, dizer que o filme é péssimo, tedioso, dá sono e etc, sem ao menos dar uma chance para tentar absorver a experiência que o mesmo proporciona. Não digo isso como uma forma de tentar convencer alguém que o filme é bom, uma obra-prima ou coisa do tipo, mas me sinto um pouco decepcionado com essa geração acostumada com respostas prontas, com preguiça de pensar ou até mesmo buscar suas interpretações sobre algo que acrescente (nem que seja uma faísca mínima de reflexão) em suas vidas. Discutir gosto pessoal é algo complicado e que não leva a lugar algum, mas opiniões diferentes estão aí para serem questionadas se forem expostas com clareza e coerência, e não um simples: “não gostei porque é um tédio, superestimado, esperava mais e etc.” existem maneiras muito mais claras e objetivas de expor uma opinião do que se limitar em utilizar apenas esse tipo de argumento automático que hoje em dia se encaixa em qualquer tipo de coisa.
Em Repulsion Polanski constrói com excelência uma atmosfera de tensão constante diretamente conectada a um conflito psicológico denso, claustrofóbico e perturbador, elementos remetentes dentro de uma obra carregada de simbolismos e metáforas sobre a obsessão e os sentimentos de repulsa.
Alguns parâmetros mais técnicos e psicológicos do enredo são desenvolvidos de uma forma bastante lenta e misteriosa, focando-se inicialmente em um estudo simples do cotidiano de uma personagem enigmática, que inicialmente não possui qualquer tipo de motivação aparente sobre sua obsessão e seus desejos reprimidos aparentes – características interessantes sobre uma personagem estranha e que visivelmente possui um problema até então não revelado, mas tudo muda quando alguns fragmentos sobre sua personalidade são entregues e a experiência se torna um difícil e torturante massacre psicológico carregado de horror e agonia. Tudo isso não seria possível se não fosse pela ótima e corajosa interpretação de Catherine Deneuve – que consegue sustentar com excelência todas as diferentes camadas psicológicas da protagonista que desafia os limites da atriz pelo fato de ser um personagem extremamente difícil e que exige da atriz um tipo de atuação e entrega que a mesma consegue executar com perfeição.
Dentro de uma variedade de interpretações possíveis sobre causa e efeito, prefiro pensar que se trata basicamente de um distúrbio psicológico remetente a um passado pouco conhecido da personagem – ainda assim, sinto que o tipo de exploração temática sobre suas frustrações e medos foi muito pouco aproveitado -, pois até então, o enredo não entrega muito sobre o que poderia causar esse tipo de destruição e auto-destruição em sua vida. Porém, felizmente o filme não subestima a inteligência do espectador investindo em um tipo de suspense manipulativo que poderia torná-lo monótono e chato. Pelo contrário, pensar em possibilidades sobre seus problemas e dúvidas é o que torna o filme interessante e dinâmico sem ser complexo demais ou extremamente artificial.
O forte uso da estética sombria como um complemento único e que faz parte da história como um personagem tão forte quanto à protagonista, é o que adiciona a forte experiência visual e audiovisual que o filme possui um tom perfeitamente bem aplicado, inclusive nas cenas mais assustadoras onde o campo de visão da personagem é exposto e unido a efeitos sonoros tão assustadores quanto seus próprios conflitos.
Pelo forte conteúdo sombrio e perturbador Repulsion consegue superar sua superficialidade e se tornar uma obra com um alto caráter analítico sobre a obsessão, o desejo, as consequências da destruição e os conflitos envolvendo a fragilidade emocional. E mesmo que seja um filme bastante controverso, sua condução é perfeita e inesquecível.
Peeping Tom consegue se sustentar basicamente em uma atmosfera de suspense sugestivo e dentro de sua curta narrativa busca explorar um comportamento perturbador sem se aprofundar muito nos paralelos psicológicos que envolvem esse tipo de tema, o que até então o torna um filme bastante questionável, mas que não se preocupa em responder suas dúvidas ou questionamentos mais importantes.
O ponto mais forte do filme é sem dúvida sua parte técnica, que é carregada de características pessoais interessantes - que envolvem desde o seu estilo de filmagem bastante intimista ou até mesmo o uso de câmeras subjetivas que explicitamente são empregadas dentro da narrativa para ajudar a conduzir a história misteriosa envolvendo o protagonista e suas motivações obsessivas. O uso desse tipo de câmera (que sempre acompanha o personagem Mark) exemplifica dentro de uma limitação de idéias algumas questões que o enredo discute superficialmente – como o comportamento voyeurístico do mesmo, o prazer visual da imagem e a obsessão pelo ato de observar. Temas sugestivos e interessantes dentro de uma história pouco dinâmica que não aproveita muito bem seu conteúdo com eficiência, pois investe em um tipo de suspense muito pouco envolvente, que sempre constrói dúvidas excessivas sobre a origem e passado obscuro do protagonista, mas não explica ou se preocupa em traduzir claramente qualquer tipo de questionamento essencial para a construção do personagem.
Dentro de um paralelo psicológico pouco explorado e um suspense meio morno, de certa forma o filme consegue ser eficiente apenas no que diz respeito ao uso do suspense sugestivo sem grandes pretensões, mas gradativamente perde toda sua força e consequentemente se transforma em um grande ponto de interrogação sem qualquer esperança em buscar por respostas definitivas.
Inicialmente Blowup pode parecer um tipo de filme vazio, cansativo e que não passa de um exercício técnico aprimorado, mas considero um grande engano classificá-lo como tal. Pois ao mesmo tempo em que esse tipo de técnica é aperfeiçoada e masterizada com excelência, temos aqui uma obra com características extremamente importantes que sucedem seus méritos artísticos intencionais baseados em seus conceitos iniciais que nunca se perdem.
Dentro de uma proposta explicitamente diferente, a linha narrativa segue um estilo pouco convencional, onde o uso de técnicas atípicas são aplicadas dentro da historia com o intuito de conectar o espectador a um estudo intimista de um cotidiano sóbrio e casual, desenvolvido a partir da visão artística do protagonista fotógrafo que é visivelmente focado em difundir seu trabalho e possui um amor pela arte visual que a fotografia proporciona. O encontro da personalidade do protagonista com o modelo social - exposto através da imagem como forma de liberdade artística – é um típico exemplo de artifício narrativo simples que interfere no campo de visão do espectador e conduz a uma reflexão sobre o que realmente pode ser considerado como arte ou apreciação.
Focado quase inteiramente em expor de diferentes formas um estilo de visão narrativa desconexa e perceptiva, a historia – assim como a jornada do protagonista – segue um ritmo que raramente sofre qualquer tipo de quebra ou interferência, e se mantém assim ate o final, mesmo com a adição de um elemento surpresa com um clima de mistério pouco envolvente (que é basicamente o assassinato sem qualquer tipo de explicação e que provavelmente não faria diferença alguma dentro da história se fosse retirado, pois mesmo sendo um elemento interessante para o estilo narrativo a que o filme se propõe, de certa forma é algo extremamente subutilizado com o intuito apenas de aplicação e mudança de gênero) que indiferente de ser pouco aproveitado, consegue ser bem aplicado até quando o filme exige de si mesmo algo que vai além de sua falta de eficiência em alguns pontos.
Por ser um filme bastante experimental com um toque de realismo (bastante próximo, por sinal) e uma gama de interpretações que não se limitam apenas a uma discussão idealista, sinto que o mesmo cumpre muito bem sua proposta e apresenta argumentos interessantes para se sustentar definitivamente. Mas ao mesmo tempo em que o filme acerta em quase tudo, a fórmula utilizada pode causar certa estranheza e talvez isso seja um fator definitivo em uma avaliação ou até mesmo no simples fato de contemplar suas idéias e apreciá-lo como um filme artístico sem grandes surpresas.
Falar sobre adolescência requer certo tipo de cuidado, pois se o tema for devidamente desviado e fugir demasiadamente de um tom mais realista o resultado pode não ser satisfatório e causar indícios de falhas reconhecíveis e irreparáveis. Dentro de uma proposta explicitamente vaga e superficial ”LOL” não passa de mais um filme que distorce o comportamento juvenil e se torna um drama adolescente constrangedor, com conflitos de personalidade fúteis desnecessários.
A adolescência é sem dúvida alguma uma das fases mais conflituosas na vida de qualquer pessoa, pois é o momento onde descobrimos e questionamos qualquer tipo de situação que requeira uma atitude mais intensa. Também é a fase onde a personalidade e o caráter são moldados através de nossas escolhas e, sobretudo, da nossa conduta. Atrevo-me a dizer que esse filme é de longe um dos que menos trata esse tipo de tema frágil com sensibilidade e inteligência, pois se limita dentro de uma visão mais do que exagerada e incoerente exemplificar o comportamento juvenil, e resumi-lo através de um amontoado de futilidades e manipulações baratas infantis.
O tipo de personalidade que determina o papel de cada personagem dentro da história nada mais é do que uma forma do enredo expor alguns tipos de situações comuns na vida de jovens visivelmente despreocupados (afinal, qual adolescente não é assim?), mas que não possuem qualquer tipo de profundidade dentro de suas próprias particularidades. A grande culpa disso se vê pela montagem falha do roteiro, que se resume em dividir por categorias esses personagens, com um exagero de subtramas desnecessárias que os desfocam e não abre espaço algum para qualquer tipo de identificação com os mesmos. A protagonista Lola é o típico exemplo de garota mimada, com uma personalidade extremamente infantil que busca em seus amigos uma forma de libertação de sua vida conflituosa e superficialmente dramática. Ela é apenas um exemplo do tipo de tratamento que o filme concede aos seus personagens subaproveitados.
Ainda que numa tentativa meio desesperada de passar uma mensagem sobre o famoso: “seja quem você é sem se importar com o que os outros pensam” é uma atitude digna de pena, pois mensagem mais batida e clichê do que essa não há. Muito decepcionante ver que o filme cai naquela categoria de filmes esquecíveis que não possuem qualquer tipo de relevância dentro de uma exploração de um tema interessante, que poderia render muito mais do que um típico draminha adolescente raso, distorcido e insosso. Nem a ótima trilha sonora salvou esse desastre em forma de filme.
Bronson realiza um poderoso estudo de personagem com eficiência, atitude e, sobretudo, procura explorar dentro de sua narrativa curta um tipo de drama psicológico sem grandes vícios de linguagem ou apelações sentimentalistas. Mas ao mesmo tempo em que seu maior ponto positivo esteja na forma brutal e violenta recorrente dentro de sua visão e alusão a temas pesados, a carência de exploração do comportamento e motivações do protagonista são suficientes para torná-lo um filme superficial cheio de limitações.
De certo ponto é compreensível (apesar de não ser justificável) notar a forma com que o enredo expõe a personalidade do personagem em questão, pois é realmente uma tarefa um pouco árdua introduzir um personagem complexo dentro de um curto espaço de tempo, e ainda sim mostrar todas as diferentes camadas de personalidade e complexidade que o envolvem. Apesar de ser uma introdução apressada e pouco envolvente, a forma com que a direção investe na violência formatada como forma destrutiva é o que incorpora a narrativa o tom brutal que o filme necessita para funcionar e dialogar diretamente com espectador. Seja através do uso da linguagem teatral em forma de espetáculo, ou até mesmo da interpretação caricata e exagerada de Tom Hardy que aqui mostra ser um ator versátil numa atuação extremamente corajosa e convincente.
Apesar de ser um filme imparcial em relação ao tema supostamente tratado, – a ultra-violência, sua causa e conseqüência ou até mesmo o instinto de liberdade e violência artística que moldam a personalidade do protagonista – sua forma explícita e direta exemplifica de uma forma condizente em conjunto a realização de um juízo de caráter autoritário (bastante confuso, por sinal) uma indicação para o caminho em busca da redenção do culpado, mas não incita ou redireciona suas idéias para qualquer tipo de reflexão questionável sobre as consequências dos atos violentos ou até mesmo sobre o tipo de tratamento carcerário intolerante e traumatizante sofrido pelo acusado.
Deixando algumas pequenas desculpas e justificativas um pouco de lado, o filme ainda consegue dentro de suas propostas limitadas ser despretensiosamente irônico (pois quase não se leva muito a sério, o que até então é um ponto positivo que minimiza um pouco suas dificuldades) e dentro de uma exploração cuidadosa sobre um comportamento e desvio de conduta ser perturbador o suficiente, mas ainda assim é complicado avaliá-lo sem se esquecer dos problemas - que se fossem devidamente contornados - poderiam torná-lo um filme promissor e com um nível maior de relevância sobre o tema apresentado.
The Tall Man consegue manter um nível de suspense e mistério inicias, mas que se perdem gradativamente na medida em que certos acontecimentos e revelações são apresentados de uma forma pouco convincente e sem grandes surpresas.
Inicialmente o filme consegue sustentar o mistério envolvendo o desaparecimento das crianças sem entregar muito do que poderia ter acontecido. Pois a linha narrativa ajuda bastante a criar o clima de mistério envolvente que o filme necessita para, assim, conseguir rapidamente conectar o espectador dentro das situações misteriosas envolvendo o caso. Porém, tudo se perde quando o enredo toma um rumo inesperado que não condiz com o tipo de proposta inicial e recorre a um tipo de suspense clichê feito para encobrir situações previsíveis.
A temática do filme consegue ser perturbadora e revoltante ao mesmo tempo.
Mostrar esses bastidores sociais que envolvem esse quase “tráfico de menores” é sem dúvida o aspecto mais positivo do filme, pois é quase uma intromissão e visão crítica sobre o que acontece em uma sociedade corrupta e sem pudores.
As atitudes de Julia (Jessica Biel está bastante convincente por sinal) não passam de uma motivação pessoal que é extremamente pouco explorada e um tanto quanto subutilizada. Mas, de certa forma o filme consegue explicar muito bem seus pontos em aberto e não deixa muito espaço para dúvidas relacionadas ao surgimento da lenda do “Homem Alto” e o porquê dos fatos encobertos serem distantes de seus motivos e perspectiva.
Dentro de suas propostas meio vagas o filme consegue ser eficiente em montar um tipo de suspense que envolve despretensiosamente, mas falha em querer ser didático demais e rapidamente se torna frustrante.
The Dreamers acerta bastante em explorar dentro de seu universo paralelo um conteúdo controverso e perturbador, porém peca um pouco no ritmo carregado de melancolia, sexualidade e, sobretudo, uma discussão sobre comportamento e seus devidos valores derivados que não se complementam com uma possível forma exemplar de maturidade.
O que engrandece e deixa a narrativa um pouco menos tórrida e carregada é o uso de referências a filmes de diferentes épocas, clássicos remetentes e referências diretas conectadas e incorporadas em situações do enredo – o que torna tudo uma bonita jornada sobre o amor pela arte e seu descobrimento através de uma visão artística interferente e relacionada diretamente ao prazer visual que o cinema proporciona. Por outro lado, existe também um grande foco no descobrimento sexual dos personagens, que é cheio de liberalismos apelativos, e que estão ali apenas como uma desculpa para exemplificar um comportamento sexual típico de pessoas imaturas e que visivelmente estão paradas no tempo. Não que isso seja algo que prejudique muito a história em si, mas de qualquer forma é algo gratuito e sem grandes propósitos além de ser visualmente feito pra desestruturar o moralismo social e etc.
A visão do diretor em querer transformar um estudo de comportamento de jovens visivelmente abalados psicologicamente em uma amplitude de interpretações – seja pela vida solitária de Matthew, a personalidade infantil quase inocente de Isabelle e a personalidade forte e impulsiva de Theo – de certa forma são aspectos interessantes se forem analisados separadamente, pois o estudo de personagens que o filme faz é rico de uma metalinguagem simples e remetente a situações identificáveis capazes de induzir a um tipo de reflexão.
O foco no relacionamento e nas atitudes controversas dos mesmos ofusca o plano de fundo político-social da época que quase nunca é mencionado e é extremamente redutivo a um rápido movimento estudantil revolucionário sem qualquer tipo de contexto dentro da historia. Isso é algo que se torna bastante frustrante, pois mostra o mal aproveitamento de uma riqueza de detalhes e informações que poderiam render muito mais do que um desfecho frustrante, corrido e insatisfatório, usado como desculpa dentro de uma situação esperada e previsível.
Sinto que o filme cumpre bem sua proposta de mostrar certos tipos de comportamento (que por mais que sejam remetentes e ilusórios) de qualquer forma são importantes de serem compartilhados, mas a longa e confusa jornada sexual vivida pelo trio é de fato uma grande pulsação de frustrações, melancolia e tédio.
The Raven é um filme que não consegue administrar suas idéias e propostas com eficiência e, consequentemente, adquire um declínio de qualidade equivalente a sua fraca e irregular experiência, que inicialmente – se analisada separadamente – parecia promissora.
Retratar os últimos dias de Edgar Allan Poe com uma visão ficcional (com uma liberdade de criação carente de criatividade) supostamente deveria abrir uma amplitude de possibilidades, um foco maior diretamente ligado ao personagem, e, contudo, mostrar sua personalidade e (pelo menos) algum tipo de profundidade que remetesse a identidade sombria presente em suas obras. Ao invés disso, temos aqui um personagem melancólico, beberrão, sem grandes motivações e que possui aspectos caricatos desnecessários devido á péssima caracterização e interpretação de John Cusack, que não consegue ter o mínimo de carisma ou impacto que o personagem exige.
O clima de suspense que o filme tenta conduzir e contornar diante de uma ambientação escura e sombria (talvez o único grande destaque da produção) é basicamente inexistente, pois se prolonga demais em revelar características investigativas remetentes a obras “literárias” do escritor e transforma essas questões em uma longa e entediante perseguição que nunca chega a lugar algum. As questões investigativas que giram em torno do assassino que reproduz em seus crimes elementos de algumas obras fictícias, a princípio se mostram conceitualmente interessantes, pois atribuem a historia um mistério quase enigmático, mas logo tudo é pouco aproveitado e a carência de informações complementares torna tudo uma grande decepção.
Em alguns momentos o filme consegue separar sua linha narrativa do convencional e o faz muito bem em momentos que exigem uma seriedade e tensão dentro da história
Algumas poucas cenas da Emily enterrada viva são interessantes, a armadilha que corta uma vitima ao meio (no maior estilo Jogos Mortais) também é um destaque e a busca por respostas que o desfecho entrega são exemplos de alguns pontos bem feitos e que conseguem se sobressair diante de tantos outros erros notáveis, mas nem por isso são eficientes ao ponto de causar qualquer tipo de interesse ou mascarar suas falhas.
Falha em praticamente tudo, pois não consegue prender a atenção do espectador devido ao elevado grau de tédio que se estende por todo seu desenvolvimento e uma grande frustração de idéias dentro de uma jornada sombria sem limites para buscar sua redenção.
The Hunger Games quebra barreiras que vão além do seu gênero erroneamente categorizado como um filme juvenil feito para adolescentes, pois se trata de um filme que além de ter uma produção cuidadosa e bem acertada envolve em sua história temas sociais importantes - ainda que pouco explorados – de uma forma crítica extensiva e direta ao ponto.
Deixando de lado algumas comparações analógicas óbvias com Battle Royale, o filme consegue dentro de sua proposta criar um universo próprio muito melhor explorado e que abre possibilidades muito mais amplas que vão além da violência gráfica exagerada como foco principal. O tipo de violência e agressividade (sugestiva, mas ainda sim compreensível) é exposta de uma forma pouco convencional através de uma batalha que envolve diferentes tipos de motivações – político-sociais e familiares – que são incorporadas a uma narrativa dinâmica que constrói um clima constante de tensão apreensivo que torna tudo extremamente ágil – seja através do uso de câmeras trêmulas que acompanham a protagonista, o simples fato da morte ser um fator brutal constante ou até o próprio ato de se envolver em uma situação sem se esquecer de seus princípios.
A violência aqui presta um papel que vai além do que inicialmente pode parecer banal ou distorcido, pois exibe através de um modelo social opressivo e um governo autoritário uma forma critica exacerbada sobre a desigualdade e os tipos de indiferenças sofridas pelos “menos favorecidos”. Dentro de uma atmosfera futurista extremamente distópica o papel da sociedade – dividida em diferentes propriedades de níveis sociais – que exercita uma aceitação quase voyeurística em relação à agressividade e a violência propriamente dita, evidencia nesse tipo de comportamento alguns fatores mais sugestivos da história, que presta seu papel filosófico com eficiência, mas não arrisca muito em desenvolver seu pano de fundo social com maior importância e menos intolerância.
As motivações da protagonista (Jenniffer Lawrence está ótima e surpreendente) são equiparáveis a sua força, coragem e poder de lidar com situações extremas. Inicialmente sua personalidade forte marcante – fria e concisa – sugere alguns tipos de marcas de sofrimento que o filme não exibe com clareza, mas superficialmente indica o caminho e permeia dentro do universo em que ela vive uma vontade de lutar pelos seus objetivos e atribui um senso moral muito interessante - que envolve o sacrifício pela irmã como forma de proteção - em um momento emocionante que inicialmente caracteriza a personagem como a promessa de mudança dentro de uma sociedade com regras impostas e corruptíveis.
Ainda que a mudança repentina de uma regra importante do jogo para envolver um romance apenas como desculpa seja um pouco decepcionante – quase cai em alguns clichês meio bobos – o modo como eles se envolvem é de certa forma aceitável, mas pouco impressiona por ser um fator previsível esperado e “irrelevante”. O desfecho é satisfatório e mesmo sendo um pouco anticlimático consegue abrir espaço suficiente e questionar o que poderá vir em uma continuação futura.
Entre grandes méritos de produção e um resultado surpreendente The Hunger Games é uma grande surpresa e sobretudo, um filme excelente que consegue ser um grande inicio de uma franquia que tem tudo para se tornar um grande sucesso.
Battleship definitivamente pode ser categorizado como um típico filme de ação sem propósitos adicionais, que com toda sua falta de originalidade em relação a sua inspiração adaptativa demonstra total indiferença e um desencontro de idéias desanimadoras.
Ainda que acertando um pouco em tentar retratar as táticas e técnicas de batalha inspiradas no jogo original, o filme conduz com um ritmo absurdamente frenético uma situação caótica (superficialmente explicada) de uma forma vazia e incoerente, e não se preocupa em resolver seus problemas com inteligência, pois investe em uma sucessão de clichês identificáveis - típicos de filmes desse gênero – para mascarar situações até então mal resolvidas. Os próprios personagens são carregados de estereótipos e sofrem com um reaproveitamento divido em categorias particulares – a jornada de Alex (que até então era um personagem problemático sem propósitos) que parte em sua busca pela redenção dos seus erros através de um ato de heroísmo americanizado típico, demonstra com clareza os objetivos e tipos de mensagens que o filme tenta transmitir.
Visualmente o filme não decepciona e os efeitos são convincentes ao ponto de questionar até que ponto a tecnologia pode produzir com qualidade cenas desse porte, mas por outro lado, existe uma repetição de fatores que tornam a experiência um tanto quanto artificial demais e, sobretudo, pouco aproveitada. Como o próprio fato dos extraterrestres serem subutilizados e desfocados dentro da situação – no sentido mais explicativo inexistente dentro da história - o que torna o descobrimento de suas motivações uma grande decepção pela falta de sentido lógico.
O filme funciona apenas como um entretenimento sem grandes novidades (bastante forçado e previsível) e demonstra que o caos desorganizado em conjunto a falta de criatividade pode produzir algo extremamente descartável, genérico e principalmente esquecível rapidamente.
[REC]3 Génesis abandona o estilo “documental” e investe em idéias equivocadas que contribuem para grandes falhas definitivas; proposta inicial distorcida, atmosfera anticlimática e estética mal direcionada.
Dentro da proposta de [REC] essa sequência paralela (não existe qualquer menção aos fatos ocorridos nos seus antecessores) perde muito na qualidade e princípios básicos para um filme de terror/suspense funcionar. Começando pelas falhas graves na construção de uma atmosfera de tensão que nunca é devidamente conduzida com êxito, e sofre de um anticlímax constante por parte de situações limitadas, repetitivas e exageradas. O estilo de filmagem que produziu a característica mais marcante da franquia foi abandonado e usado raramente apenas como desculpa; o que torna tudo uma grande decepção – ver o filme seguir um estilo estético bem produzido, de certo ponto é interessante e mostra um cuidado de criação por parte dos produtores, mas quem disse que qualidade depende apenas de boas intenções visuais?
A história em si é pífia, pois depende muito de situações confusas envolvendo personagens para se desenvolver e falha inteiramente quando se propõe mostrar um lado religioso superficialmente auto-explicativo (não só aqui, mas no segundo filme isso também acontece com a mesma proporção de erros) que não complementa em nada ou não produz diferenças relevantes dentro da história. O roteiro (se é que pode ser chamado assim) segue uma linha narrativa genérica, que rebusca alguns elementos e vícios de linguagem típicos de filmes do gênero - como os personagens estúpidos, um desespero intencional em querer mascarar algumas cenas de caráter dramático mais sério, uma falta de convicção por falta do elenco que é igualmente deslocado dentro da situação e, por fim, a disputada maratona de clichês e previsibilidade envolvendo a desconhecida (e reutilizada) ameaça biológica.
No fim das contas [REC]3 tenta buscar um novo rumo para a franquia (que demonstra um grau acentuado de irregularidade desde o segundo filme) investindo em uma produção mais elaborada e menos “realista”, mas foge muito da proposta inicial e do universo dos seus antecessores, pois distorce idéias, peca em exageros desnecessários e intimida o espectador com um show de horror de muito mau gosto.
Em “Batman Begins” o medo – ou a superação de - era o tema central para o desenvolvimento inicial da personalidade insegura e características do homem-morcego. Sua sequência “The Dark Knight” exalta o caos como única solução através de um vilão icônico inesquecível. Em “The Dark Knight Rises” temos como alvo a dor causada pela destruição e renovação de um princípio de idéias que se perduram para grandes revelações do passado.
Ainda que um pouco inferior ao seu antecessor, temos aqui uma grande preocupação em resolver questões mais intensas - sociais e políticas - que permeiam a densidade do universo de Gotham e sua discriminada associação com temas conflituosos que distorcem alguns conceitos sobre a importância social. Em grande parte associado à desorganização e falta de controle por parte dos governantes, que nem sempre sabe se posicionar diante de um caos inesperado. O que acarreta em situações desastrosas capazes de mexer com a estrutura narrativa de uma forma ágil, dinâmica e formalmente induzível a uma reflexão sobre os padrões sombrios associáveis ao terrorismo, suas causas e consequências.
O “caos organizado” presta um grande papel dentro da história através do vilão Bane – que apesar de não ter o mesmo impacto idealista do Coringa – ainda consegue ser visualmente aterrorizante e ameaçador quando se impõe diante da situação como um todo, formalizando um discurso destrutivo quase alegórico que infelizmente é muito pouco aproveitado pelo roteiro. A presença do vilão analogicamente sugere um jogo psicológico capaz de desestruturar a mente do herói - que num instinto motivacional – consegue sobrepor seus medos com uma força ainda inalcançada. Incrível ver que a percepção e presença do Batman nesse filme são construídas de uma forma excepcional, mostrando suas camadas de personalidade e comportamento restrito – queda, hiato e ascensão – de uma forma quase pessimista, que correlaciona ao desfecho que o incriminou no filme anterior um contínuo discurso polido e distinto sobre o que torna Gotham City uma cidade manipuladora e distópica.
Visualmente o filme não inova muito, pois segue o mesmo estilo sombrio calculado de seus antecessores - ainda que seja um pouco decepcionante ver Gotham com um ar de artificialidade e design derivados de cidades conhecidas – o estilo de construção de cenários é um grande e impressionante ponto positivo para complementar o posicionamento dos personagens. O elenco de apoio não decepciona, e mesmo que com certo exagero de subtramas (que se resolvem rapidamente) ninguém parece desfocado ou desfavorecido demasiadamente. Destaque para Anne Hathaway que aqui surpreende com uma versão mais idealista de Selina Kyle que combina com o estilo mais realista e menos fantasioso do universo criado para o filme. Michael Caine sempre brilhante – um pouco apagado é verdade – mas em uma atuação emocionante. E Joseph Gordon-Levitt em um dos melhores papéis de sua carreira, com um personagem esperançoso e idealista.
Um desfecho ambicioso e ousado que, sobretudo, dignificas as adaptações de HQs para o cinema e conclui com magnificência uma trilogia de grandes proporções que já pode ser considerada um marco cinematográfico.
“A consequencia” explora com delicadeza um tema bastante polêmico e analisa um comportamento fora dos padrões sociais com urgência em querer separar as visões preconceituosas impregnadas nas diferentes camadas da sociedade em geral. Porém, se perde um pouco em estereótipos e um ritmo fragmentado antecipado em fundamentos moralistas, que sofrem com um desenvolvimento unificado a um fraco discurso permanente sobre os direitos e consequências auto-explicativos.
Existe uma grande preocupação em discutir o comportamento sexual dos personagens através de uma visão intimista que contradiz os sentimentos de culpa e impossibilidades de viver um amor proibido dentro de uma sociedade discriminatória, que não se importa com os sentimentos ou motivações distintas, mas incrimina o gênero sem qualquer tipo de predileção. O que torna a jornada em busca do descobrimento do amor verdadeiro um grande desencontro de possibilidades, pois em momento nenhum a situação é vista como um simples ato de amor ou companheirismo, mas como culpados pelo simples fato das diferenças serem inaceitáveis dentro de uma sociedade autoritária.
A intensidade do relacionamento entre Thomaz e Martin – que são respectivamente cuidadosos e motivados pelo ímpeto de quebrar certas barreiras – é explorada de uma maneira bastante humanizada e psicologicamente variável, pois mesmo nos momentos onde o sofrimento é o lugar comum na vida dos dois, o encontro importante de seus ideais é inteiramente compreensível e traduz seus sentimentos sem perder o valor das diferenças.
Importante notar que o enredo supostamente “pré-julga” a atitude dos personagens imparcialmente, fazendo com que o espectador tire suas próprias conclusões sobre o que poderia acontecer se suas motivações fossem levadas até as ultimas conseqüências. O que leva a uma analogia direta com o título que além de explicar uma situação vivida por Thomaz e seus instintos traumáticos, evidencia o caráter mais forte da história, sua dependência e seu desejo de viver em liberdade sem culpa ou sofrimento.
Sinto que a proposta do filme em discutir o tema e tocar no assunto sem precisar de artifícios manipulativos foi cumprida com êxito, mas ao mesmo tempo em que isso é um mérito louvável alguns aspectos mais densos poderiam ser melhor explorados e devidamente incorporados a uma narrativa menos sentimentalista e um pouco mais racional.
Cabin Fever se mostra eficiente como trash/gore, mas falha bastante no que diz respeito a originalidade e desenvolvimento de uma boa ideia.
A estética é um grande acerto e exerce seu papel principal de causar agonia ao espectador - e nesse ponto o filme acerta, causa arrepios com algumas cenas estranhas e exageradas. Não há nenhuma novidade no desenvolvimento dos personagens, pois são extremamente anencéfalos e estereotipados - características comuns para filmes de suspense/terror que aqui mais uma vez se repete em grande estilo.
A história em si é até aceitável - para os padrões de um filme nesse gênero que simplesmente não se importa em entregar algo que faça qualquer sentido lógico. Mas de alguma forma é esquecível e barata demais. Outros fatores irrelevantes como referencias a outros filmes são notáveis na falta de criatividade da história que por mais que não se leve a sério (e nem deveria) é carente de um humor apelativo que funcione exaustivamente.
Não é o tipo de filme que inova o gênero ou possua alguma diferenciação de tantos outros produtos parecidos e mais interessantes do que esse.
Na sua adaptação de Batman, Tim Burton soube capturar muito bem a atmosfera transgressora e opressiva de Gotham City e com um clima sombrio - característico de suas obras desde sempre – aplicá-los na trajetória do homem-morcego com eficiência. Porém, o cuidado na concepção do universo criado para seu desenvolvimento não acompanha com mesmo impacto a construção dos personagens.
A personalidade de Bruce Wayne não abre espaços para uma amplitude de desenvolvimento e a falta de foco nas motivações do protagonista é perceptível, pois não exige do mesmo um envolvimento com as situações caóticas incorporadas ao enredo. A própria história de vida do personagem é extremamente superficial e tenta desesperadamente emitir uma sensação de questionamentos com respostas pré-programadas - que são as questões da infância do personagem que aqui cria uma suposta reviravolta sem sentido. Apesar disso tudo, temos aqui uma boa interpretação de Michael Keaton, que sabe lidar com as diferenças de identidade do personagem entre a vida real e seu supracitado alter-ego.
Diferente do protagonista – que mais parece antagonista – o desenvolvimento do vilão é brilhante. Com toda sua genialidade interpretativa Jack Nicholson sustenta às duas horas de projeção com toda sua excentricidade incorporada a personalidade do Coringa, que por ser um personagem icônico recebe um destaque maior dentro da história. O que representa muito bem a situação de caos controlado envolvendo o plano de fundo social e político (pouquíssimo explorado por sinal) que redireciona suas motivações ao um estilo cômico e quase caricato de entretenimento.
O filme tem seus méritos de produção, um estilo artístico sólido, uma estética sombria destacada e uma trilha sonora excelente, aspectos técnicos que engrandecem de uma forma positiva alguma falhas estruturais do enredo em si.
Se o filme for analisado como uma história paralela em relação ao universo do Batman não se exige muito um olhar analítico para julgá-lo como uma obra separada. Porém, ainda sim, não é um filme que tenha uma maioridade relacionada ao desenvolvimento de um herói que merecia muito mais do que um produto sombrio, artificial e distópico.
Funny Games explora com dinamismo e inteligência uma narrativa perturbadora e provocativa, que ironiza a visão do espectador em relação ao vício e aceitação da violência - que nesse caso é integrada a variáveis sensações de impotência e ímpetos de integridade psicológica, física e familiar.
A sugestividade do roteiro - que exercita suas diferentes linhas narrativas de tensão claustrofóbica – transformam a experiência em um verdadeiro enigma intencional sobre a violência e o ato de destruição que sobrecarrega a visão do espectador, forçando-o a uma reflexão sobre os paradigmas experimentais do sádico e suas intenções irracionais. Temos aqui uma narrativa lenta, provocativa e incômoda (intencionalmente) que sabe construir seus personagens e posicioná-los categoricamente como peças manipulativas de um jogo doentio. E mesmo que esse jogo possua suas regras – questionáveis como qualquer outro – não existe vencedor ou perdedor, mas sim, participantes de uma fase interminável onde o maior desafio é o sofrimento sem limites e a agressividade calculista.
O que torna tudo extremamente difícil de acompanhar é o fato do filme não explicitar a violência gráfica em si. Mas, ao invés disso, deturpa os acontecimentos para que as conclusões sejam analisadas separadamente e assim, tornar a experiência em um verdadeiro pesadelo paralelo sem pistas ou atalhos de fuga. Nada mais perturbador do que acompanhar cenas de tortura psicológica através de um jogo doentio onde o desafio é a própria capacidade de controle e autodestruição - e nesse quesito o filme acerta e sabe controlar sua atmosfera de tensão sem quebrar o clima expressivo de agressividade.
Não vejo diferenças – além de técnicas – da versão original para a refilmagem, até porque são praticamente iguais e só mudam alguns pequenos detalhes como: atuações mais convincentes por parte do elenco da nova versão e alguns aspectos metalingüísticos mais fáceis de identificar. E mesmo sendo uma refilmagem desnecessária considero-a a versão definitiva.
Enfim, Funny Games é uma obra admirável e que por mais que tenha um conteúdo controverso, suas entrelinhas e diferentes interpretações tornam a experiência gratificante e perturbadora.
Silent House acerta na técnica apurada de filmagem - entre travellings irregulares de câmera ora, sem foco, ora trêmulas - que dão a impressão de uma agonia particular que o filme consegue transmitir, porém falha em aspectos regulares de condução, ritmo e continuidade que comprometem a ousada e insustentável ideia.
O foco no realismo quase exagerado (bastante técnico por sinal) adiciona ao filme uma linguagem expressiva e direta que consegue capturar uma atmosfera de suspense e tensão – inicialmente, pelo menos. Mas tudo se perde quando a fusão de idéias se distorce e quebra a barreira do que é possivelmente lógico ou real. O enredo questiona e exercita a sanidade da personagem com um tipo de psicologia barata, banal e inexperiente que é reducionista e desinteressante.
Os valores básicos de um suspense bem conduzido dão origem a acontecimentos dedutíveis e previsíveis. Numa tentativa (quase) desesperada de parecer surpreendente, o enredo dá dicas suficientes para reduzir a surpresa de uma forma inevitável e patética – seja no aparecimento dos “delírios” mentais da personagem, que já nos primeiros momentos se mostra um pouco indiferente e emocionalmente fragilizada, ou nos próprios momentos onde os personagens secundários agem de forma estranha e incoerente em relação à situação pré-estabelecida. Pelo menos temos aqui uma boa - e intensa - interpretação de Elizabeth Olsen que se mostra cada vez mais versátil em suas escolhas e sabe dialogar com a câmera mesmo em momentos que não exigem muito de seu desempenho.
Uma boa ideia mal direcionada pode comprometer um resultado final satisfatório. Nesse caso, a incompetência em manter um nível de qualidade aceitável para os padrões iniciais tornam a promissora e definida originalidade em uma tortura decepcionante.
ATM abusa de uma variedade de clichês derivados de filmes de suspense para tentar parecer original, mas não passa de uma cópia barata e mal-feita com um falso complexo de superioridade.
Analisando o prólogo inicial separadamente (que logo de cara mostra pistas e um possível spoiler) o filme parece promissor, pois ironicamente conduz sua apresentação com uma música remetente ao clima de natal - que por mais estranha que seja - consegue chamar a atenção diante de um acontecimento até então, desconhecido. Porém, tudo se perde rapidamente quando os personagens principais são introduzidos na trama. Logo de cara dá pra perceber que as linhas de diálogo (desinteressantes e intermináveis) estão ali para exercer um simples papel de condução para o inevitável e desanimador (anti)clímax que o filme desenvolve.
A idéia em si é bastante derivativa e reconhecível facilmente. Até porque, o ato de confinar pessoas em um lugar isolado (nesse caso, temporariamente) não é nenhuma novidade nos filmes de suspense, terror e derivados do gênero, mas prefiro evitar comparações por mais óbvias que sejam. Nessa situação de confinamento (onde o “assassino” aterroriza suas vitimas com atitudes calculadas) em alguns pequenos momentos o filme consegue amenizar suas falhas com um suspense psicológico quase convincente, mas devido a fracas e artificiais interpretações do elenco tudo se torna completamente duvidoso e entediante.
O fator previsibilidade acompanha todo o desenvolvimento do enredo, que não surpreende em momento algum e subestima a inteligência do espectador criando situações, mirabolantes, manipuladoras, reviravoltas patéticas – dignas de piada – e uma carência de explicação e sentido lógico. O próprio desfecho que tenta se passar por intelectual não consegue ter o mínimo sequer de impacto para a conclusão inteligente, estudada, ou seja, lá o que esse diretor estava pensando na hora que montou isso.
Sua insuficiente capacidade de balancear o suspense com situações de tensão transformam a incorrigível sensação de instabilidade em um sofrível e manipulador confinamento inexpressivo e desorganizado.
Lockout abusa da ação frenética e uma falsa sensação de surpresa para tentar encontrar seu lugar dentro de uma atmosfera confusa e aleatória, porém falha por ser raso demais e completamente sem emoção.
O roteiro (que roteiro?) se limita em desenvolver uma história sem buscar uma continuidade lógica ou sentido e abusa de clichês previsíveis altamente identificáveis que prejudicam a experiência conectiva que o filme tenta transmitir através de cenas de ação calculadas para um possível entretenimento pouco convincente. O desenvolvimento dos personagens – assim como a história – é pífio e não os destaca como deveria, pois busca retratar suas personalidades com estereótipos claros definitivos. Pelo menos temos aqui uma pequena/boa interpretação de Guy Pearce para compensar suas limitações, mas nem sua constante e forçada comicidade cheia de exageros é capaz de suprir as necessidades do enredo.
Faltou foco no que diz respeito a uma história mais convincente. Até as reviravoltas finais são forçadas, desesperadas demais e não empolgam. Mesmo sabendo que uma possível prévia de eventos importantes para a resolução dos acontecimentos seja artificialmente concentrada e conectada para um final previamente rápido e feliz.
Como entretenimento sem qualquer tipo de surpresas o filme funciona muito bem, e se resume apenas nisso. A sua concepção vazia e sem profundidade se prolonga em todo o universo remetente e raramente consegue sobrepor suas falhas com um diferencial inesperado que poderia engrandecer um pouco mais sua fraca e irregular experiência.
Sombras da Noite
3.1 4,0K Assista AgoraO que atrapalha muito Dark Shadows de se tornar um filme inesquecível é essa fusão estranha de gêneros; que ora flerta demais com um tipo de humor carregado de referências – que funcionam até certo ponto -, um tipo de drama inconsistente, uma atmosfera de suspense previsível e um excesso de elementos fantasiosos mal trabalhados; aspectos decisivos que comprometem demais a obra e a transformam rapidamente em um produto mal aproveitado e decepcionante.
Num contexto mais geral o filme tem lá seus acertos, sobretudo quando sabe construir um clima misterioso conduzido lentamente através de uma atmosfera sombria, melancólica e densa (pelo menos inicialmente). Tais aspectos são bem trabalhados e mostram que a direção reciclada e excêntrica de Tim Burton se foca bastante em questões visuais para tentar mascarar de alguma forma o enredo batido e sem graça que se desenvolve em subsequencia. A história é bastante problemática – apesar de ser bastante explicadinha, minimamente detalhista e pouco didática – pois envolve em seu desenvolvimento um excesso de personagens caricatos mal trabalhados, o que resulta inevitavelmente na perda de foco e profundidade de alguns – como a personagem Carolyn vivida por Chloe Moretz, que é extremamente subdesenvolvida, mal aproveitada e vítima de uma situação para criar uma possível reviravolta – é algo que compromete bastante esse tipo de escolha narrativa pouco dinâmica.
Em questões de interpretações e caracterizações o filme não decepciona. Johnny Depp apesar de estar no seu lugar comum de personagens excêntricos parecidos, aqui sabe lidar muito bem com a personalidade de Barnabas Collins, e mesmo que seja um tipo de interpretação automática e pouco exigente, ele definitivamente sabe conduzir o personagem com eficiência. O elenco feminino também é muito consistente. Eva Green está ótima no papel de Angelique – uma típica vilã forte, divertida e sensual. Helena Bonham Carter é a que menos se destaca, juntamente com Michelle Pfeiffer que pouco aparece além dos momentos iniciais. No mais, outros personagens como a Victoria – que é utilizada como um avanço na história e uma desculpa meio óbvia para as motivações de Barnabas – e David que também presta um papel pequeno dentro da história estão ali apenas explicar situações pré-determinadas e anteriormente mencionadas.
Talvez o elemento mais legal de Dark Shadows seja o contexto da época setentista em que a história é desenvolvida. A cultura dos anos 70 empregada dentro da narrativa através de uma trilha sonora inspiradora, o uso de cores vibrantes que predominavam nessa época, algumas situações referentes ao estilo e tipos de comportamento vividos pelas pessoas da época, é sem duvida o ponto mais interessante a ser considerável. Elementos remetentes divertidos e eficientes para a proposta do filme e que foram trabalhados com cuidado, apesar de não ser marcante o suficiente.
Apesar de tudo Dark Shadows tem seus momentos que funcionam, algumas escolhas são óbvias demais e visivelmente recicladas, algumas outras até funcionam como deveriam, mas no geral é uma decepção ver que a falta de criatividade atingiu em cheio as produções de um diretor conhecido pela originalidade e personalidade própria em seus filmes, e isso é algo bastante desanimador.
O Segredo da Cabana
3.0 3,2KCom sua originalidade e firmeza de idéias The Cabin in The Woods é simplesmente um deconstrutor de clichês do gênero terror/suspense, e, sobretudo, uma homenagem a tudo que envolve produções nesse estilo, e só por isso já merece ter seu destaque entre os filmes do ano, pois arrisca em mostrar diferentes situações com um tipo de humor espontâneo sem forçar demais e com isso consegue ser extremamente eficiente em sua proposta bizarra e original.
Enganam-se aqueles que procuram aqui um filme de terror padrão. O filme envolve sim alguns aspectos clichês típicos de filmes do mesmo gênero, mas incorpora alguns elementos muito mais interessantes e bizarros dentro de uma narrativa ágil e divertida. Inclusive abre espaço para satirizar ironicamente a manipulação de situações aterrorizantes em forma de espetáculo, o que nos leva a uma quase crítica sobre o que pode ser considerado “real” ou “manipulado” nos diferentes tipos de mídia em geral. Junte a isso situações imprevisíveis, personagens intencionalmente estereotipados e pronto: temos a formula quase perfeita para um filme funcionar. E se a proposta – por mais bizarra e estranha que seja ainda consegue ser extremamente divertida e original –, questionar a qualidade do filme em si apenas por ser diferente do comum, é algo que não se aplica muito bem, pois o filme em nenhum momento se leva a sério, e é isso que o faz ser tão interessante dentro desses padrões de filmes iguais e repetitivos.
Tanto estruturalmente quanto tecnicamente o filme não decepciona. O uso de referências remetentes a clássicos do gênero como: Evil Dead, O Iluminado, It e Hellraiser só pra citar alguns, é um que o categoriza como filme homenagem e o uso dessas referências – às vezes sutis outras vezes escancaradas – é sem duvida alguma um grande acerto e agrado para os fãs. O elenco também está muito bem, apesar de ter alguns personagens menos carismáticos do que outros, nenhum deles parece extremamente desfocado. E mesmo que o desenvolvimento dos mesmos seja apenas baseado em uma situação rápida que não remete a qualquer tipo de profundidade, não há uma necessidade maior em desenvolvê-los, pois o conceito é pré-programado e essas questões são indiferentes.
Por mais que seja um filme estranho, bizarro e um pouco pretensioso demais The Cabin in The Woods acerta muito por ser ousado, dinâmico e original e se destaca como uma grande surpresa diante de um gênero saturado carente de criatividade nos dias de hoje.
Reino dos Gladiadores
0.8 5Filmes de baixo orçamento geralmente necessitam de artifícios que vão além de suas limitações orçamentárias para tentar conquistar o espectador de alguma forma, e através disso tentar se sobressair diante de um estilo de produção limitada que é um fator prejudicialmente definitivo se cair em mãos erradas. Em Kingdom of Gladiators nem a intenção de fazer algo nesse estilo é um fator a ser considerável, pois além de ser um filme que se leva a sério demais (não deveria), suas incapacidades e limitações são aspectos unânimes para defini-lo como uma tortura visual em forma de filme.
O roteiro (que roteiro?) se propõe em mostrar de uma forma extremamente didática e caricata uma estória batida sobre um rei que faz um pacto com o demônio em busca de poder, mas que precisa abdicar de sua descendência para que tal acordo se cumpra. Em conjunto a esse enredo (mais clichê impossível) algumas escolhas equivocadas acontecem com frequência e são definitivamente o que tornam o filme ainda mais patético e sem sentido. O forte uso de elementos sombrios – que definitivamente não funcionam como deveria – um tipo de suspense inexistente que é carregado por uma trilha sonora exagerada, constante, excessiva e irritante, e, sobretudo, uma gama de personagens inexpressivos - acompanhados de um elenco visivelmente deslocado e amador -, que assim como a estória, não procuram buscar um sentido ou respostas para suas motivações pessoais (se é que podem ser chamadas disso) e que prestam um papel mínimo e ineficiente dentro do enredo.
Tecnicamente o filme é um show de bizarrices, com direito a muitos efeitos de sangue artificial produzidos digitalmente, uma câmera instável e sem foco que nunca fica parada, cenas de luta patéticas sem sincronia ou emoção alguma e planos sequência visivelmente mal produzidos, longos demais e sem qualquer tipo de impacto visual ou audiovisual. É ainda notável ver que a repetição desses fatores citados tentam de alguma forma justificar a falta de criatividade dos produtores em construir algo mais palpável que seja minimamente convincente, mas são aspectos de qualidade duvidosa que o tornam ainda pior pelo forte conteúdo amador que exemplifica com clareza sua proposta entediante e patética.
Fica um pouco difícil definir em poucas palavras o que esse show de horror em forma de filme significa, pois além de ser algo extremamente mal feito e visivelmente mal produzido o tédio inevitável que acompanha toda sua execução é um fator definitivo para categorizá-lo como um filme péssimo, patético e sem sentido. Terrível.
Gêmeos: Mórbida Semelhança
3.7 193Psicologicamente, Dead Ringers é um desafio ameaçador, pois envolve dentro de sua exploração temática perturbadora um grande conflito psicológico sobre a conexão entre dois irmãos caracteristicamente complexos e diferentes entre si - com personalidades distintas -, e dentro desse ambiente cirúrgico carregado de tensão e mistério transferir para o filme o tom psicológico necessário que o mesmo necessita, tornando-se assim, uma obra extremamente controversa, envolvente e agonizante.
A história em si se desenvolve muito lentamente, pois foca-se quase inteiramente em construir a personalidade dos gêmeos exemplificando o comportamento dos mesmos através de uma divisão de etapas entre: ascensão e construção de uma carreira sólida, romance compartilhado e obsessão pelo vício em drogas, que é essencialmente o elemento chave que unifica os personagens em uma jornada de autodestruição e abstinência. Em meio à exploração desses temas pesados – que são muito bem desenvolvidos e certamente relevantes de serem abordados – a forma com que os personagens lidam com suas limitações e incapacidade de autocontrole.
A personalidade distinta dos gêmeos incorporada a um tipo de narrativa extremamente analítica ajuda muito a entender os conflitos dos mesmos – Bervely que basicamente é o irmão inseguro, com um tipo de personalidade frágil remetente a um comportamento infantil destoa bastante do seu irmão Elliot, que é claramente o irmão protetor e seguro de si (aquele quem faz os discursos, como o próprio Bervely diz em um momento) agressivo e sedutor. Não é muito difícil identificar esses elementos da personalidade dos dois, pois o roteiro deixa bem claro (sem abrir muito espaço para dúvidas ou questionamentos) o tipo de papel que cada um exerce dentro da história e, sobretudo, a conexão que os dois possuem desde sempre. E mesmo que o relacionamento entre os dois seja algo bem explorado, o tipo de escolhas em mostrá-los apenas como parceiros unidos acima de qualquer situação ou circunstância, ainda sim é um pouco decepcionante enxergá-los apenas como protetores entre si.
Cronenberg realmente sabe como montar e conduzir um tipo de suspense/terror psicológico com elementos bizarros que inclusive estão presentes em várias outras obras de sua filmografia. E, (não somente) por isso, Dead Ringers merece ter seu destaque não por ser apenas mais um filme bizarro e controverso, mas principalmente por ser uma obra bastante original, carregada de psicologia, surtos e bizarrices.
A Árvore da Vida
3.4 3,1K Assista AgoraAcho o cúmulo da pretensão e do egocentrismo dizer que quem não entendeu o filme é burro ou algo do tipo e ainda por cima utilizar o velho argumento do “não gostou porque não entendeu”. Ninguém é obrigado a gostar de nada, muito menos tentar entender algo que pessoalmente não faça sentido, mas por outro lado acho questionável também a pessoa chegar por aqui, dizer que o filme é péssimo, tedioso, dá sono e etc, sem ao menos dar uma chance para tentar absorver a experiência que o mesmo proporciona. Não digo isso como uma forma de tentar convencer alguém que o filme é bom, uma obra-prima ou coisa do tipo, mas me sinto um pouco decepcionado com essa geração acostumada com respostas prontas, com preguiça de pensar ou até mesmo buscar suas interpretações sobre algo que acrescente (nem que seja uma faísca mínima de reflexão) em suas vidas. Discutir gosto pessoal é algo complicado e que não leva a lugar algum, mas opiniões diferentes estão aí para serem questionadas se forem expostas com clareza e coerência, e não um simples: “não gostei porque é um tédio, superestimado, esperava mais e etc.” existem maneiras muito mais claras e objetivas de expor uma opinião do que se limitar em utilizar apenas esse tipo de argumento automático que hoje em dia se encaixa em qualquer tipo de coisa.
Repulsa ao Sexo
4.0 463 Assista AgoraEm Repulsion Polanski constrói com excelência uma atmosfera de tensão constante diretamente conectada a um conflito psicológico denso, claustrofóbico e perturbador, elementos remetentes dentro de uma obra carregada de simbolismos e metáforas sobre a obsessão e os sentimentos de repulsa.
Alguns parâmetros mais técnicos e psicológicos do enredo são desenvolvidos de uma forma bastante lenta e misteriosa, focando-se inicialmente em um estudo simples do cotidiano de uma personagem enigmática, que inicialmente não possui qualquer tipo de motivação aparente sobre sua obsessão e seus desejos reprimidos aparentes – características interessantes sobre uma personagem estranha e que visivelmente possui um problema até então não revelado, mas tudo muda quando alguns fragmentos sobre sua personalidade são entregues e a experiência se torna um difícil e torturante massacre psicológico carregado de horror e agonia. Tudo isso não seria possível se não fosse pela ótima e corajosa interpretação de Catherine Deneuve – que consegue sustentar com excelência todas as diferentes camadas psicológicas da protagonista que desafia os limites da atriz pelo fato de ser um personagem extremamente difícil e que exige da atriz um tipo de atuação e entrega que a mesma consegue executar com perfeição.
Dentro de uma variedade de interpretações possíveis sobre causa e efeito, prefiro pensar que se trata basicamente de um distúrbio psicológico remetente a um passado pouco conhecido da personagem – ainda assim, sinto que o tipo de exploração temática sobre suas frustrações e medos foi muito pouco aproveitado -, pois até então, o enredo não entrega muito sobre o que poderia causar esse tipo de destruição e auto-destruição em sua vida. Porém, felizmente o filme não subestima a inteligência do espectador investindo em um tipo de suspense manipulativo que poderia torná-lo monótono e chato. Pelo contrário, pensar em possibilidades sobre seus problemas e dúvidas é o que torna o filme interessante e dinâmico sem ser complexo demais ou extremamente artificial.
O forte uso da estética sombria como um complemento único e que faz parte da história como um personagem tão forte quanto à protagonista, é o que adiciona a forte experiência visual e audiovisual que o filme possui um tom perfeitamente bem aplicado, inclusive nas cenas mais assustadoras onde o campo de visão da personagem é exposto e unido a efeitos sonoros tão assustadores quanto seus próprios conflitos.
Pelo forte conteúdo sombrio e perturbador Repulsion consegue superar sua superficialidade e se tornar uma obra com um alto caráter analítico sobre a obsessão, o desejo, as consequências da destruição e os conflitos envolvendo a fragilidade emocional. E mesmo que seja um filme bastante controverso, sua condução é perfeita e inesquecível.
A Tortura do Medo
3.9 149Peeping Tom consegue se sustentar basicamente em uma atmosfera de suspense sugestivo e dentro de sua curta narrativa busca explorar um comportamento perturbador sem se aprofundar muito nos paralelos psicológicos que envolvem esse tipo de tema, o que até então o torna um filme bastante questionável, mas que não se preocupa em responder suas dúvidas ou questionamentos mais importantes.
O ponto mais forte do filme é sem dúvida sua parte técnica, que é carregada de características pessoais interessantes - que envolvem desde o seu estilo de filmagem bastante intimista ou até mesmo o uso de câmeras subjetivas que explicitamente são empregadas dentro da narrativa para ajudar a conduzir a história misteriosa envolvendo o protagonista e suas motivações obsessivas. O uso desse tipo de câmera (que sempre acompanha o personagem Mark) exemplifica dentro de uma limitação de idéias algumas questões que o enredo discute superficialmente – como o comportamento voyeurístico do mesmo, o prazer visual da imagem e a obsessão pelo ato de observar.
Temas sugestivos e interessantes dentro de uma história pouco dinâmica que não aproveita muito bem seu conteúdo com eficiência, pois investe em um tipo de suspense muito pouco envolvente, que sempre constrói dúvidas excessivas sobre a origem e passado obscuro do protagonista, mas não explica ou se preocupa em traduzir claramente qualquer tipo de questionamento essencial para a construção do personagem.
Dentro de um paralelo psicológico pouco explorado e um suspense meio morno, de certa forma o filme consegue ser eficiente apenas no que diz respeito ao uso do suspense sugestivo sem grandes pretensões, mas gradativamente perde toda sua força e consequentemente se transforma em um grande ponto de interrogação sem qualquer esperança em buscar por respostas definitivas.
Blow-Up: Depois Daquele Beijo
3.9 370 Assista AgoraInicialmente Blowup pode parecer um tipo de filme vazio, cansativo e que não passa de um exercício técnico aprimorado, mas considero um grande engano classificá-lo como tal. Pois ao mesmo tempo em que esse tipo de técnica é aperfeiçoada e masterizada com excelência, temos aqui uma obra com características extremamente importantes que sucedem seus méritos artísticos intencionais baseados em seus conceitos iniciais que nunca se perdem.
Dentro de uma proposta explicitamente diferente, a linha narrativa segue um estilo pouco convencional, onde o uso de técnicas atípicas são aplicadas dentro da historia com o intuito de conectar o espectador a um estudo intimista de um cotidiano sóbrio e casual, desenvolvido a partir da visão artística do protagonista fotógrafo que é visivelmente focado em difundir seu trabalho e possui um amor pela arte visual que a fotografia proporciona. O encontro da personalidade do protagonista com o modelo social - exposto através da imagem como forma de liberdade artística – é um típico exemplo de artifício narrativo simples que interfere no campo de visão do espectador e conduz a uma reflexão sobre o que realmente pode ser considerado como arte ou apreciação.
Focado quase inteiramente em expor de diferentes formas um estilo de visão narrativa desconexa e perceptiva, a historia – assim como a jornada do protagonista – segue um ritmo que raramente sofre qualquer tipo de quebra ou interferência, e se mantém assim ate o final, mesmo com a adição de um elemento surpresa com um clima de mistério pouco envolvente (que é basicamente o assassinato sem qualquer tipo de explicação e que provavelmente não faria diferença alguma dentro da história se fosse retirado, pois mesmo sendo um elemento interessante para o estilo narrativo a que o filme se propõe, de certa forma é algo extremamente subutilizado com o intuito apenas de aplicação e mudança de gênero) que indiferente de ser pouco aproveitado, consegue ser bem aplicado até quando o filme exige de si mesmo algo que vai além de sua falta de eficiência em alguns pontos.
Por ser um filme bastante experimental com um toque de realismo (bastante próximo, por sinal) e uma gama de interpretações que não se limitam apenas a uma discussão idealista, sinto que o mesmo cumpre muito bem sua proposta e apresenta argumentos interessantes para se sustentar definitivamente. Mas ao mesmo tempo em que o filme acerta em quase tudo, a fórmula utilizada pode causar certa estranheza e talvez isso seja um fator definitivo em uma avaliação ou até mesmo no simples fato de contemplar suas idéias e apreciá-lo como um filme artístico sem grandes surpresas.
Lola
2.9 1,1K Assista AgoraFalar sobre adolescência requer certo tipo de cuidado, pois se o tema for devidamente desviado e fugir demasiadamente de um tom mais realista o resultado pode não ser satisfatório e causar indícios de falhas reconhecíveis e irreparáveis. Dentro de uma proposta explicitamente vaga e superficial ”LOL” não passa de mais um filme que distorce o comportamento juvenil e se torna um drama adolescente constrangedor, com conflitos de personalidade fúteis desnecessários.
A adolescência é sem dúvida alguma uma das fases mais conflituosas na vida de qualquer pessoa, pois é o momento onde descobrimos e questionamos qualquer tipo de situação que requeira uma atitude mais intensa. Também é a fase onde a personalidade e o caráter são moldados através de nossas escolhas e, sobretudo, da nossa conduta. Atrevo-me a dizer que esse filme é de longe um dos que menos trata esse tipo de tema frágil com sensibilidade e inteligência, pois se limita dentro de uma visão mais do que exagerada e incoerente exemplificar o comportamento juvenil, e resumi-lo através de um amontoado de futilidades e manipulações baratas infantis.
O tipo de personalidade que determina o papel de cada personagem dentro da história nada mais é do que uma forma do enredo expor alguns tipos de situações comuns na vida de jovens visivelmente despreocupados (afinal, qual adolescente não é assim?), mas que não possuem qualquer tipo de profundidade dentro de suas próprias particularidades. A grande culpa disso se vê pela montagem falha do roteiro, que se resume em dividir por categorias esses personagens, com um exagero de subtramas desnecessárias que os desfocam e não abre espaço algum para qualquer tipo de identificação com os mesmos. A protagonista Lola é o típico exemplo de garota mimada, com uma personalidade extremamente infantil que busca em seus amigos uma forma de libertação de sua vida conflituosa e superficialmente dramática. Ela é apenas um exemplo do tipo de tratamento que o filme concede aos seus personagens subaproveitados.
Ainda que numa tentativa meio desesperada de passar uma mensagem sobre o famoso: “seja quem você é sem se importar com o que os outros pensam” é uma atitude digna de pena, pois mensagem mais batida e clichê do que essa não há. Muito decepcionante ver que o filme cai naquela categoria de filmes esquecíveis que não possuem qualquer tipo de relevância dentro de uma exploração de um tema interessante, que poderia render muito mais do que um típico draminha adolescente raso, distorcido e insosso. Nem a ótima trilha sonora salvou esse desastre em forma de filme.
Bronson
3.8 427Bronson realiza um poderoso estudo de personagem com eficiência, atitude e, sobretudo, procura explorar dentro de sua narrativa curta um tipo de drama psicológico sem grandes vícios de linguagem ou apelações sentimentalistas. Mas ao mesmo tempo em que seu maior ponto positivo esteja na forma brutal e violenta recorrente dentro de sua visão e alusão a temas pesados, a carência de exploração do comportamento e motivações do protagonista são suficientes para torná-lo um filme superficial cheio de limitações.
De certo ponto é compreensível (apesar de não ser justificável) notar a forma com que o enredo expõe a personalidade do personagem em questão, pois é realmente uma tarefa um pouco árdua introduzir um personagem complexo dentro de um curto espaço de tempo, e ainda sim mostrar todas as diferentes camadas de personalidade e complexidade que o envolvem. Apesar de ser uma introdução apressada e pouco envolvente, a forma com que a direção investe na violência formatada como forma destrutiva é o que incorpora a narrativa o tom brutal que o filme necessita para funcionar e dialogar diretamente com espectador. Seja através do uso da linguagem teatral em forma de espetáculo, ou até mesmo da interpretação caricata e exagerada de Tom Hardy que aqui mostra ser um ator versátil numa atuação extremamente corajosa e convincente.
Apesar de ser um filme imparcial em relação ao tema supostamente tratado, – a ultra-violência, sua causa e conseqüência ou até mesmo o instinto de liberdade e violência artística que moldam a personalidade do protagonista – sua forma explícita e direta exemplifica de uma forma condizente em conjunto a realização de um juízo de caráter autoritário (bastante confuso, por sinal) uma indicação para o caminho em busca da redenção do culpado, mas não incita ou redireciona suas idéias para qualquer tipo de reflexão questionável sobre as consequências dos atos violentos ou até mesmo sobre o tipo de tratamento carcerário intolerante e traumatizante sofrido pelo acusado.
Deixando algumas pequenas desculpas e justificativas um pouco de lado, o filme ainda consegue dentro de suas propostas limitadas ser despretensiosamente irônico (pois quase não se leva muito a sério, o que até então é um ponto positivo que minimiza um pouco suas dificuldades) e dentro de uma exploração cuidadosa sobre um comportamento e desvio de conduta ser perturbador o suficiente, mas ainda assim é complicado avaliá-lo sem se esquecer dos problemas - que se fossem devidamente contornados - poderiam torná-lo um filme promissor e com um nível maior de relevância sobre o tema apresentado.
O Homem das Sombras
3.2 657 Assista AgoraThe Tall Man consegue manter um nível de suspense e mistério inicias, mas que se perdem gradativamente na medida em que certos acontecimentos e revelações são apresentados de uma forma pouco convincente e sem grandes surpresas.
Inicialmente o filme consegue sustentar o mistério envolvendo o desaparecimento das crianças sem entregar muito do que poderia ter acontecido. Pois a linha narrativa ajuda bastante a criar o clima de mistério envolvente que o filme necessita para, assim, conseguir rapidamente conectar o espectador dentro das situações misteriosas envolvendo o caso. Porém, tudo se perde quando o enredo toma um rumo inesperado que não condiz com o tipo de proposta inicial e recorre a um tipo de suspense clichê feito para encobrir situações previsíveis.
A temática do filme consegue ser perturbadora e revoltante ao mesmo tempo.
Mostrar esses bastidores sociais que envolvem esse quase “tráfico de menores” é sem dúvida o aspecto mais positivo do filme, pois é quase uma intromissão e visão crítica sobre o que acontece em uma sociedade corrupta e sem pudores.
Dentro de suas propostas meio vagas o filme consegue ser eficiente em montar um tipo de suspense que envolve despretensiosamente, mas falha em querer ser didático demais e rapidamente se torna frustrante.
Os Sonhadores
4.1 2,0K Assista AgoraThe Dreamers acerta bastante em explorar dentro de seu universo paralelo um conteúdo controverso e perturbador, porém peca um pouco no ritmo carregado de melancolia, sexualidade e, sobretudo, uma discussão sobre comportamento e seus devidos valores derivados que não se complementam com uma possível forma exemplar de maturidade.
O que engrandece e deixa a narrativa um pouco menos tórrida e carregada é o uso de referências a filmes de diferentes épocas, clássicos remetentes e referências diretas conectadas e incorporadas em situações do enredo – o que torna tudo uma bonita jornada sobre o amor pela arte e seu descobrimento através de uma visão artística interferente e relacionada diretamente ao prazer visual que o cinema proporciona. Por outro lado, existe também um grande foco no descobrimento sexual dos personagens, que é cheio de liberalismos apelativos, e que estão ali apenas como uma desculpa para exemplificar um comportamento sexual típico de pessoas imaturas e que visivelmente estão paradas no tempo. Não que isso seja algo que prejudique muito a história em si, mas de qualquer forma é algo gratuito e sem grandes propósitos além de ser visualmente feito pra desestruturar o moralismo social e etc.
A visão do diretor em querer transformar um estudo de comportamento de jovens visivelmente abalados psicologicamente em uma amplitude de interpretações – seja pela vida solitária de Matthew, a personalidade infantil quase inocente de Isabelle e a personalidade forte e impulsiva de Theo – de certa forma são aspectos interessantes se forem analisados separadamente, pois o estudo de personagens que o filme faz é rico de uma metalinguagem simples e remetente a situações identificáveis capazes de induzir a um tipo de reflexão.
O foco no relacionamento e nas atitudes controversas dos mesmos ofusca o plano de fundo político-social da época que quase nunca é mencionado e é extremamente redutivo a um rápido movimento estudantil revolucionário sem qualquer tipo de contexto dentro da historia. Isso é algo que se torna bastante frustrante, pois mostra o mal aproveitamento de uma riqueza de detalhes e informações que poderiam render muito mais do que um desfecho frustrante, corrido e insatisfatório, usado como desculpa dentro de uma situação esperada e previsível.
Sinto que o filme cumpre bem sua proposta de mostrar certos tipos de comportamento (que por mais que sejam remetentes e ilusórios) de qualquer forma são importantes de serem compartilhados, mas a longa e confusa jornada sexual vivida pelo trio é de fato uma grande pulsação de frustrações, melancolia e tédio.
O Corvo
3.5 996The Raven é um filme que não consegue administrar suas idéias e propostas com eficiência e, consequentemente, adquire um declínio de qualidade equivalente a sua fraca e irregular experiência, que inicialmente – se analisada separadamente – parecia promissora.
Retratar os últimos dias de Edgar Allan Poe com uma visão ficcional (com uma liberdade de criação carente de criatividade) supostamente deveria abrir uma amplitude de possibilidades, um foco maior diretamente ligado ao personagem, e, contudo, mostrar sua personalidade e (pelo menos) algum tipo de profundidade que remetesse a identidade sombria presente em suas obras. Ao invés disso, temos aqui um personagem melancólico, beberrão, sem grandes motivações e que possui aspectos caricatos desnecessários devido á péssima caracterização e interpretação de John Cusack, que não consegue ter o mínimo de carisma ou impacto que o personagem exige.
O clima de suspense que o filme tenta conduzir e contornar diante de uma ambientação escura e sombria (talvez o único grande destaque da produção) é basicamente inexistente, pois se prolonga demais em revelar características investigativas remetentes a obras “literárias” do escritor e transforma essas questões em uma longa e entediante perseguição que nunca chega a lugar algum. As questões investigativas que giram em torno do assassino que reproduz em seus crimes elementos de algumas obras fictícias, a princípio se mostram conceitualmente interessantes, pois atribuem a historia um mistério quase enigmático, mas logo tudo é pouco aproveitado e a carência de informações complementares torna tudo uma grande decepção.
Em alguns momentos o filme consegue separar sua linha narrativa do convencional e o faz muito bem em momentos que exigem uma seriedade e tensão dentro da história
Algumas poucas cenas da Emily enterrada viva são interessantes, a armadilha que corta uma vitima ao meio (no maior estilo Jogos Mortais) também é um destaque e a busca por respostas que o desfecho entrega são exemplos de alguns pontos bem feitos e que conseguem se sobressair diante de tantos outros erros notáveis, mas nem por isso são eficientes ao ponto de causar qualquer tipo de interesse ou mascarar suas falhas.
Falha em praticamente tudo, pois não consegue prender a atenção do espectador devido ao elevado grau de tédio que se estende por todo seu desenvolvimento e uma grande frustração de idéias dentro de uma jornada sombria sem limites para buscar sua redenção.
Jogos Vorazes
3.8 5,0K Assista AgoraThe Hunger Games quebra barreiras que vão além do seu gênero erroneamente categorizado como um filme juvenil feito para adolescentes, pois se trata de um filme que além de ter uma produção cuidadosa e bem acertada envolve em sua história temas sociais importantes - ainda que pouco explorados – de uma forma crítica extensiva e direta ao ponto.
Deixando de lado algumas comparações analógicas óbvias com Battle Royale, o filme consegue dentro de sua proposta criar um universo próprio muito melhor explorado e que abre possibilidades muito mais amplas que vão além da violência gráfica exagerada como foco principal. O tipo de violência e agressividade (sugestiva, mas ainda sim compreensível) é exposta de uma forma pouco convencional através de uma batalha que envolve diferentes tipos de motivações – político-sociais e familiares – que são incorporadas a uma narrativa dinâmica que constrói um clima constante de tensão apreensivo que torna tudo extremamente ágil – seja através do uso de câmeras trêmulas que acompanham a protagonista, o simples fato da morte ser um fator brutal constante ou até o próprio ato de se envolver em uma situação sem se esquecer de seus princípios.
A violência aqui presta um papel que vai além do que inicialmente pode parecer banal ou distorcido, pois exibe através de um modelo social opressivo e um governo autoritário uma forma critica exacerbada sobre a desigualdade e os tipos de indiferenças sofridas pelos “menos favorecidos”. Dentro de uma atmosfera futurista extremamente distópica o papel da sociedade – dividida em diferentes propriedades de níveis sociais – que exercita uma aceitação quase voyeurística em relação à agressividade e a violência propriamente dita, evidencia nesse tipo de comportamento alguns fatores mais sugestivos da história, que presta seu papel filosófico com eficiência, mas não arrisca muito em desenvolver seu pano de fundo social com maior importância e menos intolerância.
As motivações da protagonista (Jenniffer Lawrence está ótima e surpreendente) são equiparáveis a sua força, coragem e poder de lidar com situações extremas. Inicialmente sua personalidade forte marcante – fria e concisa – sugere alguns tipos de marcas de sofrimento que o filme não exibe com clareza, mas superficialmente indica o caminho e permeia dentro do universo em que ela vive uma vontade de lutar pelos seus objetivos e atribui um senso moral muito interessante - que envolve o sacrifício pela irmã como forma de proteção - em um momento emocionante que inicialmente caracteriza a personagem como a promessa de mudança dentro de uma sociedade com regras impostas e corruptíveis.
Ainda que a mudança repentina de uma regra importante do jogo para envolver um romance apenas como desculpa seja um pouco decepcionante – quase cai em alguns clichês meio bobos – o modo como eles se envolvem é de certa forma aceitável, mas pouco impressiona por ser um fator previsível esperado e “irrelevante”. O desfecho é satisfatório e mesmo sendo um pouco anticlimático consegue abrir espaço suficiente e questionar o que poderá vir em uma continuação futura.
Entre grandes méritos de produção e um resultado surpreendente The Hunger Games é uma grande surpresa e sobretudo, um filme excelente que consegue ser um grande inicio de uma franquia que tem tudo para se tornar um grande sucesso.
Battleship: A Batalha dos Mares
3.0 1,8K Assista AgoraBattleship definitivamente pode ser categorizado como um típico filme de ação sem propósitos adicionais, que com toda sua falta de originalidade em relação a sua inspiração adaptativa demonstra total indiferença e um desencontro de idéias desanimadoras.
Ainda que acertando um pouco em tentar retratar as táticas e técnicas de batalha inspiradas no jogo original, o filme conduz com um ritmo absurdamente frenético uma situação caótica (superficialmente explicada) de uma forma vazia e incoerente, e não se preocupa em resolver seus problemas com inteligência, pois investe em uma sucessão de clichês identificáveis - típicos de filmes desse gênero – para mascarar situações até então mal resolvidas. Os próprios personagens são carregados de estereótipos e sofrem com um reaproveitamento divido em categorias particulares – a jornada de Alex (que até então era um personagem problemático sem propósitos) que parte em sua busca pela redenção dos seus erros através de um ato de heroísmo americanizado típico, demonstra com clareza os objetivos e tipos de mensagens que o filme tenta transmitir.
Visualmente o filme não decepciona e os efeitos são convincentes ao ponto de questionar até que ponto a tecnologia pode produzir com qualidade cenas desse porte, mas por outro lado, existe uma repetição de fatores que tornam a experiência um tanto quanto artificial demais e, sobretudo, pouco aproveitada. Como o próprio fato dos extraterrestres serem subutilizados e desfocados dentro da situação – no sentido mais explicativo inexistente dentro da história - o que torna o descobrimento de suas motivações uma grande decepção pela falta de sentido lógico.
O filme funciona apenas como um entretenimento sem grandes novidades (bastante forçado e previsível) e demonstra que o caos desorganizado em conjunto a falta de criatividade pode produzir algo extremamente descartável, genérico e principalmente esquecível rapidamente.
[REC]³ Gênesis
2.2 1,5K Assista Agora[REC]3 Génesis abandona o estilo “documental” e investe em idéias equivocadas que contribuem para grandes falhas definitivas; proposta inicial distorcida, atmosfera anticlimática e estética mal direcionada.
Dentro da proposta de [REC] essa sequência paralela (não existe qualquer menção aos fatos ocorridos nos seus antecessores) perde muito na qualidade e princípios básicos para um filme de terror/suspense funcionar. Começando pelas falhas graves na construção de uma atmosfera de tensão que nunca é devidamente conduzida com êxito, e sofre de um anticlímax constante por parte de situações limitadas, repetitivas e exageradas. O estilo de filmagem que produziu a característica mais marcante da franquia foi abandonado e usado raramente apenas como desculpa; o que torna tudo uma grande decepção – ver o filme seguir um estilo estético bem produzido, de certo ponto é interessante e mostra um cuidado de criação por parte dos produtores, mas quem disse que qualidade depende apenas de boas intenções visuais?
A história em si é pífia, pois depende muito de situações confusas envolvendo personagens para se desenvolver e falha inteiramente quando se propõe mostrar um lado religioso superficialmente auto-explicativo (não só aqui, mas no segundo filme isso também acontece com a mesma proporção de erros) que não complementa em nada ou não produz diferenças relevantes dentro da história. O roteiro (se é que pode ser chamado assim) segue uma linha narrativa genérica, que rebusca alguns elementos e vícios de linguagem típicos de filmes do gênero - como os personagens estúpidos, um desespero intencional em querer mascarar algumas cenas de caráter dramático mais sério, uma falta de convicção por falta do elenco que é igualmente deslocado dentro da situação e, por fim, a disputada maratona de clichês e previsibilidade envolvendo a desconhecida (e reutilizada) ameaça biológica.
No fim das contas [REC]3 tenta buscar um novo rumo para a franquia (que demonstra um grau acentuado de irregularidade desde o segundo filme) investindo em uma produção mais elaborada e menos “realista”, mas foge muito da proposta inicial e do universo dos seus antecessores, pois distorce idéias, peca em exageros desnecessários e intimida o espectador com um show de horror de muito mau gosto.
Batman: O Cavaleiro das Trevas Ressurge
4.2 6,4K Assista AgoraEm “Batman Begins” o medo – ou a superação de - era o tema central para o desenvolvimento inicial da personalidade insegura e características do homem-morcego. Sua sequência “The Dark Knight” exalta o caos como única solução através de um vilão icônico inesquecível. Em “The Dark Knight Rises” temos como alvo a dor causada pela destruição e renovação de um princípio de idéias que se perduram para grandes revelações do passado.
Ainda que um pouco inferior ao seu antecessor, temos aqui uma grande preocupação em resolver questões mais intensas - sociais e políticas - que permeiam a densidade do universo de Gotham e sua discriminada associação com temas conflituosos que distorcem alguns conceitos sobre a importância social. Em grande parte associado à desorganização e falta de controle por parte dos governantes, que nem sempre sabe se posicionar diante de um caos inesperado. O que acarreta em situações desastrosas capazes de mexer com a estrutura narrativa de uma forma ágil, dinâmica e formalmente induzível a uma reflexão sobre os padrões sombrios associáveis ao terrorismo, suas causas e consequências.
O “caos organizado” presta um grande papel dentro da história através do vilão Bane – que apesar de não ter o mesmo impacto idealista do Coringa – ainda consegue ser visualmente aterrorizante e ameaçador quando se impõe diante da situação como um todo, formalizando um discurso destrutivo quase alegórico que infelizmente é muito pouco aproveitado pelo roteiro. A presença do vilão analogicamente sugere um jogo psicológico capaz de desestruturar a mente do herói - que num instinto motivacional – consegue sobrepor seus medos com uma força ainda inalcançada. Incrível ver que a percepção e presença do Batman nesse filme são construídas de uma forma excepcional, mostrando suas camadas de personalidade e comportamento restrito – queda, hiato e ascensão – de uma forma quase pessimista, que correlaciona ao desfecho que o incriminou no filme anterior um contínuo discurso polido e distinto sobre o que torna Gotham City uma cidade manipuladora e distópica.
Visualmente o filme não inova muito, pois segue o mesmo estilo sombrio calculado de seus antecessores - ainda que seja um pouco decepcionante ver Gotham com um ar de artificialidade e design derivados de cidades conhecidas – o estilo de construção de cenários é um grande e impressionante ponto positivo para complementar o posicionamento dos personagens. O elenco de apoio não decepciona, e mesmo que com certo exagero de subtramas (que se resolvem rapidamente) ninguém parece desfocado ou desfavorecido demasiadamente. Destaque para Anne Hathaway que aqui surpreende com uma versão mais idealista de Selina Kyle que combina com o estilo mais realista e menos fantasioso do universo criado para o filme. Michael Caine sempre brilhante – um pouco apagado é verdade – mas em uma atuação emocionante. E Joseph Gordon-Levitt em um dos melhores papéis de sua carreira, com um personagem esperançoso e idealista.
Um desfecho ambicioso e ousado que, sobretudo, dignificas as adaptações de HQs para o cinema e conclui com magnificência uma trilogia de grandes proporções que já pode ser considerada um marco cinematográfico.
A Consequência
3.7 33 Assista Agora“A consequencia” explora com delicadeza um tema bastante polêmico e analisa um comportamento fora dos padrões sociais com urgência em querer separar as visões preconceituosas impregnadas nas diferentes camadas da sociedade em geral. Porém, se perde um pouco em estereótipos e um ritmo fragmentado antecipado em fundamentos moralistas, que sofrem com um desenvolvimento unificado a um fraco discurso permanente sobre os direitos e consequências auto-explicativos.
Existe uma grande preocupação em discutir o comportamento sexual dos personagens através de uma visão intimista que contradiz os sentimentos de culpa e impossibilidades de viver um amor proibido dentro de uma sociedade discriminatória, que não se importa com os sentimentos ou motivações distintas, mas incrimina o gênero sem qualquer tipo de predileção. O que torna a jornada em busca do descobrimento do amor verdadeiro um grande desencontro de possibilidades, pois em momento nenhum a situação é vista como um simples ato de amor ou companheirismo, mas como culpados pelo simples fato das diferenças serem inaceitáveis dentro de uma sociedade autoritária.
A intensidade do relacionamento entre Thomaz e Martin – que são respectivamente cuidadosos e motivados pelo ímpeto de quebrar certas barreiras – é explorada de uma maneira bastante humanizada e psicologicamente variável, pois mesmo nos momentos onde o sofrimento é o lugar comum na vida dos dois, o encontro importante de seus ideais é inteiramente compreensível e traduz seus sentimentos sem perder o valor das diferenças.
Importante notar que o enredo supostamente “pré-julga” a atitude dos personagens imparcialmente, fazendo com que o espectador tire suas próprias conclusões sobre o que poderia acontecer se suas motivações fossem levadas até as ultimas conseqüências. O que leva a uma analogia direta com o título que além de explicar uma situação vivida por Thomaz e seus instintos traumáticos, evidencia o caráter mais forte da história, sua dependência e seu desejo de viver em liberdade sem culpa ou sofrimento.
Sinto que a proposta do filme em discutir o tema e tocar no assunto sem precisar de artifícios manipulativos foi cumprida com êxito, mas ao mesmo tempo em que isso é um mérito louvável alguns aspectos mais densos poderiam ser melhor explorados e devidamente incorporados a uma narrativa menos sentimentalista e um pouco mais racional.
Cabana do Inferno
2.7 342 Assista AgoraCabin Fever se mostra eficiente como trash/gore, mas falha bastante no que diz respeito a originalidade e desenvolvimento de uma boa ideia.
A estética é um grande acerto e exerce seu papel principal de causar agonia ao espectador - e nesse ponto o filme acerta, causa arrepios com algumas cenas estranhas e exageradas. Não há nenhuma novidade no desenvolvimento dos personagens, pois são extremamente anencéfalos e estereotipados - características comuns para filmes de suspense/terror que aqui mais uma vez se repete em grande estilo.
A história em si é até aceitável - para os padrões de um filme nesse gênero que simplesmente não se importa em entregar algo que faça qualquer sentido lógico. Mas de alguma forma é esquecível e barata demais. Outros fatores irrelevantes como referencias a outros filmes são notáveis na falta de criatividade da história que por mais que não se leve a sério (e nem deveria) é carente de um humor apelativo que funcione exaustivamente.
Não é o tipo de filme que inova o gênero ou possua alguma diferenciação de tantos outros produtos parecidos e mais interessantes do que esse.
Batman
3.5 831 Assista AgoraNa sua adaptação de Batman, Tim Burton soube capturar muito bem a atmosfera transgressora e opressiva de Gotham City e com um clima sombrio - característico de suas obras desde sempre – aplicá-los na trajetória do homem-morcego com eficiência. Porém, o cuidado na concepção do universo criado para seu desenvolvimento não acompanha com mesmo impacto a construção dos personagens.
A personalidade de Bruce Wayne não abre espaços para uma amplitude de desenvolvimento e a falta de foco nas motivações do protagonista é perceptível, pois não exige do mesmo um envolvimento com as situações caóticas incorporadas ao enredo. A própria história de vida do personagem é extremamente superficial e tenta desesperadamente emitir uma sensação de questionamentos com respostas pré-programadas - que são as questões da infância do personagem que aqui cria uma suposta reviravolta sem sentido. Apesar disso tudo, temos aqui uma boa interpretação de Michael Keaton, que sabe lidar com as diferenças de identidade do personagem entre a vida real e seu supracitado alter-ego.
Diferente do protagonista – que mais parece antagonista – o desenvolvimento do vilão é brilhante. Com toda sua genialidade interpretativa Jack Nicholson sustenta às duas horas de projeção com toda sua excentricidade incorporada a personalidade do Coringa, que por ser um personagem icônico recebe um destaque maior dentro da história. O que representa muito bem a situação de caos controlado envolvendo o plano de fundo social e político (pouquíssimo explorado por sinal) que redireciona suas motivações ao um estilo cômico e quase caricato de entretenimento.
O filme tem seus méritos de produção, um estilo artístico sólido, uma estética sombria destacada e uma trilha sonora excelente, aspectos técnicos que engrandecem de uma forma positiva alguma falhas estruturais do enredo em si.
Se o filme for analisado como uma história paralela em relação ao universo do Batman não se exige muito um olhar analítico para julgá-lo como uma obra separada. Porém, ainda sim, não é um filme que tenha uma maioridade relacionada ao desenvolvimento de um herói que merecia muito mais do que um produto sombrio, artificial e distópico.
Violência Gratuita
3.4 1,3KFunny Games explora com dinamismo e inteligência uma narrativa perturbadora e provocativa, que ironiza a visão do espectador em relação ao vício e aceitação da violência - que nesse caso é integrada a variáveis sensações de impotência e ímpetos de integridade psicológica, física e familiar.
A sugestividade do roteiro - que exercita suas diferentes linhas narrativas de tensão claustrofóbica – transformam a experiência em um verdadeiro enigma intencional sobre a violência e o ato de destruição que sobrecarrega a visão do espectador, forçando-o a uma reflexão sobre os paradigmas experimentais do sádico e suas intenções irracionais. Temos aqui uma narrativa lenta, provocativa e incômoda (intencionalmente) que sabe construir seus personagens e posicioná-los categoricamente como peças manipulativas de um jogo doentio. E mesmo que esse jogo possua suas regras – questionáveis como qualquer outro – não existe vencedor ou perdedor, mas sim, participantes de uma fase interminável onde o maior desafio é o sofrimento sem limites e a agressividade calculista.
O que torna tudo extremamente difícil de acompanhar é o fato do filme não explicitar a violência gráfica em si. Mas, ao invés disso, deturpa os acontecimentos para que as conclusões sejam analisadas separadamente e assim, tornar a experiência em um verdadeiro pesadelo paralelo sem pistas ou atalhos de fuga. Nada mais perturbador do que acompanhar cenas de tortura psicológica através de um jogo doentio onde o desafio é a própria capacidade de controle e autodestruição - e nesse quesito o filme acerta e sabe controlar sua atmosfera de tensão sem quebrar o clima expressivo de agressividade.
Não vejo diferenças – além de técnicas – da versão original para a refilmagem, até porque são praticamente iguais e só mudam alguns pequenos detalhes como: atuações mais convincentes por parte do elenco da nova versão e alguns aspectos metalingüísticos mais fáceis de identificar. E mesmo sendo uma refilmagem desnecessária considero-a a versão definitiva.
Enfim, Funny Games é uma obra admirável e que por mais que tenha um conteúdo controverso, suas entrelinhas e diferentes interpretações tornam a experiência gratificante e perturbadora.
A Casa Silenciosa
2.5 718 Assista AgoraSilent House acerta na técnica apurada de filmagem - entre travellings irregulares de câmera ora, sem foco, ora trêmulas - que dão a impressão de uma agonia particular que o filme consegue transmitir, porém falha em aspectos regulares de condução, ritmo e continuidade que comprometem a ousada e insustentável ideia.
O foco no realismo quase exagerado (bastante técnico por sinal) adiciona ao filme uma linguagem expressiva e direta que consegue capturar uma atmosfera de suspense e tensão – inicialmente, pelo menos. Mas tudo se perde quando a fusão de idéias se distorce e quebra a barreira do que é possivelmente lógico ou real. O enredo questiona e exercita a sanidade da personagem com um tipo de psicologia barata, banal e inexperiente que é reducionista e desinteressante.
Os valores básicos de um suspense bem conduzido dão origem a acontecimentos dedutíveis e previsíveis. Numa tentativa (quase) desesperada de parecer surpreendente, o enredo dá dicas suficientes para reduzir a surpresa de uma forma inevitável e patética – seja no aparecimento dos “delírios” mentais da personagem, que já nos primeiros momentos se mostra um pouco indiferente e emocionalmente fragilizada, ou nos próprios momentos onde os personagens secundários agem de forma estranha e incoerente em relação à situação pré-estabelecida. Pelo menos temos aqui uma boa - e intensa - interpretação de Elizabeth Olsen que se mostra cada vez mais versátil em suas escolhas e sabe dialogar com a câmera mesmo em momentos que não exigem muito de seu desempenho.
Uma boa ideia mal direcionada pode comprometer um resultado final satisfatório. Nesse caso, a incompetência em manter um nível de qualidade aceitável para os padrões iniciais tornam a promissora e definida originalidade em uma tortura decepcionante.
Armadilha
2.2 589ATM abusa de uma variedade de clichês derivados de filmes de suspense para tentar parecer original, mas não passa de uma cópia barata e mal-feita com um falso complexo de superioridade.
Analisando o prólogo inicial separadamente (que logo de cara mostra pistas e um possível spoiler) o filme parece promissor, pois ironicamente conduz sua apresentação com uma música remetente ao clima de natal - que por mais estranha que seja - consegue chamar a atenção diante de um acontecimento até então, desconhecido. Porém, tudo se perde rapidamente quando os personagens principais são introduzidos na trama. Logo de cara dá pra perceber que as linhas de diálogo (desinteressantes e intermináveis) estão ali para exercer um simples papel de condução para o inevitável e desanimador (anti)clímax que o filme desenvolve.
A idéia em si é bastante derivativa e reconhecível facilmente. Até porque, o ato de confinar pessoas em um lugar isolado (nesse caso, temporariamente) não é nenhuma novidade nos filmes de suspense, terror e derivados do gênero, mas prefiro evitar comparações por mais óbvias que sejam. Nessa situação de confinamento (onde o “assassino” aterroriza suas vitimas com atitudes calculadas) em alguns pequenos momentos o filme consegue amenizar suas falhas com um suspense psicológico quase convincente, mas devido a fracas e artificiais interpretações do elenco tudo se torna completamente duvidoso e entediante.
O fator previsibilidade acompanha todo o desenvolvimento do enredo, que não surpreende em momento algum e subestima a inteligência do espectador criando situações, mirabolantes, manipuladoras, reviravoltas patéticas – dignas de piada – e uma carência de explicação e sentido lógico. O próprio desfecho que tenta se passar por intelectual não consegue ter o mínimo sequer de impacto para a conclusão inteligente, estudada, ou seja, lá o que esse diretor estava pensando na hora que montou isso.
Sua insuficiente capacidade de balancear o suspense com situações de tensão transformam a incorrigível sensação de instabilidade em um sofrível e manipulador confinamento inexpressivo e desorganizado.
Sequestro no Espaço
2.9 305 Assista AgoraLockout abusa da ação frenética e uma falsa sensação de surpresa para tentar encontrar seu lugar dentro de uma atmosfera confusa e aleatória, porém falha por ser raso demais e completamente sem emoção.
O roteiro (que roteiro?) se limita em desenvolver uma história sem buscar uma continuidade lógica ou sentido e abusa de clichês previsíveis altamente identificáveis que prejudicam a experiência conectiva que o filme tenta transmitir através de cenas de ação calculadas para um possível entretenimento pouco convincente. O desenvolvimento dos personagens – assim como a história – é pífio e não os destaca como deveria, pois busca retratar suas personalidades com estereótipos claros definitivos. Pelo menos temos aqui uma pequena/boa interpretação de Guy Pearce para compensar suas limitações, mas nem sua constante e forçada comicidade cheia de exageros é capaz de suprir as necessidades do enredo.
Faltou foco no que diz respeito a uma história mais convincente. Até as reviravoltas finais são forçadas, desesperadas demais e não empolgam. Mesmo sabendo que uma possível prévia de eventos importantes para a resolução dos acontecimentos seja artificialmente concentrada e conectada para um final previamente rápido e feliz.
Como entretenimento sem qualquer tipo de surpresas o filme funciona muito bem, e se resume apenas nisso. A sua concepção vazia e sem profundidade se prolonga em todo o universo remetente e raramente consegue sobrepor suas falhas com um diferencial inesperado que poderia engrandecer um pouco mais sua fraca e irregular experiência.