Em um momento chave do filme, um personagem diz “Não sei o que é pior, não conseguir realizar seus sonhos, ou realizar todos eles!”. É impressionante como um trecho tão simples, dito por um personagem que enxerga o mundo como um lugar apodrecido, consegue sintetizar o belíssimo Entre Nós. Não que seja um filme fácil de ser definido, ao contrário, os personagens são tão complexos e multidimensionais quanto os sonhos, que premeditam quando jovens, e frustrações, que compartilham quando mais “maduros”. Entre Nós, parte de uma ideia simples: um grupo de amigos adoráveis, que no ano de 1992, escrevem e enterram cartas para eles próprios lerem 10 anos depois. Nestas cartas, haveriam desejos e sonhos que os seus “eus” mais jovens gostariam que os seus “eus” mais velhos concretizassem. Ocorre que, logo após enterrarem as cartas, a morte inesperada e estúpida de um dos amigos marca para sempre aquele grupo. Dirigido de forma delicada e natural, por Paulo Moreli (e co-dirigido por seu filho Pedro Moreli), Entre Nós parece querer se entranhar no intimo de seus espectadores, através de seus personagens e da química existente entre eles, para falar de algo comum a todos: os sonhos, as frustrações, e, o tempo. Tempo esse, que é maravilhosamente bem explorado pelos atores, ao compor personagens que trazem consigo marcas do passado, que refletem ,de várias maneiras, no presente em que vivem. Se em determinado momento parecem estar mais amargos e descrentes, em outro momento podemos perceber lampejos dos jovens que outrora brincavam, sonhavam e discutiam Garcia Marquez. Porém, como diria Mário Quintana “O passado não reconhece o seu lugar: esta sempre presente.”, e ao desenterrarem as cartas escritas 10 anos antes, desenterram também desilusões e utopias de uma vida projetada com base naquilo que esperavam, e que era muito mais do que a vida tinha a oferecer. Entre Nós, também é eficaz em demonstrar o quanto a ferida da tragédia que compartilharam permanece exposta, e que se torna quase indissolúvel, pois ironicamente, se perpetuou em forma de arte (um livro), e se digo que isso é uma ironia, é por que o impulso artístico dos personagens era o elo que unia personalidades tão distintas. Entre Nós, é um filme cheio de metáforas visuais magníficas, como um carro sendo rebocado até o lugar desejado, um besouro virado para cima, uma árvore velha e cortada ao meio, um personagem tentando “enfeitar” uma carne queimada, etc, que só ressaltam a sensibilidade e a melancolia, que dão tom ao filme, que, ao oscilar com cenas de humor e descontração, dá ao espectador um sentimento esquisito de otimismo em relação ao mundo e às pessoas, sentimento este que só a efemeridade da vida pode trazer.
Martin Scorsese é um cineasta que não precisa mais provar nada pra ninguém. Um gênio da sétima arte, que nos entregou obras magnificas como Touro Indomável, Taxi Driver, Os Bons Companheiros, Cassino, entre outros. Dessa forma, poderia ele começar a se repetir e se auto-referenciar exageradamente como muitos de sua geração (cof cof Spielberg cof cof). Mas, Scorsese é diferenciado, e prova isso em seu mais novo excelente filme O Lobo de Wall Street. Um filme cheio de energia e vitalidade que mais parece um “Scorsese a lá Tarantino”, usando e abusando dos diálogos afiados para conduzir a trama. Seria um filme cheio de excessos? Claro que sim. A vida do protagonista, e dos personagens que o rodeiam, é cheia de excessos, e Scorsese utiliza isso como instrumento narrativo, criando uma atmosfera “porralôka total” absolutamente condizente com as atitudes dos sujeitos. Nesse sentido, não se pode esquecer das atuações: Jonah Hill encontrou o personagem da sua vida, sendo dele os momentos mais hilários do filme. Kyle Chandler surpreende compondo um agente do FBI competente, mas calejado por saber que nunca alcançará de fato seu objetivo. A estonteante Margot Robbie exala beleza e sensualidade na medida certa. Matthew McConaughey tem uma participação, que , apesar de pequena, rouba a cena. Mas, senhoras e senhores, aplausos para a melhor atuação da carreirra de Leonardo Fucking DiCaprio. O individuo segura o filme por três horas de forma sensacional, causando uma empatia por seu personagem, mas sempre deixando claro o quão ridículo este é, chegando até a demonstrar um certo grau de psicopatia. Aliás, o grande trunfo de Scorsese nesse filme, é mostrar de forma clara o quanto aqueles indivíduos são imbecis sem autocontrole (e por vezes até cruéis), fazendo com que possamos rir deles, e não com eles. Além disso, a critica à ostentação e à enganação do mundo de Wall Street, é bem estabelecida, deixando bem claro, que são os causadores dos colapsos financeiros mundiais. Enfim. essa lenda viva chamada Martin Scorsese, aos seus 71 anos de idade, consegue fazer um filme jovem, inteligente e critico, sem deixar-se cair em clichês bobos. Só me resta aplaudir!
Quando surgiu a noticia de que Joseph Gordon-Levitt (um dos melhores atores de sua geração) iria dirigir seu primeiro longa, fiquei com o pé atrás, pois essa transição ator/diretor não é fácil, e costuma gerar grandes embaraços. Porém, Gordon-Levitt demonstrou-se seguro e eficaz em seu primeiro trabalho por trás das câmeras. Intitulado Don Jon (porque me recuso a dizer o pavoroso título em português), o filme busca fazer uma tradução moderna do clássico Don Juan, onde o personagem principal (interpretado pelo próprio diretor) atrai todas as mulheres, mas só consegue sentir verdadeira satisfação sexual com vídeos pornôs. De inicio, o filme parece ser tão superficial como os personagens que povoam a história, mas Gordon-Levitt se mostra inteligente ao fugir das armadilhas e clichês de comédia romântica, humanizando o seu personagem fazendo com que tenhamos certo carisma pelo sujeito. Mas, acima de tudo o grande mérito do filme, é expor a hipocrisia dos relacionamentos, e como nós ficamos presos a convenções sociais, nos importando apenas em ir ao cinema de mãos dadas com a namorada, assistir filmes românticos em casa, ou mesmo modificar o status do facebook e compartilhar fotos com os seus “seguidores”. Não que isso seja ruim, mas a busca pela essência nos relacionamentos é cada vez mais escassa. Os “eu te amo” soam como termos prontos e acabados apenas para emoldurar um relacionamento vazio e sem satisfação pessoal. Assim, a fixação do protagonista por pornôs, nada mais é do que uma tentativa inútil deste de fugir da superficialidade que suas relações lhe trazem, e quando a personagem da sempre linda Julianne Moore o indaga: “porque você vê isso, se você pode ter de verdade?”, o protagonista afirma, que só consegue “se perder” de verdade, nos vídeos pornôs. E é aí que a personagem de Julianne Moore dispara a frase mais importante no filme: “Se quer se perder, precisa se perder em outra pessoa. E ela tem que se perder em você”. Dessa forma, o longa de Gordon-Levitt, demonstra que a cumplicidade é vital em qualquer relacionamento, e que se deve mergulhar de peito aberto, mesmo que por ventura isso possa causar grandes decepções (e é natural que causem), e fugir das fúteis convenções sociais. Enfim, talvez Don Jon peque por uma falta de sensibilidade aqui e ali, mas é um filme que utiliza o sexo como ponto de partida para falar das relações, e nesse contexto Joseph Gordon-Levitt acerta em cheio na sua estreia na direção.
Neil Blomkamp chamou a atenção do mundo do cinema em 2011, ao lançar o maravilhoso Distrito 9. Um filme inventivo, que mantinha um interessante equilíbrio entre o drama e a ação, mas acima de tudo, trazia metáforas politicas extremamente bem elaboradas, sob o viés da ficção cientifica. Dessa forma, Elysium, novo filme do diretor sul-africano, causou grandes expectativas para vermos novamente seu estilo inovador nos cinemas. As expectativas foram ainda maiores para nós brasileiros, pois esse seria o filme de estréia do excelente Wagner Moura em Hollywood. Contudo, Elysium é um filme pretencioso, mas que pouco consegue atingir suas ambições. Os méritos iniciais são claros: Blomkamp consegue estabelecer de forma criativa o contexto politico do filme, ao explorar a devastação poluída da Terra, com a beleza plástica de Elysium, demonstrando a desigualdade social gritante entre os lugares. O diretor também acerta em apresentar os personagens de forma econômica, com diálogos rápidos e certeiros. Assim, chega a surpreender o quanto o ritmo do filme se perde em sua metade final, com reviravoltas bobas, transformando seus interessantes personagens em meras caricaturas. A direção, até então segura, de Blomkamp, deixa-se levar pelo roteiro previsível e formulaico. Outro problema é o personagem de Wagner Moura, que não consegue estabelecer de forma clara suas motivações (ele quer salvar o mundo ou age apenas em beneficio próprio?). O que não tira em nada o mérito da boa atuação do brasileiro. Enfim, Elysium é um filme que talvez merecesse um cuidado maior por parte de seus realizadores, mas só de ter a ambição de explorar novamente as mazelas mundiais através do vasto mundo da ficção cientifca, Neil Blomkamp já merece toda a atenção dos cinéfilos.
Para qualquer cinéfilo, é sempre gratificante sair de uma sala de cinema com as emoções à flor da pele, depois de ter passado por um turbilhão de emoções causadas por um filme. Dificil descrever exatamente qual a sensação que Gravidade causou-me, mas o certo é que saí tremendo da sessão, algo que não lembro de ter acontecido antes. O novo filme do genial Alfonso Cuarón, já mostra a que veio nos primeiros minutos de projeção com um “plano-sequência” alucinante que logo nos faz emergir para a trama protagonizada por Sandra Bullock (na melhor atuação de sua carreira). Aliás a trama em si, aparentemente simplista, toca em pontos existencialistas muito interessantes, sempre sob o foco da solidão, e não há cenário melhor para falar sobre isso do que o espaço. O “vazio” do universo alinha-se ao “vazio” existente na vida da personagem de Bullock, que ao mesmo tempo que luta para viver durante toda a projeção, questiona-se se de fato sua Odisséia de volta à Terra valerá a pena. Mas, além do belo roteiro, o ponto forte do filme é a espetacular direção de Cuarón. O diretor mexicano mostra toda a sua competência, recheando este filme de momentos lindos como, por exemplo, a câmera entrando no capacete da personagem de Bullock, para que possamos sentir a claustrofobia do momento; os belíssimos planos-sequência com movimentos de câmera perfeitos; além daquela que pra mim é a cena mais linda do filme, quando a lágrima de Bullock flutua levemente em direção ao espectador, num uso espetacular do 3D, que diga-se de passagem, é o melhor que eu já vi, colaborando diretamente para a narrativa. Outro destaque é o som, que contrasta divinamente o silêncio do espaço (demostrando a solidão existente ali), com os estrondos dentro das espaçonaves (remetendo à claustrofobia e a urgência do momento), o que tem sua dimensão elevada pela excelente montagem. Enfim, Gravidade é uma experiência sensacional para se ter em uma sala de cinema, e se segurar na cadeira durante os 90 minutos de projeção. Até o momento, o melhor filme do ano, na minha opinião!
Reunir uma turma tão talentosa e que faz um humor diferente do casual, e ainda mais interpretando versões diferentes deles próprios, seria uma boa pedida, se a premissa absurda desse É o Fim não se estragasse durante a projeção. Infelizmente, o filme se perde completamente no seu roteiro fraco caindo na armadilha do humor chulo e rasteiro, que pouco arranca risadas,e quando o faz, nos faz ter vergonha por estar sorrindo de uma piada tão ruim. Além disso, o filme parece não saber do que quer falar, limitando-se a colocar os protagonistas em situações idiotas com o pano de fundo de um fim do mundo inverossimel demais, até mesmo pra algo sabidamente irreal. Tudo isso até poderia ser salvo, se o filme conseguisse ser engraçado,mas, com rarissimas exceções ,fracassa com louvor nesse ponto, Enfim, espero que os talentosos nomes que participaram disto, não repitam o erro, e voltem a fazer um humor inteligente e, principalmente, engraçado!
Nunca fui grande fã dos filmes e das séries que envolvem o universo Star Trek. Mas revisitando os filmes originais, são notórias as referências sócio-politicas feitas. E nesse novo Além da Escuridão-Star Trek, J.J. Abrams abre um espaço maior (ainda que pequeno) para abordar de forma metafórica o terrorismo e a famigerada Guerra do Iraque. Talvez J.J. Abrams pudesse ter passado um tempo maior abordando essas questões tão atuais e inerentes ao "mundo Star Trek", mas não podemos condená-lo. A parte do filme que se dedica a ação e ao entretenimento também é absolutamente competente. O visual (já preestabelecido no primeiro filme), ganha tons mais sérios alcançando um equilibrio interessante entre o frenesi e a sobriedade. Os personagens principais parecem ganhar mais dimensão nas mãos de seus interpretes: Chris Pine e Zachary Quinto já incorporam, respectivamente, Kirk e Spock como sua segunda pele, porém ainda sinto falta de mais presença cênica do Dr. McCoy. Mas, não posso jamais esquecer da excelente atuação de Benedict Cumbebatch. Ele constrói um vilão clássico daqueles que realmente fazem o espectador temer pelo futuro dos protagonistas.E num monólogo belissimo, ao mesmo tempo que demonstra uma frieza robótica, deixa escapar um fiapo de humanidade em forma de lágrimas (Benedict Cumberbatch, não escqueçam esse nome!!!). Ainda assim, o filme possui pequenos problemas de roteiro, que não chegam a danificá-lo mas o prejudicam. No mais, fiquei muito feliz ao ver a evolução de J.J. Abrams como cineasta, e de Star Trek enquanto narrativa. Ótimo Filme!
Confesso que estava com grandes expectativas para ver o trio Linklater/Hawke/Delpy novamente em ação. E minhas expectativas foram todas correspondidas. Todos os elementos que transformaram os filmes anteriores (Antes do Amanhecer e Antes do Pôr-do-Sol) em clássicos instantâneos, estão presentes neste belissimo Antes da Meia Noite. Os diálogos extremamente bem construídos, a quimica entre os protagonistas, o roteiro bem estruturado, a direção segura de Linklater,entre outros. Mas confesso que para mim o ponto alto da trilogia, é o realismo com que a história é tratada. E nesse último filme, ela é fora do comum, fazendo com que nós mergulhemos de vez para dentro daquele relacionamento e jamais questionemos sua verossimilhança. As nuances do romance de Jesse e Celine, aqui ganham uma dimensão macro, demonstrando uma fase mais madura do relacionamento, e até por isso, mais questionadora e tendente a discussões que parecem intermináveis. Isto pode irritar aqueles que adoraram o ardor do inicio do romance em Antes do Amanhecer. Porém, como falei antes, a beleza da trilogia é o seu realismo, e a crise dos 40 bate a porta desse belo casal, assim como bate a porta de todos. E as atuações de Ethan Hawke e Julie Depy (mais linda do que nunca) conferem uma naturalidade aos seus personagens, que abraçam ainda mais a premissa realista destes. Enfim, Antes da Meia-Noite, assim como a trilogia de um modo geral, é um verdadeiro estudo sobre os relacionamentos através do prima de um casal, que já está na história do cinema. Jesse e Celine são eternos!
É impressionante o quanto o cinema nacional produz documentários de qualidade,e só de ter um gênio como Eduardo Coutinho ainda na ativa, já somos privilegiados. O maior sintoma dessa qualidade é esse belissimo Elena. Logo no inicio é possível perceber o tom introspectivo que permeará toda a projeção. Partindo de uma premissa pessoal, a diretora Petra Costa (irmã da personagem-título) constrói uma narrativa dolorosa, abrindo uma ferida que claramente não se fechará (se é que algum dia fechou). Com uma sensibilidade fora do comum, os belos planos construídos pela diretora somados às imagens do arquivo pessoal, tentam de alguma forma compreender a personalidade de Elena. Ocorre que é notório, que ao reconstruir a imagem de Elena o que vemos é um reflexo da própria Petra ( e é sintomático que a sua narração in-off, seja um personagem à parte no filme) e de sua mãe, que revive um duro momento da sua vida de forma doce e corajosa. Enfim,, Elena demonstra-se uma experiência sensível ao extremo, as dolorosa até a alma!
Um dos filmes mais esperados do ano, O Homem de Aço chegou aos cinemas com grandes expectativas principalmente por ter Zack Snyder na direção e Christopher Nolan na produção. E a pegada mais séria e emocional, já esperada, no filme é perceptível logo no inicio, quando vemos a extinção de Krypton, sendo algo que permeia toda a projeção. Ocorre que o filme contém sérios problemas de ritmo e de estrutura. Com uma montagem claramente equivocada, o filme possui cortes bruscos e flashbacks que soam fora de sintonia e sem um liame natural ou convincente, fazendo uma confusão desnecessária. Além disso, pequenas coisas me incomodaram como Jor-El, depois de morto, fazendo quase que um “tutorial” para Lois Lane na nave; Referências bíblicas em demasia quase que saltando à tela; em determinados momentos Louis Lane é quase a comandante do exército; entre outras. Dito isso, o filme de Snyder mostrou-se muito bom na escolha dos atores. Amy Adams resgata a intrépida e destemida (até demais) Lois Lane; Russel Crowe seguro como Jor-El; Kevin Costner genial como a válvula moral do filme; e é claro Henry Cavill surpreende dando uma dimensão emocional importante ao personagem-título. Aliás, o grande trunfo deste filme é investir no drama pessoal do protagonista e sua busca por respostas que funcionam muito melhor do que as lutas com Zod, dignas de Dragon Ball. Assim, apesar dos pesares, O Homem de aço até que é um bom filme.
O cinema nacional sempre se qualificou por não fazer "filmes de gênero". E mesmo aqui, onde há uma animação, a gama de informações sociais, culturais, politicas, etc, fogem de qualquer paradigma. E a qualidade técnica de Uma História de Amor e Fúria, não deve nada ás animações dos grandes estúdios norte-americanos. É perceptível o cuidado visual que a produção oferece para que possamos nos deleitar com as belissimas imagens. Mas o ponto forte desta animação está mesmo em sua corajosa narrativa. Se propondo desde o inicio a estabelecer as nuances do conflito "opressor-oprimido", o filme viaja ,através de uma inteligente e linda fábula, por vários momentos históricos no Brasil (até mesmo um futuro não muito distante), para entregar uma critica ferrenha ao modelo politico brasileiro que historicamente privilegia uma pequena minoria em detrimento da maciça maioria, sempre oprimindo e transformando em “vilões” aqueles que lutam por causas justas e transformando em “heróis” aqueles que os aniquilaram. Para mim, o único ponto fraco do filme é a péssima dublagem dos protagonistas, principalmente a de Selton Melo, que por si só, como dublador, já é uma péssima escolha de “casting” além de parecer não ter se esforçado o mínimo para compor a voz dos personagens que dubla. Contudo, apesar de incomodar, não é algo que prejudica a narrativa, tornando-se um pequeno riscado de um belo cristal. Enfim, como cinéfilo e como brasileiro, fiquei orgulhoso com esse belo filme.
Nicolas Winding Refn é um diretor premiado que possui um estilo visual próprio, que , particularmente, gosto muito. Esse estilo somado à ótima narrativa fizeram de Drive um dos melhores filmes do ano passado. Em Only God Forgives, ele retorna com seu estilo peculiar que o fez conquistar inúmeros fãs.Porém, neste filme, falta-lhe a humanidade narrativa que é tão latente em Drive. Os personagens não possuem o minimo de empatia necessária para fazer com que nos importemos com o que acontece a eles durante a projeção. Ao contrário, parecem mais robôs programados para fazer determinada coisa, e na maioria das vezes da forma mais cruel. O filme é visualmente impecável, tendo como ponto forte a fotografia e a direção de arte, que são um show à parte. Contudo, apenas isto não consegue suprir o vazio narrativo deixado pelo roteiro pretensioso. Assim, ainda acho Refn um dos grandes diretores da atualidade,mas o ideal é que seus próximos filmes tenham muito mais de Drive, e muito menos de Only God Forgives.
Giuseppe Tornatore é um diretor que faz cinema à moda antiga. E isso é perceptível logo no seus planos iniciais, onde coloca o máximo de informações possíveis, para que logo identifiquemos o teor do filme e de seus personagens. Nesse, A Melhor Oferta, não é diferente, apesar de ser um filme com toques bem incomuns a sua cinematografia habitual. A sofisticação e requinte do personagem principal (brilhantemente interpretado por Geoffrey Rush), contrasta com sua incapacidade de se relacionar com as pessoas (principalmente, mulheres). E é interessante o quanto, durante o filme, essa incapacidade vai ficando cada vez mais latente.Inteligentemente, a direção sinuosa de Tornatore, utiliza essa incapacidade para estabelecer um jogo de "falso-verdadeiro", no qual emergimos de uma forma, que , em determinado ponto, fica quase impossível apontar o que é original e o que é falsificação. É importante destacar também a belíssima fotografia, que inicia pálida, e torna-se reluzente ao longo da projeção, demonstrando de forma econômica a personalidade do protagonista.E é claro que não pode-se esquecer da trilha sonora composta pelo gênio Ennio Morriconne, que, apesar de estar mais contido neste filme, surge retumbante nos momentos finais. E por mais que saibamos que algo acontecerá no final, dificilmente imaginaríamos a forma surpreendente como isso ocorreria. E o plano final de Tornare fecha com chave de ouro esse excelente filme.
Colegas é aquele tipico filme tão gostoso de assistir que vc ficaria facilmente mais algumas horas se deliciando com as desventuras dos protagonistas. Mas, de tipico, esse filme não tem nada. A começar pelo desafio que é colocar três atores com Sindrome de Down, para protagonizar o filme. Mas, todos dão conta do recado, fazendo coisas, inclusive, inimagináveis. Aliás, o tom fabulesco dado ao filme faz com que o diretor Marcelo Galvão tenha um pouco mais de liberdade narrativa (por vezes até exagerada), para dar ao trio principal a chance de viver situações e experiências que vão do belo ao insano. E é lógico que pra quem é fã de cinema, as referências feitas aos clássicos da 7ª arte, são um show à parte. De fato, há erros de estrutura , como por exemplo, o fato de que na maioria dos momentos a narração in-off de Lima Duarte ser completamente desnecessária, ou o flashback final ser totalmente descartável, e outros elementos inseridos na trama e depois deixados de lado sem uma explicação convincente. Porém, nada disso apaga a beleza deste filme, e a sensação que dá ao terminamos de vê-lo é a de ter vivido uma experiência tão maravilhosa quanto a vivida pelo trio de protagonistas.
É interessante perceber a confiança de um diretor na condução de seu filme, através da lógica visual que ele emprega neste. Logo no inicio do filme, Derek Cianfrance, entrega com um intrigante plano-sequencia a personalidade "bomba-relógio" do personagem de Ryan Gosling que irá permear o 1º ato filme. E é justamente no fato dessa força só durar até o 1º ato, é que o filme perde fôlego no seu restante. Isso porque até este momento, o diretor parece estar disposto a fazer um estudo de personagem, mas que da metade para o final deixa de fazer sentido, para dar lugar a uma possível critica moral. Porém, os acontecimentos a seguir soam tão óbvios que mais parecem ter saído de uma Novela das 8, do que de um roteiro que possivelmente quer discutir o quanto as atitudes tomadas (ou não) no passado influenciam no seu futuro e/ou no de outras pessoas. E se em Namorados para Sempre, o diretor acerta no tom para demonstrar um amor fadado ao fim, neste O Lugar Onde Tudo Termina ele peca fatalmente no ritmo, se desgastando com sua longevidade excessiva. Obviamente, esperava mais, contudo, como disse no começo a confiança passada por Cianfrance em sua técnica, ainda vai me fazer conferir outras de suas narrativas que virão.
Adaptar uma das obras musicais mais conhecidas do Brasil já seria uma tarefa dificil. Colocar essa tarefa nas mãos de um diretor estreante,então, foi um grande risco corrido. Mas, a inteligência de René Sampaio ao optar por fazer um obra mais independente e autoral, fez deste Faroeste Cabloco um filmaço. E aviso desde já, que os fãs de Legião Urbana (assim como eu), que tentarem identificar no filme cada verso da música adaptada, irão sair frustrados. Ocorre que, música e cinema são o artes diferentes, e devem ser analisadas de forma independente. Uma não é melhor que a outra. Ambas complementam-se como artes que são. E analisando pelo ponto de vista do cinema, esse belo filme tem planos lindos. Desde o contra-plongé da do balde tirando água do poço até a ótima cena final do duelo (que pra mim, foi uma referência clara ao duelo final de Era uma vez no Oeste). Sem falar na excelente montagem (econômica e eficaz) e na lindissima fotografia (alguns planos daria pra emoldurar em um quadro e pendurar na parede). Obviamente não pode-se esquecer das ótimas atuações: Isis Valverde (que nunca achei grande atriz) surpreende com uma Maria Lúcia perdida que se acha no amor por João de Santo Cristo. Este por sua vez é interpretado por um Fabricio Boliveira que contrasta de forma maravilhosa o ódio e a sensibilidade do personagem principal. O único ponto fraco, para mim, é Felipe Abib, que transforma Jeremias em um bobão facilmente manipulável. Mas, nada que enfraqueça a forte e bela história eternizada nos versos de Renato Russo, e agora imortalizada nas telonas por René Sampaio. Belissimo filme!
Para mim Chan-Wook Park já está na história do cinema só por ter feito o soberbo Oldboy,e por consequente a sua genial “trilogia da vingança”. Com obras geniais, o diretor sul-coreano atraiu a atenção de produtores norte-americanos, e quando foi anunciada a sua estreia em Hollywood confesso que fiquei com grandes expectativas. Porém, estas expectativas não foram atendidas com esse Segredos de Sangue. Antes de falar qualquer coisa, é preciso bater palmas para excepcional sintonia entre montagem,fotografia e direção de arte, o que demonstra a competência do sul-coreano.Ocorre que, a técnica está a serviço de uma narrativa bem pedestre, e mesmo que o filme se transformasse em um estudo de personagens (o que não é o caso), falharia nesse aspecto graças à fraca atuação de Mia Wasikowska (“atriz” que é de uma inexpressividade digna de Kristen Stewart). Os coadjuvantes também não ajudam muito: Nicole Kidman numa atuação mais “over” do que qualquer outra coisa e Matthew Goode que até se esforça, mas não chega muito longe. Já com relação a direção de Chan-Wook Park, por mais envolventes e instigantes que seus planos-detalhes, close-ups, zooms, etc, possam ser (e são), ainda não encontrei as motivações narrativas para utilização deles. Pelo contrário, muitas vezes soaram bem gratuitos. Enfim, esperava mais deste filme e deste diretor,mas acho que sua genialidade brotará em outras oportunidades que certamente deverá ter em Hollywood.
Um filme que contém incontáveis equívocos (atuações caricaturais, furos de roteiro, direção,por vezes, ineficaz, etc,). Mas, é impressionante como esses erros vão diminuindo de tamanho ao longo da trama, fazendo com que mergulhemos na narrativa de uma tal forma que nos surpreendemos com seu fim repentino.Muito disso se deve à excelente atuação (para mim surpreendente) de Thiago Mendonça, compondo um Renato Russo natural e verdadeiro trazendo um carisma fundamental ao filme. E como fã de Legião Urbana, esperava bem mais deste filme, mas como fã de cinema, no final das contas, até que gostei do filme.
Um filme que poderia ser mais do que realmente é. Mas, isso não tira em nada os méritos da competente direção de Steven Soderbergh. Aliás, a fotografia utilizada pelo diretor combina-se perfeitamente com o "estado depressivo" da personagem de Rooney Mara (quem assistiu o filme entenderá as aspas) que desempenha mais uma boa atuação.Mas, é inegável que a grande atuação fica por conta de Jude Law, que cria uma complexidade surpreendente ao seu personagem ao longo da trama. Trama essa,inclusive, que exige uma atenção a mais do espectador, pois o filme flutua por gêneros diferentes sendo por vezes indecifrável o destino da trama tamanha a quantidade de reviravoltas em sua metade final. Enfim, muitos dizem que esse é o último filme dirigido por Steven Soderbergh para o cinema,e se for , encerrará bem a carreira.
Os espanhóis vêm se tornando especialistas em filmes do gênero terror/suspense. Bons exemplos disto são os ótimos O Orfanato e REC. Este Insensibles entraria nesse rol se os problemas de ritmo e desenvolvimento de roteiro não o deixassem apenas em uma categoria mediana. A direção de Juan Carlos Medina até surpreende conduzindo bem a trama até a sua metade, porém, depois disso, o filme parece perder fôlego a ponto de perder totalmente o foco em seus minutos finais. E por mais visualmente eficaz que o filme seja (a fotografia é linda), a frustração com seu final absurdo é inevitável. Ainda assim, vale pela ambição e pela tentativa de fazer algo diferente do costumeiro.
Um filme ambicioso e inteligente, mas confesso que esperava mais.O olhar metalinguistico do filme é muito atraente a ponto de sentirmos a mesma sensação do professor protagonista de querer saber o que acontecerá no próximo ato.Porém, me parece que falta ritmo e estrutura à narrativa.Algumas histórias são jogadas sem um desenvolvimento correto, servindo apenas como conflitos banais e resolúveis. Fora isso, as interpretações e a direção de François Ozon ajudam a conduzir esse filme, que poderia ser melhor, mas consegue agradar.
Confesso que o estilo e a ambição de Malick me impressionam. E nesse Amor Pleno ele repete a dose de forma triunfante.É notório que em seu filme anterior, A Árvore da Vida, ele alcança níveis de obra-prima pela profundidade dos temas abordados, mas isso não tira em nada o mérito do que é retratado em Amor Pleno. O "amor" é aqui delineado nas suas mais variadas facetas (filosófico,religioso,humano,divino,físico, impiedoso, e por aí vai) com uma sensibilidade extraordinária, sempre analisado pelo prisma do medo.Principalmente, o medo da solidão ,de estar e ficar só. E é aqui onde entra o personagem fascinante de Javier Bardem, que é de uma humanidade e de uma tridimensionalidade impressionante.Assim, de forma mais introspectiva, Terrence Malick pode não ter feito mais uma obra-prima, mas com certeza construiu um excelente estudo das relações humanas.
Essa é daquelas obras que chocam, não só pela tortura fisica e psicologica retratada,mas também por se tratar de situações palpáveis e extremamente atuais.Assim, o diretor Michel Franco é muito inteligente (e por que não dizer, cruel) ao não abrir concessões, nem mesmo ao espectador, fazendo com que o Bullying, neste caso, ganhe dimensões psicóticas. E as consequências de tudo que nos foi mostrado durante o filme, nos levam a um plano final perfeito, mas igualmente angustiante.Enfim, por mais forte que seja esse filme, para mim deveria se tornar uma obra obrigatória em todas as escolas. Mas, é apenas a minha opinião!
Esse filme é uma verdadeira pérola do nosso cinema.Um belissimo estudo de personagens e, por que não dizer, um estudo latente sobre a classe média e de como esta encontra-se presa em meio a própria futlidade.Aliás, esse filme não poderia surgir em melhor momento quando um dos temas da moda é a "ascenção da classe C". Assim, o filme encanta não só pela narrativa, mas também pelos aspectos técnicos como o som, a fotografia e a montagem que vão do sutil ao sublime.Excelente filme!
Entre Nós
3.6 619 Assista AgoraEm um momento chave do filme, um personagem diz “Não sei o que é pior, não conseguir realizar seus sonhos, ou realizar todos eles!”. É impressionante como um trecho tão simples, dito por um personagem que enxerga o mundo como um lugar apodrecido, consegue sintetizar o belíssimo Entre Nós. Não que seja um filme fácil de ser definido, ao contrário, os personagens são tão complexos e multidimensionais quanto os sonhos, que premeditam quando jovens, e frustrações, que compartilham quando mais “maduros”. Entre Nós, parte de uma ideia simples: um grupo de amigos adoráveis, que no ano de 1992, escrevem e enterram cartas para eles próprios lerem 10 anos depois. Nestas cartas, haveriam desejos e sonhos que os seus “eus” mais jovens gostariam que os seus “eus” mais velhos concretizassem. Ocorre que, logo após enterrarem as cartas, a morte inesperada e estúpida de um dos amigos marca para sempre aquele grupo. Dirigido de forma delicada e natural, por Paulo Moreli (e co-dirigido por seu filho Pedro Moreli), Entre Nós parece querer se entranhar no intimo de seus espectadores, através de seus personagens e da química existente entre eles, para falar de algo comum a todos: os sonhos, as frustrações, e, o tempo. Tempo esse, que é maravilhosamente bem explorado pelos atores, ao compor personagens que trazem consigo marcas do passado, que refletem ,de várias maneiras, no presente em que vivem. Se em determinado momento parecem estar mais amargos e descrentes, em outro momento podemos perceber lampejos dos jovens que outrora brincavam, sonhavam e discutiam Garcia Marquez. Porém, como diria Mário Quintana “O passado não reconhece o seu lugar: esta sempre presente.”, e ao desenterrarem as cartas escritas 10 anos antes, desenterram também desilusões e utopias de uma vida projetada com base naquilo que esperavam, e que era muito mais do que a vida tinha a oferecer. Entre Nós, também é eficaz em demonstrar o quanto a ferida da tragédia que compartilharam permanece exposta, e que se torna quase indissolúvel, pois ironicamente, se perpetuou em forma de arte (um livro), e se digo que isso é uma ironia, é por que o impulso artístico dos personagens era o elo que unia personalidades tão distintas. Entre Nós, é um filme cheio de metáforas visuais magníficas, como um carro sendo rebocado até o lugar desejado, um besouro virado para cima, uma árvore velha e cortada ao meio, um personagem tentando “enfeitar” uma carne queimada, etc, que só ressaltam a sensibilidade e a melancolia, que dão tom ao filme, que, ao oscilar com cenas de humor e descontração, dá ao espectador um sentimento esquisito de otimismo em relação ao mundo e às pessoas, sentimento este que só a efemeridade da vida pode trazer.
O Lobo de Wall Street
4.1 3,4K Assista AgoraMartin Scorsese é um cineasta que não precisa mais provar nada pra ninguém. Um gênio da sétima arte, que nos entregou obras magnificas como Touro Indomável, Taxi Driver, Os Bons Companheiros, Cassino, entre outros. Dessa forma, poderia ele começar a se repetir e se auto-referenciar exageradamente como muitos de sua geração (cof cof Spielberg cof cof). Mas, Scorsese é diferenciado, e prova isso em seu mais novo excelente filme O Lobo de Wall Street. Um filme cheio de energia e vitalidade que mais parece um “Scorsese a lá Tarantino”, usando e abusando dos diálogos afiados para conduzir a trama. Seria um filme cheio de excessos? Claro que sim. A vida do protagonista, e dos personagens que o rodeiam, é cheia de excessos, e Scorsese utiliza isso como instrumento narrativo, criando uma atmosfera “porralôka total” absolutamente condizente com as atitudes dos sujeitos. Nesse sentido, não se pode esquecer das atuações: Jonah Hill encontrou o personagem da sua vida, sendo dele os momentos mais hilários do filme. Kyle Chandler surpreende compondo um agente do FBI competente, mas calejado por saber que nunca alcançará de fato seu objetivo. A estonteante Margot Robbie exala beleza e sensualidade na medida certa. Matthew McConaughey tem uma participação, que , apesar de pequena, rouba a cena. Mas, senhoras e senhores, aplausos para a melhor atuação da carreirra de Leonardo Fucking DiCaprio. O individuo segura o filme por três horas de forma sensacional, causando uma empatia por seu personagem, mas sempre deixando claro o quão ridículo este é, chegando até a demonstrar um certo grau de psicopatia. Aliás, o grande trunfo de Scorsese nesse filme, é mostrar de forma clara o quanto aqueles indivíduos são imbecis sem autocontrole (e por vezes até cruéis), fazendo com que possamos rir deles, e não com eles. Além disso, a critica à ostentação e à enganação do mundo de Wall Street, é bem estabelecida, deixando bem claro, que são os causadores dos colapsos financeiros mundiais. Enfim. essa lenda viva chamada Martin Scorsese, aos seus 71 anos de idade, consegue fazer um filme jovem, inteligente e critico, sem deixar-se cair em clichês bobos. Só me resta aplaudir!
Como Não Perder Essa Mulher
3.0 1,4K Assista AgoraQuando surgiu a noticia de que Joseph Gordon-Levitt (um dos melhores atores de sua geração) iria dirigir seu primeiro longa, fiquei com o pé atrás, pois essa transição ator/diretor não é fácil, e costuma gerar grandes embaraços. Porém, Gordon-Levitt demonstrou-se seguro e eficaz em seu primeiro trabalho por trás das câmeras. Intitulado Don Jon (porque me recuso a dizer o pavoroso título em português), o filme busca fazer uma tradução moderna do clássico Don Juan, onde o personagem principal (interpretado pelo próprio diretor) atrai todas as mulheres, mas só consegue sentir verdadeira satisfação sexual com vídeos pornôs. De inicio, o filme parece ser tão superficial como os personagens que povoam a história, mas Gordon-Levitt se mostra inteligente ao fugir das armadilhas e clichês de comédia romântica, humanizando o seu personagem fazendo com que tenhamos certo carisma pelo sujeito. Mas, acima de tudo o grande mérito do filme, é expor a hipocrisia dos relacionamentos, e como nós ficamos presos a convenções sociais, nos importando apenas em ir ao cinema de mãos dadas com a namorada, assistir filmes românticos em casa, ou mesmo modificar o status do facebook e compartilhar fotos com os seus “seguidores”. Não que isso seja ruim, mas a busca pela essência nos relacionamentos é cada vez mais escassa. Os “eu te amo” soam como termos prontos e acabados apenas para emoldurar um relacionamento vazio e sem satisfação pessoal. Assim, a fixação do protagonista por pornôs, nada mais é do que uma tentativa inútil deste de fugir da superficialidade que suas relações lhe trazem, e quando a personagem da sempre linda Julianne Moore o indaga: “porque você vê isso, se você pode ter de verdade?”, o protagonista afirma, que só consegue “se perder” de verdade, nos vídeos pornôs. E é aí que a personagem de Julianne Moore dispara a frase mais importante no filme: “Se quer se perder, precisa se perder em outra pessoa. E ela tem que se perder em você”. Dessa forma, o longa de Gordon-Levitt, demonstra que a cumplicidade é vital em qualquer relacionamento, e que se deve mergulhar de peito aberto, mesmo que por ventura isso possa causar grandes decepções (e é natural que causem), e fugir das fúteis convenções sociais. Enfim, talvez Don Jon peque por uma falta de sensibilidade aqui e ali, mas é um filme que utiliza o sexo como ponto de partida para falar das relações, e nesse contexto Joseph Gordon-Levitt acerta em cheio na sua estreia na direção.
Elysium
3.3 2,0K Assista AgoraNeil Blomkamp chamou a atenção do mundo do cinema em 2011, ao lançar o maravilhoso Distrito 9. Um filme inventivo, que mantinha um interessante equilíbrio entre o drama e a ação, mas acima de tudo, trazia metáforas politicas extremamente bem elaboradas, sob o viés da ficção cientifica. Dessa forma, Elysium, novo filme do diretor sul-africano, causou grandes expectativas para vermos novamente seu estilo inovador nos cinemas. As expectativas foram ainda maiores para nós brasileiros, pois esse seria o filme de estréia do excelente Wagner Moura em Hollywood. Contudo, Elysium é um filme pretencioso, mas que pouco consegue atingir suas ambições. Os méritos iniciais são claros: Blomkamp consegue estabelecer de forma criativa o contexto politico do filme, ao explorar a devastação poluída da Terra, com a beleza plástica de Elysium, demonstrando a desigualdade social gritante entre os lugares. O diretor também acerta em apresentar os personagens de forma econômica, com diálogos rápidos e certeiros. Assim, chega a surpreender o quanto o ritmo do filme se perde em sua metade final, com reviravoltas bobas, transformando seus interessantes personagens em meras caricaturas. A direção, até então segura, de Blomkamp, deixa-se levar pelo roteiro previsível e formulaico. Outro problema é o personagem de Wagner Moura, que não consegue estabelecer de forma clara suas motivações (ele quer salvar o mundo ou age apenas em beneficio próprio?). O que não tira em nada o mérito da boa atuação do brasileiro. Enfim, Elysium é um filme que talvez merecesse um cuidado maior por parte de seus realizadores, mas só de ter a ambição de explorar novamente as mazelas mundiais através do vasto mundo da ficção cientifca, Neil Blomkamp já merece toda a atenção dos cinéfilos.
Gravidade
3.9 5,1K Assista AgoraPara qualquer cinéfilo, é sempre gratificante sair de uma sala de cinema com as emoções à flor da pele, depois de ter passado por um turbilhão de emoções causadas por um filme. Dificil descrever exatamente qual a sensação que Gravidade causou-me, mas o certo é que saí tremendo da sessão, algo que não lembro de ter acontecido antes. O novo filme do genial Alfonso Cuarón, já mostra a que veio nos primeiros minutos de projeção com um “plano-sequência” alucinante que logo nos faz emergir para a trama protagonizada por Sandra Bullock (na melhor atuação de sua carreira). Aliás a trama em si, aparentemente simplista, toca em pontos existencialistas muito interessantes, sempre sob o foco da solidão, e não há cenário melhor para falar sobre isso do que o espaço. O “vazio” do universo alinha-se ao “vazio” existente na vida da personagem de Bullock, que ao mesmo tempo que luta para viver durante toda a projeção, questiona-se se de fato sua Odisséia de volta à Terra valerá a pena. Mas, além do belo roteiro, o ponto forte do filme é a espetacular direção de Cuarón. O diretor mexicano mostra toda a sua competência, recheando este filme de momentos lindos como, por exemplo, a câmera entrando no capacete da personagem de Bullock, para que possamos sentir a claustrofobia do momento; os belíssimos planos-sequência com movimentos de câmera perfeitos; além daquela que pra mim é a cena mais linda do filme, quando a lágrima de Bullock flutua levemente em direção ao espectador, num uso espetacular do 3D, que diga-se de passagem, é o melhor que eu já vi, colaborando diretamente para a narrativa. Outro destaque é o som, que contrasta divinamente o silêncio do espaço (demostrando a solidão existente ali), com os estrondos dentro das espaçonaves (remetendo à claustrofobia e a urgência do momento), o que tem sua dimensão elevada pela excelente montagem. Enfim, Gravidade é uma experiência sensacional para se ter em uma sala de cinema, e se segurar na cadeira durante os 90 minutos de projeção. Até o momento, o melhor filme do ano, na minha opinião!
É o Fim
3.0 2,0K Assista AgoraReunir uma turma tão talentosa e que faz um humor diferente do casual, e ainda mais interpretando versões diferentes deles próprios, seria uma boa pedida, se a premissa absurda desse É o Fim não se estragasse durante a projeção. Infelizmente, o filme se perde completamente no seu roteiro fraco caindo na armadilha do humor chulo e rasteiro, que pouco arranca risadas,e quando o faz, nos faz ter vergonha por estar sorrindo de uma piada tão ruim. Além disso, o filme parece não saber do que quer falar, limitando-se a colocar os protagonistas em situações idiotas com o pano de fundo de um fim do mundo inverossimel demais, até mesmo pra algo sabidamente irreal. Tudo isso até poderia ser salvo, se o filme conseguisse ser engraçado,mas, com rarissimas exceções ,fracassa com louvor nesse ponto, Enfim, espero que os talentosos nomes que participaram disto, não repitam o erro, e voltem a fazer um humor inteligente e, principalmente, engraçado!
Além da Escuridão: Star Trek
4.0 1,4K Assista AgoraNunca fui grande fã dos filmes e das séries que envolvem o universo Star Trek. Mas revisitando os filmes originais, são notórias as referências sócio-politicas feitas. E nesse novo Além da Escuridão-Star Trek, J.J. Abrams abre um espaço maior (ainda que pequeno) para abordar de forma metafórica o terrorismo e a famigerada Guerra do Iraque. Talvez J.J. Abrams pudesse ter passado um tempo maior abordando essas questões tão atuais e inerentes ao "mundo Star Trek", mas não podemos condená-lo. A parte do filme que se dedica a ação e ao entretenimento também é absolutamente competente. O visual (já preestabelecido no primeiro filme), ganha tons mais sérios alcançando um equilibrio interessante entre o frenesi e a sobriedade. Os personagens principais parecem ganhar mais dimensão nas mãos de seus interpretes: Chris Pine e Zachary Quinto já incorporam, respectivamente, Kirk e Spock como sua segunda pele, porém ainda sinto falta de mais presença cênica do Dr. McCoy. Mas, não posso jamais esquecer da excelente atuação de Benedict Cumbebatch. Ele constrói um vilão clássico daqueles que realmente fazem o espectador temer pelo futuro dos protagonistas.E num monólogo belissimo, ao mesmo tempo que demonstra uma frieza robótica, deixa escapar um fiapo de humanidade em forma de lágrimas (Benedict Cumberbatch, não escqueçam esse nome!!!). Ainda assim, o filme possui pequenos problemas de roteiro, que não chegam a danificá-lo mas o prejudicam. No mais, fiquei muito feliz ao ver a evolução de J.J. Abrams como cineasta, e de Star Trek enquanto narrativa. Ótimo Filme!
Antes da Meia-Noite
4.2 1,5K Assista AgoraConfesso que estava com grandes expectativas para ver o trio Linklater/Hawke/Delpy novamente em ação. E minhas expectativas foram todas correspondidas. Todos os elementos que transformaram os filmes anteriores (Antes do Amanhecer e Antes do Pôr-do-Sol) em clássicos instantâneos, estão presentes neste belissimo Antes da Meia Noite. Os diálogos extremamente bem construídos, a quimica entre os protagonistas, o roteiro bem estruturado, a direção segura de Linklater,entre outros. Mas confesso que para mim o ponto alto da trilogia, é o realismo com que a história é tratada. E nesse último filme, ela é fora do comum, fazendo com que nós mergulhemos de vez para dentro daquele relacionamento e jamais questionemos sua verossimilhança. As nuances do romance de Jesse e Celine, aqui ganham uma dimensão macro, demonstrando uma fase mais madura do relacionamento, e até por isso, mais questionadora e tendente a discussões que parecem intermináveis. Isto pode irritar aqueles que adoraram o ardor do inicio do romance em Antes do Amanhecer. Porém, como falei antes, a beleza da trilogia é o seu realismo, e a crise dos 40 bate a porta desse belo casal, assim como bate a porta de todos. E as atuações de Ethan Hawke e Julie Depy (mais linda do que nunca) conferem uma naturalidade aos seus personagens, que abraçam ainda mais a premissa realista destes. Enfim, Antes da Meia-Noite, assim como a trilogia de um modo geral, é um verdadeiro estudo sobre os relacionamentos através do prima de um casal, que já está na história do cinema. Jesse e Celine são eternos!
Elena
4.2 1,3K Assista AgoraÉ impressionante o quanto o cinema nacional produz documentários de qualidade,e só de ter um gênio como Eduardo Coutinho ainda na ativa, já somos privilegiados. O maior sintoma dessa qualidade é esse belissimo Elena. Logo no inicio é possível perceber o tom introspectivo que permeará toda a projeção. Partindo de uma premissa pessoal, a diretora Petra Costa (irmã da personagem-título) constrói uma narrativa dolorosa, abrindo uma ferida que claramente não se fechará (se é que algum dia fechou). Com uma sensibilidade fora do comum, os belos planos construídos pela diretora somados às imagens do arquivo pessoal, tentam de alguma forma compreender a personalidade de Elena. Ocorre que é notório, que ao reconstruir a imagem de Elena o que vemos é um reflexo da própria Petra ( e é sintomático que a sua narração in-off, seja um personagem à parte no filme) e de sua mãe, que revive um duro momento da sua vida de forma doce e corajosa. Enfim,, Elena demonstra-se uma experiência sensível ao extremo, as dolorosa até a alma!
O Homem de Aço
3.6 3,9K Assista AgoraUm dos filmes mais esperados do ano, O Homem de Aço chegou aos cinemas com grandes expectativas principalmente por ter Zack Snyder na direção e Christopher Nolan na produção. E a pegada mais séria e emocional, já esperada, no filme é perceptível logo no inicio, quando vemos a extinção de Krypton, sendo algo que permeia toda a projeção. Ocorre que o filme contém sérios problemas de ritmo e de estrutura. Com uma montagem claramente equivocada, o filme possui cortes bruscos e flashbacks que soam fora de sintonia e sem um liame natural ou convincente, fazendo uma confusão desnecessária. Além disso, pequenas coisas me incomodaram como Jor-El, depois de morto, fazendo quase que um “tutorial” para Lois Lane na nave; Referências bíblicas em demasia quase que saltando à tela; em determinados momentos Louis Lane é quase a comandante do exército; entre outras. Dito isso, o filme de Snyder mostrou-se muito bom na escolha dos atores. Amy Adams resgata a intrépida e destemida (até demais) Lois Lane; Russel Crowe seguro como Jor-El; Kevin Costner genial como a válvula moral do filme; e é claro Henry Cavill surpreende dando uma dimensão emocional importante ao personagem-título. Aliás, o grande trunfo deste filme é investir no drama pessoal do protagonista e sua busca por respostas que funcionam muito melhor do que as lutas com Zod, dignas de Dragon Ball. Assim, apesar dos pesares, O Homem de aço até que é um bom filme.
Uma História de Amor e Fúria
4.0 657O cinema nacional sempre se qualificou por não fazer "filmes de gênero". E mesmo aqui, onde há uma animação, a gama de informações sociais, culturais, politicas, etc, fogem de qualquer paradigma. E a qualidade técnica de Uma História de Amor e Fúria, não deve nada ás animações dos grandes estúdios norte-americanos. É perceptível o cuidado visual que a produção oferece para que possamos nos deleitar com as belissimas imagens. Mas o ponto forte desta animação está mesmo em sua corajosa narrativa. Se propondo desde o inicio a estabelecer as nuances do conflito "opressor-oprimido", o filme viaja ,através de uma inteligente e linda fábula, por vários momentos históricos no Brasil (até mesmo um futuro não muito distante), para entregar uma critica ferrenha ao modelo politico brasileiro que historicamente privilegia uma pequena minoria em detrimento da maciça maioria, sempre oprimindo e transformando em “vilões” aqueles que lutam por causas justas e transformando em “heróis” aqueles que os aniquilaram. Para mim, o único ponto fraco do filme é a péssima dublagem dos protagonistas, principalmente a de Selton Melo, que por si só, como dublador, já é uma péssima escolha de “casting” além de parecer não ter se esforçado o mínimo para compor a voz dos personagens que dubla. Contudo, apesar de incomodar, não é algo que prejudica a narrativa, tornando-se um pequeno riscado de um belo cristal. Enfim, como cinéfilo e como brasileiro, fiquei orgulhoso com esse belo filme.
Apenas Deus Perdoa
3.0 632 Assista AgoraNicolas Winding Refn é um diretor premiado que possui um estilo visual próprio, que , particularmente, gosto muito. Esse estilo somado à ótima narrativa fizeram de Drive um dos melhores filmes do ano passado. Em Only God Forgives, ele retorna com seu estilo peculiar que o fez conquistar inúmeros fãs.Porém, neste filme, falta-lhe a humanidade narrativa que é tão latente em Drive. Os personagens não possuem o minimo de empatia necessária para fazer com que nos importemos com o que acontece a eles durante a projeção. Ao contrário, parecem mais robôs programados para fazer determinada coisa, e na maioria das vezes da forma mais cruel. O filme é visualmente impecável, tendo como ponto forte a fotografia e a direção de arte, que são um show à parte. Contudo, apenas isto não consegue suprir o vazio narrativo deixado pelo roteiro pretensioso. Assim, ainda acho Refn um dos grandes diretores da atualidade,mas o ideal é que seus próximos filmes tenham muito mais de Drive, e muito menos de Only God Forgives.
O Melhor Lance
4.1 366 Assista AgoraGiuseppe Tornatore é um diretor que faz cinema à moda antiga. E isso é perceptível logo no seus planos iniciais, onde coloca o máximo de informações possíveis, para que logo identifiquemos o teor do filme e de seus personagens. Nesse, A Melhor Oferta, não é diferente, apesar de ser um filme com toques bem incomuns a sua cinematografia habitual. A sofisticação e requinte do personagem principal (brilhantemente interpretado por Geoffrey Rush), contrasta com sua incapacidade de se relacionar com as pessoas (principalmente, mulheres). E é interessante o quanto, durante o filme, essa incapacidade vai ficando cada vez mais latente.Inteligentemente, a direção sinuosa de Tornatore, utiliza essa incapacidade para estabelecer um jogo de "falso-verdadeiro", no qual emergimos de uma forma, que , em determinado ponto, fica quase impossível apontar o que é original e o que é falsificação. É importante destacar também a belíssima fotografia, que inicia pálida, e torna-se reluzente ao longo da projeção, demonstrando de forma econômica a personalidade do protagonista.E é claro que não pode-se esquecer da trilha sonora composta pelo gênio Ennio Morriconne, que, apesar de estar mais contido neste filme, surge retumbante nos momentos finais. E por mais que saibamos que algo acontecerá no final, dificilmente imaginaríamos a forma surpreendente como isso ocorreria. E o plano final de Tornare fecha com chave de ouro esse excelente filme.
Colegas
3.4 606 Assista AgoraColegas é aquele tipico filme tão gostoso de assistir que vc ficaria facilmente mais algumas horas se deliciando com as desventuras dos protagonistas. Mas, de tipico, esse filme não tem nada. A começar pelo desafio que é colocar três atores com Sindrome de Down, para protagonizar o filme. Mas, todos dão conta do recado, fazendo coisas, inclusive, inimagináveis. Aliás, o tom fabulesco dado ao filme faz com que o diretor Marcelo Galvão tenha um pouco mais de liberdade narrativa (por vezes até exagerada), para dar ao trio principal a chance de viver situações e experiências que vão do belo ao insano. E é lógico que pra quem é fã de cinema, as referências feitas aos clássicos da 7ª arte, são um show à parte. De fato, há erros de estrutura , como por exemplo, o fato de que na maioria dos momentos a narração in-off de Lima Duarte ser completamente desnecessária, ou o flashback final ser totalmente descartável, e outros elementos inseridos na trama e depois deixados de lado sem uma explicação convincente. Porém, nada disso apaga a beleza deste filme, e a sensação que dá ao terminamos de vê-lo é a de ter vivido uma experiência tão maravilhosa quanto a vivida pelo trio de protagonistas.
O Lugar Onde Tudo Termina
3.7 857 Assista AgoraÉ interessante perceber a confiança de um diretor na condução de seu filme, através da lógica visual que ele emprega neste. Logo no inicio do filme, Derek Cianfrance, entrega com um intrigante plano-sequencia a personalidade "bomba-relógio" do personagem de Ryan Gosling que irá permear o 1º ato filme. E é justamente no fato dessa força só durar até o 1º ato, é que o filme perde fôlego no seu restante. Isso porque até este momento, o diretor parece estar disposto a fazer um estudo de personagem, mas que da metade para o final deixa de fazer sentido, para dar lugar a uma possível critica moral. Porém, os acontecimentos a seguir soam tão óbvios que mais parecem ter saído de uma Novela das 8, do que de um roteiro que possivelmente quer discutir o quanto as atitudes tomadas (ou não) no passado influenciam no seu futuro e/ou no de outras pessoas. E se em Namorados para Sempre, o diretor acerta no tom para demonstrar um amor fadado ao fim, neste O Lugar Onde Tudo Termina ele peca fatalmente no ritmo, se desgastando com sua longevidade excessiva. Obviamente, esperava mais, contudo, como disse no começo a confiança passada por Cianfrance em sua técnica, ainda vai me fazer conferir outras de suas narrativas que virão.
Faroeste Caboclo
3.2 2,4KAdaptar uma das obras musicais mais conhecidas do Brasil já seria uma tarefa dificil. Colocar essa tarefa nas mãos de um diretor estreante,então, foi um grande risco corrido. Mas, a inteligência de René Sampaio ao optar por fazer um obra mais independente e autoral, fez deste Faroeste Cabloco um filmaço. E aviso desde já, que os fãs de Legião Urbana (assim como eu), que tentarem identificar no filme cada verso da música adaptada, irão sair frustrados. Ocorre que, música e cinema são o artes diferentes, e devem ser analisadas de forma independente. Uma não é melhor que a outra. Ambas complementam-se como artes que são. E analisando pelo ponto de vista do cinema, esse belo filme tem planos lindos. Desde o contra-plongé da do balde tirando água do poço até a ótima cena final do duelo (que pra mim, foi uma referência clara ao duelo final de Era uma vez no Oeste). Sem falar na excelente montagem (econômica e eficaz) e na lindissima fotografia (alguns planos daria pra emoldurar em um quadro e pendurar na parede). Obviamente não pode-se esquecer das ótimas atuações: Isis Valverde (que nunca achei grande atriz) surpreende com uma Maria Lúcia perdida que se acha no amor por João de Santo Cristo. Este por sua vez é interpretado por um Fabricio Boliveira que contrasta de forma maravilhosa o ódio e a sensibilidade do personagem principal. O único ponto fraco, para mim, é Felipe Abib, que transforma Jeremias em um bobão facilmente manipulável. Mas, nada que enfraqueça a forte e bela história eternizada nos versos de Renato Russo, e agora imortalizada nas telonas por René Sampaio. Belissimo filme!
Segredos de Sangue
3.5 1,2K Assista AgoraPara mim Chan-Wook Park já está na história do cinema só por ter feito o soberbo Oldboy,e por consequente a sua genial “trilogia da vingança”. Com obras geniais, o diretor sul-coreano atraiu a atenção de produtores norte-americanos, e quando foi anunciada a sua estreia em Hollywood confesso que fiquei com grandes expectativas. Porém, estas expectativas não foram atendidas com esse Segredos de Sangue. Antes de falar qualquer coisa, é preciso bater palmas para excepcional sintonia entre montagem,fotografia e direção de arte, o que demonstra a competência do sul-coreano.Ocorre que, a técnica está a serviço de uma narrativa bem pedestre, e mesmo que o filme se transformasse em um estudo de personagens (o que não é o caso), falharia nesse aspecto graças à fraca atuação de Mia Wasikowska (“atriz” que é de uma inexpressividade digna de Kristen Stewart). Os coadjuvantes também não ajudam muito: Nicole Kidman numa atuação mais “over” do que qualquer outra coisa e Matthew Goode que até se esforça, mas não chega muito longe. Já com relação a direção de Chan-Wook Park, por mais envolventes e instigantes que seus planos-detalhes, close-ups, zooms, etc, possam ser (e são), ainda não encontrei as motivações narrativas para utilização deles. Pelo contrário, muitas vezes soaram bem gratuitos. Enfim, esperava mais deste filme e deste diretor,mas acho que sua genialidade brotará em outras oportunidades que certamente deverá ter em Hollywood.
Somos Tão Jovens
3.3 2,0KUm filme que contém incontáveis equívocos (atuações caricaturais, furos de roteiro, direção,por vezes, ineficaz, etc,). Mas, é impressionante como esses erros vão diminuindo de tamanho ao longo da trama, fazendo com que mergulhemos na narrativa de uma tal forma que nos surpreendemos com seu fim repentino.Muito disso se deve à excelente atuação (para mim surpreendente) de Thiago Mendonça, compondo um Renato Russo natural e verdadeiro trazendo um carisma fundamental ao filme. E como fã de Legião Urbana, esperava bem mais deste filme, mas como fã de cinema, no final das contas, até que gostei do filme.
Terapia de Risco
3.6 1,0K Assista AgoraUm filme que poderia ser mais do que realmente é. Mas, isso não tira em nada os méritos da competente direção de Steven Soderbergh. Aliás, a fotografia utilizada pelo diretor combina-se perfeitamente com o "estado depressivo" da personagem de Rooney Mara (quem assistiu o filme entenderá as aspas) que desempenha mais uma boa atuação.Mas, é inegável que a grande atuação fica por conta de Jude Law, que cria uma complexidade surpreendente ao seu personagem ao longo da trama. Trama essa,inclusive, que exige uma atenção a mais do espectador, pois o filme flutua por gêneros diferentes sendo por vezes indecifrável o destino da trama tamanha a quantidade de reviravoltas em sua metade final. Enfim, muitos dizem que esse é o último filme dirigido por Steven Soderbergh para o cinema,e se for , encerrará bem a carreira.
Insensíveis
3.5 132Os espanhóis vêm se tornando especialistas em filmes do gênero terror/suspense. Bons exemplos disto são os ótimos O Orfanato e REC. Este Insensibles entraria nesse rol se os problemas de ritmo e desenvolvimento de roteiro não o deixassem apenas em uma categoria mediana. A direção de Juan Carlos Medina até surpreende conduzindo bem a trama até a sua metade, porém, depois disso, o filme parece perder fôlego a ponto de perder totalmente o foco em seus minutos finais. E por mais visualmente eficaz que o filme seja (a fotografia é linda), a frustração com seu final absurdo é inevitável. Ainda assim, vale pela ambição e pela tentativa de fazer algo diferente do costumeiro.
Dentro da Casa
4.1 553 Assista AgoraUm filme ambicioso e inteligente, mas confesso que esperava mais.O olhar metalinguistico do filme é muito atraente a ponto de sentirmos a mesma sensação do professor protagonista de querer saber o que acontecerá no próximo ato.Porém, me parece que falta ritmo e estrutura à narrativa.Algumas histórias são jogadas sem um desenvolvimento correto, servindo apenas como conflitos banais e resolúveis. Fora isso, as interpretações e a direção de François Ozon ajudam a conduzir esse filme, que poderia ser melhor, mas consegue agradar.
Amor Pleno
3.0 558Confesso que o estilo e a ambição de Malick me impressionam. E nesse Amor Pleno ele repete a dose de forma triunfante.É notório que em seu filme anterior, A Árvore da Vida, ele alcança níveis de obra-prima pela profundidade dos temas abordados, mas isso não tira em nada o mérito do que é retratado em Amor Pleno. O "amor" é aqui delineado nas suas mais variadas facetas (filosófico,religioso,humano,divino,físico, impiedoso, e por aí vai) com uma sensibilidade extraordinária, sempre analisado pelo prisma do medo.Principalmente, o medo da solidão ,de estar e ficar só. E é aqui onde entra o personagem fascinante de Javier Bardem, que é de uma humanidade e de uma tridimensionalidade impressionante.Assim, de forma mais introspectiva, Terrence Malick pode não ter feito mais uma obra-prima, mas com certeza construiu um excelente estudo das relações humanas.
Depois de Lúcia
3.8 1,1KEssa é daquelas obras que chocam, não só pela tortura fisica e psicologica retratada,mas também por se tratar de situações palpáveis e extremamente atuais.Assim, o diretor Michel Franco é muito inteligente (e por que não dizer, cruel) ao não abrir concessões, nem mesmo ao espectador, fazendo com que o Bullying, neste caso, ganhe dimensões psicóticas. E as consequências de tudo que nos foi mostrado durante o filme, nos levam a um plano final perfeito, mas igualmente angustiante.Enfim, por mais forte que seja esse filme, para mim deveria se tornar uma obra obrigatória em todas as escolas. Mas, é apenas a minha opinião!
O Som ao Redor
3.8 1,1K Assista AgoraEsse filme é uma verdadeira pérola do nosso cinema.Um belissimo estudo de personagens e, por que não dizer, um estudo latente sobre a classe média e de como esta encontra-se presa em meio a própria futlidade.Aliás, esse filme não poderia surgir em melhor momento quando um dos temas da moda é a "ascenção da classe C". Assim, o filme encanta não só pela narrativa, mas também pelos aspectos técnicos como o som, a fotografia e a montagem que vão do sutil ao sublime.Excelente filme!