O novo filme do diretor David Fincher, Garota Exemplar, baseado no homônimo do jornalista Gillian Flynn, mostra ser mais um sucesso na carreira do cineasta, que tem em seu currículo: Seven – Os Sete Pecados Capitais, Clube da Luta, Zodíaco e A Rede Social. Com cerca de 150 minutos de duração, a adaptação segue recheada de vários pontos de virada deixando o espectador ansioso a cada cena retratada. Sua montagem é totalmente espetacular, criando por si só um suspense que torna difícil de prever o próximo ato.
A obra retrata a vida do escritor fracassado Nick Dunne (Ben Affleck), no qual vive com sua esposa Amy (Rosamund Pike) em sua cidade natal no Missouri. No quinto aniversário de casamento do casal, Amy desaparece misteriosamente e o seu marido acaba se tornando o principal suspeito pelo crime. A partir disso, percebemos a verdadeira realidade dos conjugues, onde fica claro que a vida a dois não era um mar de rosas. A irmã gêmea de Nick, Margo (Carrie Coon), com o seu humor mirabolante passa a dar todo o seu apoio ao irmão, que segue pressionado pela polícia local sob o comando da delegada Rhonda (Kim Dickens).
No decorrer da história somos surpreendidos por flashbacks contados por Amy antes de seu desaparecimento, o que nos situa a conhecer melhor cada personagem retratado na narrativa. Vindo de uma família rica e totalmente midiática, é visível o quanto a aparência é importante para os pais da garota exemplar. Não é possível sentir o calor e fraternidade sincera entre os membros, tudo parece ser frio e calculado.
Ao entrarmos na vida de Nick, percebemos que ele não é um bom moço, mas mesmo assim torcemos para que ele não seja o culpado pelo sumiço de sua esposa. Seu jeito acomodado e robotizado nos faz sentir mais pena do que desconfiança dele, embora todas as circunstâncias nos levam a acreditar que Nick realmente possa ser o grande culpado. Desta forma, o longa consegue colocar várias dúvidas na mente do espectador, não apenas focando se ele é ou não o autor do crime, mas amarrando várias outras incertezas a respeito da veracidade dos personagens, o que torna o sumiço da Amy ainda mais complexo e intenso do que imaginávamos.
A montagem feita por Kirk Baxter é uma das coisas que fazem a obra fluir de uma maneira totalmente exemplar. Junto com toda a estrutura montada pelo diretor, o enredo constrói uma história em que o espectador assimila ambas as partes sem deixa-las previsíveis. Além disso, temos uma grande crítica ao jornalismo que cada vez mais se torna um show de entretenimento. Devido a isso, vemos uma simples foto sendo exibida como se fosse uma prova incriminatória de um possível assassinato. Ou seja, não há escrúpulos ou base ética quando o assunto é garantir a maior audiência.
David Fincher consegue acertar em cheio em Garota Exemplar, o longa se torna uma verdadeira caixinha de surpresas a cada minuto, sem deixar furos ou incoerências. Tendo em vista as atuações admiráveis do casal Affleck e Pike, que são dignas de grandes prêmios. Cada personagem foi muito bem montado e caracterizado, desde a família dos protagonistas aos policiais que levam o estereotipo de série americana, estilo Law & Order. Com isso, podemos sair do cinema satisfeitos em vários aspectos e com aquela sensação de que no fundo ninguém conhece o próximo completamente.
Por: Caroline Venco