O sadismo é uma condição que já foi explorada diversas vezes no cinema e já rendeu inúmeros filmes, porém um dos mais icônicos certamente é o "Violência Gratuita" de Michael Haneke, seja a versão original ou sua refilmagem americana. "Hush - A Morte Ouve" explora essa vertente do suspense psicológico a partir de uma narrativa angustiante que acompanha a escritora surda-muda Maddie Young (Kate Siegel) que, por conta própria, em função do seu grau de independência e da sua profissão, vive sozinha em uma casa isolada, mas que em uma determinada noite passa a ser ameaçada por um misterioso homem mascarado (John Gallagher Jr.) que passa a rondar a sua casa e torturá-la psicologicamente. E é o sadismo que move o agressor, afinal ao ver que a sua vítima não o ouve e não tem a possibilidade de gritar por socorro, ele resolve "brincar" com o seu desespero apenas pelo mórbido desejo de vê-la desesperada. Inicialmente, o roteiro é muito inteligente ao estabelecer que Maddie é uma mulher inteligente e determinada que não irá se entregar tão facilmente e, por sua vez, o agressor também se mostra um sujeito frio e ardiloso ao ponto de se antecipar ao que poderia prejudicar o seu plano. O diretor Mike Flanagan sabe explorar muito bem a angústia da situação, especialmente pelo fato de estarmos diante de uma vítima que sofre em silêncio, o que torna a identificação pelo seu drama ainda mais palpável, assim como a exploração da fotografia e até mesmo da própria geografia da casa. A idéia de confinar Maddie dentro de casa enquanto que o agressor está do lado de fora também rende uma mudança de perspectiva interessante ao dilema da personagem que, mesmo cercada, ainda assim está mais segura lá dentro haja vista que suas tentativas de fuga acabam sendo frustrantes. Mas é justamente quando o roteiro explora a frustração de Maddie e/ou elimina qualquer tentativa que lhe dê um mínimo de esperança que reside as situações mais tensas dentro da narrativa. A atuação de Kate Siegel também é fundamental para que o filme se configure como um belo exemplar do gênero, afinal a atriz faz escolhas discretas e muito sensíveis para explorar o medo inicial da personagem, essa construção é crescente e cada vez mais eficiente, ainda mais sabendo da limitação física da personagem e demonstra muita garra, força e obstinação quando Maddie encara o agressor de frente. John Galagher Jr. realiza um bom trabalho também, compondo um personagem que demonstra frieza e nenhum remorso diante do que está fazendo. O grande problema do filme reside no fato de que para concluir a sua narrativa, ela precisa enfraquecer a figura do agressor, logo propositadamente ele acaba se expondo demais, seja praticamente entregando a sua arma para Maddie (é uma espécie de arco e flecha no melhor estilo "Daryl" de TWD) ou deixando-se levar por alguma das armações dela, mesmo que provisoriamente. O desfecho acaba se valendo desse tipo de conveniência, embora tenha a sua eficiência garantida devido ao nível de tensão muito bem construído até chegar ao clímax, resultando um suspense pra lá de competente e que se destaca em meio a tantas produções que não chegam a lugar nenhum.
"Need For Speed - O Filme" é feito para a geração vídeo-game apaixonada por carros, ou seja, não importa a qualidade e sim a velocidade. Aqui, o jovem Tobey (Aaron Paul) é traído pelo seu sócio (Dominic Cooper) e em uma tacada só perde o irmão mais novo em um acidente automobilístico e é preso. Após sair da prisão, ele decide se vingar do antigo parceiro de negócios, mas durante o caminho ele se envolve em "altas confusões" (by "Sessão da Tarde") até chegar ao destino da derradeira corrida que lhe dará de volta a honra perdida e colocará em ação seu plano de vingança. Há de se considerar que por se tratar de um filme de corrida, o filme preenche seu vazio com incontáveis sequências de perseguição entre carros, logo quando chega o clímax, o esgotamento de ver tantas e tantas cenas é absurdo ainda mais Scott Waugh tem uma mão pesada para a condução das cenas. Basicamente alternando o close dos rostos dos atores com o registro dos carros em alta velocidade seja em planos abertos e/ou aéreos, não há uma única sequência até chegar ao clímax em que pode se enxergar alguma diferença na maneira como ele dirige o seu material, sendo que pela sua cartilha há muito mais o interesse em construir acidentes do que conferir energia e tensão para as perseguições. Ou seja, quanto mais batidas e capotamentos melhor e nem mesmo quando ele nos quer convencer de que um carro em alta velocidade ao se atirar de um precipício pode ser içado/laçado por um helicóptero há alguma energia estética, posicionamento de câmera ou algum efeito de edição que dê uma personalidade ao que se vê. O clímax é a reunião de tudo isso, porém ao menos resgata-se um pouco mais de dinâmica nos cortes e na condução dos movimentos de câmera em uma espécie de versão anabolizada da corrida maluca. Esse excesso de carros correndo atrás de carros faz com que, ironicamente, o filme se arraste seja para estabelecer sua premissa ou chegar ao seu desfecho. Aliás, a narrativa é preenchida basicamente por uma viagem de dois dias de carro em que diversos obstáculos atravessam o caminho do personagem central, apenas para que ele não chegue ao seu destino. Personagem este interpretado por Aaron Paul em uma tentativa fracassada de conferir carisma a uma figura que tem o entendimento de que mesmo em liberdade condicional precisa promover o caos da cidade e chamar a atenção da polícia para que ela fique atenta à corrida final, pois ele vai dirigir o carro "desparecido" que provocou a morte do seu irmão (e se o carro original não tivesse sido destruído não faria sentido nenhum). Um personagem central chato e aborrecido que ganha suspiros de humanidade, graças ao esforço de Paul, mas que é insuficiente. O interesse romântico entre o seu personagem e o de Imogen Poots é de uma artificialidade extrema ainda mais com a péssima atuação dela na tentativa de soar sexy e/ou despojada. Dominic Cooper está fazendo escola de canastrice e está cada vez pior, ou melhor, dependendo do ponto de vista. Curiosamente, a melhor atuação reside na participação de Dakota Johnson, na pele da namorada do vilão que é iludida por ele e que sofre a decepção de ser enganada e de magoar aqueles que estavam ao seu redor. É uma participação curta, mais eficiente e suficiente para mostrar que ela é uma atriz com recursos e que precisa apenas escolher melhor seus projetos. Os melhores amigos do protagonista funcionam como bons alívio-cômicos e, embora algumas "gags" parecem inseridas em momentos incovenientes e/ou fora de tom, eles parecem mais relaxados do que Paul em cena, o que faz toda a diferença. Sem conseguir deixar de lado o estigma de ser um "Velozes e Furiosos" mais infanto-juvenil, "Need For Speed" é um filme que certamente poderia ser condensado para pelo menos passar em alta velocidade diante dos nossos olhos.
O gênero do terror/suspense possui algumas convenções clássicas e o desafio de qualquer filme é o de se destacar diante de tantas fórmulas e clichês que já foram explorados à exaustão. "A Entidade" é um exemplar que consegue se destacar em meio aos demais filmes, pois o diretor e co-roteirista Scott Derrickson consegue construir um ambiente palpável de tensão e suspense através do eficiente uso da fotografia, especialmente nas sequências internas, a trilha sonora evoca um clima de estranheza que deixa o cenário muito mais nervoso e o equilíbrio entre o som e a edição favorecem a construção de um clima orgânico e favorável para o desenvolvimento da narrativa. Sempre que o roteiro parece indicar que caminhará sobre um clichê, ele geralmente subverte as expectativas, trazendo elementos críveis para justificar a catarse dramática, seja a utilização de um escorpião, uma cobra ou se utilizando das crises de terror noturno que acometem uma das crianças. Ainda assim, o filme reserva alguns bons e arrepiante momentos, sem apelas para sustos fáceis, especialmente quando faz uso de aparições ao fundo de planos abertos, sendo que o maior destaque fica por conta da sequência em que crianças espreitam o personagem de Ethan Hawke sem que ele veja. As atuações são bastante homogêneas, a mitologia envolvendo a tal entidade é tratada até com certa superficialidade, porém só vem a reforçar o clima sobrenatural, afinal pouco se sabe e/ou se conhece sobre o mistério que assombra a casa e aquelas crianças. Contando com um desfecho eficiente e de intenso apelo dramático, há de se questionar somente a utilização dos filmes em super 8. Se de certa forma ajudam a construir uma identidade visual que colabora com o suspense (e elas são eficientes nesse ponto), a sua utilização não tem relação nenhuma com a maldição que é o cerne principal da narrativa já que ela existiria, independente da utilização da filmadora e consequentemente dos filmes, tornando-se um ponto fora do contexto. Ainda assim é um filme enxuto e eficiente que traz uma dimensão diferente ao contexto da casa mal assombrada já que nem sempre a solução mais racional é garantia de salvação dos envolvidos.
A tarefa de fazer uma paródia do filme "50 Tons de Cinza" é fácil, porque tem material de sobra para extrair gags cômicas, mas ao mesmpo tempo é difícil, pois o próprio filme original já é uma comédia involuntária. Aqui em "50 Tons de Preto", as melhores piadas são justamente aquelas que exploram os muitos pontos negativos do romance, como o fato do personagem ser um perseguidor compulsivo ao ponto de parecer um "serial killer", mas a melhor piada ao longo de todo o filme é aquela em que após sucessivas torturas, o personagem central, Christian Black (Marlon Wayans) resolve ler o livro "50 Tons de Cinza" para a sua amada Hannah (Kali Hawk) e ela implora para que ele volte a torturá-la de qualquer outra forma, menos essa. De maneira geral, esta paródia reconstrói praticamente o filme inteiro, explorando piadas de conotação sexual de gosto pra lá de duvidoso, o que acaba tornando-o repulsivo e gratuito, mas é claro que aqui o fato da personagem feminina morder o lábio constantemente e colocar o lápis emprestado por Black ganham contornos sexuais muito mais explícitos. E o filme vai de piada de mau gosto em piada de mau gosto, explorando o que há de pior na escatologia em um exercício irritante, pois demonstra a sua incapacidade de extrair bons momentos cômicos mesmo quando foge da sua fonte original, plagiando "Whiplash" ou "Magic Mike", por exemplo. Até mesmo a trilha sonora que poderia evocar certa comicidade acaba deixando a desejar (a piadinha envolvendo a música-tema indicada ao Oscar é o mais próximo que conseguem chegar de algo minimamente engraçada). Marlon Wayans continua sendo um péssimo comediante e Kali Hawk não tem o menor "timming" cômico que justifique sua escolha para o papel feminino central. E após assistir a esta péssima paródia baseada em um já péssimo filme, chega-se a conclusão que não há como escolher qual é a pior forma de tortura, afinal ambos fracassam em seus propósitos.
Esse episódio de Natal da série reúne em sua narrativa os principais ingredientes vistos nos episódios das duas primeiras temporadas. A partir de uma única história que reúne dois homens encarregados de trabalhar e conviver dentro de uma casa em meio a uma área gélida e remota e aos poucos eles vão revelando segredos sobre suas vidas e o que os levaram até ali. O roteiro consegue equilibrar dentro da narrativa a necessidade que se tem de que devemos conhecer a história por trás de um deles para depois desvendar o passado do outro até porque um é conquistador nato, um tanto quanto esnobe e arrogante, enquanto o outro é recluso, tímido e de poucas palavras. O mais interessante é notar também que as pistas que ajudam a desvendar o mistério da história central é empregado durante toda a narrativa até o seu "twist" final, mas aqui a espaço para que se explore três núcleos a cerca da tecnologia e a vida em sociedade. O primeiro deles apresenta um jovem tímido sendo guiado por um tutor que lhe dá dicas através de uma escuta enquanto transmite as imagens do que se passa com o aprendiz on-line para um grupo de seguidores e admiradores dessa prática de conquista. O roteiro é inteligente ao explorar a maneira como nem sempre as pessoas mostram como elas são verdadeiramente quando conhecem outra pessoa e como existem regras que regem nossas interações, mas o desenvolvimento e o desfecho não vão muito além do que se sugere. O segundo núcleo acompanha a adaptação de uma inteligência artificial em aceitar que ela não é de verdade, mas sim uma cópia da sua versão original que foi adquirida com o único propósito de servi-la, logo não deixa de ser um conto que discute a questão da identidade e a relação que temos com um universo cada vez mais prático e automático cujo propósito é facilitar nossas vidas. Diante das histórias que ouviu, o terceiro núcleo acompanha o passado deste homem mais recluso, mostrando sua relação com a esposa, o drama que ele enfrentou com a separação e as consequências trágicas que teve que encarar anos após o término do relacionamento. É sem dúvida nenhuma o ponto alto da narrativa e o desfecho da sua história culmina com a revelação das verdadeiras intenções de todos os envolvidos no trabalho pelo qual foram designados e porque os dois tiveram que ser reunidos naquele local. Há de se considerar que o desfecho amargo do homem tímido é pra lá de condizente com a proposta, não poderia ser mais trágico, porém há de se questionar o quão desnecessário era a revelação dos segredos do principal narrador e consequentemente do seu desfecho que até tem lá a sua ironia dentro do que fora visto no episódio, mas acabou sendo uma saída um tanto quanto radical apenas para valorizar a ideia dos bloqueios. Não é incoerente, mas foi uma forma artificial criada pelo roteiro para dar desfechos amargos para os dois personagens apenas. Ainda assim é um especial que prende a atenção e que permite importantes reflexões sobre a maneira como nos relacionamos com o próximo.
Os três episódios que fazem parte da 2ª temporada são mais homogêneos que o da temporada anterior, porém mantém o mesmo nível de cinismo e de qualidade dos anteriores. O primeiro é o mais emocional já que acompanha uma jovem lidando com a morte repentina do seu marido. Inicialmente avessa, ela acaba aceitando o convite em participar de um aplicativo que promete simular através de inteligência artificial o comportamento e até mesmo a voz do seu marido através das lembranças que o mesmo compartilhou em vídeos, áudios e até mesmo nas redes sociais. O que inicialmente promete ser uma espécie de conforto para que lide de uma forma melhor com o luto acaba assumindo contorno de dependência ao ponto de até mesmo uma cópía física do marido ser adquirida, o que a deixa ainda mais reclusa e afastada do convívio com outras pessoas. É chocante, angustiante, mas ainda assim o apelo dramático da narrativa é de um envolvimento tocante, encantador e as atuações Hayley Atwell e Domhall Gleeson são de uma sensibilidade contagiante. É o melhor episódio de "Black Mirror" até então. O segundo episódio visa explorar a obsessão das pessoas em espionar a vida alheia, porém aqui traz um importante componente da violência que chama a atenção sobre a gratuidade e a forma rotineira e corriqueira com que lidamos com atos agressivos, a banalização da violência transformada em um macabro reality show a partir da trajetória de uma mulher que acorda em sua casa com total perda de memória sendo que é constantemente perseguida por sinistros assassinos enquanto que milhares de pessoas assistem sua tortuosa luta pela vida apenas com o propósito de se divertir com suas câmeras e celulares em mãos. O terceiro e último episódio tem uma clara crítica aos políticos e a maneira como o universo das eleições está sendo cada vez mais transformado em um espetáculo seja ele visual, circense ou até mesmo midiático. Um tímido e melancólico comediante, recém-divorciado, dá voz a um desbocado personagem de um programa de televisão, porém aos poucos a popularidade dele torna-se tão grande que chegam a considerá-lo para a disputa das eleições prévias para o parlamento britânico, o que acaba se transformando em uma triste e irônica brincadeira com os bastidores políticos. O que acaba enfraquecendo um pouco os desfechos abruptos de cada um dos episódios, especialmente o primeiro e o último, é que apostam muito mais no choques provocados pelas elipses de tempo; já no segundo episódio opta-se muito mais por algo explicativo, mas de certa forma desnecessário. Apostando em episódios arrojados e que fogem completamente do politicamente correto, "Black Mirror" torna-se uma série de ótima qualidade pra lá de indispensável por promover poderosas narrativas e estimular debates mais do que bem-vindos.
“Black Mirror” é uma série britânica que possui episódios independentes, mas que transitam sobre o futuro da humanidade e a influência da tecnologia em nossas vidas. A 1ª temporada possui três episódios e o primeiro mostra o sequestro da princesa britânica sendo anunciado em pleno YOU TUBE pelos sequestradores e cuja exigência para libertá-la é a exigência de que o primeiro ministro faça sexo com um porco, sendo que o ato precisa ser transmitido ao vivo para todo o mundo e em todas as mídias sociais. O humor britânico é mais do que bem vindo, sendo que o maior triunfo dessa narrativa é apresentar uma rede de eventos factíveis e racionais de bastidores políticos para lidar com a proposta absurda, o que legitima o drama e o dilema enfrentado pelo primeiro-ministro. Após a conclusão da história, o sentimento de gratuidade e de futilidade da exposição midiática acaba atuando a favor e contra o episódio e o resultado acaba sendo mediano. O segundo episódio é o mais problemático já que investe em uma trama que acompanha um jovem encarregado assim como muitos outros de pedalar direta e diariamente uma bicicleta que lhe garante uma pontuação que lhe permite alguns prêmios e consolos assim como determinadas infrações lhe tiram pontos. Quando ele conhece uma jovem que utiliza sua pontuação total para tentar a sorte como cantora em um bizarro reality show, ele decide se vingar de todo o sistema. Os detalhes do cenário e as minúcias do universo em que o personagem está inserido são interessantes (as metáforas referentes à relação homem x trabalho são explícitas), mas nem os personagem, muito menos a narrativa despertam muito o interesse e o desfecho é apenas satisfatório. O terceiro episódio é o melhor da temporada já que acompanha um futuro não muito distante em que as pessoas conseguem assistir de maneira on-line suas próprias lembranças, permitindo que eles revisitem certos momentos em busca de nostalgia ou até mesmo prazer. Quando um jovem desconfia que sua esposa o traiu, ele entra em um redemoinho de paranoia que transforma a sua vida em uma contínua busca pelas suas memórias e das outras pessoas para provar o seu ponto de vista e de que não se trata de mero ciúme sem sentido. Mesmo que isso coloque tudo a perder, até mesmo a sua própria sanidade. Muito bem construído, esta narrativa consegue reunir o cinismo do humor britânico com o drama presente em tantos relacionamentos e torná-lo um espiral de sentimentos muito forte e contundente até com requintes de crueldade, mas que sempre nos deixa em dúvida sobre até que ponto ou não seríamos capazes de cometer os mesmos erros. Atuações categóricas e um desfecho condizente com a proposta. Apostando em situações que vão muito além dos lugares comuns, experimentando o gênero da ficção científica em diversas vertentes e utilizando-se de premissas que carregam melancolia e até um certo pessimismo sobre as relações humanos no futuro, "Black Mirror" oferece um olhar sádico e cínico tão atraente quanto esquisito.
Alfred Hitchcock realiza um thriller investigativo com toques de suspense que se valoriza mais pelo poder da sugestão já que acompanhamos os eventos da narrativa através dos olhos e das lentes do fotógrafo Jeffries (James Stewart) ao que acontece no prédio em frente ao seu durante um período em que ele precisa se recuperar de um acidente que o deixou imobilizado. Hitchcock se encarrega de apresentar cada um dos seus vizinhos como uma forma de ilustrar pequenas histórias que ao longo da narrativa vão se desenvolvendo e de certa forma até se entrelaçando de forma até poética, mas o eixo principal se reside no mistério sobre o desaparecimento da esposa de um homem que mora no segundo andar e que o fotógrafo assegura que fora morta pelo próprio. O filme demora para engrenar já que a narrativa estaciona em meio a uma série de diálogos casuais entre o fotógrafo com sua empregada e também com sua namorada (Grace Kelly) que acabam não levando a lugar nenhum e só deixam o filme mais arrastado e enfadonho. As pistas aos poucos vão sendo reveladas, mas nenhuma delas se torna mais relevante do que as próprias imagens, ou seja, aquilo que se vê é mais do suficiente para acreditar que algo realmente estranho de fato aconteceu naquele apartamento, logo legitimar um crime porque a bolsa preferida da mulher foi deixada para trás ou porque as flores do jardim encolheram de uma semana para outra são frágeis no propósito de legitimar as suspeitas e parece que somente os personagens realmente parecem acreditar nisso. A figura do policial e melhor amigo de Jeffries é importante, pois serve de contraponto racional para a paranoia do amigo ao mesmo tempo em que confirma, se caso o misterioso homem seja o culpado, tratar-se de um assassino meticuloso e que age de forma fria e racional para encobrir suas pistas. O terceiro ato é ágil justamente por movimentar os personagens da zona de conforto e culmina em um desfecho em que Hitchcock demonstra controle da sua capacidade técnica ao transformar pelo menos duas sequências que poderiam ser corriqueiras e torná-las tensas, utilizando-se magistralmente da limitação de recursos que tem em mãos, seja ao explorar o silêncio de uma sequência que acompanhamos impotentes e à distância ou outra em que os efeitos provocados pelas sombras e a luz permitem um efeito esteticamente eficiente e dinâmico. Mas, no final das contas, acaba sendo muito barulho por nada mesmo.
“Jason Bourne” é um ótimo filme de ação que faz jus à qualidade dos três filmes anteriores e consegue ampliar o arco dramático da sua mitologia ao inserir a figura paterna de Bourne (vulgo, David Webb) e que traz consequências diretas ao recrutamento do mesmo ao programa Treadstone e que deu origem a tudo o que já vimos até aqui. O argumento é mais uma vez muito bem sustentado através da investigação de Bourne e uma sucessão de eventos que acompanham o ex-espião norte-americano por Grécia, Alemanha, Inglaterra e EUA, além de estimular o debate entre a invasão de privacidade e o acesso do governo a informações pessoais com o intuito de, supostamente, garantir a Segurança Nacional. O único aspecto que o roteiro não consegue evitar na trama do agente desmemoriado é a sensação de “dèja vu” já que aqui novamente temos um diretor da CIA (Tommy Lee Jones) que quer ver Bourne morto a qualquer custo e uma diretora (Alicia Vikander) que quer poupá-lo e está interessada em descobrir os segredos da agência que ele sabe. Essa conveniência assim como o fato de que os “flashbacks” do próprio Bourne aumentarem e tornarem-se mais claros gradativamente não atrapalham e não invalidam em nada as virtudes deste assim como dos filmes anteriores. O diretor Paul Greengrass realiza mais um filme energético, vibrante e contagiante com sequências de ação nervosas, muito bem coreografadas e editadas com cortes precisos pelo oscarizado montador Christopher Rouse justamente por seu trabalho em “Ultimato Bourne”. Os principais destaques neste aqui ficam por conta da sequência noturna que se passa na Grécia em meio a um caótico protesto e todo o clímax construído dentro de um edifício e nas ruas de Las Vegas em uma catastrófica perseguição automobilística. Matt Damon demonstra mais uma vez toda a intensidade e o vigor necessários para legitimar as ações de Bourne e aqui ele novamente tem um elenco de apoio muito talentoso e homogêneo, como já mencionados Tommy Lee Jones e Alicia Vikander, além de Vincent Cassel, que é o agente de campo responsável por executar Bourne e que sofreu consequências diretas das ações vistas nos filmes anteriores, e da própria Julia Stiles que ao menos neste aqui tem uma participação mais efetiva (o fato dos arquivos da Treadstone serem “hackeados” dão credibilidade ao fato do nome do pai de Bourne não estar associado a Treadstone nos primeiros filmes já que eram arquivos secretos, obscuros; ainda assim há de se ressentir a ausência de Pam, personagem de Joan Allen para justificar a retomada de um novo projeto de espiões assassinos). Com este quarto filme, a franquia se reinventa e abre espaço para novas descobertas (e novos “flashbacks” oriundos da mente confusa de Jason Bourne), porém mantendo a mesma energia e qualidade técnica demonstrada nos filmes anteriores de maneira inteligente e eficiente.
Nas mãos de Kimberly Peirce, "Carrie - A Estranha" é um terror psicológico frágil e inconsequente já que está muito mais interessado em promover o caos estético através de efeitos especiais de qualidade discutível e sequências que fracassam em sua tentativa de serem assustadoras ou minimamente impactantes (seja desde uma simples explosão de um filtro de água ou durante o clímax durante o baile). O drama da jovem tímida e excluída, humilhada constantemente pelos seus colegas de escola, e que no baile de fim de ano coloca todo mundo pra correr (literalmente) segue uma narrativa rasteira e artificial, repletas de clichês mal explorados e lugares comuns que não levam a lugar algum. A talentosa Chloe Grace Moretz tem uma atuação fraca e pouco convincente, não pela sua beleza, e que por sinal não seria um impeditivo para interpretar Carrie, mas há pouca expressividade e alcance dramático que façam sua personagem se tornar empática seja diante do seu deslocamento social e/ou de uma espécie de identificação com a catarse emocional da personagem. Igualmente canastrona está Julianne Moore que carrega aos trancos e barrancos uma personagem que é super estereotipada e nem mesmo a sua capacidade técnica é capaz de fazer com que a sua presença se torne um alento a favor da história. Ainda assim é possível ver algum mérito na postura de confrontação da filha perante a mãe, o que demonstra uma evolução na personalidade de Carrie, mas nada que justifique o uso de seus poderes de maneira tão consciente em determinado momento já que esse ápice deveria ser reservado ao baile. A parceria entre Moretz e Ansel Elgort funciona, mas é pouco para justificar a relação dos dois personagens como um dos catalisadores. Da mesma forma, o conflito final entre as duas tem boas doses de suspense, mas também acaba pecando pela falta de sutileza de Kimberly Peirce que, no geral, não sabe conduzir a tensão necessária para as sequências mais críticas de suspense e terror. Fotografia genérica, acaba se destacando mais nas sequências internas na casa de Carrie e a trilha sonora é tão apagada que não é capaz de se destacar nem mesmo nos momentos mais importantes.
O diretor Brian De Palma realiza um drama com toques de terror e suspense sobrenatural a partir de uma premissa que explora o "bullyng". O filme inteiro é uma preparação para a terrível sequência final e quando acontece, o diretor confirma todas as expectativas de maneira impactante e eficiente (a sequência do acidente automobilístico envolvendo dois personagens poderia ter ficado de fora já que parece ter sido encaixada ali de maneira improvisada). O roteiro não é dos melhores, a evolução da narrativa é repleta de eventos menores e corriqueiros, mas boa parte da narrativa até se sustenta com metáforas (do crescimento e amadurecimento) e simbolismos (a religião como um elemento repressor), mas de qualquer forma a relação entre mãe/filha acaba se tornando muito canastrona, muito em função da maneira como a matriarca é ilustrada, muito fora de tom, até parece propositadamente caracterizada de maneira debochada, porém o desenvolvimento poderia ter sido melhor, sem a necessidade de tantos diálogos expositivos, porém o desfecho é pra lá de satisfatório, diria até apoteótico. A atuação da Sissy Spacek é muito especial, é uma daquelas atuações célebres, pra vida toda mesmo, ela está adorável e... assustadora quando precisa. De qualquer forma é um filme que ilustra sua história através de um clima e uma ambientação especialmente tensa, garantindo que o impacto da dor da personagem seja captado em sua essência com sangue, suor e lágrimas.
Com "Ata-me", Pedro Almodóvar realiza uma comédia picante e com toques de humor negro que tem um resultado surpreendentemente leve e divertido, muito em função da excelente química em cena de Victoria Abril e Antonio Banderas. Por mais absurdo que seja o roteiro (que por sua vez não faz mínima questão de se mostrar verossímil), ela constrói uma personagem intensa e "sexy", mas que ao mesmo tempo se apresenta como uma figura feminina frágil e ingênua, o que torna "compreensível" que acaba se tornando a obsessão do personagem de Banderas. Ele, por sua vez, constrói um sujeito que mescla imaturidade com resquícios de uma personalidade temperamental, o que torna sua ações imprevisíveis seja pela naturalidade com que ele lida com o que está fazendo, seja pelo comprometimento que ele tem em manter sua vítima presa. A partir do momento que a obsessão se torna interesse romântico por parte de ambos, o terceiro ato acaba sendo enfraquecido por um desfecho tão preguiçoso quanto conveniente e que por sua vez deixa mais evidente certa ingenuidade e imaturidade, mas já por parte do próprio Almodóvar, o que não deixa de ser levemente decepcionante.
Durante as temporadas anteriores, regularidade nunca foi o forte de "Bates Motel" e nesta terceira não é muito diferente, sendo no entanto que os efeitos que prejudicam a dinâmica da narrativa são mais prejudiciais nesta que é provavelmente a mais fraca de todas. O mais significativo ocorre é um "rompimento" psicológico de Norman com sua mãe Norma, logo o jovem já dá claros sinais de distúrbios, inclusive sugerindo uma dupla personalidade claramente afetada por todos os eventos anteriores, catalisados pela obsessão com a figura da mãe que vai se tornando cada vez mais doentio por parte da mãe. Infelizmente, com o decorrer da temporada, o personagem vai perdendo um pouco do interesse pela sua natureza trágica e Norman vai se tornando uma figura mais chata e aborrecida, o que pode ser prejudicial do ponto de vista do alcance do personagem, especialmente quando suas ações se tornam mais psicóticas e menos decorrentes da sua fragilidade emocional (ou em função dela). Os eventos que envolvem Norma e que não tem ligação direta com o filho são desinteressantes e mal desenvolvidos, como o relacionamento dela com um psiquiatra, o estreitamento da sua relação com o xerife e até mesmo os ajustes emocionais com seu irmão Caleb, sendo que ao menos no caso deste último há um apelo dramático bem defendido pelos atores. A subtrama policial envolvendo o ricaço/misterioso/criminoso da vez é tão genérico quanto os outros já vistos, sendo que só serve para que o xerife suje suas mãos e se comprometa ainda mais diretamente com os meios ilegais que fazem parte da história da cidade desde que seu pai era xerife. O envolvimento entre Caleb e seu filho Dylan é mero pretexto para que eles tenham alguma função dentro da narrativa, sendo que o envolvimento do irmão de Norman com a doce Emma parece ser muito mais promissor para os dois personagens já que ambos passam a temporada inteira muito apagados. O desfecho da série é decepcionante, dando sobrevida a uma personagem que havia "desaparecido" na temporada anterior apenas para que ganhe um final definitivo com um desfecho muito similar ao que já fora visto em no meio e no final de temporadas anteriores. As atuações do elenco sustentam boa parte do apelo da série, especialmente Vera Farmiga e Freddie Highmore.
Levemente inferior à temporada anterior, esta segunda temporada consegue ampliar um pouco mais os dilemas e os envolvidos na trama sobre a clonagem, estabelecendo uma relação entre uma abordagem científica e outra de fanatismo religioso, porém o que mais prejudica a dinâmica dessa temporada é que por diversas vezes as tramas das 3 principais clones ocorrem de maneira distinta, logo o interesse não é o mesmo em cada momento. É até compreensível que se torne mais fácil e prático um planejamento de filmagem já que Tatiana Maslany precisa apresentar caracterizações diferenciadas e tal, mas a separação só chama a atenção para alguns pontos falhos. Por exemplo, a partir do momento que Alison aceita o tratamento do dr. Siekel, ainda se dá muita atenção a sua paranoia sobre quem de fato é o seu monitor e o tempo que se dedica ao teatro e a sua reabilitação parece muito mais enrolação narrativa, mesmo considerando que Alison é uma das composições mais carismáticas de Tatiana (e o envolvimento dela e do marido em uma série de crimes acaba sendo muito mais um alívio cômico dentro da temporada). Helena dá alguns sinais de desgaste, de cansaço narrativo já que ela some e reaparece nas mesmas proporções, mas de qualquer forma por ser a mais perigosa e imprevisível sempre permite que a série saia da sua zona de conforto ao abraçar a sua natureza trágica, como se ela nunca pudesse ser feliz de verdade. Cosima acaba virando uma mera coadjuvante já que a sua subtrama romântica é deixada de lado enquanto carrega por parte do roteiro a incômoda "muleta narrativa" do roteiro por causa de complicações da sua doença. Já Sarah é a mais ativa, é aquela que vai de um lado para o outro para descobrir os segredos do seu passado, mas sempre que ela está próxima de uma resposta mais concreta, ela precisa dar um passo pra trás por algum contratempo criado pelo roteiro, justificável ou não. Rachel prometia desde o final da primeira temporada ser uma personagem mais interessante e intrigante, mas com o passar dos episódios, ela vai se tornando mais caricata até os roteiristas decidirem de uma vez por todas de que ela é a verdadeira vilã trágica da temporada. E nem tudo funciona com os demais personagens também, como a falta de utilidade para Paul que parece perdido e aborrecido ao longo de toda a temporada ou até mesmo a tentativa frustrada de fazer com que Tatiana interprete um clone na versão masculina. Já não parece tão atraente quanto na primeira temporada, mas ainda tem lenha pra queimar, pelo menos material para isso tem, além do que Tatiana Maslany faz valer a pena cada minuto da série por causa do seu talento e versatilidade.
A 1ª temporada de "Orphan Black" apresenta a sua premissa central com uma agilidade e uma dinâmica contagiante, estabelecendo os principais personagens e mantendo um nível de tensão e suspense admiráveis, logo fica difícil não se envolver com o ritmo dinâmico da trama que insere o tema da clonagem dentro de uma trama policial. A atriz Tatiana Maslany é a grande surpresa e o maior trunfo dessa série, pois ela possui uma diversidade dramática impressionante já que consegue desenvolver diferentes personagens com sensibilidade, competência e até certa coragem. É uma pena que a temporada perca ritmo em seus episódios finais a partir do momento que a narrativa dá sinais de que está querendo gastar tempo justamente para carregar seus principais mistérios para a temporada seguinte, ainda assim é uma série que tem lá seu charme e personalidade.
Essa é uma refilmagem desnecessária assim como muitas outras, mas não porque se trata de uma versão feminina, mas simplesmente porque a obra original é boa e marcante o bastante para ser revisitada pelos nostálgicos e pelas plateias mais novas. Dito isto, este "Caça-Fantasmas" consegue ser satisfatório e divertido, especialmente pela excelente química e pelo talento cômico das quatro protagonistas que conseguem se destacar isoladamente, sabem o momento de se sobressair e/ou realçar a outra, logo o "timming" é muito bom, mesmo quando algumas piadas não funcionam completamente. Ainda assim, o meu destaque vai para Kristen Wig, que consegue trazer certa fragilidade e ingenuidade a personagem, e Kate McKinnon, responsável pelas engenhocas e que tem uma personalidade descolada e "maluquete". Algumas referências são boas, outras não funcionam tão bem, algumas participações são bacanas, outras nem tanto (a do Dan Aykroyd, que também assina como produtor executivo, embora rápida é a que soa mais deslocada), porém o roteiro é rasteiro na evolução da narrativa já que os eventos são irregulares (a segunda aparição de Bill Murray desencadeia os eventos do clímax, mas soa fora de propósito) e a trama assim como o próprio vilão são fracos (praticamente uma reciclagem do que foi visto nos filmes anteriores). O co-roteirista e diretor Paul Feig se sai bem na condução da comédia, mas não demonstra a mesma habilidade na condução do clima de suspense/terror, logo tudo parece leve e suave demais, logo em nenhum momento sentimos as protagonistas realmente em perigo até mesmo no fraco clímax que é um mero carnaval de efeitos especiais coloridos, o que não só não é uma decepcão total pelo apelo das atrizes. Criticado injustamente antes da hora e pelos motivos errados, essa nova versão "Caça-Fantasmas" não é marcante, nem boa o bastante para justificar uma refilmagem assim como não é totalmente ruim ao ponto de ofender o material clássico ou que justifique uma crucificação em praça pública.
7.0/10
PS: O 3D até chama a atenção em alguns momentos, mas não funciona totalmente também.
Quando você assiste a um filme baseado em fatos reais sobre um sequestro e o enfoque é maior sobre a natureza emocional e psicológica da sequestradora ao invés do drama da sequestrada e/ou de seus familiares, já existe um claro equívoco e/ou no mínimo de falta de bom senso. Aqui, o roteiro tenta apresentar a narrativa sobre diferentes pontos de vista, mas dedica-se a maior parte do tempo de relatar os detalhes macabros do plano de uma jovem insegura, rejeitada pelos pais e diagnosticada como esquisofrênica, que resolve sequestrar uma bela e talentosa jovem que fora sua vizinha. Invejosa e acometida pelo ciúme, sua obsessão transforma-se em crime. O drama dos pais é ilustrado em um primeiro momento como o centro emocional do filme, mas esse núcleo parece mais interessado em chamar a atenção para as dificuldades burocráticas e a negilgência policial. Pouco sabemos sobre a vítima e gasta-se tempo demais com o que menos interessa, afinal pouco importa os detalhes do que de fato aconteceu dentro daquele quarto, de que forma que ocorreu, como aconteceu, afinal o drama e a angústia já é natural. Às vezes a sensação que dá é que o filme tenta ser uma prova de defesa para que a culpa da sequestradora seja minimizada, o que é uma atitude no mínimo controversa. Burocrático do início ao fim, "A Vítima Perfeita" é um drama de moral distorcida e de intenções nada nobres por melhor que seja a atuação de Ruth Bradley já que Guy Pearce e Miranda Otto pouco tem a fazer na pele dos pais da jovem sequestrada.
É um filme reflexivo, filosófico e poético que se valoriza muito mais pela capacidade de estimular esse estudo sobre a personagem e a sua jornada do que propriamente sobre os eventos e o que se vê. Isso é um elogio, mas também reside seus maiores problemas, afinal fugir do convencional, não o credencia a ser absoluto e magnânimo. Não é um filme que se propõe a ser de fácil digestão assim como não é um filme que se encerra por si só, porém há de se reconhecer que há na abordagem muito sobre a natureza vazia e rasa das relações entre as pessoas assim como a valorização da beleza estética do que da própria natureza humana. Não é à toa que a alienígena vivida por Scarlett Johansson usa seu corpo para recrutar homens solitários, apenas para que eles desapareçam em sua armadilha sem deixar rastros, muito menos saudade. E por isso que quando cruza seu caminho, um homem com uma grave deficiência física, que logo vive à margem da sociedade, a sua atenção lhe dá um pouco de satisfação e a experiência aparentemente a modifica, faz com que ela se torne mais emocional, se fragilize e até mesmo por isso acabe baixando a guarda e se tornando vítima da violência que não apenas a agride fisicamente, destruindo o seu corpo, mas simplesmente faz com que a sua existência simplesmente perca a sua própria razão de ser. Ou não. Enfim...
"John Carter" não é um filme ruim, mas é um filme confuso e não pela sua complexidade, mas pela sua falta de foco. A partir de um início bastante dinâmico e divertido, John Carter é transportado para Marte em função de um misterioso artefato e acaba se envolvendo em uma série de acontecimentos que envolvem os povos/raças de lá. Ou seja, para o roteiro John Carter não é o mais importante, logo toma-se conta da narrativa uma série de disputas entre duas raças inimigas que precisam se unir para impedir o casamento entre dois integrantes de povos distintos afim de evitar uma guerra, porém por trás disso há um plano de traição e em todas essas subtramas Carter será o salvador da pátria. Visualmente as criaturas são atraentes, a caracterização das raças e os ambientes são criativos, embora os efeitos especiais deixem a desejar em alguns momentos (especialmente quando Carter dizima uma horda inteira praticamente sozinho), a trilha sonora parece querer soar mais grandiosa do que realmente é já que chama a atenção para si, mas deixa a sensação de que é genérica do início ao fim e o elenco não tem o carisma suficiente. Taylor Kitsch parece se levar muito a sério e as poucas oportunidades de descontração são muito mais em função do roteiro do que pela sua performance, Mark Strong e Dominic West interpretam vilões rasteiros e genéricos enquanto que Lynn Collins é apenas um rosto bonito em cena. Pena que a participação de Bryan Cranston tenha sido tão pequena já que a sua presença é marcante mesmo com pouco tempo em cena. A falta de foco do roteiro e o excesso de subtrama acabam comprometendo sensivelmente o ritmo da narrativa (a sensação que se dá é que a gente não vê a hora de John Carter voltar logo para Terra, sendo que o roteiro deveria nos convencer do contrário, de que o melhor lugar pra ele é em Marte), dando uma nítida sensação de que o filme dura muito mais tempo do que aparenta durar e o diretor Andrewn Stanton se mostra impotente para melhor essa dinâmica e é incapaz de construir alguma cena minimamente impactante. Não é um filme ruim, é uma oportunidade desperdiçada.
Depois de 2 ótimas temporadas e uma 3ª temporada muito fraca, a irregular 4ª temporada não conseguiu retomar o melhor nível de qualidade da série, embora não seja totalmente um fracasso. Essa temporada é a que faz mais juz ao termo bizarro já que se concentra em uma série de aberrações que fazem parte de um circo de horrores comandado pela personagem da vez de Jessica Lange que aqui mais uma vez tem a oportunidade de ter um palco (dessa vez literalmente) para exibir todo o seu talento como atriz. Inicialmente a série parece querer chamar a atenção apenas pelo seu painel de personagens exóticos, porém a estranheza física se dissipa pela fragilidade da narrativa. O único alento é a subtrama envolvendo um palhaço macabro que assume contornos de "serial killer" que traz um senso de urgência e morbidez que são muito mais interessantes do que a dos artistas circenses. Para o bem ou para o mal, os melhores episódios são o terceiro e o quarto justamente por se concentrarem na resolução dessa subtrama (curiosamente conta com a participação do canastrão Wes Bentley, mas que aqui funciona). A partir do 5º episódio, a série parece querer adotar um outro tom ao se concentrar na história de cada um dos artistas, mostrando a história sofrida de cada um deles, como uma forma de humanizá-los e alguns até funcionam isoladamente (como a que remete a chegada de uma determinada personagem ao hospício visto na segunda temporada), porém os roteiristas da temporada dão sinais de que não sabem o que fazer é que mudam drasticamente a motivação de vários personagens de uma hora pra outra apenas pra satisfazer uma necessidade imediata da história (a personagem de Emma Roberts é a mais prejudicada) e os personagens acabam sendo mortos em uma escala exponencial e de maneira gratuita, culminando no clímax do penúltimo episódio, por exemplo. Kathy Bates tem uma ótima atuação, Evan Peters demonstra ser um jovem ator bastante promissor enquanto que Sarah Paulson faz excelentes escolhas na composição da personagem siamesa. Há uma participação curiosa, mas dessa vez irregular, de Neil Patrick Harris como uma versão bizarra do Barney de HYMYM: gosta de mágica, é sedutor e tem uma boneca de ventríloco. No geral não se trata de uma boa temporada, mas existem algumas escolhas dentro da temporada que funcionam, mesmo não sendo a maioria delas.
Depois de duas ótimas temporadas, "American Horror History" fracassou em sua tentativa de explorar o terror e o suspense através de uma trama que explora a mitologia das bruxas, tornando a jornada de se encontrar uma nova bruxa suprema para a ordem um tremendo engodo. Jessica Lange dá o seu show particular, porém nem mesmo a adição de Kathy Bates no elenco é o bastante para tirar a narrativa do marasmo que logo no início já dá sinais de cansaço quando explora de maneira frustrante a ideia da ressurreição, o que é utilizado em outros momentos, sempre que o roteiro acha necessário. Há poucas idéias sendo bem exploradas, como a do assassino de bruxas que é descartada praticamente em apenas um episódio, tornando-se um mero pretexto para que haja a oportunidade que as bruxas briguem entre si por vaidade, egoísmo e/ou qualquer outra coisa. Os "flashbacks" são mal explorados, servindo muito mais para reforçar que há pouco a ser mostrado no tempo presente, e até mesmo as situações que tenderiam a ser mais assustadoras, como as que envolvem magia negra e uma entidade maligna, acabam frustrando pela narrativa que nunca chega a lugar nenhum e que se encerra de maneira previsível.
É inegável que existe uma forte e eficiente carga nostálgica que sustenta a série, deixando-a praticamente irresístivel, porém há de se enaltecer a evolução gradativa da narrativa que a cada episódio vai revelando pequenos detalhes da trama até culminar com um clímax perfeito que unifica os 3 núcleos de ação em uma sinergia que só realça os pontos positivos apresentados ao longo da temporada. A ideia de remeter e homenagear as produções de ficção científica da década de 80 está presente na reconstituição de época, na fotografia, na construção dos personagens, na trilha sonora e até mesmo no arco dramático que mescla dramas e conflitos familiares com elementos sobrenaturais e/ou interplanetários. O elenco dá uma show de carisma, cada qual sustentando um estereótipo característico do gênero, mas com um vigor que em nenhum momento deixa de convencer, especialmente os atores mirins que roubam a cena. Winona Ryder também empresta uma intensidade dramática a sua personagem que faz toda a diferença a favor da credibilidade da narrativa. Mesmo considerando que lá pela sua metade a série tem alguns sérios problemas de ritmo, a recompensa ao final é pra lá de bem-vinda já que se trata de uma produção que não se restringe apenas à mera referência, mas consegue ser uma série suficientemente criativa e inteligente por méritos próprios.
O primeiro filme já era uma tremenda bobagem com discurso belicista pró-BUSH. Esta continuação capricha um pouco mais nos efeitos especiais e no efeito global do terrorismo, porém não é nada mais do que um enlatado do pior que o cinema brucutu americano pode oferecer. É o típico filme que somente poderia ser estrelado por Gerard Butler, o que só reforça o desperdício de talento de Aaron Eckhart e Morgan Freeman. Dois fatos chamam a atenção: a maneira caricata como o roteiro ilustra os diversos líderes mundiais: a chanceler alemã é uma senhorinha simpática, o presidente italiano é um romântico incorrigível, o canadense preocupa-se com os filhos, o da França é arrogante e vem para Londres de barquinho enquanto que o japonês está preso no trânsito. Ou seja, cada um dos líderes está em um determinado local apenas para justificar a ação catastrófica dos terroristas de forma a atingir todos, cada um em seu devido local, porém é tudo tão exagerado e forçado que chega a ser risível que os responsáveis queiram que existam tantos terroristas infiltrado como uma forma de justificar a facilidade com que executam o plano. Lembrando que os responsáveis por zelar pela segurança do evento só começam a agir depois que todo o caos está instalado. Outro elemento engraçado é a maneira como o presidente americano realmente parece acreditar que seu guarda-costas é realmente um super homem, sempre sussurrando seu nome diante de qualquer dificuldade. Isso sem contar no artifício preguiçoso do roteiro/pós-produção de dar nome a cada um dos personagens através de legendas, pois foi incapaz de estabelecer uma narrativa onde todos fossem devida e apropriadamente apresentados. Enfim, depois de toda a megalomania da sua primeira metade, o personagem de Butler transforma-se novamente num Rambo moderno para salvar o dia. O diretor Babak Najafi até parece ter certo talento na condução de algumas sequências de ação, especialmente nos duelos corporais e tal, mas só será possível afirmar quando ele comandar uma produção séria, não esta bobagem que chega ao Brasil diretamente para locação e NETFLIX.
"Chamada de Emergência" é um filme que parte de uma premissa absurda, mas que pontualmente vai tentando conferir verossimilhança e personalidade através de um roteiro que é esperto quando foca nas personagens femininas e extremamente ingênuo e canastrão quando se concentra no vilão. Por maior que seja o escapismo, o terceiro ato comete uma sucessão de eventos absurdos que coloca quase tudo a perder. Halle Berry fazendo o possível para não estragar a sua personagem e Abigail Breslin é a sustentação dramática mais convincente dentro do filme. Acredite se quiser...
Hush: A Morte Ouve
3.5 1,5KHUSH - A MORTE OUVE
O sadismo é uma condição que já foi explorada diversas vezes no cinema e já rendeu inúmeros filmes, porém um dos mais icônicos certamente é o "Violência Gratuita" de Michael Haneke, seja a versão original ou sua refilmagem americana. "Hush - A Morte Ouve" explora essa vertente do suspense psicológico a partir de uma narrativa angustiante que acompanha a escritora surda-muda Maddie Young (Kate Siegel) que, por conta própria, em função do seu grau de independência e da sua profissão, vive sozinha em uma casa isolada, mas que em uma determinada noite passa a ser ameaçada por um misterioso homem mascarado (John Gallagher Jr.) que passa a rondar a sua casa e torturá-la psicologicamente. E é o sadismo que move o agressor, afinal ao ver que a sua vítima não o ouve e não tem a possibilidade de gritar por socorro, ele resolve "brincar" com o seu desespero apenas pelo mórbido desejo de vê-la desesperada. Inicialmente, o roteiro é muito inteligente ao estabelecer que Maddie é uma mulher inteligente e determinada que não irá se entregar tão facilmente e, por sua vez, o agressor também se mostra um sujeito frio e ardiloso ao ponto de se antecipar ao que poderia prejudicar o seu plano. O diretor Mike Flanagan sabe explorar muito bem a angústia da situação, especialmente pelo fato de estarmos diante de uma vítima que sofre em silêncio, o que torna a identificação pelo seu drama ainda mais palpável, assim como a exploração da fotografia e até mesmo da própria geografia da casa. A idéia de confinar Maddie dentro de casa enquanto que o agressor está do lado de fora também rende uma mudança de perspectiva interessante ao dilema da personagem que, mesmo cercada, ainda assim está mais segura lá dentro haja vista que suas tentativas de fuga acabam sendo frustrantes. Mas é justamente quando o roteiro explora a frustração de Maddie e/ou elimina qualquer tentativa que lhe dê um mínimo de esperança que reside as situações mais tensas dentro da narrativa. A atuação de Kate Siegel também é fundamental para que o filme se configure como um belo exemplar do gênero, afinal a atriz faz escolhas discretas e muito sensíveis para explorar o medo inicial da personagem, essa construção é crescente e cada vez mais eficiente, ainda mais sabendo da limitação física da personagem e demonstra muita garra, força e obstinação quando Maddie encara o agressor de frente. John Galagher Jr. realiza um bom trabalho também, compondo um personagem que demonstra frieza e nenhum remorso diante do que está fazendo. O grande problema do filme reside no fato de que para concluir a sua narrativa, ela precisa enfraquecer a figura do agressor, logo propositadamente ele acaba se expondo demais, seja praticamente entregando a sua arma para Maddie (é uma espécie de arco e flecha no melhor estilo "Daryl" de TWD) ou deixando-se levar por alguma das armações dela, mesmo que provisoriamente. O desfecho acaba se valendo desse tipo de conveniência, embora tenha a sua eficiência garantida devido ao nível de tensão muito bem construído até chegar ao clímax, resultando um suspense pra lá de competente e que se destaca em meio a tantas produções que não chegam a lugar nenhum.
8.0/10
Need for Speed - O Filme
3.2 875NEED FOR SPEED - O FILME
"Need For Speed - O Filme" é feito para a geração vídeo-game apaixonada por carros, ou seja, não importa a qualidade e sim a velocidade. Aqui, o jovem Tobey (Aaron Paul) é traído pelo seu sócio (Dominic Cooper) e em uma tacada só perde o irmão mais novo em um acidente automobilístico e é preso. Após sair da prisão, ele decide se vingar do antigo parceiro de negócios, mas durante o caminho ele se envolve em "altas confusões" (by "Sessão da Tarde") até chegar ao destino da derradeira corrida que lhe dará de volta a honra perdida e colocará em ação seu plano de vingança. Há de se considerar que por se tratar de um filme de corrida, o filme preenche seu vazio com incontáveis sequências de perseguição entre carros, logo quando chega o clímax, o esgotamento de ver tantas e tantas cenas é absurdo ainda mais Scott Waugh tem uma mão pesada para a condução das cenas. Basicamente alternando o close dos rostos dos atores com o registro dos carros em alta velocidade seja em planos abertos e/ou aéreos, não há uma única sequência até chegar ao clímax em que pode se enxergar alguma diferença na maneira como ele dirige o seu material, sendo que pela sua cartilha há muito mais o interesse em construir acidentes do que conferir energia e tensão para as perseguições. Ou seja, quanto mais batidas e capotamentos melhor e nem mesmo quando ele nos quer convencer de que um carro em alta velocidade ao se atirar de um precipício pode ser içado/laçado por um helicóptero há alguma energia estética, posicionamento de câmera ou algum efeito de edição que dê uma personalidade ao que se vê. O clímax é a reunião de tudo isso, porém ao menos resgata-se um pouco mais de dinâmica nos cortes e na condução dos movimentos de câmera em uma espécie de versão anabolizada da corrida maluca. Esse excesso de carros correndo atrás de carros faz com que, ironicamente, o filme se arraste seja para estabelecer sua premissa ou chegar ao seu desfecho. Aliás, a narrativa é preenchida basicamente por uma viagem de dois dias de carro em que diversos obstáculos atravessam o caminho do personagem central, apenas para que ele não chegue ao seu destino. Personagem este interpretado por Aaron Paul em uma tentativa fracassada de conferir carisma a uma figura que tem o entendimento de que mesmo em liberdade condicional precisa promover o caos da cidade e chamar a atenção da polícia para que ela fique atenta à corrida final, pois ele vai dirigir o carro "desparecido" que provocou a morte do seu irmão (e se o carro original não tivesse sido destruído não faria sentido nenhum). Um personagem central chato e aborrecido que ganha suspiros de humanidade, graças ao esforço de Paul, mas que é insuficiente. O interesse romântico entre o seu personagem e o de Imogen Poots é de uma artificialidade extrema ainda mais com a péssima atuação dela na tentativa de soar sexy e/ou despojada. Dominic Cooper está fazendo escola de canastrice e está cada vez pior, ou melhor, dependendo do ponto de vista. Curiosamente, a melhor atuação reside na participação de Dakota Johnson, na pele da namorada do vilão que é iludida por ele e que sofre a decepção de ser enganada e de magoar aqueles que estavam ao seu redor. É uma participação curta, mais eficiente e suficiente para mostrar que ela é uma atriz com recursos e que precisa apenas escolher melhor seus projetos. Os melhores amigos do protagonista funcionam como bons alívio-cômicos e, embora algumas "gags" parecem inseridas em momentos incovenientes e/ou fora de tom, eles parecem mais relaxados do que Paul em cena, o que faz toda a diferença. Sem conseguir deixar de lado o estigma de ser um "Velozes e Furiosos" mais infanto-juvenil, "Need For Speed" é um filme que certamente poderia ser condensado para pelo menos passar em alta velocidade diante dos nossos olhos.
4.0/10
A Entidade
3.2 2,3K Assista AgoraA ENTIDADE
O gênero do terror/suspense possui algumas convenções clássicas e o desafio de qualquer filme é o de se destacar diante de tantas fórmulas e clichês que já foram explorados à exaustão. "A Entidade" é um exemplar que consegue se destacar em meio aos demais filmes, pois o diretor e co-roteirista Scott Derrickson consegue construir um ambiente palpável de tensão e suspense através do eficiente uso da fotografia, especialmente nas sequências internas, a trilha sonora evoca um clima de estranheza que deixa o cenário muito mais nervoso e o equilíbrio entre o som e a edição favorecem a construção de um clima orgânico e favorável para o desenvolvimento da narrativa. Sempre que o roteiro parece indicar que caminhará sobre um clichê, ele geralmente subverte as expectativas, trazendo elementos críveis para justificar a catarse dramática, seja a utilização de um escorpião, uma cobra ou se utilizando das crises de terror noturno que acometem uma das crianças. Ainda assim, o filme reserva alguns bons e arrepiante momentos, sem apelas para sustos fáceis, especialmente quando faz uso de aparições ao fundo de planos abertos, sendo que o maior destaque fica por conta da sequência em que crianças espreitam o personagem de Ethan Hawke sem que ele veja. As atuações são bastante homogêneas, a mitologia envolvendo a tal entidade é tratada até com certa superficialidade, porém só vem a reforçar o clima sobrenatural, afinal pouco se sabe e/ou se conhece sobre o mistério que assombra a casa e aquelas crianças. Contando com um desfecho eficiente e de intenso apelo dramático, há de se questionar somente a utilização dos filmes em super 8. Se de certa forma ajudam a construir uma identidade visual que colabora com o suspense (e elas são eficientes nesse ponto), a sua utilização não tem relação nenhuma com a maldição que é o cerne principal da narrativa já que ela existiria, independente da utilização da filmadora e consequentemente dos filmes, tornando-se um ponto fora do contexto. Ainda assim é um filme enxuto e eficiente que traz uma dimensão diferente ao contexto da casa mal assombrada já que nem sempre a solução mais racional é garantia de salvação dos envolvidos.
8.0/10
Cinquenta Tons de Preto
1.6 39450 T0NS DE PRETO
A tarefa de fazer uma paródia do filme "50 Tons de Cinza" é fácil, porque tem material de sobra para extrair gags cômicas, mas ao mesmpo tempo é difícil, pois o próprio filme original já é uma comédia involuntária. Aqui em "50 Tons de Preto", as melhores piadas são justamente aquelas que exploram os muitos pontos negativos do romance, como o fato do personagem ser um perseguidor compulsivo ao ponto de parecer um "serial killer", mas a melhor piada ao longo de todo o filme é aquela em que após sucessivas torturas, o personagem central, Christian Black (Marlon Wayans) resolve ler o livro "50 Tons de Cinza" para a sua amada Hannah (Kali Hawk) e ela implora para que ele volte a torturá-la de qualquer outra forma, menos essa. De maneira geral, esta paródia reconstrói praticamente o filme inteiro, explorando piadas de conotação sexual de gosto pra lá de duvidoso, o que acaba tornando-o repulsivo e gratuito, mas é claro que aqui o fato da personagem feminina morder o lábio constantemente e colocar o lápis emprestado por Black ganham contornos sexuais muito mais explícitos. E o filme vai de piada de mau gosto em piada de mau gosto, explorando o que há de pior na escatologia em um exercício irritante, pois demonstra a sua incapacidade de extrair bons momentos cômicos mesmo quando foge da sua fonte original, plagiando "Whiplash" ou "Magic Mike", por exemplo. Até mesmo a trilha sonora que poderia evocar certa comicidade acaba deixando a desejar (a piadinha envolvendo a música-tema indicada ao Oscar é o mais próximo que conseguem chegar de algo minimamente engraçada). Marlon Wayans continua sendo um péssimo comediante e Kali Hawk não tem o menor "timming" cômico que justifique sua escolha para o papel feminino central. E após assistir a esta péssima paródia baseada em um já péssimo filme, chega-se a conclusão que não há como escolher qual é a pior forma de tortura, afinal ambos fracassam em seus propósitos.
1.5/10
Black Mirror: White Christmas
4.5 452BLACK MIRROR - WHITE CHRISTMAS
Esse episódio de Natal da série reúne em sua narrativa os principais ingredientes vistos nos episódios das duas primeiras temporadas. A partir de uma única história que reúne dois homens encarregados de trabalhar e conviver dentro de uma casa em meio a uma área gélida e remota e aos poucos eles vão revelando segredos sobre suas vidas e o que os levaram até ali. O roteiro consegue equilibrar dentro da narrativa a necessidade que se tem de que devemos conhecer a história por trás de um deles para depois desvendar o passado do outro até porque um é conquistador nato, um tanto quanto esnobe e arrogante, enquanto o outro é recluso, tímido e de poucas palavras. O mais interessante é notar também que as pistas que ajudam a desvendar o mistério da história central é empregado durante toda a narrativa até o seu "twist" final, mas aqui a espaço para que se explore três núcleos a cerca da tecnologia e a vida em sociedade. O primeiro deles apresenta um jovem tímido sendo guiado por um tutor que lhe dá dicas através de uma escuta enquanto transmite as imagens do que se passa com o aprendiz on-line para um grupo de seguidores e admiradores dessa prática de conquista. O roteiro é inteligente ao explorar a maneira como nem sempre as pessoas mostram como elas são verdadeiramente quando conhecem outra pessoa e como existem regras que regem nossas interações, mas o desenvolvimento e o desfecho não vão muito além do que se sugere. O segundo núcleo acompanha a adaptação de uma inteligência artificial em aceitar que ela não é de verdade, mas sim uma cópia da sua versão original que foi adquirida com o único propósito de servi-la, logo não deixa de ser um conto que discute a questão da identidade e a relação que temos com um universo cada vez mais prático e automático cujo propósito é facilitar nossas vidas. Diante das histórias que ouviu, o terceiro núcleo acompanha o passado deste homem mais recluso, mostrando sua relação com a esposa, o drama que ele enfrentou com a separação e as consequências trágicas que teve que encarar anos após o término do relacionamento. É sem dúvida nenhuma o ponto alto da narrativa e o desfecho da sua história culmina com a revelação das verdadeiras intenções de todos os envolvidos no trabalho pelo qual foram designados e porque os dois tiveram que ser reunidos naquele local. Há de se considerar que o desfecho amargo do homem tímido é pra lá de condizente com a proposta, não poderia ser mais trágico, porém há de se questionar o quão desnecessário era a revelação dos segredos do principal narrador e consequentemente do seu desfecho que até tem lá a sua ironia dentro do que fora visto no episódio, mas acabou sendo uma saída um tanto quanto radical apenas para valorizar a ideia dos bloqueios. Não é incoerente, mas foi uma forma artificial criada pelo roteiro para dar desfechos amargos para os dois personagens apenas. Ainda assim é um especial que prende a atenção e que permite importantes reflexões sobre a maneira como nos relacionamos com o próximo.
8.0/10
Black Mirror (2ª Temporada)
4.4 753 Assista AgoraBLACK MIRROR - 2ª TEMPORADA
Os três episódios que fazem parte da 2ª temporada são mais homogêneos que o da temporada anterior, porém mantém o mesmo nível de cinismo e de qualidade dos anteriores. O primeiro é o mais emocional já que acompanha uma jovem lidando com a morte repentina do seu marido. Inicialmente avessa, ela acaba aceitando o convite em participar de um aplicativo que promete simular através de inteligência artificial o comportamento e até mesmo a voz do seu marido através das lembranças que o mesmo compartilhou em vídeos, áudios e até mesmo nas redes sociais. O que inicialmente promete ser uma espécie de conforto para que lide de uma forma melhor com o luto acaba assumindo contorno de dependência ao ponto de até mesmo uma cópía física do marido ser adquirida, o que a deixa ainda mais reclusa e afastada do convívio com outras pessoas. É chocante, angustiante, mas ainda assim o apelo dramático da narrativa é de um envolvimento tocante, encantador e as atuações Hayley Atwell e Domhall Gleeson são de uma sensibilidade contagiante. É o melhor episódio de "Black Mirror" até então. O segundo episódio visa explorar a obsessão das pessoas em espionar a vida alheia, porém aqui traz um importante componente da violência que chama a atenção sobre a gratuidade e a forma rotineira e corriqueira com que lidamos com atos agressivos, a banalização da violência transformada em um macabro reality show a partir da trajetória de uma mulher que acorda em sua casa com total perda de memória sendo que é constantemente perseguida por sinistros assassinos enquanto que milhares de pessoas assistem sua tortuosa luta pela vida apenas com o propósito de se divertir com suas câmeras e celulares em mãos. O terceiro e último episódio tem uma clara crítica aos políticos e a maneira como o universo das eleições está sendo cada vez mais transformado em um espetáculo seja ele visual, circense ou até mesmo midiático. Um tímido e melancólico comediante, recém-divorciado, dá voz a um desbocado personagem de um programa de televisão, porém aos poucos a popularidade dele torna-se tão grande que chegam a considerá-lo para a disputa das eleições prévias para o parlamento britânico, o que acaba se transformando em uma triste e irônica brincadeira com os bastidores políticos. O que acaba enfraquecendo um pouco os desfechos abruptos de cada um dos episódios, especialmente o primeiro e o último, é que apostam muito mais no choques provocados pelas elipses de tempo; já no segundo episódio opta-se muito mais por algo explicativo, mas de certa forma desnecessário. Apostando em episódios arrojados e que fogem completamente do politicamente correto, "Black Mirror" torna-se uma série de ótima qualidade pra lá de indispensável por promover poderosas narrativas e estimular debates mais do que bem-vindos.
8.0/10
Black Mirror (1ª Temporada)
4.4 1,3K Assista AgoraBLACK MIRROR
“Black Mirror” é uma série britânica que possui episódios independentes, mas que transitam sobre o futuro da humanidade e a influência da tecnologia em nossas vidas. A 1ª temporada possui três episódios e o primeiro mostra o sequestro da princesa britânica sendo anunciado em pleno YOU TUBE pelos sequestradores e cuja exigência para libertá-la é a exigência de que o primeiro ministro faça sexo com um porco, sendo que o ato precisa ser transmitido ao vivo para todo o mundo e em todas as mídias sociais. O humor britânico é mais do que bem vindo, sendo que o maior triunfo dessa narrativa é apresentar uma rede de eventos factíveis e racionais de bastidores políticos para lidar com a proposta absurda, o que legitima o drama e o dilema enfrentado pelo primeiro-ministro. Após a conclusão da história, o sentimento de gratuidade e de futilidade da exposição midiática acaba atuando a favor e contra o episódio e o resultado acaba sendo mediano. O segundo episódio é o mais problemático já que investe em uma trama que acompanha um jovem encarregado assim como muitos outros de pedalar direta e diariamente uma bicicleta que lhe garante uma pontuação que lhe permite alguns prêmios e consolos assim como determinadas infrações lhe tiram pontos. Quando ele conhece uma jovem que utiliza sua pontuação total para tentar a sorte como cantora em um bizarro reality show, ele decide se vingar de todo o sistema. Os detalhes do cenário e as minúcias do universo em que o personagem está inserido são interessantes (as metáforas referentes à relação homem x trabalho são explícitas), mas nem os personagem, muito menos a narrativa despertam muito o interesse e o desfecho é apenas satisfatório. O terceiro episódio é o melhor da temporada já que acompanha um futuro não muito distante em que as pessoas conseguem assistir de maneira on-line suas próprias lembranças, permitindo que eles revisitem certos momentos em busca de nostalgia ou até mesmo prazer. Quando um jovem desconfia que sua esposa o traiu, ele entra em um redemoinho de paranoia que transforma a sua vida em uma contínua busca pelas suas memórias e das outras pessoas para provar o seu ponto de vista e de que não se trata de mero ciúme sem sentido. Mesmo que isso coloque tudo a perder, até mesmo a sua própria sanidade. Muito bem construído, esta narrativa consegue reunir o cinismo do humor britânico com o drama presente em tantos relacionamentos e torná-lo um espiral de sentimentos muito forte e contundente até com requintes de crueldade, mas que sempre nos deixa em dúvida sobre até que ponto ou não seríamos capazes de cometer os mesmos erros. Atuações categóricas e um desfecho condizente com a proposta. Apostando em situações que vão muito além dos lugares comuns, experimentando o gênero da ficção científica em diversas vertentes e utilizando-se de premissas que carregam melancolia e até um certo pessimismo sobre as relações humanos no futuro, "Black Mirror" oferece um olhar sádico e cínico tão atraente quanto esquisito.
7.5/10
Janela Indiscreta
4.3 1,2K Assista AgoraJANELA INDISCRETA
Alfred Hitchcock realiza um thriller investigativo com toques de suspense que se valoriza mais pelo poder da sugestão já que acompanhamos os eventos da narrativa através dos olhos e das lentes do fotógrafo Jeffries (James Stewart) ao que acontece no prédio em frente ao seu durante um período em que ele precisa se recuperar de um acidente que o deixou imobilizado. Hitchcock se encarrega de apresentar cada um dos seus vizinhos como uma forma de ilustrar pequenas histórias que ao longo da narrativa vão se desenvolvendo e de certa forma até se entrelaçando de forma até poética, mas o eixo principal se reside no mistério sobre o desaparecimento da esposa de um homem que mora no segundo andar e que o fotógrafo assegura que fora morta pelo próprio. O filme demora para engrenar já que a narrativa estaciona em meio a uma série de diálogos casuais entre o fotógrafo com sua empregada e também com sua namorada (Grace Kelly) que acabam não levando a lugar nenhum e só deixam o filme mais arrastado e enfadonho. As pistas aos poucos vão sendo reveladas, mas nenhuma delas se torna mais relevante do que as próprias imagens, ou seja, aquilo que se vê é mais do suficiente para acreditar que algo realmente estranho de fato aconteceu naquele apartamento, logo legitimar um crime porque a bolsa preferida da mulher foi deixada para trás ou porque as flores do jardim encolheram de uma semana para outra são frágeis no propósito de legitimar as suspeitas e parece que somente os personagens realmente parecem acreditar nisso. A figura do policial e melhor amigo de Jeffries é importante, pois serve de contraponto racional para a paranoia do amigo ao mesmo tempo em que confirma, se caso o misterioso homem seja o culpado, tratar-se de um assassino meticuloso e que age de forma fria e racional para encobrir suas pistas. O terceiro ato é ágil justamente por movimentar os personagens da zona de conforto e culmina em um desfecho em que Hitchcock demonstra controle da sua capacidade técnica ao transformar pelo menos duas sequências que poderiam ser corriqueiras e torná-las tensas, utilizando-se magistralmente da limitação de recursos que tem em mãos, seja ao explorar o silêncio de uma sequência que acompanhamos impotentes e à distância ou outra em que os efeitos provocados pelas sombras e a luz permitem um efeito esteticamente eficiente e dinâmico. Mas, no final das contas, acaba sendo muito barulho por nada mesmo.
6.0/10
Jason Bourne
3.5 460 Assista AgoraJASON BOURNE
“Jason Bourne” é um ótimo filme de ação que faz jus à qualidade dos três filmes anteriores e consegue ampliar o arco dramático da sua mitologia ao inserir a figura paterna de Bourne (vulgo, David Webb) e que traz consequências diretas ao recrutamento do mesmo ao programa Treadstone e que deu origem a tudo o que já vimos até aqui. O argumento é mais uma vez muito bem sustentado através da investigação de Bourne e uma sucessão de eventos que acompanham o ex-espião norte-americano por Grécia, Alemanha, Inglaterra e EUA, além de estimular o debate entre a invasão de privacidade e o acesso do governo a informações pessoais com o intuito de, supostamente, garantir a Segurança Nacional. O único aspecto que o roteiro não consegue evitar na trama do agente desmemoriado é a sensação de “dèja vu” já que aqui novamente temos um diretor da CIA (Tommy Lee Jones) que quer ver Bourne morto a qualquer custo e uma diretora (Alicia Vikander) que quer poupá-lo e está interessada em descobrir os segredos da agência que ele sabe. Essa conveniência assim como o fato de que os “flashbacks” do próprio Bourne aumentarem e tornarem-se mais claros gradativamente não atrapalham e não invalidam em nada as virtudes deste assim como dos filmes anteriores. O diretor Paul Greengrass realiza mais um filme energético, vibrante e contagiante com sequências de ação nervosas, muito bem coreografadas e editadas com cortes precisos pelo oscarizado montador Christopher Rouse justamente por seu trabalho em “Ultimato Bourne”. Os principais destaques neste aqui ficam por conta da sequência noturna que se passa na Grécia em meio a um caótico protesto e todo o clímax construído dentro de um edifício e nas ruas de Las Vegas em uma catastrófica perseguição automobilística. Matt Damon demonstra mais uma vez toda a intensidade e o vigor necessários para legitimar as ações de Bourne e aqui ele novamente tem um elenco de apoio muito talentoso e homogêneo, como já mencionados Tommy Lee Jones e Alicia Vikander, além de Vincent Cassel, que é o agente de campo responsável por executar Bourne e que sofreu consequências diretas das ações vistas nos filmes anteriores, e da própria Julia Stiles que ao menos neste aqui tem uma participação mais efetiva (o fato dos arquivos da Treadstone serem “hackeados” dão credibilidade ao fato do nome do pai de Bourne não estar associado a Treadstone nos primeiros filmes já que eram arquivos secretos, obscuros; ainda assim há de se ressentir a ausência de Pam, personagem de Joan Allen para justificar a retomada de um novo projeto de espiões assassinos). Com este quarto filme, a franquia se reinventa e abre espaço para novas descobertas (e novos “flashbacks” oriundos da mente confusa de Jason Bourne), porém mantendo a mesma energia e qualidade técnica demonstrada nos filmes anteriores de maneira inteligente e eficiente.
8.5/10
Carrie, a Estranha
2.8 3,5K Assista AgoraCARRIE - A ESTRANHA
Nas mãos de Kimberly Peirce, "Carrie - A Estranha" é um terror psicológico frágil e inconsequente já que está muito mais interessado em promover o caos estético através de efeitos especiais de qualidade discutível e sequências que fracassam em sua tentativa de serem assustadoras ou minimamente impactantes (seja desde uma simples explosão de um filtro de água ou durante o clímax durante o baile). O drama da jovem tímida e excluída, humilhada constantemente pelos seus colegas de escola, e que no baile de fim de ano coloca todo mundo pra correr (literalmente) segue uma narrativa rasteira e artificial, repletas de clichês mal explorados e lugares comuns que não levam a lugar algum. A talentosa Chloe Grace Moretz tem uma atuação fraca e pouco convincente, não pela sua beleza, e que por sinal não seria um impeditivo para interpretar Carrie, mas há pouca expressividade e alcance dramático que façam sua personagem se tornar empática seja diante do seu deslocamento social e/ou de uma espécie de identificação com a catarse emocional da personagem. Igualmente canastrona está Julianne Moore que carrega aos trancos e barrancos uma personagem que é super estereotipada e nem mesmo a sua capacidade técnica é capaz de fazer com que a sua presença se torne um alento a favor da história. Ainda assim é possível ver algum mérito na postura de confrontação da filha perante a mãe, o que demonstra uma evolução na personalidade de Carrie, mas nada que justifique o uso de seus poderes de maneira tão consciente em determinado momento já que esse ápice deveria ser reservado ao baile. A parceria entre Moretz e Ansel Elgort funciona, mas é pouco para justificar a relação dos dois personagens como um dos catalisadores. Da mesma forma, o conflito final entre as duas tem boas doses de suspense, mas também acaba pecando pela falta de sutileza de Kimberly Peirce que, no geral, não sabe conduzir a tensão necessária para as sequências mais críticas de suspense e terror. Fotografia genérica, acaba se destacando mais nas sequências internas na casa de Carrie e a trilha sonora é tão apagada que não é capaz de se destacar nem mesmo nos momentos mais importantes.
3.5/10
Carrie, a Estranha
3.7 1,4K Assista AgoraCARRIE, A ESTRANHA
O diretor Brian De Palma realiza um drama com toques de terror e suspense sobrenatural a partir de uma premissa que explora o "bullyng". O filme inteiro é uma preparação para a terrível sequência final e quando acontece, o diretor confirma todas as expectativas de maneira impactante e eficiente (a sequência do acidente automobilístico envolvendo dois personagens poderia ter ficado de fora já que parece ter sido encaixada ali de maneira improvisada). O roteiro não é dos melhores, a evolução da narrativa é repleta de eventos menores e corriqueiros, mas boa parte da narrativa até se sustenta com metáforas (do crescimento e amadurecimento) e simbolismos (a religião como um elemento repressor), mas de qualquer forma a relação entre mãe/filha acaba se tornando muito canastrona, muito em função da maneira como a matriarca é ilustrada, muito fora de tom, até parece propositadamente caracterizada de maneira debochada, porém o desenvolvimento poderia ter sido melhor, sem a necessidade de tantos diálogos expositivos, porém o desfecho é pra lá de satisfatório, diria até apoteótico. A atuação da Sissy Spacek é muito especial, é uma daquelas atuações célebres, pra vida toda mesmo, ela está adorável e... assustadora quando precisa. De qualquer forma é um filme que ilustra sua história através de um clima e uma ambientação especialmente tensa, garantindo que o impacto da dor da personagem seja captado em sua essência com sangue, suor e lágrimas.
8.0/10
Ata-me!
3.7 550ATA-ME
Com "Ata-me", Pedro Almodóvar realiza uma comédia picante e com toques de humor negro que tem um resultado surpreendentemente leve e divertido, muito em função da excelente química em cena de Victoria Abril e Antonio Banderas. Por mais absurdo que seja o roteiro (que por sua vez não faz mínima questão de se mostrar verossímil), ela constrói uma personagem intensa e "sexy", mas que ao mesmo tempo se apresenta como uma figura feminina frágil e ingênua, o que torna "compreensível" que acaba se tornando a obsessão do personagem de Banderas. Ele, por sua vez, constrói um sujeito que mescla imaturidade com resquícios de uma personalidade temperamental, o que torna sua ações imprevisíveis seja pela naturalidade com que ele lida com o que está fazendo, seja pelo comprometimento que ele tem em manter sua vítima presa. A partir do momento que a obsessão se torna interesse romântico por parte de ambos, o terceiro ato acaba sendo enfraquecido por um desfecho tão preguiçoso quanto conveniente e que por sua vez deixa mais evidente certa ingenuidade e imaturidade, mas já por parte do próprio Almodóvar, o que não deixa de ser levemente decepcionante.
6.0/10
Bates Motel (3ª Temporada)
4.3 608BATES MOTEL - 3ª TEMPORADA
Durante as temporadas anteriores, regularidade nunca foi o forte de "Bates Motel" e nesta terceira não é muito diferente, sendo no entanto que os efeitos que prejudicam a dinâmica da narrativa são mais prejudiciais nesta que é provavelmente a mais fraca de todas. O mais significativo ocorre é um "rompimento" psicológico de Norman com sua mãe Norma, logo o jovem já dá claros sinais de distúrbios, inclusive sugerindo uma dupla personalidade claramente afetada por todos os eventos anteriores, catalisados pela obsessão com a figura da mãe que vai se tornando cada vez mais doentio por parte da mãe. Infelizmente, com o decorrer da temporada, o personagem vai perdendo um pouco do interesse pela sua natureza trágica e Norman vai se tornando uma figura mais chata e aborrecida, o que pode ser prejudicial do ponto de vista do alcance do personagem, especialmente quando suas ações se tornam mais psicóticas e menos decorrentes da sua fragilidade emocional (ou em função dela). Os eventos que envolvem Norma e que não tem ligação direta com o filho são desinteressantes e mal desenvolvidos, como o relacionamento dela com um psiquiatra, o estreitamento da sua relação com o xerife e até mesmo os ajustes emocionais com seu irmão Caleb, sendo que ao menos no caso deste último há um apelo dramático bem defendido pelos atores. A subtrama policial envolvendo o ricaço/misterioso/criminoso da vez é tão genérico quanto os outros já vistos, sendo que só serve para que o xerife suje suas mãos e se comprometa ainda mais diretamente com os meios ilegais que fazem parte da história da cidade desde que seu pai era xerife. O envolvimento entre Caleb e seu filho Dylan é mero pretexto para que eles tenham alguma função dentro da narrativa, sendo que o envolvimento do irmão de Norman com a doce Emma parece ser muito mais promissor para os dois personagens já que ambos passam a temporada inteira muito apagados. O desfecho da série é decepcionante, dando sobrevida a uma personagem que havia "desaparecido" na temporada anterior apenas para que ganhe um final definitivo com um desfecho muito similar ao que já fora visto em no meio e no final de temporadas anteriores. As atuações do elenco sustentam boa parte do apelo da série, especialmente Vera Farmiga e Freddie Highmore.
6.0/10
Orphan Black (2ª Temporada)
4.4 504 Assista AgoraORPHAN BLACK - 2ª TEMPORADA
Levemente inferior à temporada anterior, esta segunda temporada consegue ampliar um pouco mais os dilemas e os envolvidos na trama sobre a clonagem, estabelecendo uma relação entre uma abordagem científica e outra de fanatismo religioso, porém o que mais prejudica a dinâmica dessa temporada é que por diversas vezes as tramas das 3 principais clones ocorrem de maneira distinta, logo o interesse não é o mesmo em cada momento. É até compreensível que se torne mais fácil e prático um planejamento de filmagem já que Tatiana Maslany precisa apresentar caracterizações diferenciadas e tal, mas a separação só chama a atenção para alguns pontos falhos. Por exemplo, a partir do momento que Alison aceita o tratamento do dr. Siekel, ainda se dá muita atenção a sua paranoia sobre quem de fato é o seu monitor e o tempo que se dedica ao teatro e a sua reabilitação parece muito mais enrolação narrativa, mesmo considerando que Alison é uma das composições mais carismáticas de Tatiana (e o envolvimento dela e do marido em uma série de crimes acaba sendo muito mais um alívio cômico dentro da temporada). Helena dá alguns sinais de desgaste, de cansaço narrativo já que ela some e reaparece nas mesmas proporções, mas de qualquer forma por ser a mais perigosa e imprevisível sempre permite que a série saia da sua zona de conforto ao abraçar a sua natureza trágica, como se ela nunca pudesse ser feliz de verdade. Cosima acaba virando uma mera coadjuvante já que a sua subtrama romântica é deixada de lado enquanto carrega por parte do roteiro a incômoda "muleta narrativa" do roteiro por causa de complicações da sua doença. Já Sarah é a mais ativa, é aquela que vai de um lado para o outro para descobrir os segredos do seu passado, mas sempre que ela está próxima de uma resposta mais concreta, ela precisa dar um passo pra trás por algum contratempo criado pelo roteiro, justificável ou não. Rachel prometia desde o final da primeira temporada ser uma personagem mais interessante e intrigante, mas com o passar dos episódios, ela vai se tornando mais caricata até os roteiristas decidirem de uma vez por todas de que ela é a verdadeira vilã trágica da temporada. E nem tudo funciona com os demais personagens também, como a falta de utilidade para Paul que parece perdido e aborrecido ao longo de toda a temporada ou até mesmo a tentativa frustrada de fazer com que Tatiana interprete um clone na versão masculina. Já não parece tão atraente quanto na primeira temporada, mas ainda tem lenha pra queimar, pelo menos material para isso tem, além do que Tatiana Maslany faz valer a pena cada minuto da série por causa do seu talento e versatilidade.
7.0/10
Orphan Black (1ª Temporada)
4.5 923 Assista AgoraORPHAN BLACK - 1ª TEMPORADA
A 1ª temporada de "Orphan Black" apresenta a sua premissa central com uma agilidade e uma dinâmica contagiante, estabelecendo os principais personagens e mantendo um nível de tensão e suspense admiráveis, logo fica difícil não se envolver com o ritmo dinâmico da trama que insere o tema da clonagem dentro de uma trama policial. A atriz Tatiana Maslany é a grande surpresa e o maior trunfo dessa série, pois ela possui uma diversidade dramática impressionante já que consegue desenvolver diferentes personagens com sensibilidade, competência e até certa coragem. É uma pena que a temporada perca ritmo em seus episódios finais a partir do momento que a narrativa dá sinais de que está querendo gastar tempo justamente para carregar seus principais mistérios para a temporada seguinte, ainda assim é uma série que tem lá seu charme e personalidade.
7.5/10
Caça-Fantasmas
3.2 1,3K Assista AgoraCAÇA-FANTASMAS
Essa é uma refilmagem desnecessária assim como muitas outras, mas não porque se trata de uma versão feminina, mas simplesmente porque a obra original é boa e marcante o bastante para ser revisitada pelos nostálgicos e pelas plateias mais novas. Dito isto, este "Caça-Fantasmas" consegue ser satisfatório e divertido, especialmente pela excelente química e pelo talento cômico das quatro protagonistas que conseguem se destacar isoladamente, sabem o momento de se sobressair e/ou realçar a outra, logo o "timming" é muito bom, mesmo quando algumas piadas não funcionam completamente. Ainda assim, o meu destaque vai para Kristen Wig, que consegue trazer certa fragilidade e ingenuidade a personagem, e Kate McKinnon, responsável pelas engenhocas e que tem uma personalidade descolada e "maluquete". Algumas referências são boas, outras não funcionam tão bem, algumas participações são bacanas, outras nem tanto (a do Dan Aykroyd, que também assina como produtor executivo, embora rápida é a que soa mais deslocada), porém o roteiro é rasteiro na evolução da narrativa já que os eventos são irregulares (a segunda aparição de Bill Murray desencadeia os eventos do clímax, mas soa fora de propósito) e a trama assim como o próprio vilão são fracos (praticamente uma reciclagem do que foi visto nos filmes anteriores). O co-roteirista e diretor Paul Feig se sai bem na condução da comédia, mas não demonstra a mesma habilidade na condução do clima de suspense/terror, logo tudo parece leve e suave demais, logo em nenhum momento sentimos as protagonistas realmente em perigo até mesmo no fraco clímax que é um mero carnaval de efeitos especiais coloridos, o que não só não é uma decepcão total pelo apelo das atrizes. Criticado injustamente antes da hora e pelos motivos errados, essa nova versão "Caça-Fantasmas" não é marcante, nem boa o bastante para justificar uma refilmagem assim como não é totalmente ruim ao ponto de ofender o material clássico ou que justifique uma crucificação em praça pública.
7.0/10
PS: O 3D até chama a atenção em alguns momentos, mas não funciona totalmente também.
A Vítima Perfeita
3.1 244A VÍTIMA PERFEITA
Quando você assiste a um filme baseado em fatos reais sobre um sequestro e o enfoque é maior sobre a natureza emocional e psicológica da sequestradora ao invés do drama da sequestrada e/ou de seus familiares, já existe um claro equívoco e/ou no mínimo de falta de bom senso. Aqui, o roteiro tenta apresentar a narrativa sobre diferentes pontos de vista, mas dedica-se a maior parte do tempo de relatar os detalhes macabros do plano de uma jovem insegura, rejeitada pelos pais e diagnosticada como esquisofrênica, que resolve sequestrar uma bela e talentosa jovem que fora sua vizinha. Invejosa e acometida pelo ciúme, sua obsessão transforma-se em crime. O drama dos pais é ilustrado em um primeiro momento como o centro emocional do filme, mas esse núcleo parece mais interessado em chamar a atenção para as dificuldades burocráticas e a negilgência policial. Pouco sabemos sobre a vítima e gasta-se tempo demais com o que menos interessa, afinal pouco importa os detalhes do que de fato aconteceu dentro daquele quarto, de que forma que ocorreu, como aconteceu, afinal o drama e a angústia já é natural. Às vezes a sensação que dá é que o filme tenta ser uma prova de defesa para que a culpa da sequestradora seja minimizada, o que é uma atitude no mínimo controversa. Burocrático do início ao fim, "A Vítima Perfeita" é um drama de moral distorcida e de intenções nada nobres por melhor que seja a atuação de Ruth Bradley já que Guy Pearce e Miranda Otto pouco tem a fazer na pele dos pais da jovem sequestrada.
4.0/10
Sob a Pele
3.2 1,4K Assista AgoraSOB A PELE
É um filme reflexivo, filosófico e poético que se valoriza muito mais pela capacidade de estimular esse estudo sobre a personagem e a sua jornada do que propriamente sobre os eventos e o que se vê. Isso é um elogio, mas também reside seus maiores problemas, afinal fugir do convencional, não o credencia a ser absoluto e magnânimo. Não é um filme que se propõe a ser de fácil digestão assim como não é um filme que se encerra por si só, porém há de se reconhecer que há na abordagem muito sobre a natureza vazia e rasa das relações entre as pessoas assim como a valorização da beleza estética do que da própria natureza humana. Não é à toa que a alienígena vivida por Scarlett Johansson usa seu corpo para recrutar homens solitários, apenas para que eles desapareçam em sua armadilha sem deixar rastros, muito menos saudade. E por isso que quando cruza seu caminho, um homem com uma grave deficiência física, que logo vive à margem da sociedade, a sua atenção lhe dá um pouco de satisfação e a experiência aparentemente a modifica, faz com que ela se torne mais emocional, se fragilize e até mesmo por isso acabe baixando a guarda e se tornando vítima da violência que não apenas a agride fisicamente, destruindo o seu corpo, mas simplesmente faz com que a sua existência simplesmente perca a sua própria razão de ser. Ou não. Enfim...
7.0/10
John Carter: Entre Dois Mundos
3.2 1,6K Assista AgoraJOHN CARTER - ENTRE DOIS MUNDOS
"John Carter" não é um filme ruim, mas é um filme confuso e não pela sua complexidade, mas pela sua falta de foco. A partir de um início bastante dinâmico e divertido, John Carter é transportado para Marte em função de um misterioso artefato e acaba se envolvendo em uma série de acontecimentos que envolvem os povos/raças de lá. Ou seja, para o roteiro John Carter não é o mais importante, logo toma-se conta da narrativa uma série de disputas entre duas raças inimigas que precisam se unir para impedir o casamento entre dois integrantes de povos distintos afim de evitar uma guerra, porém por trás disso há um plano de traição e em todas essas subtramas Carter será o salvador da pátria. Visualmente as criaturas são atraentes, a caracterização das raças e os ambientes são criativos, embora os efeitos especiais deixem a desejar em alguns momentos (especialmente quando Carter dizima uma horda inteira praticamente sozinho), a trilha sonora parece querer soar mais grandiosa do que realmente é já que chama a atenção para si, mas deixa a sensação de que é genérica do início ao fim e o elenco não tem o carisma suficiente. Taylor Kitsch parece se levar muito a sério e as poucas oportunidades de descontração são muito mais em função do roteiro do que pela sua performance, Mark Strong e Dominic West interpretam vilões rasteiros e genéricos enquanto que Lynn Collins é apenas um rosto bonito em cena. Pena que a participação de Bryan Cranston tenha sido tão pequena já que a sua presença é marcante mesmo com pouco tempo em cena. A falta de foco do roteiro e o excesso de subtrama acabam comprometendo sensivelmente o ritmo da narrativa (a sensação que se dá é que a gente não vê a hora de John Carter voltar logo para Terra, sendo que o roteiro deveria nos convencer do contrário, de que o melhor lugar pra ele é em Marte), dando uma nítida sensação de que o filme dura muito mais tempo do que aparenta durar e o diretor Andrewn Stanton se mostra impotente para melhor essa dinâmica e é incapaz de construir alguma cena minimamente impactante. Não é um filme ruim, é uma oportunidade desperdiçada.
4.0/10
American Horror Story: Freak Show (4ª Temporada)
3.5 1,4K Assista AgoraAMERICAN HORROR HISTORY - 4ª TEMPORADA
Depois de 2 ótimas temporadas e uma 3ª temporada muito fraca, a irregular 4ª temporada não conseguiu retomar o melhor nível de qualidade da série, embora não seja totalmente um fracasso. Essa temporada é a que faz mais juz ao termo bizarro já que se concentra em uma série de aberrações que fazem parte de um circo de horrores comandado pela personagem da vez de Jessica Lange que aqui mais uma vez tem a oportunidade de ter um palco (dessa vez literalmente) para exibir todo o seu talento como atriz. Inicialmente a série parece querer chamar a atenção apenas pelo seu painel de personagens exóticos, porém a estranheza física se dissipa pela fragilidade da narrativa. O único alento é a subtrama envolvendo um palhaço macabro que assume contornos de "serial killer" que traz um senso de urgência e morbidez que são muito mais interessantes do que a dos artistas circenses. Para o bem ou para o mal, os melhores episódios são o terceiro e o quarto justamente por se concentrarem na resolução dessa subtrama (curiosamente conta com a participação do canastrão Wes Bentley, mas que aqui funciona). A partir do 5º episódio, a série parece querer adotar um outro tom ao se concentrar na história de cada um dos artistas, mostrando a história sofrida de cada um deles, como uma forma de humanizá-los e alguns até funcionam isoladamente (como a que remete a chegada de uma determinada personagem ao hospício visto na segunda temporada), porém os roteiristas da temporada dão sinais de que não sabem o que fazer é que mudam drasticamente a motivação de vários personagens de uma hora pra outra apenas pra satisfazer uma necessidade imediata da história (a personagem de Emma Roberts é a mais prejudicada) e os personagens acabam sendo mortos em uma escala exponencial e de maneira gratuita, culminando no clímax do penúltimo episódio, por exemplo. Kathy Bates tem uma ótima atuação, Evan Peters demonstra ser um jovem ator bastante promissor enquanto que Sarah Paulson faz excelentes escolhas na composição da personagem siamesa. Há uma participação curiosa, mas dessa vez irregular, de Neil Patrick Harris como uma versão bizarra do Barney de HYMYM: gosta de mágica, é sedutor e tem uma boneca de ventríloco. No geral não se trata de uma boa temporada, mas existem algumas escolhas dentro da temporada que funcionam, mesmo não sendo a maioria delas.
5.5/10
American Horror Story: Coven (3ª Temporada)
3.8 2,1KAMERICAN HORROR HISTORY - 3ª TEMPORADA
Depois de duas ótimas temporadas, "American Horror History" fracassou em sua tentativa de explorar o terror e o suspense através de uma trama que explora a mitologia das bruxas, tornando a jornada de se encontrar uma nova bruxa suprema para a ordem um tremendo engodo. Jessica Lange dá o seu show particular, porém nem mesmo a adição de Kathy Bates no elenco é o bastante para tirar a narrativa do marasmo que logo no início já dá sinais de cansaço quando explora de maneira frustrante a ideia da ressurreição, o que é utilizado em outros momentos, sempre que o roteiro acha necessário. Há poucas idéias sendo bem exploradas, como a do assassino de bruxas que é descartada praticamente em apenas um episódio, tornando-se um mero pretexto para que haja a oportunidade que as bruxas briguem entre si por vaidade, egoísmo e/ou qualquer outra coisa. Os "flashbacks" são mal explorados, servindo muito mais para reforçar que há pouco a ser mostrado no tempo presente, e até mesmo as situações que tenderiam a ser mais assustadoras, como as que envolvem magia negra e uma entidade maligna, acabam frustrando pela narrativa que nunca chega a lugar nenhum e que se encerra de maneira previsível.
4.0/10
Stranger Things (1ª Temporada)
4.5 2,7K Assista AgoraSTRANGER THINGS - 1ª TEMPORADA
É inegável que existe uma forte e eficiente carga nostálgica que sustenta a série, deixando-a praticamente irresístivel, porém há de se enaltecer a evolução gradativa da narrativa que a cada episódio vai revelando pequenos detalhes da trama até culminar com um clímax perfeito que unifica os 3 núcleos de ação em uma sinergia que só realça os pontos positivos apresentados ao longo da temporada. A ideia de remeter e homenagear as produções de ficção científica da década de 80 está presente na reconstituição de época, na fotografia, na construção dos personagens, na trilha sonora e até mesmo no arco dramático que mescla dramas e conflitos familiares com elementos sobrenaturais e/ou interplanetários. O elenco dá uma show de carisma, cada qual sustentando um estereótipo característico do gênero, mas com um vigor que em nenhum momento deixa de convencer, especialmente os atores mirins que roubam a cena. Winona Ryder também empresta uma intensidade dramática a sua personagem que faz toda a diferença a favor da credibilidade da narrativa. Mesmo considerando que lá pela sua metade a série tem alguns sérios problemas de ritmo, a recompensa ao final é pra lá de bem-vinda já que se trata de uma produção que não se restringe apenas à mera referência, mas consegue ser uma série suficientemente criativa e inteligente por méritos próprios.
8.5/10
Invasão a Londres
3.1 403 Assista AgoraINVASÃO A LONDRES
O primeiro filme já era uma tremenda bobagem com discurso belicista pró-BUSH. Esta continuação capricha um pouco mais nos efeitos especiais e no efeito global do terrorismo, porém não é nada mais do que um enlatado do pior que o cinema brucutu americano pode oferecer. É o típico filme que somente poderia ser estrelado por Gerard Butler, o que só reforça o desperdício de talento de Aaron Eckhart e Morgan Freeman. Dois fatos chamam a atenção: a maneira caricata como o roteiro ilustra os diversos líderes mundiais: a chanceler alemã é uma senhorinha simpática, o presidente italiano é um romântico incorrigível, o canadense preocupa-se com os filhos, o da França é arrogante e vem para Londres de barquinho enquanto que o japonês está preso no trânsito. Ou seja, cada um dos líderes está em um determinado local apenas para justificar a ação catastrófica dos terroristas de forma a atingir todos, cada um em seu devido local, porém é tudo tão exagerado e forçado que chega a ser risível que os responsáveis queiram que existam tantos terroristas infiltrado como uma forma de justificar a facilidade com que executam o plano. Lembrando que os responsáveis por zelar pela segurança do evento só começam a agir depois que todo o caos está instalado. Outro elemento engraçado é a maneira como o presidente americano realmente parece acreditar que seu guarda-costas é realmente um super homem, sempre sussurrando seu nome diante de qualquer dificuldade. Isso sem contar no artifício preguiçoso do roteiro/pós-produção de dar nome a cada um dos personagens através de legendas, pois foi incapaz de estabelecer uma narrativa onde todos fossem devida e apropriadamente apresentados. Enfim, depois de toda a megalomania da sua primeira metade, o personagem de Butler transforma-se novamente num Rambo moderno para salvar o dia. O diretor Babak Najafi até parece ter certo talento na condução de algumas sequências de ação, especialmente nos duelos corporais e tal, mas só será possível afirmar quando ele comandar uma produção séria, não esta bobagem que chega ao Brasil diretamente para locação e NETFLIX.
2.5/10
Chamada de Emergência
3.7 1,5K Assista AgoraCHAMADA DE EMERGÊNCIA
"Chamada de Emergência" é um filme que parte de uma premissa absurda, mas que pontualmente vai tentando conferir verossimilhança e personalidade através de um roteiro que é esperto quando foca nas personagens femininas e extremamente ingênuo e canastrão quando se concentra no vilão. Por maior que seja o escapismo, o terceiro ato comete uma sucessão de eventos absurdos que coloca quase tudo a perder. Halle Berry fazendo o possível para não estragar a sua personagem e Abigail Breslin é a sustentação dramática mais convincente dentro do filme. Acredite se quiser...
4.0/10