Depois de 8 anos sem dirigir um longa-metragem, trabalhando mais com a TV, David Fincher volta a ativa com “Mank”, uma ode á Hollywood da década de 30, trabalhando diversos assuntos de forma concisa e, porque não, divertida a sua maneira.
Sim, durante as suas 2 horas de metragem, Fincher exala uma certa diversão única, tomando as rédeas de uma história, não somente pessoal (seu pai, Jack Fincher, roteirizou o longa), mas nostálgica para todo um público aficionado pelo cinema clássico. Usando a odisseia de construção do clássico dos clássicos, “Cidadão Kane”, o diretor brinca com a narrativa, evoca referências claras (e outras nem tanto) ao filme de 1941 e relembra toda uma estética tão única e especial das produções daquela época. A escolha em usar o artifício de idas e vindas no tempo é cirurgicamente posicionado nos momentos exatos e garantem uma experiência dupla (evocando também, “Poderoso Chefão – Parte II”) ao espectador, além de trazer camadas e mais camadas a seu personagem principal (Gary Oldman, ótimo!), que nunca se apresenta como herói ou vilão, mas um ser híbrido de sentimentos, valores e personalidades, com todos os outros personagens orbitando ao seu redor (como Amanda Seyfried, maravilhosa também!). A estética da década de 30 é lindamente realizada, seja nos cenários (até mesmo os momentos em CGI) ou nos figurinos lindíssimos, assim como a escolha do filtro em preto e branco, trazendo uma certa elegância e quadros maravilhosos, utilizando a luz quase como um personagem!
Ainda servindo como uma alegoria atual, já que Fincher não se contenta em apenas, conduzir uma biografia de como Mank escreveu um filme, mas elucidar a importância política de uma época, que reverbera até os dias de hoje. Momentos que, podem não parecer trazer certa importância para o fio condutor da história, mas como eu disse, não é um filme clássico de como algo aconteceu, mas de como quem aconteceu e sua importância na história do cinema americano. Ter assistido previamente ao clássico filme de Orson Wells pode trazer uma experiência mais completa e vívida da obra e, claramente, não é um filme para um grande público, mas é uma obra de paixão de Fincher, sem muito de sua assinatura crua e visceral da sociedade, como estávamos acostumados a ver em seus thrillers e suspenses, mas é um Ficher mais livre de si mesmo, experimentando dentro de seu próprio mundo (ainda cru e visceral, mas mais leve), se divertindo e garantindo um dos finais mais lindos de seus filmes, trazendo a tona a beleza de uma época que ficou para trás, mas deixou um legado que, as vezes, é bom ser revisitado.
Acredito que estará fortemente no radar da Academia e grandes premiações de 2021. O filme tem tudo que eles gostam: Hollywood, Classicismo, Atores renomados e muita nostalgia. Opino ainda que Fincher tem sua melhor chance de levar por direção e Oldman ser indicado a Atuação. Torço por Amanda Seyfried ser, ao menos, indicada e claro, as várias categorias técnicas.
Abarrotado de camadas contemporâneas de suspense e terror, muito bem dirigido e fotografado. Elizabeth Moss incrível como Cecilia, totalmente entregue, provando-se uma das melhores atrizes dos últimos anos. Construído de forma cirúrgica, o roteiro esbarra em algumas resoluções que carecem de uma suspensão de descrença muito maior do público. Nada que tire o brilho da produção, mas deixa um gostinho amargo na boca.
Na maioria de seus filmes, Dolan nos apresenta histórias realísticas e que, invariavelmente, recaem sobre dramas maternais, pautados nas perspectivas de filhos incompreendidos e mães relapsas, mas com seus devidos motivos e motivações. Sendo assim, seus roteiros tem uma escrita muito pesada em diálogos e situações hiperbólicas, por assim dizer. No caso de "Life and Death of John F. Donovan”, não deixa de ser diferente, mas aqui temos como espinha dorsal, não a relação maternal, mas sim a de um artista e a fama. Durante a projeção, temos vislumbres singelos e delicados do vínculo de John e Rupert, com suas progenitoras, o que trás toda uma maior camada aos personagens e belíssimos momentos (como o close em Susan Sarandon, na cena do banheiro e, basicamente, todas as cenas de Natalie Portman dividindo cena com Jacob Tremblay), garantindo assim, bons diálogos e atuações. Mas o que o diretor quer realmente dizer, está nas entrelinhas de sua própria vida, espelhada, até certo aspecto, na ascensão e declínio de Donovan.
Em certo aspecto, é interessante assistir o paralelo narrativo entre os personagens principais, pautado na busca pela arte, sucesso e felicidade, entretanto, o discurso abordado parece datado e inflado. Em certo momento, durante sua entrevista com a jornalista, Rupert lhe descarrega um sermão sobre privilégios e elitismo, em defesa de sua história, mas que pouco corrobora com o que passado em tela, já que vemos muitos relances de situações que pouco são exploradas (a suposta doença de John, sua homossexualidade, entre outros) que, ao seu modo, trariam maior peso ao que o diretor queria dizer sobre o mundo “glamuroso" dos famosos.
Apesar disso, Dolan traz, com primor técnico, um belíssimo visual para sua história, com uma paleta fria e filtros que remetem a uma atmosfera vintage, mesmo o filme se passando ainda no século 21, mesmo que em duas épocas diferentes. Confesso que me surpreendi com a atuação de Kit Harington e nem preciso dizer sobre todo o resto do elenco de peso. Claro que não posso deixar de falar na trilha sonora, que mesmo não trazendo momentos tão icônicos, quanto em seus filmes anteriores, dão um quentinho no coração e conversam muito bem com a narrativa (mesmo o uso de Stand by Me sendo um momento meio cafona).
Uma das grandes virtudes dos filmes sci-fi é a chance que seus realizadores tem de brincar com o futuro (ou realidades alternativas) misturando grandes dilemas sociais e subtextos realísticos mesclados a robôs, alienígenas e uma variada gama de criaturas. Muitas vezes combinados com ação e aventura, alguns exemplos se deslocam do geral e apresentam histórias mais densas, dramáticas e sem muito teor aventuresco.
“Gattaca" é um desses belos exemplos, unindo-se a “Contato”, do mesmo ano, “Blade Runner” e tantos outros, só que aqui o roteiro trás um futuro “não tão distante” bem ao estilo da visão dos anos 90. Telas de computadores por todos os lados, arquitetura côncava e muito metal e cores prateadas fazem o trabalho de direção de arte se unir com a trama de forma primorosa, como logo na primeira cena, em que vemos o interior da empresa que dá nome ao filme, com seus andares em curvas, fazendo com que seus funcionarem andem “em círculos”, como engrenagens de uma máquina. Também podemos perceber essa amálgama visual no conceito de viagem ao espaço, o desejo tão buscado pelo personagem Vincent, muito intrínseco aos anseios políticos e populares daquela geração, desde a corrida espacial.
O texto insere a genética como mote principal, trazendo um aspecto interessante da criação do ser humano e o controle que o mesmo tem sobre a sociedade. As perguntas do que é certo ou errado aqui não existem, nem do que é moral ou condenável, já que, se vivêssemos em uma sociedade que gera seus filhos de forma laboratorial e “perfeita”, possivelmente faríamos o mesmo, mesmo tendo em vista a separação social que isso geraria, apenas deslocando o preconceito para outras áreas.
E aqui entra um comentário pessoal meu, já que, é dito no filme que a segregação, naquela ambientação, já não mais existia por cor, raça, gênero ou classe, mas por genética. Tendo em vista que o procedimento para “gerar" um filho em laboratório seria caro e muito custoso, apenas pessoas ricas teriam acesso… ou seja: brancos, homens, ricos! Os negros, pobres e mulheres não teriam tanto acesso assim.
Inserindo uma pitada de suspense, romance e plot twists, o roteirista e diretor Andrew Niccol explora em seu texto, temas clássicos de um herói, como superação e busca do eu, em tons mais idealísticos sem deixar de mostrar suas falhas e motivações duvidosas, sempre lembrando ao espectador que, apesar de estarmos torcendo por aquele personagem, talvez nem ele esteja tão certo do que está fazendo em prol de seu sonho. Já em sua paleta de cores mais quente, essa escolha busca trazer certo conforto ao público e que contrasta com as atuações mais frias e robóticas, propositalmente, de Hawke, Thurman e Law, principalmente.
Não sei ao certo se mostra-se um filme atemporal, tanto em seu visual ou conceito, mas garante reflexões interessantes sobre o que estamos realizando e modificando, enquanto sociedade, em nosso mundo, planeta e estilo de vida, sem pensar nos impactos que estas mudanças podem trazer ou já estão trazendo pro nosso dia a dia.
No cinema, histórias maternais comumente geram grandes obras que marcam e emocionam o público daquela época, como é o caso de "Como nossos Pais", "Dançando no Escuro" e, meu favorito, "Laços de Ternura". A fórmula é, quase sempre, imbatível, mostrando as agruras da maternidade, os erros, acertos e superações na relação, tantas vezes, tempestuosa entre mãe e filha. Aqui em “18 Presentes”, essa fórmula é trazida de forma um pouco diferente, já que não a acompanhamos de forma linear, por assim dizer, o que trás um leve frescor para a produção.
Logo em seu início, somos apresentados á história de Elisa, grávida, que descobre ter um tumor maligno que tiraria sua vida em meses. Sendo assim, ela decide deixar 18 presentes à serem dados a sua filha todos os anos e logo surge Anna, a tal filha, que em seu aniversário de 18 anos, já não aguenta mais essa tradição e decide fugir de seu aniversário, envolvendo-se em um acidente que, supostamente, á leva para o passado de quando ainda estava na barriga de sua mãe.
De cara, fui surpreendido, pois não esperava um roteiro que misturasse volta no tempo (mesmo não ficando tão claro se ela voltou ou foi um tipo de distorção na mente das duas mulheres) com o drama da relação que, a princípio, mostrou-se ser um ponto positivo, mas ao decorrer do filme, o sentimento é de que todos os dilemas enfrentados não tinham muito sentido ou validez e poderiam ter sido evitados com apenas uma revelação prévia, por parte de Anna, de sua "viagem temporal”. Caso o roteiro tivesse optado por essa dinâmica, os obstáculos impostos pelo texto ás personagens, seriam muito mais viáveis, divertidos e interessantes, tendo em vista que as duas sabiam da condição temporal e precisariam enfrentar os comos e porquês daquela situação, além de trazer mais carisma para a personagem principal, que carece de proximidade do público e pouco emociona com suas atitudes sem motivações pertinentes. Por mais que sentisse a falta do amor materno, ela sempre teve de tudo, fora o amor paterno e de seus avós e amigos, e pouco se importava com eles. Não há, aqui, um envolvimento emocional tão palpável e a própria atuação da atriz conota apenas aborrecimento e rebeldia vazia. Como contraste, o roteiro constrói a personagem de Elisa de forma singela e emocional de tal forma que, em seu início, entendemos e nos identificamos com seu dilema, e somos levados até seu final de modo fluido e compreendemos suas decisões e momentos afetivos.
Ademais, mesmo não satisfeito com todo o desenrolar da trama, ainda estava satisfeito com o que havia sido apresentado, mas devido a uma cena extremamente brega e sem valor dramático algum (além do estranhamento, devido ao absurdo da situação e os efeitos especiais ruins) em seus últimos minutos, o filme descamba á um desfecho bobo e fraco, perdendo a base emocional, minimamente, sólida que havia construído.
Famoso pelo estrondoso sucesso de “Código da Vinci”, Dan Brown tornou-se um dos grandes escritores da nossa geração. Seu ritmo frenético de escrita, personagens misteriosos e temas polêmicos, foram os ingredientes perfeitos para uma receita lucrativa, não somente na literatura, mas no cinema. “O Código…” foi a primeira adaptação, seguida por “Anjos e Demônios”, e mesmo cada um tendo críticas divisivas (seja pelo ritmo lento, incongruente com o livro, seus temas religiosos, o elenco estrelado, mas apagado e, até mesmo, o mullet de Tom Hanks no primeiro), a bilheteria fazia valer o investimento e Dan Brown fazia questão de manter sua obra em evidência, lançando mais livros (focando cada vez mais no simbologista Robert Langdon, protagonista de todas as adaptações) e nutrindo a curiosidade de seus leitores e espectadores.
Sendo sua terceira adaptação, “Inferno" investiga o plano de um magnata bilionário em acabar com metade da população utilizando um vírus mortal, acabando assim, com muitos problemas do mundo, como fome e doenças. O filme destrincha sua história e futuros plot twists, em duas horas de duração, da forma mais monótona e sem inspiração possível, possuindo uma direção preguiçosa de Ron Howard, claramente buscando apenas pagar seus boletos nessa empreitada que não trás qualquer artifício visual interessante, e tendo em vista que trabalhamos aqui com uma trama que se ambienta em diversos lugares interessantes do mundo e acrescenta museus e obras de arte á sua narrativa, deveria-se ter um esmero visual maior em apresentar o desenrolar do roteiro, mas não é o que testemunhamos, seja nas cenas de ação (perseguições de carro sem qualquer senso de urgência e uma estranha brincadeira de “polícia e ladrão” com um drone e Tom Hanks!) ou nos diálogos expositivos, que subestimam o público e descrevem o que acabamos de ver na tela de modo irritante e desnecessário, além do uso enfadonho de um flashback que, praticamente, reconta todo o filme, sem qualquer sentido ou porquê. Sem falar no uso da câmera subjetiva nas cenas de visões e confusão de Langdon, extremamente chatas e desagradáveis, sem conseguir o efeito desejado, além do aborrecimento.
Falar dos personagens aqui, é um verdadeiro exercício de roteiro falho, já que pouco é desenvolvido, realmente, na relação de todos (a presença de Omar Sy, para mim, ainda é uma incógnita), e, novamente voltando a exposição do texto, informações são jogadas de modo aleatório, com única função de levar os personagens do ponto A ao B, explicando a história e seu desfecho, do que, propriamente, fazê-los crescerem e criarem empatia com o público. O oportunismo das situações ao qual Robert se lembra ou não, também cria certo estranhamento e são usados sem muitos critérios, criando reviravoltas rocambolescas e surtos de sabedoria conveniente. Para finalizar, mais uma vez o povo árabe é trazido como vilões, sem qualquer explicação cabível, sendo utilizados de forma “arbitrária" e totalmente jogada na trama.
Assisti o longa com uma amiga que havia lido o livro, diferente de mim, e ao meu parecer, a obra original apresentam não somente um desenrolar, mas um final mais intrigante e elaborado do que o mostrado no filme, que foca nos clichês do vilão “vira-casaca” e da corrida contra o tempo (já apresentada nos outros dois longas da franquia), com a excessão de que aqui, o mundo inteiro estava em perigo… ou a sanidade do espectador!
Levando á sua máxima, os clichês do gênero comédia romântica, "Te Quiero, Idiota", além de não apresentar nada novo ao gênero, chega, até mesmo, a repetir momentos clássicos de outros filmes (como a cena do falso orgasmo público de Harry & Sally e a quebra de quarta parede de Annie Hall), que poderiam ser consideradas "homenagens" se não fossem tão óbvias e reencenadas sem qualquer parcimônia. Seu protagonista, apesar de simpático, não garante qualquer conflito minimamente possível para a trama. Acreditar que o mesmo, apenas por se vestir de forma "juvenil", não chamava atenção de nenhuma mulher, é bem difícil, além de repetir a clássica trama de "makeover" e ainda se redimindo no final. As ações de todos os personagens não geram grandes consequências e a proximidade com o espectador é quase nula, além de apresentar um personagem extremamente irritante (o guru da internet), que toma bom tempo de tela, podendo ter sua importância, diluída em outro personagem já inserido. Ao chegar em seu desfecho, apenas aceitamos que o mocinho deve ficar com a mocinha, por assim ser e tentamos entender como chegamos até aqui, depois de 1 hora e meia de pouca coisa, ou quase nada de uma história meramente interessante.
Assistir aos filme do Truffaut é realizar um passeio pela história do cinema, não somente francesa, mas mundial, tendo em vista todas as suas consideráveis influências que podem ser vistas até os dias de hoje em diversas produções. “Os Incompreendidos”, além de ser um de seus primeiros filmes, carrega em si uma das principais característica de sua filmografia: o recorte da vida francesa. Truffaut, até mesmo em seus filmes menos contemplativos (como Noite Americana), sempre nos apresenta um pouco do cotidiano francês de forma fluida singela, fazendo com que, mesmo quem nunca foi a França, sinta-se um verdadeiro morador parisiense.
A jornada de Doinel é um reflexo da própria infância de Truffaut, assim como uma fotografia em movimento da realidade parisiense do final dos anos 50, de uma juventude subestimada e que busca na arte, algum acalento para o mundo real. A cada passo que dá, o pequeno rapaz acredita estar certo de que viverá a vida que sonha, mas apenas cai no mesmo abismo que todo adolescente despenca: achar que sabe de tudo, sem saber de coisa alguma.
Ao chegar em seu final, sua vida já está por um fio, preso atrás das grandes, sendo levado para seu maior pesadelo, a vida militar regrada, seu pai, que tinha como maior exemplo, o abandona, restando-lhe apenas sua mãe e sua “única opção” é a fuga, sendo que ele mesmo não se sabe do que… da tristeza da vida que lhe seguia? De sua família? Da Sociedade? De tudo? Dele mesmo? Ao olhar para tela, com um semblante confuso, caído (e não de alegria pela fuga), ele deixa essa pergunta para nós, sem qualquer expectativa de resposta.
Mesmo seguindo uma cartilha bem clássica de produções da Disney Channel, "Camp Rock 2" cresce em comparação com seu antecessor, desenvolvendo mais seus personagens e criando momentos empolgantes, com cenas musicais de verdade, algo que careceu no primeiro.
Além de trazer mais coreografias e músicas cativantes (a do Nate, em especial é muito fofa) é bacana (mesmo sendo clichê) ver a mensagem que o filme quer passar, sem parecer muito didático e com um clima mais leve e um roteiro que não pesa tanto na auto-ajuda panfletária. Os atores estão mais crescidos e garantem atuações melhores, assim como músicas mais elaboradas e uma direção competente nas cenas musicais.
Considero um dos melhores longas do canal, mesmo não tendo tido tanto sucesso quantos outras produções.
Seguindo a mesma cartilha de tantas outras produções da Disney, "Camp Rock" apresenta uma história teen bem feijão com arroz, com reviravoltas óbvias, piadas infantis e um bom punhado de músicas cativantes e atuações carismáticas. Não tem como escapar... assistir esse tipo de produção é deixar a cabeça livre e curtir os momentos emblemáticos que marcaram uma geração, como a música do final, um clássico Disney Channel: "This is Me". Posso citar também uma pequena mudança no arco da vilã, que também apresenta um drama complicado e trás certa redenção, mesmo que nem um pouco desenvolvida corretamente e que difere de outras produções do canal, que as vezes, nem mesmo, trás esse tipo de camada para seus vilões.
A franquia Piratas do Caribe sempre foi uma máquina de fazer dinheiro, devido ao seu tom cômico, misturado com muita ação e aventura, personagens cativantes, ótimos vilões e claro, Jack Sparrow. O personagem de Johnny Depp merece atenção especial pois, não somente, se tornou o grande rosto da marca, mas também o grande personagem da vida do ator. Em seus dois primeiros filmes, todos esses elementos conversavam muitíssimo bem, e garantiram momentos icônicos e diversão genuina para toda uma geração. Após o lançamento do terceiro título, as coisas começaram a desandar, os roteiros não estavam mais tão interessantes e o quarto filme provou que nem mesmo a presença de Jack Sparrow pode salvar uma história ruim e mesmo com sua bilheteria estrondosa, os sinais de desgaste já apareciam. Nesta quinta jornada, é visível o quão desgastada está, não somente a imagem de Sparrow, mas toda a saga bucanesca, que apresenta uma trama com teor grandioso, mas que peca nos principais aspectos que fizeram Piratas do Caribe ser um dos baús do tesouro da Disney.
Logo em seu início, visualmente, o filme não impressiona. Além de repetir um conceito apresentado lá em "A Maldição do Pérola Negra", a fragata de mortos do Capitão Salazar não tem apelo visual bem estabelecido em tela e os efeitos especiais geram estranheza a cada cena de Javier Bardem se locomovendo, assim como os diversos momentos de ação onde os personagens são inseridos, que apresentam, não somente efeitos ruins, mas soluções visuais mal executadas (um exemplo é a perseguição em alto mar com Jack domando um tubarão morto-vivo). Algumas cenas grandiosas, como a do roubo ao banco no início, se salvam, mas ainda sim não pelo apelo visual, mas pelo absurdo de toda a situação (um trunfo corriqueiro da franquia). Se ainda se pudesse salvar pelo seu visual, talvez não nos preocuparíamos tanto com seu roteiro retalhado e que, claramente, busca sentido em trazer Jack de volta ao jogo. Estabelecido o seu McGuffin (o Tridente de Poseidon), toda a trama deveria girar em torno do mesmo, o que não acontece aqui e temos uma história paralela de Salazar buscando vingança de Jack e, coincidentemente, esbarrando na busca pelo artefato, que nem o próprio pirata o buscava, mas fora inserido de (perdão do trocadilho) gaiato no navio. Henry e Carina, os novos personagens apresentados, procuram o Tridente, cada um com seu objetivo bem estabelecido e, até garantem bons momentos de tela, principalmente pela personagem de Kaya Scodelario, que mostra-se interessante ao ser uma mulher inteligente, que busca entender sua própria história. Já a jornada de Henry trás proximidade ao público, mas carece do apego e proximidade, não com o personagem, mas sim com a nostalgia dos outros filmes e seus cativantes “protagonistas”, que são seus pais. Toda a bagunça na escrita da trama mostra-se confusa e sem sentido no momento em que as histórias se unem, não havendo razão concreta para Henry e Carina procurarem Jack e nem de Jack e Salazar quererem buscar o objeto, assim como a revelação da paternidade da menina, inserida apenas como uma busca por redenção de Barbossa e uma ligação forçada entre os personagens.
Ao invés de buscar se reinventar (adicionar novos personagens não garante isso), o filme repete conceitos (mortos-vivos, vingança contra o Jack e maldições marítimas), perde o tom cômico que sempre teve, seja requentando piadas ou inserindo-as sem motivo algum (alguém entendeu a cena do suposto casamento?) e confirma, tanto em bilheteria, quanto em crítica, o cansaço da franquia que um dia já foi sinônimo de diversão garantida. Espero, realmente, que parem por enquanto e revisitem essas histórias, anos á frente, repaginando e atualizando os sete mares.
Logo em seu início, “Kramer vs Kramer” mostra-se um filme covarde. Baseado em um romance de mesmo nome, o filme apresenta uma história de “superação" do homem americano, bem sucedido, que se vê na situação de ser deixado pela mulher, com um filho de 7 anos para ser criado. Sendo assim, o pai passa a desenvolver suas habilidades parentais, mas não esperava o retorno da mãe, buscando a guarda do menino.
Abrindo com o rosto de Meryl Streep, triste e chorosa, colocando o pequeno Billy para dormir e, consequentemente, se despedindo dele, pois iria embora naquela mesma noite, o diretor Robert Benton logo anuncia a vilania de sua personagem e rapidamente nos insere na jornada de Ted, vivido por Hoffman, e crescimento pessoal e familiar. Durante boa parte de suas 1 hora e 40 minutos, o roteiro esboça muito bem o retrato da sociedade familiar da transição dos anos 70 para 80. Em uma Nova York pulsando arte e luz, ao mesmo tempo que enfrentava uma de suas maiores crises de violência, o grande embate que uma família branca classe média-alta poderia viver era a implosão de si própria. Joanna entende que faltava uma identidade para si, largando sua vida triste, seu marido relapso e seu filho, que não iria ter nada positivo daquela mãe, naquele estado. Ted absorto em seu trabalho vê sua casa ruir em frente de seus olhos e Billy, o grande “McGuffin” do filme, enfrenta o descaso de seus pais, pela visão inocente do auge de seus 7 anos.
É bonito ver o desenvolver de Ted como pai e sua relação com seu filho, passando de uma figura nula, no sentido de criação e afeição, para um homem e pai de verdade, que visa não somente o bem estar financeiro de seu lar, mas também manter boas relações dentro dela. Quando nos deparamos com a volta de Joanna, o sentimento de repúdio é inevitável, tendo em vista que já havíamos percebido-a como vilã, e por sua atitute tão indefensável, de largar tudo por um motivo tão “pequeno”. Mas assim que começa o julgamento de custódia, e temos um monólogo incrível (escrito pela própria Meryl Streep), entendemos que toda aquela história está muito alem do que vimos, principalmente quando sua personagem diz: “eu fui a mamãe dele durante 5 anos, ele foi a mãe dele durante 18 meses”, o que nos faz repensar todo o contexto em que aquela família estava inserida.
Como eu apontei no parágrafo anterior, é muito bonito ver a relação de pai e filho, mas porque essa relação é mais importante e genuína do que a de mãe para filho? Assim como Ted elabora o argumento de, pelo simples fato, dela ser uma mulher mãe, não lhe dava o poder de criar Billy melhor que ele, os 18 meses em que ele passou com a criança, não anulavam ou negligenciavam os 5 anos em que Joanna criou e amadureceu seu filho, enquanto Ted não havia criado grandes laços afetivos com o mesmo (o próprio filme mostra isso nos primeiros momentos em que Joanna vai embora). Tomar partido do pai, quando tudo o que nos foi apresentado em tela foi a sua jornada, é muito fácil. Joanna tem apenas um monólogo em sua defesa, uma redenção e entendimento de seu dilema como ser humano e não em detrimento de seu marido e filho, mas de si própria! Podemos sim, questioná-la, mas julgar sua atitude como errada chega até a ser contraditória, já que Ted dependeu disso para crescer como pai e, finalmente, conhecer seu filho.
Por fim, nos é entregado um desfecho aceitável pela época em que o longa foi lançado, mas contestável, ao não abrir uma reflexão abrangente ao público. Joanna refutar e não ficar com Billy é uma covardia com a personagem, corroborando seu título de vilã, além de dar razão apenas á Ted, eximindo-o de qualquer culpa, principalmente em seus minutos finais, em que terminados a história com uma rima visual piegas, desnecessária e covarde.
Inserido na nova onda de filmes de terror dos últimos 5 ou 10 anos, “Hereditário" carrega consigo um novo patamar de “criação do medo”, trabalhando seu roteiro na base do terror psicológico, em uma gradativa construção de suspense em torno de seus personagens e a história em que estão ambientados. Como o próprio personagem de Alex Wolff diz em certo momento: “não está sentindo a mudança na atmosfera?”, é exatamente esse sentimento que o diretor Ari Aster quer transmitir, não se utilizando apenas de jump scares ou o horror físico, mas trazendo o público para dentro da ambientação fria, horripilante e tênue da casa dos Graham.
Tecnicamente, essa atmosfera é criada através dos cortes secos e longos planos parados, quase estáticos, escolhidos para diversas cenas, sendo modulados apenas em momentos de grande tensão e quando a história já está apresentada na tela. O som é outro protagonista, como na cena do jantar e nos ruídos de Charlie, importantíssimos para o desfecho do filme, assim como as cores frias dentro da casa, constrastando com a paleta mais tonal do lado externo (como a casa da árvore, mais uma vez, remetendo ao final) e claro, sem um time de atores extremamente competentes, seria impossível carregar toda a atmosfera com o peso necessário. Gabriel Byrne, como o pai da família, trás a calmaria e sutileza necessárias para a trama, constrastando com uma Toni Collette desesperada, aflita, neurótica e que, gradativamente, perde o controle de seu casamento, sua família e de si, assim como a estreante Milly Shapiro, em um papel complicado para sua idade, mas muito bem executado e Alex Wolff como Peter, carregando emoções em seus olhares, jeito de andar e explosões pontuais e muito bem realizadas. Um elenco fascinante e acuradíssimo, que só amplifica a visão do diretor.
Falando um pouco da minha interpretação da história, desde seu início, o filme trabalha o conceito da culpa, rondando todo o espectro do roteiro, seja pela filha que se afastou da mãe e que, consequentemente, espelhou sentimentos culposos nos filhos, o irmão relapso e o pai “cego” para com sua família.
Quando adentramos em seus minutos finais, quando a “explicação" da trama vem a tona, realizamos um contexto religiosos e dogmático. Ao adorar um demônio, todas aquelas pessoas procuram a liberdade da culpa, buscando refúgio e redenção. Temos causas e efeitos, rituais e sacrifícios sendo realizados em um apanhado de dogmas calcados em um suposto sentido. Nesse contexto, mudados apenas o objeto de adoração e podemos enxergar uma sociedade fundada na religião e absorta em doutrinas: a nossa! São formas diferentes, claro, mas em sua base, o sentido é o mesmo: a procura por algo maior que traga leveza e sentido para nossa vida terrena. Precisamos apenas parar para nos perguntar, quando foi que o seu deus passou a ser o meu demônio.
Uma das grandes co-produções brasileiras, “O Beijo da Mulher Aranha” trás, para nós, grande curiosidade ao ver artistas muito conhecidos por nós (principalmente nos anos 80), como Miguel Falabella, Sônia Braga, Nuno Leal Mais e Milton Gonçalves atuando em inglês (um dos pecados da produção, infelizmente) com grandes artistas de Hollywood, mas não somente isso, mas trabalhando em um longa tão bem conceituado, premiado e de extrema importância para sua época.
Primeiramente, é interessante notar as dualidades que o filme propõe, sendo a mais óbvia e proposital, o narrar das histórias intercaladas de Valentín e Molina com o filme que o segundo descreve. As traições, motivações amorosas e os temperamentos de seus personagens, conversam constantemente com a realidade dos carcerários, traçando um paralelo que dá pistas, o tempo todo, do grande plano do diretor da penitenciária. Assim como o espelho narrativo traçado com a história da mulher do título, que pode ser entendida como um pensamento biográfico de Molina ou a personificação de Marta na mente de Valentín, que recai no final poético que a trama tem.
Devido á um roteiro e direção claustrofóbicos, William Hurt e Raul Julia tem bastante espaço para brincar em cena e mostrar todo um trabalho impecável de troca de diálogos e expressões singelas e discretas, mas que dizem muito. Julia desenvolve o temperamento de seu personagem com muita cadência e Hurt provoca o telespectador com um Molina misterioso e sem muita afetação, retratando a comunidade LGBTQ+ da época. Falando em retratação, Babenco foi muito inteligente ao tirar a trama da Argentina, como no livro e trazer para o Brasil da Ditadura, retratando a tortura e trazendo nuances do ritmo artístico que reverberava na época, que mescla com o teor romântico buscado na história e seu final.
Um grande recorte de seu tempo, tanto em estética como em sentimento, “O Beijo da Mulher Aranha” trás um gosto amargo na boca, principalmente espelhando os dias atuais, mas também um sentimento de esperança na arte e no amor, como razão existencialista, em frente á todo um presente trágico.
Contando como um dos grandes clássicos do cinema, “O Sétimo Selo” tem uma das cenas mais icônicas da história da sétima arte: o jogo de xadrez protagonizado por um cavaleiro e um sujeito careca trajando uma túnica preta. Assistindo o filme, percebemos que o sujeito soturno e misterioso viria ser a morte, vindo buscar o templário Antonius Block, após seu regresso de uma cruzada. Por ser logo no início, a cena em questão não revela nenhum spoiler para quem nunca viu o filme, mas já apresenta o conceito fúnebre que guia toda a história contada por Ingmar Bergman na sua uma hora e meia.
Logo em seus primeiros minutos, Bergman nos apresenta diversos personagens que ganham certa conexão e incrementam a saga de Block, já que seu jogo com a morte dura mais do que o esperado pelo telespectador. Tentando ver um jeito de enganá-la, o cavaleiro posterga o embate e, durante seu caminho de volta ao lar, estes personagens cruzam seu caminho de redenção, dúvida e busca de algum significado.
As guerras santas foram sangrentas e muito dogmáticas e estes fatores transparecem no rosto de Block, que mal esboça um sorriso ou alegria. Ele não quer morrer antes de ver a esposa amada, mas sabe que sua vida na terra já chegou ao fim e sua história é marcada por momentos trágicos e moralmente questionáveis, assim como também não quer morrer sem ter a certeza de sua trajetória e das respostas á suas dúvidas morais. Iria ele para o céu ou inferno? O seu amor era suficiente para garantir-lhe uma “boa vida” no além? Suas conversas com a própria morte e uma suposta bruxa endemoniada, são calcadas nessas questões e nos fazem refletir, ainda hoje, sobre nossa fé e no que, realmente, acreditamos ou somos levados a acreditar. Ele, querendo conversar com o diavo, para saber mais de Deus, trás uma camada especial para o questionamento, pois o faria, de fato, conhecer mais do Criador, ou ser levado a crer no Deus que o diabo quer que conhecemos?
As dúvidas de Block não são esclarecidas, mesmo que levadas até os últimos minutos do filme, quando todos os personagens se vem de frente da morte e, enquanto uns se apresentam, outros perdem misericórdia e até sinais de raiva e desespero são vistos em tela. A suposta dança no final e o paraíso descoberto pelos artistas (a arte e a sua vitória máxima) não garantem solução a qualquer questão, mas apenas semeavam perguntas se, o que Block viveu, após seu primeiro encontro, foi real ou apenas a grande resposta etéria da morte para o cavaleiro, de suas infindáveis perguntas.
De volta a 1976, quando o primeiro filme de "Rocky" estreiou nos cinemas, o público se comoveu com a história sofrida e emocionante do jovem sonhador e aspirante a pugilista campeão mundial. Era uma trajetória simples, singela e de grande apelo estadunidense, magnetizando prêmios, continuações e muito dinheiro para o cofre do estúdio, assim como ter sido o expoente de transformação de Sylvester Stallone em um rosto conhecido e aclamado por todo o globo.
Jé em 2015, depois de tantos anos da estreia de seu Tataravô, estreava "Creed", uma reimaginação da história de Rocky, trazendo o filho de seu rival (e que em suas continuações, tornou-se amigo) com uma trajetória não tão sofrida, mas com nuances atualizadas e tão bem exploradas, como sua busca por identidade, não só pessoal, mas profissional e, até mesmo, racial.
Como espelho da época de seu lançamento, Rocky Balboa era o reflexo dos imigrantes latinos, que buscavam crescer na vida. Adonis Creed é um reflexo da nossa geração millennium, que busca saber quem realmente é e o seu lugar no mundo como homem, neste caso, negro, em um país que ainda não aceita tão bem seus imigrantes e vive na sombra da escravidão e segregação. Camadas muito bem trabalhadas, que se conectam através de um dos esportes mais violentos e desonestos com seus atletas, o Boxe!
Sendo assim, as histórias de seus filmes base são bem amarradas e fechadas em um roteiro que não preza pelo seu contexto final (a vitória ou derrota), mas sim pelo meio (suas jornadas). Apesar de discutíveis, as continuações de Rocky são bem bacanas e algumas delas trazem conflitos interessantes (em exceção do 5 e 6, que pouca coisa se salvam), e como o primeiro Creed também foi um sucesso de crítica e público, sua continuação era mais do que esperada, mesmo não sendo tão necessária.
A saga de Adonis, nesta continuação, segue a procura de sua identidade como pugilista. Mesmo sendo um campeão mundial, o mesmo não se sente assim e tende a buscar um feito que traga algum sentido a esta honraria. Em contrapartida, na Ucrânia, somos apresentados a Viktor Drago e seu pai, Ivan (reaparecendo anos depois de ter sido derrotado por Balboa em "Rocky 4"), que buscam vingança moral. Neste cenário, temos também uma buscar de identidade e reconhecimento de Viktor, já que sua família foi renegada, após a luta de seu pai, o qual vê no filho, não só uma retaliação, mas também de redenção pelos feitos do passado.
O filme segue a estrutura de "Rocky 4" em alguns fatores, com Adonis até indo lutar nas terras geladas da Russia e um treinamento pesado pré-luta final, no deserto americano, o que não garante muitas surpresas. Além de desmerecer o crescimento da Bianca, que serve como escada de Creed, sendo apenas mulher e mãe de sua filha, sem uma história própria, dessa vez. A trajetória de Adonis se mostra repetitiva, tendo em vista que o primeiro filme já a abordou, e neste aqui sua reafirmação é evidente em diversos diálogos do personagem com Rocky, sua mãe e esposa. Falando em Rocky, desta vez sua jornada é um pouco conflitante com o que foi mostrado em "Rocky Balboa” e pouco se foca na rivalidade dele com Drago, o que é uma pena, e gera, apenas, um bom momento entre os dois.
Há de se falar também que, apesar dos pontos citados acima, o filme nunca perde seu carisma e interesse do público, pois já conhecemos aqueles personagens (até mesmo Ivan e seu filho, praticamente uma cópia do próprio) e nos interessamos pelas suas vitórias e derrotas. Particularmente, não sou um grande entusiasta de esportes, muito menos por boxe, mas os filmes que abordam esse tema me chamam a atenção e, por mais repetitivos que possam ser, carregam, normalmente, um peso balanceado de drama e ação esportiva que é impossível não ficar preso a poltrona e sentir cada soco e cruzado de direita proferido pelos “atletas”, e Creed II trás isso de forma muito satisfatória. Corroborando isso, o diretor Steven Caple Jr. garante bons momentos de tela nas lutas, seguindo o estilo de filmagem interessante que Ryan Coogler e Maryse Alberti realizaram no primeiro filme, não exagerando nas câmeras lentas e trazendo uma suposta crueldade e excitação no ringue, fator este, transparecido também nas atuações, que mantém o tom certeiro nas cenas dramáticas e de ação, exibindo o medo de B. Jordan, junto da aflição de Thompson e Stallone contrastadas com a inexpressividade de Lundgreen e do boxeador profissional Florian Munteanu.
Após assistir "It - Capítulo Dois", fica nítido o amor de Andy Muschietti pela obra original de Stephen King, vide os inúmeros easter eggs e a complexidade do roteiro ao abordar diversos aspectos do livro, muitas vezes acrescentando á obra visual e algumas outras, incorporando uma certa "barriga" no texto, que pouco movimenta a trama ou somente corrobora aspectos já bem estabelecidos. Com seus quase 170 minutos de projeção, a história dos Perdedores de Derry segue seu fluxo de forma coesa e decidida, rapidamente estabelecendo cada personagem na trama e os trazendo de volta ao centro do terror estabelecido por Pennywise e já entrando, cada um, em sua jornada para destruir o palhaço. Esses momentos são extremamente preciosos para o avanço da história, o relacionamento dos mesmos e o reencontro com o passado, mostrado em forma de flashbacks com lindas transições entre os atores adultos e crianças, de forma bem natural e fluida. Destaco também as atuações dos dois núcleos, que trabalham muito bem o psicológicos dos personagens e suas nuances físicas muito bem mimicadas, assim como Bill Skarsgård como o vilão.
Como já citado, o roteiro carece de um enxugamento narrativo, ao apresentar tramas paralelas á principal, que não ajudam no desenrolar da história, apesar de fazerem parte do livro, como por exemplo, a busca por vingança de Bowers
(seu final já estava estabelecido no primeiro filme e, por mais que seu retorno funcione no livro, aqui, sua trama se mostra estafante e sem muita funcionalidade)
(seu trama inicial, com seu irmão, já era o suficiente para estabelecer a jornada do personagem por redenção e a própria aparição do caçula, já evidenciava isso. Sua trama com o outro menino, apenas acrescenta tempo de tela desnecessário ao roteiro, apesar de, visualmente, a sala dos espelhos ser uma ótima cena)
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Não sendo um grande revolucionador do gênero de terror, as duas partes de "It" carregam consigo um clima oitentista que nos ajuda a nos aproximar dos personagens e acrescentar peso ao clima de suspense e de horror. Seja nas cenas mais gore (muito sangue é visto em tela) ou nos clássicos jump scares, que, infelizmente perdem muito de sua força, mediante ao uso exacerbado de efeitos especiais em algumas cenas. Por mais fantasioso que seja o roteiro (principalmente ao se aproximar do final) e sua necessidade de efeitos visuais mirabolantes, algumas cenas, se feitas com efeitos práticos ou alusões de verdade ou mentira ao terror do palhaço para com habitantes da cidade, funcionariam de forma mais horripilante ao público.
Um retrato bem atual da juventude americana, trazendo um frescor nos esteriótipos juvenis. A loira patricinha já não é tão burra, o quarterback bobão pode sim ir pra uma faculdade incrível e a nerd estudiosa talvez passe a sentir inveja dela, mas não pelos motivos que se espera, e o roteiro trata isso com esmera naturalidade e adapta bem os clichês do gênero. A dupla principal não é tão carismática, mas cativa e gera uma "preocupação" do público, em seu último ponto de virada, além de deter os melhores diálogos e colocar-los em tela de forma não forçada e convincente. A direção da Olivia Wilde é uma surpresa e mistura vários artifícios não convencionais (o uso de longos planos e edição inventiva) com outros mais convencionais do gênero (as trilha sonora pop), mostrando uma condução muito bem arranjada de uma atriz competente e diretora promissora!
O amor de J.K Rowling por seus personagens é inegável, assim como sua extrema capacidade em criar universos e mitologia riquíssimas em detalhes e amarrações, e durante toda a sua saga do menino bruxo, esses fatores eram provados a cada livro. Porém, apesar de saber a riqueza do material que tem mãos, e exatamente o que fazer com ele, a autora se perde no básico do cinema, ao não saber conduzir sua nova história de forma coesa e equilibrada.
Animais Fantásticos: Os Crimes de Grindelwald, apresenta o (talvez) roteiro mais fraco de toda a franquia, em vários sentidos. Apesar de já conhecermos boa parte dos personagens, os mesmo não são desenvolvidos, sendo subutilizados com meros objetivos de ir a lugar A para B, sem muito crescimento pessoal ou progresso narrativo coeso, assim como toda a trama apresentada, que caminha a passos lentos (tal como no primeiro filme) e apenas joga conceitos na tela, que só serão desenvolvidos nos próximos filmes. A história principal é até bem delineada e fácil de ser levada para o público, mas tantas subtramas desinteressantes, mal construidas e que são resolvidas em uma cena cafona de diálogo expositivo, carregam o filme de falta de nivelamento (durante os dois primeiros atos, não há sentimento de urgência ou progressão imediata para o que está por vir) e uma edição arrastada e pouco inventiva.
Felizmente, a parte visual e imaginativa de designs de criaturas, figurino e efeitos especiais "mágicos" é sempre um show a parte, e nesse filme ganha muito mais espaço. Não lembro de em algum outro filme da franquia, ter tantos momentos de magia expositiva na tela, como em "Crimes de Grindelwald". E isso também se deve ao diretor David Yates, que mesmo, ainda não sabendo lidar com o mise-en-scène de algumas tomadas (principalmente em espaços fechados, como na cena de abertura), cresce em relação aos seus outros trabalhos na saga, trazendo uma certa nostalgia e frescor, com alguns mais momentos mais elaborados (como a cena da biblioteca no Ministério Francês).
Claramente os fãs da saga vão amar as referências e conexões com os livros de Harry Potter (e até uma inserção bem duvidosa ao final), mas espero que não sejam cegos e percebam que, mesmo sendo um retorno a esse mundo mágico, tão maravilhoso, infelizmente há um gosto agridoce em cada novo feitiço proferido.
A pretensão é inerente a arte. Considerar peça artística x ou y como pretensiosa é um deleite para qualquer crítico, seja ele formal ou informal e todo artista está vulnerável a esse tipo de opinião, concorde ele ou não. David Foster Wallace pode ser chamado de pretensioso até os dias atuais e suas conversas com David Lipsky denotam isso de uma forma quase arrogante, diria eu (olha aqui a opinião), mas será mesmo, esse o verdadeiro David? Onde e quando a persona artística se separa do indivíduo civil? Ou será que essa divisão nem sequer existe? "The End of The Tour" projeta essas questões ao público o tempo todo e cabe a nós considerarmos e opinarmos sobre as palavras de cada um dos artistas em tela, pretensiosas ou não, verdadeiras ou falsas.
O diretor James Ponsoldt praticamente transcreve a extensa entrevista de Lipsky para a tela e carrega as quase duas horas de filme com muitos monólogos e diálogos meio que aborrecidos, mas cheios de muita amargura e uma sombria esperança por parte de David. O personagem real vivido por Jason Segel de forma nem um pouco desafiadora (Segel é um daqueles atores que interpreta sempre o mesmo tipo de papel) é um paradoxo constante, que conduz a trama através de seus "ensinamentos" pautados em discursos niilistas, mas sem nem mesmo acreditar neles em certos momentos. Por vezes preocupado em passar uma imagem marqueteira sobre o uso de sua bandana, mas também alarmado para não ser considerado um “mimado filho da mamãe” por não comer picles em fast-foods. Claramente um sujeito interessante, diferente e peculiar, que diz muito sobre muita coisa e nada, ao mesmo tempo, e evidenciando isso na própria estrutura do roteiro escrito por Donald Marguiles, que não se sustenta plenamente e carece de ritmo e base de identificação com os personagens para manter o público interessado.
De certo que o livro servido de base para o roteiro é um alento para aqueles que querem conhecer mais da vida e história desses grandes autores contemporâneos, mas sua transcrição para a tela grande não se mostra tão satisfatória e seja essa critica pretensiosa ou não, ao menos concordo com David e jamais me consideraria um artista por isso.
Extremamente divertido de se assistir, o filme se sustenta na sua edição rápida e nas incríveis atuações do seu elenco estrelado, o que também trás o lado negativo, sem qualquer tipo de profundidade das personagens (calcadas no conhecimento prévio que temos das atrizes que as interpretam), além de Debby (e mesmo assim, meio vazio) e uma disparidade com a realidade que é curiosa, mas algumas vezes sem sentido algum, nem mesmo o fictício.
O filme é, claramente, um dos melhores exemplos de primor técnico para uma produção cristã. Toda a ambientação visual é muito bem trabalhada e mesmo sem exagerar em planos abertos ou grandes locações, a fotografia impressiona com usos interessantes de luz e planos-sequência interessantes (mesmo que algumas vezes desnecessários). Todos os outros detalhes, como figurinos e objetos de cena também garante certa fidelidade a uma obra que se passa em Roma e é falada em inglês, mas isso não é um real problema, convenhamos.
Mesmo sendo adaptado dos livros de Atos e Romanos, principalmente, o roteiro carece de certa dramaticidade e nos fornece algumas histórias paralelas, como as de Aquila e Priscila e as de Cassius e Mauritius, sendo a primeira, o exemplo contemporâneo das diversas divisões da própria igreja cristã, buscando um mesmo objetivo, porém de formas diversas. Cassius é o exemplo do cristão que dúvida de seu próprio Deus em meio a adversidade e o núcleo de Mauritius trás a família do gentio que gradativamente passa a acreditar (ou ao menos entender) o Deus que tantos são perseguidos em nome Dele. Infelizmente as duas histórias seguem a cartilha clichê, sem muito a acrescentar de novo, o que nada faz além de trazer suposta tensão e suspense enfadonhos, guiando o espectador á um desfecho que em poucos diálogos prévios, já sabemos o final. Falando em diálogos, o filme também peca ao transpor trechos específicos da Bíblia de forma extremamente expositiva, quase que como um easter egg de filmes de super-heróis, a ser encontrado e apenas servir como fan service para os cristãos que decoram passagens bíblicas. Claro que, ao se basear nos livros bíblicos, certos versículos seriam transportadas para a tela, mas será que precisávamos ouvir Paulo dizendo “Escreva isso”, inúmeras vezes á Lucas?
Felizmente a mensagem a ser passada é universal: “O Amor é o único caminho”. Paulo foi o maior evangelista que já pisou nessa terra e entendia que não precisamos de uma religião ou doutrinas a seguir, mas sim do amor de Cristo. Em outro momento, uma personagem diz que “Cristo nos pediu para cuidar do mundo e não dominá-lo”, o que resume de forma objetiva e simples o desejo de Cristo para a humanidade. Devemos cuidar e respeitar uns aos outros e não tentar dominar o mundo através de nossas religiões, credos, pensamentos ou ideologias. Talvez seja a primeira vez que um filme assumidamente cristão entrega uma mensagem homogênea e sem qualquer cunho doutrinário. Um acerto, finalmente.
Infelizmente uma ótima idéia mal aproveitada, que cria inversões de valores curiosos, mas que servem apenas como caricatura de um problema muito maior e substancial que assola a nossa sociedade.
Bebendo de diversas fontes cinematográficas, “Super Dark Times” se perde, exatamente, aos tenta emular todas em conjunto e acabar se tornando uma salada narrativa e visual, onde pouca coisa se conecta, porém, quando se conecta e feita de forma decente. O frenesi da edição de Edgar Wrigth é presente, a narrativa juvenil mesclada com terror de clássicos baseados na obra de Stephen King também e o romance indie e ingênuo também marca presença, porém, não é encontrado o tom correto para as 1:40 de projeção e o que vemos na tela é um emaranhado de ideias boas mal executadas. Em seu início, a criação de tensão é bem equilibrada e nos prepara para a grande virada da trama, que ocorre de forma (quase) inesperada e persegue os personagens até o último momento. E a partir daí, o roteiro vira uma bola de neve sem controle, que não sabe exatamente que sentimento transmitir ao público. Medo? Terror? Romance? Nada é muito bem explorado e os atores principais também não colaboram, ao oferecerem performances falhas e sem muitas expressões. Entretanto, quando o tema do trauma é abordado, um certo pesar toma a trama e garante bons momentos de reflexão e entendimento do que uma simples ação pode causar na vida inteira de uma pessoa. Infelizmente, o roteiro não desenvolve (ou sequer conclui) o assunto e descamba para um viés mas chamativo e fora de tom.
Ao chegar ao seu final, não sabemos direito que tipo de filme assistimos e deixando a conclusão em aberto (para uma continuação, talvez? Eu realmente não sei!), o gosto amargo na boca do espectador se intensifica. Não é de todo ruim, mas claramente poderia ser algo bem melhor nas mãos de um diretor e roteiristas competentes.
Mank
3.2 462 Assista AgoraDepois de 8 anos sem dirigir um longa-metragem, trabalhando mais com a TV, David Fincher volta a ativa com “Mank”, uma ode á Hollywood da década de 30, trabalhando diversos assuntos de forma concisa e, porque não, divertida a sua maneira.
Sim, durante as suas 2 horas de metragem, Fincher exala uma certa diversão única, tomando as rédeas de uma história, não somente pessoal (seu pai, Jack Fincher, roteirizou o longa), mas nostálgica para todo um público aficionado pelo cinema clássico. Usando a odisseia de construção do clássico dos clássicos, “Cidadão Kane”, o diretor brinca com a narrativa, evoca referências claras (e outras nem tanto) ao filme de 1941 e relembra toda uma estética tão única e especial das produções daquela época. A escolha em usar o artifício de idas e vindas no tempo é cirurgicamente posicionado nos momentos exatos e garantem uma experiência dupla (evocando também, “Poderoso Chefão – Parte II”) ao espectador, além de trazer camadas e mais camadas a seu personagem principal (Gary Oldman, ótimo!), que nunca se apresenta como herói ou vilão, mas um ser híbrido de sentimentos, valores e personalidades, com todos os outros personagens orbitando ao seu redor (como Amanda Seyfried, maravilhosa também!).
A estética da década de 30 é lindamente realizada, seja nos cenários (até mesmo os momentos em CGI) ou nos figurinos lindíssimos, assim como a escolha do filtro em preto e branco, trazendo uma certa elegância e quadros maravilhosos, utilizando a luz quase como um personagem!
Ainda servindo como uma alegoria atual, já que Fincher não se contenta em apenas, conduzir uma biografia de como Mank escreveu um filme, mas elucidar a importância política de uma época, que reverbera até os dias de hoje. Momentos que, podem não parecer trazer certa importância para o fio condutor da história, mas como eu disse, não é um filme clássico de como algo aconteceu, mas de como quem aconteceu e sua importância na história do cinema americano.
Ter assistido previamente ao clássico filme de Orson Wells pode trazer uma experiência mais completa e vívida da obra e, claramente, não é um filme para um grande público, mas é uma obra de paixão de Fincher, sem muito de sua assinatura crua e visceral da sociedade, como estávamos acostumados a ver em seus thrillers e suspenses, mas é um Ficher mais livre de si mesmo, experimentando dentro de seu próprio mundo (ainda cru e visceral, mas mais leve), se divertindo e garantindo um dos finais mais lindos de seus filmes, trazendo a tona a beleza de uma época que ficou para trás, mas deixou um legado que, as vezes, é bom ser revisitado.
Acredito que estará fortemente no radar da Academia e grandes premiações de 2021. O filme tem tudo que eles gostam: Hollywood, Classicismo, Atores renomados e muita nostalgia. Opino ainda que Fincher tem sua melhor chance de levar por direção e Oldman ser indicado a Atuação. Torço por Amanda Seyfried ser, ao menos, indicada e claro, as várias categorias técnicas.
O Homem Invisível
3.8 2,0K Assista AgoraAbarrotado de camadas contemporâneas de suspense e terror, muito bem dirigido e fotografado. Elizabeth Moss incrível como Cecilia, totalmente entregue, provando-se uma das melhores atrizes dos últimos anos.
Construído de forma cirúrgica, o roteiro esbarra em algumas resoluções que carecem de uma suspensão de descrença muito maior do público. Nada que tire o brilho da produção, mas deixa um gostinho amargo na boca.
A Morte e Vida de John F. Donovan
3.3 193Na maioria de seus filmes, Dolan nos apresenta histórias realísticas e que, invariavelmente, recaem sobre dramas maternais, pautados nas perspectivas de filhos incompreendidos e mães relapsas, mas com seus devidos motivos e motivações. Sendo assim, seus roteiros tem uma escrita muito pesada em diálogos e situações hiperbólicas, por assim dizer.
No caso de "Life and Death of John F. Donovan”, não deixa de ser diferente, mas aqui temos como espinha dorsal, não a relação maternal, mas sim a de um artista e a fama. Durante a projeção, temos vislumbres singelos e delicados do vínculo de John e Rupert, com suas progenitoras, o que trás toda uma maior camada aos personagens e belíssimos momentos (como o close em Susan Sarandon, na cena do banheiro e, basicamente, todas as cenas de Natalie Portman dividindo cena com Jacob Tremblay), garantindo assim, bons diálogos e atuações. Mas o que o diretor quer realmente dizer, está nas entrelinhas de sua própria vida, espelhada, até certo aspecto, na ascensão e declínio de Donovan.
Em certo aspecto, é interessante assistir o paralelo narrativo entre os personagens principais, pautado na busca pela arte, sucesso e felicidade, entretanto, o discurso abordado parece datado e inflado. Em certo momento, durante sua entrevista com a jornalista, Rupert lhe descarrega um sermão sobre privilégios e elitismo, em defesa de sua história, mas que pouco corrobora com o que passado em tela, já que vemos muitos relances de situações que pouco são exploradas (a suposta doença de John, sua homossexualidade, entre outros) que, ao seu modo, trariam maior peso ao que o diretor queria dizer sobre o mundo “glamuroso" dos famosos.
Apesar disso, Dolan traz, com primor técnico, um belíssimo visual para sua história, com uma paleta fria e filtros que remetem a uma atmosfera vintage, mesmo o filme se passando ainda no século 21, mesmo que em duas épocas diferentes. Confesso que me surpreendi com a atuação de Kit Harington e nem preciso dizer sobre todo o resto do elenco de peso.
Claro que não posso deixar de falar na trilha sonora, que mesmo não trazendo momentos tão icônicos, quanto em seus filmes anteriores, dão um quentinho no coração e conversam muito bem com a narrativa (mesmo o uso de Stand by Me sendo um momento meio cafona).
Gattaca, uma Experiência Genética
3.9 649 Assista AgoraUma das grandes virtudes dos filmes sci-fi é a chance que seus realizadores tem de brincar com o futuro (ou realidades alternativas) misturando grandes dilemas sociais e subtextos realísticos mesclados a robôs, alienígenas e uma variada gama de criaturas. Muitas vezes combinados com ação e aventura, alguns exemplos se deslocam do geral e apresentam histórias mais densas, dramáticas e sem muito teor aventuresco.
“Gattaca" é um desses belos exemplos, unindo-se a “Contato”, do mesmo ano, “Blade Runner” e tantos outros, só que aqui o roteiro trás um futuro “não tão distante” bem ao estilo da visão dos anos 90. Telas de computadores por todos os lados, arquitetura côncava e muito metal e cores prateadas fazem o trabalho de direção de arte se unir com a trama de forma primorosa, como logo na primeira cena, em que vemos o interior da empresa que dá nome ao filme, com seus andares em curvas, fazendo com que seus funcionarem andem “em círculos”, como engrenagens de uma máquina. Também podemos perceber essa amálgama visual no conceito de viagem ao espaço, o desejo tão buscado pelo personagem Vincent, muito intrínseco aos anseios políticos e populares daquela geração, desde a corrida espacial.
O texto insere a genética como mote principal, trazendo um aspecto interessante da criação do ser humano e o controle que o mesmo tem sobre a sociedade. As perguntas do que é certo ou errado aqui não existem, nem do que é moral ou condenável, já que, se vivêssemos em uma sociedade que gera seus filhos de forma laboratorial e “perfeita”, possivelmente faríamos o mesmo, mesmo tendo em vista a separação social que isso geraria, apenas deslocando o preconceito para outras áreas.
E aqui entra um comentário pessoal meu, já que, é dito no filme que a segregação, naquela ambientação, já não mais existia por cor, raça, gênero ou classe, mas por genética. Tendo em vista que o procedimento para “gerar" um filho em laboratório seria caro e muito custoso, apenas pessoas ricas teriam acesso… ou seja: brancos, homens, ricos! Os negros, pobres e mulheres não teriam tanto acesso assim.
Inserindo uma pitada de suspense, romance e plot twists, o roteirista e diretor Andrew Niccol explora em seu texto, temas clássicos de um herói, como superação e busca do eu, em tons mais idealísticos sem deixar de mostrar suas falhas e motivações duvidosas, sempre lembrando ao espectador que, apesar de estarmos torcendo por aquele personagem, talvez nem ele esteja tão certo do que está fazendo em prol de seu sonho.
Já em sua paleta de cores mais quente, essa escolha busca trazer certo conforto ao público e que contrasta com as atuações mais frias e robóticas, propositalmente, de Hawke, Thurman e Law, principalmente.
Não sei ao certo se mostra-se um filme atemporal, tanto em seu visual ou conceito, mas garante reflexões interessantes sobre o que estamos realizando e modificando, enquanto sociedade, em nosso mundo, planeta e estilo de vida, sem pensar nos impactos que estas mudanças podem trazer ou já estão trazendo pro nosso dia a dia.
18 Presentes
3.6 100 Assista AgoraNo cinema, histórias maternais comumente geram grandes obras que marcam e emocionam o público daquela época, como é o caso de "Como nossos Pais", "Dançando no Escuro" e, meu favorito, "Laços de Ternura". A fórmula é, quase sempre, imbatível, mostrando as agruras da maternidade, os erros, acertos e superações na relação, tantas vezes, tempestuosa entre mãe e filha.
Aqui em “18 Presentes”, essa fórmula é trazida de forma um pouco diferente, já que não a acompanhamos de forma linear, por assim dizer, o que trás um leve frescor para a produção.
Logo em seu início, somos apresentados á história de Elisa, grávida, que descobre ter um tumor maligno que tiraria sua vida em meses. Sendo assim, ela decide deixar 18 presentes à serem dados a sua filha todos os anos e logo surge Anna, a tal filha, que em seu aniversário de 18 anos, já não aguenta mais essa tradição e decide fugir de seu aniversário, envolvendo-se em um acidente que, supostamente, á leva para o passado de quando ainda estava na barriga de sua mãe.
De cara, fui surpreendido, pois não esperava um roteiro que misturasse volta no tempo (mesmo não ficando tão claro se ela voltou ou foi um tipo de distorção na mente das duas mulheres) com o drama da relação que, a princípio, mostrou-se ser um ponto positivo, mas ao decorrer do filme, o sentimento é de que todos os dilemas enfrentados não tinham muito sentido ou validez e poderiam ter sido evitados com apenas uma revelação prévia, por parte de Anna, de sua "viagem temporal”. Caso o roteiro tivesse optado por essa dinâmica, os obstáculos impostos pelo texto ás personagens, seriam muito mais viáveis, divertidos e interessantes, tendo em vista que as duas sabiam da condição temporal e precisariam enfrentar os comos e porquês daquela situação, além de trazer mais carisma para a personagem principal, que carece de proximidade do público e pouco emociona com suas atitudes sem motivações pertinentes. Por mais que sentisse a falta do amor materno, ela sempre teve de tudo, fora o amor paterno e de seus avós e amigos, e pouco se importava com eles. Não há, aqui, um envolvimento emocional tão palpável e a própria atuação da atriz conota apenas aborrecimento e rebeldia vazia. Como contraste, o roteiro constrói a personagem de Elisa de forma singela e emocional de tal forma que, em seu início, entendemos e nos identificamos com seu dilema, e somos levados até seu final de modo fluido e compreendemos suas decisões e momentos afetivos.
Ademais, mesmo não satisfeito com todo o desenrolar da trama, ainda estava satisfeito com o que havia sido apresentado, mas devido a uma cena extremamente brega e sem valor dramático algum (além do estranhamento, devido ao absurdo da situação e os efeitos especiais ruins) em seus últimos minutos, o filme descamba á um desfecho bobo e fraco, perdendo a base emocional, minimamente, sólida que havia construído.
Inferno
3.2 832 Assista AgoraFamoso pelo estrondoso sucesso de “Código da Vinci”, Dan Brown tornou-se um dos grandes escritores da nossa geração. Seu ritmo frenético de escrita, personagens misteriosos e temas polêmicos, foram os ingredientes perfeitos para uma receita lucrativa, não somente na literatura, mas no cinema.
“O Código…” foi a primeira adaptação, seguida por “Anjos e Demônios”, e mesmo cada um tendo críticas divisivas (seja pelo ritmo lento, incongruente com o livro, seus temas religiosos, o elenco estrelado, mas apagado e, até mesmo, o mullet de Tom Hanks no primeiro), a bilheteria fazia valer o investimento e Dan Brown fazia questão de manter sua obra em evidência, lançando mais livros (focando cada vez mais no simbologista Robert Langdon, protagonista de todas as adaptações) e nutrindo a curiosidade de seus leitores e espectadores.
Sendo sua terceira adaptação, “Inferno" investiga o plano de um magnata bilionário em acabar com metade da população utilizando um vírus mortal, acabando assim, com muitos problemas do mundo, como fome e doenças. O filme destrincha sua história e futuros plot twists, em duas horas de duração, da forma mais monótona e sem inspiração possível, possuindo uma direção preguiçosa de Ron Howard, claramente buscando apenas pagar seus boletos nessa empreitada que não trás qualquer artifício visual interessante, e tendo em vista que trabalhamos aqui com uma trama que se ambienta em diversos lugares interessantes do mundo e acrescenta museus e obras de arte á sua narrativa, deveria-se ter um esmero visual maior em apresentar o desenrolar do roteiro, mas não é o que testemunhamos, seja nas cenas de ação (perseguições de carro sem qualquer senso de urgência e uma estranha brincadeira de “polícia e ladrão” com um drone e Tom Hanks!) ou nos diálogos expositivos, que subestimam o público e descrevem o que acabamos de ver na tela de modo irritante e desnecessário, além do uso enfadonho de um flashback que, praticamente, reconta todo o filme, sem qualquer sentido ou porquê. Sem falar no uso da câmera subjetiva nas cenas de visões e confusão de Langdon, extremamente chatas e desagradáveis, sem conseguir o efeito desejado, além do aborrecimento.
Falar dos personagens aqui, é um verdadeiro exercício de roteiro falho, já que pouco é desenvolvido, realmente, na relação de todos (a presença de Omar Sy, para mim, ainda é uma incógnita), e, novamente voltando a exposição do texto, informações são jogadas de modo aleatório, com única função de levar os personagens do ponto A ao B, explicando a história e seu desfecho, do que, propriamente, fazê-los crescerem e criarem empatia com o público. O oportunismo das situações ao qual Robert se lembra ou não, também cria certo estranhamento e são usados sem muitos critérios, criando reviravoltas rocambolescas e surtos de sabedoria conveniente. Para finalizar, mais uma vez o povo árabe é trazido como vilões, sem qualquer explicação cabível, sendo utilizados de forma “arbitrária" e totalmente jogada na trama.
Assisti o longa com uma amiga que havia lido o livro, diferente de mim, e ao meu parecer, a obra original apresentam não somente um desenrolar, mas um final mais intrigante e elaborado do que o mostrado no filme, que foca nos clichês do vilão “vira-casaca” e da corrida contra o tempo (já apresentada nos outros dois longas da franquia), com a excessão de que aqui, o mundo inteiro estava em perigo… ou a sanidade do espectador!
Te Quiero, Imbécil
3.1 94Levando á sua máxima, os clichês do gênero comédia romântica, "Te Quiero, Idiota", além de não apresentar nada novo ao gênero, chega, até mesmo, a repetir momentos clássicos de outros filmes (como a cena do falso orgasmo público de Harry & Sally e a quebra de quarta parede de Annie Hall), que poderiam ser consideradas "homenagens" se não fossem tão óbvias e reencenadas sem qualquer parcimônia. Seu protagonista, apesar de simpático, não garante qualquer conflito minimamente possível para a trama. Acreditar que o mesmo, apenas por se vestir de forma "juvenil", não chamava atenção de nenhuma mulher, é bem difícil, além de repetir a clássica trama de "makeover" e ainda se redimindo no final.
As ações de todos os personagens não geram grandes consequências e a proximidade com o espectador é quase nula, além de apresentar um personagem extremamente irritante (o guru da internet), que toma bom tempo de tela, podendo ter sua importância, diluída em outro personagem já inserido.
Ao chegar em seu desfecho, apenas aceitamos que o mocinho deve ficar com a mocinha, por assim ser e tentamos entender como chegamos até aqui, depois de 1 hora e meia de pouca coisa, ou quase nada de uma história meramente interessante.
Os Incompreendidos
4.4 645Assistir aos filme do Truffaut é realizar um passeio pela história do cinema, não somente francesa, mas mundial, tendo em vista todas as suas consideráveis influências que podem ser vistas até os dias de hoje em diversas produções. “Os Incompreendidos”, além de ser um de seus primeiros filmes, carrega em si uma das principais característica de sua filmografia: o recorte da vida francesa. Truffaut, até mesmo em seus filmes menos contemplativos (como Noite Americana), sempre nos apresenta um pouco do cotidiano francês de forma fluida singela, fazendo com que, mesmo quem nunca foi a França, sinta-se um verdadeiro morador parisiense.
A jornada de Doinel é um reflexo da própria infância de Truffaut, assim como uma fotografia em movimento da realidade parisiense do final dos anos 50, de uma juventude subestimada e que busca na arte, algum acalento para o mundo real. A cada passo que dá, o pequeno rapaz acredita estar certo de que viverá a vida que sonha, mas apenas cai no mesmo abismo que todo adolescente despenca: achar que sabe de tudo, sem saber de coisa alguma.
Ao chegar em seu final, sua vida já está por um fio, preso atrás das grandes, sendo levado para seu maior pesadelo, a vida militar regrada, seu pai, que tinha como maior exemplo, o abandona, restando-lhe apenas sua mãe e sua “única opção” é a fuga, sendo que ele mesmo não se sabe do que… da tristeza da vida que lhe seguia? De sua família? Da Sociedade? De tudo? Dele mesmo? Ao olhar para tela, com um semblante confuso, caído (e não de alegria pela fuga), ele deixa essa pergunta para nós, sem qualquer expectativa de resposta.
Camp Rock 2: The Final Jam
2.8 322 Assista AgoraMesmo seguindo uma cartilha bem clássica de produções da Disney Channel, "Camp Rock 2" cresce em comparação com seu antecessor, desenvolvendo mais seus personagens e criando momentos empolgantes, com cenas musicais de verdade, algo que careceu no primeiro.
Além de trazer mais coreografias e músicas cativantes (a do Nate, em especial é muito fofa) é bacana (mesmo sendo clichê) ver a mensagem que o filme quer passar, sem parecer muito didático e com um clima mais leve e um roteiro que não pesa tanto na auto-ajuda panfletária. Os atores estão mais crescidos e garantem atuações melhores, assim como músicas mais elaboradas e uma direção competente nas cenas musicais.
Considero um dos melhores longas do canal, mesmo não tendo tido tanto sucesso quantos outras produções.
Camp Rock
2.6 533 Assista AgoraSeguindo a mesma cartilha de tantas outras produções da Disney, "Camp Rock" apresenta uma história teen bem feijão com arroz, com reviravoltas óbvias, piadas infantis e um bom punhado de músicas cativantes e atuações carismáticas.
Não tem como escapar... assistir esse tipo de produção é deixar a cabeça livre e curtir os momentos emblemáticos que marcaram uma geração, como a música do final, um clássico Disney Channel: "This is Me".
Posso citar também uma pequena mudança no arco da vilã, que também apresenta um drama complicado e trás certa redenção, mesmo que nem um pouco desenvolvida corretamente e que difere de outras produções do canal, que as vezes, nem mesmo, trás esse tipo de camada para seus vilões.
Piratas do Caribe: A Vingança de Salazar
3.3 1,1K Assista AgoraA franquia Piratas do Caribe sempre foi uma máquina de fazer dinheiro, devido ao seu tom cômico, misturado com muita ação e aventura, personagens cativantes, ótimos vilões e claro, Jack Sparrow. O personagem de Johnny Depp merece atenção especial pois, não somente, se tornou o grande rosto da marca, mas também o grande personagem da vida do ator. Em seus dois primeiros filmes, todos esses elementos conversavam muitíssimo bem, e garantiram momentos icônicos e diversão genuina para toda uma geração. Após o lançamento do terceiro título, as coisas começaram a desandar, os roteiros não estavam mais tão interessantes e o quarto filme provou que nem mesmo a presença de Jack Sparrow pode salvar uma história ruim e mesmo com sua bilheteria estrondosa, os sinais de desgaste já apareciam. Nesta quinta jornada, é visível o quão desgastada está, não somente a imagem de Sparrow, mas toda a saga bucanesca, que apresenta uma trama com teor grandioso, mas que peca nos principais aspectos que fizeram Piratas do Caribe ser um dos baús do tesouro da Disney.
Logo em seu início, visualmente, o filme não impressiona. Além de repetir um conceito apresentado lá em "A Maldição do Pérola Negra", a fragata de mortos do Capitão Salazar não tem apelo visual bem estabelecido em tela e os efeitos especiais geram estranheza a cada cena de Javier Bardem se locomovendo, assim como os diversos momentos de ação onde os personagens são inseridos, que apresentam, não somente efeitos ruins, mas soluções visuais mal executadas (um exemplo é a perseguição em alto mar com Jack domando um tubarão morto-vivo). Algumas cenas grandiosas, como a do roubo ao banco no início, se salvam, mas ainda sim não pelo apelo visual, mas pelo absurdo de toda a situação (um trunfo corriqueiro da franquia).
Se ainda se pudesse salvar pelo seu visual, talvez não nos preocuparíamos tanto com seu roteiro retalhado e que, claramente, busca sentido em trazer Jack de volta ao jogo. Estabelecido o seu McGuffin (o Tridente de Poseidon), toda a trama deveria girar em torno do mesmo, o que não acontece aqui e temos uma história paralela de Salazar buscando vingança de Jack e, coincidentemente, esbarrando na busca pelo artefato, que nem o próprio pirata o buscava, mas fora inserido de (perdão do trocadilho) gaiato no navio. Henry e Carina, os novos personagens apresentados, procuram o Tridente, cada um com seu objetivo bem estabelecido e, até garantem bons momentos de tela, principalmente pela personagem de Kaya Scodelario, que mostra-se interessante ao ser uma mulher inteligente, que busca entender sua própria história. Já a jornada de Henry trás proximidade ao público, mas carece do apego e proximidade, não com o personagem, mas sim com a nostalgia dos outros filmes e seus cativantes “protagonistas”, que são seus pais. Toda a bagunça na escrita da trama mostra-se confusa e sem sentido no momento em que as histórias se unem, não havendo razão concreta para Henry e Carina procurarem Jack e nem de Jack e Salazar quererem buscar o objeto, assim como a revelação da paternidade da menina, inserida apenas como uma busca por redenção de Barbossa e uma ligação forçada entre os personagens.
Ao invés de buscar se reinventar (adicionar novos personagens não garante isso), o filme repete conceitos (mortos-vivos, vingança contra o Jack e maldições marítimas), perde o tom cômico que sempre teve, seja requentando piadas ou inserindo-as sem motivo algum (alguém entendeu a cena do suposto casamento?) e confirma, tanto em bilheteria, quanto em crítica, o cansaço da franquia que um dia já foi sinônimo de diversão garantida. Espero, realmente, que parem por enquanto e revisitem essas histórias, anos á frente, repaginando e atualizando os sete mares.
Kramer vs. Kramer
4.1 546 Assista AgoraLogo em seu início, “Kramer vs Kramer” mostra-se um filme covarde. Baseado em um romance de mesmo nome, o filme apresenta uma história de “superação" do homem americano, bem sucedido, que se vê na situação de ser deixado pela mulher, com um filho de 7 anos para ser criado. Sendo assim, o pai passa a desenvolver suas habilidades parentais, mas não esperava o retorno da mãe, buscando a guarda do menino.
Abrindo com o rosto de Meryl Streep, triste e chorosa, colocando o pequeno Billy para dormir e, consequentemente, se despedindo dele, pois iria embora naquela mesma noite, o diretor Robert Benton logo anuncia a vilania de sua personagem e rapidamente nos insere na jornada de Ted, vivido por Hoffman, e crescimento pessoal e familiar. Durante boa parte de suas 1 hora e 40 minutos, o roteiro esboça muito bem o retrato da sociedade familiar da transição dos anos 70 para 80. Em uma Nova York pulsando arte e luz, ao mesmo tempo que enfrentava uma de suas maiores crises de violência, o grande embate que uma família branca classe média-alta poderia viver era a implosão de si própria. Joanna entende que faltava uma identidade para si, largando sua vida triste, seu marido relapso e seu filho, que não iria ter nada positivo daquela mãe, naquele estado. Ted absorto em seu trabalho vê sua casa ruir em frente de seus olhos e Billy, o grande “McGuffin” do filme, enfrenta o descaso de seus pais, pela visão inocente do auge de seus 7 anos.
É bonito ver o desenvolver de Ted como pai e sua relação com seu filho, passando de uma figura nula, no sentido de criação e afeição, para um homem e pai de verdade, que visa não somente o bem estar financeiro de seu lar, mas também manter boas relações dentro dela.
Quando nos deparamos com a volta de Joanna, o sentimento de repúdio é inevitável, tendo em vista que já havíamos percebido-a como vilã, e por sua atitute tão indefensável, de largar tudo por um motivo tão “pequeno”. Mas assim que começa o julgamento de custódia, e temos um monólogo incrível (escrito pela própria Meryl Streep), entendemos que toda aquela história está muito alem do que vimos, principalmente quando sua personagem diz: “eu fui a mamãe dele durante 5 anos, ele foi a mãe dele durante 18 meses”, o que nos faz repensar todo o contexto em que aquela família estava inserida.
Como eu apontei no parágrafo anterior, é muito bonito ver a relação de pai e filho, mas porque essa relação é mais importante e genuína do que a de mãe para filho? Assim como Ted elabora o argumento de, pelo simples fato, dela ser uma mulher mãe, não lhe dava o poder de criar Billy melhor que ele, os 18 meses em que ele passou com a criança, não anulavam ou negligenciavam os 5 anos em que Joanna criou e amadureceu seu filho, enquanto Ted não havia criado grandes laços afetivos com o mesmo (o próprio filme mostra isso nos primeiros momentos em que Joanna vai embora). Tomar partido do pai, quando tudo o que nos foi apresentado em tela foi a sua jornada, é muito fácil. Joanna tem apenas um monólogo em sua defesa, uma redenção e entendimento de seu dilema como ser humano e não em detrimento de seu marido e filho, mas de si própria! Podemos sim, questioná-la, mas julgar sua atitude como errada chega até a ser contraditória, já que Ted dependeu disso para crescer como pai e, finalmente, conhecer seu filho.
Por fim, nos é entregado um desfecho aceitável pela época em que o longa foi lançado, mas contestável, ao não abrir uma reflexão abrangente ao público. Joanna refutar e não ficar com Billy é uma covardia com a personagem, corroborando seu título de vilã, além de dar razão apenas á Ted, eximindo-o de qualquer culpa, principalmente em seus minutos finais, em que terminados a história com uma rima visual piegas, desnecessária e covarde.
Hereditário
3.8 3,0K Assista AgoraInserido na nova onda de filmes de terror dos últimos 5 ou 10 anos, “Hereditário" carrega consigo um novo patamar de “criação do medo”, trabalhando seu roteiro na base do terror psicológico, em uma gradativa construção de suspense em torno de seus personagens e a história em que estão ambientados. Como o próprio personagem de Alex Wolff diz em certo momento: “não está sentindo a mudança na atmosfera?”, é exatamente esse sentimento que o diretor Ari Aster quer transmitir, não se utilizando apenas de jump scares ou o horror físico, mas trazendo o público para dentro da ambientação fria, horripilante e tênue da casa dos Graham.
Tecnicamente, essa atmosfera é criada através dos cortes secos e longos planos parados, quase estáticos, escolhidos para diversas cenas, sendo modulados apenas em momentos de grande tensão e quando a história já está apresentada na tela. O som é outro protagonista, como na cena do jantar e nos ruídos de Charlie, importantíssimos para o desfecho do filme, assim como as cores frias dentro da casa, constrastando com a paleta mais tonal do lado externo (como a casa da árvore, mais uma vez, remetendo ao final) e claro, sem um time de atores extremamente competentes, seria impossível carregar toda a atmosfera com o peso necessário. Gabriel Byrne, como o pai da família, trás a calmaria e sutileza necessárias para a trama, constrastando com uma Toni Collette desesperada, aflita, neurótica e que, gradativamente, perde o controle de seu casamento, sua família e de si, assim como a estreante Milly Shapiro, em um papel complicado para sua idade, mas muito bem executado e Alex Wolff como Peter, carregando emoções em seus olhares, jeito de andar e explosões pontuais e muito bem realizadas. Um elenco fascinante e acuradíssimo, que só amplifica a visão do diretor.
Falando um pouco da minha interpretação da história, desde seu início, o filme trabalha o conceito da culpa, rondando todo o espectro do roteiro, seja pela filha que se afastou da mãe e que, consequentemente, espelhou sentimentos culposos nos filhos, o irmão relapso e o pai “cego” para com sua família.
Quando adentramos em seus minutos finais, quando a “explicação" da trama vem a tona, realizamos um contexto religiosos e dogmático. Ao adorar um demônio, todas aquelas pessoas procuram a liberdade da culpa, buscando refúgio e redenção. Temos causas e efeitos, rituais e sacrifícios sendo realizados em um apanhado de dogmas calcados em um suposto sentido. Nesse contexto, mudados apenas o objeto de adoração e podemos enxergar uma sociedade fundada na religião e absorta em doutrinas: a nossa! São formas diferentes, claro, mas em sua base, o sentido é o mesmo: a procura por algo maior que traga leveza e sentido para nossa vida terrena. Precisamos apenas parar para nos perguntar, quando foi que o seu deus passou a ser o meu demônio.
O Beijo da Mulher-Aranha
3.9 256 Assista AgoraUma das grandes co-produções brasileiras, “O Beijo da Mulher Aranha” trás, para nós, grande curiosidade ao ver artistas muito conhecidos por nós (principalmente nos anos 80), como Miguel Falabella, Sônia Braga, Nuno Leal Mais e Milton Gonçalves atuando em inglês (um dos pecados da produção, infelizmente) com grandes artistas de Hollywood, mas não somente isso, mas trabalhando em um longa tão bem conceituado, premiado e de extrema importância para sua época.
Primeiramente, é interessante notar as dualidades que o filme propõe, sendo a mais óbvia e proposital, o narrar das histórias intercaladas de Valentín e Molina com o filme que o segundo descreve. As traições, motivações amorosas e os temperamentos de seus personagens, conversam constantemente com a realidade dos carcerários, traçando um paralelo que dá pistas, o tempo todo, do grande plano do diretor da penitenciária. Assim como o espelho narrativo traçado com a história da mulher do título, que pode ser entendida como um pensamento biográfico de Molina ou a personificação de Marta na mente de Valentín, que recai no final poético que a trama tem.
Devido á um roteiro e direção claustrofóbicos, William Hurt e Raul Julia tem bastante espaço para brincar em cena e mostrar todo um trabalho impecável de troca de diálogos e expressões singelas e discretas, mas que dizem muito. Julia desenvolve o temperamento de seu personagem com muita cadência e Hurt provoca o telespectador com um Molina misterioso e sem muita afetação, retratando a comunidade LGBTQ+ da época. Falando em retratação, Babenco foi muito inteligente ao tirar a trama da Argentina, como no livro e trazer para o Brasil da Ditadura, retratando a tortura e trazendo nuances do ritmo artístico que reverberava na época, que mescla com o teor romântico buscado na história e seu final.
Um grande recorte de seu tempo, tanto em estética como em sentimento, “O Beijo da Mulher Aranha” trás um gosto amargo na boca, principalmente espelhando os dias atuais, mas também um sentimento de esperança na arte e no amor, como razão existencialista, em frente á todo um presente trágico.
O Sétimo Selo
4.4 1,0KContando como um dos grandes clássicos do cinema, “O Sétimo Selo” tem uma das cenas mais icônicas da história da sétima arte: o jogo de xadrez protagonizado por um cavaleiro e um sujeito careca trajando uma túnica preta. Assistindo o filme, percebemos que o sujeito soturno e misterioso viria ser a morte, vindo buscar o templário Antonius Block, após seu regresso de uma cruzada. Por ser logo no início, a cena em questão não revela nenhum spoiler para quem nunca viu o filme, mas já apresenta o conceito fúnebre que guia toda a história contada por Ingmar Bergman na sua uma hora e meia.
Logo em seus primeiros minutos, Bergman nos apresenta diversos personagens que ganham certa conexão e incrementam a saga de Block, já que seu jogo com a morte dura mais do que o esperado pelo telespectador. Tentando ver um jeito de enganá-la, o cavaleiro posterga o embate e, durante seu caminho de volta ao lar, estes personagens cruzam seu caminho de redenção, dúvida e busca de algum significado.
As guerras santas foram sangrentas e muito dogmáticas e estes fatores transparecem no rosto de Block, que mal esboça um sorriso ou alegria. Ele não quer morrer antes de ver a esposa amada, mas sabe que sua vida na terra já chegou ao fim e sua história é marcada por momentos trágicos e moralmente questionáveis, assim como também não quer morrer sem ter a certeza de sua trajetória e das respostas á suas dúvidas morais. Iria ele para o céu ou inferno? O seu amor era suficiente para garantir-lhe uma “boa vida” no além? Suas conversas com a própria morte e uma suposta bruxa endemoniada, são calcadas nessas questões e nos fazem refletir, ainda hoje, sobre nossa fé e no que, realmente, acreditamos ou somos levados a acreditar. Ele, querendo conversar com o diavo, para saber mais de Deus, trás uma camada especial para o questionamento, pois o faria, de fato, conhecer mais do Criador, ou ser levado a crer no Deus que o diabo quer que conhecemos?
As dúvidas de Block não são esclarecidas, mesmo que levadas até os últimos minutos do filme, quando todos os personagens se vem de frente da morte e, enquanto uns se apresentam, outros perdem misericórdia e até sinais de raiva e desespero são vistos em tela. A suposta dança no final e o paraíso descoberto pelos artistas (a arte e a sua vitória máxima) não garantem solução a qualquer questão, mas apenas semeavam perguntas se, o que Block viveu, após seu primeiro encontro, foi real ou apenas a grande resposta etéria da morte para o cavaleiro, de suas infindáveis perguntas.
Creed II
3.8 540De volta a 1976, quando o primeiro filme de "Rocky" estreiou nos cinemas, o público se comoveu com a história sofrida e emocionante do jovem sonhador e aspirante a pugilista campeão mundial. Era uma trajetória simples, singela e de grande apelo estadunidense, magnetizando prêmios, continuações e muito dinheiro para o cofre do estúdio, assim como ter sido o expoente de transformação de Sylvester Stallone em um rosto conhecido e aclamado por todo o globo.
Jé em 2015, depois de tantos anos da estreia de seu Tataravô, estreava "Creed", uma reimaginação da história de Rocky, trazendo o filho de seu rival (e que em suas continuações, tornou-se amigo) com uma trajetória não tão sofrida, mas com nuances atualizadas e tão bem exploradas, como sua busca por identidade, não só pessoal, mas profissional e, até mesmo, racial.
Como espelho da época de seu lançamento, Rocky Balboa era o reflexo dos imigrantes latinos, que buscavam crescer na vida. Adonis Creed é um reflexo da nossa geração millennium, que busca saber quem realmente é e o seu lugar no mundo como homem, neste caso, negro, em um país que ainda não aceita tão bem seus imigrantes e vive na sombra da escravidão e segregação. Camadas muito bem trabalhadas, que se conectam através de um dos esportes mais violentos e desonestos com seus atletas, o Boxe!
Sendo assim, as histórias de seus filmes base são bem amarradas e fechadas em um roteiro que não preza pelo seu contexto final (a vitória ou derrota), mas sim pelo meio (suas jornadas). Apesar de discutíveis, as continuações de Rocky são bem bacanas e algumas delas trazem conflitos interessantes (em exceção do 5 e 6, que pouca coisa se salvam), e como o primeiro Creed também foi um sucesso de crítica e público, sua continuação era mais do que esperada, mesmo não sendo tão necessária.
A saga de Adonis, nesta continuação, segue a procura de sua identidade como pugilista. Mesmo sendo um campeão mundial, o mesmo não se sente assim e tende a buscar um feito que traga algum sentido a esta honraria. Em contrapartida, na Ucrânia, somos apresentados a Viktor Drago e seu pai, Ivan (reaparecendo anos depois de ter sido derrotado por Balboa em "Rocky 4"), que buscam vingança moral.
Neste cenário, temos também uma buscar de identidade e reconhecimento de Viktor, já que sua família foi renegada, após a luta de seu pai, o qual vê no filho, não só uma retaliação, mas também de redenção pelos feitos do passado.
O filme segue a estrutura de "Rocky 4" em alguns fatores, com Adonis até indo lutar nas terras geladas da Russia e um treinamento pesado pré-luta final, no deserto americano, o que não garante muitas surpresas. Além de desmerecer o crescimento da Bianca, que serve como escada de Creed, sendo apenas mulher e mãe de sua filha, sem uma história própria, dessa vez. A trajetória de Adonis se mostra repetitiva, tendo em vista que o primeiro filme já a abordou, e neste aqui sua reafirmação é evidente em diversos diálogos do personagem com Rocky, sua mãe e esposa. Falando em Rocky, desta vez sua jornada é um pouco conflitante com o que foi mostrado em "Rocky Balboa” e pouco se foca na rivalidade dele com Drago, o que é uma pena, e gera, apenas, um bom momento entre os dois.
Há de se falar também que, apesar dos pontos citados acima, o filme nunca perde seu carisma e interesse do público, pois já conhecemos aqueles personagens (até mesmo Ivan e seu filho, praticamente uma cópia do próprio) e nos interessamos pelas suas vitórias e derrotas. Particularmente, não sou um grande entusiasta de esportes, muito menos por boxe, mas os filmes que abordam esse tema me chamam a atenção e, por mais repetitivos que possam ser, carregam, normalmente, um peso balanceado de drama e ação esportiva que é impossível não ficar preso a poltrona e sentir cada soco e cruzado de direita proferido pelos “atletas”, e Creed II trás isso de forma muito satisfatória.
Corroborando isso, o diretor Steven Caple Jr. garante bons momentos de tela nas lutas, seguindo o estilo de filmagem interessante que Ryan Coogler e Maryse Alberti realizaram no primeiro filme, não exagerando nas câmeras lentas e trazendo uma suposta crueldade e excitação no ringue, fator este, transparecido também nas atuações, que mantém o tom certeiro nas cenas dramáticas e de ação, exibindo o medo de B. Jordan, junto da aflição de Thompson e Stallone contrastadas com a inexpressividade de Lundgreen e do boxeador profissional Florian Munteanu.
It: Capítulo Dois
3.4 1,5K Assista AgoraApós assistir "It - Capítulo Dois", fica nítido o amor de Andy Muschietti pela obra original de Stephen King, vide os inúmeros easter eggs e a complexidade do roteiro ao abordar diversos aspectos do livro, muitas vezes acrescentando á obra visual e algumas outras, incorporando uma certa "barriga" no texto, que pouco movimenta a trama ou somente corrobora aspectos já bem estabelecidos. Com seus quase 170 minutos de projeção, a história dos Perdedores de Derry segue seu fluxo de forma coesa e decidida, rapidamente estabelecendo cada personagem na trama e os trazendo de volta ao centro do terror estabelecido por Pennywise e já entrando, cada um, em sua jornada para destruir o palhaço. Esses momentos são extremamente preciosos para o avanço da história, o relacionamento dos mesmos e o reencontro com o passado, mostrado em forma de flashbacks com lindas transições entre os atores adultos e crianças, de forma bem natural e fluida. Destaco também as atuações dos dois núcleos, que trabalham muito bem o psicológicos dos personagens e suas nuances físicas muito bem mimicadas, assim como Bill Skarsgård como o vilão.
Como já citado, o roteiro carece de um enxugamento narrativo, ao apresentar tramas paralelas á principal, que não ajudam no desenrolar da história, apesar de fazerem parte do livro, como por exemplo, a busca por vingança de Bowers
(seu final já estava estabelecido no primeiro filme e, por mais que seu retorno funcione no livro, aqui, sua trama se mostra estafante e sem muita funcionalidade)
(seu trama inicial, com seu irmão, já era o suficiente para estabelecer a jornada do personagem por redenção e a própria aparição do caçula, já evidenciava isso. Sua trama com o outro menino, apenas acrescenta tempo de tela desnecessário ao roteiro, apesar de, visualmente, a sala dos espelhos ser uma ótima cena)
Não sendo um grande revolucionador do gênero de terror, as duas partes de "It" carregam consigo um clima oitentista que nos ajuda a nos aproximar dos personagens e acrescentar peso ao clima de suspense e de horror. Seja nas cenas mais gore (muito sangue é visto em tela) ou nos clássicos jump scares, que, infelizmente perdem muito de sua força, mediante ao uso exacerbado de efeitos especiais em algumas cenas. Por mais fantasioso que seja o roteiro (principalmente ao se aproximar do final) e sua necessidade de efeitos visuais mirabolantes, algumas cenas, se feitas com efeitos práticos ou alusões de verdade ou mentira ao terror do palhaço para com habitantes da cidade, funcionariam de forma mais horripilante ao público.
Fora de Série
3.9 493 Assista AgoraUm retrato bem atual da juventude americana, trazendo um frescor nos esteriótipos juvenis. A loira patricinha já não é tão burra, o quarterback bobão pode sim ir pra uma faculdade incrível e a nerd estudiosa talvez passe a sentir inveja dela, mas não pelos motivos que se espera, e o roteiro trata isso com esmera naturalidade e adapta bem os clichês do gênero.
A dupla principal não é tão carismática, mas cativa e gera uma "preocupação" do público, em seu último ponto de virada, além de deter os melhores diálogos e colocar-los em tela de forma não forçada e convincente.
A direção da Olivia Wilde é uma surpresa e mistura vários artifícios não convencionais (o uso de longos planos e edição inventiva) com outros mais convencionais do gênero (as trilha sonora pop), mostrando uma condução muito bem arranjada de uma atriz competente e diretora promissora!
Animais Fantásticos - Os Crimes de Grindelwald
3.5 1,1K Assista AgoraO amor de J.K Rowling por seus personagens é inegável, assim como sua extrema capacidade em criar universos e mitologia riquíssimas em detalhes e amarrações, e durante toda a sua saga do menino bruxo, esses fatores eram provados a cada livro.
Porém, apesar de saber a riqueza do material que tem mãos, e exatamente o que fazer com ele, a autora se perde no básico do cinema, ao não saber conduzir sua nova história de forma coesa e equilibrada.
Animais Fantásticos: Os Crimes de Grindelwald, apresenta o (talvez) roteiro mais fraco de toda a franquia, em vários sentidos. Apesar de já conhecermos boa parte dos personagens, os mesmo não são desenvolvidos, sendo subutilizados com meros objetivos de ir a lugar A para B, sem muito crescimento pessoal ou progresso narrativo coeso, assim como toda a trama apresentada, que caminha a passos lentos (tal como no primeiro filme) e apenas joga conceitos na tela, que só serão desenvolvidos nos próximos filmes. A história principal é até bem delineada e fácil de ser levada para o público, mas tantas subtramas desinteressantes, mal construidas e que são resolvidas em uma cena cafona de diálogo expositivo, carregam o filme de falta de nivelamento (durante os dois primeiros atos, não há sentimento de urgência ou progressão imediata para o que está por vir) e uma edição arrastada e pouco inventiva.
Felizmente, a parte visual e imaginativa de designs de criaturas, figurino e efeitos especiais "mágicos" é sempre um show a parte, e nesse filme ganha muito mais espaço. Não lembro de em algum outro filme da franquia, ter tantos momentos de magia expositiva na tela, como em "Crimes de Grindelwald". E isso também se deve ao diretor David Yates, que mesmo, ainda não sabendo lidar com o mise-en-scène de algumas tomadas (principalmente em espaços fechados, como na cena de abertura), cresce em relação aos seus outros trabalhos na saga, trazendo uma certa nostalgia e frescor, com alguns mais momentos mais elaborados (como a cena da biblioteca no Ministério Francês).
Claramente os fãs da saga vão amar as referências e conexões com os livros de Harry Potter (e até uma inserção bem duvidosa ao final), mas espero que não sejam cegos e percebam que, mesmo sendo um retorno a esse mundo mágico, tão maravilhoso, infelizmente há um gosto agridoce em cada novo feitiço proferido.
O Fim da Turnê
3.7 77 Assista AgoraA pretensão é inerente a arte. Considerar peça artística x ou y como pretensiosa é um deleite para qualquer crítico, seja ele formal ou informal e todo artista está vulnerável a esse tipo de opinião, concorde ele ou não. David Foster Wallace pode ser chamado de pretensioso até os dias atuais e suas conversas com David Lipsky denotam isso de uma forma quase arrogante, diria eu (olha aqui a opinião), mas será mesmo, esse o verdadeiro David? Onde e quando a persona artística se separa do indivíduo civil? Ou será que essa divisão nem sequer existe?
"The End of The Tour" projeta essas questões ao público o tempo todo e cabe a nós considerarmos e opinarmos sobre as palavras de cada um dos artistas em tela, pretensiosas ou não, verdadeiras ou falsas.
O diretor James Ponsoldt praticamente transcreve a extensa entrevista de Lipsky para a tela e carrega as quase duas horas de filme com muitos monólogos e diálogos meio que aborrecidos, mas cheios de muita amargura e uma sombria esperança por parte de David. O personagem real vivido por Jason Segel de forma nem um pouco desafiadora (Segel é um daqueles atores que interpreta sempre o mesmo tipo de papel) é um paradoxo constante, que conduz a trama através de seus "ensinamentos" pautados em discursos niilistas, mas sem nem mesmo acreditar neles em certos momentos. Por vezes preocupado em passar uma imagem marqueteira sobre o uso de sua bandana, mas também alarmado para não ser considerado um “mimado filho da mamãe” por não comer picles em fast-foods. Claramente um sujeito interessante, diferente e peculiar, que diz muito sobre muita coisa e nada, ao mesmo tempo, e evidenciando isso na própria estrutura do roteiro escrito por Donald Marguiles, que não se sustenta plenamente e carece de ritmo e base de identificação com os personagens para manter o público interessado.
De certo que o livro servido de base para o roteiro é um alento para aqueles que querem conhecer mais da vida e história desses grandes autores contemporâneos, mas sua transcrição para a tela grande não se mostra tão satisfatória e seja essa critica pretensiosa ou não, ao menos concordo com David e jamais me consideraria um artista por isso.
Oito Mulheres e um Segredo
3.6 1,1K Assista AgoraExtremamente divertido de se assistir, o filme se sustenta na sua edição rápida e nas incríveis atuações do seu elenco estrelado, o que também trás o lado negativo, sem qualquer tipo de profundidade das personagens (calcadas no conhecimento prévio que temos das atrizes que as interpretam), além de Debby (e mesmo assim, meio vazio) e uma disparidade com a realidade que é curiosa, mas algumas vezes sem sentido algum, nem mesmo o fictício.
Paulo, Apóstolo de Cristo
3.8 133O filme é, claramente, um dos melhores exemplos de primor técnico para uma produção cristã. Toda a ambientação visual é muito bem trabalhada e mesmo sem exagerar em planos abertos ou grandes locações, a fotografia impressiona com usos interessantes de luz e planos-sequência interessantes (mesmo que algumas vezes desnecessários). Todos os outros detalhes, como figurinos e objetos de cena também garante certa fidelidade a uma obra que se passa em Roma e é falada em inglês, mas isso não é um real problema, convenhamos.
Mesmo sendo adaptado dos livros de Atos e Romanos, principalmente, o roteiro carece de certa dramaticidade e nos fornece algumas histórias paralelas, como as de Aquila e Priscila e as de Cassius e Mauritius, sendo a primeira, o exemplo contemporâneo das diversas divisões da própria igreja cristã, buscando um mesmo objetivo, porém de formas diversas. Cassius é o exemplo do cristão que dúvida de seu próprio Deus em meio a adversidade e o núcleo de Mauritius trás a família do gentio que gradativamente passa a acreditar (ou ao menos entender) o Deus que tantos são perseguidos em nome Dele. Infelizmente as duas histórias seguem a cartilha clichê, sem muito a acrescentar de novo, o que nada faz além de trazer suposta tensão e suspense enfadonhos, guiando o espectador á um desfecho que em poucos diálogos prévios, já sabemos o final. Falando em diálogos, o filme também peca ao transpor trechos específicos da Bíblia de forma extremamente expositiva, quase que como um easter egg de filmes de super-heróis, a ser encontrado e apenas servir como fan service para os cristãos que decoram passagens bíblicas. Claro que, ao se basear nos livros bíblicos, certos versículos seriam transportadas para a tela, mas será que precisávamos ouvir Paulo dizendo “Escreva isso”, inúmeras vezes á Lucas?
Felizmente a mensagem a ser passada é universal: “O Amor é o único caminho”. Paulo foi o maior evangelista que já pisou nessa terra e entendia que não precisamos de uma religião ou doutrinas a seguir, mas sim do amor de Cristo. Em outro momento, uma personagem diz que “Cristo nos pediu para cuidar do mundo e não dominá-lo”, o que resume de forma objetiva e simples o desejo de Cristo para a humanidade. Devemos cuidar e respeitar uns aos outros e não tentar dominar o mundo através de nossas religiões, credos, pensamentos ou ideologias. Talvez seja a primeira vez que um filme assumidamente cristão entrega uma mensagem homogênea e sem qualquer cunho doutrinário. Um acerto, finalmente.
Eu Não Sou um Homem Fácil
3.5 737 Assista AgoraInfelizmente uma ótima idéia mal aproveitada, que cria inversões de valores curiosos, mas que servem apenas como caricatura de um problema muito maior e substancial que assola a nossa sociedade.
Tempos Obscuros
3.3 266Bebendo de diversas fontes cinematográficas, “Super Dark Times” se perde, exatamente, aos tenta emular todas em conjunto e acabar se tornando uma salada narrativa e visual, onde pouca coisa se conecta, porém, quando se conecta e feita de forma decente. O frenesi da edição de Edgar Wrigth é presente, a narrativa juvenil mesclada com terror de clássicos baseados na obra de Stephen King também e o romance indie e ingênuo também marca presença, porém, não é encontrado o tom correto para as 1:40 de projeção e o que vemos na tela é um emaranhado de ideias boas mal executadas. Em seu início, a criação de tensão é bem equilibrada e nos prepara para a grande virada da trama, que ocorre de forma (quase) inesperada e persegue os personagens até o último momento. E a partir daí, o roteiro vira uma bola de neve sem controle, que não sabe exatamente que sentimento transmitir ao público. Medo? Terror? Romance? Nada é muito bem explorado e os atores principais também não colaboram, ao oferecerem performances falhas e sem muitas expressões. Entretanto, quando o tema do trauma é abordado, um certo pesar toma a trama e garante bons momentos de reflexão e entendimento do que uma simples ação pode causar na vida inteira de uma pessoa. Infelizmente, o roteiro não desenvolve (ou sequer conclui) o assunto e descamba para um viés mas chamativo e fora de tom.
Ao chegar ao seu final, não sabemos direito que tipo de filme assistimos e deixando a conclusão em aberto (para uma continuação, talvez? Eu realmente não sei!), o gosto amargo na boca do espectador se intensifica. Não é de todo ruim, mas claramente poderia ser algo bem melhor nas mãos de um diretor e roteiristas competentes.