Filme belíssimo e necessário, abordando com sensibilidade a tão desprezada trajetória do povo cigano durante a 2ª Guerra Mundial. O título é uma bela provocação... Liberdade, um dos três princípios-chave da revolução francesa, até hoje na bandeira da França mas tão pisoteados durante toda a trajetória daquele País. No período abordado no filme em especial, com a grande influência dos ideais nazistas e presença do próprio exército alemão... cuja ideologia chegou a ser muito naturalmente assimilada por algumas comunidades naquele País. O filme aborda também este detalhe até hoje silenciado, já que muitas dessas comunidades distorceram sua história e se colocam como opositoras de primeira hora ao nazismo, ou apenas como "ocupadas" a força - desprezando a ampla aceitação e a rede de colaboração com o nazismo que estava infiltrada no seio da sociedade e das instituições. A musicalidade é um dos grandes atrativos do filme, que o tornam ainda mais cativante. O filme é feliz ao contrastar a alegria (e a liberdade) nômade com o silêncio deixado pela triste consequência da intolerância.
Um filme complexo, certamente não é a 'porta de entrada' ideal pro cinema de Godard (vale a pena começar pelos filmes mais fáceis - os contemporâneos a nouvelle vague). Je vous salue, Marie é uma reflexiva alegoria contemporânea da concepção da virgem. Não achei nada escandalosa aliás, é apenas uma visão alegórica e não cristã deste tema. E assistindo com esse pressuposto, e não com o da polêmica religiosa gratuita, é um filme muito interessante. Como todo filme do Godard pós nouvelle vague, deve ser evitado por quem espera uma linguagem narrativa convencional.
Varda explora toda sua dinâmica narrativa e sensibilidade para expor o tema dos "catadores" de restos - aqueles que recolhem tudo aquilo que é deixado pra trás, abandonado, seja por necessidade, por hobbie ou por arte. Sendo assim, explora a atividade dos "glaneurs" que recolhem restos de colheita de batata, os que recolhem os restos dos restos da batata, restos da feira do mercado da cidade, que vivem de lixo dos supermercados, artistas que reciclam lixo e transformam em arte, pessoas que colecionam objetos encontrados na rua por hobbie, entre outras... Procurando nas ruas, auto-estradas e fazendas por estes personagens e situações, a sensível cineasta acaba descobrindo-se também uma "catadora", recolhendo e valorizando situações corriqueiras e desprezadas. Como de praxe na filmografia da autora, um documentário de interesse global mas rodado com um nível de consciência muito pessoal. Varda é diretora e personagem, conduz com maestria e consegue prender o interesse ao longo de toda projeção. Não é um documentário sensacionalista sobre pessoas que vivem de lixo. É um olhar carinhoso sobre o humilde (mas nobre) ato de curvar-se para recolher e reaproveitar os 'restos'. Imperdível.
Assisti com expectativas baixíssimas, decorrentes de A Paixão de Jacobina - o produto cinematográfico mais esdrúxulo a contar parte da história da imigração alemã já lançado. De fato O Quatrilho cai em todos os pecados e clichês possíveis ao contar a saga de uma família italiana nas colônias gaúchas. Todos os estereótipos estão presentes, o que sinceramente não chega a incomodar considerando a escassa produção nacional de filmes a respeito deste tema. Incomoda mais a inadequação de alguns atores para o tema, visto que a mistura confusa entre o sotaque forçado, o sotaque discreto ou a ausência de sotaque resultou numa atmosfera invorossímel. A história é simples, leve e previsível, mas se segura bem. A reconstituição de época é um mérito do filme, ainda que com seus óbvios exageros. Acho que até hoje não se repetiu nada tão ousado sobre este tema, então continua uma referência.
O filme vale pelo visual deslumbrante e pela animação dos personagens em CG, que demonstram a evolução da técnica desde Lord of the Rings. Tanto o 3D como os 48fps ajudam a construir a ambientação da Terra Média, de forma que é possível sentir-se realmente no clima do filme. A história mantém o interesse, por mais previsível que seja. O clima épico que a obra de Tolkien pede foi bem adaptado. Só fica clara a morosidade desnecessária de algumas cenas como subterfúgio para aumentar a duração do filme e justificar uma trilogia.
A parte engraçada é que o filme tem músicas suficientes pra ser considerado um "musical", afinal os anões cantam a todo tempo, coisa que curiosamente muitos consideram cafona em outros filmes e aqui assistem babando.
Fantástico, na melhor acepção da palavra. Miyazaki soube exorcizar toda a péssima influencia dos ideais e do way-of-life norte-americano de sua obra, tornando-se um capítulo a parte dentro das animações orientais. Completamente despido de clichês, de arquétipos fáceis, de oposição simples entre o bem e o mal, Miyazaki nos convida a mergulhar com profundidade na cultura oriental. Além da narrativa e do roteiro excelentes, a qualidade da animação é simplesmente impecável. Impossível não comparar com a quantidade enorme de animações de baixo orçamento que o oriente descarrega pelo mundo - ao invés de mangás animados com meia dúzia de movimentos, aqui temos uma fluidez completa que complementa a expressividade típica da arte dos animes. O uso correto e comedido de efeitos 3D auxilia nos momentos de ação, sem sobressair desnecessariamente. Filme cuidadoso do começo ao fim, impecável. Ótimo filme para quem procura uma narrativa épica que fuja da batalha "bem x mal" convencional.
Honoré é o diretor que o cinema estava precisando para renovar os musicais. Temas contemporâneos, amores e desamores (tema que domina muito bem, aliás), e acima de tudo, desencanação completa quanto a sexualidade. "Je N'aime Que Toi" é provavelmente a cena de musical contemporâneo mais cativante que já tive o prazer de assistir. "Je suis le pont sur la rivière qui va de toi à toi" (eu sou a ponte sob o rio que vai de você a você). Fantástico.
Ainda assim, achei que algumas poucas músicas que não ficaram muito bem, principalmente no começo do filme. O final foi salvo
Um bom filme, porém o roteiro ficou ressentido com o clima popularesco de best-seller do livro do qual foi adaptado. Sem um aprofundamento maior no drama psicológico, na 'prisão' da gravidez, senti que ficou faltando alguma coisa.
Excelente ficção científica, com muitas cenas memoráveis. Não é um filme pra quem espera só explosões e naves intergaláticas - a ficção aqui funciona com uma narrativa diferente, aborda existencialismo, personalidade, responsabilidade, política e etc. de forma bastante madura.
Uma pena não ter o reconhecimento que merece, muitos elementos de filmes posteriores de maior sucesso foram praticamente 'chupados' daqui - e bastante piorados, que conste.
O destaque fica para a superprodução, de proporções incríveis para os padrões da época. O filme tem um ritmo rápido e lida com a ação de uma forma bastante desenvolta. Faltou um pouco de senso crítico no humor, que poderia acontecer mesmo com piadas ingênuas (e aqui cabe a inevitável comparação com Chaplin). Infelizmente The General lida da pior forma possível com o tema de guerra, com uma ingenuidade rasa que não me agradou.
Animação satisfatória, tecnicamente perfeita, mas que não traz nenhuma novidade. Tudo aqui já foi tratado, inclusive de formas superiores, em outras animações: o roteiro trata da busca de um personagem pelo seu 'eu', sua personalidade e papel no mundo. Apesar de não trazer nada de novo, é importante ressaltar que funciona e foi bem desenvolvido. As piadas estão ótimas, bem inseridas e no geral, caem fora do óbvio que seria escrachar a 'graça' de apresentar personagens célebres da mitologia doméstica infantil em versões diferentes. As referências a cultura pop atual são comedidas e não tiram o tom de fábula. O filme se esforça por emocionar e em algumas vezes até consegue, mesmo com o roteiro ingênuo. Assim como em 'Como treinar seu dragão", há uma influência clara da cultura de RPGs, sendo que todos os personagens são apresentados com um design que lembra muito personagens de jogos. Talvez uma forma de encontrar identificação fácil com o público infantil? Não sei, mas apenas tenho a lamentar o fato de que praticamente TODOS os filmes que tem como alvo o público infantil, desde Crepúsculo/Amanhecer até Alice no País das Maravilhas e passando por praticamente toda produção recente, incluem como solução narrativa uma cena de "guerra épica" do bem contra o mal. Desde "O Senhor dos Anéis" esse tipo de roteiro tem sido quase patológico, em alguns casos a beira do absurdo. Aqui, pelo menos, cai bem com certa naturalidade no roteiro. Um importante ponto a parabenizar é o fato da história ter um desfecho, e não um final com todos os personagens cantando juntos e fazendo gracinhas, o que em se tratando da Dreamworks é um grande avanço.
O destaque aqui são as inovações na edição. Godard ainda não tão seguro do que fazia, mas já demonstrando criatividade. Certamente um filme que perdeu muito do seu encanto com o tempo, mas essencial para a história do cinema.
Um trabalho criativo e cativante de Jean-Luc Godard. Inovações da Nouvelle Vague em pleno vigor. Sem contar que o sorriso da Anna Karina ilumina qualquer filme.
A estrutura narrativa não convencional, mas que ainda assim prende o interesse, o tom de prosa poética, as relações entre lugares e a memória, a fotografia belíssima, os detalhes arquitetônicos, entre tantas outras qualidades, fazem deste um filme único e imperdível.
Infelizmente estigmatizada no ocidente devido a sua versão enlatada e americanizada, a animação japonesa demonstra todo seu encanto e potencialidade em A Viagem de Chihiro. Pouco a se dizer além de que este excelente filme pulsa cultura oriental por todos os poros. Além disso é impossível não elogiar a qualidade técnica da animação. O uso de efeitos 3d é sutil e bem resolvido. Ressalta-se ainda a fluidez e expressividade dos personagens, principalmente quando lembramos que as animações japonesas no geral são de baixo orçamento e funcionam praticamente como mangás semi-animados. O trabalho de Hayao Miyazaki cria um novo patamar, sem paralelos.
Terry Gilliam é reconhecido pelo talento e criatividade no campo da fantasia, com muitas doses de surrealismo e absurdo. Neste filme Gilliam parece estar no seu auge, sem amarras. Tem uma fluidez incrível, uma leveza e um sabor de infância muito gostoso. Melhor ainda é não precisar 'desligar o cérebro' durante as viagens fantásticas - críticas políticas estão aqui presentes o tempo todo. Um dos filmes mais característicos do diretor. Imperdível.
Uma encantadora homenagem a história do Cinema, recheada de referências (algumas mais óbvias e outras não) e com a participação mais do que especial de grandes estrelas do cinema francês. Impossível não ficar com um sorriso no rosto quando se é apaixonado por cinema.
Tecnicamente a animação está ótima, e a direção de arte também. O design dos personagens é excelente, com destaque para o drácula bastante cartunesco, interessante de acompanhar seus movimentos e a fluidez das transformações em morcego.
O roteiro infelizmente deixa a desejar, e muitas (mas MUITAS) vezes descamba pra uma coisa besta como "uns monstrinhos aprontando as maiores confusões"... O que é no mínimo frustrante considerando o material que se tinha na mão, podendo fazer inúmeras referências legais a filmes de terror e recorrer a gags menos óbvias.
Ainda assim é importante frisar que o resultado foi acima da média, muito melhor do que se poderia esperar. Embora simples o roteiro ainda consegue interessar mais do que muitas animações que vem sendo lançadas, tendo certa felicidade também em retratar alguns temas contemporâneos. Mas seria muito melhor se não fossem as várias piadas clichê dispensáveis e o efeito Shreck que se faz presente no final (terminar uma animação com os personagens cantando músicas engraçadinhas virou praxe e é o cúmulo de não saber terminar uma história)!
Não se trata de um dos grandes filmes "ecrit et realise par Jacques Demy", mas sim de um filme onde o diretor foi contratado por um estúdio inglês para desempenhar este papel. Ainda assim, é visível que teve certa autonomia e participou também do roteiro.
Demy já havia demonstrado sua visão única sobre fantasia medieval e fábulas em seu musical Peau D'Âne, e tem aqui a oportunidade de filmar o famoso conto do flautista de Hamelin. E o faz com maestria, driblando com segurança um orçamento não tão generoso.
Existe no filme uma disposição a reflexão política e religiosa que não é muito comum em filmes do gênero. Ponto pro Demy,
que consegue até mesmo contrapor com cortes uma cena de morte terrível na fogueira com a cena em que o flautista vai embora com as crianças, plena de magia e encantamento.
.
Estranhei um pouco Donovan como o flautista, que por sinal nas horas vagas tocava folk no violão(?)... Essa musicalidade contemporânea prejudicou um pouco o clima do filme, ao meu ver. As demais atuações também estão no geral medianas, mas dão uma boa conta do recado. Não é um grande filme do diretor, mas tampouco um filme banal de "sessão da tarde".
Uma boa introdução ao cinema de Kiarostami, por se tratar de um filme mais dinâmico e direto que os reflexivos Através das Oliveiras e O Vento nos Levará. Aqui não há paisagens bucólicas do interior do Irã, mas uma história muito interessante de um homem simples se fazendo passar por um famoso diretor. Abbas brinca o tempo todo com a realidade e a ficção, com uma intensidade maior do que o de praxe.Enfim, é cinema fazendo pensar sobre cinema.
Último filme celebrando a parceria entre Jacques Demy e a atriz Catherine Deneuve, é de todos o menos conhecido e celebrado. O diretor já não tinha o prestígio conquistado no final dos anos 60 e o cinema francês no geral perdia o prestígio conquistado com o vigor da Nouvelle Vague.
Além da indefectível Deneuve, Mastroianni também comparece com uma excelente atuação. São personagens simples, gente "do povo", do comércio de rua, tema recorrente na obra de Demy. O cotidiano corre sem novidades até que o personagem de Mastroianni começa a sentir alguns enjôos. Enfim, o filme nos apresenta um homem grávido. A sinopse logo assusta, lembrando uma dezena de filmes norte-americanos que tentaram fazer humor com o tema. Depois de assistir tantas enrascadas hollywoodianas com este tema, é difícil acreditar que ele possa ser abordado de outra forma.
E o que poderia ser uma imensa piada de mal gosto, torna-se ouro nas mãos de Jacques Demy. Sinceramente duvido que outro diretor conseguiria lidar tão bem com este tema complicado, fazendo comédia sim, de forma sutil, e ainda levantando questões importantes da sexualidade masculina e feminina.
O roteiro mantém-se seguro o tempo todo, sem descambar para o besteirol generalizado em nenhum momento. Não há sequer um deslize neste sentido.
Demy ainda consegue problematizar sutilmente o machismo vigente na sociedade, não da forma convencional com analogias bestas e situações cômicas de troca de papéis, mas trazendo sutilmente na reação das pessoas e com muita naturalidade, alguns comentários cínicos falados sem o menor pudor . Destaco a conclusão de uma senhora quando descobre que pode se tornar normal a gravidez masculina,
"provavelmente poderão abortar quando quiserem". Tema que causa polêmica até hoje, aliás. Demy foi bastante direto neste ponto, principalmente para a época.
.
O final também é interessante e o conjunto do filme todo leva a pensar, ainda que o clima seja simples e leve.
Esteticamente não tem a unidade estilística dos outros filmes do diretor, mas ainda aqui vemos um colorido agradável e excelentes atuações. A parceria com o músico Michel Legrand, aqui reforçada, também não traz nenhuma composição inesquecível, o que é perdoável por não tratar-se de um musical.
Sempre é interessante ver um filme norte-americano "mainstream" tratando de personagens mais maduros, sabendo-se da obcessão por comum por personagens mais jovens que se identifiquem com o público consumidor.
Meryl Streep vem mais uma vez provar que não existe papéis ruins, dando um show de interpretação e conseguindo trazer uma dimensão humana a sua personagem. Ainda assim o filme não traz nenhuma novidade, nada que já não tenha sido explorado exaustivamente em centenas de comédias românticas. Aliás, este filme como comédia funciona muito mal, o timing cômico é sofrível e basicamente, todos os momentos engraçados estão no trailer. Graças a Meryl Streep não chega a ser uma enrascada. Os demais atores estão no piloto automático em personagens rasos, então colaboram pouco. Enfim, é um passatempo apenas, de bom gosto na medida do possível e ao nível do que se propõe.
O filme mais controverso de Agnès Varda, talvez o desenvolvido com maior orçamento e com grandes estrelas da época. Mostrou-se um avassalador fracasso comercial, que dificultou muito a continuidade da carreira de Varda. Provavelmente Les Créatures não agradou devido ao extremo experimentalismo. O que no início parece apenas uma trama objetiva e realista sobre um casal que sofre um acidente e mora num lugar onde as pessoas os repelem, acaba adquirindo tons fantásticos quando entra
a história do jogo. A ideia de "jogo" com a vida real, usando regras definidas, seria constantemente explorado no cinema das décadas seguintes em filmes de ficção e fantasia.
Não trata-se de uma obra coesa, realmente algumas vezes parece que o roteiro vai se perder, mas a originalidade e sensibilidade com que o filme é conduzido tornam a experiência de assistir compensadora.
Vale ainda pela imperdível atuação de Catherine Deneuve num papel um pouco diferente do usual, quase completamente muda.
Ao que parece recentemente o filme foi restaurado para a coleção de Agnès Varda lançada em DVD, o que não bastou para reabilitar a memória deste excelente filme, ainda tão renegado quanto à época do seu lançamento. Um pouco da relação de Varda com este filme pode ser visto no seu filme mais recente, As Praias de Agnès.
Lendo o livro depois de assistir o filme, percebi que trata-se de uma adaptação muito feliz e até consegue ser fiel na medida do possível.
Claro que muito da dimensão política do livro se perdeu no filme. Ao pé da letra seria praticamente impossível filmar com menos de umas 5 horas, e também uma adaptação muito literal perderia bastante a força. É impossível reproduzir a dimensão do livro.
Também acho desnecessário comparar filme e livro, são formas de arte diferentes, o importante é que o livro adaptado gerou um filme de qualidade. Alguns dos melhores filmes da história do cinema são adaptações nada fiéis aos livros, chegando a distorcê-los completamente até no sentido, como a filmografia de Stanley Kubrick.
Liberdade
4.2 17Filme belíssimo e necessário, abordando com sensibilidade a tão desprezada trajetória do povo cigano durante a 2ª Guerra Mundial.
O título é uma bela provocação... Liberdade, um dos três princípios-chave da revolução francesa, até hoje na bandeira da França mas tão pisoteados durante toda a trajetória daquele País. No período abordado no filme em especial, com a grande influência dos ideais nazistas e presença do próprio exército alemão... cuja ideologia chegou a ser muito naturalmente assimilada por algumas comunidades naquele País. O filme aborda também este detalhe até hoje silenciado, já que muitas dessas comunidades distorceram sua história e se colocam como opositoras de primeira hora ao nazismo, ou apenas como "ocupadas" a força - desprezando a ampla aceitação e a rede de colaboração com o nazismo que estava infiltrada no seio da sociedade e das instituições.
A musicalidade é um dos grandes atrativos do filme, que o tornam ainda mais cativante. O filme é feliz ao contrastar a alegria (e a liberdade) nômade com o silêncio deixado pela triste consequência da intolerância.
Eu Vos Saúdo, Maria
3.5 105Um filme complexo, certamente não é a 'porta de entrada' ideal pro cinema de Godard (vale a pena começar pelos filmes mais fáceis - os contemporâneos a nouvelle vague).
Je vous salue, Marie é uma reflexiva alegoria contemporânea da concepção da virgem. Não achei nada escandalosa aliás, é apenas uma visão alegórica e não cristã deste tema. E assistindo com esse pressuposto, e não com o da polêmica religiosa gratuita, é um filme muito interessante. Como todo filme do Godard pós nouvelle vague, deve ser evitado por quem espera uma linguagem narrativa convencional.
Os Catadores e Eu
4.4 52 Assista AgoraVarda explora toda sua dinâmica narrativa e sensibilidade para expor o tema dos "catadores" de restos - aqueles que recolhem tudo aquilo que é deixado pra trás, abandonado, seja por necessidade, por hobbie ou por arte.
Sendo assim, explora a atividade dos "glaneurs" que recolhem restos de colheita de batata, os que recolhem os restos dos restos da batata, restos da feira do mercado da cidade, que vivem de lixo dos supermercados, artistas que reciclam lixo e transformam em arte, pessoas que colecionam objetos encontrados na rua por hobbie, entre outras...
Procurando nas ruas, auto-estradas e fazendas por estes personagens e situações, a sensível cineasta acaba descobrindo-se também uma "catadora", recolhendo e valorizando situações corriqueiras e desprezadas.
Como de praxe na filmografia da autora, um documentário de interesse global mas rodado com um nível de consciência muito pessoal. Varda é diretora e personagem, conduz com maestria e consegue prender o interesse ao longo de toda projeção. Não é um documentário sensacionalista sobre pessoas que vivem de lixo. É um olhar carinhoso sobre o humilde (mas nobre) ato de curvar-se para recolher e reaproveitar os 'restos'. Imperdível.
O Quatrilho
3.2 132Assisti com expectativas baixíssimas, decorrentes de A Paixão de Jacobina - o produto cinematográfico mais esdrúxulo a contar parte da história da imigração alemã já lançado.
De fato O Quatrilho cai em todos os pecados e clichês possíveis ao contar a saga de uma família italiana nas colônias gaúchas. Todos os estereótipos estão presentes, o que sinceramente não chega a incomodar considerando a escassa produção nacional de filmes a respeito deste tema.
Incomoda mais a inadequação de alguns atores para o tema, visto que a mistura confusa entre o sotaque forçado, o sotaque discreto ou a ausência de sotaque resultou numa atmosfera invorossímel.
A história é simples, leve e previsível, mas se segura bem. A reconstituição de época é um mérito do filme, ainda que com seus óbvios exageros. Acho que até hoje não se repetiu nada tão ousado sobre este tema, então continua uma referência.
O Hobbit: Uma Jornada Inesperada
4.1 4,7K Assista AgoraO filme vale pelo visual deslumbrante e pela animação dos personagens em CG, que demonstram a evolução da técnica desde Lord of the Rings.
Tanto o 3D como os 48fps ajudam a construir a ambientação da Terra Média, de forma que é possível sentir-se realmente no clima do filme.
A história mantém o interesse, por mais previsível que seja. O clima épico que a obra de Tolkien pede foi bem adaptado. Só fica clara a morosidade desnecessária de algumas cenas como subterfúgio para aumentar a duração do filme e justificar uma trilogia.
A parte engraçada é que o filme tem músicas suficientes pra ser considerado um "musical", afinal os anões cantam a todo tempo, coisa que curiosamente muitos consideram cafona em outros filmes e aqui assistem babando.
Princesa Mononoke
4.4 944 Assista AgoraFantástico, na melhor acepção da palavra. Miyazaki soube exorcizar toda a péssima influencia dos ideais e do way-of-life norte-americano de sua obra, tornando-se um capítulo a parte dentro das animações orientais. Completamente despido de clichês, de arquétipos fáceis, de oposição simples entre o bem e o mal, Miyazaki nos convida a mergulhar com profundidade na cultura oriental.
Além da narrativa e do roteiro excelentes, a qualidade da animação é simplesmente impecável. Impossível não comparar com a quantidade enorme de animações de baixo orçamento que o oriente descarrega pelo mundo - ao invés de mangás animados com meia dúzia de movimentos, aqui temos uma fluidez completa que complementa a expressividade típica da arte dos animes. O uso correto e comedido de efeitos 3D auxilia nos momentos de ação, sem sobressair desnecessariamente.
Filme cuidadoso do começo ao fim, impecável. Ótimo filme para quem procura uma narrativa épica que fuja da batalha "bem x mal" convencional.
Canções de Amor
4.1 829 Assista AgoraHonoré é o diretor que o cinema estava precisando para renovar os musicais. Temas contemporâneos, amores e desamores (tema que domina muito bem, aliás), e acima de tudo, desencanação completa quanto a sexualidade.
"Je N'aime Que Toi" é provavelmente a cena de musical contemporâneo mais cativante que já tive o prazer de assistir. "Je suis le pont sur la rivière
qui va de toi à toi" (eu sou a ponte sob o rio que vai de você a você). Fantástico.
Ainda assim, achei que algumas poucas músicas que não ficaram muito bem, principalmente no começo do filme. O final foi salvo
pela frase "Aime moi moins mais aime moi longtemps"
O Bebê de Rosemary
3.9 1,9K Assista AgoraUm bom filme, porém o roteiro ficou ressentido com o clima popularesco de best-seller do livro do qual foi adaptado. Sem um aprofundamento maior no drama psicológico, na 'prisão' da gravidez, senti que ficou faltando alguma coisa.
Terra Tranquila
3.4 66Excelente ficção científica, com muitas cenas memoráveis.
Não é um filme pra quem espera só explosões e naves intergaláticas - a ficção aqui funciona com uma narrativa diferente, aborda existencialismo, personalidade, responsabilidade, política e etc. de forma bastante madura.
Uma pena não ter o reconhecimento que merece, muitos elementos de filmes posteriores de maior sucesso foram praticamente 'chupados' daqui - e bastante piorados, que conste.
A General
4.4 175 Assista AgoraO destaque fica para a superprodução, de proporções incríveis para os padrões da época. O filme tem um ritmo rápido e lida com a ação de uma forma bastante desenvolta. Faltou um pouco de senso crítico no humor, que poderia acontecer mesmo com piadas ingênuas (e aqui cabe a inevitável comparação com Chaplin). Infelizmente The General lida da pior forma possível com o tema de guerra, com uma ingenuidade rasa que não me agradou.
A Origem dos Guardiões
4.0 1,5K Assista AgoraAnimação satisfatória, tecnicamente perfeita, mas que não traz nenhuma novidade. Tudo aqui já foi tratado, inclusive de formas superiores, em outras animações: o roteiro trata da busca de um personagem pelo seu 'eu', sua personalidade e papel no mundo. Apesar de não trazer nada de novo, é importante ressaltar que funciona e foi bem desenvolvido.
As piadas estão ótimas, bem inseridas e no geral, caem fora do óbvio que seria escrachar a 'graça' de apresentar personagens célebres da mitologia doméstica infantil em versões diferentes. As referências a cultura pop atual são comedidas e não tiram o tom de fábula. O filme se esforça por emocionar e em algumas vezes até consegue, mesmo com o roteiro ingênuo.
Assim como em 'Como treinar seu dragão", há uma influência clara da cultura de RPGs, sendo que todos os personagens são apresentados com um design que lembra muito personagens de jogos. Talvez uma forma de encontrar identificação fácil com o público infantil? Não sei, mas apenas tenho a lamentar o fato de que praticamente TODOS os filmes que tem como alvo o público infantil, desde Crepúsculo/Amanhecer até Alice no País das Maravilhas e passando por praticamente toda produção recente, incluem como solução narrativa uma cena de "guerra épica" do bem contra o mal. Desde "O Senhor dos Anéis" esse tipo de roteiro tem sido quase patológico, em alguns casos a beira do absurdo. Aqui, pelo menos, cai bem com certa naturalidade no roteiro.
Um importante ponto a parabenizar é o fato da história ter um desfecho, e não um final com todos os personagens cantando juntos e fazendo gracinhas, o que em se tratando da Dreamworks é um grande avanço.
Acossado
4.1 510 Assista AgoraO destaque aqui são as inovações na edição. Godard ainda não tão seguro do que fazia, mas já demonstrando criatividade. Certamente um filme que perdeu muito do seu encanto com o tempo, mas essencial para a história do cinema.
Uma Mulher é Uma Mulher
4.1 267Um trabalho criativo e cativante de Jean-Luc Godard. Inovações da Nouvelle Vague em pleno vigor.
Sem contar que o sorriso da Anna Karina ilumina qualquer filme.
O Ano Passado em Marienbad
4.2 156 Assista AgoraA estrutura narrativa não convencional, mas que ainda assim prende o interesse, o tom de prosa poética, as relações entre lugares e a memória, a fotografia belíssima, os detalhes arquitetônicos, entre tantas outras qualidades, fazem deste um filme único e imperdível.
A Viagem de Chihiro
4.5 2,3K Assista AgoraInfelizmente estigmatizada no ocidente devido a sua versão enlatada e americanizada, a animação japonesa demonstra todo seu encanto e potencialidade em A Viagem de Chihiro.
Pouco a se dizer além de que este excelente filme pulsa cultura oriental por todos os poros.
Além disso é impossível não elogiar a qualidade técnica da animação. O uso de efeitos 3d é sutil e bem resolvido. Ressalta-se ainda a fluidez e expressividade dos personagens, principalmente quando lembramos que as animações japonesas no geral são de baixo orçamento e funcionam praticamente como mangás semi-animados. O trabalho de Hayao Miyazaki cria um novo patamar, sem paralelos.
As Aventuras do Barão Munchausen
3.9 111 Assista AgoraTerry Gilliam é reconhecido pelo talento e criatividade no campo da fantasia, com muitas doses de surrealismo e absurdo. Neste filme Gilliam parece estar no seu auge, sem amarras. Tem uma fluidez incrível, uma leveza e um sabor de infância muito gostoso. Melhor ainda é não precisar 'desligar o cérebro' durante as viagens fantásticas - críticas políticas estão aqui presentes o tempo todo. Um dos filmes mais característicos do diretor. Imperdível.
As Cento e Uma Noites
3.6 18Uma encantadora homenagem a história do Cinema, recheada de referências (algumas mais óbvias e outras não) e com a participação mais do que especial de grandes estrelas do cinema francês. Impossível não ficar com um sorriso no rosto quando se é apaixonado por cinema.
Hotel Transilvânia
3.6 1,5K Assista AgoraTecnicamente a animação está ótima, e a direção de arte também. O design dos personagens é excelente, com destaque para o drácula bastante cartunesco, interessante de acompanhar seus movimentos e a fluidez das transformações em morcego.
O roteiro infelizmente deixa a desejar, e muitas (mas MUITAS) vezes descamba pra uma coisa besta como "uns monstrinhos aprontando as maiores confusões"... O que é no mínimo frustrante considerando o material que se tinha na mão, podendo fazer inúmeras referências legais a filmes de terror e recorrer a gags menos óbvias.
Ainda assim é importante frisar que o resultado foi acima da média, muito melhor do que se poderia esperar. Embora simples o roteiro ainda consegue interessar mais do que muitas animações que vem sendo lançadas, tendo certa felicidade também em retratar alguns temas contemporâneos. Mas seria muito melhor se não fossem as várias piadas clichê dispensáveis e o efeito Shreck que se faz presente no final (terminar uma animação com os personagens cantando músicas engraçadinhas virou praxe e é o cúmulo de não saber terminar uma história)!
A Lenda da Flauta Mágica
3.4 10Não se trata de um dos grandes filmes "ecrit et realise par Jacques Demy", mas sim de um filme onde o diretor foi contratado por um estúdio inglês para desempenhar este papel.
Ainda assim, é visível que teve certa autonomia e participou também do roteiro.
Demy já havia demonstrado sua visão única sobre fantasia medieval e fábulas em seu musical Peau D'Âne, e tem aqui a oportunidade de filmar o famoso conto do flautista de Hamelin. E o faz com maestria, driblando com segurança um orçamento não tão generoso.
Existe no filme uma disposição a reflexão política e religiosa que não é muito comum em filmes do gênero. Ponto pro Demy,
que consegue até mesmo contrapor com cortes uma cena de morte terrível na fogueira com a cena em que o flautista vai embora com as crianças, plena de magia e encantamento.
Estranhei um pouco Donovan como o flautista, que por sinal nas horas vagas tocava folk no violão(?)... Essa musicalidade contemporânea prejudicou um pouco o clima do filme, ao meu ver. As demais atuações também estão no geral medianas, mas dão uma boa conta do recado. Não é um grande filme do diretor, mas tampouco um filme banal de "sessão da tarde".
Close Up
4.3 117Uma boa introdução ao cinema de Kiarostami, por se tratar de um filme mais dinâmico e direto que os reflexivos Através das Oliveiras e O Vento nos Levará. Aqui não há paisagens bucólicas do interior do Irã, mas uma história muito interessante de um homem simples se fazendo passar por um famoso diretor. Abbas brinca o tempo todo com a realidade e a ficção, com uma intensidade maior do que o de praxe.Enfim, é cinema fazendo pensar sobre cinema.
Um Homem em Estado... Interessante
3.6 1Último filme celebrando a parceria entre Jacques Demy e a atriz Catherine Deneuve, é de todos o menos conhecido e celebrado. O diretor já não tinha o prestígio conquistado no final dos anos 60 e o cinema francês no geral perdia o prestígio conquistado com o vigor da Nouvelle Vague.
Além da indefectível Deneuve, Mastroianni também comparece com uma excelente atuação. São personagens simples, gente "do povo", do comércio de rua, tema recorrente na obra de Demy. O cotidiano corre sem novidades até que o personagem de Mastroianni começa a sentir alguns enjôos.
Enfim, o filme nos apresenta um homem grávido. A sinopse logo assusta, lembrando uma dezena de filmes norte-americanos que tentaram fazer humor com o tema. Depois de assistir tantas enrascadas hollywoodianas com este tema, é difícil acreditar que ele possa ser abordado de outra forma.
E o que poderia ser uma imensa piada de mal gosto, torna-se ouro nas mãos de Jacques Demy. Sinceramente duvido que outro diretor conseguiria lidar tão bem com este tema complicado, fazendo comédia sim, de forma sutil, e ainda levantando questões importantes da sexualidade masculina e feminina.
O roteiro mantém-se seguro o tempo todo, sem descambar para o besteirol generalizado em nenhum momento. Não há sequer um deslize neste sentido.
Demy ainda consegue problematizar sutilmente o machismo vigente na sociedade, não da forma convencional com analogias bestas e situações cômicas de troca de papéis, mas trazendo sutilmente na reação das pessoas e com muita naturalidade, alguns comentários cínicos falados sem o menor pudor . Destaco a conclusão de uma senhora quando descobre que pode se tornar normal a gravidez masculina,
"provavelmente poderão abortar quando quiserem". Tema que causa polêmica até hoje, aliás. Demy foi bastante direto neste ponto, principalmente para a época.
O final também é interessante e o conjunto do filme todo leva a pensar, ainda que o clima seja simples e leve.
Esteticamente não tem a unidade estilística dos outros filmes do diretor, mas ainda aqui vemos um colorido agradável e excelentes atuações. A parceria com o músico Michel Legrand, aqui reforçada, também não traz nenhuma composição inesquecível, o que é perdoável por não tratar-se de um musical.
Um Divã Para Dois
3.5 754 Assista AgoraSempre é interessante ver um filme norte-americano "mainstream" tratando de personagens mais maduros, sabendo-se da obcessão por comum por personagens mais jovens que se identifiquem com o público consumidor.
Meryl Streep vem mais uma vez provar que não existe papéis ruins, dando um show de interpretação e conseguindo trazer uma dimensão humana a sua personagem. Ainda assim o filme não traz nenhuma novidade, nada que já não tenha sido explorado exaustivamente em centenas de comédias românticas. Aliás, este filme como comédia funciona muito mal, o timing cômico é sofrível e basicamente, todos os momentos engraçados estão no trailer.
Graças a Meryl Streep não chega a ser uma enrascada. Os demais atores estão no piloto automático em personagens rasos, então colaboram pouco. Enfim, é um passatempo apenas, de bom gosto na medida do possível e ao nível do que se propõe.
Les Créatures
3.6 6O filme mais controverso de Agnès Varda, talvez o desenvolvido com maior orçamento e com grandes estrelas da época. Mostrou-se um avassalador fracasso comercial, que dificultou muito a continuidade da carreira de Varda. Provavelmente Les Créatures não agradou devido ao extremo experimentalismo. O que no início parece apenas uma trama objetiva e realista sobre um casal que sofre um acidente e mora num lugar onde as pessoas os repelem, acaba adquirindo tons fantásticos quando entra
a história do jogo. A ideia de "jogo" com a vida real, usando regras definidas, seria constantemente explorado no cinema das décadas seguintes em filmes de ficção e fantasia.
Não trata-se de uma obra coesa, realmente algumas vezes parece que o roteiro vai se perder, mas a originalidade e sensibilidade com que o filme é conduzido tornam a experiência de assistir compensadora.
Vale ainda pela imperdível atuação de Catherine Deneuve num papel um pouco diferente do usual, quase completamente muda.
Ao que parece recentemente o filme foi restaurado para a coleção de Agnès Varda lançada em DVD, o que não bastou para reabilitar a memória deste excelente filme, ainda tão renegado quanto à época do seu lançamento. Um pouco da relação de Varda com este filme pode ser visto no seu filme mais recente, As Praias de Agnès.
Germinal
3.9 122Lendo o livro depois de assistir o filme, percebi que trata-se de uma adaptação muito feliz e até consegue ser fiel na medida do possível.
Claro que muito da dimensão política do livro se perdeu no filme. Ao pé da letra seria praticamente impossível filmar com menos de umas 5 horas, e também uma adaptação muito literal perderia bastante a força. É impossível reproduzir a dimensão do livro.
Também acho desnecessário comparar filme e livro, são formas de arte diferentes, o importante é que o livro adaptado gerou um filme de qualidade. Alguns dos melhores filmes da história do cinema são adaptações nada fiéis aos livros, chegando a distorcê-los completamente até no sentido, como a filmografia de Stanley Kubrick.