Para quem curte um drama, este filme é um prato cheio - sem cair no melodrama, claro. "A Sun" é o típico longa-metragem que merece todos os prêmios possíveis, isso por causa da bela direção, atuação, fotografia, montagem e toda a composição técnica. Não é à toa que venceu vários prêmios no Golden Horse Award (o Oscar de Taiwan). Esta é uma película que, inicialmente, ao ver a duração, pensei: "nossa, que longo!", e fiquei curioso para saber como o diretor usaria o tempo... E acertou em cheio! A narrativa é cheia de altos e baixos complexos e maravilhosos, sem perder o fio condutor da narrativa. Nesse sentido, é importante destacar a atuação de Chien-Ho Wu: esse menino demonstra TU-DO pelo olhar. Emociona-se fácil perante à câmera, sem cair nas caras e bocas de um melodrama. Todas as vezes que esse menino aparecia na tela, os meus olhos enchiam-se de lágrimas, mesmo sabendo de sua participação na "ação inicial do filme". Enfim, belíssimo filme na sua complexidade contemplativa!
Com o seu primeiro filme, Prentice Penny alcança um nível elevado no meio de longas-metragens que só trazem o óbvio, propondo, inclusive, novidade no meio de narrativas que estão começando a se tornar repetitivas. Apesar de alguns problemas na montagem do filme - e da sombra da câmera aparecer em alguns momentos -, a narrativa se sustenta no equilíbrio da comédia e do drama, sendo, portanto, um ponto forte para esta película. A atuação de Mamoudou Athie em contraposição com a de Courtney B. Vance é muito interessante, tendo em vista que o primeiro tem uma atuação que demonstra um mix de emoções, enquanto o último propõe um trabalho mais comedido. Entre os dois, temos a incrível Niecy Nash num ótimo papel - apesar de deixar um gostinho de "quero mais". É muito bom como a história constrói a relação do pai e filho, fazendo com que sintamos empatia por ambos. Nesse sentido, em muitas cenas cujos atores encontram-se juntos, o espectador se delicia e, ao mesmo tempo, se emociona por causa da entrega - não exagerada - de Vance e Athie. O fim do filme pode não agradar muitos, mas, infelizmente, para nós, negros, é exatamente aquilo
temos que, reitero, infelizmente, nos esforçarmos duas vezes mais para conseguirmos o nosso objetivo. Não é fácil quando a gente vem de uma família que não está inserida na elite, e que, portanto, não tivemos acesso a uma ótima educação enquanto criança. Isso impacta em diversas situações, basta realizar algumas leituras que passarão a entender. Com isso, vemos no filme o personagem branco cômico que passou o longa-metragem inteiro errando as questões sobre os vinhos, mas, no final, foi aprovado como sommelier, enquanto o protagonista não conseguiu e terá que tentar novamente. Pura e simples realidade, infelizmente. Não querendo generalizar, mas na maioria dos casos... Além disso, há outros assuntos embutidos, como por exemplo: quantos sommelieres negros vemos em comparação com os brancos? Enfim, o filme permite muitas questões e reflexões.
Desta maneira, para um primeiro longa-metragem, Prentice está de parabéns. Com certeza, ainda ouviremos falar muito nesse diretor.
Difícil continuar o filme após os primeiros longos minutos de discursos de ódio gratuitos. Sendo negro, fiquei bem incomodado com a forma que o diretor conduziu o início do filme. Entendo o que ele quis mostrar e toda a narrativa de redenção proposta no roteiro, mas isso causa um estranhamento muito grande para o espectador, sobretudo para quem é negro. Em nenhum momento, por exemplo, consegui ter empatia pelo personagem de Jamie Bell, pelo contrário, desejei o fim dele do início ao fim. Muito bacana o filme ser baseado em fatos reais, e, assim como propõe, eu acredito, sim, na mudança, afinal de contas, somos seres mutáveis e, obviamente, complexos. Nesse sentido, acho bem interessante pessoas como Bryon Widner que conseguiram mudar ao longo da vida. Entretanto, a narrativa do filme é problemática. Talvez se o personagem Daryle Lamont fosse mais trabalhado a fim de ser um contraponto na história, "Skin" seria um filme para ser indicado. Portanto, após as duas horas, tenho a absoluta certeza de que não indicarei este longa-metragem para ninguém, tendo em vista que há outras narrativas cujo tema é bem trabalhado. Ps1: Que fotografia belíssima! A24 nunca decepciona nesse quesito; Ps2: Danielle Macdonald e Vera Farmiga estão incríveis!
Gaspar Noé encontra a beleza no caos, na destruição. Este filme é praticamente uma ode à vida e à morte, dividido, inclusive, em duas partes: primeiramente, vemos o hedonismo; em segundo lugar, a descida ao inferno. É interessante que, antes do filme de fato começar o seu clímax, enquanto os personagens estão "conscientes", eles revelam aos amigos mais próximos sobre os desejos que estão na cabeça deles. Desejos reprimíveis porque, obviamente, não são aceitos pela sociedade (por exemplo, a conversa horrível dos dois amigos que revelam um lado estuprador). A partir do momento em que entram em contato com a sangria "batizada", a droga faz com que a "porta do inconsciente" seja aberta, e os desejos, até então recalcados, saltem para fora, iniciando o caos. O segundo ato do filme trabalha a imagem deste inferno cuja sociedade ocidental tem em mente; ademais, arquétipos dos sete pecados capitais são constantemente operados nos personagens, sem falar nos gritos constantes de horror que fazem parte do clímax. Por fim, concordo com uma crítica que cheguei a ler que a câmera final, que está filmando de cima, é como se fosse "Deus" (tendo em vista o jogo bíblico que o filme permite) e o mundo vendo o resultado de uma destruição do próprio ser humano consigo mesmo. "Clímax" não é um filme fácil. Tem muita simbologia, significados, entrelinhas, silêncios. O espectador que não está acostumado com esse tipo de filme, sobretudo ser perturbado com o que vê na tela, com certeza rejeitará esta película, o que é triste, pois estamos diante de um longa-metragem que abre portas para muitas discussões e estudos acerca do ser humano e sua complexidade de viver - afinal de contas (reescrevo, aqui, uma parte do filme): "Viver é uma impossibilidade coletiva".
Eu quis assistir este filme por causa de Margot Robbie. Ela não é apenas mais um rostinho bonito de Hollywood. Não. Margot é uma grande atriz e merece reconhecimento por isso ("I, Tonya" está aí para comprovar). Por ela ter uma entrega muito grande nos personagens que faz, é um prazer vê-la como Harley Quinn. No entanto, o longa-metragem fracassa, mas não sabota a grande Margot. De fato, é um filme fraco cujas cenas de ação não são bem feitas, com exceção do clímax que é bem coreografado. "Aves de Rapina: Arlequina e sua Emancipação Fantabulosa" tinha todos os ingredientes para ser um filme extraordinário: direção de Cathy Yan; Margot Robbie, Jurnee Smollett-Bell e Rosie Perez no elenco; porém, a história fracassa. Tirando algumas sacadas muito boas do roteiro, o filme não convence e fica sendo mais um "sessão da tarde". Uma pena!
Ps: Que tenhamos mais filmes com protagonistas femininas fortes dirigidas por mulheres, isso é maravilhoso!!
Um filme cru que entra em contato diretamente com a nossa alma. De acordo com o Dalenogare (ótimo crítico que tem um canal no youtube), "Luta por Justiça", infelizmente, não teve tanto reconhecimento por causa da distribuidora que não enviou os "screeners" no período determinado para os críticos, resultando na "não apreciação" do filme por parte da crítica. Se fosse diferente, com certeza teríamos tido esta película no Oscar e em outras premiações. Apesar disso, temos um filme baseado em fatos reais cuja discussão pauta-se neste sistema carcerário ultrapassado e injusto que abriga (ironia) muitos inocentes simplesmente por serem negros. Logo de início, somos impactados com a INCRÍVEL performance de J. Alphonse Nicholson. Passagem rápida no filme, mas poderosa! Tive que ver a pequena cena dele várias vezes, pois há uma grande entrega nos poucos minutos; sem falar na atuação de Rob Morgan! Ele fez uma construção de personagem tão boa que me levava às lágrimas logo em que começava alguma cena. Além de outros, grande destaque para Jamie Foxx que está num trabalho inspirador. Com certeza teria indicações na temporada de premiações. Para finalizar esse tópico de atuação, vale a pena, com certeza, trazer um grande destaque para Michael B. Jordan. Eu estava aguardando um filme dele assim, onde o que importa é apenas a atuação dele. Sabemos que em outros filmes, mesmo com o ótimo trabalho do ator, acabam usando - e abusando - da beleza e do corpo malhado (Pantera Negra e Creed estão aí para confirmar). Neste longa-metragem, apesar de ter uma cena em que ele fica "nu", notamos que o foco ali não é para apenas mostrar o belo corpo do ator, mas para mostrar a humilhação do personagem diante do contexto que o filme pede. Logo, ver o Michael B. Jordan tendo que mostrar apenas o seu trabalho é uma alegria, pois, assim, as pessoas param um pouco de sexualizar este corpo negro e prestam atenção no ótimo trabalho que ele tem a oferecer! Numa atuação comedida, ele sabe o momento que tem que "estourar", segurar, demonstrar um leve sorriso ou apoio, mesmo que seja apenas com os olhos. Belíssimo trabalho! Encerro este comentário parabenizando, também, a fotografia, trilha sonora e, sobretudo, a montagem, pois foram grandes pilares para deixar este filme num nível elevado.
Ótimo filme com uma crítica social incrível! O final "super" aberto me incomodou um pouco, mas foi muito bom, porque permite uma interpretação diferente para cada espectador. O roteiro me impressionou bastante, inclusive, acho que é o ponto mais alto desta película.
Filme maravilhoso cuja dupla Isabél Zuaa e Marjorie Estiano expõem uma atuação comedida na primeira parte do filme - um nível complicado de atuação, e que, por isso, merece um grande reconhecimento. Assim como muitos conseguem notar, praticamente há dois filmes em um: a maioria é fã da primeira parte porque tem uma atmosfera misteriosa, e o silêncio é extremamente importante; no entanto, acho que poderíamos ter um olhar mais complacente para a segunda parte do filme que contêm muitas críticas sociais - sobretudo ao entrelaçar o moralismo patético das pessoas e a São Paulo contemporânea (imagem e palavra muito bem relacionada, para citar um filme de Jean-Luc Godard). É importantíssimo um filme como "As Boas Maneiras" que trabalha o tema da homossexualidade sem cair no clichê ou no "estranhamento". A relação das duas personagens é extremamente linda, sensual e, novamente, misteriosa, criando uma ótima ligação com o espectador. Gostei muito da personagem de Isabel na segunda parte do filme, pois teve a linguagem mais explorada, já que antes o silêncio era prioridade. Desse modo, nota-se a dicotomia "patroa x empregada" trabalhada no filme. Para finalizar, os efeitos especiais foram bem realizados - o que falar do bebê recém-nascido? Que belo efeito! -, e a montagem do filme apoia totalmente o roteiro para prender o espectador. A hipocrisia do ser humano diante da diferença contempla a barbárie posta nos últimos segundos desta belíssima película.
"Por lugares incríveis" é o típico filme que tem tudo para ser um grande filme, mas fica fraco porque a direção e o roteiro não ajudam. É compreensível que esta película foi feita para atingir, sobretudo, os adolescentes, logo, não poderiam pesar muito nos assuntos abordados no filme -
inclusive achei bem interessante não terem mostrado a morte da irmã de Violet, e nem a morte do Theodore
. No entanto, os temas são importantes, ainda mais para esta juventude inserida nesta modernidade líquida cuja depressão e experiências traumáticas estão muito presentes. Nesse sentido, este longa-metragem peca muito ao tratar os assuntos de forma banal e rasa. Daria para ter uma boa discussão entre estes adolescentes que estão precisando de filmes assim cuja identificação será maior, e não transformá-lo em "romancezinho". Além disso, a construção de personagem da Elle Fanning, como Violet, não é interessante. É praticamente impossível o público sentir empatia com a personagem, tendo em vista que a atriz (e a direção) exploraram um lado em que é impossível acessarmos os seus sentimentos e pensamentos. Em contrapartida, dá para ter empatia com o personagem do Justice Smith - que está num ótimo trabalho -. Inclusive sentimos vontade de saber mais sobre o personagem. Poderiam ter explorado um pouco mais o Theodore, pois ele tem, sim, muita força, porém, acabou sendo desperdiçada. Por fim, além da montagem do filme também contribuir para um lado negativo, a personagem Amanda é totalmente descartável nesta película. Ela poderia não existir no filme ou terem explorado um pouco mais sobre ela. A personagem apenas rouba tempo de tela, deixando o roteiro mais engasgado do que já é (ps: uma amiga minha que leu o livro disse que ela é bem importante na narrativa. Logo, poderiam ter dado mais "pano pra manga" da Amanda, ou simplesmente tê-la descartado).
Todo o amor possível e gratidão às atrizes Oulaya Amamra, Déborah Lukumuena e Jisca Kalvanda, e à diretora Houda Benyamina. Que mulheres!! As performances dessas mulheres são extremamente potentes! Seja no ponto comediante (Lukumuena); seja no drama (Amamra); seja na agressividade (Kalvanda); seja na hibridização dessas três forças quando se juntam e explodem - literalmente - a cena. A direção de Benyamina é assustadoramente impecável! Há um olhar tão humano na amizade de Dounia e Maimouna que nos toca só em ver as atrizes na tela. Por um momento, achei que o longa-metragem fosse para o lado romântico após a entrada de Djigui, interpretado muito bem por Kevin Mishel. Porém, felizmente, é só mais uma história no filme - e uma história solta, que, caso tirasse, não faria falta. Confesso que no final me deu uma vontade de saber o que aconteceria com Djigui, pois, afinal de contas, a química entre Kevin e Oulaya é de tirar o chapéu, sobretudo na "cena corporal" que é extremamente linda!! Há uns takes que foram, na minha opinião, infelizmente, desperdiçados, como por exemplo na apresentação de dança de Djigui. Ao iniciar, há uma fotografia belíssima que deveria ser aproveitada, mas, claro, é deixada de lado porque o foco não é ele, mas a outra personagem. Esta película me deu várias sensações, e sou grato por "Divines" existir. Como espectador, devemos nos deixar levar pela narrativa. Entrar de cabeça com estas personagens e sentir a história. Veremos, por fim, que cada aparição neste filme tem um significado e é dotada de potência, haja vista as personagens Mounsier Camara (do maravilhoso Bass Dhem), Samir (do incrível Yasin Houicha), da interpretação magnífica - de poucos minutos - de Farid Larbi dando vida ao Reda, e da excepcional Majdouline Idrissi dando vida à Myriam.
Alden Knight e Verónica Lynn, que dupla! Este filme entrelaça muito bem o período crítico de Cuba com a história dos personagens. Além disso, voltam a se enxergar por meio de um instrumento. É como se a vida voltasse. Há um renascimento, e acompanhamos toda a vida disso: este renascimento, o amadurecimento, conflitos, ápice, maturidade e morte - sim, de ambos, não só de um. Morte tanto no plano real quanto no metafísico. Verónica e Alden entregam tudo de si para estes personagens. Acho impossível o espectador não ser tocado por estas histórias. E que direção incrível de Jhonny Hendrix Hinestroza! Ótimo filme!
Assisti este filme por causa de Félix Maritaud. Gosto muito dos trabalhos dele - apesar de sempre ver características em comum nos personagens que ele pega. Espero que ele não seja colocado numa "caixinha". Jonas é um filme interessante, mas o roteiro não é muito bom. Daria, sim, para ter uma história mais profunda, e, por fim, quem sabe, descobrirmos o que aconteceu com Nathan. Prefiro que os filmes terminem desta forma: sem final feliz. A reflexão acaba sendo maior. No entanto, para Jonas, acho que Nathan poderia ter voltado, não digo vivo ou para um final feliz, mas para não deixar o filme ser "só o que é".
Eu sou fã dos filmes do leste asiático!! "Rastros de um Sequestro" parece, de início, ser só mais um filme no meio de tantos, mas vai para um lado extremamente incrível, mexendo com as emoções do espectador. O diretor Jang Hang-jun traz um trabalho maravilhoso. Coloco este filme em contraste com "Fratura", filme americano de Brad Anderson. Ambas as películas trabalham, de certa forma, com o mesmo assunto. No entanto, Anderson faz um filme que acaba sendo só mais um no meio de uma massa de filme "psicológico". Já Jang Hang-jun traz muitas camadas para o longa-metragem e vai desmembrando-as de uma forma excepcional. E note: essas camadas não são soltas ou fechadas em si, pelo contrário, elas têm um fio condutor que fazem uma ligação inteligente entre o fim e o início do longa-metragem, ou, em outras palavras, entre o "início de vida" dos personagens protagonistas com o fim/morte. É importante salientar que tanto a família de Jin-seok, interpretado pelo incrível Kang Ha-neul, e a de Yoo-seok, interpretado pelo Kim Mu-yeol,
não deixam histórias para futuras gerações. As duas famílias são compostas por quatro membros, e todos morrem. O ciclo é fechado. As ligações são finalizadas. Logo, o fardo carregado pelos protagonistas, entrelaçados há muito tempo, é encerrado.
Vale a pena comentar sobre o péssimo título traduzido para o Brasil: logo de início, eu "adivinhei" qual seria a história - e consegui isso por causa do título do filme que traz, sim, um grande spoiler, basta pensar. Desta maneira, quando indico este filme para alguém, eu simplesmente falo: "ignore o título, apenas". Não sei como ficaria do coreano para o português, mas espero que o título original não revele nada do filme como o traduzido. Felizmente, a película não é só o que pode ser adivinhado, já que acaba indo para um outro caminho, dando a possibilidade de dizermos que é como se fossem dois filmes em um.
A diretora Sudabeh Mortezai acertou em cheio com esse filme. O roteiro é excepcional ao trazer discussões importantes e de forma não-didática. O silêncio que impera traz um desconforto para aquele que assiste, por isso, ponto positivo! Toda a tensão e sentimento que ronda a personagem de Joy Alphonsus é colocada no olhar da atriz. Carregar várias sensações e sentimentos só com o olhar não é fácil, e a atriz está de parabéns! Há muito assunto colocado no longa-metragem, mas as pontas não ficam soltas e superficiais, pelo contrário, propõe questionamentos e aprofunda a discussão que é o fio condutor do filme. É muito interessante esta visão que as pessoas têm de que a Europa é incrível e tudo dá certo lá. Não. As coisas não são bem assim, e o choque cultural - e decepção das personagens - colocado no filme gera impacto nas pessoas que assistem. Encerro este comentário dizendo que esta película mexeu muito comigo e vou levar um bom tempo para digeri-la.
Esta película de Julien Rambaldi é gostosa de assistir, mas podemos, sim, trazer críticas que faz do próprio roteiro um pouco fraco. Eu, como um rapaz negro e pesquisador sobre o tema da "Negritude", me incomodei com alguns caminhos que o filme tomou. Sei que é baseado numa história real, porém, devemos lembrar que um longa-metragem desse estilo também é feito para impactar e emocionar o público. Acho bem importante este filme para discutirmos a respeito de "fronteiras culturais" e sobre o "Outro", isto é, o diferente no meio de uma massa homogênea. Podemos começar com a ótima colocação do filme a respeito dos corpos negros na cidade dos moradores brancos: o corpo como exótico. Há estudos que mostram exatamente esse assunto: o corpo negro é performer, ou seja, basta uma pessoa negra estar na rua com o seu "black" armado e suas roupas, que todxs (leia-se: branques) acabam olhando para esta pessoa; basta uma mulher negra aparecer com lindas tranças que todos (branques) colocam os olhos nela; basta um rapaz com suas características e estilo negroides assumidos para o entorno fixar os olhos... Com isso, é muito interessante o filme colocar o impacto da chegada das crianças na escola. E, sim, infelizmente, na sociedade em que vivemos (e que compartilhamos muitas características com a francesa), o negro tem que se esforçar três vezes mais do que o branco, e isso não é romantizar (como eu vi numa crítica a respeito deste filme), senão a realidade. A ponta comediante do filme colocada na personagem de Aïssa Maïga é excepcionalmente incrível! Essa atriz passa da comédia para o drama com uma facilidade poderosa! O que me incomoda no filme, mais para o final, é que as personalidades dos personagens brancos mudam de forma muito rápida. Poderiam se aprofundar mais em certas histórias a fim de propor um caminho mais interessante para as mudanças, afinal de contas, ninguém é 100% ruim ou bom. Somos seres complexos, e, com isso, o maniqueísmo proposto no filme acaba incomodando um pouco, perdendo uma ótima discussão que o filme poderia tomar. Apesar disso, o filme é bem importante para certos debates a respeito do racismo, dos choques culturais e da insistência do "Outro" tentar ser igual àquele que é o opressor - a fim de sair de seu papel de oprimido.
Um filme interessante, mas nada além disso. "Fratura" brinca bem com o espectador, mas não traz novidades. De fato, ora acreditamos no protagonista, ora acreditamos no entorno. Entretanto, o filme não traz novidade (se virem "Rastros de um sequestro", filme sul coreano de Jang Hang-jun, entenderão o que estou querendo dizer) e termina bem morno, apesar da ótima fotografia final. Atuações boas, apesar de não curtir tanto o trabalho de Sam Worthington. Lily Rabe, como sempre maravilhosa, deu um colorido especial para o filme. Nesta película, para finalizar o comentário, há, inclusive, leves erros de continuação e uma cena que não poderia ir para o filme: fica muito explícito o boneco caindo no chão no lugar da criança. Apesar disso, é um filme bom.
Kwabena Gyansah traz uma boa direção para este longa-metragem. Há muitas discussões propostas neste universo de Gana. Discussões importantes, mas que alguns pontos acabam não sendo aproveitados. Apesar disso, há uma ótima construção das cenas para o clímax do filme, fazendo o espectador ficar assustado com a revelação da gravidez da personagem principal. É compreensível alguns erros de montagem e algumas atuações, haja vista que parece que o filme foi realizado com pouco orçamento. Isso não tira o brilho e a importância de "Azali". Desta maneira, vejo que um dos pontos negativos do filme é o uso excessivo das músicas, pois foram colocadas uma atrás da outra, e, em muitas cenas, a sensação proposta é contraditória (há uma cena que seria de tensão quando os jovens fogem num caminhão, mas a música é totalmente alegre). Akofa Edjeani Asiedu está maravilhosa neste filme! E, por fim, Asana Alhassan carrega toda a tensão dramática de sua personagem no olhar. Por mais atuações como as delas!
"Um dia pode se tornar dez mil anos". Que película bonita! Acho que é o primeiro filme que eu vejo de Taiwan, e confesso que fiquei impressionado. Fotografia excepcional, direção de arte maravilhosa e atuações muito boas. Falando nisso, Roy Chiu tem um personagem muito bem construído, entregando, dessa forma, todas as sensações possíveis que um ser humano pode ter (virei fã desse cara!). Em contrapartida, apesar de Hsieh Ying-Hsuan ter ganhado o prêmio de melhor atriz no Cavalo de Ouro por este filme, acho que ela teve muitos momentos de "histeria", demonstrando uma atuação um tanto quanto forçada em certos momentos. Porém, não tiro o mérito da atriz, porque ela concentra uma emoção muito forte na personagem. Acho interessante, também, a atuação de Joseph Huang. Noto que ele demonstra muitas sensações só com o olhar, e isso é importante. Ademais, a história poderia ter se tornado algo meio "sessão da tarde", mas vai para um caminho muito bom, mexendo com as emoções do espectador que não espera o fim do filme. Para encerrar este comentário, é importante salientar que as artes propostas na primeira parte do filme somem com muita rapidez ao longo da película, deixando de praticamente existir. Acho que poderiam ter aproveitado os desenhos ao longo do longa-metragem como um todo. Já sou mais um fã da direção de Mag Hsu e Chih-Yen Hsu, e, portanto, estou aguardando mais um filme dessa dupla.
"Eu acredito em vocês. Vocês são o futuro da França." - É com esta fala do assistente social que inicio esta crítica. A sensibilidade está presente em toda a película: da fotografia ao roteiro; dos personagens às expressões dos atores. Dessa forma, a atuação extremamente sensível de MHD toca no íntimo do espectador, assim como a atuação explosiva de Darren Muselet, uma vez que a fúria proposta está apenas na superfície tentando esconder um lado humano que nos emociona. Nesse sentido, o longa-metragem de Julien Abraham é um grito do início ao fim: as discussões políticas, sociais, culturais, raciais e afins são colocadas no filme não superficialmente, mas de forma tão inteligente que é impossível ficar inerte às injustiças impostas aos jovens marginalizados pela sociedade francesa. Estes "jovens transparentes" da França, portanto, estendem-se aos jovens brasileiros e além, porque sabemos que eles não têm direito de fala e são assustadoramente ignorados pelas sociedades. Cada personagem carrega uma história que provoca uma fúria nestes jovens. Não que isso justifique os atos criminais deles, porém, o olhar humano que somos "obrigados" a lançar para entendê-los faz com que fujamos das polaridades bom-mau; mocinho-vilão; deus-diabo. O nosso mundo é muito mais do que as binariedades determinadas, e estes personagens, extremamente profundos, são desenvolvidos para podermos ampliar a discussão sobre a complexidade do ser humano e sua mente perante às adversidades do mundo contemporâneo.
Mais um filme de guerra em que a humanização dos personagens fica concentrada apenas nos americanos. Engraçado, inclusive, o filme ser dedicado aos marinheiros japoneses, sendo que eles não são humanizados e não conhecemos as histórias de seus personagens. Apesar disso, as cenas de batalhas são muito bem feitas e empolgantes, prendendo, de certa forma, as pessoas que assistem. O ponto alto da película é a fotografia. Infelizmente, há um exagero no uso das músicas, sobretudo nos momentos melancólicos. É um filme interessante de ser visto, mas é só mais um no meio de tantos. É importante ressaltar a boa atuação de Ed Skrein. O roteiro não deixa o ator brincar mais com o personagem - e deixa o filme bem arrastado depois da primeira cena de ação até o clímax. Todavia, há uma ótima interpretação - com um ponto negativo, novamente, para o roteiro que faz o personagem ter uma mudança rápida de personalidade. Para finalizar, Darren Chriss, um dos grandes atores da nova geração, foi totalmente descartado neste filme. Uma pena!
Um filme crítico, político, do jeito que só Bong Joon-ho sabe fazer. "O Hospedeiro" prende o público do início ao fim - claro que se você se deixar levar pela narrativa, será prendido. Em contrapartida, quem assiste nos dias atuais pode estranhar os efeitos especiais do filme. Porém, ao assistirmos um filme "antigo", temos que levar em conta o ano de lançamento e não ficar se prendendo a detalhes bobos. Este filme, para mim, é como se fosse um prelúdio do que viria a ser "Parasita". As críticas sociais são fortes e mostra o que o ser humano é capaz de fazer quando se trata de poder ($). Esta película coloca o "dedo na ferida" e deixa muitas reflexões além-filme, um pouco diferente, por exemplo, de "Okja", longa-metragem que termina, de certa forma, com um final feliz, tendo a possibilidade, inclusive, de perpetuação da espécie daquele porco gigante. Há uma grande esperança àqueles que assistem. Logo, considero "O Hospedeiro" tão marcante quanto "Parasita" - claro que esse último é o ponto alto do diretor.
"O desejo liberta o que o destino aprisiona". "A História da Eternidade", filme impactante de Camilo Cavalcante, traz, para o espectador, um movimento catártico. Por meio de três partes, somos capazes de ser levados a um estado íntimo por causa de uma narrativa poética, difícil, aconchegante e provocadora. A direção de arte de Julia Tiemann em conjunto com a fotografia de Beto Martins resulta em uma mundo que está além-filme. Desta maneira, aquele/a que assite é transportado para este sertão que está dentro de nós. Estes quatro bodes, aludindo à segunda parte do filme, interpretados por Irandhir Santos, Débora Ingrid, Zezita de Matos e Cláudio Jaborandy encontram o seu ápice quando desapontam numa derrocada. Em contrapartida, a personagem de Marcélia Cartaxo, que começa o longa-metragem num luto, acaba se entregando para uma renovação, fugindo, de certa forma, da tradição, assim como as outras duas personagens femininas. Atuações bem equilibradas e potentes, sobretudo a de Irandhir Santos, o nosso camaleão da arte de interpretar. O ponto negativo do filme é a interpretação do ator Maxwell Nascimento. Em contraposição às atuações grandiosas que temos no filme, ele soa um tanto quanto amador nos seus maneirismos estereotipados (mesmo que isso acabe caindo em um pleonasmo). A poética rica de Camilo Cavalcante encanta quem assiste, pelo menos é o que se espera, e faz com que o público visualize o mar ao fim do filme. Para finalizar, junto ao jogo de luz e sombra riquíssimo na obra, os olhares e silêncios são importantes para a película. Entregue-se ao filme e tenha todos os sentimentos atacando você de forma eterna.
A Sun
4.0 65Para quem curte um drama, este filme é um prato cheio - sem cair no melodrama, claro. "A Sun" é o típico longa-metragem que merece todos os prêmios possíveis, isso por causa da bela direção, atuação, fotografia, montagem e toda a composição técnica. Não é à toa que venceu vários prêmios no Golden Horse Award (o Oscar de Taiwan). Esta é uma película que, inicialmente, ao ver a duração, pensei: "nossa, que longo!", e fiquei curioso para saber como o diretor usaria o tempo... E acertou em cheio! A narrativa é cheia de altos e baixos complexos e maravilhosos, sem perder o fio condutor da narrativa. Nesse sentido, é importante destacar a atuação de Chien-Ho Wu: esse menino demonstra TU-DO pelo olhar. Emociona-se fácil perante à câmera, sem cair nas caras e bocas de um melodrama. Todas as vezes que esse menino aparecia na tela, os meus olhos enchiam-se de lágrimas, mesmo sabendo de sua participação na "ação inicial do filme". Enfim, belíssimo filme na sua complexidade contemplativa!
Notas de Rebeldia
3.3 29 Assista AgoraCom o seu primeiro filme, Prentice Penny alcança um nível elevado no meio de longas-metragens que só trazem o óbvio, propondo, inclusive, novidade no meio de narrativas que estão começando a se tornar repetitivas. Apesar de alguns problemas na montagem do filme - e da sombra da câmera aparecer em alguns momentos -, a narrativa se sustenta no equilíbrio da comédia e do drama, sendo, portanto, um ponto forte para esta película. A atuação de Mamoudou Athie em contraposição com a de Courtney B. Vance é muito interessante, tendo em vista que o primeiro tem uma atuação que demonstra um mix de emoções, enquanto o último propõe um trabalho mais comedido. Entre os dois, temos a incrível Niecy Nash num ótimo papel - apesar de deixar um gostinho de "quero mais". É muito bom como a história constrói a relação do pai e filho, fazendo com que sintamos empatia por ambos. Nesse sentido, em muitas cenas cujos atores encontram-se juntos, o espectador se delicia e, ao mesmo tempo, se emociona por causa da entrega - não exagerada - de Vance e Athie. O fim do filme pode não agradar muitos, mas, infelizmente, para nós, negros, é exatamente aquilo
temos que, reitero, infelizmente, nos esforçarmos duas vezes mais para conseguirmos o nosso objetivo. Não é fácil quando a gente vem de uma família que não está inserida na elite, e que, portanto, não tivemos acesso a uma ótima educação enquanto criança. Isso impacta em diversas situações, basta realizar algumas leituras que passarão a entender. Com isso, vemos no filme o personagem branco cômico que passou o longa-metragem inteiro errando as questões sobre os vinhos, mas, no final, foi aprovado como sommelier, enquanto o protagonista não conseguiu e terá que tentar novamente. Pura e simples realidade, infelizmente. Não querendo generalizar, mas na maioria dos casos... Além disso, há outros assuntos embutidos, como por exemplo: quantos sommelieres negros vemos em comparação com os brancos? Enfim, o filme permite muitas questões e reflexões.
Desta maneira, para um primeiro longa-metragem, Prentice está de parabéns. Com certeza, ainda ouviremos falar muito nesse diretor.
Skin: À Flor da Pele
3.7 88Difícil continuar o filme após os primeiros longos minutos de discursos de ódio gratuitos. Sendo negro, fiquei bem incomodado com a forma que o diretor conduziu o início do filme. Entendo o que ele quis mostrar e toda a narrativa de redenção proposta no roteiro, mas isso causa um estranhamento muito grande para o espectador, sobretudo para quem é negro. Em nenhum momento, por exemplo, consegui ter empatia pelo personagem de Jamie Bell, pelo contrário, desejei o fim dele do início ao fim. Muito bacana o filme ser baseado em fatos reais, e, assim como propõe, eu acredito, sim, na mudança, afinal de contas, somos seres mutáveis e, obviamente, complexos. Nesse sentido, acho bem interessante pessoas como Bryon Widner que conseguiram mudar ao longo da vida. Entretanto, a narrativa do filme é problemática. Talvez se o personagem Daryle Lamont fosse mais trabalhado a fim de ser um contraponto na história, "Skin" seria um filme para ser indicado. Portanto, após as duas horas, tenho a absoluta certeza de que não indicarei este longa-metragem para ninguém, tendo em vista que há outras narrativas cujo tema é bem trabalhado.
Ps1: Que fotografia belíssima! A24 nunca decepciona nesse quesito;
Ps2: Danielle Macdonald e Vera Farmiga estão incríveis!
Clímax
3.6 1,1K Assista AgoraGaspar Noé encontra a beleza no caos, na destruição. Este filme é praticamente uma ode à vida e à morte, dividido, inclusive, em duas partes: primeiramente, vemos o hedonismo; em segundo lugar, a descida ao inferno. É interessante que, antes do filme de fato começar o seu clímax, enquanto os personagens estão "conscientes", eles revelam aos amigos mais próximos sobre os desejos que estão na cabeça deles. Desejos reprimíveis porque, obviamente, não são aceitos pela sociedade (por exemplo, a conversa horrível dos dois amigos que revelam um lado estuprador). A partir do momento em que entram em contato com a sangria "batizada", a droga faz com que a "porta do inconsciente" seja aberta, e os desejos, até então recalcados, saltem para fora, iniciando o caos. O segundo ato do filme trabalha a imagem deste inferno cuja sociedade ocidental tem em mente; ademais, arquétipos dos sete pecados capitais são constantemente operados nos personagens, sem falar nos gritos constantes de horror que fazem parte do clímax. Por fim, concordo com uma crítica que cheguei a ler que a câmera final, que está filmando de cima, é como se fosse "Deus" (tendo em vista o jogo bíblico que o filme permite) e o mundo vendo o resultado de uma destruição do próprio ser humano consigo mesmo. "Clímax" não é um filme fácil. Tem muita simbologia, significados, entrelinhas, silêncios. O espectador que não está acostumado com esse tipo de filme, sobretudo ser perturbado com o que vê na tela, com certeza rejeitará esta película, o que é triste, pois estamos diante de um longa-metragem que abre portas para muitas discussões e estudos acerca do ser humano e sua complexidade de viver - afinal de contas (reescrevo, aqui, uma parte do filme): "Viver é uma impossibilidade coletiva".
Aves de Rapina: Arlequina e sua Emancipação Fantabulosa
3.4 1,4KEu quis assistir este filme por causa de Margot Robbie. Ela não é apenas mais um rostinho bonito de Hollywood. Não. Margot é uma grande atriz e merece reconhecimento por isso ("I, Tonya" está aí para comprovar). Por ela ter uma entrega muito grande nos personagens que faz, é um prazer vê-la como Harley Quinn. No entanto, o longa-metragem fracassa, mas não sabota a grande Margot. De fato, é um filme fraco cujas cenas de ação não são bem feitas, com exceção do clímax que é bem coreografado. "Aves de Rapina: Arlequina e sua Emancipação Fantabulosa" tinha todos os ingredientes para ser um filme extraordinário: direção de Cathy Yan; Margot Robbie, Jurnee Smollett-Bell e Rosie Perez no elenco; porém, a história fracassa. Tirando algumas sacadas muito boas do roteiro, o filme não convence e fica sendo mais um "sessão da tarde". Uma pena!
Ps: Que tenhamos mais filmes com protagonistas femininas fortes dirigidas por mulheres, isso é maravilhoso!!
Luta Por Justiça
4.2 250 Assista AgoraUm filme cru que entra em contato diretamente com a nossa alma. De acordo com o Dalenogare (ótimo crítico que tem um canal no youtube), "Luta por Justiça", infelizmente, não teve tanto reconhecimento por causa da distribuidora que não enviou os "screeners" no período determinado para os críticos, resultando na "não apreciação" do filme por parte da crítica. Se fosse diferente, com certeza teríamos tido esta película no Oscar e em outras premiações. Apesar disso, temos um filme baseado em fatos reais cuja discussão pauta-se neste sistema carcerário ultrapassado e injusto que abriga (ironia) muitos inocentes simplesmente por serem negros. Logo de início, somos impactados com a INCRÍVEL performance de J. Alphonse Nicholson. Passagem rápida no filme, mas poderosa! Tive que ver a pequena cena dele várias vezes, pois há uma grande entrega nos poucos minutos; sem falar na atuação de Rob Morgan! Ele fez uma construção de personagem tão boa que me levava às lágrimas logo em que começava alguma cena. Além de outros, grande destaque para Jamie Foxx que está num trabalho inspirador. Com certeza teria indicações na temporada de premiações. Para finalizar esse tópico de atuação, vale a pena, com certeza, trazer um grande destaque para Michael B. Jordan. Eu estava aguardando um filme dele assim, onde o que importa é apenas a atuação dele. Sabemos que em outros filmes, mesmo com o ótimo trabalho do ator, acabam usando - e abusando - da beleza e do corpo malhado (Pantera Negra e Creed estão aí para confirmar). Neste longa-metragem, apesar de ter uma cena em que ele fica "nu", notamos que o foco ali não é para apenas mostrar o belo corpo do ator, mas para mostrar a humilhação do personagem diante do contexto que o filme pede. Logo, ver o Michael B. Jordan tendo que mostrar apenas o seu trabalho é uma alegria, pois, assim, as pessoas param um pouco de sexualizar este corpo negro e prestam atenção no ótimo trabalho que ele tem a oferecer! Numa atuação comedida, ele sabe o momento que tem que "estourar", segurar, demonstrar um leve sorriso ou apoio, mesmo que seja apenas com os olhos. Belíssimo trabalho! Encerro este comentário parabenizando, também, a fotografia, trilha sonora e, sobretudo, a montagem, pois foram grandes pilares para deixar este filme num nível elevado.
O Poço
3.7 2,1K Assista AgoraÓtimo filme com uma crítica social incrível! O final "super" aberto me incomodou um pouco, mas foi muito bom, porque permite uma interpretação diferente para cada espectador. O roteiro me impressionou bastante, inclusive, acho que é o ponto mais alto desta película.
As Boas Maneiras
3.5 647 Assista AgoraFilme maravilhoso cuja dupla Isabél Zuaa e Marjorie Estiano expõem uma atuação comedida na primeira parte do filme - um nível complicado de atuação, e que, por isso, merece um grande reconhecimento. Assim como muitos conseguem notar, praticamente há dois filmes em um: a maioria é fã da primeira parte porque tem uma atmosfera misteriosa, e o silêncio é extremamente importante; no entanto, acho que poderíamos ter um olhar mais complacente para a segunda parte do filme que contêm muitas críticas sociais - sobretudo ao entrelaçar o moralismo patético das pessoas e a São Paulo contemporânea (imagem e palavra muito bem relacionada, para citar um filme de Jean-Luc Godard). É importantíssimo um filme como "As Boas Maneiras" que trabalha o tema da homossexualidade sem cair no clichê ou no "estranhamento". A relação das duas personagens é extremamente linda, sensual e, novamente, misteriosa, criando uma ótima ligação com o espectador. Gostei muito da personagem de Isabel na segunda parte do filme, pois teve a linguagem mais explorada, já que antes o silêncio era prioridade. Desse modo, nota-se a dicotomia "patroa x empregada" trabalhada no filme. Para finalizar, os efeitos especiais foram bem realizados - o que falar do bebê recém-nascido? Que belo efeito! -, e a montagem do filme apoia totalmente o roteiro para prender o espectador. A hipocrisia do ser humano diante da diferença contempla a barbárie posta nos últimos segundos desta belíssima película.
Por Lugares Incríveis
3.2 627 Assista Agora"Por lugares incríveis" é o típico filme que tem tudo para ser um grande filme, mas fica fraco porque a direção e o roteiro não ajudam. É compreensível que esta película foi feita para atingir, sobretudo, os adolescentes, logo, não poderiam pesar muito nos assuntos abordados no filme -
inclusive achei bem interessante não terem mostrado a morte da irmã de Violet, e nem a morte do Theodore
Divinas
4.2 219 Assista AgoraTodo o amor possível e gratidão às atrizes Oulaya Amamra, Déborah Lukumuena e Jisca Kalvanda, e à diretora Houda Benyamina. Que mulheres!! As performances dessas mulheres são extremamente potentes! Seja no ponto comediante (Lukumuena); seja no drama (Amamra); seja na agressividade (Kalvanda); seja na hibridização dessas três forças quando se juntam e explodem - literalmente - a cena. A direção de Benyamina é assustadoramente impecável! Há um olhar tão humano na amizade de Dounia e Maimouna que nos toca só em ver as atrizes na tela. Por um momento, achei que o longa-metragem fosse para o lado romântico após a entrada de Djigui, interpretado muito bem por Kevin Mishel. Porém, felizmente, é só mais uma história no filme - e uma história solta, que, caso tirasse, não faria falta. Confesso que no final me deu uma vontade de saber o que aconteceria com Djigui, pois, afinal de contas, a química entre Kevin e Oulaya é de tirar o chapéu, sobretudo na "cena corporal" que é extremamente linda!! Há uns takes que foram, na minha opinião, infelizmente, desperdiçados, como por exemplo na apresentação de dança de Djigui. Ao iniciar, há uma fotografia belíssima que deveria ser aproveitada, mas, claro, é deixada de lado porque o foco não é ele, mas a outra personagem. Esta película me deu várias sensações, e sou grato por "Divines" existir. Como espectador, devemos nos deixar levar pela narrativa. Entrar de cabeça com estas personagens e sentir a história. Veremos, por fim, que cada aparição neste filme tem um significado e é dotada de potência, haja vista as personagens Mounsier Camara (do maravilhoso Bass Dhem), Samir (do incrível Yasin Houicha), da interpretação magnífica - de poucos minutos - de Farid Larbi dando vida ao Reda, e da excepcional Majdouline Idrissi dando vida à Myriam.
Candelaria
4.1 38Alden Knight e Verónica Lynn, que dupla! Este filme entrelaça muito bem o período crítico de Cuba com a história dos personagens. Além disso, voltam a se enxergar por meio de um instrumento. É como se a vida voltasse. Há um renascimento, e acompanhamos toda a vida disso: este renascimento, o amadurecimento, conflitos, ápice, maturidade e morte - sim, de ambos, não só de um. Morte tanto no plano real quanto no metafísico. Verónica e Alden entregam tudo de si para estes personagens. Acho impossível o espectador não ser tocado por estas histórias. E que direção incrível de Jhonny Hendrix Hinestroza! Ótimo filme!
Jonas
3.4 148Assisti este filme por causa de Félix Maritaud. Gosto muito dos trabalhos dele - apesar de sempre ver características em comum nos personagens que ele pega. Espero que ele não seja colocado numa "caixinha". Jonas é um filme interessante, mas o roteiro não é muito bom. Daria, sim, para ter uma história mais profunda, e, por fim, quem sabe, descobrirmos o que aconteceu com Nathan. Prefiro que os filmes terminem desta forma: sem final feliz. A reflexão acaba sendo maior. No entanto, para Jonas, acho que Nathan poderia ter voltado, não digo vivo ou para um final feliz, mas para não deixar o filme ser "só o que é".
Rastros de um Sequestro
3.8 563 Assista AgoraEu sou fã dos filmes do leste asiático!! "Rastros de um Sequestro" parece, de início, ser só mais um filme no meio de tantos, mas vai para um lado extremamente incrível, mexendo com as emoções do espectador. O diretor Jang Hang-jun traz um trabalho maravilhoso. Coloco este filme em contraste com "Fratura", filme americano de Brad Anderson. Ambas as películas trabalham, de certa forma, com o mesmo assunto. No entanto, Anderson faz um filme que acaba sendo só mais um no meio de uma massa de filme "psicológico". Já Jang Hang-jun traz muitas camadas para o longa-metragem e vai desmembrando-as de uma forma excepcional. E note: essas camadas não são soltas ou fechadas em si, pelo contrário, elas têm um fio condutor que fazem uma ligação inteligente entre o fim e o início do longa-metragem, ou, em outras palavras, entre o "início de vida" dos personagens protagonistas com o fim/morte. É importante salientar que tanto a família de Jin-seok, interpretado pelo incrível Kang Ha-neul, e a de Yoo-seok, interpretado pelo Kim Mu-yeol,
não deixam histórias para futuras gerações. As duas famílias são compostas por quatro membros, e todos morrem. O ciclo é fechado. As ligações são finalizadas. Logo, o fardo carregado pelos protagonistas, entrelaçados há muito tempo, é encerrado.
Vale a pena comentar sobre o péssimo título traduzido para o Brasil: logo de início, eu "adivinhei" qual seria a história - e consegui isso por causa do título do filme que traz, sim, um grande spoiler, basta pensar. Desta maneira, quando indico este filme para alguém, eu simplesmente falo: "ignore o título, apenas". Não sei como ficaria do coreano para o português, mas espero que o título original não revele nada do filme como o traduzido. Felizmente, a película não é só o que pode ser adivinhado, já que acaba indo para um outro caminho, dando a possibilidade de dizermos que é como se fossem dois filmes em um.
Joy
3.6 34 Assista AgoraA diretora Sudabeh Mortezai acertou em cheio com esse filme. O roteiro é excepcional ao trazer discussões importantes e de forma não-didática. O silêncio que impera traz um desconforto para aquele que assiste, por isso, ponto positivo! Toda a tensão e sentimento que ronda a personagem de Joy Alphonsus é colocada no olhar da atriz. Carregar várias sensações e sentimentos só com o olhar não é fácil, e a atriz está de parabéns! Há muito assunto colocado no longa-metragem, mas as pontas não ficam soltas e superficiais, pelo contrário, propõe questionamentos e aprofunda a discussão que é o fio condutor do filme. É muito interessante esta visão que as pessoas têm de que a Europa é incrível e tudo dá certo lá. Não. As coisas não são bem assim, e o choque cultural - e decepção das personagens - colocado no filme gera impacto nas pessoas que assistem. Encerro este comentário dizendo que esta película mexeu muito comigo e vou levar um bom tempo para digeri-la.
Bem-Vindo, Doutor
4.1 276Esta película de Julien Rambaldi é gostosa de assistir, mas podemos, sim, trazer críticas que faz do próprio roteiro um pouco fraco. Eu, como um rapaz negro e pesquisador sobre o tema da "Negritude", me incomodei com alguns caminhos que o filme tomou. Sei que é baseado numa história real, porém, devemos lembrar que um longa-metragem desse estilo também é feito para impactar e emocionar o público. Acho bem importante este filme para discutirmos a respeito de "fronteiras culturais" e sobre o "Outro", isto é, o diferente no meio de uma massa homogênea. Podemos começar com a ótima colocação do filme a respeito dos corpos negros na cidade dos moradores brancos: o corpo como exótico. Há estudos que mostram exatamente esse assunto: o corpo negro é performer, ou seja, basta uma pessoa negra estar na rua com o seu "black" armado e suas roupas, que todxs (leia-se: branques) acabam olhando para esta pessoa; basta uma mulher negra aparecer com lindas tranças que todos (branques) colocam os olhos nela; basta um rapaz com suas características e estilo negroides assumidos para o entorno fixar os olhos... Com isso, é muito interessante o filme colocar o impacto da chegada das crianças na escola. E, sim, infelizmente, na sociedade em que vivemos (e que compartilhamos muitas características com a francesa), o negro tem que se esforçar três vezes mais do que o branco, e isso não é romantizar (como eu vi numa crítica a respeito deste filme), senão a realidade. A ponta comediante do filme colocada na personagem de Aïssa Maïga é excepcionalmente incrível! Essa atriz passa da comédia para o drama com uma facilidade poderosa! O que me incomoda no filme, mais para o final, é que as personalidades dos personagens brancos mudam de forma muito rápida. Poderiam se aprofundar mais em certas histórias a fim de propor um caminho mais interessante para as mudanças, afinal de contas, ninguém é 100% ruim ou bom. Somos seres complexos, e, com isso, o maniqueísmo proposto no filme acaba incomodando um pouco, perdendo uma ótima discussão que o filme poderia tomar. Apesar disso, o filme é bem importante para certos debates a respeito do racismo, dos choques culturais e da insistência do "Outro" tentar ser igual àquele que é o opressor - a fim de sair de seu papel de oprimido.
Fratura
3.3 918Um filme interessante, mas nada além disso. "Fratura" brinca bem com o espectador, mas não traz novidades. De fato, ora acreditamos no protagonista, ora acreditamos no entorno. Entretanto, o filme não traz novidade (se virem "Rastros de um sequestro", filme sul coreano de Jang Hang-jun, entenderão o que estou querendo dizer) e termina bem morno, apesar da ótima fotografia final. Atuações boas, apesar de não curtir tanto o trabalho de Sam Worthington. Lily Rabe, como sempre maravilhosa, deu um colorido especial para o filme. Nesta película, para finalizar o comentário, há, inclusive, leves erros de continuação e uma cena que não poderia ir para o filme: fica muito explícito o boneco caindo no chão no lugar da criança. Apesar disso, é um filme bom.
O Destino de Amina
3.4 17 Assista AgoraKwabena Gyansah traz uma boa direção para este longa-metragem. Há muitas discussões propostas neste universo de Gana. Discussões importantes, mas que alguns pontos acabam não sendo aproveitados. Apesar disso, há uma ótima construção das cenas para o clímax do filme, fazendo o espectador ficar assustado com a revelação da gravidez da personagem principal. É compreensível alguns erros de montagem e algumas atuações, haja vista que parece que o filme foi realizado com pouco orçamento. Isso não tira o brilho e a importância de "Azali". Desta maneira, vejo que um dos pontos negativos do filme é o uso excessivo das músicas, pois foram colocadas uma atrás da outra, e, em muitas cenas, a sensação proposta é contraditória (há uma cena que seria de tensão quando os jovens fogem num caminhão, mas a música é totalmente alegre). Akofa Edjeani Asiedu está maravilhosa neste filme! E, por fim, Asana Alhassan carrega toda a tensão dramática de sua personagem no olhar. Por mais atuações como as delas!
Querido Ex
3.8 83 Assista Agora"Um dia pode se tornar dez mil anos". Que película bonita! Acho que é o primeiro filme que eu vejo de Taiwan, e confesso que fiquei impressionado. Fotografia excepcional, direção de arte maravilhosa e atuações muito boas. Falando nisso, Roy Chiu tem um personagem muito bem construído, entregando, dessa forma, todas as sensações possíveis que um ser humano pode ter (virei fã desse cara!). Em contrapartida, apesar de Hsieh Ying-Hsuan ter ganhado o prêmio de melhor atriz no Cavalo de Ouro por este filme, acho que ela teve muitos momentos de "histeria", demonstrando uma atuação um tanto quanto forçada em certos momentos. Porém, não tiro o mérito da atriz, porque ela concentra uma emoção muito forte na personagem. Acho interessante, também, a atuação de Joseph Huang. Noto que ele demonstra muitas sensações só com o olhar, e isso é importante. Ademais, a história poderia ter se tornado algo meio "sessão da tarde", mas vai para um caminho muito bom, mexendo com as emoções do espectador que não espera o fim do filme. Para encerrar este comentário, é importante salientar que as artes propostas na primeira parte do filme somem com muita rapidez ao longo da película, deixando de praticamente existir. Acho que poderiam ter aproveitado os desenhos ao longo do longa-metragem como um todo. Já sou mais um fã da direção de Mag Hsu e Chih-Yen Hsu, e, portanto, estou aguardando mais um filme dessa dupla.
Meu Irmão
3.7 11"Eu acredito em vocês. Vocês são o futuro da França." - É com esta fala do assistente social que inicio esta crítica. A sensibilidade está presente em toda a película: da fotografia ao roteiro; dos personagens às expressões dos atores. Dessa forma, a atuação extremamente sensível de MHD toca no íntimo do espectador, assim como a atuação explosiva de Darren Muselet, uma vez que a fúria proposta está apenas na superfície tentando esconder um lado humano que nos emociona. Nesse sentido, o longa-metragem de Julien Abraham é um grito do início ao fim: as discussões políticas, sociais, culturais, raciais e afins são colocadas no filme não superficialmente, mas de forma tão inteligente que é impossível ficar inerte às injustiças impostas aos jovens marginalizados pela sociedade francesa. Estes "jovens transparentes" da França, portanto, estendem-se aos jovens brasileiros e além, porque sabemos que eles não têm direito de fala e são assustadoramente ignorados pelas sociedades. Cada personagem carrega uma história que provoca uma fúria nestes jovens. Não que isso justifique os atos criminais deles, porém, o olhar humano que somos "obrigados" a lançar para entendê-los faz com que fujamos das polaridades bom-mau; mocinho-vilão; deus-diabo. O nosso mundo é muito mais do que as binariedades determinadas, e estes personagens, extremamente profundos, são desenvolvidos para podermos ampliar a discussão sobre a complexidade do ser humano e sua mente perante às adversidades do mundo contemporâneo.
Midway: Batalha em Alto Mar
3.3 187 Assista AgoraMais um filme de guerra em que a humanização dos personagens fica concentrada apenas nos americanos. Engraçado, inclusive, o filme ser dedicado aos marinheiros japoneses, sendo que eles não são humanizados e não conhecemos as histórias de seus personagens. Apesar disso, as cenas de batalhas são muito bem feitas e empolgantes, prendendo, de certa forma, as pessoas que assistem. O ponto alto da película é a fotografia. Infelizmente, há um exagero no uso das músicas, sobretudo nos momentos melancólicos. É um filme interessante de ser visto, mas é só mais um no meio de tantos. É importante ressaltar a boa atuação de Ed Skrein. O roteiro não deixa o ator brincar mais com o personagem - e deixa o filme bem arrastado depois da primeira cena de ação até o clímax. Todavia, há uma ótima interpretação - com um ponto negativo, novamente, para o roteiro que faz o personagem ter uma mudança rápida de personalidade. Para finalizar, Darren Chriss, um dos grandes atores da nova geração, foi totalmente descartado neste filme. Uma pena!
O Hospedeiro
3.6 549 Assista AgoraUm filme crítico, político, do jeito que só Bong Joon-ho sabe fazer. "O Hospedeiro" prende o público do início ao fim - claro que se você se deixar levar pela narrativa, será prendido. Em contrapartida, quem assiste nos dias atuais pode estranhar os efeitos especiais do filme. Porém, ao assistirmos um filme "antigo", temos que levar em conta o ano de lançamento e não ficar se prendendo a detalhes bobos. Este filme, para mim, é como se fosse um prelúdio do que viria a ser "Parasita". As críticas sociais são fortes e mostra o que o ser humano é capaz de fazer quando se trata de poder ($). Esta película coloca o "dedo na ferida" e deixa muitas reflexões além-filme, um pouco diferente, por exemplo, de "Okja", longa-metragem que termina, de certa forma, com um final feliz, tendo a possibilidade, inclusive, de perpetuação da espécie daquele porco gigante. Há uma grande esperança àqueles que assistem. Logo, considero "O Hospedeiro" tão marcante quanto "Parasita" - claro que esse último é o ponto alto do diretor.
A História da Eternidade
4.3 448"O desejo liberta o que o destino aprisiona". "A História da Eternidade", filme impactante de Camilo Cavalcante, traz, para o espectador, um movimento catártico. Por meio de três partes, somos capazes de ser levados a um estado íntimo por causa de uma narrativa poética, difícil, aconchegante e provocadora. A direção de arte de Julia Tiemann em conjunto com a fotografia de Beto Martins resulta em uma mundo que está além-filme. Desta maneira, aquele/a que assite é transportado para este sertão que está dentro de nós. Estes quatro bodes, aludindo à segunda parte do filme, interpretados por Irandhir Santos, Débora Ingrid, Zezita de Matos e Cláudio Jaborandy encontram o seu ápice quando desapontam numa derrocada. Em contrapartida, a personagem de Marcélia Cartaxo, que começa o longa-metragem num luto, acaba se entregando para uma renovação, fugindo, de certa forma, da tradição, assim como as outras duas personagens femininas. Atuações bem equilibradas e potentes, sobretudo a de Irandhir Santos, o nosso camaleão da arte de interpretar. O ponto negativo do filme é a interpretação do ator Maxwell Nascimento. Em contraposição às atuações grandiosas que temos no filme, ele soa um tanto quanto amador nos seus maneirismos estereotipados (mesmo que isso acabe caindo em um pleonasmo). A poética rica de Camilo Cavalcante encanta quem assiste, pelo menos é o que se espera, e faz com que o público visualize o mar ao fim do filme. Para finalizar, junto ao jogo de luz e sombra riquíssimo na obra, os olhares e silêncios são importantes para a película. Entregue-se ao filme e tenha todos os sentimentos atacando você de forma eterna.