É um white people problem a não mais poder, mas tem seus contextos; não se passa nos EUA e, sim, na Irlanda; os ricos em quase todo lugar são os invejados, onde todos que não o são querem chegar, na Irlanda ser rico é uma marca de tristeza e pobreza espiritual, e isso torna tudo muito diferente; vale a pena dar uma olhadinha, vc poderá se surpreender, ou não?!
Que coisa, não? desconfio que o brilho do alemão tem contribuição grande do cinzento brasileiro; e olhe que nos anos de 1970, os trabalhadores da WW, no Brasil, eram considerados aristocracia operária!
O curta é um filme de Natal. Triste. Não tem estrelinhas ou repicar de sinos, nem milagres que transformem o frio em calor ou a solidão em multidão. Realista? Também não! É uma ficção sobre a condição humana, essa condição para a qual procuramos uma definição há milénios e que continua irredutível às análises da ciência, como já se revelara indecifrável para a filosofia. O que faz um homem deixar os seus para ir para uma terra estranha, correndo perigos desconhecidos? A necessidade? A aventura? Um desafio consigo mesmo? Uma prova de amor? Esse “Clandestino”, calado, no calado frio de um navio, não nos diz qual destas motivações o faz mover-se do rincão português para a terra prometida de um outro continente. Nos riscos da areia de que é feita esta narrativa ficam todas estas possibilidades e algumas outras que outro espectador nela saiba ver. É que este conto de José Rodrigues Miguéis, que inspirou Abi Feijó é, realmente, um conto de Natal. Até lá estão, no final, os votos: “Merry Christmas!”, gritados em grossa voz ao “Clandestino”. Até lá está o milagre de uma salvação oportuna, vinda de uma mão que pensávamos ser de algoz e que afinal é a da fraternidade. Por que, então, esse desconforto perante sinais aparentemente tão evidentes da mensagem feliz de um conto de Natal? É difícil de explicar, até porque o autor não se alongou muito nesse aspecto. Fica a impressão de que ele quer interpelar a má consciência do espectador, o seu egoísmo consumista, aquele que se tranquiliza dando aos pobres o que está destinado ao lixo. Mas, como o autor não quer cair no moralismo, fica apenas um olhar. Nenhuma das duas figuras principais do filme — o clandestino e o agente da autoridade — nos toca por aí além. Não lhes conhecemos o nome, não entramos na sua intimidade afetiva. São protagonistas de uma ação, é tudo. O próprio suporte que sustenta a narrativa é fugaz — um banco de areia. Um alisamento com a mão e pronto, desaparecem as rugas de um olhar angustiado e o que se torna realidade são os grãos de areia. Uma forma grosseira de pó. As imagens não se explicam por si. É necessário que uma voz nos explique o que vemos. Tudo aquilo passou-se, mas chega-nos em segunda mão, por alguém que tem o dom de fixar a memória em palavras e imagens. A interpelação à consciência individual do espectador sobre a sua condição humana esbate-se assim num discurso de “ouvir dizer”. É esta uma diferença entre este e um anterior filme de Abi Feijó, “Salteadores”. Neste também a narrativa principia por um “ouvir dizer”, mas que acorda no motorista o testemunho irrecusável de quem viu e ficou para contar, mesmo se essa recordação o deixa ainda e sempre alagado em suores frios. Em todo o caso, esses dois filmes são discursos sobre a condição humana. São partes de um estudo a que Abi Feijó há muito se dedica e espera-se que possa ser continuado com a adaptação de um conto de Miguel Torga, anunciado desde 1994 como uma média-metragem. Deve ter ficado presa algures, mas, como é próprio da condição humana, deseja-se que possa agora começar a ser trabalhada para que tome forma — e realidade. Lindo, é de dar orgulho de ser descendentes de portugueses!
Uma incursão à Comunidade do Maciel, distrito de prostituição no Bairro do Pelourinho em Salvador, Bahia. nos anos de 1980. A rua, os bordéis, a arquitetura em ruínas e, em especial, as mulheres e suas cicatrizes compõem uma paisagem humana de tensão erótica e social, medo e revolta, solidão e descaso, num ciclo de esquecimento de pessoas invisíveis. O filme é o documento de uma experiência vivida da realidade brasileira e um exercício sobre o retrato, o corpo e a pose. A imagem em movimento dialoga com imagens fixas, ruídos e músicas construindo um espaço de aproximação e confronto com o lugar, no qual a dinâmica entre fotografia e cinema constitui a poética do artista e sua experiência na década de 1980.
Um cineasta desamparado pede a uma série de mulheres que posem nuas para sua câmera neste curta-metragem marcante do belga Olivier Smolders. Os encontros silenciosos atuam como contraponto a um monólogo interno contemplativo que medita sobre o amor, a perda e os sutis jogos de poder de aversão e desejo em andamento em uma atmosfera permeada por uma irresistível melancolia erótica. Filmados em um preto e branco brilhante, os temas explorados encontram seu complemento perfeito no olhar austero, fascinado e abrangente da câmera. Genial!
Talvez você já tenha tido um fascínio pelas célebres sequências de títulos de filmes de Saul Bass, de qualquer forma, você pode completar sua compreensão da sensibilidade artística do homem assistindo Why Man Creates, o filme de animação de Bass e sua esposa / colaboradora Elaine, que ganhou o Oscar de 1968 para Documentário Short Subject. Uma meditação de oito partes sobre a natureza da criatividade, o filme mistura animação e ação ao vivo, usando o repertório avançado de técnicas ópticas de Bass, para olhar para as questões que envolvem como e por que os seres humanos, ao longo da história da civilização, continuaram fazendo coisas. Começa com os primeiros caçadores derrubando uma besta e fazendo uma pintura rupestre a partir dela. Dessa caverna ergue-se uma torre construída a partir de todas as principais fases da civilização humana: a roda perto da parte inferior, as pirâmides um pouco mais acima, a escuridão literal da Idade das Trevas à medida que a câmera sobe ainda mais alto, em última análise, coberta por um monte de aviões, trens e automóveis. Alguém se pergunta como Bass poderia, em uma atualização, ter empilhado sua representação da internet em cima de tudo isso, mas a data da sequência não lhe custa nada de seu virtuosismo. Alguns dos capítulos de Why Man Creates, em sua ousada "trippiness" do final dos anos sessenta, podem parecer mais datados do que virtuosísticos. Mas seria preciso um espectador endurecido para não abrir um sorriso na virada pitoresca de Bass quando uma mão desenhada abre os topos de uma série de cabeças de festeiros impensados, revelando o vazio interior. Em seus 29 minutos curtos, o filme também analisa a luta criativa em termos da grosseria das multidões avaliativas, a tendência de ideias radicais bem-sucedidas de se tornarem instituições auto perpetuantes e como as pessoas gostam mais das coisas quando têm bandeiras dos EUA nelas, nada proposital, for sure! Sua jornada termina em um cenário inesperado, em meio à labuta de cientistas agrícolas e médicos que podem perseguir uma ideia por anos apenas para descobrir que ela não tem aplicação. Essa nota de frustração leva a uma montagem de sol, fogo, estatuária, a Esfinge, telas e foguetes. Montado com a característica da complexidade visual sutil de Bass, ele nos leva da antiguidade à modernidade de uma maneira que só ele poderia fazer...muitíssimo interessante, estamos a falar dos anos de 1960/70.
Seus pais foram migrantes e você é uma segunda geração; você tem sonhos e realidades, como todos, mas você vive num país que é famoso por suas hospitalidades difundidas mundo agora, é um sonho? e a realidade? um documentário muito rico, uma visão, certamente um recorte, mas muito valioso para ajudar a entender um fenômeno de movimentação que tende a se tornar bastante comum nos próximos 20 anos...
Parece quase impossível que um filme de 16 minutos possa construir um intrincado universo de ficção científica sem se esticar em nada além de uma série de tropos aleatórios ou, na melhor das hipóteses, uma bagunça admirável. Parece ainda mais renorto que tal obra poderia transbordar com seu próprio senso de humor distinto, tragédia e esperança agridoce. No entanto, existe o World of Tomorrow (2015) – um pequeno milagre de um filme, que, amplamente celebrado no circuito de festivais, é agora, finalmente, livremente visto online. (A obra é eminentemente agradável tanto como uma experiência autônoma quanto como parte de uma trilogia de curtas que o diretor estadunidense Don Hertzfeldt estabeleceu dentro do universo Mundo do Amanhã. O filme segue uma jovem chamada Emily que encontra um clone adulto de si mesma, de 227 anos no futuro. Em seu encontro, o clone introduz Emily a conceitos – desde transferências de consciência, viagens no tempo, até os perigos do amor – que ela não poderia começar a compreender. Enquanto atravessam paisagens analógicas e digitais, e memórias de um passado, presente e futuro entrelaçados, o clone detalha o estranho mundo ainda por vir. É uma visão distopia e sombriamente cômica – uma em que os habitantes passam a maior parte do tempo revisitando memórias em telas de visão ampliada, onde tecnologias de preservação da consciência exacerbam a distância entre ricos e pobres, e as pessoas se engravidam com seu clone exato em vãs esperanças de viver para sempre. Os espectadores que envelheceram ao lado da internet podem reconhecer Hertzfeldt por seu vídeo protoviral no qual um sujeito com uma colher enorme cruza caminhos com uma banana antropomorfizada. (Se, na adolescência, você já baixou um programa de compartilhamento de arquivos antes do YouTube, há uma boa chance de as palavras "Minha colher é muito grande" o transportarão de volta para o início dos anos 2000.) O clipe fazia parte de um projeto hertzfeldt maior chamado Rejeitado (2000). Algo como um cruzamento entre uma tira de quadrinhos animada e um show de comédia de esboços, o trabalho foi uma pedra angular inicial do humor da internet, e alcançou tanto status clássico cult quanto aclamação mainstream. Com suas figuras inquietantes e sensibilidade absurda, os fragmentos de forma curta de rejeitados sugerem a estética e imaginação que Hertzfeldt traria para suas obras mais posteriores e ambiciosas – se não seu talento para criar mundos imersivos e afetar histórias. Em World of Tomorrow, os números permanecem esparsos, mas existem em uma rica paisagem visual. Com suas personagens movendo-se através de memórias e o tecido de uma internet de última geração que liga neurais, Hertzfeldt evita os fundos brancos de seus primeiros trabalhos e constrói seu pequeno universo em torno de cores vibrantes e figuras geométricas pairando. O olhar, ao mesmo tempo ansioso e estranhamente bonito, forma uma base perfeita para o salto astuto de Hertzfeldt na narrativa (se não bastante linear). Chamando de volta para sua comédia surrealista anterior, ele cria alguns momentos genuínos de riso em voz alta. No entanto, por todo o humor da força do filme e ruminação existencial, Hertzfeldt tem o cuidado de não escorregar no niilismo. Em vez disso, ele deixa os espectadores com uma mensagem sincera para fazer o seu melhor para evitar o desespero, mesmo que todos saibamos como nossas histórias acabam. Genial e eu recomendo fortemente...
Filmes sobre arrependimento, principalmente ao final da vida, sempre me incomodaram. mas este foi emocionante...que também estou a ficar velho...deve ser isso!
São três os pontos de vista diferentes que se alinham dentro da mesma narrativa; o curta combina as histórias de três personagens de uma habitação pública. Um pensionista deficiente, uma mãe solteira e um entusiasta da dança no centro da história não parecem compartilhar muito em comum, mas quando o elevador do prédio quebra, percebemos que a característica de conexão entre o trio não é apenas sua proximidade, mas o quão perto todos eles estão do ponto de ruptura. Inspirado por uma "bagunça policial" que aconteceu em sua cidade natal, Aeschbacher pegou elementos desta situação do mundo real e os uniu com ideias em torno do efeito borboleta da teoria do caos, para criar uma história sobre como problemas aparentemente pequenos podem ter grandes ramificações. "Ao propor sucessivamente três histórias distintas em torno de um elemento crucial: os defeitos do elevador, gostaria de mostrar que, apesar do isolamento em que vivemos, os problemas de alguns alteram a vida de outros", explica o diretor enquanto discutimos suas ambições para Bonobo. Filmado ao longo de uma semana, em um subúrbio na parte francesa da Suíça, Aeschbacher lançou seu filme usando uma mistura de profissionais e não profissionais (alguns da área onde as filmagens ocorreram). Filmado na sempre popular proporção 4:3, Aeschbacher e seu cineasta Dino Berguglia empregam a natureza confinante deste tamanho de tela em particular para exagerar a natureza claustrofóbica da situação. As personagens de Bonobo se sentem presas pelo elevador quebrado e presas pela estrutura da fotografia. À medida que as três narrativas individuais se fundem e nossos três protagonistas são forçados a encontrar suas próprias soluções para suas lutas, Aeschbacher e seu editor, Youri Tchao, levam o filme para outra engrenagem com uma montagem magistral para concluir seu filme. Sublinhado pelos exuberantes violinos do Verão de Vivaldi, o crescendo de Bonobo vê-o rapidamente cortado de uma personagem para a outra enquanto testemunhamos todas as suas histórias terminarem em um clímax que estará reverberando algum tempo depois de assistir.
Cansado do mundo, um homem cai em um sono profundo. Seu sonho o leva a um universo utópico, uma cópia da terra sem o pecado original. Em contato com o povo de lá, ele introduzirá a ciência e noções de verdade que os levarão à sua desgraça. O sonho de um homem ridículo, além de ser um filme, é uma oportunidade de questionar o processo de produção de filmes. Seu objetivo é confrontar duas ideias do cinema, creio: a forma tradicional de filmar derivada da divisão dos trabalhos, e a forma improvisada/colaborativa que ganhou vida desde a minimização das disposições técnicas. A primeira parte do filme foi rodada na reserva natural dos Vercors (Alpes Franceses) e foi principalmente encenada por meio de improvisações e oficinas. A segunda parte foi rodada nas ruínas de Valchevriere, um reduto de resistência na Segunda Guerra Mundial, e foi encenada, storyboarded, e iluminada de acordo com a tradição do cinema clássico. A fim de alcançar uma maneira comum de pensar para o processo colaborativo, um grupo transdiciplinar foi formado em Paris durante dois anos. Os rascunhos que foram feitos consideraram a ligação entre dança, improvisação e produção cinematográfica. É uma obra de arte! A ideia original não me poderia ser mais agradável, pois trata-se de um conto do escritor russo Fiódor Dostoiévski de 1877! Vejam o filme e leiam tudo que puderem de Dostoiéviski...
Ele passou sua infância e juventude em Clichy-Montfermeil, onde Victor Hugo localizou parte de seus Misérables. Hoje, Ladj Ly, um diretor francês de origem maliana, está renovando o gênero de filmes suburbanos com seu primeiro longa-metragem, 24 anos após La Haine, de Mathieu Kassovitz. Na época, o filme deu vida nova ao cinema francês, mas não mudou o destino dos viajantes. Quatorze anos após os tumultos de 2005 que impulsionaram seu desejo de se tornar "o homem com a câmera", Ladj Ly filmou, por sua vez, violência e miséria, mas especialmente seres humanos na cidade de Les Bosquets, em Montfermeil, um bairro difícil nos subúrbios. Desde os tumultos de 2005, as coisas realmente não mudaram. A primeira cena de Les Misérables mostra um país em júbilo: envolto em uma bandeira azul-branca-vermelha, um jovem viajante vai a Paris para celebrar a vitória dos Blues na Copa do Mundo. Hoje, todos são franceses e orgulhosos de serem franceses, não há mais cor da pele ou classes sociais...a semelhança com a ideia do carnaval brasileiro, o lugar e o momento em que as classes sociais se confundem, onde se aniquilam as diferentes e onde todos são iguais perante a festa! No dia seguinte, de volta à realidade. Vemos Stéphane (Damien Bonnard) chegar ao bairro. A jovem policial acaba de ser transferida de Cherbourg para Les Bosquets para ficar perto de sua família. Mas ela não faz ideia de que, ao integrar o famoso BAC, a Brigada Anticrime de Montfermeil, nos anos 93, viverá o pior dia de sua vida...Les Misérables, o título do filme, "é uma piscadela para dizer: um século depois, a miséria ainda está lá neste território", observa Ladj Ly. O distrito de Bosquets há muito o serviu como um estúdio ao ar livre. Durante anos, ele filmou policiais aqui durante suas intervenções. Tocar na realidade é a incrível força do filme. Porque na origem do roteiro, há uma prisão violenta que o próprio diretor filmou com sua câmera em outubro de 2008 e depois postou na Internet. Este erro policial onde policiais espancaram um jovem algemado de Les Bosquets será o primeiro onde policiais serão sentenciados após um vídeo. Ladj Ly então se tornou uma estrela além de seus aposentos. Depois de centenas de vídeos filmados em seu bairro se expondo à ira da polícia, Ladj Ly deu a si mesmo o tempo necessário para capturar esse ambiente que permaneceu quase invisível para o cinema. Melhor ainda, ele consegue mostrá-lo de uma nova maneira e transmiti-lo com uma visão de 360 graus e não apenas por causa dos drones usados que sobrevoam a cidade. Onde a maioria da mídia não se atreve a entrar com sua câmera, ele está em casa há 38 anos. Em Montfermeil, ele aprendeu tudo sobre cinema. De vídeos de "relógio policial" a minicâmera, ele chegou agora ao topo da sétima arte e pediu para representar a França no Oscar. Seus atores dizem que não se sentem como uma personagem: "Parece muito com a vida real", confidenciou o jovem Al-Hassan Ly, conhecido como Buzz no filme. Para Ladj Ly, os subúrbios, é essa colcha de retalhos que vemos quando ele voa seu drone sobre a cidade: o cinza das torres então se torna uma paisagem colorida, os edifícios degradados são transformados em tijolos lego, para compor e recompor à vontade. Este é o playground dele para a câmera. Com ele e seu drone, nós temos altura nos subúrbios. Em total imersão, ele examina tudo: do telhado ao porão, pelas escadas, pelos apartamentos, até o Kebab mantido por um irmão muçulmano, tão radical quanto ele está cheio de sabedoria corânica, e deveria manter o bairro. A força do filme não vem da romantização ou do famoso "baseado em casos reais", mas da visão dos perdedores, que todos os dias, incansavelmente. são agredidos, de maneiras variadas!
Marcel Duchamp produziu apenas um filme, Anémic Cinéma (1926). Compartilha, de certa forma, algumas das preocupações com a criação de uma linguagem visual abstrata, mas se diferencia da tradição do movimento implícito mostrado na pintura abstrata ao aparente movimento do cinema. Esse filme, filmado por Man Ray, cria uma comparação visual entre uma série de trocadilhos franceses risqué e uma série de ilusões ópticas cinéticas que oscilam entre convexo e côncavo quando girados. A relação entre os elementos visuais e verbais desse filme é intrincada; a complexidade do significado contida por essa formulação é desmentida pela simplicidade do próprio filme. Entendê-lo requer uma consideração de como esse filme e seus súditos podem estar relacionados com o resto da obra de Duchamp. Tal processo revela a linguagem abstrata que Duchamp propôs em suas outras obras. Os discos oscilantes tão obviamente em exibição em Anémic Cinéma são o que Duchamp chamou de "óptica de precisão"; seu nome para as ilusões específicas usadas no filme era "rotoreliefs". Os primeiros exemplos de arte cinética foram originalmente projetados para exposição na mesa giratória de um fonógrafo. Uma vez em movimento, eles pulsam visualmente entre o espaço positivo e negativo. Duchamp identificou esse movimento aparente como "florescimento cinematográfico"; ele a conecta diretamente, tão literalmente visível em Anémic Cinéma, com o papel do desejo em sua pintura-sobre-vidro, O Grande Vidro (1915-23). A importância do filme, arrisco, estaria na materialidade exposta de que um artista não domina, ainda que tente, ser genial em todas as vertentes...Duchamp foi genial artista escultor, pintor e até poeta, mas como cineasta, deixou muito a desejar, e talvez ele mesmo tenha percebido isso, já que nem tentou outra vez...
A cidade de Hong Kong é uma confusão departamentalizada. A pura agressividade, as pessoas se acotovelando por trens ou gritando de longe, de alguma forma parece mais íntima do que inquietante. O que é mais confuso é a cidade aceitar tal agressão com naturalidade, mesmo diante de protestos espontâneos. Enquanto a tensão em Tóquio, no Japão, parece mais racional, em Hong Kong a tensão parece física, como se uma conexão estivesse sendo feita – mais importante do que a palavra falada, mais urgente, mais vital e mais humana. No mundo do cineasta japonês Toshio Matsumoto (1932–2017), “conexões” são tudo. Toshio Matsumoto: Tudo visível é vazioat Hong Kong's Empty Gallery contém uma seleção de curtas-metragens experimentais, documentários e peças sonoras de dois períodos decisivos da história cultural do Japão e os enquadra como fundamentais na prática cinematográfica de vanguarda de Matsumoto. Mostrados em quase escuridão, eles enfatizam a urgência de seu “espetáculo visual” como uma experiência física enervante e enfatizando a importância do Happening como uma forma radical de prática artística.
É preciso que a nossa emoção sobreviva, e é urgente que tenhamos respeito pelos africanos que por aqui aportaram, com a sua vontade, e ajudaram a moldar o que pode ser identificado como a identidade nacional, quer se queira ou não!
Indochine, uma das bandas mais populares francesas, lançaram em 2013 o single College Boy, do álbum Black City Parade, e o respectivo vídeo promocional gerou muita polêmica. Apesar da universalidade patente no vídeo, a luta contra a discriminação e, no exemplo deste vídeo, a homofobia, sempre esteve presente na obra da banda parisiense. A escolha do canadense Xavier Dolan, jovem realizador assumidamente homossexual e que tem recolhido inúmeros prêmios pelos seus filmes que tendem a abordar a sexualidade e a orientação das suas personagens, não foi ao acaso. No vídeo um jovem estudante, protagonizado pelo ator Antoine Olivier Pilon, sofre insultos e provocações de alguns dos seus colegas de turma pelo simples fato de ser diferente, num caso transversal de bullying. As agressões vão-se intensificando e os restantes colegas e professores, que inicialmente aparentam apoiar o jovem estudante nos seus sucessos, veem os seus olhos vendados à violência que o protagonista sofre. O culminar do vídeo passa pela cena da crucificação do estudante, completamente derrotado e massacrado, enquanto os seus colegas e amigos assistem vendados. Quando a polícia, símbolo da justiça, finalmente chega, os autores do crime conseguem confundi-la fazendo-a disparar contra o já debilitado estudante na cruz. A equiparação dos agressores aos que deixam que os mesmos atuem incólumes é cruel mas portentosa de uma verdade acidulante que espelha a indiferença de muito do que a sociedade promove por meio das injustiças para com os mais básicos direitos humanos. Um deles passa por deixar as crianças e adolescentes crescerem para serem as pessoas que têm que ser, sem pressões nem discriminação. Oxalá eu veja isso, ainda...
Normal People Confessions
4.2 6É um white people problem a não mais poder, mas tem seus contextos; não se passa nos EUA e, sim, na Irlanda; os ricos em quase todo lugar são os invejados, onde todos que não o são querem chegar, na Irlanda ser rico é uma marca de tristeza e pobreza espiritual, e isso torna tudo muito diferente; vale a pena dar uma olhadinha, vc poderá se surpreender, ou não?!
Volkswagen: Operários na Alemanha e no Brasil Alemanha
3.5 1Que coisa, não? desconfio que o brilho do alemão tem contribuição grande do cinzento brasileiro; e olhe que nos anos de 1970, os trabalhadores da WW, no Brasil, eram considerados aristocracia operária!
Clandestino
5.0 1O curta é um filme de Natal. Triste. Não tem estrelinhas ou repicar de sinos, nem milagres que transformem o frio em calor ou a solidão em multidão. Realista? Também não! É uma ficção sobre a condição humana, essa condição para a qual procuramos uma definição há milénios e que continua irredutível às análises da ciência, como já se revelara indecifrável para a filosofia. O que faz um homem deixar os seus para ir para uma terra estranha, correndo perigos desconhecidos? A necessidade? A aventura? Um desafio consigo mesmo? Uma prova de amor? Esse “Clandestino”, calado, no calado frio de um navio, não nos diz qual destas motivações o faz mover-se do rincão português para a terra prometida de um outro continente. Nos riscos da areia de que é feita esta narrativa ficam todas estas possibilidades e algumas outras que outro espectador nela saiba ver. É que este conto de José Rodrigues Miguéis, que inspirou Abi Feijó é, realmente, um conto de Natal. Até lá estão, no final, os votos: “Merry Christmas!”, gritados em grossa voz ao “Clandestino”. Até lá está o milagre de uma salvação oportuna, vinda de uma mão que pensávamos ser de algoz e que afinal é a da fraternidade. Por que, então, esse desconforto perante sinais aparentemente tão evidentes da mensagem feliz de um conto de Natal? É difícil de explicar, até porque o autor não se alongou muito nesse aspecto. Fica a impressão de que ele quer interpelar a má consciência do espectador, o seu egoísmo consumista, aquele que se tranquiliza dando aos pobres o que está destinado ao lixo. Mas, como o autor não quer cair no moralismo, fica apenas um olhar. Nenhuma das duas figuras principais do filme — o clandestino e o agente da autoridade — nos toca por aí além. Não lhes conhecemos o nome, não entramos na sua intimidade afetiva. São protagonistas de uma ação, é tudo. O próprio suporte que sustenta a narrativa é fugaz — um banco de areia. Um alisamento com a mão e pronto, desaparecem as rugas de um olhar angustiado e o que se torna realidade são os grãos de areia. Uma forma grosseira de pó. As imagens não se explicam por si. É necessário que uma voz nos explique o que vemos. Tudo aquilo passou-se, mas chega-nos em segunda mão, por alguém que tem o dom de fixar a memória em palavras e imagens. A interpelação à consciência individual do espectador sobre a sua condição humana esbate-se assim num discurso de “ouvir dizer”. É esta uma diferença entre este e um anterior filme de Abi Feijó, “Salteadores”. Neste também a narrativa principia por um “ouvir dizer”, mas que acorda no motorista o testemunho irrecusável de quem viu e ficou para contar, mesmo se essa recordação o deixa ainda e sempre alagado em suores frios. Em todo o caso, esses dois filmes são discursos sobre a condição humana. São partes de um estudo a que Abi Feijó há muito se dedica e espera-se que possa ser continuado com a adaptação de um conto de Miguel Torga, anunciado desde 1994 como uma média-metragem. Deve ter ficado presa algures, mas, como é próprio da condição humana, deseja-se que possa agora começar a ser trabalhada para que tome forma — e realidade. Lindo, é de dar orgulho de ser descendentes de portugueses!
Estranha Forma de Vida
3.4 132 Assista AgoraAlmodóvar, é Assim...
Salomé
3.0 60Almodóvar, é Assim...
Nada Levarei Quando Morrer, Aqueles que Me Devem Cobrarei no …
4.4 10Uma incursão à Comunidade do Maciel, distrito de prostituição no Bairro do Pelourinho em Salvador, Bahia. nos anos de 1980. A rua, os bordéis, a arquitetura em ruínas e, em especial, as mulheres e suas cicatrizes compõem uma paisagem humana de tensão erótica e social, medo e revolta, solidão e descaso, num ciclo de esquecimento de pessoas invisíveis. O filme é o documento de uma experiência vivida da realidade brasileira e um exercício sobre o retrato, o corpo e a pose. A imagem em movimento dialoga com imagens fixas, ruídos e músicas construindo um espaço de aproximação e confronto com o lugar, no qual a dinâmica entre fotografia e cinema constitui a poética do artista e sua experiência na década de 1980.
O Baterista da Cruz Vermelha
4.2 6muito triste, quase nem consegui terminar de ver...
L'amateur
4.4 2Um cineasta desamparado pede a uma série de mulheres que posem nuas para sua câmera neste curta-metragem marcante do belga Olivier Smolders. Os encontros silenciosos atuam como contraponto a um monólogo interno contemplativo que medita sobre o amor, a perda e os sutis jogos de poder de aversão e desejo em andamento em uma atmosfera permeada por uma irresistível melancolia erótica. Filmados em um preto e branco brilhante, os temas explorados encontram seu complemento perfeito no olhar austero, fascinado e abrangente da câmera. Genial!
Why Man Creates
3.8 5Talvez você já tenha tido um fascínio pelas célebres sequências de títulos de filmes de Saul Bass, de qualquer forma, você pode completar sua compreensão da sensibilidade artística do homem assistindo Why Man Creates, o filme de animação de Bass e sua esposa / colaboradora Elaine, que ganhou o Oscar de 1968 para Documentário Short Subject. Uma meditação de oito partes sobre a natureza da criatividade, o filme mistura animação e ação ao vivo, usando o repertório avançado de técnicas ópticas de Bass, para olhar para as questões que envolvem como e por que os seres humanos, ao longo da história da civilização, continuaram fazendo coisas. Começa com os primeiros caçadores derrubando uma besta e fazendo uma pintura rupestre a partir dela. Dessa caverna ergue-se uma torre construída a partir de todas as principais fases da civilização humana: a roda perto da parte inferior, as pirâmides um pouco mais acima, a escuridão literal da Idade das Trevas à medida que a câmera sobe ainda mais alto, em última análise, coberta por um monte de aviões, trens e automóveis. Alguém se pergunta como Bass poderia, em uma atualização, ter empilhado sua representação da internet em cima de tudo isso, mas a data da sequência não lhe custa nada de seu virtuosismo. Alguns dos capítulos de Why Man Creates, em sua ousada "trippiness" do final dos anos sessenta, podem parecer mais datados do que virtuosísticos. Mas seria preciso um espectador endurecido para não abrir um sorriso na virada pitoresca de Bass quando uma mão desenhada abre os topos de uma série de cabeças de festeiros impensados, revelando o vazio interior. Em seus 29 minutos curtos, o filme também analisa a luta criativa em termos da grosseria das multidões avaliativas, a tendência de ideias radicais bem-sucedidas de se tornarem instituições auto perpetuantes e como as pessoas gostam mais das coisas quando têm bandeiras dos EUA nelas, nada proposital, for sure! Sua jornada termina em um cenário inesperado, em meio à labuta de cientistas agrícolas e médicos que podem perseguir uma ideia por anos apenas para descobrir que ela não tem aplicação. Essa nota de frustração leva a uma montagem de sol, fogo, estatuária, a Esfinge, telas e foguetes. Montado com a característica da complexidade visual sutil de Bass, ele nos leva da antiguidade à modernidade de uma maneira que só ele poderia fazer...muitíssimo interessante, estamos a falar dos anos de 1960/70.
100% Boliviano, Mano
3.3 1Seus pais foram migrantes e você é uma segunda geração; você tem sonhos e realidades, como todos, mas você vive num país que é famoso por suas hospitalidades difundidas mundo agora, é um sonho? e a realidade? um documentário muito rico, uma visão, certamente um recorte, mas muito valioso para ajudar a entender um fenômeno de movimentação que tende a se tornar bastante comum nos próximos 20 anos...
A Gravata
4.0 34É sempre uma boa notícia encontrar obras que se davam por perdidas! recomento!
O Mundo de Amanhã
4.3 51Parece quase impossível que um filme de 16 minutos possa construir um intrincado universo de ficção científica sem se esticar em nada além de uma série de tropos aleatórios ou, na melhor das hipóteses, uma bagunça admirável. Parece ainda mais renorto que tal obra poderia transbordar com seu próprio senso de humor distinto, tragédia e esperança agridoce. No entanto, existe o World of Tomorrow (2015) – um pequeno milagre de um filme, que, amplamente celebrado no circuito de festivais, é agora, finalmente, livremente visto online. (A obra é eminentemente agradável tanto como uma experiência autônoma quanto como parte de uma trilogia de curtas que o diretor estadunidense Don Hertzfeldt estabeleceu dentro do universo Mundo do Amanhã. O filme segue uma jovem chamada Emily que encontra um clone adulto de si mesma, de 227 anos no futuro. Em seu encontro, o clone introduz Emily a conceitos – desde transferências de consciência, viagens no tempo, até os perigos do amor – que ela não poderia começar a compreender. Enquanto atravessam paisagens analógicas e digitais, e memórias de um passado, presente e futuro entrelaçados, o clone detalha o estranho mundo ainda por vir. É uma visão distopia e sombriamente cômica – uma em que os habitantes passam a maior parte do tempo revisitando memórias em telas de visão ampliada, onde tecnologias de preservação da consciência exacerbam a distância entre ricos e pobres, e as pessoas se engravidam com seu clone exato em vãs esperanças de viver para sempre. Os espectadores que envelheceram ao lado da internet podem reconhecer Hertzfeldt por seu vídeo protoviral no qual um sujeito com uma colher enorme cruza caminhos com uma banana antropomorfizada. (Se, na adolescência, você já baixou um programa de compartilhamento de arquivos antes do YouTube, há uma boa chance de as palavras "Minha colher é muito grande" o transportarão de volta para o início dos anos 2000.) O clipe fazia parte de um projeto hertzfeldt maior chamado Rejeitado (2000). Algo como um cruzamento entre uma tira de quadrinhos animada e um show de comédia de esboços, o trabalho foi uma pedra angular inicial do humor da internet, e alcançou tanto status clássico cult quanto aclamação mainstream. Com suas figuras inquietantes e sensibilidade absurda, os fragmentos de forma curta de rejeitados sugerem a estética e imaginação que Hertzfeldt traria para suas obras mais posteriores e ambiciosas – se não seu talento para criar mundos imersivos e afetar histórias. Em World of Tomorrow, os números permanecem esparsos, mas existem em uma rica paisagem visual. Com suas personagens movendo-se através de memórias e o tecido de uma internet de última geração que liga neurais, Hertzfeldt evita os fundos brancos de seus primeiros trabalhos e constrói seu pequeno universo em torno de cores vibrantes e figuras geométricas pairando. O olhar, ao mesmo tempo ansioso e estranhamente bonito, forma uma base perfeita para o salto astuto de Hertzfeldt na narrativa (se não bastante linear). Chamando de volta para sua comédia surrealista anterior, ele cria alguns momentos genuínos de riso em voz alta. No entanto, por todo o humor da força do filme e ruminação existencial, Hertzfeldt tem o cuidado de não escorregar no niilismo. Em vez disso, ele deixa os espectadores com uma mensagem sincera para fazer o seu melhor para evitar o desespero, mesmo que todos saibamos como nossas histórias acabam. Genial e eu recomendo fortemente...
Marguerite
4.0 52Filmes sobre arrependimento, principalmente ao final da vida, sempre me incomodaram. mas este foi emocionante...que também estou a ficar velho...deve ser isso!
Bonobo
3.6 1São três os pontos de vista diferentes que se alinham dentro da mesma narrativa; o curta combina as histórias de três personagens de uma habitação pública. Um pensionista deficiente, uma mãe solteira e um entusiasta da dança no centro da história não parecem compartilhar muito em comum, mas quando o elevador do prédio quebra, percebemos que a característica de conexão entre o trio não é apenas sua proximidade, mas o quão perto todos eles estão do ponto de ruptura. Inspirado por uma "bagunça policial" que aconteceu em sua cidade natal, Aeschbacher pegou elementos desta situação do mundo real e os uniu com ideias em torno do efeito borboleta da teoria do caos, para criar uma história sobre como problemas aparentemente pequenos podem ter grandes ramificações. "Ao propor sucessivamente três histórias distintas em torno de um elemento crucial: os defeitos do elevador, gostaria de mostrar que, apesar do isolamento em que vivemos, os problemas de alguns alteram a vida de outros", explica o diretor enquanto discutimos suas ambições para Bonobo. Filmado ao longo de uma semana, em um subúrbio na parte francesa da Suíça, Aeschbacher lançou seu filme usando uma mistura de profissionais e não profissionais (alguns da área onde as filmagens ocorreram). Filmado na sempre popular proporção 4:3, Aeschbacher e seu cineasta Dino Berguglia empregam a natureza confinante deste tamanho de tela em particular para exagerar a natureza claustrofóbica da situação. As personagens de Bonobo se sentem presas pelo elevador quebrado e presas pela estrutura da fotografia. À medida que as três narrativas individuais se fundem e nossos três protagonistas são forçados a encontrar suas próprias soluções para suas lutas, Aeschbacher e seu editor, Youri Tchao, levam o filme para outra engrenagem com uma montagem magistral para concluir seu filme. Sublinhado pelos exuberantes violinos do Verão de Vivaldi, o crescendo de Bonobo vê-o rapidamente cortado de uma personagem para a outra enquanto testemunhamos todas as suas histórias terminarem em um clímax que estará reverberando algum tempo depois de assistir.
O Sonho de um Homem Ridículo
4.5 140Cansado do mundo, um homem cai em um sono profundo. Seu sonho o leva a um universo utópico, uma cópia da terra sem o pecado original. Em contato com o povo de lá, ele introduzirá a ciência e noções de verdade que os levarão à sua desgraça. O sonho de um homem ridículo, além de ser um filme, é uma oportunidade de questionar o processo de produção de filmes. Seu objetivo é confrontar duas ideias do cinema, creio: a forma tradicional de filmar derivada da divisão dos trabalhos, e a forma improvisada/colaborativa que ganhou vida desde a minimização das disposições técnicas. A primeira parte do filme foi rodada na reserva natural dos Vercors (Alpes Franceses) e foi principalmente encenada por meio de improvisações e oficinas. A segunda parte foi rodada nas ruínas de Valchevriere, um reduto de resistência na Segunda Guerra Mundial, e foi encenada, storyboarded, e iluminada de acordo com a tradição do cinema clássico. A fim de alcançar uma maneira comum de pensar para o processo colaborativo, um grupo transdiciplinar foi formado em Paris durante dois anos. Os rascunhos que foram feitos consideraram a ligação entre dança, improvisação e produção cinematográfica. É uma obra de arte! A ideia original não me poderia ser mais agradável, pois trata-se de um conto do escritor russo Fiódor Dostoiévski de 1877! Vejam o filme e leiam tudo que puderem de Dostoiéviski...
Les Misérables
3.7 5Ele passou sua infância e juventude em Clichy-Montfermeil, onde Victor Hugo localizou parte de seus Misérables. Hoje, Ladj Ly, um diretor francês de origem maliana, está renovando o gênero de filmes suburbanos com seu primeiro longa-metragem, 24 anos após La Haine, de Mathieu Kassovitz. Na época, o filme deu vida nova ao cinema francês, mas não mudou o destino dos viajantes. Quatorze anos após os tumultos de 2005 que impulsionaram seu desejo de se tornar "o homem com a câmera", Ladj Ly filmou, por sua vez, violência e miséria, mas especialmente seres humanos na cidade de Les Bosquets, em Montfermeil, um bairro difícil nos subúrbios. Desde os tumultos de 2005, as coisas realmente não mudaram. A primeira cena de Les Misérables mostra um país em júbilo: envolto em uma bandeira azul-branca-vermelha, um jovem viajante vai a Paris para celebrar a vitória dos Blues na Copa do Mundo. Hoje, todos são franceses e orgulhosos de serem franceses, não há mais cor da pele ou classes sociais...a semelhança com a ideia do carnaval brasileiro, o lugar e o momento em que as classes sociais se confundem, onde se aniquilam as diferentes e onde todos são iguais perante a festa! No dia seguinte, de volta à realidade. Vemos Stéphane (Damien Bonnard) chegar ao bairro. A jovem policial acaba de ser transferida de Cherbourg para Les Bosquets para ficar perto de sua família. Mas ela não faz ideia de que, ao integrar o famoso BAC, a Brigada Anticrime de Montfermeil, nos anos 93, viverá o pior dia de sua vida...Les Misérables, o título do filme, "é uma piscadela para dizer: um século depois, a miséria ainda está lá neste território", observa Ladj Ly. O distrito de Bosquets há muito o serviu como um estúdio ao ar livre. Durante anos, ele filmou policiais aqui durante suas intervenções. Tocar na realidade é a incrível força do filme. Porque na origem do roteiro, há uma prisão violenta que o próprio diretor filmou com sua câmera em outubro de 2008 e depois postou na Internet. Este erro policial onde policiais espancaram um jovem algemado de Les Bosquets será o primeiro onde policiais serão sentenciados após um vídeo. Ladj Ly então se tornou uma estrela além de seus aposentos. Depois de centenas de vídeos filmados em seu bairro se expondo à ira da polícia, Ladj Ly deu a si mesmo o tempo necessário para capturar esse ambiente que permaneceu quase invisível para o cinema. Melhor ainda, ele consegue mostrá-lo de uma nova maneira e transmiti-lo com uma visão de 360 graus e não apenas por causa dos drones usados que sobrevoam a cidade. Onde a maioria da mídia não se atreve a entrar com sua câmera, ele está em casa há 38 anos. Em Montfermeil, ele aprendeu tudo sobre cinema. De vídeos de "relógio policial" a minicâmera, ele chegou agora ao topo da sétima arte e pediu para representar a França no Oscar. Seus atores dizem que não se sentem como uma personagem: "Parece muito com a vida real", confidenciou o jovem Al-Hassan Ly, conhecido como Buzz no filme. Para Ladj Ly, os subúrbios, é essa colcha de retalhos que vemos quando ele voa seu drone sobre a cidade: o cinza das torres então se torna uma paisagem colorida, os edifícios degradados são transformados em tijolos lego, para compor e recompor à vontade. Este é o playground dele para a câmera. Com ele e seu drone, nós temos altura nos subúrbios. Em total imersão, ele examina tudo: do telhado ao porão, pelas escadas, pelos apartamentos, até o Kebab mantido por um irmão muçulmano, tão radical quanto ele está cheio de sabedoria corânica, e deveria manter o bairro. A força do filme não vem da romantização ou do famoso "baseado em casos reais", mas da visão dos perdedores, que todos os dias, incansavelmente. são agredidos, de maneiras variadas!
Cinema Anêmico
3.6 29Marcel Duchamp produziu apenas um filme, Anémic Cinéma (1926). Compartilha, de certa forma, algumas das preocupações com a criação de uma linguagem visual abstrata, mas se diferencia da tradição do movimento implícito mostrado na pintura abstrata ao aparente movimento do cinema. Esse filme, filmado por Man Ray, cria uma comparação visual entre uma série de trocadilhos franceses risqué e uma série de ilusões ópticas cinéticas que oscilam entre convexo e côncavo quando girados. A relação entre os elementos visuais e verbais desse filme é intrincada; a complexidade do significado contida por essa formulação é desmentida pela simplicidade do próprio filme. Entendê-lo requer uma consideração de como esse filme e seus súditos podem estar relacionados com o resto da obra de Duchamp. Tal processo revela a linguagem abstrata que Duchamp propôs em suas outras obras. Os discos oscilantes tão obviamente em exibição em Anémic Cinéma são o que Duchamp chamou de "óptica de precisão"; seu nome para as ilusões específicas usadas no filme era "rotoreliefs". Os primeiros exemplos de arte cinética foram originalmente projetados para exposição na mesa giratória de um fonógrafo. Uma vez em movimento, eles pulsam visualmente entre o espaço positivo e negativo. Duchamp identificou esse movimento aparente como "florescimento cinematográfico"; ele a conecta diretamente, tão literalmente visível em Anémic Cinéma, com o papel do desejo em sua pintura-sobre-vidro, O Grande Vidro (1915-23). A importância do filme, arrisco, estaria na materialidade exposta de que um artista não domina, ainda que tente, ser genial em todas as vertentes...Duchamp foi genial artista escultor, pintor e até poeta, mas como cineasta, deixou muito a desejar, e talvez ele mesmo tenha percebido isso, já que nem tentou outra vez...
O Alfabeto
3.7 121Eu não me empolgo de filmes de terror; nem sendo de Lynch!
Everything Visible Is Empty
3.5 6A cidade de Hong Kong é uma confusão departamentalizada. A pura agressividade, as pessoas se acotovelando por trens ou gritando de longe, de alguma forma parece mais íntima do que inquietante. O que é mais confuso é a cidade aceitar tal agressão com naturalidade, mesmo diante de protestos espontâneos. Enquanto a tensão em Tóquio, no Japão, parece mais racional, em Hong Kong a tensão parece física, como se uma conexão estivesse sendo feita – mais importante do que a palavra falada, mais urgente, mais vital e mais humana. No mundo do cineasta japonês Toshio Matsumoto (1932–2017), “conexões” são tudo. Toshio Matsumoto: Tudo visível é vazioat Hong Kong's Empty Gallery contém uma seleção de curtas-metragens experimentais, documentários e peças sonoras de dois períodos decisivos da história cultural do Japão e os enquadra como fundamentais na prática cinematográfica de vanguarda de Matsumoto. Mostrados em quase escuridão, eles enfatizam a urgência de seu “espetáculo visual” como uma experiência física enervante e enfatizando a importância do Happening como uma forma radical de prática artística.
Carnaval da Vitória
5.0 2É preciso que a nossa emoção sobreviva, e é urgente que tenhamos respeito pelos africanos que por aqui aportaram, com a sua vontade, e ajudaram a moldar o que pode ser identificado como a identidade nacional, quer se queira ou não!
Indochine: College Boy
4.5 82Indochine, uma das bandas mais populares francesas, lançaram em 2013 o single College Boy, do álbum Black City Parade, e o respectivo vídeo promocional gerou muita polêmica. Apesar da universalidade patente no vídeo, a luta contra a discriminação e, no exemplo deste vídeo, a homofobia, sempre esteve presente na obra da banda parisiense. A escolha do canadense Xavier Dolan, jovem realizador assumidamente homossexual e que tem recolhido inúmeros prêmios pelos seus filmes que tendem a abordar a sexualidade e a orientação das suas personagens, não foi ao acaso. No vídeo um jovem estudante, protagonizado pelo ator Antoine Olivier Pilon, sofre insultos e provocações de alguns dos seus colegas de turma pelo simples fato de ser diferente, num caso transversal de bullying. As agressões vão-se intensificando e os restantes colegas e professores, que inicialmente aparentam apoiar o jovem estudante nos seus sucessos, veem os seus olhos vendados à violência que o protagonista sofre. O culminar do vídeo passa pela cena da crucificação do estudante, completamente derrotado e massacrado, enquanto os seus colegas e amigos assistem vendados. Quando a polícia, símbolo da justiça, finalmente chega, os autores do crime conseguem confundi-la fazendo-a disparar contra o já debilitado estudante na cruz. A equiparação dos agressores aos que deixam que os mesmos atuem incólumes é cruel mas portentosa de uma verdade acidulante que espelha a indiferença de muito do que a sociedade promove por meio das injustiças para com os mais básicos direitos humanos. Um deles passa por deixar as crianças e adolescentes crescerem para serem as pessoas que têm que ser, sem pressões nem discriminação. Oxalá eu veja isso, ainda...
Ilegal
4.6 6ótimo
Encontrando Bianca
3.1 14A visibilidade é uma questão de sobrevivência!
Boneca na Mochila
3.5 3Um recorte da sexualidade na infância; obviamente datado mas assustadoramente atual (2022).