"Com o tempo, nossos nomes serão esquecidos. Ninguém se lembrará do nosso trabalho. Nossa vida passará como traços em uma nuvem,... e se dissipará nos raios do sol lutando com o nevoeiro. Porque nosso tempo é a passagem de uma sombra,... e a nossa vida correrá como faísca através dos erros."
Caralho, a abordagem metafórica e surrealista deste filme criticando a pornografia e o machismo é algo sensacional e que merece ser lembrado. Não é difícil de se compreender, porque o final traz à tona a explicação para todos os seus simbolismos.
O filme basicamente traz a mensagem de que na indústria pornográfica, os destinos das mulheres são controlados por homens como se fossem meros jogos de videogame, e o meio que Mitsuko encontra para se livrar do controle masculino é justamente a maneira que muitas mulheres encontram para se livrar da indústria pornográfica.
Além de ter uma ótima fotografia e uma abordagem bastante sensível a temas que vão desde dramas familiares e imigração ilegal à diferença de classes e tráfico de mulheres para exploração sexual, "The Paradise Suite" segue uma narrativa imparcial, retratando gradualmente a história de cada um dos protagonistas interconectados, que influenciam as vidas uns dos outros a partir do instante em que se cruzam.
O filme traz consigo a mensagem de que, apesar de todo o individualismo da era moderna, estamos coletivamente ligados uns aos outros de modo que os atos de alguém, por mais isolados que sejam, podem repercutir em mudanças irreversíveis nas vidas de outras pessoas.
Você vê o quanto a humanidade deu errado quando uma obra-prima como essa tem este tipo de nota no Filmow.
Vejo a maioria dos comentários criticando Saló como "horrível", "podre", "lixo", "indigesto" e "desumano", como se a intenção de Pasolini tivesse sido a de agradar a quem só gosta de filmes romantizados com finais felizes. Talvez ele fizera este filme justamente com a intenção de receber estas críticas de quem não aguenta um pouco de verdade jogada na cara, vai saber...
Este filme tem uma profundidade absurda em sentidos filosóficos. Tem uma fotografia rica com angulação ideal à sua dialética. Sua trilha sonora não poderia ser melhor... É altamente indutiva à introspecção. O ambiente deste filme inspira quietude, serenidade e solitude, com destaque à neblina, às montanhas, ao pequeno vale do outro lado do lago, aos reflexos solares n'água... É uma ode cinematográfica à vida que termina exatamente em seu limiar, sendo assim, cíclica.
Sua sensibilidade é de tocar a alma. Os dois monges representam antagonicamente um ao outro duas vias existenciais: a mundana e a espiritual. A disciplina por abstenção e a indisciplina por abnegação.
Dentre as muitas percepções que este filme nos passa, há algumas que absorvi e que quero destacar aqui:
Não faça aos outros aquilo que você não quer para si mesmo.
Imprudência gera remorso. Você pode se arrepender amargamente pelas consequências irreversíveis de um erro que poderia ter sido evitado.
A raiva embrutece o coração tornando-o duro; perde-se a serenidade que é fruto da plenitude do espírito, desviando-te completamente de teu propósito.
O éter da plenitude espiritual é o amor. Somente através disso é possível ter uma senectude tranquila.
Ademais, quero rever este filme, quando possível, tendo em vista que é tão meditativo ao ponto de ampliar sua visão sobre diversos aspectos inerentes à vida.
Dos filmes de terror que eu vi neste ano, este é talvez o melhor. Sua qualidade alegórica é incontestável, seja pelas referências ao cristianismo, seja pelos muitos simbolismos que o fazem magistral. Sua atmosfera apresenta um horror sólido, que em momento algum declina ou perde a intensidade, pois segue uma crescente que aos poucos imerge e estarrece qualquer um que se propõe a absorver suas nuances, sem deixar se perder por sua narrativa.
Até o momento, "O Lamento" é para mim a prova cabal de que coreanos conseguem elevar o horror ao requinte, a um patamar acessível apenas para aqueles que apreciam o terror em sua forma mais pura.
Um estuprador não tem identidade definida. Pode ser seu pai, seu irmão, primo, tio, colega de trabalho, amigo ou vizinho. "Elle" é atualmente a melhor ilustração que se pode ter disto.
Stéphane é a personificação do indivíduo que, apesar de adulto, com uma realidade e obrigações de um adulto, mantém em primeiro plano a criança que há dentro de si. Todos nós a temos, afinal. Ela não morre, porque é inerente ao nosso passado e este não deixa simplesmente de existir. A maioria das pessoas mantém sua criança interior ali, num canto escuro de seu subconsciente. Já alguns indivíduos (geralmente artistas, pessoas criativas e etc), por outro lado, a expõe; a consequência disto é que são bem excêntricas, imaginativas, inventivas (aqueles aparatos inventados por Stéphane não são por acaso) e, o que achei interessante neste filme é o modo como Stéphane aos poucos foi despertando a criança interior de Stephanie. Aos poucos toda aquela malícia típica dos adultos foi se perdendo, mas não totalmente.
Mas enfim... A direção de arte é inegavelmente boa, mas ainda assim não gostei deste filme. Achei mal executado e o roteiro, apesar de intencionalmente confuso, tem umas pontas soltas que poderiam muito bem ter sido evitadas.
Aaaaahhh, vai tomar no cu! Que filme caralhudo da porra! A fotografia dessa belezura é uma das mais belas que já vi, puta merda!
. Estou sem palavras para descrever esse caralho de filme, mano. É fascinante como uma obra cinematográfica pode espelhar toda uma gama de sintomas sociais de uma era. Mais fascinante ainda é que, 3 anos anos antes da queda do muro de Berlim e consequentemente início dessa era (pós-modernismo), Edward Yang fazia previsões extremamente precisas do que viria a acontecer através dessa obra-prima, com uma narrativa um tanto quanto profética.
. "Os Terroristas" retrata com uma riqueza absurda de detalhes a sociedade interconectada (pelos veículos de comunicação), altamente inflamável, de relações líquidas (lembrei-me do que já dizia Zigmunt Bauman sobre) e sempre à beira de um colapso, onde um único evento, por mais ínfimo que seja, pode desencadear um emaranhado de outros eventos irreversivelmente catastróficos. Isto faz do filme bastante atual, justamente por ser fácil correlacionar os eventos retratados n'Os Terroristas com diversos acontecimentos quotidianos.
. As cores são elementares à obra. Não dá para dissertar sobre este filme sem citar o uso exímio das cores. Para exemplificar melhor meu argumento sobre isto, parafraseio um trecho da resenha de um crítico de cinema chamado Francisco Cannalonga:
"O uso de cores fortes dão um ar surrealista, que aliado com a ausência de trilha musical (salvo em momentos chave), criam uma interessante antítese na direção que o filme procura levar o espectador. As cores procuram externalizar as emoções destes indivíduos: o azul, a infelicidade, e o vermelho, a inquietude emocional — essa última, sempre presente nos personagens (na casa do médico e na 'sala escura' do fotógrafo)."
A atmosfera deste filme dialoga com você. Não é preciso ter um olhar muito apurado para identificar a emoção que cada cor aplicada representa.
Outro detalhe digno de nota está na cena em que Li Lizhong se levanta do sofá pela manhã na casa de seu amigo policial, lançando um olhar vago para o nada e com uma lágrima escorrendo em sua face, pois esta cena por si só é emblemática por mostrar o homem moderno em sua mais intrínseca condição: desolado, sem perspectivas e esfacelado em todos os âmbitos de sua vida. Esta cena sintetiza ao mesmo tempo o estopim e o clímax da loucura humana, quando o homem, sentindo-se encurralado, mostra-se primitivo desvelando sua animalidade, sendo inteiramente conduzido por um impulso homicida que culmina em sua autodestruição.
. Isto mostra a atemporalidade de "Os Terroristas", que apesar de ter sido lançado há 30 anos atrás, é atual e ainda consegue, em diversos aspectos, estar à frente de muitos filmes dos dias de hoje.
Verhoeven faz uma sátira incisiva ao show business, ao mundo onde o sucesso e a reputação são mais importantes que a própria vida. Nela, você vê uma garota simples que aparentemente veio do nada, sem perspectiva, e à mercê do destino que aos poucos adentra no mundo do espetáculo, Las Vegas, onde pessoas podres cometem atrocidades e, por terem reputação, dinheiro e "poder", consequentemente têm imunidade penal; logo, toda a sujeira é jogada para debaixo dos tapetes.
Mas o interessante não é só a acidez crítica com a qual Verhoeven se volta para este mundo de fama e dinheiro repletos destas pessoas cobiçosas e ardis que o movem, não; é também a forma como ele faz Nomi sobreviver a isto. Para sobreviver ao topo é preciso ter sangue nos olhos... e isto Nomi tem de sobra.
Este filme faz uma abordagem interessante a temas como relacionamento abusivo, falta de perspectiva, melancolia e hedonismo como características inerentes ao homem moderno. E a fotografia é tão expressiva que ainda que este filme não tivesse diálogos, conseguiria transmitir a ideia.
O filme não é ruim. Embora o roteiro tenha lá suas falhas, não é de todo ruim; o mistério é bem aplicado e a ambientação bem trabalhada, o que agrega grande intensidade à atmosfera, que de tão carregada consegue cativar. Bem, pelo menos a mim, conseguiu.
Não tem como falar desse filme sem citar a Sharon Stone. Meua migo, que mulher! Que mulher! Ela tem um magnetismo tão soberbo que com um único olhar te faz gemer.
O suspense neste filme é tão intensamente construído que faz honra a um bom Hitchcock. O final é a prova cabal disto.
Filme ímpar! Essencial para quem aprecia o terror em sua essência.
Não irei me esquecer por tão cedo da singular sensação que este filme me causou, da sua fotografia magistral tão rica em ângulos, perspectivas, luz e sombra, das atuações arrebatadoras de Deborah Kerr e o casal de crianças.
A atmosfera deste filme é poderosa o bastante para te conduzir ao horror da estória, que, apesar de simples, é carregada com tanto mistério que fez eu me sentir como se estivesse sonhando à cada belíssima cena.
Tudo neste filme tem um aspecto fantasmagórico, desde as aparições espectrais às chamas das velas nos castiçais; a música antiga cantada/tocada tantas vezes ao longo da trama enfatiza bem isto.
A cena em que Miles recita o poema dispensa adjetivos. É tão funesta que parece ter sido adaptada de algum dos contos de Poe.
Apesar do desfecho que me pareceu um tanto precoce, The Innocents tem um tom fatídico do início ao fim que em nenhum momento decai; o filme simplesmente te conduz à angustiante busca por vestígios de um passado tétrico e macabro.
Finalizo meu comentário com este poema primoroso e inesquecível de Miles:
"—Quantas pessoas você matou? — Nenhuma pessoa, 309 fascistas."
Que mulher sensacional!
Bem, o filme é muito bom, a fotografia é linda, as atuações são boas e há uma dramaticidade bem tocante no enredo que me cativou do início ao fim. Mas vi que o enredo decaiu por se focar mais nos romances do que no contexto histórico de Pavlichenko em si, o que deu aspecto hollywoodiano demais para uma produção russa que visa retratar uma heroína soviética de guerra.
As cenas de combate são muito boas, e creio que o filme teria sido excelente se houvesse mais dessas cenas, justamente para ressaltar os méritos de Pavlichenko como franco-atiradora e a sua importância à história da URSS.
O que mais gostei de "Holy Motors" foi de sua metáfora bastante assertiva sobre o homem moderno e as diversas personas que ele adere ao longo da vida. Sua rotina consiste, antes de qualquer outra coisa, em adotar máscaras — por falar em máscara, se aquele ato final de Céline não for uma clara referência à clássica personagem de Edith Scob em "Les yeux sans visage", não sei o que mais pode ser —, em ser outras pessoas e viver suas vidas, mas nunca ser quem de fato é e viver sua própria vida.
Leos Carax faz uma obra subjetiva, abrindo bastante espaço para inúmeras interpretações e explorando as muitas facetas humanas, mas remetendo ao homem como sendo um ser primitivo (foi o que entendi dos macacos), que apesar de multifacetado, sempre mantém sua animalidade intacta.
Mas o filme não aborda apenas a pluralidade identitária e tampouco sob a óptica existencialista, não. Fala principalmente sobre a arte de atuar, sobre a doação que esses artistas fazem de si mesmos nas suas representações e no modo como a Arte interfere em suas vidas tanto como suas vidas interferem na Arte. Criam, a partir de um script, uma vida.
Além disto, sua narrativa é bastante certeira ao abordar temas como morte, solidão, amor, família, finitude, futuro e passado sob o vazio dos bastidores quando as luzes se apagam.
É levantada a reflexão pertinente sobre como vivemos nossas vidas, por sermos cada vez menos capazes de lidar com a realidade ao ponto de subsistirmos no irreal.
Mas imagine como seria se, em vez de representar personagens e atuar em situações fictícias, o ator (ou atriz) incorporasse pessoas e vivenciasse vidas diferentes, removendo todos os motes entre realidade e ficção... É esta a visão que Holy Motors nos dá, permitindo-nos ter inúmeras interpretações diferentes.
Gone With The Wind é uma obra muito à frente de seu tempo. E a maior evidência disto é a de que, mesmo quase um século depois, permanece inesquecível e bastante atual.
A proposta é boa, o que faz da estória interessante. Mas este filme é muito mal dirigido. Puta merda! O que são aquelas crianças maquiadas como se fossem roquistas BR metidos a sataneiros só por que ouvem Slipknot? Quando vi as crianças me segurei para não rir.
Além do mais, falta profundidade na "lenda" pagã abordada, que apesar de interessante é pobre em detalhes e, consequentemente, rasa.
No entanto, não é um filme de todo ruim, não. Tem seus méritos. Tem uma fotografia razoável, e a trilha, principalmente nas cenas em que são rodados no projetor aqueles filmes antigos, é bem executada.
Mas não é o tipo de filme que eu veria duas vezes. Não mesmo.
Há uma frase que carrego sempre comigo que diz: "Os casais deveriam se separar no auge da paixão, e não esperar até o inevitável declínio".
Creio que esta frase justifique bem o final deste filme, que por não se ater aos clichês oferece um enredo gostoso de se acompanhar (apesar das falhas), com boas atuações e peculiaridades que tornam o casal de protagonistas bem cativante.
É bem verdade que a Lou Clark é uma personagem caricata, mas penso que este é o seu charme. E o que achei encantador nessa personagem é que em algumas cenas ela simplesmente se transforma da garota caricata e desengonçada numa mulher exuberante de fazer cair o queixo.
Blue
4.4 35"Com o tempo, nossos nomes serão esquecidos.
Ninguém se lembrará do nosso trabalho.
Nossa vida passará como traços em uma nuvem,...
e se dissipará nos raios do sol lutando com o nevoeiro.
Porque nosso tempo é a passagem de uma sombra,...
e a nossa vida correrá como faísca através dos erros."
Ca-ra-lho!
The Chasing World
3.4 82"Porque o fetiche da mulher é ser livre".
Caralho, a abordagem metafórica e surrealista deste filme criticando a pornografia e o machismo é algo sensacional e que merece ser lembrado. Não é difícil de se compreender, porque o final traz à tona a explicação para todos os seus simbolismos.
O filme basicamente traz a mensagem de que na indústria pornográfica, os destinos das mulheres são controlados por homens como se fossem meros jogos de videogame, e o meio que Mitsuko encontra para se livrar do controle masculino é justamente a maneira que muitas mulheres encontram para se livrar da indústria pornográfica.
A Suíte Paraíso
3.9 22Filmaço.
Além de ter uma ótima fotografia e uma abordagem bastante sensível a temas que vão desde dramas familiares e imigração ilegal à diferença de classes e tráfico de mulheres para exploração sexual, "The Paradise Suite" segue uma narrativa imparcial, retratando gradualmente a história de cada um dos protagonistas interconectados, que influenciam as vidas uns dos outros a partir do instante em que se cruzam.
O filme traz consigo a mensagem de que, apesar de todo o individualismo da era moderna, estamos coletivamente ligados uns aos outros de modo que os atos de alguém, por mais isolados que sejam, podem repercutir em mudanças irreversíveis nas vidas de outras pessoas.
Três Canções Para Lênin
3.7 13Para quem estuda a história da URSS, isto daqui é uma relíquia.
Salò, ou os 120 Dias de Sodoma
3.2 1,0KFilme mais emblemático de Pasolini.
Você vê o quanto a humanidade deu errado quando uma obra-prima como essa tem este tipo de nota no Filmow.
Vejo a maioria dos comentários criticando Saló como "horrível", "podre", "lixo", "indigesto" e "desumano", como se a intenção de Pasolini tivesse sido a de agradar a quem só gosta de filmes romantizados com finais felizes. Talvez ele fizera este filme justamente com a intenção de receber estas críticas de quem não aguenta um pouco de verdade jogada na cara, vai saber...
Primavera, Verão, Outono, Inverno e... Primavera
4.3 377Este filme tem uma profundidade absurda em sentidos filosóficos. Tem uma fotografia rica com angulação ideal à sua dialética. Sua trilha sonora não poderia ser melhor... É altamente indutiva à introspecção. O ambiente deste filme inspira quietude, serenidade e solitude, com destaque à neblina, às montanhas, ao pequeno vale do outro lado do lago, aos reflexos solares n'água... É uma ode cinematográfica à vida que termina exatamente em seu limiar, sendo assim, cíclica.
Sua sensibilidade é de tocar a alma. Os dois monges representam antagonicamente um ao outro duas vias existenciais: a mundana e a espiritual. A disciplina por abstenção e a indisciplina por abnegação.
Dentre as muitas percepções que este filme nos passa, há algumas que absorvi e que quero destacar aqui:
Não faça aos outros aquilo que você não quer para si mesmo.
Imprudência gera remorso. Você pode se arrepender amargamente pelas consequências irreversíveis de um erro que poderia ter sido evitado.
A raiva embrutece o coração tornando-o duro; perde-se a serenidade que é fruto da plenitude do espírito, desviando-te completamente de teu propósito.
O éter da plenitude espiritual é o amor. Somente através disso é possível ter uma senectude tranquila.
Ademais, quero rever este filme, quando possível, tendo em vista que é tão meditativo ao ponto de ampliar sua visão sobre diversos aspectos inerentes à vida.
Caso 39
3.1 1,9K Assista AgoraNão é um filme ruim e a escolha da atriz para o papel de Lilith não poderia ser melhor, tanto que a personagem é boa...
Mas porra, o que são aqueles insetos que mais parecem ter saído de um desenho animado? Efeito meia-boca.
A Bruxa do Meio dia
2.2 16Se houvesse um gênero cinematográfico voltado exclusivamente para o sono, este filme seria uma obra-prima.
O Lamento
3.9 431 Assista AgoraDos filmes de terror que eu vi neste ano, este é talvez o melhor. Sua qualidade alegórica é incontestável, seja pelas referências ao cristianismo, seja pelos muitos simbolismos que o fazem magistral. Sua atmosfera apresenta um horror sólido, que em momento algum declina ou perde a intensidade, pois segue uma crescente que aos poucos imerge e estarrece qualquer um que se propõe a absorver suas nuances, sem deixar se perder por sua narrativa.
Até o momento, "O Lamento" é para mim a prova cabal de que coreanos conseguem elevar o horror ao requinte, a um patamar acessível apenas para aqueles que apreciam o terror em sua forma mais pura.
Geração Prozac
3.6 465"Não estou chorando porque você é malvada. Eu só não consigo imaginar como deve ser doloroso ser você."
Elle
3.8 886Um estuprador não tem identidade definida. Pode ser seu pai, seu irmão, primo, tio, colega de trabalho, amigo ou vizinho. "Elle" é atualmente a melhor ilustração que se pode ter disto.
Sonhando Acordado
4.0 319Stéphane é a personificação do indivíduo que, apesar de adulto, com uma realidade e obrigações de um adulto, mantém em primeiro plano a criança que há dentro de si. Todos nós a temos, afinal. Ela não morre, porque é inerente ao nosso passado e este não deixa simplesmente de existir. A maioria das pessoas mantém sua criança interior ali, num canto escuro de seu subconsciente. Já alguns indivíduos (geralmente artistas, pessoas criativas e etc), por outro lado, a expõe; a consequência disto é que são bem excêntricas, imaginativas, inventivas (aqueles aparatos inventados por Stéphane não são por acaso) e, o que achei interessante neste filme é o modo como Stéphane aos poucos foi despertando a criança interior de Stephanie. Aos poucos toda aquela malícia típica dos adultos foi se perdendo, mas não totalmente.
Mas enfim... A direção de arte é inegavelmente boa, mas ainda assim não gostei deste filme. Achei mal executado e o roteiro, apesar de intencionalmente confuso, tem umas pontas soltas que poderiam muito bem ter sido evitadas.
Os Terroristas
4.1 24Aaaaahhh, vai tomar no cu! Que filme caralhudo da porra! A fotografia dessa belezura é uma das mais belas que já vi, puta merda!
.
Estou sem palavras para descrever esse caralho de filme, mano. É fascinante como uma obra cinematográfica pode espelhar toda uma gama de sintomas sociais de uma era. Mais fascinante ainda é que, 3 anos anos antes da queda do muro de Berlim e consequentemente início dessa era (pós-modernismo), Edward Yang fazia previsões extremamente precisas do que viria a acontecer através dessa obra-prima, com uma narrativa um tanto quanto profética.
.
"Os Terroristas" retrata com uma riqueza absurda de detalhes a sociedade interconectada (pelos veículos de comunicação), altamente inflamável, de relações líquidas (lembrei-me do que já dizia Zigmunt Bauman sobre) e sempre à beira de um colapso, onde um único evento, por mais ínfimo que seja, pode desencadear um emaranhado de outros eventos irreversivelmente catastróficos. Isto faz do filme bastante atual, justamente por ser fácil correlacionar os eventos retratados n'Os Terroristas com diversos acontecimentos quotidianos.
.
As cores são elementares à obra. Não dá para dissertar sobre este filme sem citar o uso exímio das cores. Para exemplificar melhor meu argumento sobre isto, parafraseio um trecho da resenha de um crítico de cinema chamado Francisco Cannalonga:
"O uso de cores fortes dão um ar surrealista, que aliado com a ausência de trilha musical (salvo em momentos chave), criam uma interessante antítese na direção que o filme procura levar o espectador. As cores procuram externalizar as emoções destes indivíduos: o azul, a infelicidade, e o vermelho, a inquietude emocional — essa última, sempre presente nos personagens (na casa do médico e na 'sala escura' do fotógrafo)."
A atmosfera deste filme dialoga com você. Não é preciso ter um olhar muito apurado para identificar a emoção que cada cor aplicada representa.
.
Outro detalhe digno de nota está na cena em que Li Lizhong se levanta do sofá pela manhã na casa de seu amigo policial, lançando um olhar vago para o nada e com uma lágrima escorrendo em sua face, pois esta cena por si só é emblemática por mostrar o homem moderno em sua mais intrínseca condição: desolado, sem perspectivas e esfacelado em todos os âmbitos de sua vida. Esta cena sintetiza ao mesmo tempo o estopim e o clímax da loucura humana, quando o homem, sentindo-se encurralado, mostra-se primitivo desvelando sua animalidade, sendo inteiramente conduzido por um impulso homicida que culmina em sua autodestruição.
.
Isto mostra a atemporalidade de "Os Terroristas", que apesar de ter sido lançado há 30 anos atrás, é atual e ainda consegue, em diversos aspectos, estar à frente de muitos filmes dos dias de hoje.
Showgirls
3.0 210 Assista AgoraVerhoeven faz uma sátira incisiva ao show business, ao mundo onde o sucesso e a reputação são mais importantes que a própria vida. Nela, você vê uma garota simples que aparentemente veio do nada, sem perspectiva, e à mercê do destino que aos poucos adentra no mundo do espetáculo, Las Vegas, onde pessoas podres cometem atrocidades e, por terem reputação, dinheiro e "poder", consequentemente têm imunidade penal; logo, toda a sujeira é jogada para debaixo dos tapetes.
Mas o interessante não é só a acidez crítica com a qual Verhoeven se volta para este mundo de fama e dinheiro repletos destas pessoas cobiçosas e ardis que o movem, não; é também a forma como ele faz Nomi sobreviver a isto. Para sobreviver ao topo é preciso ter sangue nos olhos... e isto Nomi tem de sobra.
Millennium Mambo
4.0 44Este filme faz uma abordagem interessante a temas como relacionamento abusivo, falta de perspectiva, melancolia e hedonismo como características inerentes ao homem moderno. E a fotografia é tão expressiva que ainda que este filme não tivesse diálogos, conseguiria transmitir a ideia.
O Despertar
3.4 914 Assista AgoraO filme não é ruim. Embora o roteiro tenha lá suas falhas, não é de todo ruim; o mistério é bem aplicado e a ambientação bem trabalhada, o que agrega grande intensidade à atmosfera, que de tão carregada consegue cativar. Bem, pelo menos a mim, conseguiu.
A cena em que Florence descobre que Tom era um espírito é bem interessante, pois nisso o trama toma um rumo inusitado.
Só achei bem nada a ver o romance colocado de qualquer jeito no filme.
Instinto Selvagem
3.6 555 Assista AgoraNão tem como falar desse filme sem citar a Sharon Stone. Meua migo, que mulher! Que mulher! Ela tem um magnetismo tão soberbo que com um único olhar te faz gemer.
O suspense neste filme é tão intensamente construído que faz honra a um bom Hitchcock. O final é a prova cabal disto.
A Criada
4.4 1,3K Assista AgoraCirúrgico. Só isto que eu posso dizer desse roteiro.
Os plot twists são tão inteligentemente aplicados que chegam a desconcertar.
A direção de arte deste filme é impecável.
Os Inocentes
4.1 396Filme ímpar! Essencial para quem aprecia o terror em sua essência.
Não irei me esquecer por tão cedo da singular sensação que este filme me causou, da sua fotografia magistral tão rica em ângulos, perspectivas, luz e sombra, das atuações arrebatadoras de Deborah Kerr e o casal de crianças.
A atmosfera deste filme é poderosa o bastante para te conduzir ao horror da estória, que, apesar de simples, é carregada com tanto mistério que fez eu me sentir como se estivesse sonhando à cada belíssima cena.
Tudo neste filme tem um aspecto fantasmagórico, desde as aparições espectrais às chamas das velas nos castiçais; a música antiga cantada/tocada tantas vezes ao longo da trama enfatiza bem isto.
A cena em que Miles recita o poema dispensa adjetivos. É tão funesta que parece ter sido adaptada de algum dos contos de Poe.
Apesar do desfecho que me pareceu um tanto precoce, The Innocents tem um tom fatídico do início ao fim que em nenhum momento decai; o filme simplesmente te conduz à angustiante busca por vestígios de um passado tétrico e macabro.
Finalizo meu comentário com este poema primoroso e inesquecível de Miles:
"What shall I sing to my lord from my window?
What shall I sing for my lord will not stay?
What shall I sing for my lord will not listen?
Where shall I go when my lord is away?
Whom shall I love when the moon is arisen?
Gone is my lord and the grave is his prison.
What shall I say when my lord comes a calling?
What shall I say when he knocks on my door?
What shall I say when his feet enter softly?
Leaving the marks of his grave on my floor.
Enter my lord. Come from your prison.
Come from your grave, for the moon is a risen.
Welcome, my lord."
A Sniper Russa
3.8 75 Assista Agora"—Quantas pessoas você matou?
— Nenhuma pessoa, 309 fascistas."
Que mulher sensacional!
Bem, o filme é muito bom, a fotografia é linda, as atuações são boas e há uma dramaticidade bem tocante no enredo que me cativou do início ao fim. Mas vi que o enredo decaiu por se focar mais nos romances do que no contexto histórico de Pavlichenko em si, o que deu aspecto hollywoodiano demais para uma produção russa que visa retratar uma heroína soviética de guerra.
As cenas de combate são muito boas, e creio que o filme teria sido excelente se houvesse mais dessas cenas, justamente para ressaltar os méritos de Pavlichenko como franco-atiradora e a sua importância à história da URSS.
Holy Motors
3.9 652O que mais gostei de "Holy Motors" foi de sua metáfora bastante assertiva sobre o homem moderno e as diversas personas que ele adere ao longo da vida. Sua rotina consiste, antes de qualquer outra coisa, em adotar máscaras — por falar em máscara, se aquele ato final de Céline não for uma clara referência à clássica personagem de Edith Scob em "Les yeux sans visage", não sei o que mais pode ser —, em ser outras pessoas e viver suas vidas, mas nunca ser quem de fato é e viver sua própria vida.
Leos Carax faz uma obra subjetiva, abrindo bastante espaço para inúmeras interpretações e explorando as muitas facetas humanas, mas remetendo ao homem como sendo um ser primitivo (foi o que entendi dos macacos), que apesar de multifacetado, sempre mantém sua animalidade intacta.
Mas o filme não aborda apenas a pluralidade identitária e tampouco sob a óptica existencialista, não. Fala principalmente sobre a arte de atuar, sobre a doação que esses artistas fazem de si mesmos nas suas representações e no modo como a Arte interfere em suas vidas tanto como suas vidas interferem na Arte. Criam, a partir de um script, uma vida.
Além disto, sua narrativa é bastante certeira ao abordar temas como morte, solidão, amor, família, finitude, futuro e passado sob o vazio dos bastidores quando as luzes se apagam.
É levantada a reflexão pertinente sobre como vivemos nossas vidas, por sermos cada vez menos capazes de lidar com a realidade ao ponto de subsistirmos no irreal.
Mas imagine como seria se, em vez de representar personagens e atuar em situações fictícias, o ator (ou atriz) incorporasse pessoas e vivenciasse vidas diferentes, removendo todos os motes entre realidade e ficção... É esta a visão que Holy Motors nos dá, permitindo-nos ter inúmeras interpretações diferentes.
...E o Vento Levou
4.3 1,4K Assista AgoraGone With The Wind é uma obra muito à frente de seu tempo. E a maior evidência disto é a de que, mesmo quase um século depois, permanece inesquecível e bastante atual.
A Entidade
3.2 2,3K Assista AgoraA proposta é boa, o que faz da estória interessante. Mas este filme é muito mal dirigido. Puta merda! O que são aquelas crianças maquiadas como se fossem roquistas BR metidos a sataneiros só por que ouvem Slipknot? Quando vi as crianças me segurei para não rir.
Além do mais, falta profundidade na "lenda" pagã abordada, que apesar de interessante é pobre em detalhes e, consequentemente, rasa.
No entanto, não é um filme de todo ruim, não. Tem seus méritos. Tem uma fotografia razoável, e a trilha, principalmente nas cenas em que são rodados no projetor aqueles filmes antigos, é bem executada.
Mas não é o tipo de filme que eu veria duas vezes. Não mesmo.
Como Eu Era Antes de Você
3.7 2,3K Assista AgoraHá uma frase que carrego sempre comigo que diz: "Os casais deveriam se separar no auge da paixão, e não esperar até o inevitável declínio".
Creio que esta frase justifique bem o final deste filme, que por não se ater aos clichês oferece um enredo gostoso de se acompanhar (apesar das falhas), com boas atuações e peculiaridades que tornam o casal de protagonistas bem cativante.
É bem verdade que a Lou Clark é uma personagem caricata, mas penso que este é o seu charme. E o que achei encantador nessa personagem é que em algumas cenas ela simplesmente se transforma da garota caricata e desengonçada numa mulher exuberante de fazer cair o queixo.
É um filme válido.