O filme me surpreendeu com certos aspectos que parecem fazê-lo "atravessar" paradoxos sociais, como o fato de a protagonista ser uma cadeirante, sem que isso seja tratado como um dilema que condicione as impressões do telespectador sobre a trama. Há, sim, alguma problematização desse fato, mas não é o foco do filme, o que deixa perceber uma naturalização do indivíduo com necessidades especiais. Ainda, há mais mulheres que homens, e isso me parece uma grande novidade, não sendo o diálogo delas restritos a questões amorosas. Não é o tipo de filme que me chama a atenção, há muitos furos, o que me chama a atenção mesmo é a montagem da trama levando em conta aspectos sociais não comumente representados em nossa sociedade machista e purista.
Excita a mente, o corpo e o personagem que ainda buscamos por conhecer.
Que encenação! Posso ver dezenas de vezes só pelo conjunto de talentosos atores que fizeram jus à temática do filme: drama, atuação, personificação. O enredo é instigante, e não se sabe até que ponto cada personagem é capaz de ir em busca da emoção de sentir, ver e s-e-r. A junção das cenas equivale ao drama proposto e, realmente, drama! Mas tão próximo da realidade que é incapaz não se associar à ficção, que, segundo Matias Lira, o diretor, apenas 10% do filme pode ser tratado de ficção, todo o resto do filme é tirado de suas experiências pessoais.
A história entre os três tem início com o beijo rebuscado de batom de Mateo, propondo à Maria e Ángel que se buscassem nas experiências, no outro, fora, em si mesmos, a partir de ações que envolviam comoção e fuga de paradigmas.
O resultado é opaco, mas visível. Maria e Ángel se transformam no que não sabiam (não sabia mesmo?). E, mesmo a pedido de Mateo, "pare de representar! Acabou.", Maria não cede e se entrega à puta declarada na qual se transformou, encerrando sua encenação ali, no [provável] suicídio, compactuando com o fim [morte] da mãe de Mateo, não morta, mas desaparecida após ser estuprada por três guardas que sabe lá o que faziam no teatro, mas a prenderam e mataram o Romeu com o qual representava. O fim do drama e o início da realidade. Maria tocada por diversos homens e agora desvanecida diante da sua visão, num piscar de olhos. É o "drama" que se torna real, a realidade que imita a ficção, a dominação do "eu" pelo próprio personagem, o personagem sendo o "eu" procriado.
O fato de Mateo e Ángel não terem se beijado só aumentou a angústia e atiçou. Foi válido. É o que ainda está para ser.
Mateo buscava no outro o que não conhecia em si. Transtornado pela falta de clarividência de sua própria família, exigia dos outros [e talvez de si mesmo] a verdade, nunca encontrando, nunca aceitando-a, mas sempre arregaçando os fatores externos que a corroboram. A verdade então lhe aparece dura, fria, sombria como a morte de seus "indefinidos" personagens, já antes sugerindo que assim fosse quando estes o deixasse.
Pensava encontrar sexo, mas encontrei cópula anímica entre pessoas e personagens.
A reação da personagem de Dunst ao descobrir que tudo vai para os ares, que tudo é fim, é instigante e diz muito por mim, que acho estranho ver no outro o desespero do fim de tudo isso aqui. A Terra mesmo já foi engolida pelas águas 25 vezes (A Grande História - Brown, Cynthia Stokes).
E quando olho pra tudo isso... tudo em volta... aonde quero chegar, ver e viver, pretensiosamente aflito?
Não assisti, mas tudo o que li da sinopse e que o personagem odeia é exatamente tudo o que eu amo na minha mãe. Simplicidade não tem preço. Até o pão no canto da boca é uma demonstração de que a vida não tem segredos. É só comer o pão e pronto. E eu a adoro quando sempre disse para eu não dificultar as coisas mais do que são.
Raramente isso me acontece, mas acho que não estou preparado para este filme, onde o natural é visto como repulsivo e virulento.
Quem sabe... não suporto coisas maiores do que eu só porque não me medi ao lado delas. Ainda avançarei a conhecê-lo.
A vertente filosófica apresentada é muito interessante e expõe sobre o realidade e fantasia como tão poucas obras conseguem abordar tão enfaticamente. A forma, porém, a roupagem com que se vestiu o filme - me lembrando um tanto de Matrix por cenas e por detalhes similares -, aproximou-me por mais vezes da narrativa que do propósito filosófico em si, o que compreendo, já que a história não se usou de fatores simples e objetivos. O abstrato e o fluxo de consciência são bem vindos, mas não são tão claros dentro da tela de cinema, que exige realidade para se sustentar enquanto narrativa. No entanto, penso que tudo quanto foi adotado tenha sido válido para o final da obra, que...
... embora simples na cena, foi forte no impacto. Ter sabido que Cobb continuou num sonho descaracterizou toda as afirmações apresentadas no decorrer do filme, validando a argumentação de sua esposa, que insistia em dizer que aquele mundo não era o real, que só a morte os libertaria. Saindo da ficção e trazendo para o cotidiano, tem-se aqui uma forte conexão do filme com o sentimento pós-modernista, de salvação na morte, uma vez que os conflitos existenciais estão todos concentrados no persistir nas ilusões que o mundo dispõe, levando a crer que tudo isso não passe de um sonho precipitando-se à realidade e que só a morte pode amenizar o sofrimento de tal confusão.
A proposta do filme é ousada. Avançar-se dentro de um tema complexo, como distinção entre realidade e fantasia, e usar de uma roupagem que exige abstração (o entregar-se ao decorrer da obra e não ao próprio entendimento e racionalidade) tem caráter desafiador. Acredito que seja importante assistir mais de uma vez para absorção da narrativa, mas não será preciso mais que uma para receber a pergunta essencial do filme: até que ponto não estou sonhando?
Minha percepção do filme, ainda quando criança, já ia além da mero efeito especial. Não acredito em "em vidas dentro da vida" (se é que alguém entenderá essa colocação!), mas um déjà vu me tomou quando assistia o filme, visualizando a cena da ressurreição de Anderson, beijado por Trinity, minutos antes. Intuição à parte, o longa é um digno retrato de "A Caverna de Platão" na pós-modernidade. Muito me impressiona a simbologia adotada, inteiramente dentro de nossa realidade, retratando o despertar de consciência do indivíduo que se refina em meio à massa, no caso, em meio à Matrix, trazendo à mente a identificação de como esta é e se apresenta - talvez inexistindo ou apresentando-se apenas como projeção do real, como o meio de se escravizar em prol do benefício de não saber, de não ver, de não se corromper [com a verdade], de não existir.
Me desagrada a frequência de efeitos especiais. Para a Matrix do mundo real (ou, tão somente, do nosso mundo, fora do cinema), a forma com que o filme se apresenta tornou-se o seu conteúdo, o seu fim, o que em muito se perdeu - ou talvez tenha ganho, assim percebemos quem ainda ainda não tomou nenhuma das pílulas, quem já adotou a vermelha e quem já dissolveu a azul.
Assisti-lo-ei mais vezes, já que me parece não ser tão empolgante a sua sequência [embora não possa opinar porque ainda não os vi].
Vale mencionar que o filme foi inspirado nas obras de Jean Baudrillard, filósofo dedicado ao estudo da semiologia e do pós-modernismo.
Imagem, irrealidade, projeção, medo, acondicionamento humano e cultural é um pouco do tudo que vejo em Matrix, excelente obra que retrata a angústia do homem em vencer as massas ingloriosas, que triunfam em seu fracasso com o império das imagens, da mídia e da desarticulação do "eu".
Não sabe a sociedade que, mesmo adornada de signos hipnotizantes, terminará como bem começou: no nada. A Matrix é letal, porque morre em si mesma.
Não esqueço nunca este filme e ainda hei de assistir outra vez. Perdido na madrugada a pensar sobre a diversidade cultural, o filme não poderia a mim chegar em hora mais oportuna.
O "ridículo" exposto nas cenas, o sarcasmo, o cômico provocada pela visão ora de um ora de outro é realmente a fôrma do filme. Seu conteúdo, porém, vai além. O choque entre as culturas do Oriente e do Ocidente é tratado com ironia, contando com o personagem central, vindo do Oriente, perambulando pelos E.U.A. em cenas visivelmente verídicas, colocando-nos para dentro da tela. "Eu reagiria assim?", é o que se pode perguntar durante o filme, ao som de algumas risadas.
A nudez e a linguagem "crua" não me levaram a perceber no filme alguma decadência. Pelo contrário, a proposta pareceu valer-se com estes atributos e alcançar o intento anunciado desde o princípio: a diversidade cultural contrastada.
Aliando a vertente filosófica da auto entrega ao desconhecido - impossível não se lembrar de "A Caverna de Platão" - junto à beleza e inocência que só a animação pode trazer, tem-se diante desse longa animado um momento de beleza e emoção, unindo infância e maturidade num único instante.
Os seres que representam seu medo, o local do qual jamais deve passar, a tranquilidade do lado de cá do oceano em contraste ao desejo de se entregar às águas revoltas, tudo é posto em cena de forma animada, tratando com muita realidade a busca contínua do ser humano pela identidade e por seus sonhos.
Elegi este filme, até o presente momento, o "longa da minha vida", tamanha profundidade com que trata o tema "zona de conforto" e "busca do desconhecido" dentro de uma linguagem realista; e, claro, não menos importante, também como abordou o sonho interceptado e plenamente obstruído pela passagem do outro "eu", representado pela figura da sociedade, do outro com o qual convivemos, ao qual nos submetemos e reagimos quase que com a ausência de nós mesmos.
Era de se esperar que o filme não rendesse comercialmente. Tal tema não há de ser absorvido com facilidade e ganhar as palmas do público que, em sua maioria, resume-se à rua Revolutionary Road, intrigado e estranhado quando vê no outro a iniciativa da mudança. O filme não faz bem ao acomodado na caverna, recluso à escuridão, angustiado com a luz transpassada pela fresta aberta quando alguém por ela se faz sair. Eu bem o sei - desconhecendo talvez -, já que moro numa "rua" tal como Revolutionary Road e "Paris" se evidencia muito longe de mim.
Iniciei a visão do filme enternecido com a tragédia do personagem central. Após o drástico acontecimento em sua vida, uma decisão: ser quem é. E foi. E seu ser deu-se todo a vida ao livro que depois inspirou neste filme que, para mim, não cabe em um único gênero. Ri, chorei, me excitei e voltei a rir outra vez. No fim, o canto dos meus lábios arqueado com lágrimas banhando seu meio.
Ainda mais válida pela história real e pela paixão que prova que coração existe, sim, não pela cor, se bom ou mal, mas por ser simplesmente coração.
Apoio o comentário apontado logo abaixo. Se fosse unicamente drama, a história teria alcançado um nível de emoção e toque muito maior. Mas a mistura não deixou a desejar. Fiquei pasmado em como o filme conseguiu me "enganar" numa cena para causar-me a comoção com o inesperado na próxima.
A delícia da sátira das candidatas ao cargo de miss, junto ao contraste entre o porte da personagem central e ao que se propõe a ser pela profissão. Um bom filme para rir e cair junto com a personagem [ou pelo menos lembrar de suas próprias quedas].
Não vi ainda a Segunda Guerra Mundial tão bem descrita e sequenciada (talvez por leigo como sou no cinema) como vi nesta obra riquíssima em inspiração e harmonia.
Sofre-se tremendamente junto com os personagens. Vê-se a realidade da guerra à distância, da janela dos prédios, do olhar do personagem aflito e não pela câmera seguindo cada ângulo como Hollywood costuma fazer. Essa proximidade com o fato aterroriza e o leva a um desespero de vencer junto com o pianista. O pianista, que na sua arte encontrou força e aspiração para vencer, render-se à vida que ainda possuía, marcada pelos percalços mais desastrosos e medonhos do séc. XX.
O soldado, quase ao fim, que se compadece com o judeu fadado ao fracasso. Talvez por misericórdia ou por saber que aqueles eram seus últimos dias? Não importa, o calor humano foi provado pelo nazista que, à beira da derrota pela Rússia, se identifica com o derrotado por ele próprio.
A história é real e não se faz necessário de um grande fechar de cortinas, porquanto cada cena se independe de todo o mais por sua estrutura, técnica, imagem, pela comoção do fato ocorrido no lugar em que não estávamos, mas que agora vivenciamos pela arte de quem passou e veio contar como tal.
O filme é filosófico (pelo menos assim o recebi e me dei por muito satisfeito quando na sua recepção).
A pacata cidade para onde o escritor gostaria de ir (fugir) é o lugar onde aparentemente todos gostaríamos de estar. Felizes, seguros, bem-sucedidos, resolvidos e vivendo harmoniosamente bem. No entanto, o personagem central descobre que tudo não passa de imagens. A grande e estranha força que domina o local pode ser traduzida como a mídia, a sociedade, a massa reguladora e os preceitos morais que nos aguçam a continuarmos buscando vivermos tão felizes, mas tão subexpostos a imagens, marionetes.
Não podemos sair, essa é a mensagem final do filme.
Tudo bem que os efeitos não ajudam, o filme é antigo, mas para quem captar bem sua mensagem, é um bom filme, principalmente assistido numa madrugada solitária, como foi o meu caso.
A quietude, as cenas silenciosas, o ângulo parado num personagem fitando o outro voltar de um cômodo ao lado. Momentos mostrados com tanta reticência, sombras pouco esparsas, mas da própria tenuidade se fez o vigor. É a marca cenográfica do filme brasileiro.
Do Começo ao Fim, porém, vem com uma tonalidade romântica que encanta e cativa. O filme tem caráter simplista, naturalista, não deixando de envolver exatamente por isso, e até porque está envolto por um enredo que se contrasta à possibilidade de polemizar, o que - ainda bem - se perde. A naturalidade vence e isso conquista.
O fim poderia ser frustrante, mas. pelo contrário. é uma das cenas mais tocantes. As lágrimas não se contém. Fica concluso que o amor não reside em escolhas. É um fato ilúcido, residente da alma. Alma? Sim. Talvez por isso mesmo o amor seja cego, porque a alma é invisível: não tem cor, raça nem sexo. E é por ela que nos apaixonamos.
Chorei só com a apresentação (trailer) deste filme. Talvez deva-se a sensibilidade com que recebi a mensagem, uma vez que sou pai, e meu filho (5 anos) me surpreende a cada dia mais com suas perguntas tão precoces sobre a existência.
Chorarei mais com o filme. Não porque é um filme, que é o que busca a maioria (uma distração), mas porque é uma obra de arte, que exige de nós uma ante-vivência para poder se esclarecer e se fundir em nós a história com a vida.
Filosofia é pra poucos. Arte, então, pra quase quem?
Garotos de Programa
3.6 385 Assista AgoraShow, show, show.
A Maldição de Chucky
2.6 1,3KO filme me surpreendeu com certos aspectos que parecem fazê-lo "atravessar" paradoxos sociais, como o fato de a protagonista ser uma cadeirante, sem que isso seja tratado como um dilema que condicione as impressões do telespectador sobre a trama. Há, sim, alguma problematização desse fato, mas não é o foco do filme, o que deixa perceber uma naturalização do indivíduo com necessidades especiais. Ainda, há mais mulheres que homens, e isso me parece uma grande novidade, não sendo o diálogo delas restritos a questões amorosas. Não é o tipo de filme que me chama a atenção, há muitos furos, o que me chama a atenção mesmo é a montagem da trama levando em conta aspectos sociais não comumente representados em nossa sociedade machista e purista.
Raul - O Início, o Fim e o Meio
4.1 707Que ótima sinopse!
Cidade dos Sonhos
4.2 1,7K Assista AgoraIncapaz de dar qualquer estrela para este filme agora.
Florbela
3.3 43An-si-o-so.
Quem Tem Medo de Virginia Woolf?
4.3 497 Assista AgoraCuriosidade: qual a relação do filme com Virginia Woolf para que tivesse no título o seu nome?
Não assisti ao filme ainda, e o fato me instiga.
Drama
3.0 243Excita a mente, o corpo e o personagem que ainda buscamos por conhecer.
Que encenação! Posso ver dezenas de vezes só pelo conjunto de talentosos atores que fizeram jus à temática do filme: drama, atuação, personificação. O enredo é instigante, e não se sabe até que ponto cada personagem é capaz de ir em busca da emoção de sentir, ver e s-e-r. A junção das cenas equivale ao drama proposto e, realmente, drama! Mas tão próximo da realidade que é incapaz não se associar à ficção, que, segundo Matias Lira, o diretor, apenas 10% do filme pode ser tratado de ficção, todo o resto do filme é tirado de suas experiências pessoais.
A história entre os três tem início com o beijo rebuscado de batom de Mateo, propondo à Maria e Ángel que se buscassem nas experiências, no outro, fora, em si mesmos, a partir de ações que envolviam comoção e fuga de paradigmas.
O resultado é opaco, mas visível. Maria e Ángel se transformam no que não sabiam (não sabia mesmo?). E, mesmo a pedido de Mateo, "pare de representar! Acabou.", Maria não cede e se entrega à puta declarada na qual se transformou, encerrando sua encenação ali, no [provável] suicídio, compactuando com o fim [morte] da mãe de Mateo, não morta, mas desaparecida após ser estuprada por três guardas que sabe lá o que faziam no teatro, mas a prenderam e mataram o Romeu com o qual representava. O fim do drama e o início da realidade. Maria tocada por diversos homens e agora desvanecida diante da sua visão, num piscar de olhos. É o "drama" que se torna real, a realidade que imita a ficção, a dominação do "eu" pelo próprio personagem, o personagem sendo o "eu" procriado.
O fato de Mateo e Ángel não terem se beijado só aumentou a angústia e atiçou. Foi válido. É o que ainda está para ser.
Mateo buscava no outro o que não conhecia em si. Transtornado pela falta de clarividência de sua própria família, exigia dos outros [e talvez de si mesmo] a verdade, nunca encontrando, nunca aceitando-a, mas sempre arregaçando os fatores externos que a corroboram. A verdade então lhe aparece dura, fria, sombria como a morte de seus "indefinidos" personagens, já antes sugerindo que assim fosse quando estes o deixasse.
Pensava encontrar sexo, mas encontrei cópula anímica entre pessoas e personagens.
A Tentação
3.5 361 Assista AgoraQuero ver já!
Melancolia
3.8 3,1K Assista AgoraA reação da personagem de Dunst ao descobrir que tudo vai para os ares, que tudo é fim, é instigante e diz muito por mim, que acho estranho ver no outro o desespero do fim de tudo isso aqui. A Terra mesmo já foi engolida pelas águas 25 vezes (A Grande História - Brown, Cynthia Stokes).
E quando olho pra tudo isso... tudo em volta... aonde quero chegar, ver e viver, pretensiosamente aflito?
Eu Matei Minha Mãe
3.9 1,3KNão assisti, mas tudo o que li da sinopse e que o personagem odeia é exatamente tudo o que eu amo na minha mãe. Simplicidade não tem preço. Até o pão no canto da boca é uma demonstração de que a vida não tem segredos. É só comer o pão e pronto. E eu a adoro quando sempre disse para eu não dificultar as coisas mais do que são.
Raramente isso me acontece, mas acho que não estou preparado para este filme, onde o natural é visto como repulsivo e virulento.
Quem sabe... não suporto coisas maiores do que eu só porque não me medi ao lado delas. Ainda avançarei a conhecê-lo.
A Origem
4.4 5,9K Assista AgoraA vertente filosófica apresentada é muito interessante e expõe sobre o realidade e fantasia como tão poucas obras conseguem abordar tão enfaticamente. A forma, porém, a roupagem com que se vestiu o filme - me lembrando um tanto de Matrix por cenas e por detalhes similares -, aproximou-me por mais vezes da narrativa que do propósito filosófico em si, o que compreendo, já que a história não se usou de fatores simples e objetivos. O abstrato e o fluxo de consciência são bem vindos, mas não são tão claros dentro da tela de cinema, que exige realidade para se sustentar enquanto narrativa. No entanto, penso que tudo quanto foi adotado tenha sido válido para o final da obra, que...
... embora simples na cena, foi forte no impacto. Ter sabido que Cobb continuou num sonho descaracterizou toda as afirmações apresentadas no decorrer do filme, validando a argumentação de sua esposa, que insistia em dizer que aquele mundo não era o real, que só a morte os libertaria. Saindo da ficção e trazendo para o cotidiano, tem-se aqui uma forte conexão do filme com o sentimento pós-modernista, de salvação na morte, uma vez que os conflitos existenciais estão todos concentrados no persistir nas ilusões que o mundo dispõe, levando a crer que tudo isso não passe de um sonho precipitando-se à realidade e que só a morte pode amenizar o sofrimento de tal confusão.
A proposta do filme é ousada. Avançar-se dentro de um tema complexo, como distinção entre realidade e fantasia, e usar de uma roupagem que exige abstração (o entregar-se ao decorrer da obra e não ao próprio entendimento e racionalidade) tem caráter desafiador. Acredito que seja importante assistir mais de uma vez para absorção da narrativa, mas não será preciso mais que uma para receber a pergunta essencial do filme: até que ponto não estou sonhando?
Matrix
4.3 2,5K Assista AgoraMinha percepção do filme, ainda quando criança, já ia além da mero efeito especial. Não acredito em "em vidas dentro da vida" (se é que alguém entenderá essa colocação!), mas um déjà vu me tomou quando assistia o filme, visualizando a cena da ressurreição de Anderson, beijado por Trinity, minutos antes. Intuição à parte, o longa é um digno retrato de "A Caverna de Platão" na pós-modernidade. Muito me impressiona a simbologia adotada, inteiramente dentro de nossa realidade, retratando o despertar de consciência do indivíduo que se refina em meio à massa, no caso, em meio à Matrix, trazendo à mente a identificação de como esta é e se apresenta - talvez inexistindo ou apresentando-se apenas como projeção do real, como o meio de se escravizar em prol do benefício de não saber, de não ver, de não se corromper [com a verdade], de não existir.
Me desagrada a frequência de efeitos especiais. Para a Matrix do mundo real (ou, tão somente, do nosso mundo, fora do cinema), a forma com que o filme se apresenta tornou-se o seu conteúdo, o seu fim, o que em muito se perdeu - ou talvez tenha ganho, assim percebemos quem ainda ainda não tomou nenhuma das pílulas, quem já adotou a vermelha e quem já dissolveu a azul.
Assisti-lo-ei mais vezes, já que me parece não ser tão empolgante a sua sequência [embora não possa opinar porque ainda não os vi].
Vale mencionar que o filme foi inspirado nas obras de Jean Baudrillard, filósofo dedicado ao estudo da semiologia e do pós-modernismo.
Imagem, irrealidade, projeção, medo, acondicionamento humano e cultural é um pouco do tudo que vejo em Matrix, excelente obra que retrata a angústia do homem em vencer as massas ingloriosas, que triunfam em seu fracasso com o império das imagens, da mídia e da desarticulação do "eu".
Não sabe a sociedade que, mesmo adornada de signos hipnotizantes, terminará como bem começou: no nada. A Matrix é letal, porque morre em si mesma.
Borat - O Segundo Melhor Repórter do Glorioso País Cazaquistão …
3.4 1,2K Assista AgoraNão esqueço nunca este filme e ainda hei de assistir outra vez.
Perdido na madrugada a pensar sobre a diversidade cultural, o filme não poderia a mim chegar em hora mais oportuna.
O "ridículo" exposto nas cenas, o sarcasmo, o cômico provocada pela visão ora de um ora de outro é realmente a fôrma do filme. Seu conteúdo, porém, vai além. O choque entre as culturas do Oriente e do Ocidente é tratado com ironia, contando com o personagem central, vindo do Oriente, perambulando pelos E.U.A. em cenas visivelmente verídicas, colocando-nos para dentro da tela. "Eu reagiria assim?", é o que se pode perguntar durante o filme, ao som de algumas risadas.
A nudez e a linguagem "crua" não me levaram a perceber no filme alguma decadência. Pelo contrário, a proposta pareceu valer-se com estes atributos e alcançar o intento anunciado desde o princípio: a diversidade cultural contrastada.
O Golfinho: a História de um Sonhador
2.4 32Aliando a vertente filosófica da auto entrega ao desconhecido - impossível não se lembrar de "A Caverna de Platão" - junto à beleza e inocência que só a animação pode trazer, tem-se diante desse longa animado um momento de beleza e emoção, unindo infância e maturidade num único instante.
Os seres que representam seu medo, o local do qual jamais deve passar, a tranquilidade do lado de cá do oceano em contraste ao desejo de se entregar às águas revoltas, tudo é posto em cena de forma animada, tratando com muita realidade a busca contínua do ser humano pela identidade e por seus sonhos.
Foi Apenas um Sonho
3.6 1,3K Assista AgoraElegi este filme, até o presente momento, o "longa da minha vida", tamanha profundidade com que trata o tema "zona de conforto" e "busca do desconhecido" dentro de uma linguagem realista; e, claro, não menos importante, também como abordou o sonho interceptado e plenamente obstruído pela passagem do outro "eu", representado pela figura da sociedade, do outro com o qual convivemos, ao qual nos submetemos e reagimos quase que com a ausência de nós mesmos.
Era de se esperar que o filme não rendesse comercialmente. Tal tema não há de ser absorvido com facilidade e ganhar as palmas do público que, em sua maioria, resume-se à rua Revolutionary Road, intrigado e estranhado quando vê no outro a iniciativa da mudança. O filme não faz bem ao acomodado na caverna, recluso à escuridão, angustiado com a luz transpassada pela fresta aberta quando alguém por ela se faz sair. Eu bem o sei - desconhecendo talvez -, já que moro numa "rua" tal como Revolutionary Road e "Paris" se evidencia muito longe de mim.
Bem Vindo à Prisão
3.0 121Adorei a cena em que o "loirinho" protege o personagem central de ser estuprado pelo negão. Protege-o, enfiando o dedo...
A sexualidade existe o tempo todo e com todos. Adoro quando explorada sem exponencialidade. O detalhe como a ponta do iceberg.
O Golpista do Ano
3.2 1,3K Assista AgoraIniciei a visão do filme enternecido com a tragédia do personagem central. Após o drástico acontecimento em sua vida, uma decisão: ser quem é. E foi. E seu ser deu-se todo a vida ao livro que depois inspirou neste filme que, para mim, não cabe em um único gênero. Ri, chorei, me excitei e voltei a rir outra vez. No fim, o canto dos meus lábios arqueado com lágrimas banhando seu meio.
Ainda mais válida pela história real e pela paixão que prova que coração existe, sim, não pela cor, se bom ou mal, mas por ser simplesmente coração.
Apoio o comentário apontado logo abaixo. Se fosse unicamente drama, a história teria alcançado um nível de emoção e toque muito maior. Mas a mistura não deixou a desejar. Fiquei pasmado em como o filme conseguiu me "enganar" numa cena para causar-me a comoção com o inesperado na próxima.
Verei mais vezes. O casal estava lindíssimo.
Miss Simpatia
3.3 950 Assista AgoraA delícia da sátira das candidatas ao cargo de miss, junto ao contraste entre o porte da personagem central e ao que se propõe a ser pela profissão. Um bom filme para rir e cair junto com a personagem [ou pelo menos lembrar de suas próprias quedas].
O Pianista
4.4 1,8K Assista AgoraNão vi ainda a Segunda Guerra Mundial tão bem descrita e sequenciada (talvez por leigo como sou no cinema) como vi nesta obra riquíssima em inspiração e harmonia.
Sofre-se tremendamente junto com os personagens. Vê-se a realidade da guerra à distância, da janela dos prédios, do olhar do personagem aflito e não pela câmera seguindo cada ângulo como Hollywood costuma fazer. Essa proximidade com o fato aterroriza e o leva a um desespero de vencer junto com o pianista. O pianista, que na sua arte encontrou força e aspiração para vencer, render-se à vida que ainda possuía, marcada pelos percalços mais desastrosos e medonhos do séc. XX.
O soldado, quase ao fim, que se compadece com o judeu fadado ao fracasso. Talvez por misericórdia ou por saber que aqueles eram seus últimos dias? Não importa, o calor humano foi provado pelo nazista que, à beira da derrota pela Rússia, se identifica com o derrotado por ele próprio.
A história é real e não se faz necessário de um grande fechar de cortinas, porquanto cada cena se independe de todo o mais por sua estrutura, técnica, imagem, pela comoção do fato ocorrido no lugar em que não estávamos, mas que agora vivenciamos pela arte de quem passou e veio contar como tal.
Águas Profundas
3.0 25O filme é filosófico (pelo menos assim o recebi e me dei por muito satisfeito quando na sua recepção).
A pacata cidade para onde o escritor gostaria de ir (fugir) é o lugar onde aparentemente todos gostaríamos de estar. Felizes, seguros, bem-sucedidos, resolvidos e vivendo harmoniosamente bem. No entanto, o personagem central descobre que tudo não passa de imagens. A grande e estranha força que domina o local pode ser traduzida como a mídia, a sociedade, a massa reguladora e os preceitos morais que nos aguçam a continuarmos buscando vivermos tão felizes, mas tão subexpostos a imagens, marionetes.
Não podemos sair, essa é a mensagem final do filme.
Tudo bem que os efeitos não ajudam, o filme é antigo, mas para quem captar bem sua mensagem, é um bom filme, principalmente assistido numa madrugada solitária, como foi o meu caso.
Do Começo ao Fim
3.0 1,3KA quietude, as cenas silenciosas, o ângulo parado num personagem fitando o outro voltar de um cômodo ao lado. Momentos mostrados com tanta reticência, sombras pouco esparsas, mas da própria tenuidade se fez o vigor. É a marca cenográfica do filme brasileiro.
Do Começo ao Fim, porém, vem com uma tonalidade romântica que encanta e cativa. O filme tem caráter simplista, naturalista, não deixando de envolver exatamente por isso, e até porque está envolto por um enredo que se contrasta à possibilidade de polemizar, o que - ainda bem - se perde. A naturalidade vence e isso conquista.
O fim poderia ser frustrante, mas. pelo contrário. é uma das cenas mais tocantes. As lágrimas não se contém. Fica concluso que o amor não reside em escolhas. É um fato ilúcido, residente da alma. Alma? Sim. Talvez por isso mesmo o amor seja cego, porque a alma é invisível: não tem cor, raça nem sexo. E é por ela que nos apaixonamos.
Veria de novo.
O Amor Pode dar Certo
3.9 297Me atrai pelos conflitos existenciais. A simplicidade buscada no "nada" da vida - ao lado de alguém (quem?).
O filme é simples. Mas com bons olhos pode se aprofundar.
Anticristo
3.5 2,2K Assista AgoraOtávio, é isso mesmo. Fará bem.
Lars von Trier trabalha com espíritos eminentes, que buscam a descaracterização, a quebra na filosofia, o que ao fim gera uma uma auto caracterização.
Quem não entendeu o que eu disse terá que assistir mais de uma vez. Eu mesmo demorei mais de duas semanas pra concebê-lo a partir de mim.
A Árvore da Vida
3.4 3,1K Assista AgoraChorei só com a apresentação (trailer) deste filme. Talvez deva-se a sensibilidade com que recebi a mensagem, uma vez que sou pai, e meu filho (5 anos) me surpreende a cada dia mais com suas perguntas tão precoces sobre a existência.
Chorarei mais com o filme. Não porque é um filme, que é o que busca a maioria (uma distração), mas porque é uma obra de arte, que exige de nós uma ante-vivência para poder se esclarecer e se fundir em nós a história com a vida.
Filosofia é pra poucos. Arte, então, pra quase quem?