Exigir que o filme decodifique a personalidade enigmática de Alan Turing é no mínimo ingênuo. Muito se criticou a forma como as linhas temporais se apresentaram no filme, contudo achei incrível a forma como elas são trazidas, como se estivéssemos nós a viajar pelas sinapses neurais de um gênio. Algumas histórias nos fazem questionar se são mesmo reais ou ficcionais, esta é uma delas.
Ao ligar a vida de Alan Turing e a sua missão temos um tema recorrente na sua trajetória: o segredo. Uma empreitada que exigia daquele que passou a vida tendo o silêncio como seu potencial aliado, justamente isso: o silêncio. Depois de viver uma vida baseada na ocultação dos seus desejos, o que para muitos era desafiador, para Alan era exercido com maestria. Era essa discrição que permitia a Alan a sua liberdade e a propriedade sobre o seu próprio corpo. A cena em que Christopher ajuda Turing a sair do piso de madeira é carregada de significados e muito bem inserida no contexto exposto. Ali, sob aquele piso, Turing era um ser não visto, não ouvido, não compreendido. Através da mão estendida de um amigo, passaria a assumir uma posição de alguém que era visto, ouvido e compreendido.
É impressionante o que a compreensão e a companhia pode fazer até às figuras mais insociáveis. A escolha dessa cena nos apresenta ao mundo em que viveria Turing
Enquanto Alan e sua equipe tentam decodificar a criptografia de mensagens de difícil acesso, Joan surge como uma máquina capaz de traduzir uma relação que ali não se sustentava, entre Alan e o mundo que o cercava, intermediando o contato social entre ele e os seus parceiros. Joan e Alan estabelecem um vínculo forte pois ambos viviam à margem de uma sociedade julgadora
onde os mesmos não tinham vez, Alan por ser homossexual, Joan por ser mulher.
Alan experimentou a desumanidade voltada a alguém que por ser incompreendido, era comparado a uma máquina, porque quando excluía-se a subjetividade que o ligava a um humano, o mesmo passava a ser tratado como um objeto, algo livre de sentimentos, e assim sustentava-se a ideia de que todo aquele abuso não era voltado a uma pessoa. Era conveniente que ele fosse desumanizado para que àquelas atitudes desprezíveis fossem justificadas. O encontrar-se perdido em meio aos julgamentos externos, o não pertencimento, o acreditar estar mais próximo de uma máquina do que um humano, fez com que Alan tivesse a sua própria noção sobre si alterada, acreditando estar mais associado às máquinas, do que as pessoas que estavam ao seu redor,
ilustrado adequadamente pela cena em que Alan consegue vencer a Enigma, e enquanto seus colegas comemoram afetivamente, ele olha afetuosamente para a máquina, deixando os companheiros em segundo plano.
Entender aquela máquina, equivalia a entender a si mesmo. Amar aquela máquina, era amar a si. Fazer com que a máquina Christopher tivesse lugar no mundo, era criar, no mundo, um lugar para si mesmo, numa tentativa de buscar a sua própria humanização, defendendo que uma máquina pudesse pensar como uma pessoa. Como eu disse, o sigilo foi algo que sempre esteve escancarado na vida de Alan. Tanto que levou tempo para que um homem, que não levantou uma arma sequer e ainda foi responsável por vencer uma guerra, salvando a vida de milhões, fosse devidamente reconhecido. Imaginar um mundo onde a opção sexual de uma pessoa pode invisibilizá-la a esse ponto... Saber que esse mundo não ficou lá atrás, que esse mundo é agora, é revoltante e doloroso. Me pergunto sobre quantos gênios não iremos conhecer devido a um preconceito estatal enraizado e reproduzido desenfreadamente. Irônico perceber, depois de tudo, que alguém com tanta dificuldade em comunicar-se, se tornou um dos maiores colaboradores e intensificadores da mesma.
Tinha tudo pra ser um bom filme .. que lugar lindo! Natalino, a vivência numa cabana, neve, luzes, lembranças saudosas, uma escritora... Enumerando assim é difícil até justificar como conseguiram fazer um filme tão ruim com tantos pontos positivos... isso me decepciona mais que qualquer outra coisa relacionada a filmes, porque era para ser um filmaço... Zero química! Estou indignada!
A nota foi simplesmente pela cabana, pelas montanhas, pelo natal... E pela cena belíssima em que ela lê em frente a lareira coberta por sua colcha de retalhos. ❤️
"Às vezes penso, terá sido sempre assim? Terá sido sempre assim e não quis perceber? Não. Não. Há um momento em que tudo se transforma e já nunca é o mesmo."
Me pergunto quando, em que lapso temporal, relacionar-se amorosamente se tornou essa teia tão complicada? Me pergunto se, de fato, houve essa transformação... Se relacionar-se já foi algo simples...? Fácil...? Como desconhecemos nossas emoções, nossos sentidos... como estabelecemos uma série de quesitos, que inocentemente acreditamos que precisam ser preenchidos para que possamos nos apaixonar. E o choque ao ver que a criatura amada e querida por nós não atende aos quesitos e expectativas estabelecidas simplesmente porque os Afetos não nos pedem permissão.
Que véu é esse que nos cega e nos tira os sentidos? Que impede nossa percepção? Que não se forma pra quem nos observa, mas apenas para nós, os envolvidos? Quais os limites e em que pequeno momento tudo se torna algo novo? Será se é mesmo o afeto que se transforma ou são as nossas percepções, esse véu, que subitamente nos é tirado e enxergamos o que sempre esteve ali como num relâmpago de realidade e percepção... E que coragem teríamos de assumir nosso sentimentos? De deixar que os rios que correm dentro de nós fluíssem sem construirmos barreiras...
Será o véu que nos cega ou a força com que esse relâmpago chega?
Me pergunto o quanto estamos preparados para nos reconhecermos sendo amados... Isso não deveria ser um motivo para que algo acabasse, nunca...
Um filme imensamente tocante, onde a carga emocional não precisa ser nomeada para que compreendamos exatamente do que se trata.
Amei a ligação do emocional de Eva com o seu apartamento vazio.
E o abraço final diz tanto sem nenhuma palavra... O silêncio que comunica mais que um imenso emaranhado de palavras. O silêncio que não precisa ser explicado, apenas sentido. O abraço que de tão simbólico, nos envolve também.
O Dono do Mundo que tira seu título para tornar-se ele mesmo, pois reconhece que estar num pedestal é um fardo insuportavelmente pesado, ainda mais para uma criança. Um espetáculo metafórico que nos transporta para o entendimento do amadurecimento infantil. Que nos mostra o quanto capazes seríamos se ninguém declarasse a impossibilidade dos acontecimentos. Nos dizem para fecharmos janelas, portas e dutos subterrâneos, nos dizem para não deixarmos qualquer fenda que nos una com nossos "monstros", nos tiram nosso direito de nos reconhecermos como seres imperfeitos, e assim vamos seguindo mutilados, fracionados, incompletos... A infância é o momento onde abraçamos todas as nossas emoções, abrimos nosso coração para todos os sentimentos que chegam, sem tirarmos a importância de nenhum, somos puramente verdadeiros, e ser puramente verdadeiro é incômodo. A castração inicia-se cedo, e somos, enquanto crianças, taxados de chatos, inconvenientes, mimados, insuportáveis... Imagina uma criança receber um título assim de alguém que diz amá-la? Os gritos excessivos são pedidos de atenção, são confissões sobre o não saber lidar, são pedidos de ajuda, e são feitos no tom mais alto possível pra tentarmos ser ouvidos. Precisamos entender que não existe um estado de bem estar efetivo, precisamos entender que nossos monstros são capazes por fazer nossa alma dançar, são nossos monstros que faz com que avancemos, eles nos movimentam e eles também estão feridos. Nos aceitamos quando os aceitamos, nos curamos quando curamos a eles também. Nós exageramos tanto na nossa autoimportancia enquanto adultos que esquecemos que as crianças podem estar experimentando crises intensas dentro delas também. Quem se importa com as crianças acredita no amanhã.
A cena onde Max é engolido pela KW e pede para sair por não conseguir respirar é belíssima!! Nos remete aos vários nascimentos que experimentamos durante nossas vidas e não apenas o primeiro nascimento. Explora uma morte revestida através de um espaço que se torna inabitável. A destruição trazendo criação.
A primeira vez que vi o filme não me senti cativada. Achei superestimado e maçante.
Depois, em um dia de total apatia, resolvi revê-lo e ele me cativou imensamente, e pra um filme nos cativar nesses momentos em que nada no mundo parece prender nossa atenção ele tem de ser muito bom. Sempre é muito questionado como duas pessoas podem se amar, e não conseguir fazer dar certo, essa opinião sempre está vinculada a uma visão romântica das coisas... Agora uma mãe e uma filha se amarem, e não conseguirem fazer dar certo é de uma dor que dói dentro da gente, porque a maioria de nós experimentamos, ou experimentaremos esta vivência mais cedo ou mais tarde. A dificuldade em externalizar o quanto elas são amadas uma pela outra, a escolha sobre como sempre demonstrar isso de uma maneira que se julga correta e acaba acontecendo de forma errônea.
O "eu te amo" final da Lady Bird é tão pesado e tão libertador.
Como pode? Termos dificuldade em expressar de forma clara e concisa a emoção de afeto e carinho que sentimos por aqueles que mais amamos? Como pode tantas mães e tantas filhas serem as criaturas mais amadas uma pela outra e não terem certeza disso?
A cena ao som de This Eve of Parting e quando Lady Bird pinta seu quarto é de uma simbologia sensível e gigantesca. ❤️
- Logo no início, quando a protagonista principal está falando sobre a experiência de ficar longe de casa para conhecer a família do seu namorado, vão sendo apresentadas imagens que deveria corresponder a sua casa, mas com uma observação mais atenta vemos que aquela é a casa do Jake, seu namorado. Observamos também que ela está sendo observada através de uma janela por um senhor, senhor este, que logo começamos a suspeitar que é o próprio Jake, mas numa linha temporal diferente.
- O primeiro contato entre essa moça e o Jake é amistoso, a entonação na voz é empolgabte, ela usa cores acesas, vivas... Tons esses que vão sendo escurecidos no decorrer do filme.
- A situação vai nos mostrando que Jake e essa moça são mais próximos do que pensávamos, quando os pensamentos dela ganham força dentro de sua cabeça, através de um "Estou Pensando em Acabar Com Tudo.", o Jake pergunta se ela falou alguma coisa... O que é no mínimo curioso, pois ele demonstra um comportamento de quem ouviu os pensamentos dela, então, peraí, ele escuta pensamentos?
- Outro fato curioso é que sempre que essa moça, tida como principal (não vou nomeá-la porque nem sabemos que nome ela tem Lucy? Lucia? Louisa? Ames?), externaliza que está pensando em acabar com tudo ela é subitamente interrompida, isso se deve ao fato de ter um Jake evasivo, como ele mesmo explica através dela, mudanças demandam uma energia absurda...
- Logo depois temos um Jake mais velho lavando a louça de uma única pessoa, demonstrando que ele não tinha companhia e enevelhecera sozinho, depois ele sai na caminhonete, caminhonete esta exposta na frente da escola que ele diz ser o colégio de sua infância.
- Em inúmeras conversas e apresentações acaba sendo mostrada várias versões de como Jake e essa moça se conheceram, essa moça que não tem nome fixo, agora também é uma espécie de "faz-tudo", ela é poeta, física, pintora, gerontóloga, especialista em cinema... Menos zeladora. Aqui vemos uma idealização de tudo que o Jake poderia ter sido se houvesse seguido seus interesses, de todas as coisas que em determinados momentos na vida foram suas aspirações laborais. Esse ponto também é trazido em forma de lamento quando ele fala dos jovens que faziam números promissores e depois eram vistos trabalhando em lojas de suas cidades. Potenciais desperdiçados. Jake se enxergava neles, porque cada pessoa daquelas também era ele e seus ideais nunca tentados.
- O tempo inteiro o Jake declara ter as "correntes", dando a entender que está tudo sob controle pelo fato dele as possuir. Que correntes seriam essas? Correntes inquebrantáveis que o mantinha aprisionado a sua infância, já que Jake sempre estava se comportando como uma criança? Vemos ele sempre assistindo desenhos infantis e pedindo pra comprar algo doce após os desapontamentos. Inclusive essa observação também se confirma no balanço visto durante o trajeto e questionado pela sua parceira. O balanço representava como Jake se via, e a casa velha logo atrás representava o verdadeiro Jake.
- Logo após sua parceira, que é o próprio Jake, fala de como o caminho está sombrio, angustiante... Fazendo analogia a dificuldade que ele tem em lidar com o mundo exterior, em como se sente indefeso e ameaçado por ele. Estão, na maioria das vezes, sempre dentro de casa, ou do carro.
- Quando a sua parceira cita o poema, que realmente disserta a vida solitária de Jake, ele fala que o poema foi sobre ele, o medo de voltar pra casa, o não querer estar naquela realidade... Isso se confirma quando eles chegam a casa dos seus pais, que é a dele, visto que ele nunca saiu de casa, ele reluta em entrar...
- Seu medo absurdo de porão e sua insistência para que sua parceira não adentre nele nada mais é que sua defesa, pois se ela penetrasse no cômodo seria ele o penetrando, já que ela não existia como um ser real e apenas uma projeção de escape dele. O porão faz alusão ao seu inconsciente, a tudo que foi ali escondido para não ser identificado, nem trabalhado... Entrar no porão era retirá-lo da sua zona de conforto. Um ponto importante é quando ela fala pra o assustar, diante do porão, "ele está escondido lá?", e toda a ambientação do filme muda, dando a entender que aquilo não era uma mera brincadeira.
- Quando ele fala dos porcos faz analogia a sua própria realidade, pesada, que paralisa, que o mantém estagnado, enquanto ele vai aos poucos sendo consumido por pensamentos autossabotadores e passivos. "A vida pode ser cruel numa fazenda..."
- O fato de haver só um par de chinelos também é outra situação que chama a atenção, se ele realmente tivesse acompanhado não providenciaram um par de chinelos para sua acompanhante? Também é curioso que sua parceira não come do bolo, ela o serve a Jake, diretamente na boca.
- Durante o jantar, quando o pai crítica as pinturas feitas por sua parceira (que é ele), Jake a defende enaltecendo a importância das pinturas de sua parceira, que na verdade, são dele. Temos isso confirmado quando ela penetra no porão e encontra todos os desenhos que estavam, até então, na galeria do seu celular. Seria aqui o início do desmanchar dessa personagem principal?
- LIGAÇÃO DE YVONE Sua parceira está o tempo todo recebendo ligações de diferentes pessoas com a mesma mensagem, que basta responder a pergunta, pergunta esta que até então não é feita (em alguns momentos tive a sensação de que ele estava relembrando alguma indagação feita em uma possível sessão de terapia e até associei as mensagens que ela recebe a isso). Mas se sua parceira na verdade é ele todas aquelas mensagens são pra ele, e não pra ela. No início ela vê em seu celular uma chamada de uma Lucy, o primeiro nome que ela passa a assumir, diante de vários. Logo depois, temos a imagem do Jake, mais velho, assistindo a uma cena na TV, onde a personagem se chama Yvone e é indagada sobre um tal sanduíche Santa Fé. Mais à frente temos Jake contando ao seu pai que conheceu sua parceira num café, enquanto perguntava sobre o sanduíche Santa Fé, conflitando totalmente com a informação dada durante o almoço. O mais curioso é que logo após sua parceira recebe uma chamada de Yvone, justamente quando a personalidade da até então Lucy começa a entrar em conflito com Jake. Seria mais uma fuga através de uma nova idealização mais confortável agora com Yvone?
- Finalmente, no momento da fotografia, onde sua parceira pergunta quem é, e ao mesmo tempo afirma ser ela, temos uma das entregas mais claras no filme de que sua parceira não existe, ao menos não naquela realidade, visto que ele realmente viu alguém com as características dela, talvez até chamada de Lucy, mas que não aconteceu nada pela falta de interesse dela e de iniciativa dele (mais uma vez).
- Em determinada cena temos sua mãe, que não tem nome, é apenas a mãe do Jake (seria isso um quadro narcisista?), relembrando o quinquagésimo aniversário dele, logo depois de ser questionada ela corrige dizendo vigésimo aniversário. Mais uma vez nos é exposta uma situação de uma pessoa que não aceita o envelhecimento, porque ele ainda mal nasceu. Logo após, durante uma conversa, ele diz admirar pessoas simplesmente por serem jovens, pois estes são luminosos, esperançosos e externaliza sua repulsa a velhice, dizendo que esta são cinzas da juventude.
- Uma cena mais dolorosa ainda é quando o pai de Jake, que também não tem nome, está dizendo sentir falta de sua mãe, e a parceira de Jake encosta vagarosamente sua cabeça no ombro do pai dele, enquanto outra câmera mostra Jake observando inerte a declaração. O que configura alguém que gostaria de ter mostrado mais afeto, porém não encontrava aberturas pra tal, o que também é confirmado na cena que sua parceira brinca dizendo que a mãe dele era doce E FRIA.
- Mais uma vez temos um Jake que possui dificuldade em aceitar a realidade quando este impede a sua parceira de externalizar que sua mãe estava morta, ele sustenta que ela está apenas dormindo...
- O atendimento no Tulsey Town: Temos um Jake com um enorme complexo de inferioridade, tanto que sempre fala como se protestasse contra essa dificuldade social em se tornar um ser humano, porque essa sociedade é a que o diminui e o invisibiliza. Quando ele chega para pedir o sorvete ele teme ser atendido pelas meninas mais bonitas, como se fosse um mecanismo de defesa, e pede pra que sua parceira fique com ele, estranhamente ela (que é ele) é totalmente ignorada pelas meninas padronizadas e só é percebida pela outra funcionária, comecando-se um diálogo confuso... E após vemos que os dois, naquele momento, compartilham erupções na pele, como se fosse uma marca de vivências iguais. E acho que tudo que a atendente disse a parceira de Jake, na verdade foi o que o próprio Jake disse a moça que o atendeu. Mostrando a dificuldade de comunicação que Jake possuía, a dificuldade em lidar com o mundo exterior... Inclusive, acho que o excesso de copos na entrada da escola seria das inúmeras tentativas de Jake em estabelecer alguma relação com a atendente, já que vimos inicialmente que ele não gosta tanto do sorvete.
- Durante o caminho para o colégio onde Jake trabalha, sua parceira diz que também morou na fazenda e que também estudou numa escola agrícola. Nem preciso mais ressaltar que são a mesma pessoa, né?
- Subitamente Jake se sente sendo observado juntamente com a sua parceira, através de um olho que aparece misteriosamente, que seria o seu próprio olho o observando de uma linha temporal diferente, neste instante, o filme passa a mostrar um Jake que já não quer mais fugir, então ele vai em busca daquilo que o chama e o observa... Dentro da escola observamos juntamente com o Jake mais velho, uma coreografia em casal, enquanto Jake permanece invisível. Quando a sua parceira se apavora pela falta de retorno de Jake, ela vai a procura dele e é encontrada pelo Jake mais velho. Então a pergunta finalmente é feita: "como é o seu namorado?". Como a parceira de Jake é uma idealização, aquela pergunta esta sendo feita dele pra ele mesmo, e funciona como "como sou eu?", enquanto ele responde através de sua idealização que já nem lembra mais. Após eles se abraçam, demonstrando que naquele instante esse eu fragmentado do Jake começa a fazer as pazes com ele mesmo. Na próxima cena, sua parceira encontra o Jake jovem, e mais uma dança é trazida às telas, é uma dança leve, uma dança de compreensão, os movimentos dos dançarinos parecem pertencer a uma só pessoa, acho que fazendo alusão ao Jake que está começando a aceitar sua condição atual, onde ele é idoso e apenas um zelador. Mas, como sabemos, há sempre algo que nos distancia de situações repentinamente novas, ainda mais quando essas situações vão nos tirar da zona de conforto, não nos reconhecemos fora dessa zona e isso pode ser assustador. Isso pode ser simbolizado pelo momento em que um dos dançarinos está levantando o véu da dançarina, como se naquele instante ele tivesse aberto a aceitar sua situação, e é Subitamente impedido de finalizar o ato. A dança assume uma exposição mais agressiva entre fuga e morte, finalizando com um dos dançarinos sendo apunhalado pelo outro. Na mudança de câmera vemos o Jake jovem e sua parceira enquanto observam o morto sendo coberto por neve. Imediatamente o Jake jovem se desfaz, juntamente com a sua parceira, enquanto o Jake mais velho passa retirando a neve que estava contornando o corpo sem vida no chão. Este é o corte. É nesta fração de segundo que Jake nasce, cresce e - após ser aplaudido por todos, porque tudo se tratava de uma questão dele com ele mesmo, visto que quem está em paz consigo mesmo, está em paz com o mundo - morre. E somente no ato de sua morre, Jake se sente realizado.
Com isso constatei que o Jake levou uma vida solitária, atormentado por seus traumas, que não deixaram que ele plantasse as sementes das mais belas árvores que sempre trazia dentro do seu coração. A vida de Jake foi uma sucessão de passividade, uma passividade tão absurda que nem chegou a ser desistência. A real situação de Jake e o que ele gostaria que tivesse sido são tão distantes que nos impede de percebermos que Lucy e Jake são a mesma pessoa. (aqui entra mais uma vez a questão de que as vezes o espaço entre o que gostaríamos que fosse, e o que nos tornamos é tão abismal que se comparamos, nem parecem essas duas coisas pertencerem ao mesmo eu).
"As pessoas pensam em si mesmas como pontos se movendo no tempo. Mas acho que deve ser o contrário, estamos parados e o tempo passa por nós, soprando como o vento frio, roubando nosso calor, nos ressecando e congelando."
Aqui temos um personagem que parou no tempo, enquanto ele fugia entre os dedos de suas mãos. A princípio, fiquei esperando ver uma Lucy tão velha quanto Jake, mas isso seria impossível, visto que Lucy não é real, ao menos não na perspectiva apresentada, ela não passa de uma idealização de como Jake gostaria que tivesse sido. É por isso que ela está sempre com a sua aparência jovem, como se Jake sempre observasse tudo que ocorreu após a sua juventude com esses mesmos olhos. A dificuldade de Jake em se reconhecer como adulto fez com que inúmeras situações não vingassem, elas não poderia nascer, pois como situações adultas aconteceria a uma criança?
Uma pesquisa realizada por Bronnie Ware, uma enfermeira australiana, com seus pacientes terminais em seus leitos de morte revelou os maiores arrependimentos presentes entre eles e o mais mencionado foi: "Gostaria de ter sido fiel ao que desejava.". No último momento, quando as pessoas experimentam a oportunidade de vislumbrar seus passados, elas se arrependem de não terem vivido a vida que queriam. Acho que é disso que se trata o filme. Confesso que foi um dos mais tristes e com mais universalidade no específico que assisti nos últimos dias. Um filme enquadrado no gênero terror, que não tem os quesitos característicos de terror (ao menos não os atributos mais esperados e automaticamente idealizados quando pensamos em Terror), mas que assusta mais que qualquer um que possua todos esses tais quesitos, justamente porque nele o terror é real. É real e é comum. O Jake retratado no filme pode vir a ser qualquer um de nós.
Este filme contém várias possibilidades de interpretação, não é a toa, pois é um filme sobre fragmentação, e não é de se surpreender que quando observamos os mais diversos modos de ver, todos eles cabem perfeitamente dentro do que nos foi exposto. A desordem na linearidade temporal pode dificultar alguma interpretação, ou até mesmo confundir o telespectador, mas não seria a mente, se pudéssemos assisti-la (John Malkovich) um espetáculo de dança não coreografado, e por que não, caótico? Que não segue um caminho linear, que se perde entre fendas, e acaba voltando ao ponto de onde se partiu?
Chamativa essa questão de que, em muitas vivências, sejam elas analisadas em ocasiões, ou nos seus conjuntos completos, o que realmente queríamos é tão distante do que nos tornamos que parece dar vida a outro ser, um ser que de tão distante parece não estar contido em nós.
Tal qual o portal para o mundo humano, a água na minha face correu de forma torrencial. Este é o tipo de filme que faz rios correrem dentro de você até que transbordem através dos seus olhos. A narrativa é inteiramente poética, faz um uso encantadoramente assertivo das palavras e acredito que desperta as emoções que deseja. Minha alma acendeu juntamente com a do Quiu. Sou uma admiradora incondicional de toda sensibilidade contida nessas animações, de como tratam a natureza, dando a ela toda a imponência que lhe pertence.
Chun, contemple cada brisa que lhe tocar e não perca uma só gota de chuva que trouxer o céu até você.
"Você acredita em milagres? A vida é uma jornada. Quantos ciclos de vida temos esperado pela oportunidade de aproveitar está jornada? A vida é curta, e todos nós temos que ir um dia. Nós poderíamos ser um pouco mais ousados. Apaixonar-se. Escalar uma montanha. Perseguir um sonho. Sim, não faz mal ser um pouco mais ousado. Há muitas coisas que não entendo. Há muitas perguntas que não posso responder. Mas eu acredito que os Céus nos deu a vida para nós criarmos milagres."
Eu gosto de quem aceita que peixes podem voar sem quaisquer questionamentos. 💓
Dos filmes que eu gostaria de ter visto no Cinema...
Se houvesse uma pílula de esperança, algo pronto, consumível, de efeito rápido, todos a tomariam... Haveria filas e filas nas farmácias, diagnósticos e superdosagem... Não há. Mas temos a arte como uma maneira de nós conectarmos a tudo que é belo neste mundo...
Este filme renova as esperanças, te faz sentir forte, te faz sentir-se capaz de derrotar exércitos apenas com uma bandeira, sem uma arma sequer...
"- É como nas grandes histórias, Sr. Frodo. As que tinham mesmo importância. Eram repletas de escuridão e perigo. E, às vezes, você não queria saber o fim... por que como podiam ter um final feliz? Como podia o mundo voltar a ser o que era... depois de tanto mal? Mas, no fim, é só uma coisa passageira... essa sombra. Até a escuridão tem de passar. Um novo dia virá. E, quando o sol brilhar, brilhará mais forte. Eram essas as histórias que ficavam na lembrança... que significavam algo. Mesmo que você fosse pequeno demais para entender porquê. Mas acho, Sr. Frodo, que eu entendo sim. Agora eu sei. As pessoas dessas histórias tinham várias oportunidades de voltar atrás, mas não voltavam. Elas seguiam em frente... Porque tinham no que se agarrar. - E em que nós nos agarramos, Sam? - No bem que existe neste mundo, Sr. Frodo... pelo qual vale a pena lutar."
Eu não posso focar apenas na barbárie para dar um ponto de vista sobre como o mundo está... Se eu focar só na maldade, eu acreditarei que só existe ela e determinar que só ela existe além de insensato é desonesto.
Sciamma certamente não se viu dividida entre a escolha do amor e a escolha da poesia, ela uniu as duas...
Um elo de cumplicidade feminina... a forma como a sororidade é demonstrada através desta poesia virtual é de uma sensibilidade imensurável... O respeito ao corpo feminino nas cenas de troca sexual, fazendo tudo de uma forma tão poética e magnífica, sem retirar a naturalidade do ato, é algo que só pode ser facilmente justificado por serem cenas filmadas através de um olhar da amálgama feminina.
Daquelas caixas sem fundo repletas de referências! Pode-se assistir a este filme enésimas vezes, e a cada uma delas será como algo novo, pois captaremos algo que não foi percebido pelo nosso olhar anteriormente... A forma como a câmera se põe e nos transporta para dentro do filme, como se estivéssemos observando todo o seu desenrolar em terceira pessoa, é de tamanha entrega que sentimos as sensações de estarmos sendo aquecidos pela lareira ou açoitados pelo vento feroz e a brisa marítima .. A própria forma que observamos a Heloïse, como se a câmera que a filmasse estivesse introduzida no próprio olhar de Marianne é estupendamente envolvente... A forma como a luz é aproveitada e infalivelmente capta cada emoção pretendida... As declarações que não chegaram a ter voz e nem por isso deixaram de ser captadas. O estalar do fogo queimando, os passos que se aproximam e/ou se distanciam, a quebra das ondas marítimas que deixam claro a ausência das palavras ditas em contraposição ao silêncio que diz mais que qualquer palavra saída pela boca... A trilha sonora natural é algo que me conquistou absurdamente, porque além de nos fazer experimentar o filme como se estivéssemos dentro dele, a forma como cada som por trás foi minuciosamente escolhido e apropriado ao momento retratado é encantadora... O mar sempre em fúria, o vento avassalador, e um fogo voraz, sempre incontroláveis, tal qual as emoções compartilhadas entre as personagens.
Tudo neste filme está associado ao fogo, os sentimentos são retratados como tal...
Sempre que Marianne e Heloïse estão juntas o barulho do fogo é claro e voraz, queima intensamente, ou quando estão a sós, mas pensando uma na outra; mas quando há qualquer intervenção de terceiros outros sons parecem esconder o barulho do fogo queimando (seja passos, talheres, panelas...), fazendo referência a como as duas queimam quando estão a sós.
Nos momentos dolorosos elas geralmente correm para o mar, ou estão observando-o, como se aquela fúria marítima pudesse apagar chamas que começavam a arder... Numa tentativa de ruptura com um sentimento que não se queria sentir.
O mar também retrata o turbilhão de emoções que se revoltam dentro delas...
Há muita contraposição entre o fogo e o mar... Basta observar a escolha da cor dos vestidos de Marianne (tons de fogo) e Heloïse (tons de água)...
A ligação entre o Mito de Orfeu e o filme é tristemente belo... Sentiria-se Marianne fadada a responsabilidade de salvar sua bela Heloïse do inferno? Desde quando um vestido de casamento assemelha-se tanto a uma mortalha?
VIRE-SE!
Será que há alguma chama, tão vivaz e imortal, que resista a um inverno torrencial de lágrimas? As lágrimas que não caem sempre alagam mais...
Um amor impossível queima pra sempre!!!
Página 28.
"Ser livre é estar sozinha?"
"Nem tudo é passageiro, alguns sentimentos são profundos."
Referências que percebi: - Marianne se secando nua, entre suas duas telas em branco, com o fogo ao fundo: Tanto as telas em branco, quanto Marianne despida de qualquer adereço, sugerem um espaço vazio, como uma folha em branco que espera uma história ser escrita; o fato de tanto as telas, quanto Marianne, estarem frias, molhadas secando-se através do fogo, também me sugeriram uma personalidade disposta a experimentar uma tórrida história que aquecesse sua alma e seu coração...
- A cena em que Marianne veste o vestido verde: Logo após, a própria Heloïse se propõe a vesti-lo para ser pintada de forma espontânea e entregue, esse compartilhar do mesmo vestido sugere duas personalidades que estão dispostas a compartilhar vivências...
- A primeira aparição de Heloïse: Logo "conhecemos" uma Heloïse coberta pelo manto em tons frios, sua face não aparece de imediato e ela se posiciona sempre à frente de Marianne, demonstrando tamanha dificuldade pela qual Marianne irá ter de ultrapassar para pintar sua musa. (Arrisco dizer que já começamos a experimentar referências ao mito de Orfeu e Eurídice desde essa cena, através de uma Heloïse decidida a não olhar pra trás.)
- As cores dos vestidos (BRILHANTE!!!): O uso repetido, dia após dia, do mesmo vestido também não é em vão... Marianne usa corriqueiramente um vestido em tons alaranjados, quentes, que lembram o fogo, enquanto Heloïse usa um vestido azul, em tons frios, demonstrando uma jovem fria, mas não pela ausência de sentimentos e sim pela impossibilidade de experimentá-los... Seria Marianne a responsável por fazer Heloïse começar a queimar?
- O momento do primeiro beijo: Ao saírem de casa, devido ao frio, elas precisam se cobrir para se proteger da cálida brisa marítima, o que faz com que, para que elas possam se beijar, necessitem retirar as proteções de seus rostos... Como se os véus representassem todos os obstáculos que as separavam.
- Heloïse passa a usar o vestido de tom verde: No início do filme Marianne comenta sobre a sua dificuldade em fazer com que Heloïse esboçasse um sorriso, motivo facilmente explicado devido a raiva e a infelicidade experimentada por Heloïse por não ter chances de escolha e não ter ainda conhecido o amor... Logo após, quando no peito de Heloïse já começa a arder as chamas do afeto ela já não consegue parar de rir, fazendo com que o telespectador saiba que ali existe uma felicidade grande demais para não transbordar através do sorriso, e é neste momento que Heloïse floresce, abandonando o vestido de tons frios (azul), pelo vestido de tons mais quentes e vivas (o verde). A mudança nos tons de vestido de Heloïse também se deve a proximidade com Marianne.
- A pintura que começa a pegar fogo através da vela que Marianne segura: Se Marianne tivesse observado a pintura de longe, aquele peito não teria sido tomado pela chama, mas a medida que a proximidade de Marianne acontece, a vela queima o peito da antiga retratação de Heloïse... Temos aqui uma sedução que envolve Marianne, visto que ao começar a observar as mãos, os braços, o fogo ainda se mantém distante, porém à medida que ela se aproxima do coração retratado naquela imagem as faíscas já não podem mais ser controladas... Teria Heloïse conhecido a chama que arde no seu peito, se Marianne tivesse se mantido afastada?
- Marianne borra o rosto de Heloïse que já tinha sido pintado: Seria aqui uma tentativa falha de Marianne de apagar os sentimentos que já estavam ardendo em seu peito tentando apagar Heloïse de seu coração?
- Heloïse pede pra que Marianne retrate a cena do processo de aborto de Sophie: Logo de início temos uma Heloïse que se sente incompreendida por Marianne, pela mesma (Marianne) ter a opção de escolha (entre casar-se ou não) e Heloïse não conhecer o privilégio das escolhas... Aqui temos um impasse entre as duas, que demonstra a distância entre elas, devido a algo que Marianne não conhece de perto: a ausência de escolhas... Aqui fica claro que Marianne acha que Heloïse desejava não se casar, mas o que ela desejava verdadeiramente era ter escolhas... O privilégio da escolha é algo que Heloïse deseja tanto, que ao ver Sophie experimentando desse luxo pede pra que o ato seja eternizado através da pintura...
- Quando presenciamos Heloïse segura a aquarela e experimenta um novo tom de cor: Aqui observamos uma Heloïse que transforma um tom frio em um tom quente com a ajuda de Marianne.
- No final Heloïse volta a usar o mesmo tom de vestido azul, tom esse também usado por sua mãe: Marianne e Heloïse compreendem que o que elas experimentaram fazia parte de uma semente que tinha tudo para que brotasse uma linda árvore, mas que não poderia crescer... Quando estão deitadas, começam a se tratar como se já tivessem distantes uma da outra, num conjunto de diálogos belos e melancólicos onde expõem do que lembrarão... Então Heloïse volta a usar o seu vestido em tom azul, voltando a ser uma pessoa que precisa reprimir seus sentimentos e abdicar da sua amada em nome dos costumes da época... Aqui temos uma Heloïse que conhece o amor, mas não pode vivê-lo... Coincidentemente sua mãe usa o mesmo tom frio de vestido, simbolizando também uma mulher triste, que também deve ter tido que abdicar de alguns sonhos em detrimento dos costumes que regiam sua época... A mãe de Heloïse era uma mulher só, vide o diálogo onde ela agradece a Marianne por fazê-la rir, e Marianne responde que não fez nada, e a mãe de Heloïse diz que ela (Marianne) estava presente...
- As flores que aparecem mortas no jarro que está sendo bordado por Sophie: Logo após a última discussão entre Marianne e Heloïse, Heloïse se retira ao ouvir que Marianne não está pedindo que ela resista a sua obrigação de casar. Ali tem-se a aceitação da situação em que estão inseridas, dentro da realidade, sem direito a nenhum sonho, tem-se a aceitação que o que as une, apesar de puro e belo é impossível e está fadado a morte, isso é simbolizado pelas flores que Sophie está bordando, flores essas que antes estavam aparentemente vivas, mas agora tinham morrido... Curiosamente no jarro existem galhos artificiais que ainda parecem frescos e vivos, apesar de serem destituídos de vida... Seriam eles uma referência ao infeliz casamento de Heloïse?
- o homem batendo o prego que fecha a caixa em que está o quadro de Heloïse: É um filme com elenco (de maior importância) feminino, com mulheres que provaram ser capazes de fazer todo o serviço que um homem faz e muito mais, qualquer uma delas poderia bater aquele prego e fechar a caixa, mas curiosamente um homem a fecha... Será uma referência a uma Heloïse que será presa por um homem?
-Na cena final Marianne e Heloïse estão usando o mesmo tom de vestido: Simbolizando que as duas ainda compartilham o mesmo tipo de sentimento, apesar de terem sido obrigadas a tomar caminhos distintos... E isso é comprovado mais uma vez através da pintura, onde Marianne dá vida ao exato momento da despedida de Orfeu e Eurídice, enquanto Heloïse é pintada segurando seu livro semiaberto na página 28.
Este é o tipo de filme que quando você acaba de ver quer indicá-lo a todas as pessoas, não por necessariamente elas precisarem vê-lo, mas por você querer que elas sintam tudo que você sentiu... Absurdamente lindo e poético do início ao fim.
"O sorriso dele era um daqueles raros, que você vê quatro ou cinco vezes na vida. Parecia entender e acreditar em você como você gostaria que entendessem e acreditassem..."
"Ouvi uma piada uma vez: Um homem vai ao médico, diz que está deprimido. Diz que a vida parece dura e cruel. Conta que se sente só num mundo ameaçador onde o que se anuncia é vago e incerto. O médico diz: "O tratamento é simples. O grande palhaço Pagliacci está na cidade, assista ao espetáculo. Isso deve animá-lo." O homem se desfaz em lágrimas. E diz: "Mas, doutor... Eu sou o Pagliacci." Boa piada. Todo mundo ri. Rufam os tambores. Desce o pano..."
Me lembrou muito os rizomas afetivos propostos em uma parte da filosofia, que descreve relações que se mantém, ou que continuam a crescer, independentemente das pessoas estarem juntas ou não... Somos tão condicionados a uma lógica compulsória de que pelo fato de duas pessoas se amarem, elas necessitam ficar juntas, que esquecemos que às vezes só o amor não basta... As vezes um pode querer um jardim no quintal e o outro desbravar o mundo inteiro, e acreditem, isso será suficiente para não levar uma vida juntos...
Estrelas do Céu e Pérolas do Mar pra esta preciosidade...
Leves toques de One Day, Simplesmente Acontece, Blue Jay e De Repente é Amor, não tinha como dar errado...
Sem dúvidas um dos melhores filmes que eu já vi, a sensação que fiquei foi que foi produzido inteiramente ao meu gosto... Pequenos detalhes de significados enormes,
os desencontros de um destino implacável, uma fotografia excelente, o jogo de cores... Toda a construção me agradou absurdamente... Um filme riquíssimo, que comunica através de toques, olhares... Todas as declarações feitas sem usar nenhuma palavra, o oceano que se agitava entre os dois e não podia mais ser contido... Realmente o cinema oriental tem o dom absurdo de nos tocar e regar nosso rosto com lágrimas hahah Apesar de ser um filme longo, te deixa no desejo "quero mais cinco minutinhos...", pois se desenvolve incrivelmente bem...
Aaaaah, e o detalhe das cores... A dança tão perfeita entre o lance das cores, a declaração do Jianqing e a trilha sonora...
Brilhante!!! Um achado na Netflix!!!
Ps: VEJAM O PÓS-CRÉDITO!!!
Duas árvores, apesar de distantes, continuam conectadas pelas raízes...
Nostalgia do tempo que a maldade nem nos alcançava... Assistir esse filme é voltar ao quentinho do sofá da infância, da sopinha da mãe, dos cuidados... Que delícia...
Quem passou por isso sabe o quanto é difícil olhar pra alguém que você tem a certeza que está indo e não poder deixá-la saber... E em cada abraço, em cada conversa, toda a atenção que dedicamos devido a um diagnóstico que nos faz pensar que poderia ser sempre o último abraço, a última conversa... deveríamos ser sempre assim, valorizarmos aqueles que estão ao nosso lado, ouvir, demonstrar amor, fazê-los se sentirem amados, quem sabe se tivéssemos um diagnóstico letal a nossa frente... somos tão descuidados. Me dói que funcionemos uma vida inteira em função da morte...
Minha Nai Nai não teve tanta sorte pra continuar ao meu lado mesmo após seis anos. E como me dói tê-la visto ir de forma tão dolorosa...
Me trouxe pra fase "Meu Amigo Totoro" de filmes... Que gostosinho, dá até pra sentir a brisa, os cheiros, os gostos... E que fascinante a docilidade usada pra apresentar uma cultura de uma forma tão sensível.
O Jogo da Imitação
4.3 3,0K Assista AgoraExigir que o filme decodifique a personalidade enigmática de Alan Turing é no mínimo ingênuo.
Muito se criticou a forma como as linhas temporais se apresentaram no filme, contudo achei incrível a forma como elas são trazidas, como se estivéssemos nós a viajar pelas sinapses neurais de um gênio.
Algumas histórias nos fazem questionar se são mesmo reais ou ficcionais, esta é uma delas.
Ao ligar a vida de Alan Turing e a sua missão temos um tema recorrente na sua trajetória: o segredo.
Uma empreitada que exigia daquele que passou a vida tendo o silêncio como seu potencial aliado, justamente isso: o silêncio. Depois de viver uma vida baseada na ocultação dos seus desejos, o que para muitos era desafiador, para Alan era exercido com maestria. Era essa discrição que permitia a Alan a sua liberdade e a propriedade sobre o seu próprio corpo.
A cena em que Christopher ajuda Turing a sair do piso de madeira é carregada de significados e muito bem inserida no contexto exposto. Ali, sob aquele piso, Turing era um ser não visto, não ouvido, não compreendido.
Através da mão estendida de um amigo, passaria a assumir uma posição de alguém que era visto, ouvido e compreendido.
É impressionante o que a compreensão e a companhia pode fazer até às figuras mais insociáveis.
A escolha dessa cena nos apresenta ao mundo em que viveria Turing
, solitário, incompreendido, com pouca ajuda.
Enquanto Alan e sua equipe tentam decodificar a criptografia de mensagens de difícil acesso, Joan surge como uma máquina capaz de traduzir uma relação que ali não se sustentava, entre Alan e o mundo que o cercava, intermediando o contato social entre ele e os seus parceiros. Joan e Alan estabelecem um vínculo forte pois ambos viviam à margem de uma sociedade julgadora
onde os mesmos não tinham vez, Alan por ser homossexual, Joan por ser mulher.
Alan experimentou a desumanidade voltada a alguém que por ser incompreendido, era comparado a uma máquina, porque quando excluía-se a subjetividade que o ligava a um humano, o mesmo passava a ser tratado como um objeto, algo livre de sentimentos, e assim sustentava-se a ideia de que todo aquele abuso não era voltado a uma pessoa.
Era conveniente que ele fosse desumanizado para que àquelas atitudes desprezíveis fossem justificadas.
O encontrar-se perdido em meio aos julgamentos externos, o não pertencimento, o acreditar estar mais próximo de uma máquina do que um humano, fez com que Alan tivesse a sua própria noção sobre si alterada, acreditando estar mais associado às máquinas, do que as pessoas que estavam ao seu redor,
ilustrado adequadamente pela cena em que Alan consegue vencer a Enigma, e enquanto seus colegas comemoram afetivamente, ele olha afetuosamente para a máquina, deixando os companheiros em segundo plano.
Como eu disse, o sigilo foi algo que sempre esteve escancarado na vida de Alan. Tanto que levou tempo para que um homem, que não levantou uma arma sequer e ainda foi responsável por vencer uma guerra, salvando a vida de milhões, fosse devidamente reconhecido.
Imaginar um mundo onde a opção sexual de uma pessoa pode invisibilizá-la a esse ponto... Saber que esse mundo não ficou lá atrás, que esse mundo é agora, é revoltante e doloroso. Me pergunto sobre quantos gênios não iremos conhecer devido a um preconceito estatal enraizado e reproduzido desenfreadamente.
Irônico perceber, depois de tudo, que alguém com tanta dificuldade em comunicar-se, se tornou um dos maiores colaboradores e intensificadores da mesma.
Um Amor Inesperado
2.3 12 Assista AgoraTinha tudo pra ser um bom filme .. que lugar lindo! Natalino, a vivência numa cabana, neve, luzes, lembranças saudosas, uma escritora... Enumerando assim é difícil até justificar como conseguiram fazer um filme tão ruim com tantos pontos positivos... isso me decepciona mais que qualquer outra coisa relacionada a filmes, porque era para ser um filmaço... Zero química! Estou indignada!
A nota foi simplesmente pela cabana, pelas montanhas, pelo natal... E pela cena belíssima em que ela lê em frente a lareira coberta por sua colcha de retalhos. ❤️
Os Amores Covardes
2.9 7"Às vezes penso, terá sido sempre assim? Terá sido sempre assim e não quis perceber? Não. Não. Há um momento em que tudo se transforma e já nunca é o mesmo."
Me pergunto quando, em que lapso temporal, relacionar-se amorosamente se tornou essa teia tão complicada? Me pergunto se, de fato, houve essa transformação... Se relacionar-se já foi algo simples...? Fácil...?
Como desconhecemos nossas emoções, nossos sentidos... como estabelecemos uma série de quesitos, que inocentemente acreditamos que precisam ser preenchidos para que possamos nos apaixonar.
E o choque ao ver que a criatura amada e querida por nós não atende aos quesitos e expectativas estabelecidas simplesmente porque os Afetos não nos pedem permissão.
Que véu é esse que nos cega e nos tira os sentidos? Que impede nossa percepção? Que não se forma pra quem nos observa, mas apenas para nós, os envolvidos? Quais os limites e em que pequeno momento tudo se torna algo novo? Será se é mesmo o afeto que se transforma ou são as nossas percepções, esse véu, que subitamente nos é tirado e enxergamos o que sempre esteve ali como num relâmpago de realidade e percepção...
E que coragem teríamos de assumir nosso sentimentos? De deixar que os rios que correm dentro de nós fluíssem sem construirmos barreiras...
Será o véu que nos cega ou a força com que esse relâmpago chega?
Me pergunto o quanto estamos preparados para nos reconhecermos sendo amados... Isso não deveria ser um motivo para que algo acabasse, nunca...
Um filme imensamente tocante, onde a carga emocional não precisa ser nomeada para que compreendamos exatamente do que se trata.
Amei a ligação do emocional de Eva com o seu apartamento vazio.
E o abraço final diz tanto sem nenhuma palavra... O silêncio que comunica mais que um imenso emaranhado de palavras. O silêncio que não precisa ser explicado, apenas sentido. O abraço que de tão simbólico, nos envolve também.
Torço por uma continuação.
Onde Vivem os Monstros
3.8 2,4K Assista AgoraO Dono do Mundo que tira seu título para tornar-se ele mesmo, pois reconhece que estar num pedestal é um fardo insuportavelmente pesado, ainda mais para uma criança. Um espetáculo metafórico que nos transporta para o entendimento do amadurecimento infantil.
Que nos mostra o quanto capazes seríamos se ninguém declarasse a impossibilidade dos acontecimentos.
Nos dizem para fecharmos janelas, portas e dutos subterrâneos, nos dizem para não deixarmos qualquer fenda que nos una com nossos "monstros", nos tiram nosso direito de nos reconhecermos como seres imperfeitos, e assim vamos seguindo mutilados, fracionados, incompletos...
A infância é o momento onde abraçamos todas as nossas emoções, abrimos nosso coração para todos os sentimentos que chegam, sem tirarmos a importância de nenhum, somos puramente verdadeiros, e ser puramente verdadeiro é incômodo.
A castração inicia-se cedo, e somos, enquanto crianças, taxados de chatos, inconvenientes, mimados, insuportáveis... Imagina uma criança receber um título assim de alguém que diz amá-la?
Os gritos excessivos são pedidos de atenção, são confissões sobre o não saber lidar, são pedidos de ajuda, e são feitos no tom mais alto possível pra tentarmos ser ouvidos.
Precisamos entender que não existe um estado de bem estar efetivo, precisamos entender que nossos monstros são capazes por fazer nossa alma dançar, são nossos monstros que faz com que avancemos, eles nos movimentam e eles também estão feridos. Nos aceitamos quando os aceitamos, nos curamos quando curamos a eles também.
Nós exageramos tanto na nossa autoimportancia enquanto adultos que esquecemos que as crianças podem estar experimentando crises intensas dentro delas também.
Quem se importa com as crianças acredita no amanhã.
A cena onde Max é engolido pela KW e pede para sair por não conseguir respirar é belíssima!! Nos remete aos vários nascimentos que experimentamos durante nossas vidas e não apenas o primeiro nascimento. Explora uma morte revestida através de um espaço que se torna inabitável. A destruição trazendo criação.
Lady Bird: A Hora de Voar
3.8 2,1K Assista AgoraA primeira vez que vi o filme não me senti cativada. Achei superestimado e maçante.
Depois, em um dia de total apatia, resolvi revê-lo e ele me cativou imensamente, e pra um filme nos cativar nesses momentos em que nada no mundo parece prender nossa atenção ele tem de ser muito bom.
Sempre é muito questionado como duas pessoas podem se amar, e não conseguir fazer dar certo, essa opinião sempre está vinculada a uma visão romântica das coisas...
Agora uma mãe e uma filha se amarem, e não conseguirem fazer dar certo é de uma dor que dói dentro da gente, porque a maioria de nós experimentamos, ou experimentaremos esta vivência mais cedo ou mais tarde.
A dificuldade em externalizar o quanto elas são amadas uma pela outra, a escolha sobre como sempre demonstrar isso de uma maneira que se julga correta e acaba acontecendo de forma errônea.
O "eu te amo" final da Lady Bird é tão pesado e tão libertador.
Como pode tantas mães e tantas filhas serem as criaturas mais amadas uma pela outra e não terem certeza disso?
A cena ao som de This Eve of Parting e quando Lady Bird pinta seu quarto é de uma simbologia sensível e gigantesca. ❤️
Estou Pensando em Acabar com Tudo
3.1 1,0K Assista AgoraAlguns pontos que percebi no filme:
- Logo no início, quando a protagonista principal está falando sobre a experiência de ficar longe de casa para conhecer a família do seu namorado, vão sendo apresentadas imagens que deveria corresponder a sua casa, mas com uma observação mais atenta vemos que aquela é a casa do Jake, seu namorado. Observamos também que ela está sendo observada através de uma janela por um senhor, senhor este, que logo começamos a suspeitar que é o próprio Jake, mas numa linha temporal diferente.
- O primeiro contato entre essa moça e o Jake é amistoso, a entonação na voz é empolgabte, ela usa cores acesas, vivas... Tons esses que vão sendo escurecidos no decorrer do filme.
- A situação vai nos mostrando que Jake e essa moça são mais próximos do que pensávamos, quando os pensamentos dela ganham força dentro de sua cabeça, através de um "Estou Pensando em Acabar Com Tudo.", o Jake pergunta se ela falou alguma coisa... O que é no mínimo curioso, pois ele demonstra um comportamento de quem ouviu os pensamentos dela, então, peraí, ele escuta pensamentos?
- Outro fato curioso é que sempre que essa moça, tida como principal (não vou nomeá-la porque nem sabemos que nome ela tem Lucy? Lucia? Louisa? Ames?), externaliza que está pensando em acabar com tudo ela é subitamente interrompida, isso se deve ao fato de ter um Jake evasivo, como ele mesmo explica através dela, mudanças demandam uma energia absurda...
- Logo depois temos um Jake mais velho lavando a louça de uma única pessoa, demonstrando que ele não tinha companhia e enevelhecera sozinho, depois ele sai na caminhonete, caminhonete esta exposta na frente da escola que ele diz ser o colégio de sua infância.
- Em inúmeras conversas e apresentações acaba sendo mostrada várias versões de como Jake e essa moça se conheceram, essa moça que não tem nome fixo, agora também é uma espécie de "faz-tudo", ela é poeta, física, pintora, gerontóloga, especialista em cinema... Menos zeladora. Aqui vemos uma idealização de tudo que o Jake poderia ter sido se houvesse seguido seus interesses, de todas as coisas que em determinados momentos na vida foram suas aspirações laborais. Esse ponto também é trazido em forma de lamento quando ele fala dos jovens que faziam números promissores e depois eram vistos trabalhando em lojas de suas cidades. Potenciais desperdiçados. Jake se enxergava neles, porque cada pessoa daquelas também era ele e seus ideais nunca tentados.
- O tempo inteiro o Jake declara ter as "correntes", dando a entender que está tudo sob controle pelo fato dele as possuir. Que correntes seriam essas? Correntes inquebrantáveis que o mantinha aprisionado a sua infância, já que Jake sempre estava se comportando como uma criança? Vemos ele sempre assistindo desenhos infantis e pedindo pra comprar algo doce após os desapontamentos. Inclusive essa observação também se confirma no balanço visto durante o trajeto e questionado pela sua parceira. O balanço representava como Jake se via, e a casa velha logo atrás representava o verdadeiro Jake.
- Logo após sua parceira, que é o próprio Jake, fala de como o caminho está sombrio, angustiante... Fazendo analogia a dificuldade que ele tem em lidar com o mundo exterior, em como se sente indefeso e ameaçado por ele. Estão, na maioria das vezes, sempre dentro de casa, ou do carro.
- Quando a sua parceira cita o poema, que realmente disserta a vida solitária de Jake, ele fala que o poema foi sobre ele, o medo de voltar pra casa, o não querer estar naquela realidade... Isso se confirma quando eles chegam a casa dos seus pais, que é a dele, visto que ele nunca saiu de casa, ele reluta em entrar...
- Seu medo absurdo de porão e sua insistência para que sua parceira não adentre nele nada mais é que sua defesa, pois se ela penetrasse no cômodo seria ele o penetrando, já que ela não existia como um ser real e apenas uma projeção de escape dele. O porão faz alusão ao seu inconsciente, a tudo que foi ali escondido para não ser identificado, nem trabalhado... Entrar no porão era retirá-lo da sua zona de conforto.
Um ponto importante é quando ela fala pra o assustar, diante do porão, "ele está escondido lá?", e toda a ambientação do filme muda, dando a entender que aquilo não era uma mera brincadeira.
- Quando ele fala dos porcos faz analogia a sua própria realidade, pesada, que paralisa, que o mantém estagnado, enquanto ele vai aos poucos sendo consumido por pensamentos autossabotadores e passivos.
"A vida pode ser cruel numa fazenda..."
- O fato de haver só um par de chinelos também é outra situação que chama a atenção, se ele realmente tivesse acompanhado não providenciaram um par de chinelos para sua acompanhante?
Também é curioso que sua parceira não come do bolo, ela o serve a Jake, diretamente na boca.
- Durante o jantar, quando o pai crítica as pinturas feitas por sua parceira (que é ele), Jake a defende enaltecendo a importância das pinturas de sua parceira, que na verdade, são dele. Temos isso confirmado quando ela penetra no porão e encontra todos os desenhos que estavam, até então, na galeria do seu celular. Seria aqui o início do desmanchar dessa personagem principal?
- LIGAÇÃO DE YVONE
Sua parceira está o tempo todo recebendo ligações de diferentes pessoas com a mesma mensagem, que basta responder a pergunta, pergunta esta que até então não é feita (em alguns momentos tive a sensação de que ele estava relembrando alguma indagação feita em uma possível sessão de terapia e até associei as mensagens que ela recebe a isso). Mas se sua parceira na verdade é ele todas aquelas mensagens são pra ele, e não pra ela. No início ela vê em seu celular uma chamada de uma Lucy, o primeiro nome que ela passa a assumir, diante de vários.
Logo depois, temos a imagem do Jake, mais velho, assistindo a uma cena na TV, onde a personagem se chama Yvone e é indagada sobre um tal sanduíche Santa Fé. Mais à frente temos Jake contando ao seu pai que conheceu sua parceira num café, enquanto perguntava sobre o sanduíche Santa Fé, conflitando totalmente com a informação dada durante o almoço.
O mais curioso é que logo após sua parceira recebe uma chamada de Yvone, justamente quando a personalidade da até então Lucy começa a entrar em conflito com Jake.
Seria mais uma fuga através de uma nova idealização mais confortável agora com Yvone?
- Finalmente, no momento da fotografia, onde sua parceira pergunta quem é, e ao mesmo tempo afirma ser ela, temos uma das entregas mais claras no filme de que sua parceira não existe, ao menos não naquela realidade, visto que ele realmente viu alguém com as características dela, talvez até chamada de Lucy, mas que não aconteceu nada pela falta de interesse dela e de iniciativa dele (mais uma vez).
- Em determinada cena temos sua mãe, que não tem nome, é apenas a mãe do Jake (seria isso um quadro narcisista?), relembrando o quinquagésimo aniversário dele, logo depois de ser questionada ela corrige dizendo vigésimo aniversário. Mais uma vez nos é exposta uma situação de uma pessoa que não aceita o envelhecimento, porque ele ainda mal nasceu. Logo após, durante uma conversa, ele diz admirar pessoas simplesmente por serem jovens, pois estes são luminosos, esperançosos e externaliza sua repulsa a velhice, dizendo que esta são cinzas da juventude.
- Uma cena mais dolorosa ainda é quando o pai de Jake, que também não tem nome, está dizendo sentir falta de sua mãe, e a parceira de Jake encosta vagarosamente sua cabeça no ombro do pai dele, enquanto outra câmera mostra Jake observando inerte a declaração. O que configura alguém que gostaria de ter mostrado mais afeto, porém não encontrava aberturas pra tal, o que também é confirmado na cena que sua parceira brinca dizendo que a mãe dele era doce E FRIA.
- Mais uma vez temos um Jake que possui dificuldade em aceitar a realidade quando este impede a sua parceira de externalizar que sua mãe estava morta, ele sustenta que ela está apenas dormindo...
- O atendimento no Tulsey Town:
Temos um Jake com um enorme complexo de inferioridade, tanto que sempre fala como se protestasse contra essa dificuldade social em se tornar um ser humano, porque essa sociedade é a que o diminui e o invisibiliza. Quando ele chega para pedir o sorvete ele teme ser atendido pelas meninas mais bonitas, como se fosse um mecanismo de defesa, e pede pra que sua parceira fique com ele, estranhamente ela (que é ele) é totalmente ignorada pelas meninas padronizadas e só é percebida pela outra funcionária, comecando-se um diálogo confuso... E após vemos que os dois, naquele momento, compartilham erupções na pele, como se fosse uma marca de vivências iguais. E acho que tudo que a atendente disse a parceira de Jake, na verdade foi o que o próprio Jake disse a moça que o atendeu.
Mostrando a dificuldade de comunicação que Jake possuía, a dificuldade em lidar com o mundo exterior... Inclusive, acho que o excesso de copos na entrada da escola seria das inúmeras tentativas de Jake em estabelecer alguma relação com a atendente, já que vimos inicialmente que ele não gosta tanto do sorvete.
- Durante o caminho para o colégio onde Jake trabalha, sua parceira diz que também morou na fazenda e que também estudou numa escola agrícola. Nem preciso mais ressaltar que são a mesma pessoa, né?
- Subitamente Jake se sente sendo observado juntamente com a sua parceira, através de um olho que aparece misteriosamente, que seria o seu próprio olho o observando de uma linha temporal diferente, neste instante, o filme passa a mostrar um Jake que já não quer mais fugir, então ele vai em busca daquilo que o chama e o observa... Dentro da escola observamos juntamente com o Jake mais velho, uma coreografia em casal, enquanto Jake permanece invisível.
Quando a sua parceira se apavora pela falta de retorno de Jake, ela vai a procura dele e é encontrada pelo Jake mais velho. Então a pergunta finalmente é feita: "como é o seu namorado?". Como a parceira de Jake é uma idealização, aquela pergunta esta sendo feita dele pra ele mesmo, e funciona como "como sou eu?", enquanto ele responde através de sua idealização que já nem lembra mais. Após eles se abraçam, demonstrando que naquele instante esse eu fragmentado do Jake começa a fazer as pazes com ele mesmo.
Na próxima cena, sua parceira encontra o Jake jovem, e mais uma dança é trazida às telas, é uma dança leve, uma dança de compreensão, os movimentos dos dançarinos parecem pertencer a uma só pessoa, acho que fazendo alusão ao Jake que está começando a aceitar sua condição atual, onde ele é idoso e apenas um zelador.
Mas, como sabemos, há sempre algo que nos distancia de situações repentinamente novas, ainda mais quando essas situações vão nos tirar da zona de conforto, não nos reconhecemos fora dessa zona e isso pode ser assustador.
Isso pode ser simbolizado pelo momento em que um dos dançarinos está levantando o véu da dançarina, como se naquele instante ele tivesse aberto a aceitar sua situação, e é Subitamente impedido de finalizar o ato. A dança assume uma exposição mais agressiva entre fuga e morte, finalizando com um dos dançarinos sendo apunhalado pelo outro. Na mudança de câmera vemos o Jake jovem e sua parceira enquanto observam o morto sendo coberto por neve. Imediatamente o Jake jovem se desfaz, juntamente com a sua parceira, enquanto o Jake mais velho passa retirando a neve que estava contornando o corpo sem vida no chão.
Este é o corte.
É nesta fração de segundo que Jake nasce, cresce e - após ser aplaudido por todos, porque tudo se tratava de uma questão dele com ele mesmo, visto que quem está em paz consigo mesmo, está em paz com o mundo - morre. E somente no ato de sua morre, Jake se sente realizado.
Com isso constatei que o Jake levou uma vida solitária, atormentado por seus traumas, que não deixaram que ele plantasse as sementes das mais belas árvores que sempre trazia dentro do seu coração.
A vida de Jake foi uma sucessão de passividade, uma passividade tão absurda que nem chegou a ser desistência.
A real situação de Jake e o que ele gostaria que tivesse sido são tão distantes que nos impede de percebermos que Lucy e Jake são a mesma pessoa. (aqui entra mais uma vez a questão de que as vezes o espaço entre o que gostaríamos que fosse, e o que nos tornamos é tão abismal que se comparamos, nem parecem essas duas coisas pertencerem ao mesmo eu).
"As pessoas pensam em si mesmas como pontos se movendo no tempo. Mas acho que deve ser o contrário, estamos parados e o tempo passa por nós, soprando como o vento frio, roubando nosso calor, nos ressecando e congelando."
Aqui temos um personagem que parou no tempo, enquanto ele fugia entre os dedos de suas mãos. A princípio, fiquei esperando ver uma Lucy tão velha quanto Jake, mas isso seria impossível, visto que Lucy não é real, ao menos não na perspectiva apresentada, ela não passa de uma idealização de como Jake gostaria que tivesse sido. É por isso que ela está sempre com a sua aparência jovem, como se Jake sempre observasse tudo que ocorreu após a sua juventude com esses mesmos olhos.
A dificuldade de Jake em se reconhecer como adulto fez com que inúmeras situações não vingassem, elas não poderia nascer, pois como situações adultas aconteceria a uma criança?
Estou Pensando em Acabar com Tudo
3.1 1,0K Assista AgoraUma pesquisa realizada por Bronnie Ware, uma enfermeira australiana, com seus pacientes terminais em seus leitos de morte revelou os maiores arrependimentos presentes entre eles e o mais mencionado foi: "Gostaria de ter sido fiel ao que desejava.".
No último momento, quando as pessoas experimentam a oportunidade de vislumbrar seus passados, elas se arrependem de não terem vivido a vida que queriam.
Acho que é disso que se trata o filme.
Confesso que foi um dos mais tristes e com mais universalidade no específico que assisti nos últimos dias.
Um filme enquadrado no gênero terror, que não tem os quesitos característicos de terror (ao menos não os atributos mais esperados e automaticamente idealizados quando pensamos em Terror), mas que assusta mais que qualquer um que possua todos esses tais quesitos, justamente porque nele o terror é real. É real e é comum.
O Jake retratado no filme pode vir a ser qualquer um de nós.
Este filme contém várias possibilidades de interpretação, não é a toa, pois é um filme sobre fragmentação, e não é de se surpreender que quando observamos os mais diversos modos de ver, todos eles cabem perfeitamente dentro do que nos foi exposto.
A desordem na linearidade temporal pode dificultar alguma interpretação, ou até mesmo confundir o telespectador, mas não seria a mente, se pudéssemos assisti-la (John Malkovich) um espetáculo de dança não coreografado, e por que não, caótico? Que não segue um caminho linear, que se perde entre fendas, e acaba voltando ao ponto de onde
se partiu?
Chamativa essa questão de que, em muitas vivências, sejam elas analisadas em ocasiões, ou nos seus conjuntos completos, o que realmente queríamos é tão distante do que nos tornamos que parece dar vida a outro ser, um ser que de tão distante parece não estar contido em nós.
O Peixe Grande & Begônia
4.0 211 Assista Agora"Eu serei o vento e a chuva no mundo humano..."
Tal qual o portal para o mundo humano, a água na minha face correu de forma torrencial.
Este é o tipo de filme que faz rios correrem dentro de você até que transbordem através dos seus olhos.
A narrativa é inteiramente poética, faz um uso encantadoramente assertivo das palavras e acredito que desperta as emoções que deseja.
Minha alma acendeu juntamente com a do Quiu.
Sou uma admiradora incondicional de toda sensibilidade contida nessas animações, de como tratam a natureza, dando a ela toda a imponência que lhe pertence.
Chun, contemple cada brisa que lhe tocar e não perca uma só gota de chuva que trouxer o céu até você.
"Você acredita em milagres? A vida é uma jornada. Quantos ciclos de vida temos esperado pela oportunidade de aproveitar está jornada? A vida é curta, e todos nós temos que ir um dia. Nós poderíamos ser um pouco mais ousados. Apaixonar-se. Escalar uma montanha. Perseguir um sonho. Sim, não faz mal ser um pouco mais ousado. Há muitas coisas que não entendo. Há muitas perguntas que não posso responder. Mas eu acredito que os Céus nos deu a vida para nós criarmos milagres."
Eu gosto de quem aceita que peixes podem voar sem quaisquer questionamentos. 💓
Heidi
4.2 85 Assista AgoraAcende uma lareira no coração, né? Tem filme que nos abraça... 💕
O Senhor dos Anéis: As Duas Torres
4.4 1,1K Assista AgoraDos filmes que eu gostaria de ter visto no Cinema...
Se houvesse uma pílula de esperança, algo pronto, consumível, de efeito rápido, todos a tomariam... Haveria filas e filas nas farmácias, diagnósticos e superdosagem...
Não há.
Mas temos a arte como uma maneira de nós conectarmos a tudo que é belo neste mundo...
Este filme renova as esperanças, te faz sentir forte, te faz sentir-se capaz de derrotar exércitos apenas com uma bandeira, sem uma arma sequer...
"- É como nas grandes histórias, Sr. Frodo. As que tinham mesmo importância. Eram repletas de escuridão e perigo. E, às vezes, você não queria saber o fim... por que como podiam ter um final feliz?
Como podia o mundo voltar a ser o que era... depois de tanto mal?
Mas, no fim, é só uma coisa passageira... essa sombra.
Até a escuridão tem de passar. Um novo dia virá.
E, quando o sol brilhar, brilhará mais forte.
Eram essas as histórias que ficavam na lembrança... que significavam algo.
Mesmo que você fosse pequeno demais para entender porquê.
Mas acho, Sr. Frodo, que eu entendo sim.
Agora eu sei.
As pessoas dessas histórias tinham várias oportunidades de voltar atrás, mas não voltavam.
Elas seguiam em frente...
Porque tinham no que se agarrar.
- E em que nós nos agarramos, Sam?
- No bem que existe neste mundo, Sr. Frodo... pelo qual vale a pena lutar."
Eu não posso focar apenas na barbárie para dar um ponto de vista sobre como o mundo está... Se eu focar só na maldade, eu acreditarei que só existe ela e determinar que só ela existe além de insensato é desonesto.
Retrato de uma Jovem em Chamas
4.4 899 Assista AgoraSciamma certamente não se viu dividida entre a escolha do amor e a escolha da poesia, ela uniu as duas...
Um elo de cumplicidade feminina... a forma como a sororidade é demonstrada através desta poesia virtual é de uma sensibilidade imensurável...
O respeito ao corpo feminino nas cenas de troca sexual, fazendo tudo de uma forma tão poética e magnífica, sem retirar a naturalidade do ato, é algo que só pode ser facilmente justificado por serem cenas filmadas através de um olhar da amálgama feminina.
Daquelas caixas sem fundo repletas de referências!
Pode-se assistir a este filme enésimas vezes, e a cada uma delas será como algo novo, pois captaremos algo que não foi percebido pelo nosso olhar anteriormente...
A forma como a câmera se põe e nos transporta para dentro do filme, como se estivéssemos observando todo o seu desenrolar em terceira pessoa, é de tamanha entrega que sentimos as sensações de estarmos sendo aquecidos pela lareira ou açoitados pelo vento feroz e a brisa marítima .. A própria forma que observamos a Heloïse, como se a câmera que a filmasse estivesse introduzida no próprio olhar de Marianne é estupendamente envolvente...
A forma como a luz é aproveitada e infalivelmente capta cada emoção pretendida...
As declarações que não chegaram a ter voz e nem por isso deixaram de ser captadas. O estalar do fogo queimando, os passos que se aproximam e/ou se distanciam, a quebra das ondas marítimas que deixam claro a ausência das palavras ditas em contraposição ao silêncio que diz mais que qualquer palavra saída pela boca...
A trilha sonora natural é algo que me conquistou absurdamente, porque além de nos fazer experimentar o filme como se estivéssemos dentro dele, a forma como cada som por trás foi minuciosamente escolhido e apropriado ao momento retratado é encantadora... O mar sempre em fúria, o vento avassalador, e um fogo voraz, sempre incontroláveis, tal qual as emoções compartilhadas entre as personagens.
Tudo neste filme está associado ao fogo, os sentimentos são retratados como tal...
Sempre que Marianne e Heloïse estão juntas o barulho do fogo é claro e voraz, queima intensamente, ou quando estão a sós, mas pensando uma na outra; mas quando há qualquer intervenção de terceiros outros sons parecem esconder o barulho do fogo queimando (seja passos, talheres, panelas...), fazendo referência a como as duas queimam quando estão a sós.
Nos momentos dolorosos elas geralmente correm para o mar, ou estão observando-o, como se aquela fúria marítima pudesse apagar chamas que começavam a arder... Numa tentativa de ruptura com um sentimento que não se queria sentir.
O mar também retrata o turbilhão de emoções que se revoltam dentro delas...
Há muita contraposição entre o fogo e o mar...
Basta observar a escolha da cor dos vestidos de Marianne (tons de fogo) e Heloïse (tons de água)...
A ligação entre o Mito de Orfeu e o filme é tristemente belo... Sentiria-se Marianne fadada a responsabilidade de salvar sua bela Heloïse do inferno?
Desde quando um vestido de casamento assemelha-se tanto a uma mortalha?
VIRE-SE!
Será que há alguma chama, tão vivaz e imortal, que resista a um inverno torrencial de lágrimas?
As lágrimas que não caem sempre alagam mais...
Um amor impossível queima pra sempre!!!
Página 28.
"Ser livre é estar sozinha?"
"Nem tudo é passageiro, alguns sentimentos são profundos."
"Se você me olha, para quem estou olhando?"
Referências que percebi:
- Marianne se secando nua, entre suas duas telas em branco, com o fogo ao fundo:
Tanto as telas em branco, quanto Marianne despida de qualquer adereço, sugerem um espaço vazio, como uma folha em branco que espera uma história ser escrita; o fato de tanto as telas, quanto Marianne, estarem frias, molhadas secando-se através do fogo, também me sugeriram uma personalidade disposta a experimentar uma tórrida história que aquecesse sua alma e seu coração...
- A cena em que Marianne veste o vestido verde:
Logo após, a própria Heloïse se propõe a vesti-lo para ser pintada de forma espontânea e entregue, esse compartilhar do mesmo vestido sugere duas personalidades que estão dispostas a compartilhar vivências...
- A primeira aparição de Heloïse:
Logo "conhecemos" uma Heloïse coberta pelo manto em tons frios, sua face não aparece de imediato e ela se posiciona sempre à frente de Marianne, demonstrando tamanha dificuldade pela qual Marianne irá ter de ultrapassar para pintar sua musa. (Arrisco dizer que já começamos a experimentar referências ao mito de Orfeu e Eurídice desde essa cena, através de uma Heloïse decidida a não olhar pra trás.)
- As cores dos vestidos (BRILHANTE!!!):
O uso repetido, dia após dia, do mesmo vestido também não é em vão... Marianne usa corriqueiramente um vestido em tons alaranjados, quentes, que lembram o fogo, enquanto Heloïse usa um vestido azul, em tons frios, demonstrando uma jovem fria, mas não pela ausência de sentimentos e sim pela impossibilidade de experimentá-los...
Seria Marianne a responsável por fazer Heloïse começar a queimar?
- O momento do primeiro beijo:
Ao saírem de casa, devido ao frio, elas precisam se cobrir para se proteger da cálida brisa marítima, o que faz com que, para que elas possam se beijar, necessitem retirar as proteções de seus rostos... Como se os véus representassem todos os obstáculos que as separavam.
- Heloïse passa a usar o vestido de tom verde:
No início do filme Marianne comenta sobre a sua dificuldade em fazer com que Heloïse esboçasse um sorriso, motivo facilmente explicado devido a raiva e a infelicidade experimentada por Heloïse por não ter chances de escolha e não ter ainda conhecido o amor... Logo após, quando no peito de Heloïse já começa a arder as chamas do afeto ela já não consegue parar de rir, fazendo com que o telespectador saiba que ali existe uma felicidade grande demais para não transbordar através do sorriso, e é neste momento que Heloïse floresce, abandonando o vestido de tons frios (azul), pelo vestido de tons mais quentes e vivas (o verde).
A mudança nos tons de vestido de Heloïse também se deve a proximidade com Marianne.
- A pintura que começa a pegar fogo através da vela que Marianne segura:
Se Marianne tivesse observado a pintura de longe, aquele peito não teria sido tomado pela chama, mas a medida que a proximidade de Marianne acontece, a vela queima o peito da antiga retratação de Heloïse... Temos aqui uma sedução que envolve Marianne, visto que ao começar a observar as mãos, os braços, o fogo ainda se mantém distante, porém à medida que ela se aproxima do coração retratado naquela imagem as faíscas já não podem mais ser controladas...
Teria Heloïse conhecido a chama que arde no seu peito, se Marianne tivesse se mantido afastada?
- Marianne borra o rosto de Heloïse que já tinha sido pintado:
Seria aqui uma tentativa falha de Marianne de apagar os sentimentos que já estavam ardendo em seu peito tentando apagar Heloïse de seu coração?
- Heloïse pede pra que Marianne retrate a cena do processo de aborto de Sophie:
Logo de início temos uma Heloïse que se sente incompreendida por Marianne, pela mesma (Marianne) ter a opção de escolha (entre casar-se ou não) e Heloïse não conhecer o privilégio das escolhas... Aqui temos um impasse entre as duas, que demonstra a distância entre elas, devido a algo que Marianne não conhece de perto: a ausência de escolhas...
Aqui fica claro que Marianne acha que Heloïse desejava não se casar, mas o que ela desejava verdadeiramente era ter escolhas...
O privilégio da escolha é algo que Heloïse deseja tanto, que ao ver Sophie experimentando desse luxo pede pra que o ato seja eternizado através da pintura...
- Quando presenciamos Heloïse segura a aquarela e experimenta um novo tom de cor:
Aqui observamos uma Heloïse que transforma um tom frio em um tom quente com a ajuda de Marianne.
- No final Heloïse volta a usar o mesmo tom de vestido azul, tom esse também usado por sua mãe:
Marianne e Heloïse compreendem que o que elas experimentaram fazia parte de uma semente que tinha tudo para que brotasse uma linda árvore, mas que não poderia crescer... Quando estão deitadas, começam a se tratar como se já tivessem distantes uma da outra, num conjunto de diálogos belos e melancólicos onde expõem do que lembrarão... Então Heloïse volta a usar o seu vestido em tom azul, voltando a ser uma pessoa que precisa reprimir seus sentimentos e abdicar da sua amada em nome dos costumes da época... Aqui temos uma Heloïse que conhece o amor, mas não pode vivê-lo...
Coincidentemente sua mãe usa o mesmo tom frio de vestido, simbolizando também uma mulher triste, que também deve ter tido que abdicar de alguns sonhos em detrimento dos costumes que regiam sua época... A mãe de Heloïse era uma mulher só, vide o diálogo onde ela agradece a Marianne por fazê-la rir, e Marianne responde que não fez nada, e a mãe de Heloïse diz que ela (Marianne) estava presente...
- As flores que aparecem mortas no jarro que está sendo bordado por Sophie:
Logo após a última discussão entre Marianne e Heloïse, Heloïse se retira ao ouvir que Marianne não está pedindo que ela resista a sua obrigação de casar. Ali tem-se a aceitação da situação em que estão inseridas, dentro da realidade, sem direito a nenhum sonho, tem-se a aceitação que o que as une, apesar de puro e belo é impossível e está fadado a morte, isso é simbolizado pelas flores que Sophie está bordando, flores essas que antes estavam aparentemente vivas, mas agora tinham morrido...
Curiosamente no jarro existem galhos artificiais que ainda parecem frescos e vivos, apesar de serem destituídos de vida... Seriam eles uma referência ao infeliz casamento de Heloïse?
- o homem batendo o prego que fecha a caixa em que está o quadro de Heloïse:
É um filme com elenco (de maior importância) feminino, com mulheres que provaram ser capazes de fazer todo o serviço que um homem faz e muito mais, qualquer uma delas poderia bater aquele prego e fechar a caixa, mas curiosamente um homem a fecha... Será uma referência a uma Heloïse que será presa por um homem?
-Na cena final Marianne e Heloïse estão usando o mesmo tom de vestido:
Simbolizando que as duas ainda compartilham o mesmo tipo de sentimento, apesar de terem sido obrigadas a tomar caminhos distintos... E isso é comprovado mais uma vez através da pintura, onde Marianne dá vida ao exato momento da despedida de Orfeu e Eurídice, enquanto Heloïse é pintada segurando seu livro semiaberto na página 28.
Peixe Grande e Suas Histórias Maravilhosas
4.2 2,2K Assista AgoraEste é o tipo de filme que quando você acaba de ver quer indicá-lo a todas as pessoas, não por necessariamente elas precisarem vê-lo, mas por você querer que elas sintam tudo que você sentiu...
Absurdamente lindo e poético do início ao fim.
O Grande Gatsby
3.9 2,7K Assista Agora"O sorriso dele era um daqueles raros, que você vê quatro ou cinco vezes na vida. Parecia entender e acreditar em você como você gostaria que entendessem e acreditassem..."
Mais um que necessito ler o livro.
Watchmen: O Filme
4.0 2,8K Assista Agora"Ouvi uma piada uma vez: Um homem vai ao médico, diz que está deprimido. Diz que a vida parece dura e cruel. Conta que se sente só num mundo ameaçador onde o que se anuncia é vago e incerto.
O médico diz: "O tratamento é simples. O grande palhaço Pagliacci está na cidade, assista ao espetáculo. Isso deve animá-lo."
O homem se desfaz em lágrimas. E diz: "Mas, doutor... Eu sou o Pagliacci."
Boa piada. Todo mundo ri. Rufam os tambores. Desce o pano..."
Que cena! Que cena!
Por Lugares Incríveis
3.2 627 Assista AgoraAcredito que o Finch merecia mais visibilidade...
E achei bastante incômodo todas as coisas serem resolvidas no tempo do Finch, os sumiços injustificados... 😖
Amor à Segunda Vista
3.8 83Tenho uma teoria que o mundo começou a desandar quando começaram a lançar menos filminhos assim... Que delicinha... 💓
Pérolas no Mar
4.2 142Ooow Filmow, quero mais estrelas pra dar!!!!
Me lembrou muito os rizomas afetivos propostos em uma parte da filosofia, que descreve relações que se mantém, ou que continuam a crescer, independentemente das pessoas estarem juntas ou não... Somos tão condicionados a uma lógica compulsória de que pelo fato de duas pessoas se amarem, elas necessitam ficar juntas, que esquecemos que às vezes só o amor não basta... As vezes um pode querer um jardim no quintal e o outro desbravar o mundo inteiro, e acreditem, isso será suficiente para não levar uma vida juntos...
Estrelas do Céu e Pérolas do Mar pra esta preciosidade...
Leves toques de One Day, Simplesmente Acontece, Blue Jay e De Repente é Amor, não tinha como dar errado...
Sem dúvidas um dos melhores filmes que eu já vi, a sensação que fiquei foi que foi produzido inteiramente ao meu gosto... Pequenos detalhes de significados enormes,
amigos que se descobrem apaixonados,
Um filme riquíssimo, que comunica através de toques, olhares... Todas as declarações feitas sem usar nenhuma palavra, o oceano que se agitava entre os dois e não podia mais ser contido...
Realmente o cinema oriental tem o dom absurdo de nos tocar e regar nosso rosto com lágrimas hahah
Apesar de ser um filme longo, te deixa no desejo "quero mais cinco minutinhos...", pois se desenvolve incrivelmente bem...
Aaaaah, e o detalhe das cores... A dança tão perfeita entre o lance das cores, a declaração do Jianqing e a trilha sonora...
Brilhante!!! Um achado na Netflix!!!
Ps: VEJAM O PÓS-CRÉDITO!!!
Duas árvores, apesar de distantes, continuam conectadas pelas raízes...
A História Sem Fim
3.8 973 Assista AgoraNostalgia do tempo que a maldade nem nos alcançava...
Assistir esse filme é voltar ao quentinho do sofá da infância, da sopinha da mãe, dos cuidados... Que delícia...
Hot Summer Nights
3.3 125 Assista AgoraEu quero ficar presa em um looping infinito com essa trilha sonora...
Que trilha sonora MA-RA-VI-LHO-SA!!!!
Timmy 🍭
A Crônica Francesa
3.5 287 Assista AgoraTimmy e Saoirse? Quero. Hahaha
A Despedida
4.0 298Quem passou por isso sabe o quanto é difícil olhar pra alguém que você tem a certeza que está indo e não poder deixá-la saber... E em cada abraço, em cada conversa, toda a atenção que dedicamos devido a um diagnóstico que nos faz pensar que poderia ser sempre o último abraço, a última conversa... deveríamos ser sempre assim, valorizarmos aqueles que estão ao nosso lado, ouvir, demonstrar amor, fazê-los se sentirem amados, quem sabe se tivéssemos um diagnóstico letal a nossa frente... somos tão descuidados. Me dói que funcionemos uma vida inteira em função da morte...
Minha Nai Nai não teve tanta sorte pra continuar ao meu lado mesmo após seis anos. E como me dói tê-la visto ir de forma tão dolorosa...
Lindo o filme...
De Porta em Porta
4.0 151Concebido na intenção de te fazer chorar...
Que atuação maravilhosa!!!!!
Pequena Floresta: Verão/Outono
4.4 37Me trouxe pra fase "Meu Amigo Totoro" de filmes... Que gostosinho, dá até pra sentir a brisa, os cheiros, os gostos...
E que fascinante a docilidade usada pra apresentar uma cultura de uma forma tão sensível.
E claro que queria viver num lugar assim...
O Senhor dos Anéis: A Sociedade do Anel
4.4 1,8K Assista AgoraMaratonando tudo naquela impressão: "nossa, esse é o melhor..." Depois de ter jurado que o anterior era o melhor. Brilhante. 💓