assistindo eu tive uma impressão bem bobinha do filme. admito q é bem feito, mas pra mim era "bonitinho" em vez de ter um verdadeiro peso, do mesmo jeito que eu ainda penso de "El Pitchulas". mas quanto mais penso em "Guerra Civil", mais gosto.
vamos ir direto ao ponto: sim, é preciso que os personagens e a abordagem sejam cínicos. não é exatamente desse jeito que parece na primeira vez. são uns diálogos tipo "tudo me diz que aquilo é morte!" e "você não vai conseguir dormir hoje" que, pensando agora, são mais orgânicos, especialmente no segundo caso, já que o personagem do Wagner Moura é realmente um idiota (mas bom personagem). só que "eu nunca me senti tão viva" é irredimível.
é assim, muitos filmes bons realmente não arrancam o chapéu da sua cabeça com suas abordagens, não são revolucionários ou mesmo só ousados. né? muitos acabam retratando as coisas um pouco cansadas de sempre. embora "Guerra Civil" tenha menos credibilidade do que deveria ao lidar com essas convenções, realmente é um filme bem feito. é uma experiência de roer as unhas, embora eu estivesse preocupado que o filme fosse se preocupar mais com isso que com as possibilidades de reflexão da premissa. de fato, até a parte do racha leva a um dos melhores momentos do longa.
essa cena é um dos momentos aparentemente pontuais que o filme realmente se importa em dizer algo sobre os EUA, e por mim, de boa. eu gosto bastante do resultado disso (apesar de o Jesse Plemons estar atuando no mesmo tipo de sempre me frustrar) e de outras como o sniper do Natal lá. são curtos e simples, servem o filme muito bem. (notem que um daqueles diálogos bobos acontece nessa cena — "nós somos da imprensa." "e daí?" — mas o filme não coloca o personagem que fala isso como o porta-voz da esperteza da produção.)
uma coisa é certa: se partes como aquele incêndio na estrada pareciam especialmente gratuitas (já mudei de ideia com relação a isso também), o clímax é do caralho. claro que vai ser simples demais pros NORMIES, mas além de minutos de tensão que flui como água, o desenvolvimento dos personagens encontra um desfecho sucinto ali que, graças a uma das melhores cenas já feitas, fica na cabeça por muito tempo.
bônus pra cena em que Lee e Jessie tão deitadas na grama e um uso excepcional de CGI (acreditam? num filme do Garland?) faz uma ligação entre as duas por meio de FLORES; e como os EUA se tornam uma vista distintiva de guerra quando regiões inteiras ficam abandonadas.
desde o início temos a possibilidade de um anime único, e em boa parte é mesmo. o foco em crianças é interessante: sim, são supercrianças, gênios e com mais controle emocional do que seria possível de pessoas nessa idade, mas a série aproveita muito bem a inocência que resta nesses personagens pra tornar a história mais tocante. o alto-conceito, pegando um ponto de vista dramático incomum e com uma trama cheia de mistérios e reviravoltas, me lembra, claro, de "Lost".
mas essa temporada não é imune a certos vícios de anime. fora algumas coisas até banais, o que dá uma afundada na série é a Irmã Krone, uma caricatura absurda que desestabiliza o equilíbrio emocional que a série mostra nos melhores momentos. tentam tardiamente humanizar ela e a Mãe, mas ambos esforços são idiotas depois de, respectivamente, puro exagero e nenhum nuance. ainda bem que a reta final se livra desses erros e não dilui o poder de levar às lágrimas e fazer o espectador parar de respirar em alguns momentos.
o Napoleão de Scott e Phoenix é uma figura que gera interesse facilmente desde a primeira vez que ele aparece até a última. mas e daí? o filme não para quase nunca pra aprofundar isso, mostrando algum vislumbre de um homem oscilando entre a insegurança e o ímpeto de mover nações (chegando até num "destino" cujo discurso o ator diferencia o bastante dos impulsos mais... humanos nas outras cenas) antes de pular pra outro recorte específico da vida do protagonista — tirando do espectador tanto a progressão natural do tempo (coisa do passado) quanto a oportunidade de acessar algum ponto vital do personagem. pior ainda é a Josefina, quase um exercício de blueballing, que parece que descansa no colo de um contraste fundamental entre amor e dominação, como se o mero paradoxo fosse comida suficiente no nosso prato de quase 3 h.
claro que é tudo filmado com uma firmeza enorme, um modelo bem executado de encenação que, considerando todo o investimento que eu tive ao longo da sessão, me dá vontade de tentar o golpe estendido no futuro.
pra quem não sabe, o ator principal, James McAvoy (o queridinho do público desde "Fragmentado") descobre o filme com o espectador, sem saber da trama nem dos diálogos antes de entrar em cena, exceto o pano de fundo do seu personagem.
claro que isso gera uma distração constante no filme, já que estamos desproporcionalmente de olho no ator. porém, essa desvantagem a gente leva numa boa a fim de testemunhar algo que pode ser histórico pro Cinema.
desde o começo o filme tem como principal característica a falta de uma montagem elaborada, que propele qualquer filme num ritmo cativante. a impressão que dá é que os realizadores provavelmente não queriam desperdiçar nada do improviso do ator, apesar de isso provavelmente não ser o caso. a câmera é sempre paciente, esperando qualquer manobra surpresa do McAvoy, e ele não aproveita isso pra meter o loco, o que cria um clima de documentário. isso funciona porque a atmosfera do filme é perfeitamente melancólica, capturando paisagens incríveis da Escócia em vários tons de encharcado pela chuva, e o protagonista, apesar de não desorganizar o filme com improviso, é sempre ativo ao mostrar um luto nervoso e uma determinação que é problemática no sentido que rende muita tensão ao filme.
mas para por aí. fora as cenas de investigação e a da invasão domiciliar, o filme não justifica o truque inusitado da produção dali em diante, quando a missão às escondidas são só um exercício de esperar o desfecho, sem tensão ou qualquer outra coisa que pelo menos fizesse uma diferença positiva. os capangas não ajudam, dando o tom genérico dessa parte final que falha com sustentar o resto do filme.
pra mim, realmente não tem problema não revelarem quase nada sobre a conspiração da trama. de resto, temos um filme que talvez seja de interesse pra quem gosta de pensar bastante sobre a experiência cinematográfica, se "Meu Filho" acabar falhando como suspense.
caso o filme se encontre longe do Hamlet do Branagh, eletrizante, feroz, febril, são o tédio e o humor não intencional que darão as caras. se esse ator não veio dos palcos eu te devo 10 lulas
a premissa do protagonista se desenvolve cedo e se resolve logo, o que, junto com a fotografia P&B, estabelece uma abordagem seca e pouco afetada pelos atos cada vez mais desviantes do personagem. ele não tem carisma, o que não prejudica em nada o filme já que o homem com quem ele cruza tem uma personalidade grande pra contrabalancear o cinismo frio até então.
o filme é muito mais interessante como uma análise psicológica do protagonista que um suspense cheio de reviravoltas, o que acaba sendo o foco no desfecho. a não-linearidade é muito importante nesse filme; eu não sei se existe uma justificativa pra narrativa fragmentada (que "Amnésia" tem) além do fato que simplesmente funciona. alguns veem esse aspecto como pretensioso quando comparado com a simplicidade do média-metragem (?), enquanto eu não vejo o filme usando um disfarce vazio — na verdade, um complemento a essa simplicidade, inclusive servindo melhor a trajetória do personagem principal que as surpresas da trama, ainda mais se imaginarmos o desserviço que seria aplicar o estilo do filme numa linha reta.
é broxante demais dizer que uma trupe que tira sarro de absolutamente tudo acaba se atolando na sua mensagem. é uma mensagem inteligente e a maior parte é muito engraçada, só que tem horas que a risada para, mas nada ficou sério (pelo menos isso). além disso, bastante tempo de tela e saúde de tímpanos pra coisas bobas como a mãe do Brian.
a parte 2 tá aqui pra converter os céticos: um filme que traz tudo que funcionou no anterior e melhora e completa a experiência. pesada e trágica, a base dessa história foi introduzida com uma escala impressionante e um foco político que faz falta demais em Hollywood. aqui temos um épico cuja magnitude emocional dificilmente poderia ser mais forte. é incrível que retornem a pressão messiânica do Paul, a conspiração sujíssima das Bene Gesserit, e a brutalidade dos Harkonnen, e ainda assim tenhamos momentos fraternos e engraçados em Arrakis e até diversão sombria em Giedi Prime, e nada disso ser um elemento bônus numa experiência em que o espectador passa por tantos pesadelos quanto o próprio Muad'dib tem quando dorme. as visões dele são vislumbres que pontuam o filme com ambiguidade ora agridoce, ora apocalíptica, mas o verdadeiro pesadelo é testemunhar a extensão do jogo de poder nesse mundo... se "Duna" é expansivo, não é pra deslumbrar com um universo cheio de mágica e tecnologia — na verdade, ninguém sai da sessão inteiro.
o que os 2 Irmãos veem nos seus personagens americanos é sem igual, e é uma dádiva que eles conseguem encenar isso pra nós. com "Gosto de Sangue", os Coen se consagraram de vez como meus realizadores de conforto (embora isso seja um pouco prejudicial). sempre sei que quando quiser uma experiência garantida, o ar que permeia esses filmes, as pequenas pausas nas caracterizações, os momentos em que os erros dos personagens são punidos sadicamente vão ser de muito bom gosto.
apesar de lidar com um histórico vergonhoso da sociedade americana, "Carol" tem um afeto pela época (anos 50) que torna o filme uma experiência amável, indo de encontro ao romance forte no centro. a Cate Blanchett é fenomenal nessa história que é sedutora, mas se desenvolve com muita paciência e respeito pelos limites das personagens. é tudo agradável e apaixonante, mesmo que o estômago do espectador leve alguns socos no decorrer.
uma passada breve pela teoria da montagem do Eisenstein, e o texto é único, pragmático e incrivelmente específico pra época (e pra alguém que nunca realmente leu teoria cinematográfica.
"Potemkin" tem uma construção de tensão imaculada. além disso, a violência é bem mais intrigante que aquela opressão que nos aproxima da causa que o filme defende: isso aqui é verdadeiro músculo, com um poder revolucionário DE VERDADE que eu nunca tinha visto antes.
"Vidas Passadas" é convencional até. os closes são familiares e as vistas são bonitas sem inspirar, os enquadramentos estão apenas numa categoria diferente de um romance desprovido de sal. mas, mais importante que a apresentação, o filme representa de um modo puro o seu problema central: o silêncio entre olhares que constrói um dilema que na verdade já tem resposta, e não é uma solução da maneira que uma criança gostaria, como alguém na melhor fase da sua vida, livre pra conectar suas maiores aspirações à sua pura satisfação, desejos do tipo que, quando adulta, essa criança se frustre com o fato de só poder realizá-los com uma lâmpada mágica — e a essa altura do campeonato, é mais fácil acreditar numa trama cósmica que une essa adulta com quem veio depois.
o filme, como disse, leva a cabo olhares e desvios, silêncios e diálogos que seriam banais se não fosse dois amantes separados por toda uma vida construída, contemplando um "talvez" que, talvez, assim que eles partirem e retornarem ao mundo, possa nutrir um casal pelo simples toque entre as mãos. é uma linguagem que fica num espectro de "Só isso?" até "Vale mais do que mil palavras". neste caso, ainda temos um diálogo brilhante no núcleo do filme que, talvez, detone esse clichê.
câmeras e microfones (diegéticos e não-diegéticos) enchem cada cena com o imediatismo de uma investigação criminal, com todo aquele jeito de revirar a vida de quem está nos holofotes, invasão da privacidade a ponto de nos fazer sentirmos nus forçadamente diante de um tribunal, seja por causa ou apesar do julgamento do espectador. é um processo que mostra uma grande autenticidade e é muito envolvente, mas não toma a estrada do sensacionalismo, resultando num filme que toma liberdade pra agravar o drama sem deslizar no desconforto de quem não quer um filme "barato", que se aproveita de um crime ou uma tragédia. cf. veredito.
cada revelação que contradiz a ré é uma recompensa cinematográfica no sentido mais pessoal das circunstâncias. mas o que mais eleva o filme é o filho, um personagem genuíno, o qual "Anatomia de Uma Queda" isenta do seu enfoque pseudo-jornalístico. isso não destoa tanto do resto, já que a direção não pesa a mão, mas, sutilmente, o filme fecha dando a impressão de que o lado do pequeno Daniel é tudo que nós precisávamos.
muito básico, mas sem dúvida bom. cria uma atmosfera estranhíssima e vazia. isso desde que abre com uma situação dramática em torno de um evento simples, mas que deixa o clima doméstico indescritível e cai como uma luva na invasão que vem logo depois.
a caracterização dos psicóticos é cheia de lacunas, onde o filme tira qualquer oportunidade de sequer esclarecer quais são o modus operandi e o intuito dos assassinos. na fotografia amarelada que nos prende numa alienação e nos deixa com uma leve inclinação a embrulhar o estômago, além da câmera que não perde tempo nem potência com sol e verdes fora do domicílio, esses personagens evitam o cringe de filmes como "You're Next" ou "The Purge" (e "Prey at Night" rs), já que não dá pra identificar a humanidade por trás das máscaras daquelas silhuetas. mesmo com aqueles desenhos em sangue de "hello" e ":)", eles não tentam ser o Coringa.
no fim das contas, o filme é até prejudicado por ser tão básico, além de estar cheio de sustos genéricos. mas era algo mais interessante, que não merecia a forçação de anos 80 e drama de família cansado da sequência. e vai ter reboot? qual é o lance com "The Strangers"?
mantém a estranheza da situação: fascinante ver animais que são parecidos mas, no fim das contas, inferiores ganharem uma voz e um poder grande que fere não só nossa segurança mas, acima de tudo, nosso orgulho.
além disso, é a construção de uma verdadeira lenda, porque o filme testemunha com reverência o que tá no título, então cada passo tem um impacto moderadamente assombroso.
a visão que o Noé tem das coisas costuma ser entrópica, e ele leva isso a cabo aqui, e novamente com um truque cinematográfico que, noss outros filmes dele, pelo menos sempre começa bem, servindo muito bem o roteiro e as atuações. aqui, esse truque simplesmente não deixa de funcionar nunca. acompanhar dois pontos de vista ao mesmo tempo *e quase em tempo real* de vida doméstica lenta, é claro, vai dar em um bom tempo de um ou os dois pontos de vista demorarem num "nada", num espaço meio negativo. que isso não estrague nunca no filme é uma das duas coisas que podem te dar alegria nesse "Vortex".
isso porque toda vez que contrasta o marido com a esposa, é pra gerar angústia. de uma maneira muito paciente, nunca chegando a arrastar. as piscadas da câmera são um toque muito bom, não só criando uma tensão muito sutil, emulando os olhos da mulher num vazio triste conforme ela rodeia a casa sem um motivo, assim como não dá pra deixar de notar que parecem fotos sendo tiradas, como ela costumava fazer.
mas essa história não serve só pra ver o casal definhando. apesar de todo o sofrimento em volta do estado mental deteriorado dela, emerge um amor muito bonito entre marido, esposa e filho, formando um olhar honesto tanto na desgraça quanto na dedicação da família. por mais que doa, até o final o filme se mostra uma declaração de verdadeiro carinho.
estranho e lindo de um jeito estranho — impressionismo e cores opacas que, mesmo quando adentramos o mundo da fantasia, com papagaios humanoides desastrados, não é uma mudança tão exuberante quanto esperamos do diretor.
o arco emocional dos personagens também não anda um caminho tão linear; eu chorei nos primeiros minutos do filme, mas lá pro final é algo bem oposto, quando o impacto dramático é bem abrandado, mas o impacto maravilhoso e incompreensível do que tá na tela é grande. assim, provavelmente isso é mais porque eu não peguei o significado dr cada cena, porque adentrando o mundo de baixo tudo parece ser carregado de simbolismo. se tem algo valioso pra descobrir por trás disso tudo, talvez o final — que é a epítome de olhos maravilhados e coração distante — possa virar algo mais satisfatório no geral. mesmo assim, não posso deixar o lado sentimental desconsiderar esse desfecho.
nem de longe incompleto, como eu achei da primeira vez, porque é emocionante em vários aspectos e o arco me deixa satisfeito, mas querendo mais.
o peso nos ombros dos heróis (especialmente a dinâmica mãe e filho) e o tratamento absolutamente trágico da ação não só vai ser uma das minhas recomendações frequentes pra quem dispensa esse filme por não gostar de blockbusters como também me faz finalmente grato por ter esse tipo de épico espacial movimentando o cinema.
quando você sente uma coerência ou uma concordância das imagens no mesmo lugar em que elas cativam por não terem nem um punhado de razão, você sabe que o cinema é incrível — bem, a não ser que você abandone qualquer experiência cinematográfica prazerosa que você não tenha base pra explicar. só assiste o filme.
Rivais
4.0 68tênis por uma causa nobre
Guerra Civil
3.8 185assistindo eu tive uma impressão bem bobinha do filme. admito q é bem feito, mas pra mim era "bonitinho" em vez de ter um verdadeiro peso, do mesmo jeito que eu ainda penso de "El Pitchulas". mas quanto mais penso em "Guerra Civil", mais gosto.
vamos ir direto ao ponto: sim, é preciso que os personagens e a abordagem sejam cínicos. não é exatamente desse jeito que parece na primeira vez. são uns diálogos tipo "tudo me diz que aquilo é morte!" e "você não vai conseguir dormir hoje" que, pensando agora, são mais orgânicos, especialmente no segundo caso, já que o personagem do Wagner Moura é realmente um idiota (mas bom personagem). só que "eu nunca me senti tão viva" é irredimível.
é assim, muitos filmes bons realmente não arrancam o chapéu da sua cabeça com suas abordagens, não são revolucionários ou mesmo só ousados. né? muitos acabam retratando as coisas um pouco cansadas de sempre. embora "Guerra Civil" tenha menos credibilidade do que deveria ao lidar com essas convenções, realmente é um filme bem feito. é uma experiência de roer as unhas, embora eu estivesse preocupado que o filme fosse se preocupar mais com isso que com as possibilidades de reflexão da premissa. de fato, até a parte do racha leva a um dos melhores momentos do longa.
essa cena é um dos momentos aparentemente pontuais que o filme realmente se importa em dizer algo sobre os EUA, e por mim, de boa. eu gosto bastante do resultado disso (apesar de o Jesse Plemons estar atuando no mesmo tipo de sempre me frustrar) e de outras como o sniper do Natal lá. são curtos e simples, servem o filme muito bem. (notem que um daqueles diálogos bobos acontece nessa cena — "nós somos da imprensa." "e daí?" — mas o filme não coloca o personagem que fala isso como o porta-voz da esperteza da produção.)
uma coisa é certa: se partes como aquele incêndio na estrada pareciam especialmente gratuitas (já mudei de ideia com relação a isso também), o clímax é do caralho. claro que vai ser simples demais pros NORMIES, mas além de minutos de tensão que flui como água, o desenvolvimento dos personagens encontra um desfecho sucinto ali que, graças a uma das melhores cenas já feitas, fica na cabeça por muito tempo.
bônus pra cena em que Lee e Jessie tão deitadas na grama e um uso excepcional de CGI (acreditam? num filme do Garland?) faz uma ligação entre as duas por meio de FLORES; e como os EUA se tornam uma vista distintiva de guerra quando regiões inteiras ficam abandonadas.
The Promised Neverland (1ª Temporada)
4.4 153 Assista Agoradesde o início temos a possibilidade de um anime único, e em boa parte é mesmo. o foco em crianças é interessante: sim, são supercrianças, gênios e com mais controle emocional do que seria possível de pessoas nessa idade, mas a série aproveita muito bem a inocência que resta nesses personagens pra tornar a história mais tocante. o alto-conceito, pegando um ponto de vista dramático incomum e com uma trama cheia de mistérios e reviravoltas, me lembra, claro, de "Lost".
mas essa temporada não é imune a certos vícios de anime. fora algumas coisas até banais, o que dá uma afundada na série é a Irmã Krone, uma caricatura absurda que desestabiliza o equilíbrio emocional que a série mostra nos melhores momentos. tentam tardiamente humanizar ela e a Mãe, mas ambos esforços são idiotas depois de, respectivamente, puro exagero e nenhum nuance. ainda bem que a reta final se livra desses erros e não dilui o poder de levar às lágrimas e fazer o espectador parar de respirar em alguns momentos.
Wonka
3.4 382 Assista Agoraestou há 00 dias sem assistir filme dublado
Napoleão
3.2 320 Assista Agorao Napoleão de Scott e Phoenix é uma figura que gera interesse facilmente desde a primeira vez que ele aparece até a última. mas e daí? o filme não para quase nunca pra aprofundar isso, mostrando algum vislumbre de um homem oscilando entre a insegurança e o ímpeto de mover nações (chegando até num "destino" cujo discurso o ator diferencia o bastante dos impulsos mais... humanos nas outras cenas) antes de pular pra outro recorte específico da vida do protagonista — tirando do espectador tanto a progressão natural do tempo (coisa do passado) quanto a oportunidade de acessar algum ponto vital do personagem. pior ainda é a Josefina, quase um exercício de blueballing, que parece que descansa no colo de um contraste fundamental entre amor e dominação, como se o mero paradoxo fosse comida suficiente no nosso prato de quase 3 h.
claro que é tudo filmado com uma firmeza enorme, um modelo bem executado de encenação que, considerando todo o investimento que eu tive ao longo da sessão, me dá vontade de tentar o golpe estendido no futuro.
eu não tenho AppleTV.
Meu Filho
2.8 107pra quem não sabe, o ator principal, James McAvoy (o queridinho do público desde "Fragmentado") descobre o filme com o espectador, sem saber da trama nem dos diálogos antes de entrar em cena, exceto o pano de fundo do seu personagem.
claro que isso gera uma distração constante no filme, já que estamos desproporcionalmente de olho no ator. porém, essa desvantagem a gente leva numa boa a fim de testemunhar algo que pode ser histórico pro Cinema.
desde o começo o filme tem como principal característica a falta de uma montagem elaborada, que propele qualquer filme num ritmo cativante. a impressão que dá é que os realizadores provavelmente não queriam desperdiçar nada do improviso do ator, apesar de isso provavelmente não ser o caso. a câmera é sempre paciente, esperando qualquer manobra surpresa do McAvoy, e ele não aproveita isso pra meter o loco, o que cria um clima de documentário. isso funciona porque a atmosfera do filme é perfeitamente melancólica, capturando paisagens incríveis da Escócia em vários tons de encharcado pela chuva, e o protagonista, apesar de não desorganizar o filme com improviso, é sempre ativo ao mostrar um luto nervoso e uma determinação que é problemática no sentido que rende muita tensão ao filme.
mas para por aí. fora as cenas de investigação e a da invasão domiciliar, o filme não justifica o truque inusitado da produção dali em diante, quando a missão às escondidas são só um exercício de esperar o desfecho, sem tensão ou qualquer outra coisa que pelo menos fizesse uma diferença positiva. os capangas não ajudam, dando o tom genérico dessa parte final que falha com sustentar o resto do filme.
pra mim, realmente não tem problema não revelarem quase nada sobre a conspiração da trama. de resto, temos um filme que talvez seja de interesse pra quem gosta de pensar bastante sobre a experiência cinematográfica, se "Meu Filho" acabar falhando como suspense.
Hamlet
4.0 71caso o filme se encontre longe do Hamlet do Branagh, eletrizante, feroz, febril, são o tédio e o humor não intencional que darão as caras. se esse ator não veio dos palcos eu te devo 10 lulas
Following
4.0 302 Assista Agoraa premissa do protagonista se desenvolve cedo e se resolve logo, o que, junto com a fotografia P&B, estabelece uma abordagem seca e pouco afetada pelos atos cada vez mais desviantes do personagem. ele não tem carisma, o que não prejudica em nada o filme já que o homem com quem ele cruza tem uma personalidade grande pra contrabalancear o cinismo frio até então.
o filme é muito mais interessante como uma análise psicológica do protagonista que um suspense cheio de reviravoltas, o que acaba sendo o foco no desfecho. a não-linearidade é muito importante nesse filme; eu não sei se existe uma justificativa pra narrativa fragmentada (que "Amnésia" tem) além do fato que simplesmente funciona. alguns veem esse aspecto como pretensioso quando comparado com a simplicidade do média-metragem (?), enquanto eu não vejo o filme usando um disfarce vazio — na verdade, um complemento a essa simplicidade, inclusive servindo melhor a trajetória do personagem principal que as surpresas da trama, ainda mais se imaginarmos o desserviço que seria aplicar o estilo do filme numa linha reta.
A Vida de Brian
4.2 560 Assista Agoraé broxante demais dizer que uma trupe que tira sarro de absolutamente tudo acaba se atolando na sua mensagem. é uma mensagem inteligente e a maior parte é muito engraçada, só que tem horas que a risada para, mas nada ficou sério (pelo menos isso). além disso, bastante tempo de tela e saúde de tímpanos pra coisas bobas como a mãe do Brian.
Duna: Parte 2
4.4 592a parte 2 tá aqui pra converter os céticos: um filme que traz tudo que funcionou no anterior e melhora e completa a experiência. pesada e trágica, a base dessa história foi introduzida com uma escala impressionante e um foco político que faz falta demais em Hollywood. aqui temos um épico cuja magnitude emocional dificilmente poderia ser mais forte. é incrível que retornem a pressão messiânica do Paul, a conspiração sujíssima das Bene Gesserit, e a brutalidade dos Harkonnen, e ainda assim tenhamos momentos fraternos e engraçados em Arrakis e até diversão sombria em Giedi Prime, e nada disso ser um elemento bônus numa experiência em que o espectador passa por tantos pesadelos quanto o próprio Muad'dib tem quando dorme. as visões dele são vislumbres que pontuam o filme com ambiguidade ora agridoce, ora apocalíptica, mas o verdadeiro pesadelo é testemunhar a extensão do jogo de poder nesse mundo... se "Duna" é expansivo, não é pra deslumbrar com um universo cheio de mágica e tecnologia — na verdade, ninguém sai da sessão inteiro.
Gosto de Sangue
3.9 158 Assista Agorao que os 2 Irmãos veem nos seus personagens americanos é sem igual, e é uma dádiva que eles conseguem encenar isso pra nós. com "Gosto de Sangue", os Coen se consagraram de vez como meus realizadores de conforto (embora isso seja um pouco prejudicial). sempre sei que quando quiser uma experiência garantida, o ar que permeia esses filmes, as pequenas pausas nas caracterizações, os momentos em que os erros dos personagens são punidos sadicamente vão ser de muito bom gosto.
Carol
3.9 1,5K Assista Agoraapesar de lidar com um histórico vergonhoso da sociedade americana, "Carol" tem um afeto pela época (anos 50) que torna o filme uma experiência amável, indo de encontro ao romance forte no centro. a Cate Blanchett é fenomenal nessa história que é sedutora, mas se desenvolve com muita paciência e respeito pelos limites das personagens. é tudo agradável e apaixonante, mesmo que o estômago do espectador leve alguns socos no decorrer.
O Encouraçado Potemkin
4.2 342 Assista Agorauma passada breve pela teoria da montagem do Eisenstein, e o texto é único, pragmático e incrivelmente específico pra época (e pra alguém que nunca realmente leu teoria cinematográfica.
"Potemkin" tem uma construção de tensão imaculada. além disso, a violência é bem mais intrigante que aquela opressão que nos aproxima da causa que o filme defende: isso aqui é verdadeiro músculo, com um poder revolucionário DE VERDADE que eu nunca tinha visto antes.
Vidas Passadas
4.2 721 Assista Agora"Vidas Passadas" é convencional até. os closes são familiares e as vistas são bonitas sem inspirar, os enquadramentos estão apenas numa categoria diferente de um romance desprovido de sal. mas, mais importante que a apresentação, o filme representa de um modo puro o seu problema central: o silêncio entre olhares que constrói um dilema que na verdade já tem resposta, e não é uma solução da maneira que uma criança gostaria, como alguém na melhor fase da sua vida, livre pra conectar suas maiores aspirações à sua pura satisfação, desejos do tipo que, quando adulta, essa criança se frustre com o fato de só poder realizá-los com uma lâmpada mágica — e a essa altura do campeonato, é mais fácil acreditar numa trama cósmica que une essa adulta com quem veio depois.
o filme, como disse, leva a cabo olhares e desvios, silêncios e diálogos que seriam banais se não fosse dois amantes separados por toda uma vida construída, contemplando um "talvez" que, talvez, assim que eles partirem e retornarem ao mundo, possa nutrir um casal pelo simples toque entre as mãos. é uma linguagem que fica num espectro de "Só isso?" até "Vale mais do que mil palavras". neste caso, ainda temos um diálogo brilhante no núcleo do filme que, talvez, detone esse clichê.
Anatomia de uma Queda
4.0 782 Assista Agoracâmeras e microfones (diegéticos e não-diegéticos) enchem cada cena com o imediatismo de uma investigação criminal, com todo aquele jeito de revirar a vida de quem está nos holofotes, invasão da privacidade a ponto de nos fazer sentirmos nus forçadamente diante de um tribunal, seja por causa ou apesar do julgamento do espectador. é um processo que mostra uma grande autenticidade e é muito envolvente, mas não toma a estrada do sensacionalismo, resultando num filme que toma liberdade pra agravar o drama sem deslizar no desconforto de quem não quer um filme "barato", que se aproveita de um crime ou uma tragédia. cf. veredito.
cada revelação que contradiz a ré é uma recompensa cinematográfica no sentido mais pessoal das circunstâncias. mas o que mais eleva o filme é o filho, um personagem genuíno, o qual "Anatomia de Uma Queda" isenta do seu enfoque pseudo-jornalístico. isso não destoa tanto do resto, já que a direção não pesa a mão, mas, sutilmente, o filme fecha dando a impressão de que o lado do pequeno Daniel é tudo que nós precisávamos.
Os Estranhos
3.1 1,3K Assista Agoramuito básico, mas sem dúvida bom. cria uma atmosfera estranhíssima e vazia. isso desde que abre com uma situação dramática em torno de um evento simples, mas que deixa o clima doméstico indescritível e cai como uma luva na invasão que vem logo depois.
a caracterização dos psicóticos é cheia de lacunas, onde o filme tira qualquer oportunidade de sequer esclarecer quais são o modus operandi e o intuito dos assassinos. na fotografia amarelada que nos prende numa alienação e nos deixa com uma leve inclinação a embrulhar o estômago, além da câmera que não perde tempo nem potência com sol e verdes fora do domicílio, esses personagens evitam o cringe de filmes como "You're Next" ou "The Purge" (e "Prey at Night" rs), já que não dá pra identificar a humanidade por trás das máscaras daquelas silhuetas. mesmo com aqueles desenhos em sangue de "hello" e ":)", eles não tentam ser o Coringa.
no fim das contas, o filme é até prejudicado por ser tão básico, além de estar cheio de sustos genéricos. mas era algo mais interessante, que não merecia a forçação de anos 80 e drama de família cansado da sequência. e vai ter reboot? qual é o lance com "The Strangers"?
Uma Noite Alucinante 2
3.8 711 Assista Agorade novo, tenso e muito divertido, mas distrai demais, chamando a atenção o tempo todo pro fato de que tudo é artifício cinematográfico.
Planeta dos Macacos: A Origem
3.8 3,2K Assista Agoramantém a estranheza da situação: fascinante ver animais que são parecidos mas, no fim das contas, inferiores ganharem uma voz e um poder grande que fere não só nossa segurança mas, acima de tudo, nosso orgulho.
além disso, é a construção de uma verdadeira lenda, porque o filme testemunha com reverência o que tá no título, então cada passo tem um impacto moderadamente assombroso.
Invocation of Canyons and Boulders
1.8 1menino ou menina?
Zen for Film
4.0 1contexto é tudo
Vortex
4.0 64a visão que o Noé tem das coisas costuma ser entrópica, e ele leva isso a cabo aqui, e novamente com um truque cinematográfico que, noss outros filmes dele, pelo menos sempre começa bem, servindo muito bem o roteiro e as atuações. aqui, esse truque simplesmente não deixa de funcionar nunca. acompanhar dois pontos de vista ao mesmo tempo *e quase em tempo real* de vida doméstica lenta, é claro, vai dar em um bom tempo de um ou os dois pontos de vista demorarem num "nada", num espaço meio negativo. que isso não estrague nunca no filme é uma das duas coisas que podem te dar alegria nesse "Vortex".
isso porque toda vez que contrasta o marido com a esposa, é pra gerar angústia. de uma maneira muito paciente, nunca chegando a arrastar. as piscadas da câmera são um toque muito bom, não só criando uma tensão muito sutil, emulando os olhos da mulher num vazio triste conforme ela rodeia a casa sem um motivo, assim como não dá pra deixar de notar que parecem fotos sendo tiradas, como ela costumava fazer.
mas essa história não serve só pra ver o casal definhando. apesar de todo o sofrimento em volta do estado mental deteriorado dela, emerge um amor muito bonito entre marido, esposa e filho, formando um olhar honesto tanto na desgraça quanto na dedicação da família. por mais que doa, até o final o filme se mostra uma declaração de verdadeiro carinho.
O Menino e a Garça
4.0 215estranho e lindo de um jeito estranho — impressionismo e cores opacas que, mesmo quando adentramos o mundo da fantasia, com papagaios humanoides desastrados, não é uma mudança tão exuberante quanto esperamos do diretor.
o arco emocional dos personagens também não anda um caminho tão linear; eu chorei nos primeiros minutos do filme, mas lá pro final é algo bem oposto, quando o impacto dramático é bem abrandado, mas o impacto maravilhoso e incompreensível do que tá na tela é grande. assim, provavelmente isso é mais porque eu não peguei o significado dr cada cena, porque adentrando o mundo de baixo tudo parece ser carregado de simbolismo. se tem algo valioso pra descobrir por trás disso tudo, talvez o final — que é a epítome de olhos maravilhados e coração distante — possa virar algo mais satisfatório no geral. mesmo assim, não posso deixar o lado sentimental desconsiderar esse desfecho.
Duna: Parte 1
3.8 1,6K Assista Agoranem de longe incompleto, como eu achei da primeira vez, porque é emocionante em vários aspectos e o arco me deixa satisfeito, mas querendo mais.
o peso nos ombros dos heróis (especialmente a dinâmica mãe e filho) e o tratamento absolutamente trágico da ação não só vai ser uma das minhas recomendações frequentes pra quem dispensa esse filme por não gostar de blockbusters como também me faz finalmente grato por ter esse tipo de épico espacial movimentando o cinema.
A Idade do Ouro
3.8 85quando você sente uma coerência ou uma concordância das imagens no mesmo lugar em que elas cativam por não terem nem um punhado de razão, você sabe que o cinema é incrível — bem, a não ser que você abandone qualquer experiência cinematográfica prazerosa que você não tenha base pra explicar. só assiste o filme.