Fiz uma média rápida dos últimos 50 comentários: Homens deram nota 2.9. Mulheres deram nota 4.0. Acredito que é um padrão que vai se repetir. Isso diz muito.
Não tem roteiro, não tem contextualização, umas cenas jogadas pra tentar fazer um plot Twist no final, mas é tudo absurdamente horrível. O filme não tem moral nenhuma. Horrível. Horrível.
O filme é muito bonito e muito emocionante. A jornada do Herói é fantástica. Mas o que me incomoda muito, e convido para a reflexão, é que em todas as animações (não só, mas principalmente as americanas) é a propaganda do ethos nacional americano: o American Dream ou o Sonho Americano. Para quem desconhece o termo, trago uma definição de James Truslow Adams, de 1931: "a vida deveria ser melhor e mais rica e mais completa para todos, com oportunidades para todos baseado em suas habilidades ou conquistas", independente de sua classe social ou circunstâncias do nascimento. Ou seja, é a afirmação de que todos são iguais e, portanto, "tenha fé que você consegue alcançar seus sonhos". Mas na construção de todas estas animações ocorre uma falha intrínseca nessa lógica do American Dream que é o acesso a oportunidades. Todas as personagens, de início, são pessoas comuns, ordinárias, mas todas elas precisam transcender seu status social de alguma forma. E quando chega nesse ponto, absolutamente todas as animações falham nisto dentro desta ideologia do American Dream. E aqui não é diferente. Miguel, por exemplo,
não tem violão pra tocar no concurso de música da praça da cidade. E aí, claro, como podemos afirmar que somos todos iguais? É somente a partir de um furto do violão no túmulo do De La Cruz que a jornada dele pode ir para a próxima etapa. Um furto. O que me faz pensar em duas alternativas para esse problema: ou estamos legitimando furtos para conseguir nossos sonhos ou essa lógica não se sustenta. Para mim, pelo menos, é óbvio que essa lógica não se sustenta. Mas mesmo assim, isto continua se vendendo como ideologia, que simplesmente ignora deliberadamente diferenças sociais claríssimas que existem em todos os lugares. É isso que a gente ensina para nossas crianças desde cedo como forma de ver o mundo. Até animações se tornam instrumentos políticos de afirmação de uma ideologia. E os caras são excelentes no que fazem: inserem isto dentro de uma animação fantástica e emocionante como essa, que tem, aqui no Filmow, nota 4,5 de mais de 12 mil pessoas no momento. Trágico.
Caí de paraquedas nesse documentário. Me interessei pelo tema das UPP's pelo recente assassinato da Marielle. E ela estava aqui. Um país onde a PM mata moradores de favelas. Uma intervenção federal é realizada onde dá mais poder e menos transparência às ações dos militares. Cria-se uma comissão para observar e evitar excesso dos militares. A relatora dessa comissão é executada. O Brasil é simples.
Arábia Saudita. Último país no mundo a proibir as mulheres de dirigir, bem hoje, dia 26/09/2017, isso caiu. A partir de junho de 2018 a ordem real permitirá a emissão de carteiras de motorista para as mulheres. Antes dessa conquista, elas tiveram outras. Antes de dirigir, elas aprenderam a pedalar. Filme simbólico para as conquistas das mulheres, sem falar que foi o primeiro filme dirigido por uma mulher neste país. Sensacional!
A história do Desmond Doss, apesar de espetacularizada, é muito bonita. Mas o que me incomoda nesses filmes é o retrato do outro. O retrato do adversário. O retrato, neste caso, dos japoneses. Cenas como a que os japoneses
rendidos, após levantarem a bandeira branca, atacam com granadas, só faz com que jogue no fundo da lata do lixo a humanidade que nós percebemos neles. Cenas como estas jogam no lixo a dignidade do outro. Faz com que o público não reconheça mais o valor humano do outro lado. E aí as pessoas falam após o filme: "esses japoneses são tudo filhos da p. mesmo, tudo kamikaze". Escutei isso, de verdade. É claro que o filme é de um americano sobre a versão americana da história. Mas isso só reforça uma ideologia binária de tudo o que não faz parte do "nós" não tem o menor resquício de humanidade e dignidade. Que "os outros" são capazes de qualquer coisa, das ações mais desumanas possíveis e que a única solução "pra eles" é a morte.
O filme é bacana. Quando vi "thriller" no gênero até fiquei surpreso. Mas eu gostei da história. O problema pra mim é que quase todos os filmes sempre reforçam a ideia de que
Que homem! Seu trabalho deveria ser mais divulgado. Excelente! Eu tenho legenda em português do Mythos 1 e dos três primeiros episódios do Mythos 2. Tenho legenda em inglês pros outros dois episódios do Mythos 2. Se alguém quiser, deixe um recado. Se alguém conseguir legendas pro Mythos 3, em inglês ou português, por favor, me avise!
atento ou atenta aos vários indícios e isto não deu o choque que poderia dar
, de que forma, exatamente, isto desqualifica o filme? Tá se achando o diferentão ou diferentona por ter feito isso? A Maria que não vai com as outras? Se vocês se preocupam com isto, acredito que vocês estão perdendo a lição incrível que este filme dá. Tem coisa mais linda do que quando o Cawley fala:
"Jurei que eu podia construir a encenação mais radical e avançada já realizada na Psiquiatria. Achei que se vivesse essa fantasia, você veria como isso tudo é falso e impossível. Você se movimentou livre por dois dias. Me diga: cadê as experiências nazistas?".
Não sei até que ponto vocês estão familiarizados com um profissional de saúde que tem contato direto e, de frente, com pacientes e com o seu tratamento (e aqui me refiro não só, mas, principalmente, a psiquiatras e psicólogos e psicólogas), mas deixar que o paciente trilhe o seu próprio caminho é um dos maiores desafios no tratamento.
Cawley diz: "você se movimentou livre por dois dias". Conduzir o tratamento do paciente deixando que ele viva a sua loucura, em que o próprio paciente decide o caminho que quer trilhar (e esta foi uma das funções do Chuck, principalmente chamando-o de "boss"), na boa, foi lindo. E a mente elaborar uma história dessas pra não ter que lidar com a realidade também é de uma beleza fascinante. Infelizmente, a ciência ainda não sabe como curar um paciente psicótico. O que fazemos é medicar um paciente para que os seus sintomas psicóticos não se manifestem. E isso não é curar. E o final ainda dá uma reflexão mastigada: "fico imaginando o que é pior: viver como um monstro, ou morrer como um homem bom".
Incrível como a gente pode não falar sobre nossos problemas, mas acabamos colocando estes problemas no que fazemos pelas entrelinhas. É inevitável. Pode ser uma vontade de
acertar com um taco de beisebol a cabeça de um pai que abusa da filha. Pode ser um rap. Pode ser uma história de um polvo e de tubarão.
Metáforas que traduzem a nossa vida e nossos pensamentos. E o ser humano é tão fascinante que consegue transformar seus problemas em arte. Arte de uma situação humana que se torna passível de identificação por qualquer outro ser humano. E a gente se identifica. E a gente se une com outras pessoas que se identificaram. Mas o problema surge de como podemos compreender a história ou a metáfora do outro e quem consegue fazer isso. Que sejamos iguais
O filme tem uma atmosfera tensa. Penso que em alguns momentos podemos deixar de perceber alguma coisa ou algo passar batido por fazermos parte de uma cultura diferente. Temos que estar atentos ao significado da religiosidade e à participação social da mulher, que são diferentes da nossa cultura ocidental. Porém, por outro lado, mostra que alguns dilemas cotidianos do ser humano são universais.
Eu não sei até que ponto o divórcio, no início do filme, era apenas um meio para um fim, ou seja, para Simin conseguir viajar para o exterior. Não sei se Simin e Nader realmente queriam se divorciar, se se pensar no caráter da relação entre os dois. Simin fala, inclusive, que queria que Nader fosse junto. Será que queriam ficar separados mesmo?Porém, no final do filme, os dois realmente estavam se divorciando, independente de viagem para o exterior. Isso muda todo o sentido da separação do casal. E o significado que isso tem, depois de toda a construção do filme, é fascinante.
Por último, minha mãe disse: "ai, não acredito que não mostra com quem ela [Termeh] fica no final". Meu pai, respondendo: "eu acho que ela ficou com o pai". Minha mãe, retrucando: "eu acho que ela ficou com a mãe". A despeito de meu pai e minha mãe defenderem seus correspondentes no filme, importa mostrar com quem Termeh ficou?
Ajudem-me, sei que tem bem mais. Koyaanisqaatsi, The Corporation, Baraka, Nascido para Matar, Requiem para um Sonho, Eles Vivem, Magnólia, Gladiador, 1984, Bourne (não sei qual dos 3 primeiros). E aí?
Quando eu vi a média 4.6 aqui no Filmow com quase 1000 votos, pensei: "poha, preciso ver urgente esse filme". O filme é muito bom. Muita ação. Thriller intenso. Nem preciso comentar de todos os pontos positivos porque a galera tá descrevendo bem aí nos comentários. Mas além disso, tem um ponto muito importante que, ao meu ver, o filme deixou a desejar, que é a
construção do Max como personagem. Pra mim, ele foi um personagem muito superficial, no sentido de: quem é o Max? De onde ele vem? Pra onde vai? Como se identificar com o personagem? Tem um passado que o atormenta, mas não foi mostrado nada sobre o que realmente aconteceu nesse passado. Nesse sentido, acredito que a identificação que o telespectador pode ter com o Max está sujeita às deduções que cada um faz sobre ele, principalmente sobre o seu passado. Digo "deduções" porque nem tem o que "interpretar", já que não sabemos nada além das alucinações que ele tem. Tudo bem que era característica dele ser fechado, reservado e solitário. Mas eu o senti muito deslocado dos outros personagens, Até o Nux tem mais história no filme do que o Max. Se comparado com a Furiosa então, nem se fala. Nesse panorama, penso que a construção do personagem é essencial pra ocorrer uma identificação e, consequentemente, uma catarse. E pra mim isso não ocorreu.
Tão simples: uma cadeira, uma câmera e uma pessoa pra falar. Mas tão complexo: o ser humano, ao relatar histórias de sua vida; ou ao interpretar uma história do outro. Fascinante. Histórias que estão desenhadas nos rostos daquelas mulheres. Mas meu assunto especial do comentário de hoje é em relação ao jogo de cena, literalmente.
Para mim, por mais que não conhecesse algumas das atrizes (e, portanto, não conseguia diferenciar o real da interpretação apenas por saber quem era atriz), era nítida a diferença no discurso. Seja pela emoção, pelos detalhes, pelo discurso truncado. Para mim, era nítida a falta de autenticidade no relato das atrizes. E quando digo isso, não quero menosprezar as atrizes, as quais foram excelentes. Porém, tem uma frase do Jung, sobre a Psicologia e a posição do terapeuta, que ele dizia algo mais ou menos assim: "nós só podemos conduzir o paciente até onde nós mesmos trilhamos". E, de certa forma, isso aconteceu durante o filme. Como seria possível que as atrizes conseguissem transmitir a mesma autenticidade daquelas histórias, com tantos sentimentos e emoções envolvidas, sem elas mesmas terem vivenciado o que estavam falando? É impossível. Penso que é somente com o exercício da catarse - de ser tocado, metaforicamente, pelo outro e criar-se a empatia, digamos assim - que podemos nos aproximar dessa condição. Mas só nos aproximar, porque acredito que, no exercício da interpretação, de alguma forma iremos inserir nossa visão de mundo ou de quem nós somos, ou pelo menos algum elemento destes, na reprodução de um discurso. Tentei imaginar o que se passava na cabeça das atrizes, as quais tinham que sobrepor o lado racional sobre o emocional, já que exigia da memória o tempo todo pra lembrar das histórias daquelas mulheres. Mas ao mesmo tempo, as histórias eram repletas de sentimentos e emoções. Então como sobrepor o racional sobre tudo isso? Complexo.
Nessas ruas da vida tem um bosque que se chama solidão. A solidão de se sentir incompreendido, de que ninguém, nunca, vai entender perfeitamente o que eu sinto. Mas é justamente esta incompreensão que me torna único, que me torna humano. Excelente obra do Coutinho para exercitar nosso reconhecimento do outro. De aceitar o outro como ele é. Sem nossas projeções. De certa forma me sinto triste porque não precisamos de um filme pra escutar histórias como estas. São mulheres comuns, que encontramos diariamente na fila do mercado, dentro de um ônibus ou caminhando nas ruas. Ps.: já olhou pro céu hoje?
Meu jogo favorito na adolescência era The Legend of Zelda: Ocarina of Time. Alguém mais se sentiu um pouco dentro da Kokiri Forest? Aquela torre que Teresa sobe quando chega à Clareira é muito parecida com a casa de Link, onde se inicia o jogo. Foi a primeira coisa que pensei quando vi a torre. E a semelhança do labirinto do filme com o Lost Woods nem preciso comentar muito...
O filme me surpreendeu. Uma história envolvente com ótimas atuações. Ryan Gosling trabalhou muito bem. Vou tentar fazer uma análise da construção de Lars e da condição em que ele se encontrava.
Lars não era violento. Era uma boa pessoa. Mas tinha dificuldade com o toque e com a afetividade. Além disso, logo de início percebi que um dos conflitos que Lars tinha era quando a mãe morreu em seu parto. Ele até comenta com a psicóloga, sobre a gravidez, que “É tão perigoso que não quero nem pensar”. Na primeira vez que ele vai à igreja, uma senhora pergunta se ele tem namorada, mas ele fala que ele está sozinho. Ela fala para Lars: “Bem não fique assim por muito tempo, não é bom para você”. Provavelmente tenha gerado alguma angústia nele e tenha se tornado um dos desencadeadores para a Bianca. Outra cena que achei curiosa foi quando, logo após a primeira vez que Lars vai à igreja com a Bianca e eles recebem flores, Lars comenta: “São bonitas, não? E não são reais, então vivem para sempre, não é legal?”, o que indica uma ideia de que o que é real não é uma coisa legal, porque não vive para sempre.
Mas para mim, o grande conflito dele era a crença de que
as pessoas não se importavam com ele, demonstrada em uma discussão com a Karin. Esta discussão fez com que ele tomasse consciência de algumas coisas e, inclusive, na próxima cena, agradece o irmão pelo o que ele tem feito. E, ao meu ver, a Bianca funcionou como um rito de passagem, funcionando como autoafirmação e para dar conta da falta: falta de afeto, falta de toque, falta de pessoas que se importam com ele, falta em ter alguém ao seu lado. Todos geradores de angústia. Digo isso, de rito de passagem, pelo comentário de Lars para seu irmão: “Eu estava conversando com a Bianca e ela disse que na cultura dela tem esses ritos de passagem, rituais e cerimônias e todas essas coisas, sabe? Quando você as faz, ou se já fez, te mostram que você é um adulto. Isso não parece ótimo?”, e aí completa: “Como você sabe que é um homem? (...) Eu tenho que saber”. Nesse sentido, um rito de passagem o tornaria um adulto, o tornaria um homem. A discussão com a Karin, todas as flores que ele recebeu quando a Bianca ficou doente, além de toda a atenção, apoio e suporte de todos, criou-se um ambiente de acolhimento a Lars, fundamental para sua melhora. E agora que Lars “se tornou um homem”, pode seguir sua vida. Philippe Ariès afirma que os ritos de passagem, da infância para a vida adulta, se perderam com o tempo. Ou se era criança, ou se era adulto. Não existia a adolescência antigamente. A adolescência só surgiu pela falta da eficácia dos ritos de passagem tradicionais, que foram se deteriorando com o tempo. Isso em função de vários fatores. Agora as pessoas têm de encontrar outros modos para se tornarem adultas. Talvez seja isso que Lars tenha feito.
interpretei a fantasia dele, de se intitular como o Don Juan e o maior amante do mundo, como uma autoafirmação de sua masculinidade, já que ele ameaçava se jogar do alto de um outdoor por ter sido rejeitado por uma mulher. Mas nessa perspectiva de autoafirmação de masculinidade, qual adolescente não teve a pretensão em ser um Don Juan diante da pergunta: eu consigo conquistar uma mulher?
Em uma das cenas, o psiquiatra Dr. Mickler o questiona sobre a versão da avó sobre a sua vida, que
Há alguns meses fiz um trabalho para a faculdade de uma análise psicológica sobre Nina. O trabalho original continha 5 páginas, mas eu fiz um breve resumo sobre o mesmo em uma linguagem não-técnica para quem se interessar.
A principal questão a ser analisada nesse caso é a construção familiar de Nina, no que diz respeito à relação com a sua mãe. A mãe de Nina foi uma bailarina sem sucesso e, assim, de alguma forma, a mãe viu em Nina a oportunidade de realizar seu desejo, dizendo: “Esse é o seu momento, Nina. Não deixe passar!” Para isto se concretizar, a mãe repreendeu todas as possibilidades que afastasse Nina do objetivo de se tornar a melhor bailarina da Companhia, utilizando-se de métodos coercitivos para impor a Nina o seu know-how em ser bailarina. Desta forma, o repertório comportamental de Nina é controlado por regras e por consequências sociais da mãe. Uma das principais cenas que demonstra a complexidade do cenário citado acima é quando a mãe oferece um bolo após Nina ter conseguido o papel de Rainha dos Cisnes. Nina não quis comer e, consequentemente, Nina contraria a mãe. A mãe, porém, utiliza de mecanismos coercitivos para manter Nina submissa à ordem arbitrária da mãe – ameaçando jogar o bolo fora se Nina não comer. Em suma, as contingências manejadas pela mãe não permitiram a aquisição de outro repertório comportamental, os quais, independente de ela ser bailarina ou não, são saudáveis para o seu desenvolvimento como pessoa. Por conseguinte, Nina tinha déficits de comportamentos que dificultavam a convivência dela em qualquer ambiente e, desta forma, desconhecia como desempenhar o Cisne Negro, pois isto requeria adquirir outro repertório comportamental – como rebeldia, oposição, gosto pelo prazer, enfrentar a autoridade. Consequentemente, era inconcebível para Nina ser o Cisne Negro no início da apresentação já que seu repertório era limitado, a mãe não estava preparada para instalar o repertório comportamental exigido e o grupo profissional se limitava a aprovar ou não os comportamentos, sem dar regras de como se comportar. Por outro lado, o grupo profissional indicou para que Nina vivenciasse o “negro” em sua vida – o diretor diz que não queria que Nina representasse, mas que fosse; o mesmo fala pra ela ir para casa e se masturbar –, ou seja, como se o repertório do Cisne Negro no palco só surgisse a partir do contato com contingências naturais. Desta forma, a alternativa que surgiu para Nina em exercer o papel do Cisne Negro, foi de se opor aos valores da mãe, aderindo às indicações da Companhia sobre a vivência do “negro” em sua vida e se aproximando de Lily (que era a imagem do Cisne Negro). Com efeito, Nina se permitiu expor-se às contingências naturais que produzem o Negro do ser humano, mas fez isso de forma radical (como masturbação, fumar um cigarro, balada à noite e relações íntimas com Lily). Não por opção, mas por coerção, fugindo não mais da mãe, que dizia “Você não é a minha Nina!”, mas fugindo do fracasso, e até dizendo para a mãe: “Eu sou a rainha! Você é que nunca foi importante! É a minha vez! É a minha vez!”. A dualidade tinha que ser incorporada pela mesma e única pessoa e para criar a compatibilidade entre o Cisne Branco e o Negro, ela criou a generalização bizarra e extrema, desenvolvendo um repertório comportamental complexo, construído em condições de contingências coercitivas intensas e adversas.
Filme fascinante. Engraçado e comovente. Ótimas atuações de Omar Sy e François Cluzet. A trilha sonora de Ludovico Einaudi é boa demais! Com direito a reflexões, quando Philippe diz:
"É exatamente isso que eu quero. Nenhuma compaixão". E aí não tem como deixar de pensar em até que ponto nosso cuidado, atenção e o desejo de diminuir o sofrimento do outro não acabam por gerar mais sofrimento ainda. Até que ponto, sem perceber, assumimos uma postura de superioridade perante o outro e o infantilizamos? É uma linha muito tênue.
E isto era apenas um dos reflexos da visão de mundo que Driss tinha, que era totalmente diferente de Philippe. Paradoxalmente, justamente por Driss desconhecer a condição e as limitações de Philippe é o que fazia o mesmo se sentir bem.
"Ele [Driss] sempre me passa o telefone. Sabe por quê? Ele esquece".
Nesse sentido, como é motivante pensar que outras pessoas podem ter uma opinião totalmente diferente sobre o que eu faço e sobre a minha vida. E talvez a minha não seja a mais adequada, a mais engraçada ou a mais inteligente. Basta, apenas, entrar em contato com elas.
Barbie
3.9 1,6K Assista AgoraFiz uma média rápida dos últimos 50 comentários:
Homens deram nota 2.9.
Mulheres deram nota 4.0.
Acredito que é um padrão que vai se repetir.
Isso diz muito.
La Octava Clausula
2.4 10Um dos piores filmes que já vi na vida. Sinceramente.
Não tem roteiro, não tem contextualização, umas cenas jogadas pra tentar fazer um plot Twist no final, mas é tudo absurdamente horrível.
O filme não tem moral nenhuma. Horrível. Horrível.
Transição - Via Celestina 2
2.9 8https://www.youtube.com/watch?v=o1XnmCnp6Bo
A Noite de 12 Anos
4.3 304 Assista AgoraHello darkness, my old friend
Viva: A Vida é Uma Festa
4.5 2,5K Assista AgoraO filme é muito bonito e muito emocionante. A jornada do Herói é fantástica. Mas o que me incomoda muito, e convido para a reflexão, é que em todas as animações (não só, mas principalmente as americanas) é a propaganda do ethos nacional americano: o American Dream ou o Sonho Americano. Para quem desconhece o termo, trago uma definição de James Truslow Adams, de 1931: "a vida deveria ser melhor e mais rica e mais completa para todos, com oportunidades para todos baseado em suas habilidades ou conquistas", independente de sua classe social ou circunstâncias do nascimento. Ou seja, é a afirmação de que todos são iguais e, portanto, "tenha fé que você consegue alcançar seus sonhos".
Mas na construção de todas estas animações ocorre uma falha intrínseca nessa lógica do American Dream que é o acesso a oportunidades. Todas as personagens, de início, são pessoas comuns, ordinárias, mas todas elas precisam transcender seu status social de alguma forma. E quando chega nesse ponto, absolutamente todas as animações falham nisto dentro desta ideologia do American Dream. E aqui não é diferente. Miguel, por exemplo,
não tem violão pra tocar no concurso de música da praça da cidade. E aí, claro, como podemos afirmar que somos todos iguais? É somente a partir de um furto do violão no túmulo do De La Cruz que a jornada dele pode ir para a próxima etapa. Um furto. O que me faz pensar em duas alternativas para esse problema: ou estamos legitimando furtos para conseguir nossos sonhos ou essa lógica não se sustenta. Para mim, pelo menos, é óbvio que essa lógica não se sustenta. Mas mesmo assim, isto continua se vendendo como ideologia, que simplesmente ignora deliberadamente diferenças sociais claríssimas que existem em todos os lugares. É isso que a gente ensina para nossas crianças desde cedo como forma de ver o mundo. Até animações se tornam instrumentos políticos de afirmação de uma ideologia. E os caras são excelentes no que fazem: inserem isto dentro de uma animação fantástica e emocionante como essa, que tem, aqui no Filmow, nota 4,5 de mais de 12 mil pessoas no momento. Trágico.
O Estopim
4.4 11Caí de paraquedas nesse documentário. Me interessei pelo tema das UPP's pelo recente assassinato da Marielle. E ela estava aqui.
Um país onde a PM mata moradores de favelas.
Uma intervenção federal é realizada onde dá mais poder e menos transparência às ações dos militares.
Cria-se uma comissão para observar e evitar excesso dos militares.
A relatora dessa comissão é executada.
O Brasil é simples.
Blackfish: Fúria Animal
4.4 457Seria melhor até "Peixe Preto" do que "Fúria Animal" no título. Até parece que quem deu esse nome nem assistiu ao documentário.
O Sonho de Wadjda
4.2 137 Assista AgoraArábia Saudita. Último país no mundo a proibir as mulheres de dirigir, bem hoje, dia 26/09/2017, isso caiu. A partir de junho de 2018 a ordem real permitirá a emissão de carteiras de motorista para as mulheres. Antes dessa conquista, elas tiveram outras. Antes de dirigir, elas aprenderam a pedalar. Filme simbólico para as conquistas das mulheres, sem falar que foi o primeiro filme dirigido por uma mulher neste país. Sensacional!
Até o Último Homem
4.2 2,0K Assista AgoraA história do Desmond Doss, apesar de espetacularizada, é muito bonita. Mas o que me incomoda nesses filmes é o retrato do outro. O retrato do adversário. O retrato, neste caso, dos japoneses. Cenas como a que os japoneses
rendidos, após levantarem a bandeira branca, atacam com granadas, só faz com que jogue no fundo da lata do lixo a humanidade que nós percebemos neles. Cenas como estas jogam no lixo a dignidade do outro. Faz com que o público não reconheça mais o valor humano do outro lado. E aí as pessoas falam após o filme: "esses japoneses são tudo filhos da p. mesmo, tudo kamikaze". Escutei isso, de verdade. É claro que o filme é de um americano sobre a versão americana da história. Mas isso só reforça uma ideologia binária de tudo o que não faz parte do "nós" não tem o menor resquício de humanidade e dignidade. Que "os outros" são capazes de qualquer coisa, das ações mais desumanas possíveis e que a única solução "pra eles" é a morte.
Um Porto Seguro
3.6 1,1KO filme é bacana. Quando vi "thriller" no gênero até fiquei surpreso. Mas eu gostei da história. O problema pra mim é que quase todos os filmes sempre reforçam a ideia de que
pra fazer justiça alguém tem que morrer.
Mythos I and II
4.5 1Que homem! Seu trabalho deveria ser mais divulgado. Excelente!
Eu tenho legenda em português do Mythos 1 e dos três primeiros episódios do Mythos 2. Tenho legenda em inglês pros outros dois episódios do Mythos 2. Se alguém quiser, deixe um recado. Se alguém conseguir legendas pro Mythos 3, em inglês ou português, por favor, me avise!
Ilha do Medo
4.2 4,0K Assista AgoraEssa galera que já
adivinhou o plot twist
atento ou atenta aos vários indícios e isto não deu o choque que poderia dar
Se vocês se preocupam com isto, acredito que vocês estão perdendo a lição incrível que este filme dá. Tem coisa mais linda do que quando o Cawley fala:
"Jurei que eu podia construir a encenação mais radical e avançada já realizada na Psiquiatria. Achei que se vivesse essa fantasia, você veria como isso tudo é falso e impossível. Você se movimentou livre por dois dias. Me diga: cadê as experiências nazistas?".
Cawley diz: "você se movimentou livre por dois dias". Conduzir o tratamento do paciente deixando que ele viva a sua loucura, em que o próprio paciente decide o caminho que quer trilhar (e esta foi uma das funções do Chuck, principalmente chamando-o de "boss"), na boa, foi lindo. E a mente elaborar uma história dessas pra não ter que lidar com a realidade também é de uma beleza fascinante. Infelizmente, a ciência ainda não sabe como curar um paciente psicótico. O que fazemos é medicar um paciente para que os seus sintomas psicóticos não se manifestem. E isso não é curar. E o final ainda dá uma reflexão mastigada: "fico imaginando o que é pior: viver como um monstro, ou morrer como um homem bom".
Temporário 12
4.3 590Incrível como a gente pode não falar sobre nossos problemas, mas acabamos colocando estes problemas no que fazemos pelas entrelinhas. É inevitável. Pode ser uma vontade de
acertar com um taco de beisebol a cabeça de um pai que abusa da filha. Pode ser um rap. Pode ser uma história de um polvo e de tubarão.
a Grace para interpretar histórias de polvo e tubarão
A Separação
4.2 724 Assista AgoraO filme tem uma atmosfera tensa. Penso que em alguns momentos podemos deixar de perceber alguma coisa ou algo passar batido por fazermos parte de uma cultura diferente. Temos que estar atentos ao significado da religiosidade e à participação social da mulher, que são diferentes da nossa cultura ocidental. Porém, por outro lado, mostra que alguns dilemas cotidianos do ser humano são universais.
Eu não sei até que ponto o divórcio, no início do filme, era apenas um meio para um fim, ou seja, para Simin conseguir viajar para o exterior. Não sei se Simin e Nader realmente queriam se divorciar, se se pensar no caráter da relação entre os dois. Simin fala, inclusive, que queria que Nader fosse junto. Será que queriam ficar separados mesmo?Porém, no final do filme, os dois realmente estavam se divorciando, independente de viagem para o exterior. Isso muda todo o sentido da separação do casal. E o significado que isso tem, depois de toda a construção do filme, é fascinante.
Por último, minha mãe disse: "ai, não acredito que não mostra com quem ela [Termeh] fica no final". Meu pai, respondendo: "eu acho que ela ficou com o pai". Minha mãe, retrucando: "eu acho que ela ficou com a mãe". A despeito de meu pai e minha mãe defenderem seus correspondentes no filme, importa mostrar com quem Termeh ficou?
Da Servidão Moderna
4.2 114 Assista AgoraAjudem-me, sei que tem bem mais. Koyaanisqaatsi, The Corporation, Baraka, Nascido para Matar, Requiem para um Sonho, Eles Vivem, Magnólia, Gladiador, 1984, Bourne (não sei qual dos 3 primeiros). E aí?
Relatos Selvagens
4.4 2,9K Assista AgoraConcretizando o que, por vezes, temos vontade de fazer.
Mad Max: Estrada da Fúria
4.2 4,7K Assista AgoraQuando eu vi a média 4.6 aqui no Filmow com quase 1000 votos, pensei: "poha, preciso ver urgente esse filme".
O filme é muito bom. Muita ação. Thriller intenso. Nem preciso comentar de todos os pontos positivos porque a galera tá descrevendo bem aí nos comentários. Mas além disso, tem um ponto muito importante que, ao meu ver, o filme deixou a desejar, que é a
construção do Max como personagem. Pra mim, ele foi um personagem muito superficial, no sentido de: quem é o Max? De onde ele vem? Pra onde vai? Como se identificar com o personagem? Tem um passado que o atormenta, mas não foi mostrado nada sobre o que realmente aconteceu nesse passado. Nesse sentido, acredito que a identificação que o telespectador pode ter com o Max está sujeita às deduções que cada um faz sobre ele, principalmente sobre o seu passado. Digo "deduções" porque nem tem o que "interpretar", já que não sabemos nada além das alucinações que ele tem. Tudo bem que era característica dele ser fechado, reservado e solitário. Mas eu o senti muito deslocado dos outros personagens, Até o Nux tem mais história no filme do que o Max. Se comparado com a Furiosa então, nem se fala. Nesse panorama, penso que a construção do personagem é essencial pra ocorrer uma identificação e, consequentemente, uma catarse. E pra mim isso não ocorreu.
Ps.: o que era aquele doidão tocando guitarra o tempo todo? HAHAHAHA!
Jogo de Cena
4.4 336 Assista AgoraTão simples: uma cadeira, uma câmera e uma pessoa pra falar. Mas tão complexo: o ser humano, ao relatar histórias de sua vida; ou ao interpretar uma história do outro.
Fascinante. Histórias que estão desenhadas nos rostos daquelas mulheres. Mas meu assunto especial do comentário de hoje é em relação ao jogo de cena, literalmente.
Para mim, por mais que não conhecesse algumas das atrizes (e, portanto, não conseguia diferenciar o real da interpretação apenas por saber quem era atriz), era nítida a diferença no discurso. Seja pela emoção, pelos detalhes, pelo discurso truncado. Para mim, era nítida a falta de autenticidade no relato das atrizes. E quando digo isso, não quero menosprezar as atrizes, as quais foram excelentes. Porém, tem uma frase do Jung, sobre a Psicologia e a posição do terapeuta, que ele dizia algo mais ou menos assim: "nós só podemos conduzir o paciente até onde nós mesmos trilhamos". E, de certa forma, isso aconteceu durante o filme. Como seria possível que as atrizes conseguissem transmitir a mesma autenticidade daquelas histórias, com tantos sentimentos e emoções envolvidas, sem elas mesmas terem vivenciado o que estavam falando? É impossível. Penso que é somente com o exercício da catarse - de ser tocado, metaforicamente, pelo outro e criar-se a empatia, digamos assim - que podemos nos aproximar dessa condição. Mas só nos aproximar, porque acredito que, no exercício da interpretação, de alguma forma iremos inserir nossa visão de mundo ou de quem nós somos, ou pelo menos algum elemento destes, na reprodução de um discurso.
Tentei imaginar o que se passava na cabeça das atrizes, as quais tinham que sobrepor o lado racional sobre o emocional, já que exigia da memória o tempo todo pra lembrar das histórias daquelas mulheres. Mas ao mesmo tempo, as histórias eram repletas de sentimentos e emoções. Então como sobrepor o racional sobre tudo isso? Complexo.
Nessas ruas da vida tem um bosque que se chama solidão. A solidão de se sentir incompreendido, de que ninguém, nunca, vai entender perfeitamente o que eu sinto. Mas é justamente esta incompreensão que me torna único, que me torna humano.
Excelente obra do Coutinho para exercitar nosso reconhecimento do outro. De aceitar o outro como ele é. Sem nossas projeções. De certa forma me sinto triste porque não precisamos de um filme pra escutar histórias como estas. São mulheres comuns, que encontramos diariamente na fila do mercado, dentro de um ônibus ou caminhando nas ruas.
Ps.: já olhou pro céu hoje?
Maze Runner: Correr ou Morrer
3.6 2,1K Assista AgoraFiquei me perguntando porque eu gostei tanto desse filme. Algumas horas depois eu descobri.
Meu jogo favorito na adolescência era The Legend of Zelda: Ocarina of Time.
Alguém mais se sentiu um pouco dentro da Kokiri Forest? Aquela torre que Teresa sobe quando chega à Clareira é muito parecida com a casa de Link, onde se inicia o jogo. Foi a primeira coisa que pensei quando vi a torre. E a semelhança do labirinto do filme com o Lost Woods nem preciso comentar muito...
A Garota Ideal
3.8 1,2K Assista AgoraO filme me surpreendeu. Uma história envolvente com ótimas atuações. Ryan Gosling trabalhou muito bem. Vou tentar fazer uma análise da construção de Lars e da condição em que ele se encontrava.
Lars não era violento. Era uma boa pessoa. Mas tinha dificuldade com o toque e com a afetividade. Além disso, logo de início percebi que um dos conflitos que Lars tinha era quando a mãe morreu em seu parto. Ele até comenta com a psicóloga, sobre a gravidez, que “É tão perigoso que não quero nem pensar”.
Na primeira vez que ele vai à igreja, uma senhora pergunta se ele tem namorada, mas ele fala que ele está sozinho. Ela fala para Lars: “Bem não fique assim por muito tempo, não é bom para você”. Provavelmente tenha gerado alguma angústia nele e tenha se tornado um dos desencadeadores para a Bianca.
Outra cena que achei curiosa foi quando, logo após a primeira vez que Lars vai à igreja com a Bianca e eles recebem flores, Lars comenta: “São bonitas, não? E não são reais, então vivem para sempre, não é legal?”, o que indica uma ideia de que o que é real não é uma coisa legal, porque não vive para sempre.
Mas para mim, o grande conflito dele era a crença de que
as pessoas não se importavam com ele, demonstrada em uma discussão com a Karin. Esta discussão fez com que ele tomasse consciência de algumas coisas e, inclusive, na próxima cena, agradece o irmão pelo o que ele tem feito. E, ao meu ver, a Bianca funcionou como um rito de passagem, funcionando como autoafirmação e para dar conta da falta: falta de afeto, falta de toque, falta de pessoas que se importam com ele, falta em ter alguém ao seu lado. Todos geradores de angústia. Digo isso, de rito de passagem, pelo comentário de Lars para seu irmão: “Eu estava conversando com a Bianca e ela disse que na cultura dela tem esses ritos de passagem, rituais e cerimônias e todas essas coisas, sabe? Quando você as faz, ou se já fez, te mostram que você é um adulto. Isso não parece ótimo?”, e aí completa: “Como você sabe que é um homem? (...) Eu tenho que saber”. Nesse sentido, um rito de passagem o tornaria um adulto, o tornaria um homem.
A discussão com a Karin, todas as flores que ele recebeu quando a Bianca ficou doente, além de toda a atenção, apoio e suporte de todos, criou-se um ambiente de acolhimento a Lars, fundamental para sua melhora. E agora que Lars “se tornou um homem”, pode seguir sua vida.
Philippe Ariès afirma que os ritos de passagem, da infância para a vida adulta, se perderam com o tempo. Ou se era criança, ou se era adulto. Não existia a adolescência antigamente. A adolescência só surgiu pela falta da eficácia dos ritos de passagem tradicionais, que foram se deteriorando com o tempo. Isso em função de vários fatores. Agora as pessoas têm de encontrar outros modos para se tornarem adultas. Talvez seja isso que Lars tenha feito.
Don Juan DeMarco
3.7 515 Assista AgoraJohnny Depp e Marlon Brando estão demais. Filme muito bom.
Analisando o personagem de Don Juan,
interpretei a fantasia dele, de se intitular como o Don Juan e o maior amante do mundo, como uma autoafirmação de sua masculinidade, já que ele ameaçava se jogar do alto de um outdoor por ter sido rejeitado por uma mulher. Mas nessa perspectiva de autoafirmação de masculinidade, qual adolescente não teve a pretensão em ser um Don Juan diante da pergunta: eu consigo conquistar uma mulher?
Em uma das cenas, o psiquiatra Dr. Mickler o questiona sobre a versão da avó sobre a sua vida, que
contradiz toda a versão de Don Juan, o mesmo diz: “fantasia interessante, mas se a faz feliz...”
E aí o psiquiatra se vê em um dilema ético: até que ponto a fantasia em ser Don Juan realmente é saudável para o jovem e o faz feliz?
Cisne Negro
4.2 7,9K Assista AgoraHá alguns meses fiz um trabalho para a faculdade de uma análise psicológica sobre Nina. O trabalho original continha 5 páginas, mas eu fiz um breve resumo sobre o mesmo em uma linguagem não-técnica para quem se interessar.
A principal questão a ser analisada nesse caso é a construção familiar de Nina, no que diz respeito à relação com a sua mãe. A mãe de Nina foi uma bailarina sem sucesso e, assim, de alguma forma, a mãe viu em Nina a oportunidade de realizar seu desejo, dizendo: “Esse é o seu momento, Nina. Não deixe passar!” Para isto se concretizar, a mãe repreendeu todas as possibilidades que afastasse Nina do objetivo de se tornar a melhor bailarina da Companhia, utilizando-se de métodos coercitivos para impor a Nina o seu know-how em ser bailarina. Desta forma, o repertório comportamental de Nina é controlado por regras e por consequências sociais da mãe. Uma das principais cenas que demonstra a complexidade do cenário citado acima é quando a mãe oferece um bolo após Nina ter conseguido o papel de Rainha dos Cisnes. Nina não quis comer e, consequentemente, Nina contraria a mãe. A mãe, porém, utiliza de mecanismos coercitivos para manter Nina submissa à ordem arbitrária da mãe – ameaçando jogar o bolo fora se Nina não comer.
Em suma, as contingências manejadas pela mãe não permitiram a aquisição de outro repertório comportamental, os quais, independente de ela ser bailarina ou não, são saudáveis para o seu desenvolvimento como pessoa. Por conseguinte, Nina tinha déficits de comportamentos que dificultavam a convivência dela em qualquer ambiente e, desta forma, desconhecia como desempenhar o Cisne Negro, pois isto requeria adquirir outro repertório comportamental – como rebeldia, oposição, gosto pelo prazer, enfrentar a autoridade. Consequentemente, era inconcebível para Nina ser o Cisne Negro no início da apresentação já que seu repertório era limitado, a mãe não estava preparada para instalar o repertório comportamental exigido e o grupo profissional se limitava a aprovar ou não os comportamentos, sem dar regras de como se comportar. Por outro lado, o grupo profissional indicou para que Nina vivenciasse o “negro” em sua vida – o diretor diz que não queria que Nina representasse, mas que fosse; o mesmo fala pra ela ir para casa e se masturbar –, ou seja, como se o repertório do Cisne Negro no palco só surgisse a partir do contato com contingências naturais.
Desta forma, a alternativa que surgiu para Nina em exercer o papel do Cisne Negro, foi de se opor aos valores da mãe, aderindo às indicações da Companhia sobre a vivência do “negro” em sua vida e se aproximando de Lily (que era a imagem do Cisne Negro). Com efeito, Nina se permitiu expor-se às contingências naturais que produzem o Negro do ser humano, mas fez isso de forma radical (como masturbação, fumar um cigarro, balada à noite e relações íntimas com Lily). Não por opção, mas por coerção, fugindo não mais da mãe, que dizia “Você não é a minha Nina!”, mas fugindo do fracasso, e até dizendo para a mãe: “Eu sou a rainha! Você é que nunca foi importante! É a minha vez! É a minha vez!”. A dualidade tinha que ser incorporada pela mesma e única pessoa e para criar a compatibilidade entre o Cisne Branco e o Negro, ela criou a generalização bizarra e extrema, desenvolvendo um repertório comportamental complexo, construído em condições de contingências coercitivas intensas e adversas.
50%
3.9 2,2K Assista AgoraNunca assisti um filme que o Seth Rogen não fumasse maconha.
Intocáveis
4.4 4,1K Assista AgoraFilme fascinante. Engraçado e comovente. Ótimas atuações de Omar Sy e François Cluzet. A trilha sonora de Ludovico Einaudi é boa demais! Com direito a reflexões, quando Philippe diz:
"É exatamente isso que eu quero. Nenhuma compaixão". E aí não tem como deixar de pensar em até que ponto nosso cuidado, atenção e o desejo de diminuir o sofrimento do outro não acabam por gerar mais sofrimento ainda. Até que ponto, sem perceber, assumimos uma postura de superioridade perante o outro e o infantilizamos? É uma linha muito tênue.
"Ele [Driss] sempre me passa o telefone. Sabe por quê? Ele esquece".
Nesse sentido, como é motivante pensar que outras pessoas podem ter uma opinião totalmente diferente sobre o que eu faço e sobre a minha vida. E talvez a minha não seja a mais adequada, a mais engraçada ou a mais inteligente. Basta, apenas, entrar em contato com elas.