Livre é um filme que se destaca não por sua história em si, mas sim pela forma como ela é contada. Sua originalidade narrativa e roteiro bem estruturado tornam a vida de Cheryl Strayed algo difícil de esquecer. O drama tem direção de Jean-Marc Vallée (Clube de Compras Dallas) e roteiro adaptado por Nick Homby (Um Grande Garoto), que transformam as memórias da jovem em uma longa viagem.
Após a morte de sua mãe, Cheryl (Reese Witherspoon) tem sua vida devastada. Para se recuperar mental e emocionalmente, ela sai em busca de uma das maiores jornadas de sua vida: andar a trilha do Pacific Crest Trail, que vai da Califórnia ao Canadá. São mais de 1700 quilômetros a percorrer, com a solidão como a sua única companhia.
São perceptíveis os contrastes que o longa traz; a beleza natural do ambiente ao lado de seu vazio existencial, onde o puro e o sujo caminham lado a lado. Esses tipos de analogias são refletidas no decorrer da trama, como quando um pouco antes de começar sua trilha, Cheryl mal consegue carregar a sua própria bagagem, tendo como reflexão não apenas o peso físico da mala, mas sim o fardo que ela carrega de seu passado.
Entre os pontos admiráveis da obra, a montagem está em primeiro lugar. Aos poucos, é possível conhecer as razões pelas quais Cheryl resolveu partir em busca dessa viagem, criando-se assim uma empatia com a personagem e despertando a curiosidade sobre sua origem. Suas lembranças são aguçadas através de flashbacks não lineares em formatos diversificados, o que revela qualidade do filme.
A noção e experiência quase zero de Strayed geram um pouco de ação à trama, mas não do tipo que vemos em filmes de heróis. A ação expõe o medo e o perigo de formas plausíveis ao nosso cotidiano, onde é criada uma identificação maior do público com a protagonista. Vale lembrar que toda essa sintonia entre a personagem e o espectador também é devida a bela atuação de Reese Witherspoon, que está em uma de suas melhores fases na carreira. Lauren Dern também não fica atrás ao fazer a Bobbi, mãe da jovem, que sempre suaviza o drama com seu senso de humor e otimismo.
Por diversas vezes, Vallé falha ao colocar músicas extremamente dramáticas para forçar a emoção na plateia, erro corriqueiro entre os dramas. Entretanto, a trama impacta ao não subestimar a inteligência do espectador, como não colocando diálogos para descrever os fatos que as imagens já falam por elas mesmas. Isso releva muito a intenção do diretor para com o público, de fazê-lo pensar e sentir baseado em suas próprias conclusões.
Livre não narra apenas a história de Cheryl Strayed, ao poucos o longa vai se transformando em uma viagem, um desafio e um momento de autoconhecimento que reflete a todos que o assistem.
“Mas eu tenho uma promessa a cumprir e quilômetros a andar antes de dormir”. - Chreyl Strayed
Por: Caroline Venco