Temporada de premiações é aquela época bonita do ano, de conferir os indicados e escolher por qual(is) as premiações devem ser esculachadas. Na minha opinião, isso não ocorre com "I, Tonya", tanto no que se refere às categorias em que foi indicado, quanto naquelas em que foi "esquecido". É daqueles filmes que chamam a atenção do início ao fim, ainda mais pelo fato de ser uma biografia da ex-patinadora olímpica, Tonya Harding. Curiosamente, o filme teve lançamento no Brasil dias após Mirai Nagasu, patinadora norte-americana, ter executado o triple axel nos Jogos Olímpicos de Inverno, salto que fez Tonya ficar conhecida, já que foi a primeira cidadã dos EUA a tê-lo executado. Mas além das coincidências que sem dúvidas ajudam a obra ganhar força, outro fato contribui para que ela chame atenção: as atuações. Atuações, no plural mesmo. Apesar de apenas Margot Robbie (sensacional) e Allison Janney (odiosamente excepcional) terem sido lembradas nas premiações, Sebastian Stan, no papel de Jeff, ex-marido de Tonya, também é um dos grandes responsáveis pela sinergia quase palpável. Contudo, assim como outras pessoas, eu também me incomodei com os diversos recursos utilizados tanto na montagem, quanto na própria narrativa, desde desenfreadas quebras da quarta parede, até a "forçação" do cômico. De qualquer forma, é daqueles filmes que fogem do comum, sem perder a qualidade, sendo possível acompanhar o amadurecimento de cada um dos personagens, pelos quais somos a todo momento estimulados a ter aquele sentimento tão conflitante e comum, que é um meio termo entre amor e ódio.
O contraste entre o semblante feliz de Florya no início e do seu aspecto envelhecido no fim, já dá uma boa pista da mensagem que o filme tentou e conseguiu passar!
Num filme cheio de sentido, a mensagem que mais me marcou foi sobre a depravação, não apenas carnal, mas também e principalmente ideológica. As orgias promovidas são a ilustração mais "feliz" para representar um país onde trocam-se ideais tão rápido quanto trocam-se os parceiros.
No início do filme Sara fala uma frase que me acompanhou o filme todo: “política e poesia são demais pra um só homem”. Precisamos de poetas, mas o seu romantismo costuma suplantar a realidade. Por sua vez, a realidade não pode ser ignorada pelo político, que a trabalha e a usa em seu favor, manipulando os fatos com a ajuda da igreja e da imprensa. Logo, poesia e política não podem coexistir em um mesmo ser.
Esse filme retrata muito bem o histórico político do Brasil até aquele momento e que se perpetra até hoje: conservadores e populista almejando o poder com o financiamento de grandes empresas, que são os verdadeiros dirigentes do país. E por que não dizer, que o filme é um prelúdio do que ainda estava por vir, ao menos no campo das aparências? Após Gerônimo, líder sindical falar algumas palavras, Paulo, na imagem mais marcante do filme tapa a sua boca e diz: "está vendo o que é o povo? Um imbecil, um analfabeto, um despolitizado. Já pensaram Gerônimo no poder?" Partidarismo a parte, vimos o Gerônimo no poder.
Interessante a justificativa para o nome do filme. Glauber afirmou que Terra em Transe retratava o "carnaval trágico" da política brasileira, fazendo alusão a um evento onde há profusão de misticismo e histeria. Deixando a coletividade em um verdadeiro transe.
O roteiro tem um dos argumentos mais batidos do cinema. A discussão política em filmes não é algo novo, mas aqui, fizeram de uma obra que tinha tudo pra ser dispensável em algo imperdível.
No fim, Paulo experimentou aquilo que Sara adiantou. Não aguentou o embate entre seu lirismo e do que por vezes é requerido no exercício da política. Um dos dois deveria ser sacrificado. Sacrificou-se Paulo por inteiro. Mais um ideológico revolucionário que deixou tudo e jogou para ganhar com o que lhe era oferecido. Só não contava com o fato de que as cartas já estavam marcadas.
História já conhecida, mas Pasolini consegue adicionar algumas peculiaridades a ela. Nada mais justo do que se esperar um Cristo sanguíneo num filme italiano, acho que isso deu o toque de "humanidade" que tanto se comenta. Chegou a me lembrar das obras de Caravaggio e de como ele buscava entre os comuns, inspiração para as suas figuras religiosas. Pra mim, o semblante impassível de Jesus não se tratou de uma deficiência de atuação, mas sim de mais um artifício pra chamar a atenção do telespectador. Enquanto ele proferia um turbilhão de palavras que em alguns momentos podiam até trazer um certo desconforto, seu rosto trazia tranquilidade. As palavras... realmente esse foi o principal foco para Pasolini. Para ele, o mais importante eram as palavras de conteúdo moral, cheias de sentido, contrastando com paisagens desérticas, que apesar de vazias, geraram planos sequência primorosos, incluindo movimento de câmera e a escolha do momento de corte. Mas um fator que me chamou muito a atenção foi a escolha da trilha sonora. Além de Bach, Mozart e Luis Enríquez Bacalov, temos escolhas curiosas, como o blues de Sometimes I Feel Like a Motherless Child. Não o classifico como o melhor filme sobre o "tema", mas com certeza é um filme indispensável..
Lembro até hoje quando em um curso de extensão em Medicina Legal fui apresentada a "Última Viagem do Temeraire", rico em significados, como toda a obra de Joseph M. W. Turner. A partir desse dia, comecei a pesquisar mais sobre ele e seus quadros e tenho que dizer, esse filme me decepcionou muito. Tem uma bela fotografia, não chegando a ser tão boa quanto falam e apesar de não ter sido intitulado como uma cine-biografia de Turner, tem falhas graves ao retratar o cotidiano, seu método de trabalho e até de como exibir suas obras. Era uma chance enorme de apresentar o trabalho desse renomado pintor, que não é tão conhecido em terras distantes da sua Inglaterra, onde ficou famoso pelas paisagens marítimas e jogos de luzes. Todo o significado dos seus quadros (aqui me atenho aos que tem temática marítima), retratando as tormentas do mar aberto, do abandono do ser humano na imensidão sem fim, da dúvida sobre a existência foram deixados de lado, pra mais de duas horas de um filme com falhas de sequência. Para os que conhecem um pouco sobre o pintor, passagens como a que ele foi amarrado ao mastro em meio a uma tempestade não traz maiores problemas pra compreender, mas para os que não conhecem, ficou fora de contexto. Outra falha grave que não me lembro se está só nas sinopses que li, ou se no filme se repetiu é a de que William Turner era um pintor impressionista. Ele foi sim precursor do impressionismo, mas sua obra foi essencialmente romântica. Ele não pode ser enquadrado em um só movimento e se fosse, teria mais sentido no romântico. Por fim, William Turner não era um ser sociável e não deixava que pessoas observassem enquanto pintava, por isso seus métodos não eram conhecidos. Pra não dizer que o filme foi de todo ruim, retratou-se um pouco de sua avareza (que era muito maior), da sua relação estranha com Sarah Danby e sua admiração por Claude Lorrain. Além da atuação primorosa de Timothy Spall. Espero que ao menos esse filme todo "romantizado" tenha provocado um certo interesse pelas obras de William Turner, que diferente desse filme vago, não sabia retratar paisagens vazias, sem ter significado arraigado em cada pincelada.
O cinema francês é famoso por tratar os sentimentos de uma forma digamos... impessoal, como foi tratado nesse filme. Mas uma coisa que senti muita falta aqui e que também é característico no cinema francês é a riqueza no diálogo e a caracterização psicológica esmiuçada dos personagens, mesmo que de forma despretensiosa.
A impessoalidade aqui beirou à loucura. As cenas mal trabalhadas e as conversas incompreensíveis me deram a impressão de que, ou a edição exagerou nos cortes, ou eu dormi em partes bem específicas do filme.
Acho que o ponto alto do filme foram as atuações nos papéis principais e a relação fraternal e ao mesmo estranha entre os irmãos, que foi a única coisa interessante que levei do roteiro.
Tinha tudo pra ser mais um típico filme latino que centra sua narrativa na questão social, no entanto, ela (questão social) é utilizada pra dar um dinamismo pra obra, que apresenta uma dezena mais de assuntos a serem debatidos. Talvez esse tenha sido o maior problema pra alguns, pra outros, isso impulsiona a rever o filme e entender melhor o enredo. Pra mim, o foco central tá bem definido. Ambos os sacerdotes que ocupam teoricamente o protagonismo no filme, vivem um dilema pessoal. De um lado Jérémie, com seu chamado duelando com o desejo e do outro Julián, com a doença desafiando sua fé. Como se não bastasse, ainda são distribuídas críticas à prepotência da polícia e à corrupção do Governo e da Igreja. Isso tudo para demonstrar que mesmo em contato com o Divino, onde há o fator humano, há falhas. E mesmo o mais falho dos humanos, deve ser tratado como o mais importante dos mortais.
Esse é um dos filmes que mostram o quão errada estou quando ignoro leitura de sinopse ou de comentários e me deixo levar pelo nome e cartaz do filme. Se não fosse minha necessidade de terminar um filme depois de começa-lo, não teria assistindo até o fim.
Sinto que, mesmo tentando evitar ao máximo, acabei assistindo A Culpa é das Estrelas "disfarçado" por um outro enredo. Começa com Aimee, que deveria ser um sopro de mudança na vida de Sutter, o estimulando a melhorar e a superar seus problemas, mas o que eu vi foi uma daquelas meninas que gruda em seu primeiro namorado e é insuportavelmente tolerante quanto às idiotices dele, chegando ao ápice de sorrir quando o vê, mesmo depois de quase ter morrido por culpa do inconsequente. Daí se desenvolve, na verdade, falta o desenvolvimento do perfil dos personagens, a ponto de eu não saber quem é Sutter. Pra completar, tem um roteiro fraco pra explorar os conflitos, que não sei se herdou do livro. O resultado disso tudo foi que: não consegui sentir empatia por nenhum dos personagens.
Dica que levarei para a posteridade: fugir de filmes que tenham Shailene Woodley no elenco, pelo menos até que ela não possa mais ser usada em papéis adolescentes.
Surpreendentemente atual. Posso classificar Fritz Lang e Thea Von Harbou como um dos meus casais favoritos do cinema?
Essa fase expressionista de Lang é realmente envolvente. Toda a conjuntura nos leva à exploração e ao conflito de classes, em que uma "casta" se sobrepõe à outra até no sentido geográfico. Mas como pode um filme de 1927 trabalhar tão bem uma questão que pertencia àquele momento, ao futuro e também nos remeter ao passado? Sim, por que podemos ver traços Aristotélicos ao se tratar da "escravidão natural", em que uns poucos foram destinados a pensar e outros, ao trabalho, ou seja: o cérebro e as mãos.
Permeando toda essa temática, existe toda uma simbologia que deixa esse filme ainda mais, digamos, curioso. Todos os pentagramas distribuídos pela casa de Rotwang, a menção no início do filme à moloch, a elevação da robô disfarçada de Maria como a grande prostituta, Babilônia, preenchem esse filme com um ocultismo nada velado. Nessas duas horas estamos observando o que seria, para Lang, a Nova Ordem Mundial.
Mas, o que mais chama a atenção é todo o enredo envolvendo a máquina. Parece que o roteiro é uma espécie de prólogo para o que foi e é discutido até hoje: o aprisionamento do homem à máquina, não sabendo mais onde a racionalidade termina e a humanidade começa. Todo esse contexto foi retomado em 2001: Uma Odisséia no Espaço, em Terminator e até na música, com os conterrâneos de Lang, do Kraftwerk, no álbum The Man-Machine. Sem falar em outros tantos...
Pra quem se interessa sobre o tema, recomendo uma série de documentários produzidos por Adam Curtis pra BBC, intitulado "All Watched Over by Machines of Loving Grace". Vale a pena perder algumas horas assistindo e tentando assimilar a enxurrada de ideias que nos são apresentadas em cada episódio.
Apesar de eu ter escrito tudo isso, não estou nem perto de esgotar os assuntos abordados neste filme, o que inegavelmente é um dos fatores que ainda o fazem atraente.
Acho que não existe palavra melhor pra descrever esse filme do que angustiante! A violência velada até o meio do filme dando lugar para a denúncia de uma sociedade de aparências em que a vida não é apenas mais um drama, mas um vazio imenso, preenchido pelo excesso de zelo e controle patronal, exercidos de maneira visceral pelo "pappoús". Toda essa construção é feita por um roteiro minucioso, em que cada imagem, cada fala era uma pista para a realidade daquela família que facilmente estaria em um comercial de margarina, com seu desjejum regado à sorrisos e despreocupações.
Mas voltemos ao controle, ahh... o controle, nada me chocou mais do que ele. Esse pai/avô coloca a família em primeiro lugar e exerce uma força absoluta sobre os membros desse organismo de difícil compreensão, levando-os à submissão. A submissão, que causou o definhamento de três gerações e que fica aparente com o semblante cansado da avó que mesmo em movimento, tinha a face petrificada, que poderia facilmente ter sido esculpida por Bernini. Todo esse contexto, levou a duas reações extremas, uma no início do filme, com Anggeliki e outra, no fim, com a avó. Além de toda essa problemática, os roteiristas ainda acharam espaço para retratar a situação econômica de uma Grécia falida, que vive aos tropeços com pacotes de austeridade desde 2010.
Mas nada do que escrevi aqui é suficiente, pois um filme com temática tão complexa necessita de maior atenção e sensibilidade do que me possibilitam as palavras, mas que é brilhantemente desenvolvida neste filme.
Musical + roteiro e direção de Lars. Na minha cabeça essa somatória nunca daria um bom resultado. Mas, como foi maravilhoso ter as expectativas frustradas com esse filme. Toda a construção que vai desde o momento em que a trama se insere, até a mão vacilante que operava a câmera. As críticas que permeiam todo o enredo, a vítima e personagem central, que pra mim ultrapassaram a pessoa de Selma. Sim, não se tratava de Selma, mas de uma alma incorruptível e que nunca poderia ser inserida como mais uma na sociedade. Acabou despertando estranheza em alguns e amor em outros. Enfim, poderia enumerar aqui todos os prós, mas prefiro nunca esgotar meus elogios para um filme de que gosto; pois encontrarei mais coisas pra admirar quando o rever, o que com certeza farei!
Não sei se o classifico como o melhor filme brasileiro de todos os tempos, mas não estranho aqueles que o fazem. Temática totalmente brasileira, um enredo que nem imagino o trabalho que foi pra desenvolver com tão grande docilidade. Sim, achei muito doce. Doce desde a promessa, passando pelo escárnio experimentado, se enveredando na perseverança para pagar aquilo que havia prometido, até chegar ao final, que não comento pra não ficar chato, mas que foi igualmente doce. A discussão sobre o sagrado, a influência política neste (e que hoje vemos ao contrário também) e o nosso "mocinho matuto" que fica nesse entremeio, quando só o que queria era salvar o pobre do Nicolau. Resumindo, um mártir foi escolhido ao acaso, sendo que no fim das contas, ele salvou de uma forma inesperada a vida do amigo. Me sinto todos os dias um pouco Nicolau!
Esse tinha que ser o filme objeto do meu primeiro comentário, como foi o primeiro de Bergman que eu assisti e foi o responsável por me afastar por um tempo do cinema hollywoodiano. Não que este seja de todo ruim, mas não me lembro de uma produção sua que possa ser chamado de genial em todos os aspectos! Bergman tem uma filmografia incrível, mas de longe, esse é o meu favorito. Me lembro do dia em que o assisti, sou uma pessoa muito ligada ao "visual" do filme e quando vi a imagem da morte, com o semblante impassível, sobrepondo o mar, percebi que teria que ver essa obra prima! Roteiro, direção, fotografia, trilha sonora e tudo o mais maravilhosos! Um tema denso, mas trabalhado de uma maneira magistral, que resume tudo à um jogo de xadrez. Não é isso o que dizem? A vida é um jogo? E Bergman mostrou que a morte também pode ser, a transformando no mais sofisticado e inteligente de todos (os jogos), onde o fim é inevitável, mas cada jogada se revela uma "cena" a mais na nossa breve existência. Não tem o quê dizer, só que se você tem dúvidas em assistir esse filme, assista!! No mínimo você não gostará e terá mais um clássico em sua lista de "vistos". Mas garanto e torço para que não ocorra apenas isso! A título de curiosidade, a última cena do filme faz menção à Dança Macabra, que é uma forma de arte que ganhou corpo em todas as, se pudermos chamar assim, "vertentes" artísticas: música, literatura, cinema, pintura,... Isso só demonstra mais ainda a sensibilidade e comprometimento de Bergman com a sua obra, já que a Dança Macabra teve origem na Idade Média. A Dança Macabra representa exatamente o que ocorre no filme, não importa o que se fez em vida, toda a existência converge para a morte, que é a responsável por unir a todos nessa dança.
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Eu, Tonya
4.1 1,4K Assista AgoraTemporada de premiações é aquela época bonita do ano, de conferir os indicados e escolher por qual(is) as premiações devem ser esculachadas.
Na minha opinião, isso não ocorre com "I, Tonya", tanto no que se refere às categorias em que foi indicado, quanto naquelas em que foi "esquecido".
É daqueles filmes que chamam a atenção do início ao fim, ainda mais pelo fato de ser uma biografia da ex-patinadora olímpica, Tonya Harding.
Curiosamente, o filme teve lançamento no Brasil dias após Mirai Nagasu, patinadora norte-americana, ter executado o triple axel nos Jogos Olímpicos de Inverno, salto que fez Tonya ficar conhecida, já que foi a primeira cidadã dos EUA a tê-lo executado.
Mas além das coincidências que sem dúvidas ajudam a obra ganhar força, outro fato contribui para que ela chame atenção: as atuações.
Atuações, no plural mesmo. Apesar de apenas Margot Robbie (sensacional) e Allison Janney (odiosamente excepcional) terem sido lembradas nas premiações, Sebastian Stan, no papel de Jeff, ex-marido de Tonya, também é um dos grandes responsáveis pela sinergia quase palpável.
Contudo, assim como outras pessoas, eu também me incomodei com os diversos recursos utilizados tanto na montagem, quanto na própria narrativa, desde desenfreadas quebras da quarta parede, até a "forçação" do cômico.
De qualquer forma, é daqueles filmes que fogem do comum, sem perder a qualidade, sendo possível acompanhar o amadurecimento de cada um dos personagens, pelos quais somos a todo momento estimulados a ter aquele sentimento tão conflitante e comum, que é um meio termo entre amor e ódio.
Vá e Veja
4.5 755 Assista AgoraO contraste entre o semblante feliz de Florya no início e do seu aspecto envelhecido no fim, já dá uma boa pista da mensagem que o filme tentou e conseguiu passar!
Terra em Transe
4.1 286 Assista AgoraNum filme cheio de sentido, a mensagem que mais me marcou foi sobre a depravação, não apenas carnal, mas também e principalmente ideológica.
As orgias promovidas são a ilustração mais "feliz" para representar um país onde trocam-se ideais tão rápido quanto trocam-se os parceiros.
No início do filme Sara fala uma frase que me acompanhou o filme todo: “política e poesia são demais pra um só homem”.
Precisamos de poetas, mas o seu romantismo costuma suplantar a realidade. Por sua vez, a realidade não pode ser ignorada pelo político, que a trabalha e a usa em seu favor, manipulando os fatos com a ajuda da igreja e da imprensa.
Logo, poesia e política não podem coexistir em um mesmo ser.
Esse filme retrata muito bem o histórico político do Brasil até aquele momento e que se perpetra até hoje: conservadores e populista almejando o poder com o financiamento de grandes empresas, que são os verdadeiros dirigentes do país.
E por que não dizer, que o filme é um prelúdio do que ainda estava por vir, ao menos no campo das aparências?
Após Gerônimo, líder sindical falar algumas palavras, Paulo, na imagem mais marcante do filme tapa a sua boca e diz: "está vendo o que é o povo? Um imbecil, um analfabeto, um despolitizado. Já pensaram Gerônimo no poder?"
Partidarismo a parte, vimos o Gerônimo no poder.
Interessante a justificativa para o nome do filme.
Glauber afirmou que Terra em Transe retratava o "carnaval trágico" da política brasileira, fazendo alusão a um evento onde há profusão de misticismo e histeria.
Deixando a coletividade em um verdadeiro transe.
O roteiro tem um dos argumentos mais batidos do cinema.
A discussão política em filmes não é algo novo, mas aqui, fizeram de uma obra que tinha tudo pra ser dispensável em algo imperdível.
No fim, Paulo experimentou aquilo que Sara adiantou.
Não aguentou o embate entre seu lirismo e do que por vezes é requerido no exercício da política. Um dos dois deveria ser sacrificado.
Sacrificou-se Paulo por inteiro.
Mais um ideológico revolucionário que deixou tudo e jogou para ganhar com o que lhe era oferecido.
Só não contava com o fato de que as cartas já estavam marcadas.
O Evangelho Segundo São Mateus
4.0 89História já conhecida, mas Pasolini consegue adicionar algumas peculiaridades a ela.
Nada mais justo do que se esperar um Cristo sanguíneo num filme italiano, acho que isso deu o toque de "humanidade" que tanto se comenta. Chegou a me lembrar das obras de Caravaggio e de como ele buscava entre os comuns, inspiração para as suas figuras religiosas.
Pra mim, o semblante impassível de Jesus não se tratou de uma deficiência de atuação, mas sim de mais um artifício pra chamar a atenção do telespectador. Enquanto ele proferia um turbilhão de palavras que em alguns momentos podiam até trazer um certo desconforto, seu rosto trazia tranquilidade.
As palavras... realmente esse foi o principal foco para Pasolini. Para ele, o mais importante eram as palavras de conteúdo moral, cheias de sentido, contrastando com paisagens desérticas, que apesar de vazias, geraram planos sequência primorosos, incluindo movimento de câmera e a escolha do momento de corte.
Mas um fator que me chamou muito a atenção foi a escolha da trilha sonora. Além de Bach, Mozart e Luis Enríquez Bacalov, temos escolhas curiosas, como o blues de Sometimes I Feel Like a Motherless Child.
Não o classifico como o melhor filme sobre o "tema", mas com certeza é um filme indispensável..
Sr. Turner
3.3 77 Assista AgoraLembro até hoje quando em um curso de extensão em Medicina Legal fui apresentada a "Última Viagem do Temeraire", rico em significados, como toda a obra de Joseph M. W. Turner. A partir desse dia, comecei a pesquisar mais sobre ele e seus quadros e tenho que dizer, esse filme me decepcionou muito.
Tem uma bela fotografia, não chegando a ser tão boa quanto falam e apesar de não ter sido intitulado como uma cine-biografia de Turner, tem falhas graves ao retratar o cotidiano, seu método de trabalho e até de como exibir suas obras. Era uma chance enorme de apresentar o trabalho desse renomado pintor, que não é tão conhecido em terras distantes da sua Inglaterra, onde ficou famoso pelas paisagens marítimas e jogos de luzes.
Todo o significado dos seus quadros (aqui me atenho aos que tem temática marítima), retratando as tormentas do mar aberto, do abandono do ser humano na imensidão sem fim, da dúvida sobre a existência foram deixados de lado, pra mais de duas horas de um filme com falhas de sequência.
Para os que conhecem um pouco sobre o pintor, passagens como a que ele foi amarrado ao mastro em meio a uma tempestade não traz maiores problemas pra compreender, mas para os que não conhecem, ficou fora de contexto.
Outra falha grave que não me lembro se está só nas sinopses que li, ou se no filme se repetiu é a de que William Turner era um pintor impressionista. Ele foi sim precursor do impressionismo, mas sua obra foi essencialmente romântica. Ele não pode ser enquadrado em um só movimento e se fosse, teria mais sentido no romântico.
Por fim, William Turner não era um ser sociável e não deixava que pessoas observassem enquanto pintava, por isso seus métodos não eram conhecidos.
Pra não dizer que o filme foi de todo ruim, retratou-se um pouco de sua avareza (que era muito maior), da sua relação estranha com Sarah Danby e sua admiração por Claude Lorrain. Além da atuação primorosa de Timothy Spall.
Espero que ao menos esse filme todo "romantizado" tenha provocado um certo interesse pelas obras de William Turner, que diferente desse filme vago, não sabia retratar paisagens vazias, sem ter significado arraigado em cada pincelada.
A Moça e os Médicos
3.3 4O cinema francês é famoso por tratar os sentimentos de uma forma digamos... impessoal, como foi tratado nesse filme.
Mas uma coisa que senti muita falta aqui e que também é característico no cinema francês é a riqueza no diálogo e a caracterização psicológica esmiuçada dos personagens, mesmo que de forma despretensiosa.
A impessoalidade aqui beirou à loucura. As cenas mal trabalhadas e as conversas incompreensíveis me deram a impressão de que, ou a edição exagerou nos cortes, ou eu dormi em partes bem específicas do filme.
Acho que o ponto alto do filme foram as atuações nos papéis principais e a relação fraternal e ao mesmo estranha entre os irmãos, que foi a única coisa interessante que levei do roteiro.
Elefante Branco
3.5 196Tinha tudo pra ser mais um típico filme latino que centra sua narrativa na questão social, no entanto, ela (questão social) é utilizada pra dar um dinamismo pra obra, que apresenta uma dezena mais de assuntos a serem debatidos.
Talvez esse tenha sido o maior problema pra alguns, pra outros, isso impulsiona a rever o filme e entender melhor o enredo. Pra mim, o foco central tá bem definido.
Ambos os sacerdotes que ocupam teoricamente o protagonismo no filme, vivem um dilema pessoal. De um lado Jérémie, com seu chamado duelando com o desejo e do outro Julián, com a doença desafiando sua fé.
Como se não bastasse, ainda são distribuídas críticas à prepotência da polícia e à corrupção do Governo e da Igreja.
Isso tudo para demonstrar que mesmo em contato com o Divino, onde há o fator humano, há falhas. E mesmo o mais falho dos humanos, deve ser tratado como o mais importante dos mortais.
O Maravilhoso Agora
3.2 808 Assista AgoraEsse é um dos filmes que mostram o quão errada estou quando ignoro leitura de sinopse ou de comentários e me deixo levar pelo nome e cartaz do filme. Se não fosse minha necessidade de terminar um filme depois de começa-lo, não teria assistindo até o fim.
Sinto que, mesmo tentando evitar ao máximo, acabei assistindo A Culpa é das Estrelas "disfarçado" por um outro enredo.
Começa com Aimee, que deveria ser um sopro de mudança na vida de Sutter, o estimulando a melhorar e a superar seus problemas, mas o que eu vi foi uma daquelas meninas que gruda em seu primeiro namorado e é insuportavelmente tolerante quanto às idiotices dele, chegando ao ápice de sorrir quando o vê, mesmo depois de quase ter morrido por culpa do inconsequente.
Daí se desenvolve, na verdade, falta o desenvolvimento do perfil dos personagens, a ponto de eu não saber quem é Sutter.
Pra completar, tem um roteiro fraco pra explorar os conflitos, que não sei se herdou do livro.
O resultado disso tudo foi que: não consegui sentir empatia por nenhum dos personagens.
Dica que levarei para a posteridade: fugir de filmes que tenham Shailene Woodley no elenco, pelo menos até que ela não possa mais ser usada em papéis adolescentes.
Metrópolis
4.4 631 Assista AgoraSurpreendentemente atual.
Posso classificar Fritz Lang e Thea Von Harbou como um dos meus casais favoritos do cinema?
Essa fase expressionista de Lang é realmente envolvente.
Toda a conjuntura nos leva à exploração e ao conflito de classes, em que uma "casta" se sobrepõe à outra até no sentido geográfico.
Mas como pode um filme de 1927 trabalhar tão bem uma questão que pertencia àquele momento, ao futuro e também nos remeter ao passado? Sim, por que podemos ver traços Aristotélicos ao se tratar da "escravidão natural", em que uns poucos foram destinados a pensar e outros, ao trabalho, ou seja: o cérebro e as mãos.
Permeando toda essa temática, existe toda uma simbologia que deixa esse filme ainda mais, digamos, curioso.
Todos os pentagramas distribuídos pela casa de Rotwang, a menção no início do filme à moloch, a elevação da robô disfarçada de Maria como a grande prostituta, Babilônia, preenchem esse filme com um ocultismo nada velado.
Nessas duas horas estamos observando o que seria, para Lang, a Nova Ordem Mundial.
Mas, o que mais chama a atenção é todo o enredo envolvendo a máquina.
Parece que o roteiro é uma espécie de prólogo para o que foi e é discutido até hoje: o aprisionamento do homem à máquina, não sabendo mais onde a racionalidade termina e a humanidade começa.
Todo esse contexto foi retomado em 2001: Uma Odisséia no Espaço, em Terminator e até na música, com os conterrâneos de Lang, do Kraftwerk, no álbum The Man-Machine. Sem falar em outros tantos...
Pra quem se interessa sobre o tema, recomendo uma série de documentários produzidos por Adam Curtis pra BBC, intitulado "All Watched Over by Machines of Loving Grace". Vale a pena perder algumas horas assistindo e tentando assimilar a enxurrada de ideias que nos são apresentadas em cada episódio.
Apesar de eu ter escrito tudo isso, não estou nem perto de esgotar os assuntos abordados neste filme, o que inegavelmente é um dos fatores que ainda o fazem atraente.
Miss Violence
3.9 1,0K Assista AgoraAcho que não existe palavra melhor pra descrever esse filme do que angustiante!
A violência velada até o meio do filme dando lugar para a denúncia de uma sociedade de aparências em que a vida não é apenas mais um drama, mas um vazio imenso, preenchido pelo excesso de zelo e controle patronal, exercidos de maneira visceral pelo "pappoús". Toda essa construção é feita por um roteiro minucioso, em que cada imagem, cada fala era uma pista para a realidade daquela família que facilmente estaria em um comercial de margarina, com seu desjejum regado à sorrisos e despreocupações.
Mas voltemos ao controle, ahh... o controle, nada me chocou mais do que ele. Esse pai/avô coloca a família em primeiro lugar e exerce uma força absoluta sobre os membros desse organismo de difícil compreensão, levando-os à submissão.
A submissão, que causou o definhamento de três gerações e que fica aparente com o semblante cansado da avó que mesmo em movimento, tinha a face petrificada, que poderia facilmente ter sido esculpida por Bernini.
Todo esse contexto, levou a duas reações extremas, uma no início do filme, com Anggeliki e outra, no fim, com a avó.
Além de toda essa problemática, os roteiristas ainda acharam espaço para retratar a situação econômica de uma Grécia falida, que vive aos tropeços com pacotes de austeridade desde 2010.
Mas nada do que escrevi aqui é suficiente, pois um filme com temática tão complexa necessita de maior atenção e sensibilidade do que me possibilitam as palavras, mas que é brilhantemente desenvolvida neste filme.
Vale a pena conferir!
Dançando no Escuro
4.4 2,3K Assista AgoraMusical + roteiro e direção de Lars. Na minha cabeça essa somatória nunca daria um bom resultado.
Mas, como foi maravilhoso ter as expectativas frustradas com esse filme. Toda a construção que vai desde o momento em que a trama se insere, até a mão vacilante que operava a câmera.
As críticas que permeiam todo o enredo, a vítima e personagem central, que pra mim ultrapassaram a pessoa de Selma. Sim, não se tratava de Selma, mas de uma alma incorruptível e que nunca poderia ser inserida como mais uma na sociedade. Acabou despertando estranheza em alguns e amor em outros.
Enfim, poderia enumerar aqui todos os prós, mas prefiro nunca esgotar meus elogios para um filme de que gosto; pois encontrarei mais coisas pra admirar quando o rever, o que com certeza farei!
O Pagador de Promessas
4.3 363 Assista AgoraNão sei se o classifico como o melhor filme brasileiro de todos os tempos, mas não estranho aqueles que o fazem.
Temática totalmente brasileira, um enredo que nem imagino o trabalho que foi pra desenvolver com tão grande docilidade. Sim, achei muito doce.
Doce desde a promessa, passando pelo escárnio experimentado, se enveredando na perseverança para pagar aquilo que havia prometido, até chegar ao final, que não comento pra não ficar chato, mas que foi igualmente doce.
A discussão sobre o sagrado, a influência política neste (e que hoje vemos ao contrário também) e o nosso "mocinho matuto" que fica nesse entremeio, quando só o que queria era salvar o pobre do Nicolau.
Resumindo, um mártir foi escolhido ao acaso, sendo que no fim das contas, ele salvou de uma forma inesperada a vida do amigo. Me sinto todos os dias um pouco Nicolau!
O Sétimo Selo
4.4 1,0KEsse tinha que ser o filme objeto do meu primeiro comentário, como foi o primeiro de Bergman que eu assisti e foi o responsável por me afastar por um tempo do cinema hollywoodiano. Não que este seja de todo ruim, mas não me lembro de uma produção sua que possa ser chamado de genial em todos os aspectos!
Bergman tem uma filmografia incrível, mas de longe, esse é o meu favorito.
Me lembro do dia em que o assisti, sou uma pessoa muito ligada ao "visual" do filme e quando vi a imagem da morte, com o semblante impassível, sobrepondo o mar, percebi que teria que ver essa obra prima!
Roteiro, direção, fotografia, trilha sonora e tudo o mais maravilhosos!
Um tema denso, mas trabalhado de uma maneira magistral, que resume tudo à um jogo de xadrez.
Não é isso o que dizem? A vida é um jogo? E Bergman mostrou que a morte também pode ser, a transformando no mais sofisticado e inteligente de todos (os jogos), onde o fim é inevitável, mas cada jogada se revela uma "cena" a mais na nossa breve existência.
Não tem o quê dizer, só que se você tem dúvidas em assistir esse filme, assista!!
No mínimo você não gostará e terá mais um clássico em sua lista de "vistos". Mas garanto e torço para que não ocorra apenas isso!
A título de curiosidade, a última cena do filme faz menção à Dança Macabra, que é uma forma de arte que ganhou corpo em todas as, se pudermos chamar assim, "vertentes" artísticas: música, literatura, cinema, pintura,...
Isso só demonstra mais ainda a sensibilidade e comprometimento de Bergman com a sua obra, já que a Dança Macabra teve origem na Idade Média.
A Dança Macabra representa exatamente o que ocorre no filme, não importa o que se fez em vida, toda a existência converge para a morte, que é a responsável por unir a todos nessa dança.
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