Mariana

Apesar do filme cumprir uma função interessante de divulgar mundialmente o caso do genocídio armênio, ainda bastante desconhecido 111 anos depois, não me parece que ele de fato proponha uma discussão profunda do tema, seja sobre o acontecimento de fato, seja das ações que a ele se seguiram ao longo do século XX.
A construção dos personagens e das situações do início dos anos 1980 me lembrou bastante o filme "O que é isso, companheiro?", no qual o líder da luta armada é representado como um louco sádico e sanguinário que recruta jovens inocentes e sonhadores desavisados para a realização de ações indignas das quais o próprio líder não tem muita coragem de participar.
Além disso, temos também um guerrilheiro mais velho que se arrepende, o que reforça a ideia de que a luta armada é uma coisa de juventude inconsequente. Por fim, há também uma relação amorosa entre o guerrilheiro hesitante e uma guerrilheira convicta, que acaba por confundir as atitudes de ambos.
Outro ponto relevante é que, como todo filme, "Une histoire de fou" apresenta uma discussão bastante ligada a seu tempo de produção, o que talvez sublime o aprofundamento da discussão do seu tempo de representação. A discussão sobre terrorismo, legitimidade de ações armadas e denúncia contra situações de opressão é muito latente na França de hoje e me parece que o filme diz muito mais sobre essa discussão do que sobre o genocídio armênio e as lutas por reparação histórica dos armênios em si. O que não é um problema, apenas deve ser observado com atenção.
Mesmo assim, recomendo o filme, pois ele pode gerar uma discussão bastante interessante.

Filme incrível!
Capta e transmite muito bem nosso processo pós-ditatorial, trabalha bem a maneira como as coisas não são ditas, ficam apenas subentendidas. O silêncio que diz muito. O PB também tem tudo a ver com a metáfora central do filme, porque traz a ideia de uma ordem que se perpetua desde o passado até hoje, quase um aspecto documental. Ao lado da herança que os homens carregam no nome e na hérnia... Tem muito a ver com a ideia de "O som ao redor"; trabalhada de outra maneira, mas com a mesma ideia de fundo: de perpetuação de uma mesma ordem através de gerações.

Perturbador!