Houve tanto esforço na criação de uma estética visual explosiva e carnavalesca, que a história e os próprios personagens acabaram sendo bem simplórios.
Não há nenhum problema na parcialidade, pelo contrário, ela é importante, necessária e, do ponto de vista prático, inevitável. Mas desde que seja precedida por um estudo complexo e bem aprofundado, que perceba a ambiguidade dos fatos, dos acontecimentos.
A unilateralidade, por outro lado, desconsidera essa ambiguidade tão importante para uma opinião embasada. O estudo que a precede, portanto, é superficial, entrecortado, distorcido. Isso é “Democracia em Vertigem”.
Um “road movie”. Sobre duas estradas, dois caminhos, dois rumos distintos, que, por um breve momento, se unem e se tornam um só — junto ao cinema, às aspirinas e aos urubus.
Um dia estranho em Nova York. Chuvoso sim, mas com sol, e ao mesmo tempo. Isso, talvez, pra criar a atmosfera fantástica que permeia todo o filme. Os acontecimentos vão ficando cada vez mais maiores e mais absurdos, com aquele tom cômico típico do diretor. Lembra muito um subgênero famoso na Hollywood Clássica, chamado de “comédia screwball”.
De certa forma, acredito que a própria cidade passa a dominar o rumo do protagonista, que, aos poucos, vai se perdendo em meia à grande confusão. Afinal, ele mesmo é um jovem perdido na vida, fazendo um curso que não gosta, em uma cidade que também não gosta, junto a uma namorada que, pouco a pouco, perde sua paixão.
Sendo assim, penso que esse é um filme sobre se conhecer e se afirmar genuínamente ao mundo. Um jovem Woody Allen, que já carregava consigo a desilusão e ironia para com o mundo — “Achar um jeito brilhante de arruinar minha vida”.
Um filme cuja forma espelha o próprio conteúdo. O modo como a ficção e o documentário se misturam dentro da narrativa do filme muito se assemelha ao conflito interno do protagonista, que vive o utópico e o real dentro e fora de si.
Um filme sobre vários temas. A reinterpretação moderna de “Odisséia” é evidente, mesmo para pessoas que (como eu) nunca tenham lido o poema de Homero. Mas, para além disso, sinto que o filme trata desse destino trágico e inevitável dos dois personagens principais que se amam e se odeiam, mas, inevitavelmente, já não mais se pertencem.
“Showgirls” é um daqueles filmes que dividem diametralmente a opinião do público. Alguns tratam como uma obra-prima, outros como um filme detestável. Vejo ele como um meio-termo desse embate.
A influência do clássico “A Malvada” é evidente. E, nesse sentido, o filme é eficiente em retratar os bastidores da indústria de arte; agora não mais o teatro, como no filme original, mas a dança. As críticas são bem aprofundadas — a falsidade das pessoas que compõem o setor, os conflitos entre elas, os jogos de interesses. E, principalmente, a necessidade de se corromper para chegar ao topo (questionável, mas aceitável como ponto de vista).
O ponto fraco do longa, ao meu ver, encontra-se em um tema do filme que poucos ressaltam: o machismo. Acredito que o machismo é de fato um objeto de estudo da obra. Vejam como o primeiro personagem que a protagonista conhece é um homem que a oferece carona; só para depois roubá-la. Daí pra frente, exemplos não faltam. O dono do clube de stripe; o dançarino que Nomi conhece na boate, o diretor de arte do hotel, etc. Todos claramente machistas, cedo ou tarde subjugando as mulheres.
O problema está no fato de que o filme não se aprofunda na complexidade do tema. Em alguns momentos até se mostra paradoxal, adotando posturas que objetificam e sexualizam as mulheres mesmo em seus momentos mais íntimos, fora do palco. E, pifiamente, tenta solucionar o problema com uma porrada de Nomi no cantor, ao final do longa.
Justine pode ser entendida como uma personagem que, de todas as formas, não consegue se encaixar na lógica da sociedade. Em parte por conta de sua personalidade depressiva e bipolar, mas principalmente pelos defeitos do mundo que a envolve: os pais distantes e insensíveis, o chefe que exige trabalho na sua noite de casamento, a irmã e o cunhado que a obrigam a ser feliz.
Claire, por outro lado, já se mostra muita mais bem adaptado ao sistema social. Vive em uma boa casa, possui muito dinheiro, é casada e tem um filho.
É de se esperar, portanto, que o fim iminente provocado pela colisão do planeta “Melancolia” apresente resultados diferentes nas duas personagens. Justine mostra-se, no mínimo, resignada. Em alguns trechos, porém, esse final inevitável parece quase que seduzente a ela, como uma possibilidade de libertação da dor e sofrimento que a corroem. Claire, no entanto, verdadeiramente se desespera, entra em colapso. Isso porque, para ela, a Melancolia representa a destruição de tudo aquilo que ela obteve sucesso em conquistar.
Lars Von Trier, portanto, em “Melancolia”, estuda a depressão e o modo como ela altera a visão das pessoas perante os fatos do mundo.
De todo modo, alguns pontos da obra são pessimamente aprofundados. O diretor insiste em apontar os defeitos da sociedade, mas faz isso de forma facilitada, superficial. Se o objeto de estudo do filme é justamente a depressão, abordar tão escassamente as causas dela me parece um erro crucial.
Ao meu ver, o tema principal de “Os Cafajestes” é o egoísmo. Todos os personagens principais, muito embora tenham algum tipo de afeto uns pelos outros, sempre acabam priorizando suas vontades pessoais em detrimento do próximo.
Ruy Guerra utiliza de diversos simbolismos ao longo do filme. A cena em que Jandir e Vavá admiram a paisagem de Cabo Frio em cima de canhões, por exemplo, me passa a sensação de que são eles contra os outros — novamente, a questão do egoísmo.
O final da obra é muito interessante. Dentro do carro, Jandir liga o rádio, para então ouvir as notícias de diversos lugares do mundo. Logo em seguida, ele abandona o carro e anda sozinho pela estrada. O resto do mundo não lhe interessa. É ele por ele mesmo.
Arraste-me para o Inferno
2.8 2,8K Assista AgoraUm humor negro, sarcástico, permeando sutilmente toda a obra, lembrando os tempos de Sam Raimi em Uma Noite Alucinante.
O Grande Gatsby
3.9 2,7K Assista AgoraHouve tanto esforço na criação de uma estética visual explosiva e carnavalesca, que a história e os próprios personagens acabaram sendo bem simplórios.
O Padre e a Moça
3.9 51Sobre a impossibilidade de um amor.
Dançando no Escuro
4.4 2,3K Assista AgoraSobre o amor cego de uma mãe.
Amor à Queima-Roupa
3.9 362 Assista AgoraSobre uma aventura que deixaria até Elvis surpreendido.
Dois Papas
4.1 962 Assista AgoraSobre dúvidas que geram mudanças.
Como Se Fosse a Primeira Vez
3.7 2,4K Assista AgoraSobre o que permanece, independente.
Democracia em Vertigem
4.1 1,3KSobre a unilateralidade de um discurso.
Não há nenhum problema na parcialidade, pelo contrário, ela é importante, necessária e, do ponto de vista prático, inevitável. Mas desde que seja precedida por um estudo complexo e bem aprofundado, que perceba a ambiguidade dos fatos, dos acontecimentos.
A unilateralidade, por outro lado, desconsidera essa ambiguidade tão importante para uma opinião embasada. O estudo que a precede, portanto, é superficial, entrecortado, distorcido. Isso é “Democracia em Vertigem”.
Os Pássaros
3.9 1,1KSobre os elos que se estreitam em meio ao que ameaça.
Terra de Ninguém
3.9 193Sobre o sonho — da juventude, da ruptura, da liberdade, da revolução. Que se choca e se perde para a realidade.
John Wick: Um Novo Dia Para Matar
3.9 1,1K Assista AgoraSobre aquilo que foge à escolha.
A Ponta de um Crime
3.5 132 Assista AgoraSobre o objetivo que isola.
Click
3.4 2,5K Assista AgoraSobre a importância do caminho, não do resultado. Pois, no final, são só cereais.
O Farol
3.8 1,6K Assista AgoraSobre a sordidez da loucura.
The Rocky Horror Picture Show
4.1 1,3K Assista AgoraSobre uma revolução sexual.
Cinema, Aspirinas e Urubus
3.9 364 Assista AgoraUm “road movie”. Sobre duas estradas, dois caminhos, dois rumos distintos, que, por um breve momento, se unem e se tornam um só — junto ao cinema, às aspirinas e aos urubus.
Gênio Indomável
4.2 1,3K Assista AgoraSobre a subjetividade do sucesso.
Um Dia de Chuva em Nova York
3.2 294 Assista AgoraUm dia estranho em Nova York. Chuvoso sim, mas com sol, e ao mesmo tempo. Isso, talvez, pra criar a atmosfera fantástica que permeia todo o filme. Os acontecimentos vão ficando cada vez mais maiores e mais absurdos, com aquele tom cômico típico do diretor. Lembra muito um subgênero famoso na Hollywood Clássica, chamado de “comédia screwball”.
De certa forma, acredito que a própria cidade passa a dominar o rumo do protagonista, que, aos poucos, vai se perdendo em meia à grande confusão. Afinal, ele mesmo é um jovem perdido na vida, fazendo um curso que não gosta, em uma cidade que também não gosta, junto a uma namorada que, pouco a pouco, perde sua paixão.
Sendo assim, penso que esse é um filme sobre se conhecer e se afirmar genuínamente ao mundo. Um jovem Woody Allen, que já carregava consigo a desilusão e ironia para com o mundo — “Achar um jeito brilhante de arruinar minha vida”.
Close Up
4.3 117Um filme cuja forma espelha o próprio conteúdo. O modo como a ficção e o documentário se misturam dentro da narrativa do filme muito se assemelha ao conflito interno do protagonista, que vive o utópico e o real dentro e fora de si.
O Desprezo
4.0 266Um filme sobre vários temas. A reinterpretação moderna de “Odisséia” é evidente, mesmo para pessoas que (como eu) nunca tenham lido o poema de Homero. Mas, para além disso, sinto que o filme trata desse destino trágico e inevitável dos dois personagens principais que se amam e se odeiam, mas, inevitavelmente, já não mais se pertencem.
Showgirls
3.0 210 Assista Agora“Showgirls” é um daqueles filmes que dividem diametralmente a opinião do público. Alguns tratam como uma obra-prima, outros como um filme detestável. Vejo ele como um meio-termo desse embate.
A influência do clássico “A Malvada” é evidente. E, nesse sentido, o filme é eficiente em retratar os bastidores da indústria de arte; agora não mais o teatro, como no filme original, mas a dança. As críticas são bem aprofundadas — a falsidade das pessoas que compõem o setor, os conflitos entre elas, os jogos de interesses. E, principalmente, a necessidade de se corromper para chegar ao topo (questionável, mas aceitável como ponto de vista).
O ponto fraco do longa, ao meu ver, encontra-se em um tema do filme que poucos ressaltam: o machismo. Acredito que o machismo é de fato um objeto de estudo da obra. Vejam como o primeiro personagem que a protagonista conhece é um homem que a oferece carona; só para depois roubá-la. Daí pra frente, exemplos não faltam. O dono do clube de stripe; o dançarino que Nomi conhece na boate, o diretor de arte do hotel, etc. Todos claramente machistas, cedo ou tarde subjugando as mulheres.
O problema está no fato de que o filme não se aprofunda na complexidade do tema. Em alguns momentos até se mostra paradoxal, adotando posturas que objetificam e sexualizam as mulheres mesmo em seus momentos mais íntimos, fora do palco. E, pifiamente, tenta solucionar o problema com uma porrada de Nomi no cantor, ao final do longa.
Portanto, mediano.
Melancolia
3.8 3,1K Assista AgoraJustine pode ser entendida como uma personagem que, de todas as formas, não consegue se encaixar na lógica da sociedade. Em parte por conta de sua personalidade depressiva e bipolar, mas principalmente pelos defeitos do mundo que a envolve: os pais distantes e insensíveis, o chefe que exige trabalho na sua noite de casamento, a irmã e o cunhado que a obrigam a ser feliz.
Claire, por outro lado, já se mostra muita mais bem adaptado ao sistema social. Vive em uma boa casa, possui muito dinheiro, é casada e tem um filho.
É de se esperar, portanto, que o fim iminente provocado pela colisão do planeta “Melancolia” apresente resultados diferentes nas duas personagens. Justine mostra-se, no mínimo, resignada. Em alguns trechos, porém, esse final inevitável parece quase que seduzente a ela, como uma possibilidade de libertação da dor e sofrimento que a corroem. Claire, no entanto, verdadeiramente se desespera, entra em colapso. Isso porque, para ela, a Melancolia representa a destruição de tudo aquilo que ela obteve sucesso em conquistar.
Lars Von Trier, portanto, em “Melancolia”, estuda a depressão e o modo como ela altera a visão das pessoas perante os fatos do mundo.
De todo modo, alguns pontos da obra são pessimamente aprofundados. O diretor insiste em apontar os defeitos da sociedade, mas faz isso de forma facilitada, superficial. Se o objeto de estudo do filme é justamente a depressão, abordar tão escassamente as causas dela me parece um erro crucial.
À Beira do Abismo
3.8 106 Assista AgoraFora o roteiro confuso, nada.
Os Cafajestes
3.5 57Ao meu ver, o tema principal de “Os Cafajestes” é o egoísmo. Todos os personagens principais, muito embora tenham algum tipo de afeto uns pelos outros, sempre acabam priorizando suas vontades pessoais em detrimento do próximo.
Ruy Guerra utiliza de diversos simbolismos ao longo do filme. A cena em que Jandir e Vavá admiram a paisagem de Cabo Frio em cima de canhões, por exemplo, me passa a sensação de que são eles contra os outros — novamente, a questão do egoísmo.
O final da obra é muito interessante. Dentro do carro, Jandir liga o rádio, para então ouvir as notícias de diversos lugares do mundo. Logo em seguida, ele abandona o carro e anda sozinho pela estrada. O resto do mundo não lhe interessa. É ele por ele mesmo.