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Últimas opiniões enviadas

  • Pedro Caetano

    Certa vez ouvi dizer que The King of Comedy inaugurou, em 1982, aquilo que mais tarde chamariam de comédia de vergonha alheia. Encontrar o filme pioneiro é desafiador, especialmente diante de toda a filmografia de Peter Selles para verificar. No entanto, The Graduate precisa ser mencionado. A forma como a primeira parte do filme me deixou ansioso e envergonhado pelo personagem não é fácil de se alcançar no exercício clássico do cinema; talvez um mocumentary seja o caminho mais usual.

    O constrangimento criado em torno do jogo sensual entre uma mulher maliciosa e um jovem virgem é muito bem construído, a partir de ações que podem parecer exageradas para render humor, mas que na verdade são totalmente plausíveis na vida de um homem tímido na missão de conquistar uma mulher segura de si. Dustin Hoffman na primeira cena do hotel e Anne Bancroft na primeira cena da casa dos Robinson dão um espetáculo de atuação, exalando verdade através do jogo de cena.

    Confesso que o terceiro ato do filme me desanimou, talvez por ter abandonado a essência inicial para se converter em um romance daqueles que hoje em dia já estão saturados. Aliás, esse é o primeiro problema em assistir The Graduate 56 anos depois de sua estreia, perdendo assim um pouco do seu sabor de novidade, aquela que é a grande experiência proposta pelo filme. Ou melhor, talvez em Hollywood essa afronta fosse novidade, mas não no Brasil que já tinha visto, um ano antes, 'O Padre e a Moça' de Joaquim Pedro de Andrade.

    O segundo problema da fruição anacrônica é que The Graduate é considerado um marco na história do cinema por ser o primeiro filme a usar canções populares existentes em vez de uma trilha sonora original. Por isso, seus momentos de clipe, onde a música toca enquanto os sons se silenciam e vemos uma montagem de imagens, podem tornar-se exaustivos. Um leitmotiv pode ser repetido dezenas de vezes em um filme como Star Wars, por exemplo, mas mesclado nos arranjos orquestrais não se destaca de forma negativa como acontece com uma canção letrada. Acho que hoje eu terminei o filme um pouco exausto de Simon & Garfunkel, mas tendo em mente o contexto dessa escolha, a originalidade supera a minha saturação anacrônica.

    Enfim, foi delicioso gozar desse clássico pela primeira vez. Nota 5.

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  • Pedro Caetano

    Eu estava lá, na primeira fileira do bate-papo com o diretor no Lisboa Film Festival. No pequeno auditório, de fragância mofada típica de cinema de rua, encontravam-se pessoas de diversas nacionalidades, como suíços, alemães, ingleses, portugueses, e nós brasileiros. Mesmo com uma plateia supostamente heterogênea, uma única percepção prevaleceu nas perguntas dirigidas ao diretor: o ritmo lento dos seus filmes. No entanto, Ryûsuke Hamaguchi, vencedor do Oscar de Melhor Filme Estrangeiro em 2022 por "Drive My Car", foi enfático em sua resposta: "Eu não considero meus filmes lentos; sempre há algo acontecendo na tela." Isso, para mim, revela muito sobre a essência de seu cinema, distante do formalismo excêntrico e pedante que afeta muitos cineastas do chamado "slow cinema".

    Foi com essa compreensão que adentrei a sala de cinema para assistir ao seu novo filme, "Evil Does Not Exist". Para um pequeno grupo de críticos de mictório, o filme era apenas uma sequência de cenas aleatórias, sem uma narrativa coesa, o que para mim soou tão lamentável quanto discutir cinema enquanto mija. Inevitavelmente não é uma questão de opinião o fato de que nada está ali por acaso; os eventos se encaixam como peças de um tangram, como se dissessem: "Tudo precisa estar em equilíbrio". Quando algo ou alguém rompe esse equilíbrio, todo o sistema começa a se corroer.

    Certamente, eu poderia explorar a habilidade única de Ryûsuke em criar diálogos envolventes, mesmo desconsiderando a literatura como inspiração, ou sua paixão declarada pelo cinema de John Cassavetes e Éric Rohmer. No entanto, optei por uma abordagem minimalista nessa análise amadora ao afirmar que "Evil Does Not Exist" está entre os melhores filmes que vi este ano, harmonizando-se notadamente com "Memória" de Apichatpong. Para encerrar, compartilho uma citação exclusiva que registrei durante a palestra em Lisboa: "Documentaries should be shot as fiction, and fiction should be shot as documentaries" - Ryûsuke Hamaguchi.

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  • Pedro Caetano

    O buraco negro é a desistência? A morte? Não seria o escape da roda de samsara, a iluminação? A filha parece escolher a terceira verdade do budismo (Nirodha), que diz que o sofrimento pode ser superado e extinto alcançando-se o Nirvana, o estado de completa libertação do sofrimento e da ignorância. Ou seria o suicídio?

    A mãe não se mostra preparada para abandonar tudo, ela ainda não se desapegou da matéria a ponto de se desprender dos momentos narcísicos de suas vidas paralelas. Se a iluminação, tão falada nas filosofias indianas, fosse simples como entrar numa rosquinha-buraco-negro não precisaríamos respirar fundo e buscar estar presente a cada ação ordinária da vida pra tentar escapar do burn-out que é a falta de sentido.

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