Acerca da polêmica cura gay em menores de idade, hoje proibida nos Estados Unidos, BOY ERASED: UMA VERDADE ANULADA (Boy Erased, 2018) se parece muito com O Mau Exemplo de Cameron Post, lançado na mesma época. Ambos precedidos de livros de experiências pessoais, a terapia de conversão sexual, que exila, através da religião, os adolescentes de sua família, amigos e escola, visa corrigir os comportamentos pecaminosos dos jovens Jared e Cam, respectivamente. Naquele, Cam é enviada a um centro cristão pela tia após a morte dos pais e lá ela cria vínculos de amizade e fica ainda mais convicta de sua sexualidade. Nesse, ao contrário, Jared aceita o tratamento para acalmar o pai, um pastor da igreja Batista, influenciado pelos líderes da congregação, e a princípio acredita em sua transgressão mental, a punição divina e finalmente sua transformação. O filme de Joel Edgerton prefere ser mais sóbrio, menos explícito nas cenas gráficas e apenas dramatizar o peso das relações familiares e da fé na busca da identidade sexual do indivíduo, sem demonizar a conduta dos pais, que buscam o melhor para os seus filhos, ao menos segundo sua convicção. Quanto ao elenco, não há o que reclamar de Boy Erased: somos recompensados com atuações de forte carga emocional e sensibilidade. Mas como qualquer um que tenha vista O Mau Exemplo pode atestar, Boy Erased, apesar de não cair na "facilidade" da caricatura, torna-se menos impactante e deixa no ar aquela sensação de que ficou faltando algo. IG @omelhordocinema
Apesar da mensagem de A MENINA E O LEÃO (Mia et le Lion Blanc, 2018) ser preocupante, a história da jovem rebelde que forma uma amizade não convencional e inabalável com um leão branco só se torna interessante quando sabemos que as filmagens duraram alguns anos (no estilo de Boyhood) para que a atriz pudesse se familiarizar com o animal, dispensando maiores cortes e montagens nas cenas de convívio entre eles. Tirando isso, a mistura de entretenimento familiar e denúncia à caça legalizada no território africano é bem parecida com outras produções do gênero e bem morna para satisfazer tanto um lado quanto o outro. O que sobra é apenas o alerta de quão longe pode chegar a estupidez humana. IG @omelhordocinema
Como demora para acabar UM HOMEM DE SORTE (Lykke-Per, 2018). Pretensioso, a adaptação do romance dinamarquês de Henrik Pontoppidan tenta resumir oito volumes em um filme de quase três horas, mas gasta tempo demais batendo em algumas teclas sem dizer nada profundo o suficiente para justificar seu alcance visualmente suntuoso. Per é um jovem inteligente e ambicioso que deixa para trás a família fervorosamente religiosa para tirar do papel seus projetos de engenharia. Na Capital, ele encontra seu brilhante futuro no casamento com uma rica judia, contudo sua intransigência fechará algumas portas e abrirá outras para uma trajetória de redescoberta pessoal. Tão difícil quanto aguentar até o final, é simpatizar com o drama de Per, porque embora a duração seja longa, muito não vemos em tela, e temos que, por conta própria, preencher as lacunas deixadas no roteiro. Por bem menos, o diretor ganhador de um Oscar poderia ter feito bem mais com essa obra-prima literária do que um trabalho bonito, porém superficial. IG @omelhordocinema
A adaptação do romance de Alissa Walser conta uma pequena parte da história da pianista cega Maria Theresia von Paradis, além de refletir a cruel desigualdade social e de gênero na sociedade europeia do século XVIII. Todo o mérito de MADEMOISELLE PARADIS (Licht, 2017) começa e termina na atuação mais do que realista de Maria-Victoria Dragus, que dá vida a uma outra Maria que oscila entre os risos da corte, o desprezo dos próprios pais e a esperança que vislumbra no médico Franz Mesmer. Cega desde criança, Maria Theresia agora passa a enxergar as belezas que apenas ouvia e tocava, mas também vê a crueldade do mundo ao seu redor, e percebe que talvez a visão não seja o melhor dos sentidos. Apesar de verdadeiro, Mademoiselle Paradis parece fraco em termos biográficos, porém sua força estética e a sensibilidade de sua protagonista garantem o velho ensinamento de aquilo que os olhos não veem, o coração não sente. IG @omelhordocinema
O mais recente trabalho de Jia Zhangke continua preocupado com os efeitos que a modernização social teve nos últimos tempos na China. Durante mais de quinze anos e desenhado sobre as mais diversas paisagens chinesas, AMOR ATÉ AS CINZAS (Jiang Hu Er Nü, 2018) se liga à história de amor de Qiao e Bin. Ele, o líder da máfia jianghu. Ela, sua namorada e uma colaboradora de longa data do grupo criminoso. Mas ao contrário do que você pode pensar, o caso entre eles nunca é romantizado e o foco é mesmo mantido nas pessoas que vivem às margens da sociedade. Estruturado em três partes, tudo começa em 2001, quando Qiao é condenada por disparar uma arma ao defender seu amado. Quando libertada, ela vai à procura dele e descobre que nada permanece como antes, até mesmo os seus sentimentos. Mantendo um estilo íntimo, Amor Até as Cinzas fornece um drama culturalmente intenso com um senso de amargura e punição tardia, pena que seu ritmo exageradamente lento diminui o impacto dessa experiência. IG @omelhordocinema
À primeira vista, o alcoolismo pode ter um potencial dramático enorme, no entanto, a obra - seja ela cinematográfica ou literária - precisa tomar cuidado para não cair na mesmice: quando você vê um alcoólatra, você já pode ter visto todos eles. As circunstâncias externas podem até mudar aqui ou ali, mas a constante destrutiva domina boa parte do tempo e a chance de se tornar chata e cansativa é grande. Não, esse não é o maior problema de O PESO DO PASSADO (Destroyer, 2018). A história da policial que encara a bebida para não enfrentar as consequências dos seus atos passados pesa nas costas de Nicole Kidman, só que, apesar de estar bem e irreconhecível no papel, ela não o sustenta sozinha. Sem saber se é thriller policial ou drama familiar, O Peso do Passado se mostra convincente até certo ponto e abandona o estudo de sua personagem pelo caminho, restando apenas uma Nicole com cara de déjà vu e uma maquiagem muito ruim. IG @omelhordocinema
Sabemos que hipocrisia e falsidade fazem parte do universo de Gastón Duprat. Dessa vez, na arte contemporânea, ele mostra que grandes mestres podem ser desprezíveis na mesma proporção de seu talento. Em Buenos Aires, o destemperado Renzo já foi um artista disputado e hoje depende da boa vontade e paciência do amigo Arturo, um galerista cansado dos prejuízos causados pela difícil personalidade do pintor. No melhor do humor negro, MINHA OBRA-PRIMA (Mi Obra Maestra, 2018) tem um roteiro bem escrito e acessível que dita um desenvolvimento inesperado e moderadamente imprevisível. E se não fosse pelo segundo ato reduzido (diria até supérfluo), seria a mais nova obra-prima argentina. IG @omelhordocinema
Maior do que o Alzheimer, TUDO O QUE TIVEMOS (What They Had, 2018) é um filme sobre uma família em crise. A demência de uma mulher é apenas o centro do debate que desencadeia tantas outras questões sensíveis, como relacionamentos fracassados, a frustração parental e a impotência diante da doença. Depois de Para Sempre Alice, ficou difícil outras obras - ao menos - se igualarem quando se trata desse mal que degrada a memória e a dignidade da vítima. E apesar de suas subtramas serem esquecidas no meio do caminho, sem mencionar o ritmo lento, Tudo o Que Tivemos contém, graças ao elenco de atores de categoria, uma quantidade considerável de emoção e sentimento (especialmente em seu desfecho) para superar todas as suas falhas de desenvolvimento. Não como dizer "não" a Michael Shannon e Hilary Swank - juntos ainda. IG @omelhordocinema
Ei, você aí... já foi ver VINGADORES: ULTIMATO (Avengers: Endgame, 2019)? Fã, crítico ou espectador casual, não há como negar que a Marvel mudou a cara do cinema e do conceito de superprodução. Seus últimos vinte "capítulos" tornaram a marca um sucesso recorde e um negócio bilionário. Ultimato sabe disso e não significa apenas o cume narrativo da franquia mais poderosa da Terra, mas é também uma bela despedida e um grande recomeço. No geral, embora equilibre um elenco em constante expansão, o filme parece ter sido feito principalmente para aqueles que foram leais à tropa de super-heróis na última década, pois requer um conhecimento amplo do que aconteceu até hoje. Basicamente, quanto mais se sabe, maior é a recompensa e a emoção final. Lágrimas? Tem sim senhor! Mesmo depois de tudo que a Marvel fez no último encontro, ela não poupa os corações mais apaixonados. E apesar de vender como a conclusão de uma era, não se engane: Ultimato é a linha de chegada para alguns e o trampolim para o (muito) que está por vir. E você ainda está esperando o que para testemunhar a maior história cinematográfica em permanente construção? IG @omelhordocinema
Não sei como Keanu Reeves se mete nessas enrascadas, e CÓPIAS - DE VOLTA À VIDA (Replicas, 2018) é uma das bem grandes. A ficção científica de Jeffrey Nachmanoff, cheia de falhas lógicas, começa brincando com a ideia de replicar uma mente humana em uma máquina, e ao longo do caminho, outras hipóteses (até interessantes) vão aparecendo, no entanto, nenhuma delas é bem executada. A história não cola nem com muito esforço, a produção é simplória e o elenco parece tão artificial quanto os robôs do laboratório. O resultado é algo implausível, vergonhoso (para quem tem Matrix no currículo) e que nem Nicolas Cage toparia fazer. IG @omelhordocinema
Sem novidade ou surpresa, A FABULOSA GILLY HOPKINS (The Great Gilly Hopkins, 2015) cumpre sua tarefa de ser uma típica história de redenção de Sessão da Tarde. Tudo o que Gilly quer é conviver com a mãe que a abandonou quando criança e que ela imagina ser espetacularmente glamourosa, mas sua vida não é feita de momentos fáceis e ela troca de lares adotivos e escola como troca de roupa, até encontrar em Trotter o verdadeiro significado de família. O problema está na velocidade que ocorre essa transição de garota-encrenca incorrigível para a fabulosa Gilly do título: é tão rápido e falho que parece que perdemos um pedaço da adaptação da obra de Katherine Paterson. No entanto, embora mediano em narrativa, A Fabulosa Gilly Hopkins ainda merece crédito pelo elenco de peso que consegue realmente tirar leite (ou melhor, lágrimas) de pedra. IG @omelhordocinema
A prova de que qualidade não precisa de muita produção ou longa duração está em GUAVA ISLAND (2019). O curto e "descomplicado" trabalho de Donald Glover, ou Childish Gambino (seu nome mais artístico), mistura frases cheias de sentido, uma crítica social pesada e suas principais músicas. Ele confessa que tomou Cidade de Deus como inspiração, mas fica evidente o pedaço de Gambino em cada minuto rodado. Em formato de clipe, a musicalidade está presente em todo lugar, em todos os seus movimentos contagiantes, em todo canto dessa ilha fantástica tão real, desde os pássaros ao fundo até no correr das máquinas de costura. A compilação de um bom elenco multitalentoso e uma história redonda, onde se mudam os meios para chegar ao mesmo fim, resulta em uma parábola prazerosa de assistir com vontade de quero mais, ironicamente lançada por uma das empresas mais capitalistas do mundo moderno. IG @omelhordocinema
Onde os olhos não brilham, não há motivos para se demorar. Baseado no best-seller de Simon Winchester, O GÊNIO E O LOUCO (The Professor and the Madman, 2019) é o desperdício de uma boa biografia. A compilação de palavras para a primeira edição do Dicionário Inglês de Oxford começou na metade do século 19 e foi um dos projetos mais ambiciosos já realizados. Comandada pelo professor James Murray, a produção contou com a estranha colaboração (e amizade) de William Minor, um ex-combatente de guerra e leitor compulsivo, que estava preso em um hospital psiquiátrico após assassinar um pai de família, e mesmo assim, enviou mais de dez milhões de verbetes para serem publicados. Confuso e sem qualquer paixão, a loucura e a genialidade desses dois homens são narradas de forma lenta e displicente. O que tinha tudo para ser um grande filme não faz jus à história real, não prende a atenção e tampouco funciona a nível informativo. Em resumo, é preferível procurar por fora para melhor saber sobre eles. IG @omelhordocinema
O DATE PERFEITO (The Perfect Date, 2019) é um filme feito exclusivamente para os fãs de Noah Centineo, o queridinho da vez das comédias românticas adolescentes da Netflix. E é tão bobinho e sem identidade quanto o seu personagem, que desesperado para ir para Yale, cria um aplicativo para se tornar o parceiro adequado para os mais diversos tipos de encontro e assim ganhar dinheiro. O Date Perfeito junta uma fórmula água com açúcar, histórias conhecidas e o mesmo Centineo que já deu as caras pela plataforma. Apostando no clichê absoluto, os falsos namoros de internet parecem impulsionar não só a popularidade teen da Netflix e a empreitada do pré-universitário fictício, como também a própria carreira de Noah. E pelo jeito, o negócio não vai parar por aqui. Tem quem goste, e quem ainda não enjoou da mesmice. Só resta saber em qual grupo você se encaixa. IG @omelhordocinema
Estranhíssimo, BORDER (Gräns, 2018) vai ser o melhor e o pior do ano. Para alguns, a esquisita fábula sueca de Ali Abbasi será peculiar, sensível e incomparável a qualquer outra coisa que já tenha visto. Para outros, a história da monstruosa agente alfandegária que fareja criminosos é incompreensível e sem pé nem cabeça. Contam pontos a seu favor: a maquiagem perfeita, as atuações e um dos personagens mais complexos e (ironicamente) humanos do cinema recente. É difícil definir um gênero para a adaptação do conto de Lindqvist. Entre o drama, o suspense, o romance e a fantasia, Border ainda acha espaço para crítica social - mais de uma, aliás. Ainda estou digerindo Border. Inconscientemente, sua confusão atrai e atordoa. E também não estranhe se você ultrapassar a fronteira daqueles que odiaram para os que respeitaram, ou até amaram. Aconteceu comigo. IG @omelhordocinema
A depender do seu olhar, MEU MELHOR AMIGO (Mi Mejor Amigo, 2018) é uma história de amizade ou amor. A produção argentina de baixo orçamento, sobre a relação entre dois jovens tão diferentes quanto parecidos, é ambígua em todos os sentidos: tem partes boas e ruins, prevalecendo suas atuações fracas e um roteiro que não sai do lugar. Os assuntos tratados são delicados, mas nenhum deles é aprofundado o suficiente para criar uma conexão com o espectador. Na pretensão de ser sensível, apenas consegue ser monotonamente normal - e (que fique claro) não se trata de ter um final hollywoodiano. Veja e tira suas próprias conclusões, ou (como eu) não. IG @omelhordocinema
O mesmo toque que te conforta pode também te destruir. É com isso que A CINCO PASSOS DE VOCÊ (Five Feet Apart, 2019) trabalha em suas quase duas horas de duração. Cinco passos. Isso mesmo! Cinco passos separam o amor adolescente de Stella e Will, portadores de fibrose cística, confinados em um hospital para tratamento. É a distância segura para que não haja nenhum contágio entre eles e piore uma situação que parece irremediável. Talvez você não faça parte do público-alvo ou talvez você ache que já tenha visto esse mesmo drama com outras caras e melhores (é provável que sim), a verdade é que A Cinco Passos de Você até que acerta no elenco juvenil descolado, mas entre tantas luvas de látex, redes sociais e cartas de amor, enrola demais para dizer o óbvio (para o gênero): de que uma garota precisa mais de um príncipe do que de sua rotina de cuidados médicos. IG @omelhordocinema
A releitura do clássico do terror de Dario Argento de 1977 é liderada por atuações fascinantes de Tilda Swinton e Dakota Johnson, e tem uma curta participação de Chloe Grace Moretz. Cuidadosamente encenadas por Luca Guadagnino, elas fazem parte de um grupo macabro de dança na Alemanha dos anos 70 com muita agitação política real. E você pode esperar aqui a mesma polarização que dividia Berlim na época. Abusando da cinematografia retro, em vermelho-vivo e cinza-sombrio, e do tempo de duração, SUSPÍRIA - A DANÇA DO MEDO (Suspiria, 2018) é no mínimo uma experiência perturbadora, que oscila entre o sedutor e aquele pesadelo que tentamos acordar e não conseguimos. A música trabalha de mãos dadas com a coreografia precisa e ritmada, e juntas só aumentam o clima de tensão. Certamente, o novo Suspíria não é para o consumo em massa e muito menos para ser compreendido de primeira, mas ao tentar remendar os buracos das três narrativas separadas, deixou-me em cima do muro que separa os que o amaram dos que o odiaram. IG @omelhordocinema
A estreia de Brie Larson na direção é a celebração daqueles que se recusam a crescer e tudo o que você não quer assistir na Netflix. Em LOJA DE UNICÓRNIOS (Unicorn Store, 2017), a própria Brie interpreta Kit, uma jovem imatura, recusada pelas escolas de arte, que tem uma paixão por unicórnios desde criança. Retornando à casa de seus pais, ela tenta dar um rumo na sua vida e arruma um emprego temporário em uma empresa, mas o glitter volta a brilhar em sua vida depois que conhece um vendedor misterioso que promete lhe dar um desses animais mágicos se ela provar que consegue cuidar de um. Brie - tanto a atriz como a diretora - está mais interessada em enfatizar o capricho das desventuras de Kit do que se preocupar com os problemas do mundo real, e em poucos minutos sua fantasia não pode mais ser sustentada e a infantilidade exagerada cansa. O propósito de Loja de Unicórnios é incerto. Alguns vão dizer que é para nunca desacreditar de seus sonhos. O que eu sei é que, mesmo a Netflix não sendo padrão de qualidade, faz uma diferença enorme ter um Oscar no currículo: parece que você consegue crédito para produzir qualquer porcaria depois disso. IG @omelhordocinema
Após a morte de sua irmã, Marcela perde também toda a noção de realidade e coerência. Em sua vidinha cotidiana, ignorada pelo marido e filhos, entre muitas plantas, ela passa a alucinar com a falecida e outros parentes que não temos certeza se ainda estão por aqui. O luto se transforma em transe e desordem que apenas nós percebemos e angustiantemente vivenciamos com Marcela em FAMÍLIA SUBMERSA (Familia Sumergida, 2018). Culpa de Mercedes Morán: meio a tantas nuances criadas com facilidade por ela, consegue - com o olhar - transmitir o vazio e a melancolia que ocupa a maior parte do personagem, bem como do filme de Maria Alché, e isso, por vezes, é tanto que cansa. O up em sua vida só vem quando Nacho aparece, mas não a tempo de recuperar o interesse perdido depois de tanta monotonia. IG @omelhordocinema
A gente fica roendo as unhas e com o estômago preparado para acontecer o que descreve a sinopse e... nada! Não é que DOGMAN (2018) não nos deixe apreensivo, mas a história não é bem essa. É um trabalho que envolve vários sentimentos: ora estranho, ora triste, pode ser também engraçado ou angustiante, a depender do que acontece com Marcello, o dono de um pet shop tão cinza e degradado quanto a cidade italiana em que vive. É um lugar onde tudo parece apodrecer e onde o brutamonte Simone faz e acontece, oprimindo todos os moradores, principalmente o frágil Marcello. A serviço do estudo de um personagem tão cheio de camadas, Marcello Fonte mais do que basta e assim carregará mais do que Dogman nas costas. IG @omelhordocinema
Como fã, acreditar em DEIXANDO NEVERLAND (Leaving Neverland, 2019) é uma árdua tarefa. Um dos documentários mais polêmicos do ano, traz novas alegações de abuso sexual a menores de idade praticado por Michael Jackson. Com recursos amadores, Dan Reed afirma, através de entrevistas angustiantemente detalhadas de dois homens que teriam sido vítimas quando crianças, e suas famílias, que o paraíso de diversão do Rei do Pop, a famosa Neverland, era, na verdade, palco de exploração infantil. Nem de longe, trata-se de um escândalo. Em 1993, Jackson foi acusado pela primeira vez pela família de um garoto de 13 anos, sendo o caso resolvido fora dos tribunais. Em 2005, ele foi inocentado pelo júri em outra ação relacionada a um garoto da mesma idade. Dessa vez, é Michael contra as acusações de Wade Robson e James Safechuck, trabalhadas sob perspectivas separadas, mas ambas ocorridas nos anos 1990. Um processo de mão única. Nem se vivo fosse, o pop star teria chance de se defender. O cineasta britânico não dá brecha para o contraditório, afastando sua obra do jornalismo investigativo sobre o comportamento de uma celebridade e transformando em um chocante testemunho de abuso sexual. Não é fácil assumir o papel de vítima aqui, muito menos manchar a idolatria de uma personalidade como ele, mas também é impossível que Deixando Neverland não deixe ao menos a impressão de que algo muito estranho se passava na cabeça de Michael Jackson. IG @omelhordocinema
Historicamente impreciso, DUAS RAINHAS (Mary Queen of Scots, 2018) não deixa de ser um drama sobre duas mulheres ferozmente independentes fazendo valer suas vozes em um mundo que era (e ainda é) manipulado por homens ambiciosos e obscuros. Entre muitas intrigas, rivalidade e traições, temos Saoirse Ronan como a bela e determinada Mary do título, Rainha da Escócia, ao lado de Margot Robbie como Elizabeth I, da Inglaterra, relegada aqui à feiura de um papel de apoio, mas muito eficaz. O fim de Mary já conhecemos, bem como o cabo de guerra sangrento entre elas, no entanto, a obra de Josie Rourke concentra suas forças nas maquinações patriarcais para o trono escocês, e fica mais interessante quando traça um paralelo com as mulheres no poder de hoje. É esse eco contemporâneo que salva Duas Rainhas de um roteiro morno e duvidoso, e paga o seu ingresso. IG @omelhordocinema
MADEMOISELLE VINGANÇA (Mademoiselle de Joncquières, 2019) é uma trama de época como pouco vemos. Vagamente inspirado em um conto de Denis Diderot, Emmanuel Mouret desenrola um plano elaborado para vingar a imperiosa Madame de La Pommeraye do sofrimento causado pelo libertino Marquês de Arcis, que não se cansa de cortejar e descartar mulheres de respeito (ou nem tanto). Em um cenário bucólico, há certo prazer em ver pessoas manipulando pessoas, mas muito tempo é gasto até que a dona do título quebre o silêncio e torne o terceiro ato a parte mais interessante. Mademoiselle Vingança é uma espécie de Ligações Perigosas francês; bom, traz lições para um e outro lado, mas tinha potencial maior do que ser apenas um prato que se come frio. IG @omelhordocinema
Boy Erased: Uma Verdade Anulada
3.6 402 Assista AgoraAcerca da polêmica cura gay em menores de idade, hoje proibida nos Estados Unidos, BOY ERASED: UMA VERDADE ANULADA (Boy Erased, 2018) se parece muito com O Mau Exemplo de Cameron Post, lançado na mesma época. Ambos precedidos de livros de experiências pessoais, a terapia de conversão sexual, que exila, através da religião, os adolescentes de sua família, amigos e escola, visa corrigir os comportamentos pecaminosos dos jovens Jared e Cam, respectivamente. Naquele, Cam é enviada a um centro cristão pela tia após a morte dos pais e lá ela cria vínculos de amizade e fica ainda mais convicta de sua sexualidade. Nesse, ao contrário, Jared aceita o tratamento para acalmar o pai, um pastor da igreja Batista, influenciado pelos líderes da congregação, e a princípio acredita em sua transgressão mental, a punição divina e finalmente sua transformação. O filme de Joel Edgerton prefere ser mais sóbrio, menos explícito nas cenas gráficas e apenas dramatizar o peso das relações familiares e da fé na busca da identidade sexual do indivíduo, sem demonizar a conduta dos pais, que buscam o melhor para os seus filhos, ao menos segundo sua convicção. Quanto ao elenco, não há o que reclamar de Boy Erased: somos recompensados com atuações de forte carga emocional e sensibilidade. Mas como qualquer um que tenha vista O Mau Exemplo pode atestar, Boy Erased, apesar de não cair na "facilidade" da caricatura, torna-se menos impactante e deixa no ar aquela sensação de que ficou faltando algo.
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A Menina e o Leão
3.5 90 Assista AgoraApesar da mensagem de A MENINA E O LEÃO (Mia et le Lion Blanc, 2018) ser preocupante, a história da jovem rebelde que forma uma amizade não convencional e inabalável com um leão branco só se torna interessante quando sabemos que as filmagens duraram alguns anos (no estilo de Boyhood) para que a atriz pudesse se familiarizar com o animal, dispensando maiores cortes e montagens nas cenas de convívio entre eles. Tirando isso, a mistura de entretenimento familiar e denúncia à caça legalizada no território africano é bem parecida com outras produções do gênero e bem morna para satisfazer tanto um lado quanto o outro. O que sobra é apenas o alerta de quão longe pode chegar a estupidez humana.
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Um Homem de Sorte
3.5 77Como demora para acabar UM HOMEM DE SORTE (Lykke-Per, 2018). Pretensioso, a adaptação do romance dinamarquês de Henrik Pontoppidan tenta resumir oito volumes em um filme de quase três horas, mas gasta tempo demais batendo em algumas teclas sem dizer nada profundo o suficiente para justificar seu alcance visualmente suntuoso. Per é um jovem inteligente e ambicioso que deixa para trás a família fervorosamente religiosa para tirar do papel seus projetos de engenharia. Na Capital, ele encontra seu brilhante futuro no casamento com uma rica judia, contudo sua intransigência fechará algumas portas e abrirá outras para uma trajetória de redescoberta pessoal. Tão difícil quanto aguentar até o final, é simpatizar com o drama de Per, porque embora a duração seja longa, muito não vemos em tela, e temos que, por conta própria, preencher as lacunas deixadas no roteiro. Por bem menos, o diretor ganhador de um Oscar poderia ter feito bem mais com essa obra-prima literária do que um trabalho bonito, porém superficial.
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Mademoiselle Paradis
3.2 10 Assista AgoraA adaptação do romance de Alissa Walser conta uma pequena parte da história da pianista cega Maria Theresia von Paradis, além de refletir a cruel desigualdade social e de gênero na sociedade europeia do século XVIII. Todo o mérito de MADEMOISELLE PARADIS (Licht, 2017) começa e termina na atuação mais do que realista de Maria-Victoria Dragus, que dá vida a uma outra Maria que oscila entre os risos da corte, o desprezo dos próprios pais e a esperança que vislumbra no médico Franz Mesmer. Cega desde criança, Maria Theresia agora passa a enxergar as belezas que apenas ouvia e tocava, mas também vê a crueldade do mundo ao seu redor, e percebe que talvez a visão não seja o melhor dos sentidos. Apesar de verdadeiro, Mademoiselle Paradis parece fraco em termos biográficos, porém sua força estética e a sensibilidade de sua protagonista garantem o velho ensinamento de aquilo que os olhos não veem, o coração não sente.
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Amor Até as Cinzas
3.6 30O mais recente trabalho de Jia Zhangke continua preocupado com os efeitos que a modernização social teve nos últimos tempos na China. Durante mais de quinze anos e desenhado sobre as mais diversas paisagens chinesas, AMOR ATÉ AS CINZAS (Jiang Hu Er Nü, 2018) se liga à história de amor de Qiao e Bin. Ele, o líder da máfia jianghu. Ela, sua namorada e uma colaboradora de longa data do grupo criminoso. Mas ao contrário do que você pode pensar, o caso entre eles nunca é romantizado e o foco é mesmo mantido nas pessoas que vivem às margens da sociedade. Estruturado em três partes, tudo começa em 2001, quando Qiao é condenada por disparar uma arma ao defender seu amado. Quando libertada, ela vai à procura dele e descobre que nada permanece como antes, até mesmo os seus sentimentos. Mantendo um estilo íntimo, Amor Até as Cinzas fornece um drama culturalmente intenso com um senso de amargura e punição tardia, pena que seu ritmo exageradamente lento diminui o impacto dessa experiência.
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O Peso do Passado
3.0 140À primeira vista, o alcoolismo pode ter um potencial dramático enorme, no entanto, a obra - seja ela cinematográfica ou literária - precisa tomar cuidado para não cair na mesmice: quando você vê um alcoólatra, você já pode ter visto todos eles. As circunstâncias externas podem até mudar aqui ou ali, mas a constante destrutiva domina boa parte do tempo e a chance de se tornar chata e cansativa é grande. Não, esse não é o maior problema de O PESO DO PASSADO (Destroyer, 2018). A história da policial que encara a bebida para não enfrentar as consequências dos seus atos passados pesa nas costas de Nicole Kidman, só que, apesar de estar bem e irreconhecível no papel, ela não o sustenta sozinha. Sem saber se é thriller policial ou drama familiar, O Peso do Passado se mostra convincente até certo ponto e abandona o estudo de sua personagem pelo caminho, restando apenas uma Nicole com cara de déjà vu e uma maquiagem muito ruim.
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Minha Obra-Prima
3.8 67 Assista AgoraSabemos que hipocrisia e falsidade fazem parte do universo de Gastón Duprat. Dessa vez, na arte contemporânea, ele mostra que grandes mestres podem ser desprezíveis na mesma proporção de seu talento. Em Buenos Aires, o destemperado Renzo já foi um artista disputado e hoje depende da boa vontade e paciência do amigo Arturo, um galerista cansado dos prejuízos causados pela difícil personalidade do pintor. No melhor do humor negro, MINHA OBRA-PRIMA (Mi Obra Maestra, 2018) tem um roteiro bem escrito e acessível que dita um desenvolvimento inesperado e moderadamente imprevisível. E se não fosse pelo segundo ato reduzido (diria até supérfluo), seria a mais nova obra-prima argentina.
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Tudo o Que Tivemos
3.5 46Maior do que o Alzheimer, TUDO O QUE TIVEMOS (What They Had, 2018) é um filme sobre uma família em crise. A demência de uma mulher é apenas o centro do debate que desencadeia tantas outras questões sensíveis, como relacionamentos fracassados, a frustração parental e a impotência diante da doença. Depois de Para Sempre Alice, ficou difícil outras obras - ao menos - se igualarem quando se trata desse mal que degrada a memória e a dignidade da vítima. E apesar de suas subtramas serem esquecidas no meio do caminho, sem mencionar o ritmo lento, Tudo o Que Tivemos contém, graças ao elenco de atores de categoria, uma quantidade considerável de emoção e sentimento (especialmente em seu desfecho) para superar todas as suas falhas de desenvolvimento. Não como dizer "não" a Michael Shannon e Hilary Swank - juntos ainda.
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Vingadores: Ultimato
4.3 2,6K Assista AgoraEi, você aí... já foi ver VINGADORES: ULTIMATO (Avengers: Endgame, 2019)? Fã, crítico ou espectador casual, não há como negar que a Marvel mudou a cara do cinema e do conceito de superprodução. Seus últimos vinte "capítulos" tornaram a marca um sucesso recorde e um negócio bilionário. Ultimato sabe disso e não significa apenas o cume narrativo da franquia mais poderosa da Terra, mas é também uma bela despedida e um grande recomeço. No geral, embora equilibre um elenco em constante expansão, o filme parece ter sido feito principalmente para aqueles que foram leais à tropa de super-heróis na última década, pois requer um conhecimento amplo do que aconteceu até hoje. Basicamente, quanto mais se sabe, maior é a recompensa e a emoção final. Lágrimas? Tem sim senhor! Mesmo depois de tudo que a Marvel fez no último encontro, ela não poupa os corações mais apaixonados. E apesar de vender como a conclusão de uma era, não se engane: Ultimato é a linha de chegada para alguns e o trampolim para o (muito) que está por vir. E você ainda está esperando o que para testemunhar a maior história cinematográfica em permanente construção?
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Cópias: De Volta à Vida
2.5 286 Assista AgoraNão sei como Keanu Reeves se mete nessas enrascadas, e CÓPIAS - DE VOLTA À VIDA (Replicas, 2018) é uma das bem grandes. A ficção científica de Jeffrey Nachmanoff, cheia de falhas lógicas, começa brincando com a ideia de replicar uma mente humana em uma máquina, e ao longo do caminho, outras hipóteses (até interessantes) vão aparecendo, no entanto, nenhuma delas é bem executada. A história não cola nem com muito esforço, a produção é simplória e o elenco parece tão artificial quanto os robôs do laboratório. O resultado é algo implausível, vergonhoso (para quem tem Matrix no currículo) e que nem Nicolas Cage toparia fazer.
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A Fabulosa Gilly Hopkins
3.2 101Sem novidade ou surpresa, A FABULOSA GILLY HOPKINS (The Great Gilly Hopkins, 2015) cumpre sua tarefa de ser uma típica história de redenção de Sessão da Tarde. Tudo o que Gilly quer é conviver com a mãe que a abandonou quando criança e que ela imagina ser espetacularmente glamourosa, mas sua vida não é feita de momentos fáceis e ela troca de lares adotivos e escola como troca de roupa, até encontrar em Trotter o verdadeiro significado de família. O problema está na velocidade que ocorre essa transição de garota-encrenca incorrigível para a fabulosa Gilly do título: é tão rápido e falho que parece que perdemos um pedaço da adaptação da obra de Katherine Paterson. No entanto, embora mediano em narrativa, A Fabulosa Gilly Hopkins ainda merece crédito pelo elenco de peso que consegue realmente tirar leite (ou melhor, lágrimas) de pedra.
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Guava Island
4.0 248A prova de que qualidade não precisa de muita produção ou longa duração está em GUAVA ISLAND (2019). O curto e "descomplicado" trabalho de Donald Glover, ou Childish Gambino (seu nome mais artístico), mistura frases cheias de sentido, uma crítica social pesada e suas principais músicas. Ele confessa que tomou Cidade de Deus como inspiração, mas fica evidente o pedaço de Gambino em cada minuto rodado. Em formato de clipe, a musicalidade está presente em todo lugar, em todos os seus movimentos contagiantes, em todo canto dessa ilha fantástica tão real, desde os pássaros ao fundo até no correr das máquinas de costura. A compilação de um bom elenco multitalentoso e uma história redonda, onde se mudam os meios para chegar ao mesmo fim, resulta em uma parábola prazerosa de assistir com vontade de quero mais, ironicamente lançada por uma das empresas mais capitalistas do mundo moderno.
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O Gênio e o Louco
3.8 101 Assista AgoraOnde os olhos não brilham, não há motivos para se demorar. Baseado no best-seller de Simon Winchester, O GÊNIO E O LOUCO (The Professor and the Madman, 2019) é o desperdício de uma boa biografia. A compilação de palavras para a primeira edição do Dicionário Inglês de Oxford começou na metade do século 19 e foi um dos projetos mais ambiciosos já realizados. Comandada pelo professor James Murray, a produção contou com a estranha colaboração (e amizade) de William Minor, um ex-combatente de guerra e leitor compulsivo, que estava preso em um hospital psiquiátrico após assassinar um pai de família, e mesmo assim, enviou mais de dez milhões de verbetes para serem publicados. Confuso e sem qualquer paixão, a loucura e a genialidade desses dois homens são narradas de forma lenta e displicente. O que tinha tudo para ser um grande filme não faz jus à história real, não prende a atenção e tampouco funciona a nível informativo. Em resumo, é preferível procurar por fora para melhor saber sobre eles.
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O Date Perfeito
2.7 515 Assista AgoraO DATE PERFEITO (The Perfect Date, 2019) é um filme feito exclusivamente para os fãs de Noah Centineo, o queridinho da vez das comédias românticas adolescentes da Netflix. E é tão bobinho e sem identidade quanto o seu personagem, que desesperado para ir para Yale, cria um aplicativo para se tornar o parceiro adequado para os mais diversos tipos de encontro e assim ganhar dinheiro. O Date Perfeito junta uma fórmula água com açúcar, histórias conhecidas e o mesmo Centineo que já deu as caras pela plataforma. Apostando no clichê absoluto, os falsos namoros de internet parecem impulsionar não só a popularidade teen da Netflix e a empreitada do pré-universitário fictício, como também a própria carreira de Noah. E pelo jeito, o negócio não vai parar por aqui. Tem quem goste, e quem ainda não enjoou da mesmice. Só resta saber em qual grupo você se encaixa.
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Border
3.6 219 Assista AgoraEstranhíssimo, BORDER (Gräns, 2018) vai ser o melhor e o pior do ano. Para alguns, a esquisita fábula sueca de Ali Abbasi será peculiar, sensível e incomparável a qualquer outra coisa que já tenha visto. Para outros, a história da monstruosa agente alfandegária que fareja criminosos é incompreensível e sem pé nem cabeça. Contam pontos a seu favor: a maquiagem perfeita, as atuações e um dos personagens mais complexos e (ironicamente) humanos do cinema recente. É difícil definir um gênero para a adaptação do conto de Lindqvist. Entre o drama, o suspense, o romance e a fantasia, Border ainda acha espaço para crítica social - mais de uma, aliás. Ainda estou digerindo Border. Inconscientemente, sua confusão atrai e atordoa. E também não estranhe se você ultrapassar a fronteira daqueles que odiaram para os que respeitaram, ou até amaram. Aconteceu comigo.
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Meu Melhor Amigo
3.2 168A depender do seu olhar, MEU MELHOR AMIGO (Mi Mejor Amigo, 2018) é uma história de amizade ou amor. A produção argentina de baixo orçamento, sobre a relação entre dois jovens tão diferentes quanto parecidos, é ambígua em todos os sentidos: tem partes boas e ruins, prevalecendo suas atuações fracas e um roteiro que não sai do lugar. Os assuntos tratados são delicados, mas nenhum deles é aprofundado o suficiente para criar uma conexão com o espectador. Na pretensão de ser sensível, apenas consegue ser monotonamente normal - e (que fique claro) não se trata de ter um final hollywoodiano. Veja e tira suas próprias conclusões, ou (como eu) não.
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A Cinco Passos de Você
3.6 514 Assista AgoraO mesmo toque que te conforta pode também te destruir. É com isso que A CINCO PASSOS DE VOCÊ (Five Feet Apart, 2019) trabalha em suas quase duas horas de duração. Cinco passos. Isso mesmo! Cinco passos separam o amor adolescente de Stella e Will, portadores de fibrose cística, confinados em um hospital para tratamento. É a distância segura para que não haja nenhum contágio entre eles e piore uma situação que parece irremediável. Talvez você não faça parte do público-alvo ou talvez você ache que já tenha visto esse mesmo drama com outras caras e melhores (é provável que sim), a verdade é que A Cinco Passos de Você até que acerta no elenco juvenil descolado, mas entre tantas luvas de látex, redes sociais e cartas de amor, enrola demais para dizer o óbvio (para o gênero): de que uma garota precisa mais de um príncipe do que de sua rotina de cuidados médicos.
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Suspíria: A Dança do Medo
3.7 1,2K Assista AgoraA releitura do clássico do terror de Dario Argento de 1977 é liderada por atuações fascinantes de Tilda Swinton e Dakota Johnson, e tem uma curta participação de Chloe Grace Moretz. Cuidadosamente encenadas por Luca Guadagnino, elas fazem parte de um grupo macabro de dança na Alemanha dos anos 70 com muita agitação política real. E você pode esperar aqui a mesma polarização que dividia Berlim na época. Abusando da cinematografia retro, em vermelho-vivo e cinza-sombrio, e do tempo de duração, SUSPÍRIA - A DANÇA DO MEDO (Suspiria, 2018) é no mínimo uma experiência perturbadora, que oscila entre o sedutor e aquele pesadelo que tentamos acordar e não conseguimos. A música trabalha de mãos dadas com a coreografia precisa e ritmada, e juntas só aumentam o clima de tensão. Certamente, o novo Suspíria não é para o consumo em massa e muito menos para ser compreendido de primeira, mas ao tentar remendar os buracos das três narrativas separadas, deixou-me em cima do muro que separa os que o amaram dos que o odiaram.
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Loja de Unicórnios
2.8 252A estreia de Brie Larson na direção é a celebração daqueles que se recusam a crescer e tudo o que você não quer assistir na Netflix. Em LOJA DE UNICÓRNIOS (Unicorn Store, 2017), a própria Brie interpreta Kit, uma jovem imatura, recusada pelas escolas de arte, que tem uma paixão por unicórnios desde criança. Retornando à casa de seus pais, ela tenta dar um rumo na sua vida e arruma um emprego temporário em uma empresa, mas o glitter volta a brilhar em sua vida depois que conhece um vendedor misterioso que promete lhe dar um desses animais mágicos se ela provar que consegue cuidar de um. Brie - tanto a atriz como a diretora - está mais interessada em enfatizar o capricho das desventuras de Kit do que se preocupar com os problemas do mundo real, e em poucos minutos sua fantasia não pode mais ser sustentada e a infantilidade exagerada cansa. O propósito de Loja de Unicórnios é incerto. Alguns vão dizer que é para nunca desacreditar de seus sonhos. O que eu sei é que, mesmo a Netflix não sendo padrão de qualidade, faz uma diferença enorme ter um Oscar no currículo: parece que você consegue crédito para produzir qualquer porcaria depois disso.
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Família Submersa
2.7 4Após a morte de sua irmã, Marcela perde também toda a noção de realidade e coerência. Em sua vidinha cotidiana, ignorada pelo marido e filhos, entre muitas plantas, ela passa a alucinar com a falecida e outros parentes que não temos certeza se ainda estão por aqui. O luto se transforma em transe e desordem que apenas nós percebemos e angustiantemente vivenciamos com Marcela em FAMÍLIA SUBMERSA (Familia Sumergida, 2018). Culpa de Mercedes Morán: meio a tantas nuances criadas com facilidade por ela, consegue - com o olhar - transmitir o vazio e a melancolia que ocupa a maior parte do personagem, bem como do filme de Maria Alché, e isso, por vezes, é tanto que cansa. O up em sua vida só vem quando Nacho aparece, mas não a tempo de recuperar o interesse perdido depois de tanta monotonia.
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Dogman
3.7 113 Assista AgoraA gente fica roendo as unhas e com o estômago preparado para acontecer o que descreve a sinopse e... nada! Não é que DOGMAN (2018) não nos deixe apreensivo, mas a história não é bem essa. É um trabalho que envolve vários sentimentos: ora estranho, ora triste, pode ser também engraçado ou angustiante, a depender do que acontece com Marcello, o dono de um pet shop tão cinza e degradado quanto a cidade italiana em que vive. É um lugar onde tudo parece apodrecer e onde o brutamonte Simone faz e acontece, oprimindo todos os moradores, principalmente o frágil Marcello. A serviço do estudo de um personagem tão cheio de camadas, Marcello Fonte mais do que basta e assim carregará mais do que Dogman nas costas.
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Deixando Neverland
3.4 245Como fã, acreditar em DEIXANDO NEVERLAND (Leaving Neverland, 2019) é uma árdua tarefa. Um dos documentários mais polêmicos do ano, traz novas alegações de abuso sexual a menores de idade praticado por Michael Jackson. Com recursos amadores, Dan Reed afirma, através de entrevistas angustiantemente detalhadas de dois homens que teriam sido vítimas quando crianças, e suas famílias, que o paraíso de diversão do Rei do Pop, a famosa Neverland, era, na verdade, palco de exploração infantil. Nem de longe, trata-se de um escândalo. Em 1993, Jackson foi acusado pela primeira vez pela família de um garoto de 13 anos, sendo o caso resolvido fora dos tribunais. Em 2005, ele foi inocentado pelo júri em outra ação relacionada a um garoto da mesma idade. Dessa vez, é Michael contra as acusações de Wade Robson e James Safechuck, trabalhadas sob perspectivas separadas, mas ambas ocorridas nos anos 1990. Um processo de mão única. Nem se vivo fosse, o pop star teria chance de se defender. O cineasta britânico não dá brecha para o contraditório, afastando sua obra do jornalismo investigativo sobre o comportamento de uma celebridade e transformando em um chocante testemunho de abuso sexual. Não é fácil assumir o papel de vítima aqui, muito menos manchar a idolatria de uma personalidade como ele, mas também é impossível que Deixando Neverland não deixe ao menos a impressão de que algo muito estranho se passava na cabeça de Michael Jackson.
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Duas Rainhas
3.4 344 Assista AgoraHistoricamente impreciso, DUAS RAINHAS (Mary Queen of Scots, 2018) não deixa de ser um drama sobre duas mulheres ferozmente independentes fazendo valer suas vozes em um mundo que era (e ainda é) manipulado por homens ambiciosos e obscuros. Entre muitas intrigas, rivalidade e traições, temos Saoirse Ronan como a bela e determinada Mary do título, Rainha da Escócia, ao lado de Margot Robbie como Elizabeth I, da Inglaterra, relegada aqui à feiura de um papel de apoio, mas muito eficaz. O fim de Mary já conhecemos, bem como o cabo de guerra sangrento entre elas, no entanto, a obra de Josie Rourke concentra suas forças nas maquinações patriarcais para o trono escocês, e fica mais interessante quando traça um paralelo com as mulheres no poder de hoje. É esse eco contemporâneo que salva Duas Rainhas de um roteiro morno e duvidoso, e paga o seu ingresso.
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Mademoiselle Vingança
3.2 73 Assista AgoraMADEMOISELLE VINGANÇA (Mademoiselle de Joncquières, 2019) é uma trama de época como pouco vemos. Vagamente inspirado em um conto de Denis Diderot, Emmanuel Mouret desenrola um plano elaborado para vingar a imperiosa Madame de La Pommeraye do sofrimento causado pelo libertino Marquês de Arcis, que não se cansa de cortejar e descartar mulheres de respeito (ou nem tanto). Em um cenário bucólico, há certo prazer em ver pessoas manipulando pessoas, mas muito tempo é gasto até que a dona do título quebre o silêncio e torne o terceiro ato a parte mais interessante. Mademoiselle Vingança é uma espécie de Ligações Perigosas francês; bom, traz lições para um e outro lado, mas tinha potencial maior do que ser apenas um prato que se come frio.
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