Dos melhores filmes brasileiros. A miséria; a ignorância; a tristeza; a fé; a necessidade de ser duro e mau para sobreviver... Contado em poucos mas suficientes diálogos, em precisa adaptação do texto do também excelente livro de Graciliano Ramos. O castigo do sol na forma de seca, que faz destas terras o inferno, e dos retirantes, condenados em luta incessante.
Da mídia sensacionalista, amoral... e do público ávido pelo consumo do "espetáculo". Em densa construção de personagem, Gyllenhaal compôs um sociopata totalmente sem tato para lidar com pessoas... que decorou instruções sobre elas como quem as lê de um manual de uso... de algum eletroeletrônico qualquer... Um tipo solitário e obcecado. Fazendo da violência um produto, e da tragédia um entretenimento, o abutre prospera.
Sereno drama familiar, aparentemente pequeno em aspiração, mas extremamente hábil em materializar a aura japonesa ao longo de seus 94 minutos que cobrem décadas de uma relação pai e filho. Interiormente situado entre os valores antigos, transcritos no Bushido (Caminho do Guerreiro) e a modernidade. Um filme que apresenta, resgata ou mantém... Um filme sobre o senso de dever; integridade moral; responsabilidade e identidade social; moderação e autocontrole emocional; dignidade e satisfação advindas do trabalho árduo; gratidão; e ao fim, sobre morrer-se decentemente... de modo que não se altere a harmonia de todas as coisas que estão conectadas e obedientes aos seus propósitos.
De primeira, o clima estranho; ao mesmo tempo que irreal, ainda crível; solitário e angustiante, me lembrou "O Duplo" do Dostoiévski, mas aos poucos me caiu a ficha de que é baseado sim em um livro, mas na obra homônima do Saramago... O tema é bastante visto e nas obras de diversos autores, de qualquer forma este filme tem seus pés fincados na literatura, e uma de qualidade. São tantos simbolismos e níveis de profundidade, quer sejam sobre relações, comprometimentos, e sobre as figuras femininas na vida do protagonista, e seus impactos psicológicos... Villeneuve em uma direção excelente, idem para a fotografia; ao argumento; às atuações. Favoritei.
Acabei de ler "Um Conto de Natal" de Charles Dickens e, me lembrei de que apesar de a história já ter sido recontada a exaustão, existe este filme com Jim Carrey, sempre anunciado na véspera de natal (no SBT?) e sempre ignorado por mim. Posso dizer que, até onde uma adaptação permite, é bastante fiel ao conteúdo do livro. Excelente complemento e tecnicamente bem feito. Agora sim estou no... espírito natalino.
Este musical de ação tem aquela qualquer coisa cult... Montagem, direção e trilha sonora são excelentes, essa última em muito contribuiu pra criar o ambiente descolado que me fez pensar nos anos 80, também sentido em elementos e estrutura de roteiro. Bom e divertido filme mas elogios à parte, a atuação do protagonista, o lugar comum e raso que o roteiro se forçou a seguir, e as soluções esperadas tiraram um pouco do brilho daquilo que parecia ser mais do que apenas "bom".
P.S.: Guardiões da Galáxia fazendo escola. P.P.S.: O título em português me faz pensar no Silvio Santos.
Modo bastante particular de filmar e recontar a Alemanha Nazista; o holocausto, nos pondo rentes a Saul, tão próximos dele que praticamente não vemos nada ao nosso redor, nos sentimos mais um prisioneiro, caminhando imediatamente atrás ao protagonista, somos cúmplices que sentamos ao seu lado e articulamos planos, somos testemunhas de seu enredo e percebemos os horrores através de suas expressões, ou melhor dizendo, inexpressões... Saul está destruído e morto por dentro, uma casca vazia perambulando pelo campo de concentração, sustentando-se somente em dar enterro ao seu filho*, última demonstração de humanidade, de fé e de esperança que lhe sobrou.
A primeira metade é tediosa, como imagino que deveria ser a vida num convento do século XVIII, apesar dessa coincidência, a impressão que tive foi de ter acontecido por falha da montagem, mas desprezando isso; os subaproveitamentos e as arestas mal cortadas... o filme acertou em pontos-chave dessa via-crúcis de Suzanne Simonin, e com eles faz crítica à hipocrisia social, partindo da familiar, e como não poderia deixar de ser; largamente da religiosa... é sensível o enclausuramento, a angústia, o abuso, a humilhação física e mental. É crítica ao modo como o catolicismo lida com a natureza humana e constrói para si metas de vida totalmente divorciadas dessa realidade, dando em severas repressões e no efeito oposto de reforçar desvios de comportamento e sexualidade, e nisso o filme ganha carga de psicologia. Ainda não li Diderot, mas em muito o filme me fez pensar no O Anticristo de Nietzsche, que com a sutileza do seu martelo escancara as debilidades morais que geralmente proliferam no meio.
Algo de novo para o qual alguns talvez não tenham se atentado; reparem na ciclicidade, geralmente acontecimentos bons ou bem intencionados resultaram em eventos ruins... acontecimentos ruins que por sua vez resultaram em eventos bons... Existe um encadeamento de causas e efeitos tão bem tecidos e trançados que são verdadeiras lições taoistas, é um filme sobre a vida e a sabedoria oriental, um ótimo filme.
Se o roteiro guardasse para a metade do longa a revelação de que Rose era de fato vilã e tinha um amante, ao invés de desperdiçá-la deixando claro logo nas primeiras cenas, teria criado um clima com melhor aproveitamento, ainda mais tenso em relação à sanidade e obsessão amorosa de George, marido da personagem de Marilyn Monroe.
Bastante crível, tanto de personas quanto de ambientes e situações, o filme não explica o motivo da guerra - no máximo usa de um bordão banal e generalista: "é a política" -, e nos coloca lá, com o protagonista idealista - e provavelmente o alter ego de Oliver Stone, que deve ter escrito Platoon para expurgar seus fantasmas de guerra -, e seus companheiros, a então escória estadunidense, pobres, pretos e drogados, para lutarem pela "liberdade" e interesses dos ricos. O filme tem cenas memoráveis mas não se propõe a quase nada muito grandioso e espetaculoso, se dedica a trabalhar o lado psicológico e emocional do conflito, valores, egos, e a derrocada rumo a total perturbação mental, também pega a contramão do patriotismo e escancara os preconceitos e atrocidades cometidas pelos ianques. “Penso agora, olhando para trás, que não lutamos contra o inimigo, lutamos contra nós mesmos. O inimigo estava em nós."
Desconfortável, mau, realista e ornado de humor negro. Ainda coloco "Glória Feita de Sangue" como a melhor incursão de Kubrick no gênero "guerra", é um trabalho mais consciente em técnica e crítica do que "Nascido Para Matar", filme esse que começa muito bem, com várias cenas icônicas, um emblemático personagem de R. Lee Ermey (Sargento Hartman) e uma atuação perturbadoramente boa de Vincent D'Onofrio (Pyle)... mas na parte seguinte - que apesar de ter um contraste intencional cujo significado eu humildemente confesso que me escapou -, ficou aquém do que esperava, com alguns cortes que pareciam ligar nada a coisa alguma, quebra notável de ritmo e desenvolvimento, soluções pouco inspiradas... mas foram falhas que no geral não amorteceram o impacto da obra, e fiquei ainda assim, aturdido ao final.
Sobre conciliar a fé religiosa do personagem real, Desmond Doss; a guarda do seu dia sagrado, o seu "amai aos vossos inimigos [...]", e principalmente, o seu "não matarás", com a crueza da guerra, e o patriotismo estadunidense que transforma os inimigos japoneses em demônios para preservar a identidade dos combatentes enquanto "heróis corajosos", "homens de bem", "tementes e cumpridores da vontade de Deus", são fatos e valores desmedidamente tão contraditórios, mas Mel Gibson soube como trabalhar esses conflitos de modo interior, entre família, compatriotas, e testar a convicção do próprio Doss contra as autoridades e o calor do intenso conflito, sem dar uma pretensiosa e simplista resposta definitiva e sem transformar essa visão pessoal no ideal ou no único caminho possível, ela é mais uma engrenagem do grande mecanismo bélico... e social também.
Cru, violento, agudo e provocativo; por tratar do tráfico internacional de drogas, por denunciar o pano de fundo político entre Turquia e E.U.A., bem como as condições das prisões em países do então chamado "terceiro mundo", em total desacordo com as normas de direitos humanos, definidos em 1945. Acompanhamos Hayes durante seus longos anos em ambientes insalubres, sob torturas, e tendo a sua sanidade levada ao limite, numa muito boa atuação de Brad Davis. Filme que deve ter tido mais impacto no ano de lançamento mas cujos temas continuam sendo relevantes, ainda por também tratarem da homossexualidade e da xenofobia.
Para encerrar, aquilo que mais me chamou a atenção: o modo como o tráfico de Hayes não faz qualquer peso interior, não há culpa no personagem, e nenhum reconhecimento real de gravidade sobre o que cometeu, rendendo assim um discurso em que ele vale-se da relativização afim de fazer caber-se do lado "correto" por convenção... já que se todos fazem... já que se o uso já está proliferado... já que existem drogas lícitas potencialmente mais prejudiciais... e uma série de outros argumentos pró-legalização que se possam encaixar no subtexto; reflexão essa à qual não darei resposta aqui, pois seria pretensioso da minha parte.
"Nada pessoal" é um filme mínimo e silencioso, que não explica a si mesmo completamente, e nem o quer... é sobre a vontade de fuga da dor causada pelo contato com o outro, fuga da perda a que estamos sujeitos em nossas relações, e fuga de quem se é, em oposição à vontade de humanizar-se pela proximidade, convívio, conhecer o outro e partilhar com ele uma intimidade...
Apesar de discutir a temática idol e a indústria do entretenimento japonês, com as pressões sociais em relação a essas estrelas; a exemplo fica o fato de ser exigido por parte delas uma conduta sempre ilibada, que eventualmente restringe namoros afim de sustentar a fantasia de seus mais fanáticos fãs. Existem coisas que são universais, sendo fácil traçar paralelos mais próximos à nossa cultura ocidental. Mima mergulha na insegurança de lançar-se numa nova carreira e desvencilhar-se de sua antiga imagem, os choques da nova profissão de atriz, o receio, e as ameaças de um fã a fazem cair - e nos levar junto - numa espiral desorientadora e perturbadora que funde realidade e ilusão, crime e ficção, sanidade e loucura... A arte de 1997 não é inspirada e envelheceu mal, mas tem um roteiro inteligente e é bem dirigida por Satoshi Kon, que adicionou vários elementos de cinema. Ótima animação.
ViihTube: Amiga do Inimigo
1.3 49Desastre
Pokémon: Mewtwo Contra-Ataca - Evolução
3.3 78 Assista AgoraDesnecessário
Frozen II
3.6 784Um filme sobre homeopatia
O Exterminador do Futuro: Destino Sombrio
3.1 724 Assista AgoraBoa ação com roteiro pesado na panfletagem ideológica.
Hellboy
2.6 422 Assista AgoraQue bagunça.
O Quebra-Nozes e os Quatro Reinos
3.0 229 Assista AgoraLindo e vazio.
Nada A Perder - Contra Tudo. Por Todos
2.1 206Filme propagandista das aventuras fabulosas de Edir Macedo, que esgota adjetivos como: tendencioso; prepotente e inconsistente.
Vidas Secas
3.9 276Dos melhores filmes brasileiros.
A miséria; a ignorância; a tristeza; a fé; a necessidade de ser duro e mau para sobreviver... Contado em poucos mas suficientes diálogos, em precisa adaptação do texto do também excelente livro de Graciliano Ramos.
O castigo do sol na forma de seca, que faz destas terras o inferno, e dos retirantes, condenados em luta incessante.
O Abutre
4.0 2,5K Assista AgoraDa mídia sensacionalista, amoral... e do público ávido pelo consumo do "espetáculo".
Em densa construção de personagem, Gyllenhaal compôs um sociopata totalmente sem tato para lidar com pessoas... que decorou instruções sobre elas como quem as lê de um manual de uso... de algum eletroeletrônico qualquer... Um tipo solitário e obcecado.
Fazendo da violência um produto, e da tragédia um entretenimento, o abutre prospera.
Era Uma Vez Um Pai
4.2 17 Assista AgoraSereno drama familiar, aparentemente pequeno em aspiração, mas extremamente hábil em materializar a aura japonesa ao longo de seus 94 minutos que cobrem décadas de uma relação pai e filho. Interiormente situado entre os valores antigos, transcritos no Bushido (Caminho do Guerreiro) e a modernidade.
Um filme que apresenta, resgata ou mantém... Um filme sobre o senso de dever; integridade moral; responsabilidade e identidade social; moderação e autocontrole emocional; dignidade e satisfação advindas do trabalho árduo; gratidão; e ao fim, sobre morrer-se decentemente... de modo que não se altere a harmonia de todas as coisas que estão conectadas e obedientes aos seus propósitos.
Um Homem de Sorte
4.1 31O "Cândido, ou O Otimismo" inglês.
O Homem Duplicado
3.7 1,8K Assista AgoraDe primeira, o clima estranho; ao mesmo tempo que irreal, ainda crível; solitário e angustiante, me lembrou "O Duplo" do Dostoiévski, mas aos poucos me caiu a ficha de que é baseado sim em um livro, mas na obra homônima do Saramago... O tema é bastante visto e nas obras de diversos autores, de qualquer forma este filme tem seus pés fincados na literatura, e uma de qualidade. São tantos simbolismos e níveis de profundidade, quer sejam sobre relações, comprometimentos, e sobre as figuras femininas na vida do protagonista, e seus impactos psicológicos... Villeneuve em uma direção excelente, idem para a fotografia; ao argumento; às atuações. Favoritei.
Os Fantasmas de Scrooge
3.6 577 Assista AgoraAcabei de ler "Um Conto de Natal" de Charles Dickens e, me lembrei de que apesar de a história já ter sido recontada a exaustão, existe este filme com Jim Carrey, sempre anunciado na véspera de natal (no SBT?) e sempre ignorado por mim. Posso dizer que, até onde uma adaptação permite, é bastante fiel ao conteúdo do livro. Excelente complemento e tecnicamente bem feito. Agora sim estou no... espírito natalino.
Em Ritmo de Fuga
4.0 1,9K Assista AgoraEste musical de ação tem aquela qualquer coisa cult... Montagem, direção e trilha sonora são excelentes, essa última em muito contribuiu pra criar o ambiente descolado que me fez pensar nos anos 80, também sentido em elementos e estrutura de roteiro. Bom e divertido filme mas elogios à parte, a atuação do protagonista, o lugar comum e raso que o roteiro se forçou a seguir, e as soluções esperadas tiraram um pouco do brilho daquilo que parecia ser mais do que apenas "bom".
P.S.: Guardiões da Galáxia fazendo escola.
P.P.S.: O título em português me faz pensar no Silvio Santos.
O Filho de Saul
3.7 254 Assista AgoraModo bastante particular de filmar e recontar a Alemanha Nazista; o holocausto, nos pondo rentes a Saul, tão próximos dele que praticamente não vemos nada ao nosso redor, nos sentimos mais um prisioneiro, caminhando imediatamente atrás ao protagonista, somos cúmplices que sentamos ao seu lado e articulamos planos, somos testemunhas de seu enredo e percebemos os horrores através de suas expressões, ou melhor dizendo, inexpressões... Saul está destruído e morto por dentro, uma casca vazia perambulando pelo campo de concentração, sustentando-se somente em dar enterro ao seu filho*, última demonstração de humanidade, de fé e de esperança que lhe sobrou.
A Religiosa
3.6 69 Assista AgoraA primeira metade é tediosa, como imagino que deveria ser a vida num convento do século XVIII, apesar dessa coincidência, a impressão que tive foi de ter acontecido por falha da montagem, mas desprezando isso; os subaproveitamentos e as arestas mal cortadas... o filme acertou em pontos-chave dessa via-crúcis de Suzanne Simonin, e com eles faz crítica à hipocrisia social, partindo da familiar, e como não poderia deixar de ser; largamente da religiosa... é sensível o enclausuramento, a angústia, o abuso, a humilhação física e mental. É crítica ao modo como o catolicismo lida com a natureza humana e constrói para si metas de vida totalmente divorciadas dessa realidade, dando em severas repressões e no efeito oposto de reforçar desvios de comportamento e sexualidade, e nisso o filme ganha carga de psicologia.
Ainda não li Diderot, mas em muito o filme me fez pensar no O Anticristo de Nietzsche, que com a sutileza do seu martelo escancara as debilidades morais que geralmente proliferam no meio.
Tempo de Viver
4.3 44Algo de novo para o qual alguns talvez não tenham se atentado; reparem na ciclicidade, geralmente acontecimentos bons ou bem intencionados resultaram em eventos ruins... acontecimentos ruins que por sua vez resultaram em eventos bons... Existe um encadeamento de causas e efeitos tão bem tecidos e trançados que são verdadeiras lições taoistas, é um filme sobre a vida e a sabedoria oriental, um ótimo filme.
Torrentes de Paixão
3.7 73 Assista AgoraSe o roteiro guardasse para a metade do longa a revelação de que Rose era de fato vilã e tinha um amante, ao invés de desperdiçá-la deixando claro logo nas primeiras cenas, teria criado um clima com melhor aproveitamento, ainda mais tenso em relação à sanidade e obsessão amorosa de George, marido da personagem de Marilyn Monroe.
Platoon
4.0 624 Assista AgoraBastante crível, tanto de personas quanto de ambientes e situações, o filme não explica o motivo da guerra - no máximo usa de um bordão banal e generalista: "é a política" -, e nos coloca lá, com o protagonista idealista - e provavelmente o alter ego de Oliver Stone, que deve ter escrito Platoon para expurgar seus fantasmas de guerra -, e seus companheiros, a então escória estadunidense, pobres, pretos e drogados, para lutarem pela "liberdade" e interesses dos ricos. O filme tem cenas memoráveis mas não se propõe a quase nada muito grandioso e espetaculoso, se dedica a trabalhar o lado psicológico e emocional do conflito, valores, egos, e a derrocada rumo a total perturbação mental, também pega a contramão do patriotismo e escancara os preconceitos e atrocidades cometidas pelos ianques.
“Penso agora, olhando para trás, que não lutamos contra o inimigo, lutamos contra nós mesmos. O inimigo estava em nós."
Nascido Para Matar
4.3 1,1K Assista AgoraDesconfortável, mau, realista e ornado de humor negro. Ainda coloco "Glória Feita de Sangue" como a melhor incursão de Kubrick no gênero "guerra", é um trabalho mais consciente em técnica e crítica do que "Nascido Para Matar", filme esse que começa muito bem, com várias cenas icônicas, um emblemático personagem de R. Lee Ermey (Sargento Hartman) e uma atuação perturbadoramente boa de Vincent D'Onofrio (Pyle)... mas na parte seguinte - que apesar de ter um contraste intencional cujo significado eu humildemente confesso que me escapou -, ficou aquém do que esperava, com alguns cortes que pareciam ligar nada a coisa alguma, quebra notável de ritmo e desenvolvimento, soluções pouco inspiradas... mas foram falhas que no geral não amorteceram o impacto da obra, e fiquei ainda assim, aturdido ao final.
Até o Último Homem
4.2 2,0K Assista AgoraSobre conciliar a fé religiosa do personagem real, Desmond Doss; a guarda do seu dia sagrado, o seu "amai aos vossos inimigos [...]", e principalmente, o seu "não matarás", com a crueza da guerra, e o patriotismo estadunidense que transforma os inimigos japoneses em demônios para preservar a identidade dos combatentes enquanto "heróis corajosos", "homens de bem", "tementes e cumpridores da vontade de Deus", são fatos e valores desmedidamente tão contraditórios, mas Mel Gibson soube como trabalhar esses conflitos de modo interior, entre família, compatriotas, e testar a convicção do próprio Doss contra as autoridades e o calor do intenso conflito, sem dar uma pretensiosa e simplista resposta definitiva e sem transformar essa visão pessoal no ideal ou no único caminho possível, ela é mais uma engrenagem do grande mecanismo bélico... e social também.
O Expresso da Meia-Noite
4.1 476 Assista AgoraCru, violento, agudo e provocativo; por tratar do tráfico internacional de drogas, por denunciar o pano de fundo político entre Turquia e E.U.A., bem como as condições das prisões em países do então chamado "terceiro mundo", em total desacordo com as normas de direitos humanos, definidos em 1945. Acompanhamos Hayes durante seus longos anos em ambientes insalubres, sob torturas, e tendo a sua sanidade levada ao limite, numa muito boa atuação de Brad Davis. Filme que deve ter tido mais impacto no ano de lançamento mas cujos temas continuam sendo relevantes, ainda por também tratarem da homossexualidade e da xenofobia.
Para encerrar, aquilo que mais me chamou a atenção: o modo como o tráfico de Hayes não faz qualquer peso interior, não há culpa no personagem, e nenhum reconhecimento real de gravidade sobre o que cometeu, rendendo assim um discurso em que ele vale-se da relativização afim de fazer caber-se do lado "correto" por convenção... já que se todos fazem... já que se o uso já está proliferado... já que existem drogas lícitas potencialmente mais prejudiciais... e uma série de outros argumentos pró-legalização que se possam encaixar no subtexto; reflexão essa à qual não darei resposta aqui, pois seria pretensioso da minha parte.
Nada Pessoal
4.0 157"Nada pessoal" é um filme mínimo e silencioso, que não explica a si mesmo completamente, e nem o quer... é sobre a vontade de fuga da dor causada pelo contato com o outro, fuga da perda a que estamos sujeitos em nossas relações, e fuga de quem se é, em oposição à vontade de humanizar-se pela proximidade, convívio, conhecer o outro e partilhar com ele uma intimidade...
ainda que nisso venha-se a experimentar a perda uma vez mais, é parte do que somos, é essa a contradição que nos faz homens.
Perfect Blue
4.3 815Apesar de discutir a temática idol e a indústria do entretenimento japonês, com as pressões sociais em relação a essas estrelas; a exemplo fica o fato de ser exigido por parte delas uma conduta sempre ilibada, que eventualmente restringe namoros afim de sustentar a fantasia de seus mais fanáticos fãs. Existem coisas que são universais, sendo fácil traçar paralelos mais próximos à nossa cultura ocidental. Mima mergulha na insegurança de lançar-se numa nova carreira e desvencilhar-se de sua antiga imagem, os choques da nova profissão de atriz, o receio, e as ameaças de um fã a fazem cair - e nos levar junto - numa espiral desorientadora e perturbadora que funde realidade e ilusão, crime e ficção, sanidade e loucura... A arte de 1997 não é inspirada e envelheceu mal, mas tem um roteiro inteligente e é bem dirigida por Satoshi Kon, que adicionou vários elementos de cinema. Ótima animação.