Eu queria muito estar errado, mas infelizmente minhas previsões se confirmaram. A sequência de Blade Runner é um bom filme com um visual espetacular, mas inferior a outras produções recentes igualmente ambiciosas, como Mad Max – Estrada da Fúria e A Chegada, do próprio Denis Villeneuve.
Quando anunciaram que haveria uma continuação de Blade Runner, a reação de muitos foi de total descrédito. As lacunas do filme original não precisavam ser respondidas. Quer dizer, vamos ter em mente as muitas versões lançadas ao longo dos anos. A versão que foi para o cinema, em 1982, com a narração de Harrison Ford e o final feliz, mora no meu coração por ter sido a que mais revi, ainda em VHS, depois em DVD. A versão considerada por Ridley Scott como definitiva, The Final Cut, de 2007, também me agrada bastante por ser mais madura e subjetiva.
A melhor maneira de apreciar o filme de Villeneuve é ter visto as versões de 1982 e 2007, lido o romance que originou tudo, Androides Sonham com Ovelhas Elétricas?, de Philip K. Dick e ter visto os três curtas lançados antes da estreia do novo Blade Runner, que servem como prelúdios para contextualizar o que aconteceu em Los Angeles (e no mundo) entre 2019 e 2049.
O canadense Denis Villeneuve já se firmou como um dos diretores mais interessantes em atividade, um mestre. Alguém que tem um controle absurdo da mise-en-scène, que sabe deixar o espectador instigado, tenso e mesmerizado. Seus filmes são visualmente desafiadores e provocam a reflexão. Em Blade Runner 2049, um projeto cheio de expectativas e pressões, ele se saiu bem. Entregou uma produção de grande estúdio acima da média, corajosa em bancar uma narrativa mais lenta, em tratar de temas complexos sem muitas concessões.
Não me entendam mal. O filme é bonito e relevante. A fotografia do veterano Roger Deakins é quase indecente de tão esmerada, em tomadas fechadas e abertas, em cores quentes e frias. Os efeitos especiais e sonoros estão totalmente integrados a essa evolução do universo de Blade Runner, com um desenho de produção que soube repaginar o clima noir original para um mundo parte tecnologicamente mais avançado, parte mais apocalíptico. Ryan Gosling carrega o filme nas costas. Seu personagem tem um arco emocional de fundir a cabeça de qualquer um. E ele nos leva junto nessa jornada cheia de dor física e mental. O Deckard coroa de Harrison Ford está ótimo, numa performance muito superior ao Han Solo de O Despertar da Força. Robin Wright, como a chefe do personagem de Gosling na polícia, Ana de Armas, a namorada virtual dele, e Sylvia Hoeks, a braço direito do personagem de Jared Leto, também são presenças marcantes.
Mas o filme tem três problemas: o roteiro, a duração e a trilha sonora. Problemas graves que comprometem as ideias, a coesão e a estética de Blade Runner 2049.
O maior mérito do roteiro foi manter a coisa simples, não investir em grandes conspirações nem em preparar uma futura franquia. Algumas pontas ficam soltas para uma possível sequência, mas isso não compromete a trama. Hampton Fancher (um dos roteiristas do original) e Michael Green (roteirista do ótimo Logan, mas das bombas Lanterna Verde e Alien: Covenant) mantiveram o clima de filme policial, de investigação.
O roteiro aprofunda a questão dos replicantes. Temos aqui um cenário mais complexo e variado, em que temas como preconceito, identidade e escolha são mais urgentes do que no primeiro filme. Mas essa discussão para no meio do caminho pelos equívocos narrativos. Os personagens coadjuvantes são menos interessantes em comparação aos do primeiro filme. A entrada de K, o personagem de Gosling, na história, com a ótima participação de Dave Bautista, é muito conveniente. A subtrama envolvendo a doutora Stelline, a criadora de memórias, me incomodou bastante. Analisando em retrospectiva, não faz muito sentido. E o dilema de ser ou não ser humano foi melhor trabalhado recentemente no filme Ex-Machina e na série Westworld, por exemplo.
Para frustração dos fãs, o aspecto religioso do romance por meio do mercerismo, uma espécie de cristianismo midiático, não foi explorado. Mas talvez a semente tenha sido plantada para ser desenvolvida mais adiante.
Não tenho problema com filmes lentos e longos. Adoro Tarkosvky. Mas, em Blade Runner 2049, 163 minutos se mostraram excessivos. Em certos trechos, os diálogos estão menos inspirados ou o silêncio não causa tanto impacto visual e sonoro.
Depois que Villeneuve foi confirmado como diretor desse filme, fiquei curioso para ver como seu compositor de longa data, o islandês Jóhann Jóhannsson, trabalharia musicalmente o universo de Blade Runner, tendo a icônica trilha sonora de Vangelis para assombrá-lo. Fiquei imaginando o que Jóhannsson poderia criar depois da música assustadora de Sicario e do mistério e da estranheza de A Chegada. Mas, poucos meses antes da estreia, Jóhannsson abandonou o filme, numa história ainda não explicada direito. Então os produtores recorreram ao onipresente Hans Zimmer, às pressas. Ele e seu pupilo Benjamin Wallfisch (responsável pela trilha do novo IT) fizeram uma música que fica entre uma imitação de Vangelis e a trilha do Batman de Nolan, numa pegada eletrônica, investindo mais em sintetizadores. É uma trilha eficiente em seus melhores momentos e irritante em seus piores. Não é memorável. Esse filme precisava de uma trilha sonora memorável.
O Blade Runner de 1982 foi um raro momento do cinema, no qual misturaram sorte e competência para reunir um punhado de pessoas brilhantes na produção de uma obra-prima. Depois o próprio Ridley Scott não conseguiu fazer nada tão bom ou próximo disso.
Blade Runner 2049 mostrou sua razão de ser. O mundo é um lugar melhor com a existência desse filme. E abriu as portas de vez para uma franquia que agora ninguém mais vai torcer o nariz.
Kingsman, O Círculo Dourado, é uma decepção. Gostei muito do primeiro filme por ter trazido de volta a diversão para a espionagem escapista, ao melhor estilo camp do Bond de Roger Moore, mas numa versão 2.0, enquanto o Bond de Daniel Craig vivia deprimido. Mas esse segundo filme tenta ser maior e melhor e geralmente fracassa. Na verdade, assistimos a uma colcha de retalhos. O roteiro é uma bagunça (há informações de que foi reescrito durante as filmagens). A trama não faz o menor sentido. Há planos ou estratégias rocambolescos que cansam o espectador, ou seja, uma barriga totalmente desnecessária. Poucos diálogos são realmente engraçados. O elenco incrível é mal utilizado. É uma pena ver Julianne Moore fazer uma vilã sem tanto brilho. Ela não está se divertindo no papel. Jeff Brigdes faz uma participação bidimensional de luxo, sem nenhuma personalidade. Os outros atores e atrizes se esforçam, cativam a gente em seus melhores momentos e nos irritam em seus piores, em maior número. A misoginia está pior do que no filme anterior. Agora O Círculo Dourado não é uma bomba. A fotografia é bonita. O desenho de produção é caprichado. A montagem, quando funciona, sabe ser paciente e também dinâmica e criativa. Os efeitos especiais e sonoros impressionam (a sequência de ação final é muito divertida), apesar de exagerados nas sequências de ação que não funcionam, ficando com cara de videogame. A unanimidade é o cameo de Elton John, cantando e chutando bundas. Nota 5.
O novo IT é mais divertido do que assustador. Não li o livro nem vi a minissérie. Portanto, fui praticamente verde para o filme. Não assusta tanto porque o CGI prejudica a "textura do terror", digamos assim, tornando tudo muito limpo. Os melhores momentos de tensão acontecem quando a performance live action de Bill Skarsgård como Pennywise fica em primeiro plano. Edição, efeitos sonoros e música se esforçam para assustar, mas perdem frequentemente no timing ou na criatividade, apresentando soluções já vistas antes. O forte do filme é a interação entre os garotos. A química é perfeita e os diálogos são deliciosos. Nesse quesito, é superior a Stranger Things. Em IT, as angústias da infância (bullying, problemas familiares, de autoestima, paixonites...) são mostrados de uma maneira mais aprofundada, com mais nuances. Ao mesmo tempo, o filme está cheio de clichês narrativos, principalmente, relacionados à única personagem feminina relevante na trama: síndrome de smurfete, damsel in distress, trophy girl e a por aí vai. Além de ser um pouco longo com seus 135 min. Nota: 7.
Tinha tudo para ser um filmaço, mas a promessa ficou no meio do caminho. Luc Besson apostou alto e perdeu, tanto do ponto de vista criativo quanto financeiro. Teve ambição. Produziu, dirigiu e escreveu. Só que se aproximou mais do George Lucas dos prequels de Star Wars do que do James Cameron de Titanic e Avatar. Besson estava apaixonado demais pelo seu projeto dos sonhos para perceber as falhas. Resultado: o espectador, com bastante paciência, tem que garimpar para ver o que há de melhor em Valerian. Apesar de seus graves problemas, o filme deve ser visto no cinema. Traz conceitos e visuais que você só verá nele, de maneira deslumbrante.
Luc Besson é um diretor brega e piegas, mas já mostrou que sabe criar mundos fora dos padrões e personagens imprevisíveis e cativantes. Nikita ainda é seu melhor trabalho. Um filme de ação francês dos anos 90, cruel, punk, que chamou a atenção de Hollywood pela maneira nada moralista de fazer entretenimento à maneira americana. O Profissional já mostra um Besson mais domesticado. Mas ainda assim, o filme é perverso. Uma história de amor violenta e pra lá de controversa, nas entrelinhas. Em O Quinto Elemento, seu projeto mais ambicioso até então, acompanhamos uma divertida homenagem à ficção científica europeia.
Visualmente, Valerian é seu filme mais maduro e sofisticado. A abertura, ao som de David Bowie, mostrando a origem de Alpha, a Cidade dos Mil Planetas, é empolgante. E o primeiro terço do filme mostra mais qualidades do que defeitos. Apesar da falta de carisma da dupla protagonista e dos diálogos ruins, o espectador compra a ideia com sua trama basicona e ágil e a estranheza da visão europeia do que é ficção científica no cinema, em seus cenários e criaturas. A sequência do deserto, em que a ação acontece em universos paralelos simultaneamente, é original e muito bem executada.
A todo momento, assistindo ao filme, pensamos: isso é Star Wars, aquilo é Star Wars. Além de outras referências, como Matrix e Avatar. Mas, na verdade, devemos lembrar que Valerian é inspirado nos quadrinhos clássicos de mesmo nome, da dupla Pierre Christin e Jean Claude Mézières. Referências do próprio George Lucas para a criação do seu universo (alguns dizem que foi roubo de conceitos descarado). Com a adaptação de Valérian, agent spatio-temporel (mais tarde rebatizada de Valérian et Laureline), Luc Besson finalmente pôde realizar um sonho de infância.
Valerian apresenta uma visão mais ingênua e otimista de uma FC cheia de raças alienígenas e conflitos de interesses. O clima é de sessão da tarde. Mas, no geral, o filme se torna mais ousado do que Star Wars. Primeiro, no visual mais pirado e lisérgico. Segundo, ao dar maior relevância aos personagens aliens. Aqui eles são parte importante da trama e muitas vezes superam a performance dos personagens humanos.
Os maiores problemas de Valerian são o roteiro, cheio de furos, diálogos terríveis, humor pouco eficiente, subtramas confusas ou desinteressantes, e exposição desnecessária ou repetitiva. O elenco mal escalado ou mal dirigido. E a duração do filme, 137 minutos. Podiam ter cortado uns 30 minutos. Era para ser um ser um filme mais ágil. Assim seu subtexto anti-guerra ganharia maior relevância. Porque o espectador sai meio esgotado da experiência. Parece que Luc Besson teve pena de cortar aquelas cenas deletadas que vão para o Blue-Ray.
Afinal, vale o ingresso? Para fãs de FC, o filme é obrigatório. Não saí do cinema puto da vida. Já sabia mais ou menos o que esperar. Mesmo assim, fui surpreendido com os melhores momentos.
Finalmente, vi "Homem-Aranha: De Volta ao Lar". Filme divertido e muito próximo do Aranha dos quadrinhos. Tom Holland é o melhor Peter Parker de todos, um moleque agindo como um moleque. Mas o segundo filme de Sam Raimi ainda é meu preferido por ter um impacto emocional forte e um vilão trágico. O novo filme do Aranha está antenado com os novos tempos. É inteligente em apostar na diversidade. O Abutre de Michael Keaton é uma ameaça convincente. Entrou no time de futebol de salão de bons vilões da Marvel. Montagem e fotografia ora criativas, ora genéricas. O forte do roteiro são os diálogos. No geral, os efeitos especiais causam impacto, mas algumas movimentações do Aranha estão bem fakes. Gostei da trilha nervosa de Michael Giacchino. E os créditos finais são os mais legais da Marvel, ao som de Blitzkrieg Bop, dos Ramones. Agora podiam ter cortado uns vinte minutos do filme. Ficou longo demais. Nota: 7.5
80% do filme funciona muito bem (humor, ação, drama, efeitos especiais, fotografia, direção de arte, ritmo, atuações). 20% estragam a experiência (vilões caricatos, CGI exagerado em algumas cenas, principalmente, na luta final, algum melodrama). Um belo filme anti-guerra com super-heróis. Gadot arrebenta como Mulher Maravilha. Saí feliz do cinema.
Um filme dirigido pelo mestre Michael Mann, só que infelizmente é bem fraquinho. Montagem confusa e largadona. Tá na cara que rolaram problemas na produção pela falta de vigor dos envolvidos. Os personagens são mal escritos e interpretados. O visual apurado está lá, mas a trama não ajuda. O ritmo melhora do meio pro final, há uma intensa sequência de ação no estilo Michael Mann, mas nada disso salva o filme.
Corra! é um filme brilhante. A intenção do diretor e roteirista Jordan Peele era promover uma reflexão sobre a condição do negro americano por meio de uma sátira, uma mistura de terror psicológico e comédia. Também podemos dizer que este é um dos melhores filmes de ficção científica dos últimos anos.
O hype é real. Principalmente, porque Peele conseguiu mostrar seu ponto de vista sem comprometer, em nenhum momento, o envolvimento do espectador com a narrativa, a trama. Corra! faz a gente pensar justamente por causa de sua história muito bem contada. Ao acompanharmos o horror passado pelo protagonista, entendemos todos os temas relevantes levantados pelo filme. O que é estar na pele de uma pessoa negra. Qual a ameaça que isso representa para sua própria vida pelo simples fato de você ser negro.
A grande sacada aqui não é mostrar antagonistas explicitamente racistas, gente que odeia pessoas negras, que quer matá-las violentamente. O contrário é mais assustador. Em Corra! os brancos adoram, idolatram os negros. Mas sua versão distorcida de admiração gera uma violência ainda mais perturbadora. Na verdade, esse fascínio pela figura do negro é superficial. Porque, mais uma vez, a dignidade de pessoas negras é tratada como coisa de quinta categoria, algo a ser descartado.
Os temas de Corra! são muito sérios. Mas o filme é engraçado demais! Entenda: o humor não é de jeito nenhum leviano, insensível, inapropriado ou fora de lugar. Jordan Peele é um comediante muito famoso nos EUA. Ele é um dos criadores e protagonistas de Key & Peele, um programa no Comedy Central. É imperdível. No show, Peele faz diversos comentários sobre a condição do negro americano em esquetes hilários e afiados. Inclusive, alguns dos esquetes são bem assustadores, verdadeiras peças de comédia do absurdo.
Então os fãs de Key&Peele podem ver em Corra! uma versão apurada das possibilidades de fazer terror, comédia e nonsense de Peele. É impressionante como no filme o terror não atrapalha a comédia e vice-versa. A habilidade do diretor em mudar o tom é mais um elemento que fez dessa produção barata um enorme sucesso de bilheteria. Custou US$4,5 milhões e até agora faturou mais US$ 214 milhões. Outro triunfo é a escalação do elenco. Todos estão muito bem, novatos, desconhecidos e veteranos. O britânico Daniel Kaluuya faz o protagonista, o americano Chris, de forma tão convincente, com expressões faciais e corporais discretas, mas marcantes. A performance de Catherine Keener é magnética, numa atuação contida e poderosa. Outro destaque é o comediante Lil Rel Howery, no papel do melhor amigo de Chris. Ele rouba todas as cenas em que aparece.
Mas Corra! também tem seus problemas. Peele foi muito feliz em investir mais no terror psicológico, em mexer mais com nossas cabeças, do que no gore. Mas não evitou certos clichês do terror, certos sustos, principalmente, usando a trilha sonora macabra (aliás, excelente e original, com elementos hitchockianos, um toque de blues, R&B e música africana, sem estereótipos). E no terceiro ato, quando tudo é revelado ao espectador, coisas fazendo sentido, outras não. A grande revelação faz sentido. O motivo de Chris estar no meio daquela gente branca tão educada e amistosa. Mas outras revelações laterais não se encaixam, poderiam ter um rumo diferente, um melhor desenvolvimento, mais de acordo com o propósito dos antagonistas. Sim, estou falando dos outros personagens negros daquela comunidade.
Na sua estreia como diretor, Jordan Peele surpreende por sua segurança e ambição. Ele é um cinéfilo. Percebemos isso ao longo da trama, com suas referências a clássicos da ficção científica e do terror.
Corra! é um filme que nunca vimos antes. É uma poderosa reflexão sobre as várias faces do racismo no formato de uma sátira divertida e assustadora.
Guardiões da Galáxia vol.2 é divertido, mas inferior ao primeiro filme. Minha expectativa era de assistir a uma sequência ainda mais engraçada, com cenas de ação ainda mais elaboradas e com efeitos especiais ainda mais deslumbrantes. Há ótimas piadas, as cenas de ação são de tirar o fôlego e os efeitos evoluíram. Mas o filme é uma bagunça. Não tem a coesão e o ritmo do anterior. Nesse vol.2, praticamente, temos dois filmes distintos. Na primeira metade, depois da cena de ação inicial, a coisa desacelera a tal ponto que tudo fica chato. Acompanhamos os guardiões interagirem entre si e com outros personagens, dando-se espaço para refletirem sobre a relação do grupo e enfrentarem demônios do passado. O diretor e roteirista James Gunn quis ser ambicioso em sua tentativa de dar maior relevância a uma produção marcada pela diversão sem compromisso. O primeiro filme não teve nenhuma vergonha em ser brega, com suas cores berrantes, humor escrachado e trilha sonora dos anos 70 e 80. Mas agora, ao tentar fazer dos guardiões figuras menos cartunescas, mais profundas, o filme acabou ficando piegas. Só quando chegamos à sua segunda metade é que o tom característico da franquia volta para os trilhos de vez. Você chora de rir com diálogos inspirados e piadas visuais certeiras, fica besta com as cenas de ação épicas e os efeitos especiais são melhor aproveitados em função da trama. Baby Groot e Yondu roubam a cena. Baby Groot é diversão garantida com sua ingenuidade de criança raivosa. E o Yondu de Michael Rooker é o único personagem com um arco emocional convincente. Os vilões dourados que vimos nos trailers são inúteis e quase inofensivos. Mas o vilão de verdade é um dos melhores do MCU. Só que faltou a ele maior tempo de tela. Outro problema foi repetirem o maior erro de Era de Ultron, perder tempo preparando o terreno para futuras produções da Marvel. Mas o saldo de Guardiões da Galáxia vol.2 é positivo. Quando uma partida de futebol tem um primeiro tempo morno e um segundo tempo empolgante, fica a sensação de que, apesar da raiva que passamos, valeu a pena torcer até o final.
Baahubali - O Início é um filme indiano de 2015. É uma super produção que fez muito sucesso dentro e fora da Índia. É uma história cheia de clichês sobre O Escolhido para libertar seu povo das garras de um tirano. Mas o que faz de Baahubali divertidíssimo é sua falta de pudor em seus excessos. É um filme hollywoodiano que Hollywood tem medo de fazer, por misturar tanta coisa (ação, drama, comédia, musical , fantasia épica). Tudo bem que há comédia involuntária, algumas cenas de ação são nível Dragonball e o melodrama às vezes pesa. Mas, por outro lado, há sequências de ação ambiciosas, a comédia intencional funciona e os personagens são muito cativantes. Além disso, é bem interessante ver uma fantasia baseada na cultura indiana feita por indianos, na frente e atrás das câmeras. É uma produção bonita de ver. Minhas ressalvas ficam para o machismo e o racismo do filme. Apesar das mulheres protagonistas serem guerreiras e soberanas fortes, no final, o herói, o salvador, é um homem. E as mulheres só servem para ser a mãe ou a amada dele. Há intrigas internas, palacianas, mas também uma ameaça externa, um povo bárbaro de pele escura. Este povo ganha o mesmo tratamento que os orcs da trilogia O Senhor dos Anéis. Baahubali termina com um gancho monstro. A segunda parte, The Conclusion, foi lançada nos cinemas da Índia e de outros países este mês. O Início está disponível na Netflix.
O filme tem algumas das melhores cenas de ação de todo o universo de GintS. As questões levantadas sobre a vida útil dos ciborgues são interessantes e trazem de volta a discussão filosófica da relação homem/máquina.
Hunt for the Wilderpeople é uma comédia road movie, na verdade, bush movie, dirigida e escrita pelo agora badalado Taika Waititi, o diretor de Thor Ragnarok. Hunt... é uma produção pequena, mas muito bem executada, o que acaba elevando sua qualidade técnica. A fotografia mostra as florestas da Nova Zelândia em toda sua majestade e perigo. A montagem é muito feliz em acompanhar as mudanças de humor dos personagens, acelerando e segurando o ritmo sempre que necessário. A incrível trilha sonora se encaixa muito bem com os acontecimentos, principalmente, no tom de paródia aos filmes de sobrevivência. A grande estrela aqui é o garoto Julian Dennison. O seu Ricky Baker é engraçado, cheio de atitude e rebeldia. Órfão, rejeitado pelo sistema, ele tenta ser um delinquente, mas seu coração é bom demais para isso. E Sam Neil está ótimo como o rabugento Hec. As aventuras dos dois são divertidas e cheias de sentimento, numa relação de amor e ódio que não é tão previsível. Os diálogos são impagáveis, tanto na malandragem ingênua de Ricky quanto na rabugice vivida de Hec. A ressalva fica para os "vilões", muito cartunescos. Estão ali apenas para causar o conflito, fazer a trama andar. Hunt for the Wilderpeople é um filme diferente por seu humor, referências culturais e paisagens tão ligados à Nova Zelândia. Majestical.
Fui meio que obrigado a ver A Bela e a Fera. E para minha surpresa, gostei do filme. Na véspera, vi a animação clássica pela primeira vez. Não curti muito. Talvez seja pedir demais de uma animação dos anos 90, mas o roteiro é fraquinho e apressado. Sem falar no incômodo de ver Bela ser encurralada a cada cinco minutos por assédios de todo tipo. Há visuais deslumbrantes e personagens carismáticos. Mas não é tão cativante quanto outras animações dos anos 90, como Aladin e O Rei Leão. Já o filme A Bela e a Fera pega a plataforma narrativa da animação e a torna mais complexa. Furos na trama são preenchidos e personagens ganham novas camadas. É um filme que luta consigo mesmo entre ser antiguado e contemporâneo. É um musical convencional, mas que tenta valorizar a diversidade; apesar das opiniões dividas a respeito de LeFou, com gente ainda o achando caricato e outros o considerando como uma corajosa tentativa de não demonizar um personagem gay. Temos uma Bela feminista. Como o cenário é típico de contos de fadas, seu comportamento progressista faz um contraste interessante. Uma mulher decidida desafiando uma sociedade conservadora. A produção transporta o espectador para um mundo mágico convincente e rico em detalhes; apesar do uso excessivo de personagens digitais em primeiro plano. Na superfície, é um filme bonito de ver, divertido e que trata de temas relevantes. Mas, no fundo, quando pensamos melhor na relação entre Bela e a Fera, fica a sensação de que há algo de errado.
A Disney sempre fez excelentes animações. Mas esse A Bela e a Fera não me conquistou. Trama forçada, resolvida muito rapidamente. A Disney já soube contar histórias cheias de acontecimentos num filme curto, como em O Rei Leão. Em A Bela e a Fera, há personagens carismáticos (os criados), o design da Fera e do interior do castelo são bem bacanas, a fotografia tem momentos deslumbrantes e os números musicais do jantar de Bela com os móveis e do baile apenas com Bela e Fera são as melhores partes do filme.
Gone in 60 Seconds é um filme sobre roubo de carros de 1974. É um cult movie que fez grande sucesso na época. Custou 150 mil dólares e rendeu 40 milhões. H.B. Halicki produziu, dirigiu, escreveu, estrelou e foi dublê nas perseguições de carro. E o filme é lendário por sua perseguição final de 40 minutos!!!, na qual 93 carros foram destruídos. No geral, é bem fraquinho. Atuações amadoras, montagem truncada, edição de som bizarra, trilha sonora básica, fotografia apenas ok, diálogos ruins, roteiro irrelevante (na verdade, não havia roteiro, apenas os diálogos). Mas a famosa perseguição final é impecável. Tudo o que não funcionou no resto do filme é muito bem executado nesse perseguição épica. E a estrela do filme é um Mustang amarelo, chamado Eleanor, o único nome que aparece nos créditos do elenco. Halicki morreu em 1989, num acidente durante as filmagens da sequência. Em 2000, a viúva de Halicki e o produtor Jerry Bruckheimer fizeram um remake com Angelina Jolie e Nicolas Cage. Também foi um sucesso de bilheteria, mas é esquecível. Mesmo o original sendo uma produção independente, quase amadora, torna-se superior ao blockbuster por mostrar um retrato mais cru e realista do submundo dos ladrões de carro e por ser um filme de ação mais visceral, nos seus melhores momentos.
Filme hilário e brilhante. É um mockumentary sobre um grupo de vampiros que vivem na Nova Zelândia atual. Eles dividem uma casa, como se fossem colegas de uma república. Entre os afazeres domésticos e a caça às suas vítimas, conhecemos mais sobre a personalidade e o passado de cada um por meio de depoimentos. A grande sacada do filme é que tudo é levado na brincadeira, mas sem esquecer a atmosfera decadente de terror. É engraçado pelo contraste entre a mentalidade secular dos vampiros e a complexidade da vida moderna. Mas também é melancólico e profundo. Porque aqui ser vampiro significa, principalmente, solidão e isolamento. Os efeitos especiais se encaixam perfeitamente com a proposta de paródia, sendo executados de maneira soberba para uma produção tão barata. E há momentos sombrios e brutais. Os diretores e roteiristas Jemmaine Clement (o cara de óculos da série Flight of the Conchords) e Taika Waititi (ótimo ator e diretor de Thor Ragnarok - esse cara vai longe) simplesmente fizeram um dos melhores filmes de vampiro de todos os tempos.
Que filme violento. Mas todo aquele sangue, membros decepados, empalações, rasgos e feridas, tudo tem muito a ver com o Wolverine dos quadrinhos. O cara que se arrebenta todo para proteger quem ele ama. E ele é um animal. Fere e mata seus inimigos da maneira mais brutal possível. Na verdade, Wolverine é uma figura trágica. Uma máquina de matar que se importa. Por isso, a dor e o drama. O filme é sujo e quase sem esperança. Mas, curiosamente, transborda emoção. Na antiga relação entre Logan e Charles. E na nova relação deles com a pequena Laura/X-23. O trio protagonista arrasa em carisma e carga dramática. Nunca vi Wolverine e o Professor X tão bem no cinema. Justamente porque aqui eles se tornam Logan e Charles, com o lado humano deles mais exposto. Os dois estão mais vulneráveis. Suas figuras alquebradas nos afetam bastante. Por outro lado, a fúria de X-23 deixa o espectador boquiaberto. A produção é de primeira. Fotografia e montagem dão mais tempo para a ação se desenvolver e ser mostrada de maneira clara e vibrante. A trilha sonora cumpre bem a função de intensificar a tensão e o perigo. Os efeitos especiais (digitais e práticos) e sonoros são muito convincentes em passar a brutalidade de cada cena. Também há um humor nervoso e boca suja, que funciona melhor do que certas gracinhas nas produções do MCU. Agora, por que Logan é muito bom e não um filmaço? Erros bem chatos comprometem uma melhor avaliação. Os vilões têm presença, só que eles são menos poderosos do que os mocinhos (Charles está doente, mas ainda é poderosíssimo, além de outros personagens do bem), e isso nunca é interessante. O filme é muito longo, 137 minutos. Cortar 15 a 20 minutos amarraria melhor a trama. Muitas convenções narrativas são quebradas. Ainda assim certos recursos batidos são usados, principalmente, na luta final. Já vimos aquilo em outros filmes dos X-Men. Logan acerta numa abordagem mais realista. Porém acaba limitando o lado super-herói da coisa. Até O Cavaleiro das Trevas, com sua pegada policial, nunca deixou de ser um filme do Batman. Mas o saldo é bem positivo. Logan é corajoso, visceral, uma nova maneira de fazer filmes de super-heróis.
comédia indie com trilha bacaninha que questiona o sentido da vida. O humor bizarro não chega ao nível dos irmãos Coen, mas tem seus bons momentos. O terceiro ato é sombrio. Mas está longe de explodir sua cabeça, como faz um David Lynch. Mesmo assim vale a pena.
Moonlight ganhou o Oscar de melhor filme. No final, a gafe histórica da troca de envelopes deu ainda mais emoção ao anúncio do verdadeiro vencedor.
A Academia premiou um filme que olha para o futuro, tanto na temática quanto na execução. Moonlight é um vigoroso estudo de personagem. Um filme com substância, honesto e sábio. E realizado com ousadia. Roteiro, montagem, fotografia, trilha sonora, atuações. Elementos combinados para quebrar tabus e estereótipos. Não foi feito para ganhar Oscar, mas acabou levando. E esse é o papel da premiação. Indicar e premiar o que de melhor o cinema americano pode produzir.
Esta história de "filme feito para ganhar Oscar" tem que acabar. Geralmente, são produções com linguagens cansadas e esquecíveis. Os filmes relevantes têm que ser produzidos e cabe à Academia encontrá-los. Em meio à máquina de moer gente de Hollywood, a função da Academia é inspirar pessoas a dar o seu melhor como cineastas e seres humanos.
Finalmente vi Doutor Estranho. O filme é bom, mas poderia ser incrível. A tarefa de apresentar o lado místico do MCU foi cumprida. O filme vai além de Matrix e Inception nas possibilidades visuais. A primeira viagem multidimensional do Doutor é um deleite de cores, formas e bizarrices. E alguns combates com a realidade distorcida são bem originais. Mas lá pelo meio a criatividade acaba e vemos algo mais conservador, como o primeiro Thor e o primeiro Capitão América. Faltou mais psicodelia. Na verdade, o visual está ali, de fato, para maravilhar crianças a adultos com a concepção usual do que é fantasia. O roteiro fraquinho não ajuda. O ritmo é irregular, ora apressado, ora lento demais. O humor oscila entre eficiente e fora de lugar, irritante. Os personagens são genéricos, mocinhos e vilões. Exceto o próprio Cumberbatch, bastante charmoso. Apesar de ser esquisito vê-lo representar uma arrogância americana, mais vulgar. Mesmo com a polêmica do whitewashing, Tilda Swinton tem presença física e um arco relevante. O ótimo Mads Mikkelsen se vira como pode com mais um vilão decepcionante da Marvel. Ele é convincente em mostrar conflito e ameaça. Mas sua agenda é ingênua. E não posso esquecer da Capa da Levitação, um personagem mais interessante do que quase todo o elenco. A Marvel terá coragem de pirar mais com seu universo místico ou sempre haverá um limite confortável?
Swiss Army Man é o filme mais filosófico sobre peido que você vai encontrar. Na verdade, flatulências são mais uma metáfora no caleidoscópio de significados dessa produção, ao mesmo tempo, tão vulgar e poética. Tecnicamente, o filme é perfeito. A fotografia é bonita sem ser artificial. A montagem é dinâmica, mas não parece videoclipe. Na maior parte do tempo, o ritmo sabe balancear bem momentos de contemplação e de comédia alucinada. A trilha sonora é outro triunfo, numa mistura de melancolia e êxtase. Inclusive vemos aqui uma espécie de musical, bem fora dos padrões. Os efeitos especiais e sonoros são loucos. Acontece um absurdo atrás do outro, mas você compra cada ideia. São muito bem executados e criativos. Paul Dano arrasa mais uma vez, numa performance exigente, sutil, cheia de camadas emocionais. E Daniel Radcliffe prova finalmente que existe vida após Harry Potter. Como um cadáver filosófico peidão, ele mostra que é um ator completo. É divertido na comédia e convincente no drama. E seu trabalho de corpo é incrível. Os diretores disseram que fizeram Swiss Army Man para mostrar sua versão de coisas que odeiam, como piadas de peido no cinema, musicais e filmes de superação, como Náufrago. O título original faz referência ao personagem de Radcliffe, um "canivete suíço humano".
Depois de muitos anos, revi Os Aventureiros do Bairro Proibido, do mestre John Carpenter. Um filme obrigatório na Sessão da Tarde. Muitas vezes, não é uma boa ideia revisitar coisas amadas do passado, na infância e na adolescência. A decepção pode ser difícil de suportar. Mas também é tão legal quando o sonho não acaba. Revi Os Aventureiros… na Netflix com a dublagem clássica, que para mim já faz parte do filme.
Continua divertido. As falhas agora ficaram mais evidentes, principalmente, o roteiro basicão (com uma ligação rasa e apressada dos eventos), além do machismo que coloca donzelas em perigo. O barato são os diálogos bregas e a mise-en-scène pop sem pé nem cabeça, com artes marciais, monstros subterrâneos e alta magia.
O filme é uma mistura de estereótipos e homenagens à cultura chinesa. Com um elemento ousado para os anos 80 de Reagan: o herói de ação é o sidekick chinês, enquanto que o protagonista branco é o alívio cômico. Os efeitos especiais, a maquiagem e a trilha sonora marcaram toda uma geração de fãs.
Blade Runner 2049
4.0 1,7K Assista AgoraEu queria muito estar errado, mas infelizmente minhas previsões se confirmaram. A sequência de Blade Runner é um bom filme com um visual espetacular, mas inferior a outras produções recentes igualmente ambiciosas, como Mad Max – Estrada da Fúria e A Chegada, do próprio Denis Villeneuve.
Quando anunciaram que haveria uma continuação de Blade Runner, a reação de muitos foi de total descrédito. As lacunas do filme original não precisavam ser respondidas. Quer dizer, vamos ter em mente as muitas versões lançadas ao longo dos anos. A versão que foi para o cinema, em 1982, com a narração de Harrison Ford e o final feliz, mora no meu coração por ter sido a que mais revi, ainda em VHS, depois em DVD. A versão considerada por Ridley Scott como definitiva, The Final Cut, de 2007, também me agrada bastante por ser mais madura e subjetiva.
A melhor maneira de apreciar o filme de Villeneuve é ter visto as versões de 1982 e 2007, lido o romance que originou tudo, Androides Sonham com Ovelhas Elétricas?, de Philip K. Dick e ter visto os três curtas lançados antes da estreia do novo Blade Runner, que servem como prelúdios para contextualizar o que aconteceu em Los Angeles (e no mundo) entre 2019 e 2049.
O canadense Denis Villeneuve já se firmou como um dos diretores mais interessantes em atividade, um mestre. Alguém que tem um controle absurdo da mise-en-scène, que sabe deixar o espectador instigado, tenso e mesmerizado. Seus filmes são visualmente desafiadores e provocam a reflexão. Em Blade Runner 2049, um projeto cheio de expectativas e pressões, ele se saiu bem. Entregou uma produção de grande estúdio acima da média, corajosa em bancar uma narrativa mais lenta, em tratar de temas complexos sem muitas concessões.
Não me entendam mal. O filme é bonito e relevante. A fotografia do veterano Roger Deakins é quase indecente de tão esmerada, em tomadas fechadas e abertas, em cores quentes e frias. Os efeitos especiais e sonoros estão totalmente integrados a essa evolução do universo de Blade Runner, com um desenho de produção que soube repaginar o clima noir original para um mundo parte tecnologicamente mais avançado, parte mais apocalíptico. Ryan Gosling carrega o filme nas costas. Seu personagem tem um arco emocional de fundir a cabeça de qualquer um. E ele nos leva junto nessa jornada cheia de dor física e mental. O Deckard coroa de Harrison Ford está ótimo, numa performance muito superior ao Han Solo de O Despertar da Força. Robin Wright, como a chefe do personagem de Gosling na polícia, Ana de Armas, a namorada virtual dele, e Sylvia Hoeks, a braço direito do personagem de Jared Leto, também são presenças marcantes.
Mas o filme tem três problemas: o roteiro, a duração e a trilha sonora. Problemas graves que comprometem as ideias, a coesão e a estética de Blade Runner 2049.
O maior mérito do roteiro foi manter a coisa simples, não investir em grandes conspirações nem em preparar uma futura franquia. Algumas pontas ficam soltas para uma possível sequência, mas isso não compromete a trama. Hampton Fancher (um dos roteiristas do original) e Michael Green (roteirista do ótimo Logan, mas das bombas Lanterna Verde e Alien: Covenant) mantiveram o clima de filme policial, de investigação.
O roteiro aprofunda a questão dos replicantes. Temos aqui um cenário mais complexo e variado, em que temas como preconceito, identidade e escolha são mais urgentes do que no primeiro filme. Mas essa discussão para no meio do caminho pelos equívocos narrativos. Os personagens coadjuvantes são menos interessantes em comparação aos do primeiro filme. A entrada de K, o personagem de Gosling, na história, com a ótima participação de Dave Bautista, é muito conveniente. A subtrama envolvendo a doutora Stelline, a criadora de memórias, me incomodou bastante. Analisando em retrospectiva, não faz muito sentido. E o dilema de ser ou não ser humano foi melhor trabalhado recentemente no filme Ex-Machina e na série Westworld, por exemplo.
Para frustração dos fãs, o aspecto religioso do romance por meio do mercerismo, uma espécie de cristianismo midiático, não foi explorado. Mas talvez a semente tenha sido plantada para ser desenvolvida mais adiante.
Não tenho problema com filmes lentos e longos. Adoro Tarkosvky. Mas, em Blade Runner 2049, 163 minutos se mostraram excessivos. Em certos trechos, os diálogos estão menos inspirados ou o silêncio não causa tanto impacto visual e sonoro.
Depois que Villeneuve foi confirmado como diretor desse filme, fiquei curioso para ver como seu compositor de longa data, o islandês Jóhann Jóhannsson, trabalharia musicalmente o universo de Blade Runner, tendo a icônica trilha sonora de Vangelis para assombrá-lo. Fiquei imaginando o que Jóhannsson poderia criar depois da música assustadora de Sicario e do mistério e da estranheza de A Chegada. Mas, poucos meses antes da estreia, Jóhannsson abandonou o filme, numa história ainda não explicada direito. Então os produtores recorreram ao onipresente Hans Zimmer, às pressas. Ele e seu pupilo Benjamin Wallfisch (responsável pela trilha do novo IT) fizeram uma música que fica entre uma imitação de Vangelis e a trilha do Batman de Nolan, numa pegada eletrônica, investindo mais em sintetizadores. É uma trilha eficiente em seus melhores momentos e irritante em seus piores. Não é memorável. Esse filme precisava de uma trilha sonora memorável.
O Blade Runner de 1982 foi um raro momento do cinema, no qual misturaram sorte e competência para reunir um punhado de pessoas brilhantes na produção de uma obra-prima. Depois o próprio Ridley Scott não conseguiu fazer nada tão bom ou próximo disso.
Blade Runner 2049 mostrou sua razão de ser. O mundo é um lugar melhor com a existência desse filme. E abriu as portas de vez para uma franquia que agora ninguém mais vai torcer o nariz.
Kingsman: O Círculo Dourado
3.5 885 Assista AgoraKingsman, O Círculo Dourado, é uma decepção. Gostei muito do primeiro filme por ter trazido de volta a diversão para a espionagem escapista, ao melhor estilo camp do Bond de Roger Moore, mas numa versão 2.0, enquanto o Bond de Daniel Craig vivia deprimido. Mas esse segundo filme tenta ser maior e melhor e geralmente fracassa. Na verdade, assistimos a uma colcha de retalhos. O roteiro é uma bagunça (há informações de que foi reescrito durante as filmagens). A trama não faz o menor sentido. Há planos ou estratégias rocambolescos que cansam o espectador, ou seja, uma barriga totalmente desnecessária. Poucos diálogos são realmente engraçados. O elenco incrível é mal utilizado. É uma pena ver Julianne Moore fazer uma vilã sem tanto brilho. Ela não está se divertindo no papel. Jeff Brigdes faz uma participação bidimensional de luxo, sem nenhuma personalidade. Os outros atores e atrizes se esforçam, cativam a gente em seus melhores momentos e nos irritam em seus piores, em maior número. A misoginia está pior do que no filme anterior. Agora O Círculo Dourado não é uma bomba. A fotografia é bonita. O desenho de produção é caprichado. A montagem, quando funciona, sabe ser paciente e também dinâmica e criativa. Os efeitos especiais e sonoros impressionam (a sequência de ação final é muito divertida), apesar de exagerados nas sequências de ação que não funcionam, ficando com cara de videogame. A unanimidade é o cameo de Elton John, cantando e chutando bundas. Nota 5.
It: A Coisa
3.9 3,0K Assista AgoraO novo IT é mais divertido do que assustador. Não li o livro nem vi a minissérie. Portanto, fui praticamente verde para o filme. Não assusta tanto porque o CGI prejudica a "textura do terror", digamos assim, tornando tudo muito limpo. Os melhores momentos de tensão acontecem quando a performance live action de Bill Skarsgård como Pennywise fica em primeiro plano. Edição, efeitos sonoros e música se esforçam para assustar, mas perdem frequentemente no timing ou na criatividade, apresentando soluções já vistas antes. O forte do filme é a interação entre os garotos. A química é perfeita e os diálogos são deliciosos. Nesse quesito, é superior a Stranger Things. Em IT, as angústias da infância (bullying, problemas familiares, de autoestima, paixonites...) são mostrados de uma maneira mais aprofundada, com mais nuances. Ao mesmo tempo, o filme está cheio de clichês narrativos, principalmente, relacionados à única personagem feminina relevante na trama: síndrome de smurfete, damsel in distress, trophy girl e a por aí vai. Além de ser um pouco longo com seus 135 min. Nota: 7.
Valerian e a Cidade dos Mil Planetas
3.1 580 Assista AgoraValerian: um filme ruim, mas imperdível
Tinha tudo para ser um filmaço, mas a promessa ficou no meio do caminho. Luc Besson apostou alto e perdeu, tanto do ponto de vista criativo quanto financeiro. Teve ambição. Produziu, dirigiu e escreveu. Só que se aproximou mais do George Lucas dos prequels de Star Wars do que do James Cameron de Titanic e Avatar. Besson estava apaixonado demais pelo seu projeto dos sonhos para perceber as falhas. Resultado: o espectador, com bastante paciência, tem que garimpar para ver o que há de melhor em Valerian. Apesar de seus graves problemas, o filme deve ser visto no cinema. Traz conceitos e visuais que você só verá nele, de maneira deslumbrante.
Luc Besson é um diretor brega e piegas, mas já mostrou que sabe criar mundos fora dos padrões e personagens imprevisíveis e cativantes. Nikita ainda é seu melhor trabalho. Um filme de ação francês dos anos 90, cruel, punk, que chamou a atenção de Hollywood pela maneira nada moralista de fazer entretenimento à maneira americana. O Profissional já mostra um Besson mais domesticado. Mas ainda assim, o filme é perverso. Uma história de amor violenta e pra lá de controversa, nas entrelinhas. Em O Quinto Elemento, seu projeto mais ambicioso até então, acompanhamos uma divertida homenagem à ficção científica europeia.
Visualmente, Valerian é seu filme mais maduro e sofisticado. A abertura, ao som de David Bowie, mostrando a origem de Alpha, a Cidade dos Mil Planetas, é empolgante. E o primeiro terço do filme mostra mais qualidades do que defeitos. Apesar da falta de carisma da dupla protagonista e dos diálogos ruins, o espectador compra a ideia com sua trama basicona e ágil e a estranheza da visão europeia do que é ficção científica no cinema, em seus cenários e criaturas. A sequência do deserto, em que a ação acontece em universos paralelos simultaneamente, é original e muito bem executada.
A todo momento, assistindo ao filme, pensamos: isso é Star Wars, aquilo é Star Wars. Além de outras referências, como Matrix e Avatar. Mas, na verdade, devemos lembrar que Valerian é inspirado nos quadrinhos clássicos de mesmo nome, da dupla Pierre Christin e Jean Claude Mézières. Referências do próprio George Lucas para a criação do seu universo (alguns dizem que foi roubo de conceitos descarado). Com a adaptação de Valérian, agent spatio-temporel (mais tarde rebatizada de Valérian et Laureline), Luc Besson finalmente pôde realizar um sonho de infância.
Valerian apresenta uma visão mais ingênua e otimista de uma FC cheia de raças alienígenas e conflitos de interesses. O clima é de sessão da tarde. Mas, no geral, o filme se torna mais ousado do que Star Wars. Primeiro, no visual mais pirado e lisérgico. Segundo, ao dar maior relevância aos personagens aliens. Aqui eles são parte importante da trama e muitas vezes superam a performance dos personagens humanos.
Os maiores problemas de Valerian são o roteiro, cheio de furos, diálogos terríveis, humor pouco eficiente, subtramas confusas ou desinteressantes, e exposição desnecessária ou repetitiva. O elenco mal escalado ou mal dirigido. E a duração do filme, 137 minutos. Podiam ter cortado uns 30 minutos. Era para ser um ser um filme mais ágil. Assim seu subtexto anti-guerra ganharia maior relevância. Porque o espectador sai meio esgotado da experiência. Parece que Luc Besson teve pena de cortar aquelas cenas deletadas que vão para o Blue-Ray.
Afinal, vale o ingresso? Para fãs de FC, o filme é obrigatório. Não saí do cinema puto da vida. Já sabia mais ou menos o que esperar. Mesmo assim, fui surpreendido com os melhores momentos.
Homem-Aranha: De Volta ao Lar
3.8 1,9K Assista AgoraFinalmente, vi "Homem-Aranha: De Volta ao Lar". Filme divertido e muito próximo do Aranha dos quadrinhos. Tom Holland é o melhor Peter Parker de todos, um moleque agindo como um moleque. Mas o segundo filme de Sam Raimi ainda é meu preferido por ter um impacto emocional forte e um vilão trágico. O novo filme do Aranha está antenado com os novos tempos. É inteligente em apostar na diversidade. O Abutre de Michael Keaton é uma ameaça convincente. Entrou no time de futebol de salão de bons vilões da Marvel. Montagem e fotografia ora criativas, ora genéricas. O forte do roteiro são os diálogos. No geral, os efeitos especiais causam impacto, mas algumas movimentações do Aranha estão bem fakes. Gostei da trilha nervosa de Michael Giacchino. E os créditos finais são os mais legais da Marvel, ao som de Blitzkrieg Bop, dos Ramones. Agora podiam ter cortado uns vinte minutos do filme. Ficou longo demais. Nota: 7.5
Fragmentado
3.9 3,0K Assista AgoraShyamalan fazendo shyamalanices com sua psicologia barata. Que filme todo errado. Ainda bem que não vi no cinema. Eu ia ficar puto.
O Poderoso Chefinho
3.4 521 Assista AgoraA infância de Donald Trump.
Mulher-Maravilha
4.1 2,9K Assista Agora80% do filme funciona muito bem (humor, ação, drama, efeitos especiais, fotografia, direção de arte, ritmo, atuações). 20% estragam a experiência (vilões caricatos, CGI exagerado em algumas cenas, principalmente, na luta final, algum melodrama). Um belo filme anti-guerra com super-heróis. Gadot arrebenta como Mulher Maravilha. Saí feliz do cinema.
Hacker
2.5 283 Assista AgoraUm filme dirigido pelo mestre Michael Mann, só que infelizmente é bem fraquinho. Montagem confusa e largadona. Tá na cara que rolaram problemas na produção pela falta de vigor dos envolvidos. Os personagens são mal escritos e interpretados. O visual apurado está lá, mas a trama não ajuda. O ritmo melhora do meio pro final, há uma intensa sequência de ação no estilo Michael Mann, mas nada disso salva o filme.
Corra!
4.2 3,6K Assista AgoraCorra! é um filme brilhante. A intenção do diretor e roteirista Jordan Peele era promover uma reflexão sobre a condição do negro americano por meio de uma sátira, uma mistura de terror psicológico e comédia. Também podemos dizer que este é um dos melhores filmes de ficção científica dos últimos anos.
O hype é real. Principalmente, porque Peele conseguiu mostrar seu ponto de vista sem comprometer, em nenhum momento, o envolvimento do espectador com a narrativa, a trama. Corra! faz a gente pensar justamente por causa de sua história muito bem contada. Ao acompanharmos o horror passado pelo protagonista, entendemos todos os temas relevantes levantados pelo filme. O que é estar na pele de uma pessoa negra. Qual a ameaça que isso representa para sua própria vida pelo simples fato de você ser negro.
A grande sacada aqui não é mostrar antagonistas explicitamente racistas, gente que odeia pessoas negras, que quer matá-las violentamente. O contrário é mais assustador. Em Corra! os brancos adoram, idolatram os negros. Mas sua versão distorcida de admiração gera uma violência ainda mais perturbadora. Na verdade, esse fascínio pela figura do negro é superficial. Porque, mais uma vez, a dignidade de pessoas negras é tratada como coisa de quinta categoria, algo a ser descartado.
Os temas de Corra! são muito sérios. Mas o filme é engraçado demais! Entenda: o humor não é de jeito nenhum leviano, insensível, inapropriado ou fora de lugar. Jordan Peele é um comediante muito famoso nos EUA. Ele é um dos criadores e protagonistas de Key & Peele, um programa no Comedy Central. É imperdível. No show, Peele faz diversos comentários sobre a condição do negro americano em esquetes hilários e afiados. Inclusive, alguns dos esquetes são bem assustadores, verdadeiras peças de comédia do absurdo.
Então os fãs de Key&Peele podem ver em Corra! uma versão apurada das possibilidades de fazer terror, comédia e nonsense de Peele. É impressionante como no filme o terror não atrapalha a comédia e vice-versa. A habilidade do diretor em mudar o tom é mais um elemento que fez dessa produção barata um enorme sucesso de bilheteria. Custou US$4,5 milhões e até agora faturou mais US$ 214 milhões.
Outro triunfo é a escalação do elenco. Todos estão muito bem, novatos, desconhecidos e veteranos. O britânico Daniel Kaluuya faz o protagonista, o americano Chris, de forma tão convincente, com expressões faciais e corporais discretas, mas marcantes. A performance de Catherine Keener é magnética, numa atuação contida e poderosa. Outro destaque é o comediante Lil Rel Howery, no papel do melhor amigo de Chris. Ele rouba todas as cenas em que aparece.
Mas Corra! também tem seus problemas. Peele foi muito feliz em investir mais no terror psicológico, em mexer mais com nossas cabeças, do que no gore. Mas não evitou certos clichês do terror, certos sustos, principalmente, usando a trilha sonora macabra (aliás, excelente e original, com elementos hitchockianos, um toque de blues, R&B e música africana, sem estereótipos). E no terceiro ato, quando tudo é revelado ao espectador, coisas fazendo sentido, outras não. A grande revelação faz sentido. O motivo de Chris estar no meio daquela gente branca tão educada e amistosa. Mas outras revelações laterais não se encaixam, poderiam ter um rumo diferente, um melhor desenvolvimento, mais de acordo com o propósito dos antagonistas. Sim, estou falando dos outros personagens negros daquela comunidade.
Na sua estreia como diretor, Jordan Peele surpreende por sua segurança e ambição. Ele é um cinéfilo. Percebemos isso ao longo da trama, com suas referências a clássicos da ficção científica e do terror.
Corra! é um filme que nunca vimos antes. É uma poderosa reflexão sobre as várias faces do racismo no formato de uma sátira divertida e assustadora.
Guardiões da Galáxia Vol. 2
4.0 1,7K Assista AgoraGuardiões da Galáxia vol.2 é divertido, mas inferior ao primeiro filme. Minha expectativa era de assistir a uma sequência ainda mais engraçada, com cenas de ação ainda mais elaboradas e com efeitos especiais ainda mais deslumbrantes. Há ótimas piadas, as cenas de ação são de tirar o fôlego e os efeitos evoluíram. Mas o filme é uma bagunça. Não tem a coesão e o ritmo do anterior. Nesse vol.2, praticamente, temos dois filmes distintos. Na primeira metade, depois da cena de ação inicial, a coisa desacelera a tal ponto que tudo fica chato. Acompanhamos os guardiões interagirem entre si e com outros personagens, dando-se espaço para refletirem sobre a relação do grupo e enfrentarem demônios do passado. O diretor e roteirista James Gunn quis ser ambicioso em sua tentativa de dar maior relevância a uma produção marcada pela diversão sem compromisso. O primeiro filme não teve nenhuma vergonha em ser brega, com suas cores berrantes, humor escrachado e trilha sonora dos anos 70 e 80. Mas agora, ao tentar fazer dos guardiões figuras menos cartunescas, mais profundas, o filme acabou ficando piegas. Só quando chegamos à sua segunda metade é que o tom característico da franquia volta para os trilhos de vez. Você chora de rir com diálogos inspirados e piadas visuais certeiras, fica besta com as cenas de ação épicas e os efeitos especiais são melhor aproveitados em função da trama. Baby Groot e Yondu roubam a cena. Baby Groot é diversão garantida com sua ingenuidade de criança raivosa. E o Yondu de Michael Rooker é o único personagem com um arco emocional convincente. Os vilões dourados que vimos nos trailers são inúteis e quase inofensivos. Mas o vilão de verdade é um dos melhores do MCU. Só que faltou a ele maior tempo de tela. Outro problema foi repetirem o maior erro de Era de Ultron, perder tempo preparando o terreno para futuras produções da Marvel. Mas o saldo de Guardiões da Galáxia vol.2 é positivo. Quando uma partida de futebol tem um primeiro tempo morno e um segundo tempo empolgante, fica a sensação de que, apesar da raiva que passamos, valeu a pena torcer até o final.
Baahubali: O Início
3.6 147 Assista AgoraBaahubali - O Início é um filme indiano de 2015. É uma super produção que fez muito sucesso dentro e fora da Índia. É uma história cheia de clichês sobre O Escolhido para libertar seu povo das garras de um tirano. Mas o que faz de Baahubali divertidíssimo é sua falta de pudor em seus excessos. É um filme hollywoodiano que Hollywood tem medo de fazer, por misturar tanta coisa (ação, drama, comédia, musical , fantasia épica). Tudo bem que há comédia involuntária, algumas cenas de ação são nível Dragonball e o melodrama às vezes pesa. Mas, por outro lado, há sequências de ação ambiciosas, a comédia intencional funciona e os personagens são muito cativantes. Além disso, é bem interessante ver uma fantasia baseada na cultura indiana feita por indianos, na frente e atrás das câmeras. É uma produção bonita de ver. Minhas ressalvas ficam para o machismo e o racismo do filme. Apesar das mulheres protagonistas serem guerreiras e soberanas fortes, no final, o herói, o salvador, é um homem. E as mulheres só servem para ser a mãe ou a amada dele. Há intrigas internas, palacianas, mas também uma ameaça externa, um povo bárbaro de pele escura. Este povo ganha o mesmo tratamento que os orcs da trilogia O Senhor dos Anéis. Baahubali termina com um gancho monstro. A segunda parte, The Conclusion, foi lançada nos cinemas da Índia e de outros países este mês. O Início está disponível na Netflix.
Ghost in the Shell - The New Movie
3.6 11O filme tem algumas das melhores cenas de ação de todo o universo de GintS. As questões levantadas sobre a vida útil dos ciborgues são interessantes e trazem de volta a discussão filosófica da relação homem/máquina.
Fuga Para a Liberdade
4.0 232Hunt for the Wilderpeople é uma comédia road movie, na verdade, bush movie, dirigida e escrita pelo agora badalado Taika Waititi, o diretor de Thor Ragnarok. Hunt... é uma produção pequena, mas muito bem executada, o que acaba elevando sua qualidade técnica. A fotografia mostra as florestas da Nova Zelândia em toda sua majestade e perigo. A montagem é muito feliz em acompanhar as mudanças de humor dos personagens, acelerando e segurando o ritmo sempre que necessário. A incrível trilha sonora se encaixa muito bem com os acontecimentos, principalmente, no tom de paródia aos filmes de sobrevivência. A grande estrela aqui é o garoto Julian Dennison. O seu Ricky Baker é engraçado, cheio de atitude e rebeldia. Órfão, rejeitado pelo sistema, ele tenta ser um delinquente, mas seu coração é bom demais para isso. E Sam Neil está ótimo como o rabugento Hec. As aventuras dos dois são divertidas e cheias de sentimento, numa relação de amor e ódio que não é tão previsível. Os diálogos são impagáveis, tanto na malandragem ingênua de Ricky quanto na rabugice vivida de Hec. A ressalva fica para os "vilões", muito cartunescos. Estão ali apenas para causar o conflito, fazer a trama andar. Hunt for the Wilderpeople é um filme diferente por seu humor, referências culturais e paisagens tão ligados à Nova Zelândia. Majestical.
A Bela e a Fera
3.9 1,6K Assista AgoraFui meio que obrigado a ver A Bela e a Fera. E para minha surpresa, gostei do filme. Na véspera, vi a animação clássica pela primeira vez. Não curti muito. Talvez seja pedir demais de uma animação dos anos 90, mas o roteiro é fraquinho e apressado. Sem falar no incômodo de ver Bela ser encurralada a cada cinco minutos por assédios de todo tipo. Há visuais deslumbrantes e personagens carismáticos. Mas não é tão cativante quanto outras animações dos anos 90, como Aladin e O Rei Leão. Já o filme A Bela e a Fera pega a plataforma narrativa da animação e a torna mais complexa. Furos na trama são preenchidos e personagens ganham novas camadas. É um filme que luta consigo mesmo entre ser antiguado e contemporâneo. É um musical convencional, mas que tenta valorizar a diversidade; apesar das opiniões dividas a respeito de LeFou, com gente ainda o achando caricato e outros o considerando como uma corajosa tentativa de não demonizar um personagem gay. Temos uma Bela feminista. Como o cenário é típico de contos de fadas, seu comportamento progressista faz um contraste interessante. Uma mulher decidida desafiando uma sociedade conservadora. A produção transporta o espectador para um mundo mágico convincente e rico em detalhes; apesar do uso excessivo de personagens digitais em primeiro plano. Na superfície, é um filme bonito de ver, divertido e que trata de temas relevantes. Mas, no fundo, quando pensamos melhor na relação entre Bela e a Fera, fica a sensação de que há algo de errado.
A Bela e a Fera
4.1 1,1K Assista AgoraA Disney sempre fez excelentes animações. Mas esse A Bela e a Fera não me conquistou. Trama forçada, resolvida muito rapidamente. A Disney já soube contar histórias cheias de acontecimentos num filme curto, como em O Rei Leão. Em A Bela e a Fera, há personagens carismáticos (os criados), o design da Fera e do interior do castelo são bem bacanas, a fotografia tem momentos deslumbrantes e os números musicais do jantar de Bela com os móveis e do baile apenas com Bela e Fera são as melhores partes do filme.
60 Segundos
3.6 26Gone in 60 Seconds é um filme sobre roubo de carros de 1974. É um cult movie que fez grande sucesso na época. Custou 150 mil dólares e rendeu 40 milhões. H.B. Halicki produziu, dirigiu, escreveu, estrelou e foi dublê nas perseguições de carro. E o filme é lendário por sua perseguição final de 40 minutos!!!, na qual 93 carros foram destruídos. No geral, é bem fraquinho. Atuações amadoras, montagem truncada, edição de som bizarra, trilha sonora básica, fotografia apenas ok, diálogos ruins, roteiro irrelevante (na verdade, não havia roteiro, apenas os diálogos). Mas a famosa perseguição final é impecável. Tudo o que não funcionou no resto do filme é muito bem executado nesse perseguição épica. E a estrela do filme é um Mustang amarelo, chamado Eleanor, o único nome que aparece nos créditos do elenco. Halicki morreu em 1989, num acidente durante as filmagens da sequência. Em 2000, a viúva de Halicki e o produtor Jerry Bruckheimer fizeram um remake com Angelina Jolie e Nicolas Cage. Também foi um sucesso de bilheteria, mas é esquecível. Mesmo o original sendo uma produção independente, quase amadora, torna-se superior ao blockbuster por mostrar um retrato mais cru e realista do submundo dos ladrões de carro e por ser um filme de ação mais visceral, nos seus melhores momentos.
O Que Fazemos nas Sombras
4.0 662 Assista AgoraFilme hilário e brilhante. É um mockumentary sobre um grupo de vampiros que vivem na Nova Zelândia atual. Eles dividem uma casa, como se fossem colegas de uma república. Entre os afazeres domésticos e a caça às suas vítimas, conhecemos mais sobre a personalidade e o passado de cada um por meio de depoimentos. A grande sacada do filme é que tudo é levado na brincadeira, mas sem esquecer a atmosfera decadente de terror. É engraçado pelo contraste entre a mentalidade secular dos vampiros e a complexidade da vida moderna. Mas também é melancólico e profundo. Porque aqui ser vampiro significa, principalmente, solidão e isolamento. Os efeitos especiais se encaixam perfeitamente com a proposta de paródia, sendo executados de maneira soberba para uma produção tão barata. E há momentos sombrios e brutais. Os diretores e roteiristas Jemmaine Clement (o cara de óculos da série Flight of the Conchords) e Taika Waititi (ótimo ator e diretor de Thor Ragnarok - esse cara vai longe) simplesmente fizeram um dos melhores filmes de vampiro de todos os tempos.
Logan
4.3 2,6K Assista AgoraQue filme violento. Mas todo aquele sangue, membros decepados, empalações, rasgos e feridas, tudo tem muito a ver com o Wolverine dos quadrinhos. O cara que se arrebenta todo para proteger quem ele ama. E ele é um animal. Fere e mata seus inimigos da maneira mais brutal possível. Na verdade, Wolverine é uma figura trágica. Uma máquina de matar que se importa. Por isso, a dor e o drama. O filme é sujo e quase sem esperança. Mas, curiosamente, transborda emoção. Na antiga relação entre Logan e Charles. E na nova relação deles com a pequena Laura/X-23. O trio protagonista arrasa em carisma e carga dramática. Nunca vi Wolverine e o Professor X tão bem no cinema. Justamente porque aqui eles se tornam Logan e Charles, com o lado humano deles mais exposto. Os dois estão mais vulneráveis. Suas figuras alquebradas nos afetam bastante. Por outro lado, a fúria de X-23 deixa o espectador boquiaberto. A produção é de primeira. Fotografia e montagem dão mais tempo para a ação se desenvolver e ser mostrada de maneira clara e vibrante. A trilha sonora cumpre bem a função de intensificar a tensão e o perigo. Os efeitos especiais (digitais e práticos) e sonoros são muito convincentes em passar a brutalidade de cada cena. Também há um humor nervoso e boca suja, que funciona melhor do que certas gracinhas nas produções do MCU. Agora, por que Logan é muito bom e não um filmaço? Erros bem chatos comprometem uma melhor avaliação. Os vilões têm presença, só que eles são menos poderosos do que os mocinhos (Charles está doente, mas ainda é poderosíssimo, além de outros personagens do bem), e isso nunca é interessante. O filme é muito longo, 137 minutos. Cortar 15 a 20 minutos amarraria melhor a trama. Muitas convenções narrativas são quebradas. Ainda assim certos recursos batidos são usados, principalmente, na luta final. Já vimos aquilo em outros filmes dos X-Men. Logan acerta numa abordagem mais realista. Porém acaba limitando o lado super-herói da coisa. Até O Cavaleiro das Trevas, com sua pegada policial, nunca deixou de ser um filme do Batman. Mas o saldo é bem positivo. Logan é corajoso, visceral, uma nova maneira de fazer filmes de super-heróis.
Já Não Me Sinto em Casa Nesse Mundo
3.3 382 Assista Agoracomédia indie com trilha bacaninha que questiona o sentido da vida. O humor bizarro não chega ao nível dos irmãos Coen, mas tem seus bons momentos. O terceiro ato é sombrio. Mas está longe de explodir sua cabeça, como faz um David Lynch. Mesmo assim vale a pena.
Moonlight: Sob a Luz do Luar
4.1 2,4K Assista AgoraMoonlight ganhou o Oscar de melhor filme. No final, a gafe histórica da troca de envelopes deu ainda mais emoção ao anúncio do verdadeiro vencedor.
A Academia premiou um filme que olha para o futuro, tanto na temática quanto na execução. Moonlight é um vigoroso estudo de personagem. Um filme com substância, honesto e sábio. E realizado com ousadia. Roteiro, montagem, fotografia, trilha sonora, atuações. Elementos combinados para quebrar tabus e estereótipos. Não foi feito para ganhar Oscar, mas acabou levando. E esse é o papel da premiação. Indicar e premiar o que de melhor o cinema americano pode produzir.
Esta história de "filme feito para ganhar Oscar" tem que acabar. Geralmente, são produções com linguagens cansadas e esquecíveis. Os filmes relevantes têm que ser produzidos e cabe à Academia encontrá-los. Em meio à máquina de moer gente de Hollywood, a função da Academia é inspirar pessoas a dar o seu melhor como cineastas e seres humanos.
Doutor Estranho
4.0 2,2K Assista AgoraFinalmente vi Doutor Estranho. O filme é bom, mas poderia ser incrível. A tarefa de apresentar o lado místico do MCU foi cumprida. O filme vai além de Matrix e Inception nas possibilidades visuais. A primeira viagem multidimensional do Doutor é um deleite de cores, formas e bizarrices. E alguns combates com a realidade distorcida são bem originais. Mas lá pelo meio a criatividade acaba e vemos algo mais conservador, como o primeiro Thor e o primeiro Capitão América. Faltou mais psicodelia. Na verdade, o visual está ali, de fato, para maravilhar crianças a adultos com a concepção usual do que é fantasia. O roteiro fraquinho não ajuda. O ritmo é irregular, ora apressado, ora lento demais. O humor oscila entre eficiente e fora de lugar, irritante. Os personagens são genéricos, mocinhos e vilões. Exceto o próprio Cumberbatch, bastante charmoso. Apesar de ser esquisito vê-lo representar uma arrogância americana, mais vulgar. Mesmo com a polêmica do whitewashing, Tilda Swinton tem presença física e um arco relevante. O ótimo Mads Mikkelsen se vira como pode com mais um vilão decepcionante da Marvel. Ele é convincente em mostrar conflito e ameaça. Mas sua agenda é ingênua. E não posso esquecer da Capa da Levitação, um personagem mais interessante do que quase todo o elenco. A Marvel terá coragem de pirar mais com seu universo místico ou sempre haverá um limite confortável?
Um Cadáver para Sobreviver
3.5 937 Assista AgoraSwiss Army Man é o filme mais filosófico sobre peido que você vai encontrar. Na verdade, flatulências são mais uma metáfora no caleidoscópio de significados dessa produção, ao mesmo tempo, tão vulgar e poética. Tecnicamente, o filme é perfeito. A fotografia é bonita sem ser artificial. A montagem é dinâmica, mas não parece videoclipe. Na maior parte do tempo, o ritmo sabe balancear bem momentos de contemplação e de comédia alucinada. A trilha sonora é outro triunfo, numa mistura de melancolia e êxtase. Inclusive vemos aqui uma espécie de musical, bem fora dos padrões. Os efeitos especiais e sonoros são loucos. Acontece um absurdo atrás do outro, mas você compra cada ideia. São muito bem executados e criativos. Paul Dano arrasa mais uma vez, numa performance exigente, sutil, cheia de camadas emocionais. E Daniel Radcliffe prova finalmente que existe vida após Harry Potter. Como um cadáver filosófico peidão, ele mostra que é um ator completo. É divertido na comédia e convincente no drama. E seu trabalho de corpo é incrível. Os diretores disseram que fizeram Swiss Army Man para mostrar sua versão de coisas que odeiam, como piadas de peido no cinema, musicais e filmes de superação, como Náufrago. O título original faz referência ao personagem de Radcliffe, um "canivete suíço humano".
Os Aventureiros do Bairro Proibido
3.7 569 Assista AgoraDepois de muitos anos, revi Os Aventureiros do Bairro Proibido, do mestre John Carpenter. Um filme obrigatório na Sessão da Tarde. Muitas vezes, não é uma boa ideia revisitar coisas amadas do passado, na infância e na adolescência. A decepção pode ser difícil de suportar. Mas também é tão legal quando o sonho não acaba. Revi Os Aventureiros… na Netflix com a dublagem clássica, que para mim já faz parte do filme.
Continua divertido. As falhas agora ficaram mais evidentes, principalmente, o roteiro basicão (com uma ligação rasa e apressada dos eventos), além do machismo que coloca donzelas em perigo. O barato são os diálogos bregas e a mise-en-scène pop sem pé nem cabeça, com artes marciais, monstros subterrâneos e alta magia.
O filme é uma mistura de estereótipos e homenagens à cultura chinesa. Com um elemento ousado para os anos 80 de Reagan: o herói de ação é o sidekick chinês, enquanto que o protagonista branco é o alívio cômico. Os efeitos especiais, a maquiagem e a trilha sonora marcaram toda uma geração de fãs.