merece argumentos melhores do que meu vocabulário limitado pode oferecer. o vocabulário do filme é variado, tecendo cada etapa da história com um leque de truques computadorizados e movimentos de câmera que conjuram ambientes vividos mas que não são excessivamente vistosos; não necessariamente o contrário seria ruim, mas é de uma técnica impressionante e um antídoto pra produções comerciais que desperdiçam efeitos elaborados num lamaçal visual. o impacto emocional do filme é um tanto mudo, mas faz sentido numa fábula. "a solitária Elithea libertou o djinn, que implorou que ela fizesse 3 pedidos. contou uma história; ela disse que estava satisfeita com sua vida do jeito que ela estava. contou outra..." como disse, toda etapa nos transporta pela mágica das estórias, mas quando cada uma termina de um jeito abrupto, isso edifica os temas do filme e os personagens deste, que são vividos com experiência pelos atores e cujos tipos naturalmente vendem sua solidão pro espectador
seria bom que as interações menos bombásticas entre os agentes divertissem mais do que uma ou outra cena no filme, porque de resto são personagens clichê fazendo coisas constrangedoras. a direção dos irmãos Russo começa bem com um controle preciso da tensão naquela boate, mas daí em diante toda cena de ação é daquele tipo extremamente denso em que não há clareza ou sensação de força empurrando as incontáveis trocas de socos (exceto em Praga com aquelas algemas e o bonde, que é um trecho bem divertido). não são reclamações que deveríamos estar fazendo sobre os diretores de Winter Soldier e Civil War
é um mundo tão frio, escuro e cansado que a austeridade carrega o filme. em alguns momentos o filme levanta a voz (perfeitamente ilustrado pela única vez que o Gary Oldman faz exatamente isso) e isso é dissonante do resto, mas é merecido
o filme é absurdamente divertido. geralmente quando um filme realmente bom combina tensão ou horror com humor e momentos de maior leveza, ele faz isso recheandp o roteiro de sacadas tanto verbais como visuais, o que satisfaz apesar de a estrutura ser um punhado de truques. Não! Não Olhe!* é de dar raiva por como balanceia perfeitamente (lembra o Spielberg aqui) tirar sorrisos com os momentos em que tira o fôlego. esses momentos são as tomadas gigantes, enormes da locação, especialmente o céu; escrevendo agora, me surpreende que um espaço abertão renda tanto conteúdo tenso, mas a direção aplica o IMAX de maneira fabulosa e os efeitos especiais no céu são os melhores nessa categoria específica que eu já vi. os do chimpanzé não são ótimos, mas não vou dizer que eu não fiquei apavorado. afinal, nos dias seguintes eu tenho ficado apreensivo toda vez que vejo uma pessoa abraçando um animal silvestre. Gordy é um elemento assustador pra caralho e acho que nunca vi algo do tipo funcionar tão bem: uma peça que tem mais a ver com a temática do filme do que realmente se encaixar na trama. ela funciona nesse nível, separadamente mas junto, mas ainda se insere na história. Jupe é um personagem muito intrigante, cuja exploração comercial de seus traumas Steve Yeun transmite com pouquíssimos gestos. e claro que Keke Palmer tem uma performance que cai como uma luva no filme, injetando a quantidade calculada de humor que o irmão de Daniel Kaluuya requer com sua tendência a se fechar de tudo. incrível que eu tenha saído da sessão com vontade de assistir a algo mais independente e rudimentar; afinal, este é um terror comercial cujos realizadores mostram domínio de umas câmeras e lentes de ponta. mas esse espírito de cineasta que o filme passa não é só uma motivação inusitada que deu certo - é algo que nos instiga apesar do roteiro queationar essas intenções. antropologia?
*sempre pego no pé do tradutor de toda legenda que eu me deparo (por que eu não assisto sem legendas? você não entenderia) mas desejo que a Mãe Monika Pecegueiro do Amaral te abençoe, você que deu esse nome ao filme no Brasil. não é genial nem nada e algumas pessoas não vão gostar, mas é apropriado e diferente de tudo o que se vê no mercado.
os vilões são muito certeiros, o lar deles sendo tão perturbador com tão pouco e a motivação deles sendo tão comovente. a equipe de filmagem é divertida, mas, por causa do prólogo, as mortes acabam sendo inconsequentes e "trágicas" em vez de viscerais e tensas; a princípio tanto faz um ângulo ou outro, mas o filme é muito paciente, o que não combina muito bem
o filme é uma pocilga de golpistas, federais inescrupulosos e políticos corruptos, mas é sincero desde o início; quando a narrativa volta no tempo pra explicar a origem dos personagens, são notáveis a honestidade e a vulnerabilidade destes, quando o filme parece ter entrado num flashback que demora um tempão pra acabar, mas gratifica do início ao fim. na verdade, a transição pras artimanhas da trama é impecável, e quando o filme se torna ardiloso (o diretor se diverte repetindo o mesmo tipo de close-up dramático quando os truques e as camadas parecem não ter fim), ainda ele tem um quê de honestidade. Christian Bale acaba compondo o personagem mais tocante aqui, mas cada rosto tem um conflito comovente (até mesmo quem "tem o que merece" no final), e é impressionante como outras figuras menos imediatas que aquela permanecem no fundo da cabeça após a sessão - e a emblemática personagem da Jennifer Lawrence é um daqueles casos de uma personagem que só vai ser detestada pelo espectador se ele interagir com nada além da superfície dela enquanto o filme ainda estiver passando. respeito bastante a reviravolta no final, que chega completamente inesperada mas tem respaldo no desenvolvimento dos personagens.
tenta embalar os constantes flashbacks e um monte de diálogos expositivos, que vêm atropelando pra explicar as origens de várias personagens, com aquele bate-papo que é corriqueiro até revelar a enorme sociopatia dos envolvidos na conversa; como vemos nos filmes do Tarantino, isso funciona pelo choque da frieza dos personagens, o que é muito divertido. mas aqui realmente não há graça a ser achada nesse aspecto, que domina o primeiro ato. no segundo ato as coisas melhoram muito, quando as coisas ficam mais sérias e chegamos àquele período da narrativa em que os personagens já se despentearam e estão começando a ficar ofegantes - e sempre é bom ver duas pessoas que estavam se matando até agora sentarem no chão lado a lado. aliás, o melhor benefício é já ter seus personagens bem introduzidos a essa altura, e os desenvolvimentos de alguns deles são boas memórias pra carregar depois da sessão. o terceiro ato suspende as pontas pra introduzir um duelo entre dois fodões, e é aí que o filme perde de vez a graça que tinha tido, já que os dois personagens não têm graça nenhuma e a ação é atolada em slo-mo e detritos de CGI
dedico ao meu amigo Felipe, que achou o trailer terrível lá na época que o filme tava pra sair nos cinemas. eu realmente não gosto de trailers mano, inclusive percebi anteontem que é puramente porque é uma montagem que nunca faz jus ao tom e ao ritmo do filme em questão, te dando não expectativas mais altas ou baixas do que deveria, mas sim esperar um filme diferente. a não ser que seja aquele diretor renomado que trabalha junto com o marketing. enfim, tenho que falar do filme. é um monte de piadas convencionais, mas que o elenco mais que acerta na entrega, incluindo as várias referências. (uma delas é a trilha sonora baseada no trabalho do Aphex Twin.) também tem vários momentos de prender a respiração, e toma umas sequências de ação competentes também. (continuo achando que perseguições a carro não me agradam muito, mas aparentemente o que funciona é ter motoristas fazendo merda no volante) E, mais do que tudo, o casal central é surpreendentemente wholesome; não são bem babacas, não são comediantes da vida real, não estão prestes a pedir divórcio. ainda assim eles são sim engraçados, são competitivos e o casamento tem seus problemas. o casal é fofo do começo ao fim, a maior surpresa pra mim, depois do irmão vivido com um charme que nunca vira arrogância
o filme começa com imagens da ilha imponentes de filme mudo, esmagadoras, mas pelo resto da duração é mais natural nesse sentido. o quadro dos dois de frente pra câmera já é icônica. o roteiro ronda a possibilidade de tudo ser imaginação com habilidade. a loucura do Pattinson não se compara à do Dafoe, e não era pra ser. a instabilidade da primeira é legal, mas a segunda é maravilhosa; alternando entre agressividade e uma amigabilidade que o Wake só oferece sob a exigência de que o outro se submeta às regras do marinheiro, ela também tem uma galeria de momentos absurdos, dos quais quase todos são momentos engraçados, mas raramente são cômicos de fato, já que a atuação calibrada de Dafoe - e a iluminação estarrecedora - fazem o cuzinho piscar mais do que nos dão cócegas. além disso, o elemento que eu esperava que não fosse funcionar comigo é a Luz, já que obsessões bizarras me alienam; este caso funcionou, mas enquanto a do Wake é algo muito orgânico, a do Winslow é algo que eu até que aprecio intelectualmente
a Natalie Portman é excelente, e uma sequência de flashbacks sobre o relacionamento com o Thor (Hemsworth também surpreendendo nos momentos mais honestos do personagem) nos dá uma razão pra torcer pelo casal pela primeira vez em três filmes. o Thor passou por um trauma fodido e nesse filme retornou ao posto de deus arrogante sob uma fachada "iluminada". não é difícil entender. o Korg é uma merda ambulante, uma piadinha de péssimo gosto que o diretor aparentemente vai ficar inserindo até em filme que ele não dirigiu (Lightyear). mas aí eu me sinto zoado quando eu acho graça de verdade de quando ele canta
reassistindo à série porque, honestamente, sempre quis muito gostar de John Wick, e por enquanto tá indo bem. o filme continua desfalcado nos elementos que não são a coreografia - sim, ótima; os toques realistas são essenciais (o modo que ele se aproxima de um local apontando uma arma demonstra a experiência do ator com as manobras do personagem) -, mas desta vez eu concordo que a sensação é de que o filme tem um objetivo em mente e só se dedica a alcançá-lo, não a de que é um projeto desnutrido; mas o tratamento fora do ponto focal é de Tela Quente mesmo - a motivação não serve de muita coisa. no entanto, outro acerto é que sentimos que só estamos testemunhando um balanceamento do ecossistema dos assassinos, onde o cara no topo da cadeia alimentar soltou sua fúria nos seus muitos inferiores, num submundo construído de um jeito crível
parece melhor que o primeiro, já que não tem o cringe dos anos 80 e a ação desta vez é boa (e muito); mas o filme apenas voa sobre a superfície dos mesmos elementos do anterior, elementos esses que já eram clichês. O romance é fraco, os cadetes não têm personalidade suficiente, mas vale a pena ver o Top Gun (Tom Cruise), ainda digno de seu codinome, amenizar sua velha inconsequência com a experiência de décadas no nicho dele, e é Top que ele, um professor mais doido que seus alunos, seja do tipo de mentor que todo mundo gostaria de ter obs.: agradeço ao Gachimuchi pela sensação de conforto que me dá ver esses caras machões se provocando e jogando futebol
é revigorante sentir que o filme está usando seus poucos recursos ao máximo, e com esses personagens, isso torna a experiência muito vívida e fascinante. em alguns pontos, as resoluções deles decepcionam, bem tradicionais pra um filme esperto desse (especialmente a cena final). mas o desfecho ainda é satisfatório com a última fita, um flashback etéreo realçado pelo tom vagamente desconcertante dos primórdios do vídeo digital e do ambient eletrônico da trilha sonora. li que esse filme inspirou o cenário indie dos anos 90, o que já cria com afeto uma imagem de arauto dessa ilustre década lançado no último ano da década que atumalaka era lei
uma biografia que procura abertamente endeusar o sujeito, mas enquanto alguns momentos têm uma dimensão impressionante, geralmente todo o ataque aos nossos sentidos é bobo ou até embaraçoso. pra piorar, o ponto de vista é do empresário manipulador, o que coloca a faceta simples e humana do artista a uma distância que parece desnecessária - mas provavelmente é o que diferencia este filme de outros dramas sobre essa história
Eu nunca entendo filmes que são sobre esquemas complicados ou conspirações com um dedo de todo mundo no negócio, quem dirá um filme que nem os críticos que eu leio entenderam. Entendi que nem os pingos eram pra estar nos Is, mas só lendo depois; eu não percebi em nenhum momento as supostas alucinações do Doc, exceto quando elas encheram a tela. O que eu pude apreciar é cada segmento por si, embora me matando pra fazer minha cabeça conectar as figuras. Enfim, esse universo é muito interessante. Eu juro que de novo eu reconheço o toque do P.T. Anderson; o filme ostenta uma quantidade absurda de sexo, drogas e crime, mas existe um equilíbrio, um controle sobre esse conteúdo que não só não esgana a diversão como também não torna tudo aquilo escrachado (e com um protagonista desse, é admirável), criando um mundo no qual vale a pena investir sua atenção em vez de só mandar um "c'est la vie!" Isso apesar de me incomodar na superfície que o detetive seja de um grupo chacota de todo mundo (do próprio filme), o que é sempre duvidoso pra mim
a natureza truncada dos contos nos leva a ruminar sobre a vida no Velho Oeste, e, de certo modo, é com isso que o filme sempre se satisfaz. o do ouro é uma pura observação: parece que fazemos parte da natureza presenciando a "história", e os toques de fantasia fecham esse conceito de uma maneira fascinante. o da caravana é perfeito. obs.: com esse e Licorice Pizza, Tom Waits é uma revelação pra mim. muito animado pra vê-lo em outros filmes. se ele fosse mulher eu já estaria escutando a música dele
eficiente como retrato meticuloso e sutil que exige que você se coloque no lugar da protagonista. alguns momentos desses são inspirados. fora essas técnicas, a experiência não deixa de ser diminuta por ser previsível
os dois grandes expoentes do conceito de multiverso não decepcionaram. mas enquanto Doctor Strange é um olho no caleidoscópio que traz vários dublês perigosos, este filme é sobre a experiência humana. através de um uso ainda mais potente dessa teoria, o drama é mais poderoso, as conclusões são profundas e a resolução do conflito - a reafirmação de nossa natureza - é alcançada por puro cinema, o poder da imagem. não é nada muito complexo, seja no método ou no resultado, mas é que todo esse conteúdo emocional tá cuidadosamente implementado em sincronia com as lutas e as engrenagens da trama, dando uma sensação de propósito a tudo (e o melhor exemplo é a personagem de Jamie Lee Curtis). uma das coisas mais prazerosas é ir preenchendo as lacunas: e naquele universo, como aquela pessoa é? Everything não aliena o espectador apesar de tudo isso, e por mais que seja exaustivo, é do jeito bom. por enquanto, esse é o filme que todos os estúdios gostariam de ter feito. obs.: o filme sofre bastante com uma caralhada de diálogos expositivos, mas nem nesses momentos deixa de ser divertido
SIM EU ASSISTI O FILME LEGENDADO NO CINEMA.....SIM AINDA EXISTE SESSÃO LEGENDADA DE DESENHO.....MAIS ELES NÃO QUEREM QUE VOCÊ SAIBA... EU ESTAVA SOZINHO NA SESSÃO..... GERAÇÃO MIMIMI NÃO LÊ UM LIVRO SEQUER , QUEREM TUDO DUBLADINHO.....
não sabia muito da história, mas fico surpreso com o filme ser centrado no Jung, seguido de perto por Sabina e tendo Freud como coadjuvante, mais uma figura do que um estudo de caso. A Dangerous Method enquadra o protagonista de uma maneira que vai se revelando cada vez mais vulnerável, usando a recorrência, por exemplo, do id, ego e super-ego representados nos 3 homens centrais (bem, pelo menos eu acho) e nos personagens se encontrando reféns dos problemas que tiveram com seus pais quando crianças
(primeiro Otto, a alma livre que inspira Jung mesmo ao transgredir regras que este considera necessárias, e depois o Jung lutando com a rejeição da figura paterna de Freud)
para pintar um retrato dolorosamente humano desses gigantes da psicologia. é tocante ver o modo quase infantil com que
Sabina beija Jung pela primeira vez, e uma certa simplicidade em como ela se abre completamente para o terapeuta
; é um prazer cinematográfico básico ver um homem e profissional tão íntegro quanto só Fassbender consegue compor realmente pisa fora de seus princípios quando ele está sem seu terno, com o cabelo levemente despenteado
. mas o que realmente distingue o filme é a ênfase no processo de desenvolvimento da psicologia, em como aqueles indivíduos estão num processo de descoberta, em que cada novo passo à frente que eles dão abre portas empolgantes na área.
(tanto é que enquanto o relacionamento de Sabina com Jung parece acabar pela primeira vez, ela insiste em não deixar suas ideias morrerem junto e exige que ele se retrate para Freud.)
porém, o longa não recorre a montagens mais idealistas desses momentos, em que a trilha sonora se anima e seus personagens desbravam com sorrisos nos rostos. essa abordagem proporciona que, novamente, figuras célebres sejam humanos e vice-versa.
todas essas qualidades estão em evidência em uma das últimas cenas: Sabina pergunta a Jung, como sua ex-amante, se a nova é como ela; ele diz que não, mas ela desconstrói as informações como a profissional que ela agora é. aí o filme considera brevemente se talvez a espiritualidade de Jung não é verdadeira, novamente se colocando como uma obra interessada nos métodos de seus personagens. talvez esse último sonho tenha acontecido de verdade, mas isso não retira essa qualidade do filme.
parece o caso de um diretor de filmes distinguidos se dedicando a um projeto mais regular - apenas um filme de vikings. claro que ainda é bem executado e já vira uma recomendação no quesito de batalhas animalescas com acentos de fantasia, mas não tive muito no que investir meu emocional - especialmente quando sou relutante em torcer pelo protagonista. é provavelmente apropriado que falem que esse filme lembra black metal, porque apesar de não ir tão longe no brutal e niilista quanto o gênero musical, é algo que adapta essas coisas de uma maneira mais necessariamente moderada. mas eu gosto muito dessas músicas e ainda quero ver um filme mais extremo em toda a sua glória p.s. a ponta da Björk foi acertada!
a melhor das surpresas, não só porque usa as (agora obrigatórias) pontas de acolá dos universos de um jeito mais significativo (que o último Spider-Man, inclusive) e lida com seus personagens de formas mais severas do que o MCU já ousou fazer, mas porque é um crescendo que começa não provocando nenhuma reação minha mas vai se encontrando quanto mais sombrio e alucinante se torna. não me surpreende nem um pouco que Shuma-Gorath tenha virado só mais um monstro (e que eu tenha saído com vontade de jogar só com Strange em Marvel vs. Capcom), mas são ossos do ofício
eu precisava assistir a algo confortável, então recorri ao meu diretor preferido. depois de Kimi (ótimo) e se tratando de um contrato tão prolífico com o HBO Max, esperava mais um filme que fosse bem focado nas maquinações centrais da trama. ele até é, e o próprio Kimi já se consistia na reação emocional da protagonista. como vocês podem perceber, eu não tinha razão pra me surpreender... enfim, quando eu penso no Soderbergh, penso num cara trabalhador, e isso se aplica muito bem ao protagonista deste. a trama é bem sinuosa e complexa, mas enquanto acompanhamos Cheadle e del Toro, estamos andando ali por fora de todo aquele fuzuê, da perspectiva desfavorecida dos dois, mas constantemente em propulsão confiante por causa da perícia do Goynes, enquanto Russo é de uma incompetência que só fica mais evidente quanto mais o tempo passa (e a conclusão do personagem é linda). mas realmente surpreendente é a família Wertz: a composição complexa da família branca de classe nos EUA dá a textura nas partes mais tensas do filme e o casal "no comando" é profundamente insatisfeito, o que rende um peso emocional tanto no mais ordinário quanto na jornada de filme na qual embarca certo personagem. são desvios que parecem desvios, embora bem mais dedicados que algo só pra dar um toque diferenciado na obra. no final ainda o filme decide mandar o Matt Damon pra roubar a cena com um personagem cuja presença é de fazer as mãos formigarem de tão desconfortável, o que torna essas cenas deliciosas. eu não entendo nada do comentário social do filme, mas com esses últimos diálogos, eu concordo completamente com No Sudden Move
Era Uma Vez um Gênio
3.5 159 Assista Agoramerece argumentos melhores do que meu vocabulário limitado pode oferecer. o vocabulário do filme é variado, tecendo cada etapa da história com um leque de truques computadorizados e movimentos de câmera que conjuram ambientes vividos mas que não são excessivamente vistosos; não necessariamente o contrário seria ruim, mas é de uma técnica impressionante e um antídoto pra produções comerciais que desperdiçam efeitos elaborados num lamaçal visual.
o impacto emocional do filme é um tanto mudo, mas faz sentido numa fábula. "a solitária Elithea libertou o djinn, que implorou que ela fizesse 3 pedidos. contou uma história; ela disse que estava satisfeita com sua vida do jeito que ela estava. contou outra..." como disse, toda etapa nos transporta pela mágica das estórias, mas quando cada uma termina de um jeito abrupto, isso edifica os temas do filme e os personagens deste, que são vividos com experiência pelos atores e cujos tipos naturalmente vendem sua solidão pro espectador
Agente Oculto
3.2 380 Assista Agoraseria bom que as interações menos bombásticas entre os agentes divertissem mais do que uma ou outra cena no filme, porque de resto são personagens clichê fazendo coisas constrangedoras. a direção dos irmãos Russo começa bem com um controle preciso da tensão naquela boate, mas daí em diante toda cena de ação é daquele tipo extremamente denso em que não há clareza ou sensação de força empurrando as incontáveis trocas de socos (exceto em Praga com aquelas algemas e o bonde, que é um trecho bem divertido). não são reclamações que deveríamos estar fazendo sobre os diretores de Winter Soldier e Civil War
O Espião que Sabia Demais
3.4 744 Assista Agoraé um mundo tão frio, escuro e cansado que a austeridade carrega o filme. em alguns momentos o filme levanta a voz (perfeitamente ilustrado pela única vez que o Gary Oldman faz exatamente isso) e isso é dissonante do resto, mas é merecido
Não! Não Olhe!
3.5 1,3K Assista Agorao filme é absurdamente divertido. geralmente quando um filme realmente bom combina tensão ou horror com humor e momentos de maior leveza, ele faz isso recheandp o roteiro de sacadas tanto verbais como visuais, o que satisfaz apesar de a estrutura ser um punhado de truques. Não! Não Olhe!* é de dar raiva por como balanceia perfeitamente (lembra o Spielberg aqui) tirar sorrisos com os momentos em que tira o fôlego.
esses momentos são as tomadas gigantes, enormes da locação, especialmente o céu; escrevendo agora, me surpreende que um espaço abertão renda tanto conteúdo tenso, mas a direção aplica o IMAX de maneira fabulosa e os efeitos especiais no céu são os melhores nessa categoria específica que eu já vi. os do chimpanzé não são ótimos, mas não vou dizer que eu não fiquei apavorado.
afinal, nos dias seguintes eu tenho ficado apreensivo toda vez que vejo uma pessoa abraçando um animal silvestre. Gordy é um elemento assustador pra caralho e acho que nunca vi algo do tipo funcionar tão bem: uma peça que tem mais a ver com a temática do filme do que realmente se encaixar na trama. ela funciona nesse nível, separadamente mas junto, mas ainda se insere na história. Jupe é um personagem muito intrigante, cuja exploração comercial de seus traumas Steve Yeun transmite com pouquíssimos gestos. e claro que Keke Palmer tem uma performance que cai como uma luva no filme, injetando a quantidade calculada de humor que o irmão de Daniel Kaluuya requer com sua tendência a se fechar de tudo.
incrível que eu tenha saído da sessão com vontade de assistir a algo mais independente e rudimentar; afinal, este é um terror comercial cujos realizadores mostram domínio de umas câmeras e lentes de ponta. mas esse espírito de cineasta que o filme passa não é só uma motivação inusitada que deu certo - é algo que nos instiga apesar do roteiro queationar essas intenções. antropologia?
*sempre pego no pé do tradutor de toda legenda que eu me deparo (por que eu não assisto sem legendas? você não entenderia) mas desejo que a Mãe Monika Pecegueiro do Amaral te abençoe, você que deu esse nome ao filme no Brasil. não é genial nem nada e algumas pessoas não vão gostar, mas é apropriado e diferente de tudo o que se vê no mercado.
X: A Marca da Morte
3.4 1,2K Assista Agoraos vilões são muito certeiros, o lar deles sendo tão perturbador com tão pouco e a motivação deles sendo tão comovente.
a equipe de filmagem é divertida, mas, por causa do prólogo, as mortes acabam sendo inconsequentes e "trágicas" em vez de viscerais e tensas; a princípio tanto faz um ângulo ou outro, mas o filme é muito paciente, o que não combina muito bem
Trapaça
3.4 2,2K Assista Agorao filme é uma pocilga de golpistas, federais inescrupulosos e políticos corruptos, mas é sincero desde o início; quando a narrativa volta no tempo pra explicar a origem dos personagens, são notáveis a honestidade e a vulnerabilidade destes, quando o filme parece ter entrado num flashback que demora um tempão pra acabar, mas gratifica do início ao fim. na verdade, a transição pras artimanhas da trama é impecável, e quando o filme se torna ardiloso (o diretor se diverte repetindo o mesmo tipo de close-up dramático quando os truques e as camadas parecem não ter fim), ainda ele tem um quê de honestidade.
Christian Bale acaba compondo o personagem mais tocante aqui, mas cada rosto tem um conflito comovente (até mesmo quem "tem o que merece" no final), e é impressionante como outras figuras menos imediatas que aquela permanecem no fundo da cabeça após a sessão - e a emblemática personagem da Jennifer Lawrence é um daqueles casos de uma personagem que só vai ser detestada pelo espectador se ele interagir com nada além da superfície dela enquanto o filme ainda estiver passando.
respeito bastante a reviravolta no final, que chega completamente inesperada mas tem respaldo no desenvolvimento dos personagens.
Trem-Bala
3.6 575 Assista Agoratenta embalar os constantes flashbacks e um monte de diálogos expositivos, que vêm atropelando pra explicar as origens de várias personagens, com aquele bate-papo que é corriqueiro até revelar a enorme sociopatia dos envolvidos na conversa; como vemos nos filmes do Tarantino, isso funciona pelo choque da frieza dos personagens, o que é muito divertido. mas aqui realmente não há graça a ser achada nesse aspecto, que domina o primeiro ato.
no segundo ato as coisas melhoram muito, quando as coisas ficam mais sérias e chegamos àquele período da narrativa em que os personagens já se despentearam e estão começando a ficar ofegantes - e sempre é bom ver duas pessoas que estavam se matando até agora sentarem no chão lado a lado. aliás, o melhor benefício é já ter seus personagens bem introduzidos a essa altura, e os desenvolvimentos de alguns deles são boas memórias pra carregar depois da sessão.
o terceiro ato suspende as pontas pra introduzir um duelo entre dois fodões, e é aí que o filme perde de vez a graça que tinha tido, já que os dois personagens não têm graça nenhuma e a ação é atolada em slo-mo e detritos de CGI
A Noite do Jogo
3.5 672 Assista Agoradedico ao meu amigo Felipe, que achou o trailer terrível lá na época que o filme tava pra sair nos cinemas. eu realmente não gosto de trailers mano, inclusive percebi anteontem que é puramente porque é uma montagem que nunca faz jus ao tom e ao ritmo do filme em questão, te dando não expectativas mais altas ou baixas do que deveria, mas sim esperar um filme diferente. a não ser que seja aquele diretor renomado que trabalha junto com o marketing. enfim, tenho que falar do filme.
é um monte de piadas convencionais, mas que o elenco mais que acerta na entrega, incluindo as várias referências. (uma delas é a trilha sonora baseada no trabalho do Aphex Twin.) também tem vários momentos de prender a respiração, e toma umas sequências de ação competentes também. (continuo achando que perseguições a carro não me agradam muito, mas aparentemente o que funciona é ter motoristas fazendo merda no volante) E, mais do que tudo, o casal central é surpreendentemente wholesome; não são bem babacas, não são comediantes da vida real, não estão prestes a pedir divórcio. ainda assim eles são sim engraçados, são competitivos e o casamento tem seus problemas. o casal é fofo do começo ao fim, a maior surpresa pra mim, depois do irmão vivido com um charme que nunca vira arrogância
O Farol
3.8 1,6K Assista Agorao filme começa com imagens da ilha imponentes de filme mudo, esmagadoras, mas pelo resto da duração é mais natural nesse sentido. o quadro dos dois de frente pra câmera já é icônica.
o roteiro ronda a possibilidade de tudo ser imaginação com habilidade. a loucura do Pattinson não se compara à do Dafoe, e não era pra ser. a instabilidade da primeira é legal, mas a segunda é maravilhosa; alternando entre agressividade e uma amigabilidade que o Wake só oferece sob a exigência de que o outro se submeta às regras do marinheiro, ela também tem uma galeria de momentos absurdos, dos quais quase todos são momentos engraçados, mas raramente são cômicos de fato, já que a atuação calibrada de Dafoe - e a iluminação estarrecedora - fazem o cuzinho piscar mais do que nos dão cócegas.
além disso, o elemento que eu esperava que não fosse funcionar comigo é a Luz, já que obsessões bizarras me alienam; este caso funcionou, mas enquanto a do Wake é algo muito orgânico, a do Winslow é algo que eu até que aprecio intelectualmente
Thor: Amor e Trovão
2.9 970 Assista Agoraa Natalie Portman é excelente, e uma sequência de flashbacks sobre o relacionamento com o Thor (Hemsworth também surpreendendo nos momentos mais honestos do personagem) nos dá uma razão pra torcer pelo casal pela primeira vez em três filmes.
o Thor passou por um trauma fodido e nesse filme retornou ao posto de deus arrogante sob uma fachada "iluminada". não é difícil entender.
o Korg é uma merda ambulante, uma piadinha de péssimo gosto que o diretor aparentemente vai ficar inserindo até em filme que ele não dirigiu (Lightyear). mas aí eu me sinto zoado quando eu acho graça de verdade de quando ele canta
John Wick: De Volta ao Jogo
3.8 1,8K Assista Agorareassistindo à série porque, honestamente, sempre quis muito gostar de John Wick, e por enquanto tá indo bem. o filme continua desfalcado nos elementos que não são a coreografia - sim, ótima; os toques realistas são essenciais (o modo que ele se aproxima de um local apontando uma arma demonstra a experiência do ator com as manobras do personagem) -, mas desta vez eu concordo que a sensação é de que o filme tem um objetivo em mente e só se dedica a alcançá-lo, não a de que é um projeto desnutrido; mas o tratamento fora do ponto focal é de Tela Quente mesmo - a motivação não serve de muita coisa. no entanto, outro acerto é que sentimos que só estamos testemunhando um balanceamento do ecossistema dos assassinos, onde o cara no topo da cadeia alimentar soltou sua fúria nos seus muitos inferiores, num submundo construído de um jeito crível
Top Gun: Maverick
4.2 1,1K Assista Agoraparece melhor que o primeiro, já que não tem o cringe dos anos 80 e a ação desta vez é boa (e muito); mas o filme apenas voa sobre a superfície dos mesmos elementos do anterior, elementos esses que já eram clichês. O romance é fraco, os cadetes não têm personalidade suficiente, mas vale a pena ver o Top Gun (Tom Cruise), ainda digno de seu codinome, amenizar sua velha inconsequência com a experiência de décadas no nicho dele, e é Top que ele, um professor mais doido que seus alunos, seja do tipo de mentor que todo mundo gostaria de ter
obs.: agradeço ao Gachimuchi pela sensação de conforto que me dá ver esses caras machões se provocando e jogando futebol
Sweeney Todd: O Barbeiro Demoníaco da Rua Fleet
3.9 2,2K Assista Agoraeles não são bons cantores
Sexo, Mentiras e Videotape
3.7 251 Assista Agoraé revigorante sentir que o filme está usando seus poucos recursos ao máximo, e com esses personagens, isso torna a experiência muito vívida e fascinante. em alguns pontos, as resoluções deles decepcionam, bem tradicionais pra um filme esperto desse (especialmente a cena final). mas o desfecho ainda é satisfatório com a última fita, um flashback etéreo realçado pelo tom vagamente desconcertante dos primórdios do vídeo digital e do ambient eletrônico da trilha sonora.
li que esse filme inspirou o cenário indie dos anos 90, o que já cria com afeto uma imagem de arauto dessa ilustre década lançado no último ano da década que atumalaka era lei
Elvis
3.8 757uma biografia que procura abertamente endeusar o sujeito, mas enquanto alguns momentos têm uma dimensão impressionante, geralmente todo o ataque aos nossos sentidos é bobo ou até embaraçoso. pra piorar, o ponto de vista é do empresário manipulador, o que coloca a faceta simples e humana do artista a uma distância que parece desnecessária - mas provavelmente é o que diferencia este filme de outros dramas sobre essa história
Vício Inerente
3.5 554 Assista AgoraEu nunca entendo filmes que são sobre esquemas complicados ou conspirações com um dedo de todo mundo no negócio, quem dirá um filme que nem os críticos que eu leio entenderam. Entendi que nem os pingos eram pra estar nos Is, mas só lendo depois; eu não percebi em nenhum momento as supostas alucinações do Doc, exceto quando elas encheram a tela. O que eu pude apreciar é cada segmento por si, embora me matando pra fazer minha cabeça conectar as figuras.
Enfim, esse universo é muito interessante. Eu juro que de novo eu reconheço o toque do P.T. Anderson; o filme ostenta uma quantidade absurda de sexo, drogas e crime, mas existe um equilíbrio, um controle sobre esse conteúdo que não só não esgana a diversão como também não torna tudo aquilo escrachado (e com um protagonista desse, é admirável), criando um mundo no qual vale a pena investir sua atenção em vez de só mandar um "c'est la vie!" Isso apesar de me incomodar na superfície que o detetive seja de um grupo chacota de todo mundo (do próprio filme), o que é sempre duvidoso pra mim
A Balada de Buster Scruggs
3.7 531 Assista Agoraa natureza truncada dos contos nos leva a ruminar sobre a vida no Velho Oeste, e, de certo modo, é com isso que o filme sempre se satisfaz. o do ouro é uma pura observação: parece que fazemos parte da natureza presenciando a "história", e os toques de fantasia fecham esse conceito de uma maneira fascinante. o da caravana é perfeito.
obs.: com esse e Licorice Pizza, Tom Waits é uma revelação pra mim. muito animado pra vê-lo em outros filmes. se ele fosse mulher eu já estaria escutando a música dele
O Acontecimento
4.0 79 Assista Agoraeficiente como retrato meticuloso e sutil que exige que você se coloque no lugar da protagonista. alguns momentos desses são inspirados. fora essas técnicas, a experiência não deixa de ser diminuta por ser previsível
Tudo em Todo O Lugar ao Mesmo Tempo
4.0 2,1K Assista Agoraos dois grandes expoentes do conceito de multiverso não decepcionaram. mas enquanto Doctor Strange é um olho no caleidoscópio que traz vários dublês perigosos, este filme é sobre a experiência humana. através de um uso ainda mais potente dessa teoria, o drama é mais poderoso, as conclusões são profundas e a resolução do conflito - a reafirmação de nossa natureza - é alcançada por puro cinema, o poder da imagem. não é nada muito complexo, seja no método ou no resultado, mas é que todo esse conteúdo emocional tá cuidadosamente implementado em sincronia com as lutas e as engrenagens da trama, dando uma sensação de propósito a tudo (e o melhor exemplo é a personagem de Jamie Lee Curtis). uma das coisas mais prazerosas é ir preenchendo as lacunas: e naquele universo, como aquela pessoa é? Everything não aliena o espectador apesar de tudo isso, e por mais que seja exaustivo, é do jeito bom. por enquanto, esse é o filme que todos os estúdios gostariam de ter feito.
obs.: o filme sofre bastante com uma caralhada de diálogos expositivos, mas nem nesses momentos deixa de ser divertido
Lightyear
3.3 389 Assista AgoraSIM EU ASSISTI O FILME LEGENDADO NO CINEMA.....SIM AINDA EXISTE SESSÃO LEGENDADA DE DESENHO.....MAIS ELES NÃO QUEREM QUE VOCÊ SAIBA... EU ESTAVA SOZINHO NA SESSÃO..... GERAÇÃO MIMIMI NÃO LÊ UM LIVRO SEQUER , QUEREM TUDO DUBLADINHO.....
Um Método Perigoso
3.5 1,1Knão sabia muito da história, mas fico surpreso com o filme ser centrado no Jung, seguido de perto por Sabina e tendo Freud como coadjuvante, mais uma figura do que um estudo de caso. A Dangerous Method enquadra o protagonista de uma maneira que vai se revelando cada vez mais vulnerável, usando a recorrência, por exemplo, do id, ego e super-ego representados nos 3 homens centrais (bem, pelo menos eu acho) e nos personagens se encontrando reféns dos problemas que tiveram com seus pais quando crianças
(primeiro Otto, a alma livre que inspira Jung mesmo ao transgredir regras que este considera necessárias, e depois o Jung lutando com a rejeição da figura paterna de Freud)
Sabina beija Jung pela primeira vez, e uma certa simplicidade em como ela se abre completamente para o terapeuta
, enquanto "pune" sua amante
mas o que realmente distingue o filme é a ênfase no processo de desenvolvimento da psicologia, em como aqueles indivíduos estão num processo de descoberta, em que cada novo passo à frente que eles dão abre portas empolgantes na área.
(tanto é que enquanto o relacionamento de Sabina com Jung parece acabar pela primeira vez, ela insiste em não deixar suas ideias morrerem junto e exige que ele se retrate para Freud.)
todas essas qualidades estão em evidência em uma das últimas cenas: Sabina pergunta a Jung, como sua ex-amante, se a nova é como ela; ele diz que não, mas ela desconstrói as informações como a profissional que ela agora é. aí o filme considera brevemente se talvez a espiritualidade de Jung não é verdadeira, novamente se colocando como uma obra interessada nos métodos de seus personagens. talvez esse último sonho tenha acontecido de verdade, mas isso não retira essa qualidade do filme.
O Homem do Norte
3.7 935 Assista Agoraparece o caso de um diretor de filmes distinguidos se dedicando a um projeto mais regular - apenas um filme de vikings. claro que ainda é bem executado e já vira uma recomendação no quesito de batalhas animalescas com acentos de fantasia, mas não tive muito no que investir meu emocional - especialmente quando sou relutante em torcer pelo protagonista. é provavelmente apropriado que falem que esse filme lembra black metal, porque apesar de não ir tão longe no brutal e niilista quanto o gênero musical, é algo que adapta essas coisas de uma maneira mais necessariamente moderada. mas eu gosto muito dessas músicas e ainda quero ver um filme mais extremo em toda a sua glória
p.s. a ponta da Björk foi acertada!
Doutor Estranho no Multiverso da Loucura
3.5 1,2K Assista Agoraa melhor das surpresas, não só porque usa as (agora obrigatórias) pontas de acolá dos universos de um jeito mais significativo (que o último Spider-Man, inclusive) e lida com seus personagens de formas mais severas do que o MCU já ousou fazer, mas porque é um crescendo que começa não provocando nenhuma reação minha mas vai se encontrando quanto mais sombrio e alucinante se torna. não me surpreende nem um pouco que Shuma-Gorath tenha virado só mais um monstro (e que eu tenha saído com vontade de jogar só com Strange em Marvel vs. Capcom), mas são ossos do ofício
Nem um Passo em Falso
3.2 96 Assista Agoraeu precisava assistir a algo confortável, então recorri ao meu diretor preferido. depois de Kimi (ótimo) e se tratando de um contrato tão prolífico com o HBO Max, esperava mais um filme que fosse bem focado nas maquinações centrais da trama. ele até é, e o próprio Kimi já se consistia na reação emocional da protagonista. como vocês podem perceber, eu não tinha razão pra me surpreender... enfim, quando eu penso no Soderbergh, penso num cara trabalhador, e isso se aplica muito bem ao protagonista deste. a trama é bem sinuosa e complexa, mas enquanto acompanhamos Cheadle e del Toro, estamos andando ali por fora de todo aquele fuzuê, da perspectiva desfavorecida dos dois, mas constantemente em propulsão confiante por causa da perícia do Goynes, enquanto Russo é de uma incompetência que só fica mais evidente quanto mais o tempo passa (e a conclusão do personagem é linda). mas realmente surpreendente é a família Wertz: a composição complexa da família branca de classe nos EUA dá a textura nas partes mais tensas do filme e o casal "no comando" é profundamente insatisfeito, o que rende um peso emocional tanto no mais ordinário quanto na jornada de filme na qual embarca certo personagem. são desvios que parecem desvios, embora bem mais dedicados que algo só pra dar um toque diferenciado na obra. no final ainda o filme decide mandar o Matt Damon pra roubar a cena com um personagem cuja presença é de fazer as mãos formigarem de tão desconfortável, o que torna essas cenas deliciosas. eu não entendo nada do comentário social do filme, mas com esses últimos diálogos, eu concordo completamente com No Sudden Move