"São Paulo S/A é um libelo contra alguns dos mecanismos que fazem do homem, em vez de um ser livre, capaz de decisões, o dente de uma engrenagem da qual, frequentemente, ele nem chega a ter conhecimento" Luís Sérgio Person
O romance entre os protagonistas está o tempo todo sendo entrecortado pelo contexto da produção cinematográfica clássica, e é esse aspecto que faz a história valer a pena. É um filme que fala sobre a decadência do cinema clássico; mostra o monopólio dos produtores sobre a filmagem e edição dos filmes, e, em contrapartida, mostra também a influência diminuída de diretores e escritores (eles são meros funcionários do produtor). Essa situação muda a partir dos anos 50, principalmente em consequência da lei de antitruste que diminuia o monopólio dos grandes estúdios. O que vemos no filme são os momentos finais desse período. O jeito clássico de fazer cinema não deixa de existir, mas passa a concorrer com novas formas vanguardistas, ou seja, com diretores que ambicionam fazer obras autorais e com caráter mais artístico.
Adorei o final, com os dois protagonistas olhando diretamente para a câmera e o Deniro conversando com o telespectador... é um rompimento claro com a forma com que todo o restante do filme foi gravado.
Para quem se interessa em ler mais sobre o assunto tem um livro do Jean-Paul Sartre chamado "Coloniasmo e Neocolonialismo", que é uma organização de artigos, ensaios e conferências dele que refletem sobre o neocolonialismo e o seu passado histórico, sendo que entre os tópicos está a questão argelina. Vou transcrever aqui o trecho de um texto de 1956 chamado "O colonialismo é um sistema":
"(...) O nacionalismo argelino não é a simples revivência das antigas tradições, das antigas afeições: é o meio de que os argelinos dispõem para fazer cessar sua exploração. Vimos Jules Ferry declarar na Câmara: 'Lá onde está a predominância política, lá está a predominância econômica... ' Os argelinos morrem pela nossa predominância econômica, mas tiram proveito desse ensinamento: para suprimi-la, foi a nossa predominância política que decidiram atacar. Assim os colonos formaram eles próprios seus adversários; mostraram aos hesitantes que nenhuma solução era possível fora de uma solução de força. O único benefício do colonialismo é que ele deve mostrar-se intransigente para durar e que ele prepara sua perda por sua intransigência. Nós, franceses da Metrópole, temos apenas uma lição a tirar desses fatos: o colonialismo está destruindo-se por si mesmo. Mas ele contamina ainda a atmosfera: ele é nossa vergonha, zomba de nossas leis ou as caricatua; infecta-nos com seu racismo, como episódio de Montpelier demonstrou outro dia, obriga as pessoas a morrer contra a vontade deles pelos princípios nazistas que combatíamos há 10 anos*; tenta defender-se, suscitando um fascismo até entre nós, na França. Nosso papel é o de ajudá-lo a morrer. Não somente na Argélia, mas em todo lugar onde ele exista. As pessoas que falam de abandono são imbecis: não abandonamos o que nunca possuimos. Trata-se, bem ao contrário, de construir com os argelinos relações novas entre uma França livre e uma Argélia libertada. Mas não vamos, sobretudo, deixar-nos desviar de nossa tarefa pela mistificação reformista. O neo-colonialista é um tolo que crê ainda que se pode organizar o sistema colonial - ou um perverso que propõe reformas, porque sabe que elas são ineficazes. Elas virão em seu tempo, essas reformas: é o povo argelino que as fará. A única coisa que poderíamos e deveríamos tentar - mas é hoje o essencial - é lutar a seu lado para livrar ao mesmo tempo os argelinos e os franceses da tirania colonial."
*Sartre fala dessa questão do racismo como uma adequação da sociedade colonial argelina aos princípios democráticos francesas: ao considerar o argelino como "sub-homem", é possível negar a ele os preceitos básicos que um estado democrático deveria proporcionar, evitando as contradições óbvias da existência desse colonialismo em pleno século XX.
Acho que vale ir mais fundo nessa discussão. Não sei até que ponto o Sartre acerta na análise dele, mas acho que ele levanta algumas questões muito relevantes. Se alguém souber mais algum livro bom sobre o assunto me recomende, por favor.
Gostei muito da maneira como foi filmado. Dá pra perceber todo um cuidado de colocar a câmera nos ângulos certos, um trabalho quase artesanal. Mas em geral o filme tem cenas que se prolongam demais, provavelmente um dos problemas de se tratar da adaptação de um curta-metragem. Em alguns outros momentos ele falta em expontaneidade, algumas cenas ficaram um pouco forçadas. Mas vale muito a pena assistir,temos que prestigiar esse tipo de produção nacional.
Cassavetes finalmente fez cair a minha ficha do quão específica pode ser a linguagem cinematográfica. Existem maneiras de se transmitir mensagens que são inerentes a cada uma das sete artes. Não que uma coisa seja melhor que a outra, mas existe um tipo de sensação que só um livro irá me passar, ou só uma música, ou só um filme. No caso, Cassavetes me fez sentir e pensar muitas coisas; me senti mergulhando no íntimo dos personagens, e me senti próximo deles ao os ver passarem por situações qualquer coisa parecidas com situações que já passei
(a cena dos amigos embriagados cantarolando não é a mesma coisa se você nunca passou por aquilo).
Como já disseram aqui, Cassavetes conta a história das "pessoas comuns", e isso realmente me tocou. Os personagens não dizem muitas coisas em palavras, mas suas expressões, seus gestos, seus olhares estão carregados de sentido.
Não achei a trama tão bem costurada quanto em outros filmes dos irmãos Coen, algumas partes ficam soltas e o final não convence.
Em especial gostei muito de uma coisa que o narrador diz bem no começo do filme, algo tipo: "Eu sempre gostei de escutar as histórias dos antigos, nunca perdi uma chance de o fazer. Você não pode evitar de se comparar com as histórias deles. Imagino como eles agiriam nos dias de hoje.". Esse trecho me fez refletir, pensar coisas. Enfim, apenas devaneios...
Bertolucci com 22 anos e uma inteligência mais do que lúcida. É impressionante como ele estava a frente de seu tempo. Um retrato fantástico da turbulência ideológica que representariam as décadas subsequentes. Gostei muito da cena em que uma das personagens fala que Anna Karina ainda seria, para as próximas gerações, um símbolo do cinema da época.
Interessante conhecer a luta pela unificação da Itália através dos olhos de personagens periféricos. O filme não tem uma visão heróica ou idealizada, é muito mais próximo da realidade e puxa para um ponto de vista mais pessimista. É bastante longo, mas vale a pena conhecer.
É o tipo de filme que tem que ficar bem vivo na memória de todos, para que erros semelhantes não se repitam mais na nossa história. É feito pra chocar mesmo, e cumpre o papel. Recomendo muitíssimo!
Bastante fiel. E que interpretação desses atores ein? Pra quem leu o livro é bem interessante ver a transposição da obra escrita, que tem todas aquelas recomendações teatrais, pra essa cinematográfica, bem mais dinâmica.
Os cenários de sonho ficaram tão legais, uma coisa bem paranóica e louca. O Gondry realmente conseguiu retratar muito bem aquela coisa irreal dos sonhos, muito bom mesmo.
Gostei da trilha sonora, e a trama é excelente. Tinha o filme aqui há tempos, não acredito que demorei tanto pra finalmente o assistir. De toda maneira, uma obra de arte digna.
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Jogo de Cena
4.4 336pãe!
A Cidade é uma Só
3.9 27"Vamos votar, votar legal... 77223 para distrital, Dildu!"
São Paulo Sociedade Anônima
4.2 172"São Paulo S/A é um libelo contra alguns dos mecanismos que fazem do homem, em vez de um ser livre, capaz de decisões, o dente de uma engrenagem da qual, frequentemente, ele nem chega a ter conhecimento" Luís Sérgio Person
O Último Magnata
3.3 39 Assista AgoraO romance entre os protagonistas está o tempo todo sendo entrecortado pelo contexto da produção cinematográfica clássica, e é esse aspecto que faz a história valer a pena. É um filme que fala sobre a decadência do cinema clássico; mostra o monopólio dos produtores sobre a filmagem e edição dos filmes, e, em contrapartida, mostra também a influência diminuída de diretores e escritores (eles são meros funcionários do produtor). Essa situação muda a partir dos anos 50, principalmente em consequência da lei de antitruste que diminuia o monopólio dos grandes estúdios. O que vemos no filme são os momentos finais desse período. O jeito clássico de fazer cinema não deixa de existir, mas passa a concorrer com novas formas vanguardistas, ou seja, com diretores que ambicionam fazer obras autorais e com caráter mais artístico.
Adorei o final, com os dois protagonistas olhando diretamente para a câmera e o Deniro conversando com o telespectador... é um rompimento claro com a forma com que todo o restante do filme foi gravado.
A Batalha de Argel
4.4 82 Assista AgoraPara quem se interessa em ler mais sobre o assunto tem um livro do Jean-Paul Sartre chamado "Coloniasmo e Neocolonialismo", que é uma organização de artigos, ensaios e conferências dele que refletem sobre o neocolonialismo e o seu passado histórico, sendo que entre os tópicos está a questão argelina. Vou transcrever aqui o trecho de um texto de 1956 chamado "O colonialismo é um sistema":
"(...) O nacionalismo argelino não é a simples revivência das antigas tradições, das antigas afeições: é o meio de que os argelinos dispõem para fazer cessar sua exploração. Vimos Jules Ferry declarar na Câmara: 'Lá onde está a predominância política, lá está a predominância econômica... ' Os argelinos morrem pela nossa predominância econômica, mas tiram proveito desse ensinamento: para suprimi-la, foi a nossa predominância política que decidiram atacar. Assim os colonos formaram eles próprios seus adversários; mostraram aos hesitantes que nenhuma solução era possível fora de uma solução de força.
O único benefício do colonialismo é que ele deve mostrar-se intransigente para durar e que ele prepara sua perda por sua intransigência.
Nós, franceses da Metrópole, temos apenas uma lição a tirar desses fatos: o colonialismo está destruindo-se por si mesmo. Mas ele contamina ainda a atmosfera: ele é nossa vergonha, zomba de nossas leis ou as caricatua; infecta-nos com seu racismo, como episódio de Montpelier demonstrou outro dia, obriga as pessoas a morrer contra a vontade deles pelos princípios nazistas que combatíamos há 10 anos*; tenta defender-se, suscitando um fascismo até entre nós, na França. Nosso papel é o de ajudá-lo a morrer. Não somente na Argélia, mas em todo lugar onde ele exista. As pessoas que falam de abandono são imbecis: não abandonamos o que nunca possuimos. Trata-se, bem ao contrário, de construir com os argelinos relações novas entre uma França livre e uma Argélia libertada. Mas não vamos, sobretudo, deixar-nos desviar de nossa tarefa pela mistificação reformista. O neo-colonialista é um tolo que crê ainda que se pode organizar o sistema colonial - ou um perverso que propõe reformas, porque sabe que elas são ineficazes. Elas virão em seu tempo, essas reformas: é o povo argelino que as fará. A única coisa que poderíamos e deveríamos tentar - mas é hoje o essencial - é lutar a seu lado para livrar ao mesmo tempo os argelinos e os franceses da tirania colonial."
*Sartre fala dessa questão do racismo como uma adequação da sociedade colonial argelina aos princípios democráticos francesas: ao considerar o argelino como "sub-homem", é possível negar a ele os preceitos básicos que um estado democrático deveria proporcionar, evitando as contradições óbvias da existência desse colonialismo em pleno século XX.
Acho que vale ir mais fundo nessa discussão. Não sei até que ponto o Sartre acerta na análise dele, mas acho que ele levanta algumas questões muito relevantes. Se alguém souber mais algum livro bom sobre o assunto me recomende, por favor.
Mulher à Tarde
3.2 2Gostei muito da maneira como foi filmado. Dá pra perceber todo um cuidado de colocar a câmera nos ângulos certos, um trabalho quase artesanal. Mas em geral o filme tem cenas que se prolongam demais, provavelmente um dos problemas de se tratar da adaptação de um curta-metragem. Em alguns outros momentos ele falta em expontaneidade, algumas cenas ficaram um pouco forçadas. Mas vale muito a pena assistir,temos que prestigiar esse tipo de produção nacional.
Faces
4.1 62Cassavetes finalmente fez cair a minha ficha do quão específica pode ser a linguagem cinematográfica. Existem maneiras de se transmitir mensagens que são inerentes a cada uma das sete artes. Não que uma coisa seja melhor que a outra, mas existe um tipo de sensação que só um livro irá me passar, ou só uma música, ou só um filme. No caso, Cassavetes me fez sentir e pensar muitas coisas; me senti mergulhando no íntimo dos personagens, e me senti próximo deles ao os ver passarem por situações qualquer coisa parecidas com situações que já passei
(a cena dos amigos embriagados cantarolando não é a mesma coisa se você nunca passou por aquilo).
O enquadramento final do filme na cena da escada é simplesmente lindo.
Onde os Fracos Não Têm Vez
4.1 2,4K Assista AgoraNão achei a trama tão bem costurada quanto em outros filmes dos irmãos Coen, algumas partes ficam soltas e o final não convence.
Em especial gostei muito de uma coisa que o narrador diz bem no começo do filme, algo tipo: "Eu sempre gostei de escutar as histórias dos antigos, nunca perdi uma chance de o fazer. Você não pode evitar de se comparar com as histórias deles. Imagino como eles agiriam nos dias de hoje.". Esse trecho me fez refletir, pensar coisas. Enfim, apenas devaneios...
Antes da Revolução
3.6 26Bertolucci com 22 anos e uma inteligência mais do que lúcida. É impressionante como ele estava a frente de seu tempo. Um retrato fantástico da turbulência ideológica que representariam as décadas subsequentes. Gostei muito da cena em que uma das personagens fala que Anna Karina ainda seria, para as próximas gerações, um símbolo do cinema da época.
Nós Acreditávamos
3.2 2Interessante conhecer a luta pela unificação da Itália através dos olhos de personagens periféricos. O filme não tem uma visão heróica ou idealizada, é muito mais próximo da realidade e puxa para um ponto de vista mais pessimista. É bastante longo, mas vale a pena conhecer.
Na Natureza Selvagem
4.3 4,5K Assista AgoraMe fez pensar.
Mississipi em Chamas
4.2 332 Assista AgoraÉ o tipo de filme que tem que ficar bem vivo na memória de todos, para que erros semelhantes não se repitam mais na nossa história. É feito pra chocar mesmo, e cumpre o papel. Recomendo muitíssimo!
Hamlet
4.2 79Bastante fiel. E que interpretação desses atores ein? Pra quem leu o livro é bem interessante ver a transposição da obra escrita, que tem todas aquelas recomendações teatrais, pra essa cinematográfica, bem mais dinâmica.
Sonhando Acordado
4.0 319Os cenários de sonho ficaram tão legais, uma coisa bem paranóica e louca. O Gondry realmente conseguiu retratar muito bem aquela coisa irreal dos sonhos, muito bom mesmo.
Jogos, Trapaças e Dois Canos Fumegantes
4.2 580 Assista AgoraGostei da trilha sonora, e a trama é excelente. Tinha o filme aqui há tempos, não acredito que demorei tanto pra finalmente o assistir. De toda maneira, uma obra de arte digna.