Nabat (Nabat), 2014 – Direção de Elchin Musaoglu | Nota: 4/5
O primeiro filme que eu vejo na Mostra de SP (de graça!) e a primeira produção que eu vejo do Azerbaijão. E foi um grande acerto!
"Tia Nabat" é uma senhora conhecida de um pequeno povoado que está em guerra. Seu marido está falecendo aos poucos e por causa das bombas que volte e meia eclode no vilarejo seus residentes estão largando tudo e partindo. Mas a senhora Nabat prefere ficar: O túmulo de seu filho está lá e sua alma parece pertencer também aquela terra. O filme vai mostrando muito do seu cotidiano; a venda do leite para comerciantes locais, os cuidados com o marido moribundo e suas longas caminhadas por campos cada vez mais desabitados.
Triste, porém carregado de sutileza em meio a tantas cenas significativas, o andamento do filme e seus silêncios e enquadramentos podem incomodar alguns, mas há muita sensibilidade guardada na história da senhora que faz de tudo para que a chama da existência da terra onde pisa não venha se apagar. Terminei absorto com a última cena.
Por: Marcelo Ferreira
Um Cão Andaluz (Un Chien Andalou), 1929 – Direção de Luis Buñuel e Salvador Dalí | Nota: 5/5
Luis Buñuel mistura sádicas analogias visuais com uma edição revolucionária e mostra porque é, e deve permanecer sendo, o mestre do surrealismo no cinema.
Um Cão Andaluz faz em 16 minutos o que muitos filmes falham em fazer em duas horas: surpreender. Buñuel, junto com Salvador Dalí, cria um universo em que nada faz muito sentido, e isso é aceitável, porque, nesse universo, nada precisa fazer.
Buñuel sempre calcou seu filme em sonhos e na não realidade, muito mais aceita por ele do que a própria realidade. Ao contrário da maioria dos diretores, ele quis alienar os espectadores.
Usando técnicas revolucionárias para a época e atuais até hoje, Buñuel, junto com Dalí, criou algumas das cenas mais icônicas da história do cinema, em seu primeiro curta-metragem. Não deve haver um ser humano que não conheça a cena da nuvem cortando o céu e, em seguida, da navalha cortando o olho. Ou a cena em que começam a nascer formigas da palma da mão de um homem. Ou a cena dos burros nos pianos.
É um erro tentar entender esse filme e um erro maior ainda tentar explicá-lo. Um Cão Andaluz, um título que faz tão pouco sentido quanto o filme em si, pode ser interpretado de diversas maneiras, e, como todo filme surrealista, não há certo ou errado. O cinismo sádico que Buñuel cria é único e não deve, nunca, ser esquecido.
Por: Pedro Dib
A Idade do Ouro (L'Âge d'Or), 1930 – Dirigido por Luis Buñuel | Nota: 5/5
O filme mais ousado de Buñuel, A Idade do Ouro tem um ar documentarista único, até então, no surrealismo.
Luis Buñuel e Salvador Dalí se juntam novamente para criar algo tão genial quanto Um Cão Andaluz [1929]. Um filme mais ácido e crítico do que Cão, A Idade do Ouro não tem medo de ser direto e apontar alguns dedos.
A sinopse se existe uma no surrealismo, é de um homem e uma jovem mulher que querem muito ficar juntos, porém sempre são impedidos por algo ou alguém. Mas os primeiros minutos do filme são um documentário sobre escorpiões. Quem senta no cinema esperando um filme "romântico" e recebe isso deve, definitivamente, se surpreender.
Porém, o filme não faz mal em logo mudar o seu foco para uma quase guerra civil entre soldados/igreja e os maiorquinos. Cria-se uma história que mostra o quanto veio a influenciar John Ford e Alfred Hitchcock, mais para frente, contudo o filme não perde o tom surrealista já esperado da dupla, a essa altura.
Logo mais o filme muda de foco, desta vez focando na jovem garota que quer o homem misterioso. E aí sim temos a melhor parte da história.
O amor entre uma garota que tem tendências sadomasoquistas e um homem violento é algo quase cômico de tão inteligente. Temos, nesse período do filme, algumas das cenas mais engraçadas e também as mais críticas. Buñuel ataca a burguesia, a religião e a modernidade falando sobre sexo e morte - tabus tanto na época quanto hoje em dia.
A Idade de Ouro é definitivamente um filme à frente de seu tempo, com uma direção brilhante de Buñuel, metáforas e alusões visualmente geniais e críticas sociais e políticas sobre temas importantíssimos e cada vez mais atuais.
Por: Pedro Dib
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