Em primeiro lugar, não gostei da narração de Petra; há muita chantagem emocional, beira o melodrama. Em segundo lugar, tenho fortes ressalvas à forma como a autora tenta criar uma trama segundo a qual a democracia brasileira começa a morrer nas manifestações de 2013 (que são retratadas quase como uma ingratidão aos "anos dourados" petistas, rs), e que tudo que veio depois foi orquestrado, desde o impeachment (talvez a parte mais interessante do filme, porque ela filmou várias cenas dentro do Congresso), a Lava-Jato (ela acredita na teoria da conspiração de que os EUA estão por trás da operação!) até a eleição de Bolsonaro (que claramente foi colocado no documentário de forma tardia, porque a autora deve ter tomado um susto com a eleição dele, e com isso fez um "posfácio"). Em terceiro lugar, apreciei duas coisas no documentário: a estética (a fotografia é ótima) e algo que talvez nem fosse a intenção da autora: Democracia em Vertigem é um bom retrato da perspectiva de certa esquerda brasileira sobre a ascensão e queda de seu projeto de poder. A dramaticidade da narrativa do documentário é aguçada pelo seu caráter autobiográfico, pois a autora tem uma relação religiosa com a política, já que é filha de dois militantes comunistas que viveram na clandestinidade. Ou seja, o que ela retrata é o desmoronamento da expectativa dela própria em relação ao rumo de sua vida. Não por acaso, há uma expressão sobre o filme ressaltada por várias resenhas com a qual concordo: o documentário deveria se chamar Esquerda em Vertigem, não só porque para certos setores da esquerda o termo "democracia" é sinônimo de "nós no poder" (não é à toa que, sempre que outro agrupamento político vence a eleição no lugar deles, falam em ascensão do "neoliberalismo", do "conservadorismo" ou até do "fascismo", numa retórica de um maniqueísmo bem soviético), mas também porque o que o filme de fato descreve é como a intelligentsia de classe média/alta (com ênfase no meio artístico) lidou com os acontecimentos políticos dos últimos anos. E o resultado foi, para eles, desesperador: em menos de 6 anos o paraíso se converteu em inferno, devastando todas as suas esperanças: primeiro, as manifestações populares majoritariamente contrárias ao governo que supostamente representava o povo (junho/2013); segundo, a investigação do escândalo bilionário de corrupção que mostrou de forma desmoralizante como a esquerda no poder recorreu - e até ampliou - os mesmos mecanismos que durante décadas condenou (2014-2016); terceiro, o impeachment da 1ª presidente mulher, ainda mais simbólica por seu passado na guerrilha (abril-agosto/2016); quarto, a prisão de seu líder messiânico (abril/2018); por fim, a vitória de um candidato que assumidamente defendia o legado da ditadura militar (outubro/2018). Se eu fosse de esquerda - e, mais especificamente, petista - eu também entraria em colapso depois de tudo que aconteceu. Em suma, o documentário prega para convertidos, só reitera a narrativa para quem já acredita nela ("golpe", "cadê as provas", "500 anos de elite escravista/demófoba/corrupta/oligárquica" etc.), e não se esforça em persuadir quem discorda dela (não só quem está no outro oposto ideológico, mas também os moderados). O tom é mais de terapia do que de documento histórico-político.
(por exemplo, a do jantar em que conhece Vivi Sampaio e o primeiro diálogo com Vargas)
; a edição e montagem insanas (no bom sentido); os figurinos de época; as alusões a "Cidadão Kane" (inclusive na estrutura do enredo) etc. Enfim, foram 20 anos de espera que valeram a pena; digo sem medo de exagerar que "Chatô, o Rei do Brasil" é um dos melhores filmes brasileiros já feitos. P.S.: Se "Chatô" já é tecnicamente avançado em relação à média dos filmes brasileiros em 2015, fico imaginando o impacto que este filme causaria se fosse lançado em 1999!
(as ligações entre os 4 filmes de Craig ficaram meio forçadas; podiam ter explorado melhor a SPECTRE)
e de às vezes ser meio cansativo (dava para encurtar o filme em uns 15, 20 minutos). Por outro lado, as cenas de ação continuam empolgantes; Craig consegue trazer o ar blasé necessário para o personagem; também gostei das atuações de Christoph Waltz e Léa Seydoux; o filme consegue criar efetivamente tensão em certas cenas-chave; há os diálogos debochados e as reviravoltas mirabolantes que são típicos da franquia.
Ri em várias cenas, mas em geral achei que o filme não esteve à altura da série. A linguagem de sitcom de "Vai que Cola" não funcionou bem no cinema; a metalinguagem ficou cansativa, o enredo é cheio de buracos, há muitos momentos "over" (alguns divertem, mas outros são simplesmente exagerados), os atores convidados não contribuem muito para a trama
(e achei meio forçado colocar o Brito como "bicha-hétera", não passou de um pretexto fraco para o Ferdinando ter um "par" no filme - mas, admito que rolei de rir da cena em que o Ferdinando se veste de machão e se derrete quando o Brito fala que gosta de Barbra Streisand, rs)
(Velna quase não aparece, Valdomiro - o menos engraçado, diga-se de passagem - aparece em excesso, e não ficou claro no final se Jéssica e Máicol terminaram o namoro)
... Paulo Gustavo funciona melhor em papéis femininos, como a Senhora dos Absurdos e Dona Hermínia; dar tanto protagonismo para ele no filme de "Vai que Cola" não foi uma boa idéia.
Melhor do que eu esperava. O enredo não tem nada de catártico, mas o filme tem um tom leve e divertido que me agradou. Adorei as alusões debochadas aos Vingadores e, principalmente,
O melhor filme de 007 desde "Goldeneye". Se "Casino Royale" já havia ressuscitado a franquia depois de três últimos filmes medianos com Pierce Brosnan (principalmente o decepcionante "Um Novo Dia Para Morrer"), mas "Quantum of Solace" não avançara tanto, "Skyfall" contou com um ótimo diretor, que imprimiu seu estilo para dar uma elegância e um fôlego há muito não vistos nos filmes de Bond.
(por exemplo, a cena da maratona, a do macarrão (?) e a do show de strip-tease)
, mas o filme contém algumas das melhores canções (e clipes) dos Beatles - destaque absoluto para "I am the Walrus" (aliás, ela se encaixa perfeitamente na proposta psicodélica/nonsense do filme), além de "The Fool on the Hill", "Blue Jay Way" e "Your Mother should know".
Para aqueles que ainda não assistiram ao filme e também para os só o viram uma vez e não gostaram tanto, recomendo assisti-lo pela 2ª vez, e ir de mente aberta. Fiz isso e saí bastante satisfeito. "A Lenda do Santuário" se dá a liberdade de funcionar como auto-paródia de CDZ - aliás, parece até que Kurumada pegou todas as críticas e deboches costumeiramente feitos a Cavaleiros do Zodíaco e as colocou no roteiro, rs. Temos aqui um Seiya atrapalhado e brincalhão, um Shiryu tão didático que chega a ser pedante, um Hyoga introspectivo -
outro momento hilário é quando ele diz, diante de Shura: "Eu sou fraco"
- e um Ikki arrogante. Também gostei de como resumiram a batalha das 12 casas mantendo os principais "topoi" dela, mesmo que em vários casos subvertendo-os - vide o "tiozão" Aldebaran e aquele que, aliás, para mim, foi o momento mais ousado do filme:
o "musical" de Máscara da Morte. Deve ser inclusive por isso que "mataram" o Afrodite, já que o cavaleiro de Câncer foi a "diva" do filme, rs.
Para mim o único problema do filme é que poderia haver mais lutas - ou, pelo menos, as que aconteceram poderiam ter sido mais longas. Tirando isso, só elogios: adorei o tom bem-humorado e pouco melodramático, a brincadeira com o excessivo didatismo da série, os plot twists que beiram o nonsense (no bom sentido), a estética à la Final Fantasy e a capacidade de Kurumada de rejuvenescer a sua franquia para o público contemporâneo.
Diverti-me muito com esse filme, que prima pelo humor nonsense do início ao fim. A maioria dos atores foi muito bem (destaque para Jonah Hill e Ice Cube), o enredo é interessante (gostei da sacada de mostrar a mudança geracional - os "jocks" já não reinam mais no ensino médio, e num mundo assolado pela tecnologia e com novos valores - p.ex., consciência ambiental - os "nerds" ganharam espaço) e as cenas de ação são espetaculares.
e confesso que fui pego de surpresa quando Martin descobre quem é o filho, e que ele está morto.
A direção e o roteiro fizeram justiça à bela (e comovente) história real na qual o filme é baseado. As atuações de Steve Coogan (ator de quem gosto desde "24 Hour Party People") e Judi Dench (que merece o Oscar) são impecáveis. Por fim, gostei da mensagem cristã de "Philomena", enfatizando o perdão acima do ressentimento e do rancor, que tão facilmente carregamos em relação ao nosso passado.
Ainda estou rindo daquele final com os Backstreet Boys, rs.
O enredo é bem nonsense, misturando referências bíblicas, piadas internas (aliás, adorei a alusão a "Freaks and Geeks"!) e constante paródia à febre de filmes sobre apocalipse zumbi. Achei bem ousada a idéia de os atores interpretarem personagens homônimos que são versões exageradas de si mesmos; alguns podem alegar que isso foi auto-indulgência, mas eu gostei, pois colaborou para a escalada de humor ácido que marca "É o Fim".
Por fim, adorei a sacada (auto)debochada de insinuar que as celebridades de Hollywood merecem todas ir para o inferno (exceto, é claro, as que demostram altruísmo ou genuíno arrependimento - o que não foi o caso do James Franco, haha).
Gostei das alusões constantes a Dostoiévski, principalmente a "Crime e Castigo". O recurso ao assassinato duplo e à crise de consciência do protagonista, somados ao elemento da sorte enfatizado desde a primeira cena, tornaram o desfecho convincente, com boas reviravoltas (em especial a cena do anel caindo do lado errado, o que criou uma expectativa de que Chris não teria o "final feliz" que teve).
Um dos melhores documentários sobre bandas de rock que já vi. Já tinha visto "No Distance Left to Run", sem legendas, em 2010, mas assisti-lo depois de ter ido ao show do Blur em São Paulo, 3 dias atrás (e com legendas em inglês, rs), dá uma nova dimensão. A história do Blur é das mais bonitas e tristes.
Começaram como uma banda indie; tiveram um sucesso logo de cara (There's No Other Way); fizeram um disco mediano cheio de intervenções da gravadora; a turnê de 92 nos EUA foi desastrosa, mas rendeu material para o disco seguinte (aliás, ouvir Advert sabendo desse ressentimento com os americanos a torna ainda melhor); alcançaram o ápice comercial com Parklife, que captou perfeitamente o zeitgeist musical britânico; o sucesso de Country House ironicamente os tornou antipáticos perante o público e expôs as fraturas da banda, principalmente as de Graham; o álbum seguinte (aliás, o meu favorito) marcou uma mudança na sonoridade, mais experimental (compreender Song 2 como uma música divisora de águas foi uma ótima sacada!); o melancólico disco 13 revela um lado até então desconhecido de Albarn; as cenas sobre a saída de Coxon da banda são emocionantes; o mesmo pode ser dito do reencontro e dos shows de 2009. Foi lindo ver o público cantando Tender, ainda mais depois que algo parecido aconteceu no Planeta Terra.
Um filme inteligente, que coloca questões morais de forma sólida e não cai em obviedades e clichês. É praticamente uma "coming of age novel" em forma cinematográfica, pois o protagonista - e não só ele - amadurece ao longo da trama. Duncan teve a sorte de encontrar, onde menos esperava, um mestre/padrinho para lhe orientar, e com isso sair da melancolia e ser mais extrovertido. Além disso,
a cena final, com a mãe indo sentar ao lado dele no banco de atrás, tem uma simbologia muito forte - afinal, em tal gesto ela decidiu "escolher" o filho ao invés do namorado.
Mesmo assim, a carga dramática de outras não é prejudicada. P.S.: As atuações de Jim Rash (aliás, o reitor de Community!), Allison Janney (Betty) e Sam Rockwell (Owen) são hilárias. E Steve Carrell conseguiu incorporar bem o seu personagem irritante e não-cômico.
O filme é excelente em vários sentidos: ótimas atuações (principalmente Daniel Brühl como Lauda); roteiro bem construído; é fidedigno aos fatos da épica temporada de 1976; os personagens baseados em Lauda e Hunt têm profundidade psicológica; tensão dramática na medida certa; e, empolgante nas cenas de corrida. Ron Howard dirigiu brilhantemente um filme feito não só para os apaixonados por Fórmula 1, mas também para aqueles que, mesmo que não gostem de F1, apreciam uma trama instigante.
Achei o filme meio decepcionante. Sofia Coppola tinha uma boa intenção (ao invés de simplesmente condenar o comportamento dos adolescentes, ela pretendia entendê-los, compreender suas motivações), mas a execução deixou a desejar. Em primeiro lugar, porque o filme, mesmo que não o queira, não consegue evitar um tom meio moralista; em segundo, porque mesmo assim este tom é vago, e falta uma crítica (ou um posicionamento) mais contundente; em terceiro, porque o filme fica cansativo com seu estilo meramente "descritivo" das futilidades dos personagens. Porém, há dois pontos fortes: o personagem Marc, que tem alguma profundidade psicológica; e a boa atuação de Emma Watson.
Um dos filmes mais sinceros (e amargos) sobre amadurecimento. Há personagens que se conformam com as expectativas sociais, e há aqueles que insistem da forma mais intransigente possível em manter a mesma postura. Não há muito espaço para otimismo, e o principal mérito de Ghost World é justamente esse desencantamento. Ainda não li a HQ, mas imagino que também seja de alto nível.
Rolei de rir da gordona com uma dublagem do Parker no estilo South Park, rs.
Matt Stone mandou bem como o "queer" Dave; adorei a referência que ele fez a Depeche Mode, haha. Achei curioso eles terem chamado atores pornôs de verdade, como Chasey Lain e Ron Jeremy. Por fim, cabe ressaltar a boa e velha zoação ao bom-mocismo dos mórmons.
A forma como retrataram personagens com transtorno bipolar, TOC e agressividade pós-luto foi bem verossímil; aliás, a conversa de Tiffany e Pat sobre quais remédios tomam foi hilariamente realista, rs. A trilha sonora é ótima; destaque para as cenas em que tocam "What Is And What Should Never Be", do Led Zeppelin, e "Fell In Love With A Girl", dos White Stripes.
A princípio achei estranha a cena em que Tiffany subitamente mostra seus fartos conhecimentos sobre futebol americano para o pai de Pat, mas considerando o jeito excêntrico dela (e o fato de não deixar o rapaz levar jornais de esporte para o treinamento de dança), até faz sentido.
Por fim, cabe ressaltar as ótimas atuações de Bradley Cooper, Jennifer Lawrence, Robert De Niro e Chris Tucker.
É um filme do tipo "ame ou odeie". Há quem vá achá-lo cansativo, com pouca ação e excesso de diálogos; outros (eu, p.ex.) gostaram desse tom mais focado na argumentação política. Adorei os duelos retóricos,
especialmente um em que o presidente justifica para seu gabinete o porquê de a emancipação de 1863 não ser suficiente e o motivo pelo qual acabar a guerra antes da abolição seria um desastre
. Além disso, "Lincoln" mostra sem hipocrisia - e, em alguns momentos, com humor cínico - como são aprovadas as leis. P.S.: adorei a ironia do destino que é o Partido Democrata, que hoje se arroga progressista e defensor das minorias, ser o reduto dos escravocratas e racistas da época.
O filme-símbolo da esquerda festiva. Choque geracional (revolucionários de ontem que são empresários de hoje vs. revoltados do dia), métodos questionáveis (mas nem por isso menos "glamourizáveis"), insegurança travestida de radicalismo e um final deliciosamente hipócrita.
Seria muito inverossímil e hipócrita se eles ficassem juntos no final. Desde o início eu já desconfiava do David, por mais que o carisma do personagem nos tente dissuadir dessa impressão.
Fiquei feliz ao saber que o bom roteiro é do Nick Hornby. Por fim, cabe elogiar os aspectos mais técnicos (trilha sonora e fotografia).
O filme ficou melhor do que eu esperava. De fato Peter Jackson está no caminho certo para conseguir a proeza de transformar um livro de 290 páginas em 3 filmes. Gostei da seqüência nos minutos iniciais que ligam "O Hobbit" com o início de "O Senhor dos Anéis". Além disso, personagens carismáticos como Gollum, Gandalf e Thorin também contribuíram para a força da história. Eu estava há meses enrolando para terminar de ler o livro. Depois de ver este 1º filme, acho que a procrastinação chegará ao fim. =D
Democracia em Vertigem
4.1 1,3KEm primeiro lugar, não gostei da narração de Petra; há muita chantagem emocional, beira o melodrama. Em segundo lugar, tenho fortes ressalvas à forma como a autora tenta criar uma trama segundo a qual a democracia brasileira começa a morrer nas manifestações de 2013 (que são retratadas quase como uma ingratidão aos "anos dourados" petistas, rs), e que tudo que veio depois foi orquestrado, desde o impeachment (talvez a parte mais interessante do filme, porque ela filmou várias cenas dentro do Congresso), a Lava-Jato (ela acredita na teoria da conspiração de que os EUA estão por trás da operação!) até a eleição de Bolsonaro (que claramente foi colocado no documentário de forma tardia, porque a autora deve ter tomado um susto com a eleição dele, e com isso fez um "posfácio").
Em terceiro lugar, apreciei duas coisas no documentário: a estética (a fotografia é ótima) e algo que talvez nem fosse a intenção da autora: Democracia em Vertigem é um bom retrato da perspectiva de certa esquerda brasileira sobre a ascensão e queda de seu projeto de poder. A dramaticidade da narrativa do documentário é aguçada pelo seu caráter autobiográfico, pois a autora tem uma relação religiosa com a política, já que é filha de dois militantes comunistas que viveram na clandestinidade. Ou seja, o que ela retrata é o desmoronamento da expectativa dela própria em relação ao rumo de sua vida.
Não por acaso, há uma expressão sobre o filme ressaltada por várias resenhas com a qual concordo: o documentário deveria se chamar Esquerda em Vertigem, não só porque para certos setores da esquerda o termo "democracia" é sinônimo de "nós no poder" (não é à toa que, sempre que outro agrupamento político vence a eleição no lugar deles, falam em ascensão do "neoliberalismo", do "conservadorismo" ou até do "fascismo", numa retórica de um maniqueísmo bem soviético), mas também porque o que o filme de fato descreve é como a intelligentsia de classe média/alta (com ênfase no meio artístico) lidou com os acontecimentos políticos dos últimos anos. E o resultado foi, para eles, desesperador: em menos de 6 anos o paraíso se converteu em inferno, devastando todas as suas esperanças: primeiro, as manifestações populares majoritariamente contrárias ao governo que supostamente representava o povo (junho/2013); segundo, a investigação do escândalo bilionário de corrupção que mostrou de forma desmoralizante como a esquerda no poder recorreu - e até ampliou - os mesmos mecanismos que durante décadas condenou (2014-2016); terceiro, o impeachment da 1ª presidente mulher, ainda mais simbólica por seu passado na guerrilha (abril-agosto/2016); quarto, a prisão de seu líder messiânico (abril/2018); por fim, a vitória de um candidato que assumidamente defendia o legado da ditadura militar (outubro/2018). Se eu fosse de esquerda - e, mais especificamente, petista - eu também entraria em colapso depois de tudo que aconteceu.
Em suma, o documentário prega para convertidos, só reitera a narrativa para quem já acredita nela ("golpe", "cadê as provas", "500 anos de elite escravista/demófoba/corrupta/oligárquica" etc.), e não se esforça em persuadir quem discorda dela (não só quem está no outro oposto ideológico, mas também os moderados). O tom é mais de terapia do que de documento histórico-político.
Chatô - O Rei do Brasil
2.8 182 Assista AgoraO filme me surpreendeu! Há muito a se destacar em "Chatô, o Rei do Brasil": a narrativa não-linear; a linha tênue entre delírio e "biografia"
(aliás, adorei o expediente do julgamento)
(por exemplo, a do jantar em que conhece Vivi Sampaio e o primeiro diálogo com Vargas)
Enfim, foram 20 anos de espera que valeram a pena; digo sem medo de exagerar que "Chatô, o Rei do Brasil" é um dos melhores filmes brasileiros já feitos.
P.S.: Se "Chatô" já é tecnicamente avançado em relação à média dos filmes brasileiros em 2015, fico imaginando o impacto que este filme causaria se fosse lançado em 1999!
007 Contra Spectre
3.3 1,0K Assista AgoraDepois do excelente Skyfall, seria difícil fazer um 007 no mesmo patamar. Mesmo assim, isso não exime Spectre de pecar no roteiro
(as ligações entre os 4 filmes de Craig ficaram meio forçadas; podiam ter explorado melhor a SPECTRE)
Por outro lado, as cenas de ação continuam empolgantes; Craig consegue trazer o ar blasé necessário para o personagem; também gostei das atuações de Christoph Waltz e Léa Seydoux; o filme consegue criar efetivamente tensão em certas cenas-chave; há os diálogos debochados e as reviravoltas mirabolantes que são típicos da franquia.
Vai Que Cola - O Filme
2.7 526 Assista AgoraRi em várias cenas, mas em geral achei que o filme não esteve à altura da série. A linguagem de sitcom de "Vai que Cola" não funcionou bem no cinema; a metalinguagem ficou cansativa, o enredo é cheio de buracos, há muitos momentos "over" (alguns divertem, mas outros são simplesmente exagerados), os atores convidados não contribuem muito para a trama
(e achei meio forçado colocar o Brito como "bicha-hétera", não passou de um pretexto fraco para o Ferdinando ter um "par" no filme - mas, admito que rolei de rir da cena em que o Ferdinando se veste de machão e se derrete quando o Brito fala que gosta de Barbra Streisand, rs)
(Velna quase não aparece, Valdomiro - o menos engraçado, diga-se de passagem - aparece em excesso, e não ficou claro no final se Jéssica e Máicol terminaram o namoro)
Paulo Gustavo funciona melhor em papéis femininos, como a Senhora dos Absurdos e Dona Hermínia; dar tanto protagonismo para ele no filme de "Vai que Cola" não foi uma boa idéia.
Homem-Formiga
3.7 2,0K Assista AgoraMelhor do que eu esperava. O enredo não tem nada de catártico, mas o filme tem um tom leve e divertido que me agradou.
Adorei as alusões debochadas aos Vingadores e, principalmente,
a cena em que Scott e Darren estão lutando na mala e começa a tocar "Plainsong" (The Cure), que é de um disco chamado... "Disintegration". =D
Star Wars, Episódio III: A Vingança dos Sith
4.1 1,1K Assista AgoraO melhor filme da nova trilogia, em todos os aspectos: roteiro, lutas, efeitos especiais e, é claro, desfecho. A segunda metade do filme,
a partir da conversão de Anakin ao lado negro da Força (cujo estopim foi quando traiu Mace Windu)
destaque para a fala de Padmé diante da queda da República: "Então é assim que morre a liberdade - com um estrondoso aplauso."
007: Operação Skyfall
3.9 2,5K Assista AgoraO melhor filme de 007 desde "Goldeneye". Se "Casino Royale" já havia ressuscitado a franquia depois de três últimos filmes medianos com Pierce Brosnan (principalmente o decepcionante "Um Novo Dia Para Morrer"), mas "Quantum of Solace" não avançara tanto, "Skyfall" contou com um ótimo diretor, que imprimiu seu estilo para dar uma elegância e um fôlego há muito não vistos nos filmes de Bond.
A cena de luta entre as sombras, por exemplo, é sensacional.
O enredo é ótimo, e traz revelações importantes sobre o passado de James Bond
(aliás, a parte final do filme, na casa onde Bond morou quando jovem, ficou muito boa)
, que morreu com dignidade, em mais uma performance competente de Judi Dench.
Magical Mystery Tour
3.7 101Apesar da proposta ousada, a execução deixa a desejar: o roteiro é bem aleatório mesmo
(por exemplo, a cena da maratona, a do macarrão (?) e a do show de strip-tease)
Os Cavaleiros do Zodíaco: A Lenda do Santuário
2.5 810 Assista AgoraPara aqueles que ainda não assistiram ao filme e também para os só o viram uma vez e não gostaram tanto, recomendo assisti-lo pela 2ª vez, e ir de mente aberta. Fiz isso e saí bastante satisfeito.
"A Lenda do Santuário" se dá a liberdade de funcionar como auto-paródia de CDZ - aliás, parece até que Kurumada pegou todas as críticas e deboches costumeiramente feitos a Cavaleiros do Zodíaco e as colocou no roteiro, rs. Temos aqui um Seiya atrapalhado e brincalhão, um Shiryu tão didático que chega a ser pedante, um Hyoga introspectivo -
mas que, mesmo assim, protagonizou umas das cenas mais engraçadas do filme ao abrir as mãos quando seu adversário congelado explode
outro momento hilário é quando ele diz, diante de Shura: "Eu sou fraco"
o "musical" de Máscara da Morte. Deve ser inclusive por isso que "mataram" o Afrodite, já que o cavaleiro de Câncer foi a "diva" do filme, rs.
Para mim o único problema do filme é que poderia haver mais lutas - ou, pelo menos, as que aconteceram poderiam ter sido mais longas. Tirando isso, só elogios: adorei o tom bem-humorado e pouco melodramático, a brincadeira com o excessivo didatismo da série, os plot twists que beiram o nonsense (no bom sentido), a estética à la Final Fantasy e a capacidade de Kurumada de rejuvenescer a sua franquia para o público contemporâneo.
Anjos da Lei
3.6 1,4K Assista AgoraDiverti-me muito com esse filme, que prima pelo humor nonsense do início ao fim. A maioria dos atores foi muito bem (destaque para Jonah Hill e Ice Cube), o enredo é interessante (gostei da sacada de mostrar a mudança geracional - os "jocks" já não reinam mais no ensino médio, e num mundo assolado pela tecnologia e com novos valores - p.ex., consciência ambiental - os "nerds" ganharam espaço) e as cenas de ação são espetaculares.
Philomena
4.0 925 Assista Agora"Philomena" é um filme muito bonito, que consegue transmitir emoção de forma honesta e sem apelar a soluções fáceis e condescendentes,
como bem demonstra a cena do perdão de Philomena à freira e a bronca que ela dá em Martin por ter se portado de forma tão explosiva.
A forma como a trama é construída mantém o espectador envolvido,
e confesso que fui pego de surpresa quando Martin descobre quem é o filho, e que ele está morto.
As atuações de Steve Coogan (ator de quem gosto desde "24 Hour Party People") e Judi Dench (que merece o Oscar) são impecáveis.
Por fim, gostei da mensagem cristã de "Philomena", enfatizando o perdão acima do ressentimento e do rancor, que tão facilmente carregamos em relação ao nosso passado.
É o Fim
3.0 2,0K Assista AgoraUm filme insano, hilário e extremamente aleatório.
Ainda estou rindo daquele final com os Backstreet Boys, rs.
Por fim, adorei a sacada (auto)debochada de insinuar que as celebridades de Hollywood merecem todas ir para o inferno (exceto, é claro, as que demostram altruísmo ou genuíno arrependimento - o que não foi o caso do James Franco, haha).
Ponto Final: Match Point
3.9 1,4K Assista AgoraFilme inteligente e imprevísivel. Por enquanto é o meu preferido do Woody Allen.
Gostei das alusões constantes a Dostoiévski, principalmente a "Crime e Castigo". O recurso ao assassinato duplo e à crise de consciência do protagonista, somados ao elemento da sorte enfatizado desde a primeira cena, tornaram o desfecho convincente, com boas reviravoltas (em especial a cena do anel caindo do lado errado, o que criou uma expectativa de que Chris não teria o "final feliz" que teve).
No Distance Left to Run
4.5 25Um dos melhores documentários sobre bandas de rock que já vi. Já tinha visto "No Distance Left to Run", sem legendas, em 2010, mas assisti-lo depois de ter ido ao show do Blur em São Paulo, 3 dias atrás (e com legendas em inglês, rs), dá uma nova dimensão.
A história do Blur é das mais bonitas e tristes.
Começaram como uma banda indie; tiveram um sucesso logo de cara (There's No Other Way); fizeram um disco mediano cheio de intervenções da gravadora; a turnê de 92 nos EUA foi desastrosa, mas rendeu material para o disco seguinte (aliás, ouvir Advert sabendo desse ressentimento com os americanos a torna ainda melhor); alcançaram o ápice comercial com Parklife, que captou perfeitamente o zeitgeist musical britânico; o sucesso de Country House ironicamente os tornou antipáticos perante o público e expôs as fraturas da banda, principalmente as de Graham; o álbum seguinte (aliás, o meu favorito) marcou uma mudança na sonoridade, mais experimental (compreender Song 2 como uma música divisora de águas foi uma ótima sacada!); o melancólico disco 13 revela um lado até então desconhecido de Albarn; as cenas sobre a saída de Coxon da banda são emocionantes; o mesmo pode ser dito do reencontro e dos shows de 2009. Foi lindo ver o público cantando Tender, ainda mais depois que algo parecido aconteceu no Planeta Terra.
O Verão da Minha Vida
3.7 592 Assista AgoraUm filme inteligente, que coloca questões morais de forma sólida e não cai em obviedades e clichês. É praticamente uma "coming of age novel" em forma cinematográfica, pois o protagonista - e não só ele - amadurece ao longo da trama. Duncan teve a sorte de encontrar, onde menos esperava, um mestre/padrinho para lhe orientar, e com isso sair da melancolia e ser mais extrovertido. Além disso,
a cena final, com a mãe indo sentar ao lado dele no banco de atrás, tem uma simbologia muito forte - afinal, em tal gesto ela decidiu "escolher" o filho ao invés do namorado.
O filme é repleto de cenas cômicas,
dentre elas, todas envolvendo o toboágua, rs.
P.S.: As atuações de Jim Rash (aliás, o reitor de Community!), Allison Janney (Betty) e Sam Rockwell (Owen) são hilárias. E Steve Carrell conseguiu incorporar bem o seu personagem irritante e não-cômico.
Rush: No Limite da Emoção
4.2 1,3K Assista AgoraO filme é excelente em vários sentidos: ótimas atuações (principalmente Daniel Brühl como Lauda); roteiro bem construído; é fidedigno aos fatos da épica temporada de 1976; os personagens baseados em Lauda e Hunt têm profundidade psicológica; tensão dramática na medida certa; e, empolgante nas cenas de corrida.
Ron Howard dirigiu brilhantemente um filme feito não só para os apaixonados por Fórmula 1, mas também para aqueles que, mesmo que não gostem de F1, apreciam uma trama instigante.
Bling Ring - A Gangue de Hollywood
3.0 1,7K Assista AgoraAchei o filme meio decepcionante. Sofia Coppola tinha uma boa intenção (ao invés de simplesmente condenar o comportamento dos adolescentes, ela pretendia entendê-los, compreender suas motivações), mas a execução deixou a desejar. Em primeiro lugar, porque o filme, mesmo que não o queira, não consegue evitar um tom meio moralista; em segundo, porque mesmo assim este tom é vago, e falta uma crítica (ou um posicionamento) mais contundente; em terceiro, porque o filme fica cansativo com seu estilo meramente "descritivo" das futilidades dos personagens. Porém, há dois pontos fortes: o personagem Marc, que tem alguma profundidade psicológica; e a boa atuação de Emma Watson.
Ghost World: Aprendendo a Viver
3.7 540Um dos filmes mais sinceros (e amargos) sobre amadurecimento. Há personagens que se conformam com as expectativas sociais, e há aqueles que insistem da forma mais intransigente possível em manter a mesma postura. Não há muito espaço para otimismo, e o principal mérito de Ghost World é justamente esse desencantamento. Ainda não li a HQ, mas imagino que também seja de alto nível.
Orgasmo
3.0 41O enredo é bem formulaico, mas o filme tem momentos divertidos.
Rolei de rir da gordona com uma dublagem do Parker no estilo South Park, rs.
Achei curioso eles terem chamado atores pornôs de verdade, como Chasey Lain e Ron Jeremy. Por fim, cabe ressaltar a boa e velha zoação ao bom-mocismo dos mórmons.
O Lado Bom da Vida
3.7 4,7K Assista AgoraA forma como retrataram personagens com transtorno bipolar, TOC e agressividade pós-luto foi bem verossímil; aliás, a conversa de Tiffany e Pat sobre quais remédios tomam foi hilariamente realista, rs. A trilha sonora é ótima; destaque para as cenas em que tocam "What Is And What Should Never Be", do Led Zeppelin, e "Fell In Love With A Girl", dos White Stripes.
A princípio achei estranha a cena em que Tiffany subitamente mostra seus fartos conhecimentos sobre futebol americano para o pai de Pat, mas considerando o jeito excêntrico dela (e o fato de não deixar o rapaz levar jornais de esporte para o treinamento de dança), até faz sentido.
Por fim, cabe ressaltar as ótimas atuações de Bradley Cooper, Jennifer Lawrence, Robert De Niro e Chris Tucker.
Lincoln
3.5 1,5KÉ um filme do tipo "ame ou odeie". Há quem vá achá-lo cansativo, com pouca ação e excesso de diálogos; outros (eu, p.ex.) gostaram desse tom mais focado na argumentação política. Adorei os duelos retóricos,
especialmente um em que o presidente justifica para seu gabinete o porquê de a emancipação de 1863 não ser suficiente e o motivo pelo qual acabar a guerra antes da abolição seria um desastre
P.S.: adorei a ironia do destino que é o Partido Democrata, que hoje se arroga progressista e defensor das minorias, ser o reduto dos escravocratas e racistas da época.
Edukators: Os Educadores
4.1 663O filme-símbolo da esquerda festiva. Choque geracional (revolucionários de ontem que são empresários de hoje vs. revoltados do dia), métodos questionáveis (mas nem por isso menos "glamourizáveis"), insegurança travestida de radicalismo e um final deliciosamente hipócrita.
Educação
3.8 1,2K Assista AgoraAo contrário do que alguns disseram, acho que um dos charmes do filme é justamente ter uma lição de moral.
Seria muito inverossímil e hipócrita se eles ficassem juntos no final. Desde o início eu já desconfiava do David, por mais que o carisma do personagem nos tente dissuadir dessa impressão.
Fiquei feliz ao saber que o bom roteiro é do Nick Hornby. Por fim, cabe elogiar os aspectos mais técnicos (trilha sonora e fotografia).
O Hobbit: Uma Jornada Inesperada
4.1 4,7K Assista AgoraO filme ficou melhor do que eu esperava. De fato Peter Jackson está no caminho certo para conseguir a proeza de transformar um livro de 290 páginas em 3 filmes.
Gostei da seqüência nos minutos iniciais que ligam "O Hobbit" com o início de "O Senhor dos Anéis". Além disso, personagens carismáticos como Gollum, Gandalf e Thorin também contribuíram para a força da história.
Eu estava há meses enrolando para terminar de ler o livro. Depois de ver este 1º filme, acho que a procrastinação chegará ao fim. =D
P.S.: É impossível não sentir uma ironia do destino ao ver Saruman bancando o bonzinho cético, rs.