"Jean-Pierre Jeunet é desses diretores que gostam de enganar o espectador. Em todos os seus filmes, em absolutamente todos, o diretor insere armadilhas e truques para que o teor dos enredos com os quais trabalha sejam mais amenos. Às vezes essas artimanhas estão interligadas a concepção visual do longa, outras vezes na mudanças abruptas de direção e temática que suas estórias tomam.
Uma Viagem Extraordinária (L’Extravagant Voyage Du Jeune Et Prodigieux T.S. Spivet, 2013) une essas duas características e as transforma numa coisa só. Isso porque ele Jeunet maqueia os contornos sombrios do longa – que fala, entre outras coisas, sobre morte, luto e culpa – com entusiasmo, cor, e estranheza; e só revela as reais intenções do que conta (mesmo dando pistas durante toda a projeção) no final."
Se você jogar Gravidade (Gravity, 2013) no Google, conversar com alguém que viu o filme ou pegar qualquer publicação impressa que fale sobre ele, é bem provável que encontre críticas calorosas, comentários animadores e uma porção de gente dizendo o quanto o longa é fantástico e como ele é, de longe, o melhor do ano.
Longe de ser alvo de um mero surto coletivo, Gravidade é tudo o que andam dizendo. E mais um pouco.
Contando a história de Ryan (Sandra Bullock), uma pesquisadora que “se perde” no espaço, Alfonso Cuarón, o diretor, alcança a perfeição e o sublime. Controlando o filme com uma precisão absoluta, o realizador faz sua câmera flutuar, coreografa o desespero, tira o melhor de suas imagens, usa a música como complemento intrínseco ao que mostra, entende o pavor de suas personagens e arranca de seus atores atuações esplendorosas, além de criar algumas das sequências mais tensas da história do cinema e entregar um final arrebatador – em todos os sentidos da palavra.
Sem medo de ousar (ou de errar), Cuarón leva sua protagonista e a si mesmo ao extremo. Em longos takes onde a câmera dança e com uma abordagem nada convencional (a maneira com que ele mostra a sensação de claustrofobia de Ryan, em um close que gruda no capacete e delimita o que ela sente e o que ela vê, por exemplo, é inventiva e extremamente funcional), o diretor ultrapassa seu próprio nível de excelência ao criar sequências (e planos sequências) incríveis. Tão incrível quanto é a maneira com que ele monta cada cena e distribui em meio a ação momentos que reveladores sobre a mulher que está solta no espaço.
Quando assisti As Vantagens de Ser Invisível (The Perks Of Being A Walflower, 2012) no cinema, a seção estava repleta de pessoas que pareciam mais interessadas em qualquer outra coisa do que no filme em si. Três meninas que conversavam sem cessar – e permaneceram assim por um bom tempo mesmo após o começo do filme; um casal que só queria se pegar; um tiozinho que demorou trinta anos pra conseguir abrir um pacote de Baconzitos. Do outro lado da sala, um rapaz solitário que parecia ser o único a prestar atenção no filme.
Em determinado ponto, não deu pra não notar: eu olhei para os lados, e estava todo mundo tão vidrado que nem mesmo parecia a sala de um tempinho atrás. As Vantagens de Ser Invisível é assim (e vale lembrar, é um mérito também do livro que o originou): tem esse poder de imersão muito maior do que qualquer um pode pensar num primeiro contato.
Principalmente porque Stephen Chbosky (autor do livro e diretor do longa) se aproxima tanto do espectador com a história do garoto Charlie (Logan Lerman) – que aos 15 anos vê sua vida sofrer as reviravoltas típicas da idade, mas com alguns traumas a mais – que a gente quase se sente parte de sua turma de outsiders, como se tivesse essa idade outra vez. Ou se recorda de ter vivido situações semelhantes à aquelas pelas quais ele passou.
Tudo que é mostrado na tela é muito vivo – e vibrante mesmo em seus momentos mais tristes. Talvez porque haja carinho pela trajetória dos jovens que protagonizam o filme; há a preocupação de que tudo seja contado sem pressa, sem atropelar os detalhes que fazem a gente compreender e sentir o que rola; e uma tensão muito espontânea que permeia todos os acontecimentos. Não me refiro à “tensão hollywoodiana”, que existe para criar um clima de susto ou terror, mas quela apreensão natural da vida, que surge em momentos bons e ruins, quando a gente se pergunta qual será o futuro das coisas.
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Expedição Kon-Tiki é mais uma aventura onde vemos o homem sendo desafiado pela natureza. Mas Joachim Rønning e Espen Sandberg, os diretores, afastam seu filme de qualquer pessimismo inerente ao gênero. A ausência de sexo, violência e cinismo fazem parecer que o longa foi rodado num contexto otimista pós-Segunda Guerra Mundial e não apenas ambientado nesse cenário.
No ano de 1947, o etnógrafo norueguês Thor Heyerdahl (Pål Sverre Hagen), decide iniciar uma expedição (suicida) para provar a sua teoria de que a Polinésia, há muitos séculos, era povoada por sul-americanos, que viajaram cerca de 5000 mil quilômetros pelo Oceano Pacífico. Essa hipótese, claro, parece absurda a todos que poderiam financiar a expedição. Thor, porém, está decidido a provar o seu ponto, o que significa que ele vai viajar numa balsa feita de madeira e utilizando tecnologia primitiva. Afinal, essa mesma viagem foi feita pelos sul-americanos aproximadamente 1000 anos antes e se apoiar em artifícios modernos seria trapacear e invalidar a hipótese.
E é basicamente isso o que Expedição Kon-Tiki conta: acompanhamos os 101 dias que Thor e sua equipe (composta por cinco pessoas, cada um com uma função diferente) viajaram pelo mar enfrentando tempestades, tubarões famintos e o tédio da expedição. Embora a história – e o seu desfecho – sejam conhecidos devido ao documentário e ao livro publicado por Hayerdahl em 1951, o longa ainda consegue criar alguns momentos emocionantes, que estão mais relacionados a aspectos técnicos do que a sua premissa. A fotografia exuberante e moderna, de um azul acentuado, e a inquietação das tomadas envolvendo tempestades e tubarões roubam a atenção completamente para si, de modo que quando a gente termina de assistir a Kon-Tiki fica pensando se viu algo além disso.
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Semana passada eu estava descendo a Rua Augusta para encontrar alguns amigos quando um sujeito me abordou. Ele estava meio sujo, meio cambaleante, e me pediu uns trocados. Disse que não tinha nada e continuei a andar. Ele me parou de novo e falou que queria dinheiro para beber. Perguntei se era pra cachaça. Ele confirmou que sim. Então esvaziei meus bolsos e entreguei a ele todos os (poucos) trocados que eu tinha.
RED – Aposentados e Perigosos (RED, 2010) era mais ou menos como esse bêbado. Ele era um filme que era honesto com a gente, que não queria nos enganar ou parecer que era maior do que de fato era. Era um filme que abraçava sua verve absurda e exagerada sem se preocupar com verossimilhança ou dar importância demais a história. Era um filme que sabia que sua graça residia nas explosões mais barulhentas, nos diálogos mais engraçados, no ritmo mais alucinante, e em Helen Mirren segurando metralhadoras. Era um filme que, basicamente, pedia dinheiro para comprar cachaça. E a gente dava.
Todos os acertos da obra pareciam que seriam repetidos em RED 2 – Aposentados e Ainda Mais Perigosos (RED 2, 2013): o elenco original retornava (quase que) integralmente, as sequências de ação que o trailer denunciava pareciam curiosas e a química entre os atores e personagens parecia continuar. Todavia, em algum momento de seus excessivamente longos 116 minutos, RED 2 demonstrava um cansaço que não estava presente em sua gênese. E o que era divertido, começou a se tornar enfadonho.
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Como RED 2 – Aposentados e Ainda Mais Perigosos estreia no cinema ainda essa semana, a gente resolveu rememorar o seu antecessor para lembrar a todos vocês o quão divertido esse filme é.
Primeiro, eu preciso apontar para o óbvio: o elenco. John Malkoviclh e Helen Mirren dispensam as minhas apresentações porque são brilhantes; Bruce Willis é o rei das caras de constipação, que caem tão bem no protagonista de RED (e eu tenho um pouco de dificuldade pra aceitar filmes onde tudo explode e o protagonista sai ileso sem a presença dele); e Mary-Louise Parker é talentosa e já provou isso com Tomates Verdes Fritos e todos os seus anos protagonizando Weeds.
Segundo, Red tem senso de humor, o que fica mais evidente pela presença de uma personagem como Sarah (Parker). Ela parece pensada para funcionar como a mocinha idiota. Aquela que é tão tapada e tem tão pouca noção da dimensão dos eventos nos quais, acidentalmente, acaba se envolvendo que você passa o filme inteiro temendo pela sua segurança e dividido entre rir ou ficar apreensivo em cada cena que ela manifesta a sua vontade de estar no olho do furação. Marvin (Malkovich) é a personificação da paranoia e todas as sequências que ele reage exageradamente são hilárias. Além disso, ele funciona como uma maneira de debochar de todos os filmes de ação onde ex-agentes da CIA (ou FBI) aparecem como pessoas que desenvolveram uma série de sequelas devido ao seu tempo no serviço. O restante do efeito cômico fica por conta de Victoria (Mirren) simplesmente porque é Helen fucking Mirren fazendo papel de uma assassina eficiente, pegando em armamentos pesados e sendo extremamente boa nisso. Não dá pra assimilar a Rainha fazendo esse tipo de coisa.
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Os entusiastas dizem que o filme é uma reflexão melancólica sobre a juventude dos excessos. Os detratores defendem que ele não passa de um engodo pseudo-reflexivo. Os cinéfilos abraçam o delírio colorido em neon como sendo um exercício de estilo (o plano sequência que mostra o primeiro assalto das garotas, filmado do ponto de vista da guria que fica no carro, é irrepreensível sob muitos aspectos). E há ainda quem se prenda a ideia de que tudo consiste basicamente numa desculpa para mostrar Vanessa Hudgens, Selena Gomez, Ashley Benson e Rachel Korine de biquíni.
E se querem saber, todo mundo está certo. Porque Spring Breakers – Garotas Perigosas (Spring Breakers, 2012) consegue ser tudo isso. Tudo isso (e arranhar) um pouco mais.
O espetáculo começa logo na abertura. Skrillex na trilha, jovens bonitos no vídeo, e uma edição louca, muito louca, que nos deixa no escuro em relação a intenção do que estamos vendo. A bebida, as drogas, as mulheres subjugadas e os corpos desnudos representam o que exatamente? O que assistimos é uma crítica? É um retrato da realidade? Ou apenas um recorte machista e fetichista de um autor que não sabe bem o que dizer? A resposta surge nos trechos seguintes quando conhecemos as protagonistas. Imersas em uma vida tediosa num subúrbio do interior, elas almejam fazer parte das festas e celebrações que vimos nos primeiros minutos.
Conseguir viajar, como uma das próprias defendem, significa muito mais do que sair de férias. Para elas, no contexto em que vivem, spring break significa viver, jogar fora o tédio que preenche o cotidiano e, quem sabe, dar sentido a vida. Essa perspectiva meio inocente parece excessivamente didática quando verbalizada. E o que poderia ser um defeito do roteiro, assinado pelo próprio Harmony Korine, se torna uma pista sobre o olhar de seu realizador. Quando ele faz sua personagem dizer isso ou quando mais a frente ele a força a falar que queria congelar aquele momento para sempre, para, na sequência, fazer com que as amigas dela debochem de suas palavras por meio de sorrisos tortos e olhares, ele escancara que o motor das ações de grande parte de suas crias não é encontrar sua essência – é apenas se divertir.
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Se durante a crise de meia idade algumas pessoas compram carros caros, passam a ir para a balada e se comportar como se tivessem 10 anos a menos, fazem alguma mudança radical no visual e estilo de vida ou trocam seus amigos da mesma faixa etária por pessoas consideravelmente mais jovens, David (Hugh Laurie) leva a coisa para outro nível: ele começa a ter um caso com a filha rebelde de seu melhor amigo, Terry (Oliver Platt), que retorna depois de cinco anos viajando por aí sem dar notícias ou aparecer na cidade. É que a vida higiênica e regrada dos subúrbios não interessava mais a Nina (Leighton Meester) e ela decidiu ver o mundo sem se preocupar com o que deixou para traz. Mas, depois de uma situação extrema, ela decide retornar a casa de seus pais.
E é aí que ela percebe que o seu vizinho da vida inteira (e pai de sua ex melhor amiga) é mais interessante que os caras com os quais se envolveu ao longo da vida. Ele é maduro, engraçado, não julga o seu comportamento (o que seus pais fazem a todo o tempo) e se mostra disposto a ouvir. Dessa forma, o envolvimento ocorre de forma natural e gradual. David e Nina são as duas pessoas que se encontram desconfortáveis com a vida dos subúrbios e não têm medo de fazer algo novo, algo que os desprenda daquela rotina apática.
O casamento dele não vai bem há muito tempo e sua mulher, Paige (Catherine Keener), é controladora e segue os mesmo hábitos desde sempre. Nina, por sua vez, se encontra perdida há um tempo considerável. Não sabe o que deseja fazer com a sua vida e não parece nem um pouco perto de descobrir. De certa forma, David também está perdido: sua única certeza consiste no fato de que não pode mais continuar levando a mesma vida de sempre e que estar perto da garota é certo naquele momento. E, depois de tentar ignorar a química perceptível, os dois decidem mandar tudo às favas e viver o que tem para viver.
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Muita gente disse que O Lado Bom da Vida (Silver Linings Playbook, 2012) era um filme superestimado. Disseram que o longa era uma comédia romântica comum. Falaram que oito indicações ao Oscar era um exagero. Indagaram o que é que ele tinha demais.
Entendo, entendo de verdade toda a desconfiança ao redor dele. Porque se a gente for pensar, O Lado Bom da Vida segue à risca a cartilha que foi moldada pelo gênero desde os primórdios do cinema: temos um mocinho que não se dá bem com a mocinha, temos uma situação aleatória que os “obriga” a conviverem juntos, temos um rompimento lá pelo terceiro ato e, no final, (ah, qual é, vai dizer que você não sabia que eles ficariam juntos?) o mocinho corre desesperado atrás da mocinha. E o beijo, claro. Não podemos esquecer o beijo. Então, torno a pergunta: se ele é tão mais do mesmo, por que é que ele chamou tanta atenção?
Indo além do lobby, dá pra dizer que ele chamou a atenção por, de certa forma, subverter o gênese da comédia romântica. Mesmo emulando todos os passos já manjados, O Lado Bom da Vida é instantemente diferente por causa de suas protagonistas. Eles não sonham com pessoas perfeitas. Eles não querem um grande amor. Na verdade, eles parecem reais. E são absurdamente pirados. Assim, no sentido clínico da coisa. Ele (Bradley Cooper) está preso em um sanatório depois de atacar o amante de sua ex-esposa. Ela (Jennifer Lawrence), por sua vez, vive um intenso período de luto. Os dois estão quebrados. Cada qual a sua maneira procuram um jeito de colocar a vida no eixo e ter de volta o que um dia tiveram. E, no meio tempo, rola chance de trocar farsas, ofensas, discutir visões de mundo (a protagonista feminina disse que transou com todo mundo do escritório em que trabalhava para preencher o vazio que sentia – e a personagem de Cooper ao ouvir isso a chamou de vadia) e até agredir fisicamente seus pais (sério, que outro filme dito como comédia romântica tem isso?).
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Lua de Cristal é um conto de fadas moderno. Pensem comigo: inicialmente, nossa heroína, Maria da Graça (Xuxa), é torturada por sua tia Zuleica (Marilu Bueno) e sua prima Lidinha (Julia Lemertz), o que nos remete à história da Cinderela. Porém, Zuleica dá a Maria uma maçã assim que ela chega à sua casa no Rio de Janeiro e, constantemente, se olha no espelho e dispara o clássico “Existe alguém no mundo mais bonita do que eu?”, numa referência clara à madrasta da Branca de Neve. E há também um príncipe encantando, cuja presença é antecipada por sonhos antigos de Maria da Graça, mas que se materializa na forma de Bob (Sérgio Malandro).
Porém, se mostrando uma mocinha de contos-de-fadas bem moderna, a protagonista não sonha apenas com o casamento: ela sonha em ser cantora e em vencer na cidade grande, o que nos rende um dos diálogos mais emblemáticos da história do cinema nacional. Sua mãe, Cotinha, desesperada por ver a filha sofrendo tanto e se submetendo a humilhações para realizar o seu sonho, dispara: “Maria da Graça, minha filha, volte” e escuta a réplica “Não, mãe. Eu vou ficar, eu vou vencer”.
Rico em recursos para explorar o passado, efeitos especiais e momentos cômicos, Lua de Cristal se tornou um verdadeiro clássico do cinema brasileiro e revelou o talento da queridinha do Brasil (na época) para atriz. Interpretando uma personagem que em muito se assemelha a ela (percebam a referência sutil no nome da protagonista de Lua) Xuxa mostra desenvoltura para dar vida à mocinha desprotegida, mas decidida. Tanta desenvoltura que reprisaria o mesmo papel durante toda a sua extensa filmografia, apenas variando a profissão e o sonho da protagonista de seus longas.
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Você está levando a sua vida sem graça, sendo consumido pelos mesmos pensamentos e sensação de fracasso de sempre, no mesmo lugar que você frequenta desde que se lembra de existir e um sujeito que você nunca viu na sua vida senta do seu lado e te faz uma proposta completamente estranha. Ele te diz que se você topar voltar para qualquer época da sua vida e passar 10 anos lá, com o conhecimento que tem agora, no fim dos 10 anos você poderá retomar as suas atividades cotidianas com um milhão de dólares a mais na conta bancária. E aí, como você não está fazendo nada mais útil, a proposta se torna tentadora. Ela pode funcionar como uma maneira de reparar os erros do passado. E pode te ajudar a responder os vários “e se…” que ecoam na sua cabeça e te fazem achar que algumas das suas escolhas foram estúpidas. Assim, eu não consigo imaginar um cenário em que voltar para um corpo mais jovem com uma mente amadurecida não soe tentador.
Esse é o ponto de partida do longa Querida, vou comprar cigarros e já volto. Baseado em um conto inédito do escritor argentino Antônio Laiseca (que aparece no filme para nos contar partes da história), percebemos desde a primeira cena – que nos apresenta o Imortal (Eusebio Poncela) – o caráter fantástico e cômico da história. O Imortal nada mais é do que um homem que foi atingido por um raio, morreu, foi atingido por um segundo raio e voltou a viver com poderes especiais. Antes que isso acontecesse, ele era um mercador. E como negociar era mesmo o seu talento, depois de se tornar imortal, ele não o abandonou e anda pelo mundo fazendo essa mesma proposta a pessoas diferentes, cujos pensamentos chamam a sua atenção.
Quando conhecemos Ernesto (Emilio Disi), o personagem principal de Querida, fui comprar cigarros, notamos instantaneamente que ele é simplório. Mas, após o seu contato com o Imortal e volta no tempo, ele parece pensar que pode mudar alguma coisa ou se tornar alguém especial. Em sua primeira viagem no tempo, ele tenta impedir o 11 de setembro. Na segunda, ele rouba a autoria da canção Imagine. Embora essas primeiras viagens sejam responsáveis por uma grande porcentagem do efeito cômico do filme, é a terceira, cujo conteúdo é bem mais cáustico (mas não deixa de ser engraçado. De um jeito perverso e quase sádico, mas engraçado), que as intenções tanto do escritor – que parece se divertir quando Ernestito se dá mal – quanto de uma espécie de “moral da história” se evidenciam.
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Andam dizendo por aí que Amor Pleno (To The Wonder, 2012) é uma espécie de continuação de A Árvore da Vida (The Tree Of Life, 2011), o projeto anterior de Terrence Malick. Talvez seja mesmo. A proximidade estética e temática de ambos os longas é assombrosa – embora o foco de cada filme seja diferente. Enquanto A Árvore da Vida discutia a origem da – duh! – vida e o que movia as pessoas (a graça ou a natureza), Amor Pleno versa sobre a mesma coisa – mas num microcosmo, cujo o ambiente são as relações interpessoais de suas personagens.
No início do filme, escutamos Marina (Olga Kurylenko, esplêndida) narrar, enquanto a vemos sorridente e saltitante numa praia com Neil (Ben Affleck), o quanto o que ela sente por aquele homem é importante. O quanto tudo aquilo significa, para ela, um renascimento. Em contrapartida, percebemos que Neil também a ama, mas ao contrário dela, que devota sua toda sua vida em torno do que sente, ele não consegue lidar ou aceitar muito bem tudo isso. Mesmo assim, Neil decide convidar Marina e Tatiana (Tatiana Chiline), a filha dela, para irem morar nos Estados Unidos.
A visão que a personagem de Olga tem da vida que leva é resultado da idealização do que sente. Para ela, os Estados Unidos parecem ser um país justo, rico e limpo. E ali há oportunidades. Se contrapondo a isso, Neil encara em seu trabalho mazelas ambientais que provocaram doenças em famílias pobres que foram expostas a radiação e compostos químicos. Quintana, um padre, visita esses locais não tão brilhantes. Consciente de que há uma força maior do que ele e do que de todos, ele nunca duvida de sua fé – mas questiona as razões de seu deus não se mostrar. A vida e os dilemas dessa personagem acabam funcionando como um comentário da história principal. E nesse ponto notamos que a distância que separa A Árvore da Vida de Amor Pleno é muito menor do que imaginávamos – uma vez que todos os personagens buscam, de alguma forma, uma espécie de complemento que conceda a alegria completa a seus dias (o padre busca isso em Deus, e a francesa no amor).
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Filmes tratando a respeito de catástrofes ambientais, quase sempre, fazem sucesso. Só para citar um exemplo recente, pensem em O Impossível (The Impossible, 2012), nas boas críticas recebidas, nas indicações a prêmios.
Outro gênero que sempre faz sucesso é aquele onde animais selvagens atacam uma determinada comunidade ou cidade, espalhando o pânico e fazendo com que um sujeito corajoso tome o posto de líder e salvador da pátria. Sejam piranhas, porcos (sério, clica aqui), pássaros, ursos, jacarés ou, o mais temível animal de todos em filmes do tipo, o tubarão, o fato é que essas produções, por alguma razão obscura (menos no caso de Os Pássaros, que toda atenção é completamente justificável) fazem sucesso.
E aí, o canal SyFy, muito espertão, decidiu que seria uma boa misturar catástrofes ambientais com eco-terror (isso existe?). Se você está se perguntando como isso pode ser possível, eu te explico: uma tempestade terrível está prestes a cair sob cidade de Los Angeles. Até aí, ok, plausível. Mas essa não é uma tempestade qualquer: ela virá acompanhada de tornados. E os tornados, por sua vez, vão vir acompanhados de tubarões. Sim, você leu certo. É que uma corrente de ar quente, fez com que todos eles migrassem para a região de L.A e, quando o tornado passa pelo oceano, tem tanto tubarão, mas tanto tubarão, que ele carrega alguns para as ruas da cidade. Não é incrível? Pois então! E só melhora.
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Eu gosto de comédias românticas porque você pode fazer quase qualquer coisa dentro desse gênero. De Noivo Neurótico, Noiva Nervosa (Annie Hall, 1977) a, sei lá, os filmes da Katherine Heigl. Nem tudo mantém o mesmo padrão de qualidade, eu sei, mas aí já não tem a ver com o gênero. Tem a ver com enfoque, com roteiro, com os atores envolvidos, blábláblá. E hoje em dia, por mais que o gênero já esteja desgastado, de vez em quando surgem umas coisas interessantes, tipo Ruby Sparks – A Namorada Perfeita (Ruby Sparks, 2012) que me fazem não perder completamente as esperanças e sempre dar uma conferida nos lançamentos.
Lá nas décadas de 80 e 90, já não era exatamente uma novidade fazer comédia romântica, já existiam coisas como A Loja da Esquina (The Shop Around The Corner, 1940) que exploravam muitos dos elementos (hoje batidos) desse tipo de produção. Mas ainda havia algum frescor. Ainda havia mais originalidade e não parecia que tudo havia se padronizado, sendo salvo ocasionalmente por um longa com algum brilho. E Harry e Sally – Feitos Um Para O Outro, ilustra bem os acertos das comédias românticas
Hoje pode ser considerado clichê apostar em “será que homens mulheres podem mesmo ser amigos?” para construir um filme, mas acredito que o clichê tenha começado exatamente nesse filme. Porque a coisa dá tão certo e flui tão naturalmente que apesar de ser uma pergunta boba para o expectador de hoje, ela ainda ecoa enquanto você assiste a Harry e Sally. É claro que dá pra ter um amigo do sexo oposto, mas as afinidades entre os protagonistas (vividos por Billy Crystal e Meg Ryan), assim como a química entre os dois levam a gente a pensar que eles deveriam levar a relação para outro nível. Mais ou menos como os seus pais pensam ao te ver conversando com aquele amigo/amiga inseparável, que entende suas esquisitices e completa as suas frases.
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A Visitante Francesa é um filme bastante simples. Trata-se de três variações da mesma história, cujos elementos são: uma estrangeira chamada Anne (Isabelle Huppert sendo encantadora), um salva-vidas sem muitos traquejos sociais, um cineasta e sua mulher grávida, um farol, um guarda-chuva e variações climáticas. Em cada um dos momentos esses elementos assumem papéis diferentes e importâncias diferentes, que vão cooperar para que se tenha um olhar diferente acerca dos mesmos fatos.
O farol é sempre o lugar para onde alguém quer ir e, no trajeto, há sempre a presença do salva-vidas – que saberá ou não dar informações. E os demais elementos, com o guarda-chuva, surgem com propósitos diferentes dependendo do que se deseja contar. Alguns podem pensar que se trata de três histórias diferentes cujo protagonismo é de uma mulher chamada Anne. Mas, por terem sido construídas em cima das mesmas coisas, a impressão que eu tive foi de uma espécie de efeito borboleta. É como se Hong Sang-soo, o diretor, desejasse dizer “se você alterar esse detalhe aqui na personalidade de Anne, isso acontece desse jeito”, “se a frase a fosse dita ao invés da b, isso daqui seria engraçado” ou “se você alterar o lugar onde o guarda-chuva está no momento x, isso vai se desdobrar da maneira y”.
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Pessoas com habilidades especiais são apresentadas uma a uma. Aos poucos, elas são recrutadas e passam a agir em prol de um único objetivo – no caso, um grande roubo. Conforme a narrativa avança, a gente conhece detalhes do golpe que os mocinhos (bandidos?) tencionam aplicar e fica de cara com a complexidade da execução. E aí… Boom! Surpresa! Boom! Mais surpresa! Boooom! Surpresa de novo!
Diante de nossos olhos eles ludibriam seus oponentes e nos surpreendem. A descrição parece genérica? É, eu sei. A fórmula é batida. Mas a graça de Truque de Mestre (Now You See Me, 2013) é usar os clichês a favor de sua narrativa e transformar certos subterfúgios (como reviravoltas e indagações do tipo “como ele fez isso?) em mecanismos orgânicos e sinceros – graças a curiosa decisão de fazer de seus mocinhos (ou bandidos) personagens de um universo bastante particular: o da magia.
Tendo como guias quatro tipos bem diferentes, somos levados no escuro em uma jornada empolgante e divertida. Em linhas gerais, Truque de Mestre fala sobre essas quatro pessoas que trabalham com magia e que são recrutadas para fazerem grandes shows. Em um deles, eles conseguem o feito de roubar um banco em outro continente. Para a polícia, admitir que isso ocorreu é tratar a mágica como algo “possível” (o que seria um desastre). Tendo essa implicação em mente, cabe a uma novata da Interpol (Mélanie Laurent) e a um detetive avesso à mágica (Mark Ruffalo) descobrirem o que aconteceu de verdade. Em paralelo, uma espécie de Mister M (Morgan Freeman) estuda os movimentos do quarteto a fim de desmascará-los e um ricaço que financia os números (Michael Caine) parece querer que a coisa continue.
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Fui assistir à Minha Mãe É Uma Peça – O Filme praticamente sem saber do que se tratava. Sabia que era baseado na mãe de Paulo Gustavo, que também assina a peça teatral de mesmo nome e no longa atua como Dona Hermínia, e que Paulo Gustavo fazia a Senhora Dos Absurdos. Assim, não criei quaisquer expectativas porque eu não tinha material para cria-las e saí do cinema bem satisfeita com o que encontrei.
Pautado num humor fácil, no sentido de que as piadas podem não ser elaboradas e nem tão inéditas, mas são eficazes, Minha Mãe É Uma Peça traz personagens cotidianos: é a perua que se casou o ex-marido (Herson Capri sendo o tiozão gostoso de novo) da protagonista (uma Ingrid Guimarães repetindo a personagem com a qual já está acostumada); a filha que sofre bullying da própria mãe por seu peso (Mariana Xavier); o filho homossexual (Rodrigo Pandolfo); o filho mais velho perfeito e distante (Bruno Bebiano); a síndica e a vizinha insuportáveis; a tia (Suely Franco) que serve como muro de lamentações e conselheira…
Falando assim, parece que Paulo Gustavo, que roteirizou o longa, e André Pellenz, o diretor, se apoiaram milhares de clichês e criaram um produto final sem brilho. Mas não é isso. Minha Mãe É Uma Peça funciona exatamente porque opera num nível óbvio. Porque seu senso de humor não possui qualquer refinamento, mas tem apelo popular e é universal: toda família tem um que é________. E aqui você pode completar a frase com qualquer uma das características citadas: gay, gordo, perua, tiozão gostoso… E toda mãe é um pouco dona Hermínia. Em maior ou menor escala, mas ameaças de buscar os filhos num bar, quando ainda não são nem 22:00, estiveram presentes na vida de todo adolescente. Então, as piadas cumprem seu propósito porque você consegue se ver no lugar dos filhos de Hermínia e consegue reconhecer os dramas que sua própria mãe fez durante a sua adolescência.
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O Super-Homem é um dos personagens mais emblemáticos da DC, e do mundo dos quadrinhos em geral, e provavelmente uma das figuras mais lucrativas da indústria de entretenimento mundial. Ainda assim, recentemente a editora vinha encontrando dificuldade em emplacar o personagem no cinema, a falta de qualidade dos filmes era um problema, mas mais que isso, o Homem de Aço parecia não se comunicar com as novas gerações, seu personagem aparentemente obsoleto em uma época de heróis menos maniqueístas, mais ambíguos.
No entanto, após o sucesso estrondoso da releitura que Christopher Nolan fez do Batman e da Marvel ter vendido, com relativo sucesso, o Capitão América (ainda mais anacrônico que o Super-Homem) uma nova tentativa se tornou inevitável. Confesso que fiquei surpresa quando um projeto desse tamanho foi parar nas mãos de um diretor que acabava de sair de um fracasso tão absoluto (não por acaso, todo material de divulgação diz apenas “do diretor de 300 e Watchmen“) e cuja fama nunca foi das melhores. Mas Zack Snyder, com supervisão de Nolan é preciso dizer, assumiu o trabalho de finalmente tornar o Super-Homem um blockbuster.
E Homem de Aço faz exatamente isso: ele torna o personagem palatável, viável para o público de hoje, menos patético e bom moço e entrega um filme com boas sequências de ação e altamente vendável. Não é que a direção exagerada e um tanto sem rumo de Snyder não esteja presente, ela está, mas a impressão é que o diretor foi posto na coleira e essa coleira foi entregue na mão de Nolan.
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No ano de 1990, a italiana Eluana Englaro sofreu um acidente de carro. Esse acidente a deixou em estado vegetativo e fez com que a sua família entrasse com um pedido para que os tubos de alimentação fossem removidos e ela pudesse morrer de um modo natural. O pedido, porém, foi recusado e o que se seguiu a ele foi uma briga judicial, agravada pela presença de grupos pró e contra eutanásia do lado de fora do hospital onde a moça se encontrava. Então, 17 anos depois, a decisão judicial foi revertida e a família de Eluana conquistou o direito de desligar os aparelhos responsáveis por mantê-la viva.
A história de Eluana Englaro é o motor do último longa de Marco Bellocchio, A Bela Que Dorme. O diretor, que sempre busca colocar situações importantes para a história de seu país de origem em seus filmes, cria uma história multinuclear, onde cada um de seus personagens lida com a morte eminente de um ente querido à sua maneira. A religião, sempre muito importante para os italianos, assume um papel primordial nas histórias, mesmo quando as personagens nem têm consciência de que desempenham alguns papéis porque, em algum nível, a religião disse que deveria ser assim.
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Sem dúvidas, você vai ver filmes melhores do que Renoir esse ano. Mas as chances de você assistir a algo tão bonito quanto, do ponto de vista imagético, são pequenas. Os cenários e a fotografia do longa são tão bonitos que chegam a comover. Não consigo imaginar alguém olhando aquelas paisagens, marcadas por tons amarelados que transmitem a sensação de constante luminosidade, e não desejando habitar o universo das personagens. E quando você percebe que é tudo criação – tanto de Giles Bourdos, roteirista e diretor do longa, quanto do cinematógrafo Ping Bing Lee (que também é responsável pelo lindíssimo Amor À Flor Da Pele) -, dá pra sentir uma pontinha de frustração.
Claro, aquelas paisagens existem em algum canto da França. Mas não existem salpicadas de tons dourados e não com aquelas cores cuidadosamente pensadas. Nem com os personagens bem caracterizados (e, algumas vezes, sem caracterização nenhuma). A sensação que se tem assistido ao filme é a de se estar preso em uma pintura de Renoir (vivido por Michel Bouquet). Mas é uma impressão mais temporal e espacial do que uma descrição literal das telas do pintor. O filme inteiro combina perfeitamente com uma frase dita por seu personagem título em determinado momento: “Há coisas bastante desagradáveis na vida. Eu não preciso pintar mais coisas desagradáveis”.
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Até ontem eu nunca tinha ouvido falar em Boris Vian. Antes de ler o nome dele nos créditos de A Espuma dos Dias (L’Écume des Jours, 2013), aliás, achava que o longa partia de uma ideia totalmente original. Hoje, depois de pesquisar um pouco, vi que Boris foi um dos nomes mais marcantes da cultura contemporânea francesa. Há quem diga, inclusive, que dentro de seu país de origem o livro A Espuma dos Dias tomou o lugar de O Apanhador no Campo de Centeio o lugar ‘no coração de toda uma geração’.
O curioso nisso tudo é que depois que assisti ao filme, mesmo já sabendo que ele era baseado no livro de Vian, continuei pensando que se tratava de algo cem por cento autoral. Porque aquilo tudo que eu acabara de ver era Michel Gondry em seu estado mais puro. E quando digo aquilo tudo, meus amigos, estou falando de uma beleza plástica impressionante, de linhas escritas com ternura, e de imagens cheias de imaginação. E excessos.
Para criar um mundo fantástico que parece uma versão do futuro imaginada por alguém dos anos 40, Gondry conta com ferramentas que vão desde móveis especificamente projetados (a direção de arte é estupenda e enche os olhos com o design das peças e dos cenários) a animações em stop-motion. Toda essa alegoria visual combinada com uma câmera que não para e personagens exóticos (há um ratinho que interage com os protagonistas, um cozinheiro que também é mentor e advogado e um chefe de cozinha que vive dentro da tv/geladeira) causa um estranhamento gigante a princípio e promove um distanciamento forçado entre o espectador e as personagens. Tem tanta coisa acontecendo a todo o tempo em todos os espaços da tela que fica difícil se envolver. O que soa paradoxal, uma vez que nossa atenção cresce justamente por esses motivos.
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Celeste e Jesse Para Sempre (Celeste and Jesse Forever, 2012) é um filme bastante agridoce e mais duro do que parece. E isso é reforçado até pelo “para sempre” do título, que pode não representar exatamente aquilo que alguns espectadores vão esperar para o casal protagonista. Não é (500) Dias Com Ela (500 Days Of Summer, 2010), mas bem que poderia vir com um aviso semelhante ao que o filme de Marc Webb traz no começo. Porque “essa não é uma história de amor”. Ou pelo menos não apenas.
Dá pra resumir a sinopse dessa forma: Celeste e Jesse (Rashida Jones e Andy Samberg, com ótima química e defendendo muito bem, em cena, as diferenças que seus personagens possuem) formam um casal, vivendo o auge de sua vida de casados. Com o passar do tempo e com o convívio diário, Celeste frustra-se com o relacionamento e decide se separar do rapaz. Tudo é contado de forma ágil, numa sequência que passa como um slideshow tragicômico diante de nós. Ele não consegue superar o rompimento, e os dois continuam bastante próximos, mas como amigos. A situação muda quando Jesse encontra uma nova mulher e passa a reconstruir sua vida. Celeste está “empacada” na mesmice, reavalia o enlace que tiveram e percebe que, talvez, não deveria ter encerrado as coisas da maneira que fez.
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Uma Viagem Extraordinária
4.1 611 Assista Agora"Jean-Pierre Jeunet é desses diretores que gostam de enganar o espectador. Em todos os seus filmes, em absolutamente todos, o diretor insere armadilhas e truques para que o teor dos enredos com os quais trabalha sejam mais amenos. Às vezes essas artimanhas estão interligadas a concepção visual do longa, outras vezes na mudanças abruptas de direção e temática que suas estórias tomam.
Uma Viagem Extraordinária (L’Extravagant Voyage Du Jeune Et Prodigieux T.S. Spivet, 2013) une essas duas características e as transforma numa coisa só. Isso porque ele Jeunet maqueia os contornos sombrios do longa – que fala, entre outras coisas, sobre morte, luto e culpa – com entusiasmo, cor, e estranheza; e só revela as reais intenções do que conta (mesmo dando pistas durante toda a projeção) no final."
Crítica completa aqui: http://www.outrapagina.com/blog/uma-viagem-extraordinaria/
Gravidade
3.9 5,1K Assista AgoraSe você jogar Gravidade (Gravity, 2013) no Google, conversar com alguém que viu o filme ou pegar qualquer publicação impressa que fale sobre ele, é bem provável que encontre críticas calorosas, comentários animadores e uma porção de gente dizendo o quanto o longa é fantástico e como ele é, de longe, o melhor do ano.
Longe de ser alvo de um mero surto coletivo, Gravidade é tudo o que andam dizendo. E mais um pouco.
Contando a história de Ryan (Sandra Bullock), uma pesquisadora que “se perde” no espaço, Alfonso Cuarón, o diretor, alcança a perfeição e o sublime. Controlando o filme com uma precisão absoluta, o realizador faz sua câmera flutuar, coreografa o desespero, tira o melhor de suas imagens, usa a música como complemento intrínseco ao que mostra, entende o pavor de suas personagens e arranca de seus atores atuações esplendorosas, além de criar algumas das sequências mais tensas da história do cinema e entregar um final arrebatador – em todos os sentidos da palavra.
Sem medo de ousar (ou de errar), Cuarón leva sua protagonista e a si mesmo ao extremo. Em longos takes onde a câmera dança e com uma abordagem nada convencional (a maneira com que ele mostra a sensação de claustrofobia de Ryan, em um close que gruda no capacete e delimita o que ela sente e o que ela vê, por exemplo, é inventiva e extremamente funcional), o diretor ultrapassa seu próprio nível de excelência ao criar sequências (e planos sequências) incríveis. Tão incrível quanto é a maneira com que ele monta cada cena e distribui em meio a ação momentos que reveladores sobre a mulher que está solta no espaço.
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As Vantagens de Ser Invisível
4.2 6,9K Assista AgoraQuando assisti As Vantagens de Ser Invisível (The Perks Of Being A Walflower, 2012) no cinema, a seção estava repleta de pessoas que pareciam mais interessadas em qualquer outra coisa do que no filme em si. Três meninas que conversavam sem cessar – e permaneceram assim por um bom tempo mesmo após o começo do filme; um casal que só queria se pegar; um tiozinho que demorou trinta anos pra conseguir abrir um pacote de Baconzitos. Do outro lado da sala, um rapaz solitário que parecia ser o único a prestar atenção no filme.
Em determinado ponto, não deu pra não notar: eu olhei para os lados, e estava todo mundo tão vidrado que nem mesmo parecia a sala de um tempinho atrás. As Vantagens de Ser Invisível é assim (e vale lembrar, é um mérito também do livro que o originou): tem esse poder de imersão muito maior do que qualquer um pode pensar num primeiro contato.
Principalmente porque Stephen Chbosky (autor do livro e diretor do longa) se aproxima tanto do espectador com a história do garoto Charlie (Logan Lerman) – que aos 15 anos vê sua vida sofrer as reviravoltas típicas da idade, mas com alguns traumas a mais – que a gente quase se sente parte de sua turma de outsiders, como se tivesse essa idade outra vez. Ou se recorda de ter vivido situações semelhantes à aquelas pelas quais ele passou.
Tudo que é mostrado na tela é muito vivo – e vibrante mesmo em seus momentos mais tristes. Talvez porque haja carinho pela trajetória dos jovens que protagonizam o filme; há a preocupação de que tudo seja contado sem pressa, sem atropelar os detalhes que fazem a gente compreender e sentir o que rola; e uma tensão muito espontânea que permeia todos os acontecimentos. Não me refiro à “tensão hollywoodiana”, que existe para criar um clima de susto ou terror, mas quela apreensão natural da vida, que surge em momentos bons e ruins, quando a gente se pergunta qual será o futuro das coisas.
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Expedição Kon Tiki
3.9 283 Assista AgoraExpedição Kon-Tiki é mais uma aventura onde vemos o homem sendo desafiado pela natureza. Mas Joachim Rønning e Espen Sandberg, os diretores, afastam seu filme de qualquer pessimismo inerente ao gênero. A ausência de sexo, violência e cinismo fazem parecer que o longa foi rodado num contexto otimista pós-Segunda Guerra Mundial e não apenas ambientado nesse cenário.
No ano de 1947, o etnógrafo norueguês Thor Heyerdahl (Pål Sverre Hagen), decide iniciar uma expedição (suicida) para provar a sua teoria de que a Polinésia, há muitos séculos, era povoada por sul-americanos, que viajaram cerca de 5000 mil quilômetros pelo Oceano Pacífico. Essa hipótese, claro, parece absurda a todos que poderiam financiar a expedição. Thor, porém, está decidido a provar o seu ponto, o que significa que ele vai viajar numa balsa feita de madeira e utilizando tecnologia primitiva. Afinal, essa mesma viagem foi feita pelos sul-americanos aproximadamente 1000 anos antes e se apoiar em artifícios modernos seria trapacear e invalidar a hipótese.
E é basicamente isso o que Expedição Kon-Tiki conta: acompanhamos os 101 dias que Thor e sua equipe (composta por cinco pessoas, cada um com uma função diferente) viajaram pelo mar enfrentando tempestades, tubarões famintos e o tédio da expedição. Embora a história – e o seu desfecho – sejam conhecidos devido ao documentário e ao livro publicado por Hayerdahl em 1951, o longa ainda consegue criar alguns momentos emocionantes, que estão mais relacionados a aspectos técnicos do que a sua premissa. A fotografia exuberante e moderna, de um azul acentuado, e a inquietação das tomadas envolvendo tempestades e tubarões roubam a atenção completamente para si, de modo que quando a gente termina de assistir a Kon-Tiki fica pensando se viu algo além disso.
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RED 2: Aposentados e Ainda Mais Perigosos
3.4 457 Assista AgoraSemana passada eu estava descendo a Rua Augusta para encontrar alguns amigos quando um sujeito me abordou. Ele estava meio sujo, meio cambaleante, e me pediu uns trocados. Disse que não tinha nada e continuei a andar. Ele me parou de novo e falou que queria dinheiro para beber. Perguntei se era pra cachaça. Ele confirmou que sim. Então esvaziei meus bolsos e entreguei a ele todos os (poucos) trocados que eu tinha.
RED – Aposentados e Perigosos (RED, 2010) era mais ou menos como esse bêbado. Ele era um filme que era honesto com a gente, que não queria nos enganar ou parecer que era maior do que de fato era. Era um filme que abraçava sua verve absurda e exagerada sem se preocupar com verossimilhança ou dar importância demais a história. Era um filme que sabia que sua graça residia nas explosões mais barulhentas, nos diálogos mais engraçados, no ritmo mais alucinante, e em Helen Mirren segurando metralhadoras. Era um filme que, basicamente, pedia dinheiro para comprar cachaça. E a gente dava.
Todos os acertos da obra pareciam que seriam repetidos em RED 2 – Aposentados e Ainda Mais Perigosos (RED 2, 2013): o elenco original retornava (quase que) integralmente, as sequências de ação que o trailer denunciava pareciam curiosas e a química entre os atores e personagens parecia continuar. Todavia, em algum momento de seus excessivamente longos 116 minutos, RED 2 demonstrava um cansaço que não estava presente em sua gênese. E o que era divertido, começou a se tornar enfadonho.
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Red: Aposentados e Perigosos
3.5 1,2K Assista AgoraComo RED 2 – Aposentados e Ainda Mais Perigosos estreia no cinema ainda essa semana, a gente resolveu rememorar o seu antecessor para lembrar a todos vocês o quão divertido esse filme é.
Primeiro, eu preciso apontar para o óbvio: o elenco. John Malkoviclh e Helen Mirren dispensam as minhas apresentações porque são brilhantes; Bruce Willis é o rei das caras de constipação, que caem tão bem no protagonista de RED (e eu tenho um pouco de dificuldade pra aceitar filmes onde tudo explode e o protagonista sai ileso sem a presença dele); e Mary-Louise Parker é talentosa e já provou isso com Tomates Verdes Fritos e todos os seus anos protagonizando Weeds.
Segundo, Red tem senso de humor, o que fica mais evidente pela presença de uma personagem como Sarah (Parker). Ela parece pensada para funcionar como a mocinha idiota. Aquela que é tão tapada e tem tão pouca noção da dimensão dos eventos nos quais, acidentalmente, acaba se envolvendo que você passa o filme inteiro temendo pela sua segurança e dividido entre rir ou ficar apreensivo em cada cena que ela manifesta a sua vontade de estar no olho do furação. Marvin (Malkovich) é a personificação da paranoia e todas as sequências que ele reage exageradamente são hilárias. Além disso, ele funciona como uma maneira de debochar de todos os filmes de ação onde ex-agentes da CIA (ou FBI) aparecem como pessoas que desenvolveram uma série de sequelas devido ao seu tempo no serviço. O restante do efeito cômico fica por conta de Victoria (Mirren) simplesmente porque é Helen fucking Mirren fazendo papel de uma assassina eficiente, pegando em armamentos pesados e sendo extremamente boa nisso. Não dá pra assimilar a Rainha fazendo esse tipo de coisa.
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Spring Breakers: Garotas Perigosas
2.4 2,0K Assista AgoraOs entusiastas dizem que o filme é uma reflexão melancólica sobre a juventude dos excessos. Os detratores defendem que ele não passa de um engodo pseudo-reflexivo. Os cinéfilos abraçam o delírio colorido em neon como sendo um exercício de estilo (o plano sequência que mostra o primeiro assalto das garotas, filmado do ponto de vista da guria que fica no carro, é irrepreensível sob muitos aspectos). E há ainda quem se prenda a ideia de que tudo consiste basicamente numa desculpa para mostrar Vanessa Hudgens, Selena Gomez, Ashley Benson e Rachel Korine de biquíni.
E se querem saber, todo mundo está certo. Porque Spring Breakers – Garotas Perigosas (Spring Breakers, 2012) consegue ser tudo isso. Tudo isso (e arranhar) um pouco mais.
O espetáculo começa logo na abertura. Skrillex na trilha, jovens bonitos no vídeo, e uma edição louca, muito louca, que nos deixa no escuro em relação a intenção do que estamos vendo. A bebida, as drogas, as mulheres subjugadas e os corpos desnudos representam o que exatamente? O que assistimos é uma crítica? É um retrato da realidade? Ou apenas um recorte machista e fetichista de um autor que não sabe bem o que dizer? A resposta surge nos trechos seguintes quando conhecemos as protagonistas. Imersas em uma vida tediosa num subúrbio do interior, elas almejam fazer parte das festas e celebrações que vimos nos primeiros minutos.
Conseguir viajar, como uma das próprias defendem, significa muito mais do que sair de férias. Para elas, no contexto em que vivem, spring break significa viver, jogar fora o tédio que preenche o cotidiano e, quem sabe, dar sentido a vida. Essa perspectiva meio inocente parece excessivamente didática quando verbalizada. E o que poderia ser um defeito do roteiro, assinado pelo próprio Harmony Korine, se torna uma pista sobre o olhar de seu realizador. Quando ele faz sua personagem dizer isso ou quando mais a frente ele a força a falar que queria congelar aquele momento para sempre, para, na sequência, fazer com que as amigas dela debochem de suas palavras por meio de sorrisos tortos e olhares, ele escancara que o motor das ações de grande parte de suas crias não é encontrar sua essência – é apenas se divertir.
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A Filha do Meu Melhor Amigo
2.8 362 Assista AgoraSe durante a crise de meia idade algumas pessoas compram carros caros, passam a ir para a balada e se comportar como se tivessem 10 anos a menos, fazem alguma mudança radical no visual e estilo de vida ou trocam seus amigos da mesma faixa etária por pessoas consideravelmente mais jovens, David (Hugh Laurie) leva a coisa para outro nível: ele começa a ter um caso com a filha rebelde de seu melhor amigo, Terry (Oliver Platt), que retorna depois de cinco anos viajando por aí sem dar notícias ou aparecer na cidade. É que a vida higiênica e regrada dos subúrbios não interessava mais a Nina (Leighton Meester) e ela decidiu ver o mundo sem se preocupar com o que deixou para traz. Mas, depois de uma situação extrema, ela decide retornar a casa de seus pais.
E é aí que ela percebe que o seu vizinho da vida inteira (e pai de sua ex melhor amiga) é mais interessante que os caras com os quais se envolveu ao longo da vida. Ele é maduro, engraçado, não julga o seu comportamento (o que seus pais fazem a todo o tempo) e se mostra disposto a ouvir. Dessa forma, o envolvimento ocorre de forma natural e gradual. David e Nina são as duas pessoas que se encontram desconfortáveis com a vida dos subúrbios e não têm medo de fazer algo novo, algo que os desprenda daquela rotina apática.
O casamento dele não vai bem há muito tempo e sua mulher, Paige (Catherine Keener), é controladora e segue os mesmo hábitos desde sempre. Nina, por sua vez, se encontra perdida há um tempo considerável. Não sabe o que deseja fazer com a sua vida e não parece nem um pouco perto de descobrir. De certa forma, David também está perdido: sua única certeza consiste no fato de que não pode mais continuar levando a mesma vida de sempre e que estar perto da garota é certo naquele momento. E, depois de tentar ignorar a química perceptível, os dois decidem mandar tudo às favas e viver o que tem para viver.
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O Lado Bom da Vida
3.7 4,7K Assista AgoraMuita gente disse que O Lado Bom da Vida (Silver Linings Playbook, 2012) era um filme superestimado. Disseram que o longa era uma comédia romântica comum. Falaram que oito indicações ao Oscar era um exagero. Indagaram o que é que ele tinha demais.
Entendo, entendo de verdade toda a desconfiança ao redor dele. Porque se a gente for pensar, O Lado Bom da Vida segue à risca a cartilha que foi moldada pelo gênero desde os primórdios do cinema: temos um mocinho que não se dá bem com a mocinha, temos uma situação aleatória que os “obriga” a conviverem juntos, temos um rompimento lá pelo terceiro ato e, no final, (ah, qual é, vai dizer que você não sabia que eles ficariam juntos?) o mocinho corre desesperado atrás da mocinha. E o beijo, claro. Não podemos esquecer o beijo. Então, torno a pergunta: se ele é tão mais do mesmo, por que é que ele chamou tanta atenção?
Indo além do lobby, dá pra dizer que ele chamou a atenção por, de certa forma, subverter o gênese da comédia romântica. Mesmo emulando todos os passos já manjados, O Lado Bom da Vida é instantemente diferente por causa de suas protagonistas. Eles não sonham com pessoas perfeitas. Eles não querem um grande amor. Na verdade, eles parecem reais. E são absurdamente pirados. Assim, no sentido clínico da coisa. Ele (Bradley Cooper) está preso em um sanatório depois de atacar o amante de sua ex-esposa. Ela (Jennifer Lawrence), por sua vez, vive um intenso período de luto. Os dois estão quebrados. Cada qual a sua maneira procuram um jeito de colocar a vida no eixo e ter de volta o que um dia tiveram. E, no meio tempo, rola chance de trocar farsas, ofensas, discutir visões de mundo (a protagonista feminina disse que transou com todo mundo do escritório em que trabalhava para preencher o vazio que sentia – e a personagem de Cooper ao ouvir isso a chamou de vadia) e até agredir fisicamente seus pais (sério, que outro filme dito como comédia romântica tem isso?).
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Lua de Cristal
2.4 940 Assista AgoraLua de Cristal é um conto de fadas moderno. Pensem comigo: inicialmente, nossa heroína, Maria da Graça (Xuxa), é torturada por sua tia Zuleica (Marilu Bueno) e sua prima Lidinha (Julia Lemertz), o que nos remete à história da Cinderela. Porém, Zuleica dá a Maria uma maçã assim que ela chega à sua casa no Rio de Janeiro e, constantemente, se olha no espelho e dispara o clássico “Existe alguém no mundo mais bonita do que eu?”, numa referência clara à madrasta da Branca de Neve. E há também um príncipe encantando, cuja presença é antecipada por sonhos antigos de Maria da Graça, mas que se materializa na forma de Bob (Sérgio Malandro).
Porém, se mostrando uma mocinha de contos-de-fadas bem moderna, a protagonista não sonha apenas com o casamento: ela sonha em ser cantora e em vencer na cidade grande, o que nos rende um dos diálogos mais emblemáticos da história do cinema nacional. Sua mãe, Cotinha, desesperada por ver a filha sofrendo tanto e se submetendo a humilhações para realizar o seu sonho, dispara: “Maria da Graça, minha filha, volte” e escuta a réplica “Não, mãe. Eu vou ficar, eu vou vencer”.
Rico em recursos para explorar o passado, efeitos especiais e momentos cômicos, Lua de Cristal se tornou um verdadeiro clássico do cinema brasileiro e revelou o talento da queridinha do Brasil (na época) para atriz. Interpretando uma personagem que em muito se assemelha a ela (percebam a referência sutil no nome da protagonista de Lua) Xuxa mostra desenvoltura para dar vida à mocinha desprotegida, mas decidida. Tanta desenvoltura que reprisaria o mesmo papel durante toda a sua extensa filmografia, apenas variando a profissão e o sonho da protagonista de seus longas.
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Querida Vou Comprar Cigarros e Já Volto
3.8 172 Assista AgoraVocê está levando a sua vida sem graça, sendo consumido pelos mesmos pensamentos e sensação de fracasso de sempre, no mesmo lugar que você frequenta desde que se lembra de existir e um sujeito que você nunca viu na sua vida senta do seu lado e te faz uma proposta completamente estranha. Ele te diz que se você topar voltar para qualquer época da sua vida e passar 10 anos lá, com o conhecimento que tem agora, no fim dos 10 anos você poderá retomar as suas atividades cotidianas com um milhão de dólares a mais na conta bancária. E aí, como você não está fazendo nada mais útil, a proposta se torna tentadora. Ela pode funcionar como uma maneira de reparar os erros do passado. E pode te ajudar a responder os vários “e se…” que ecoam na sua cabeça e te fazem achar que algumas das suas escolhas foram estúpidas. Assim, eu não consigo imaginar um cenário em que voltar para um corpo mais jovem com uma mente amadurecida não soe tentador.
Esse é o ponto de partida do longa Querida, vou comprar cigarros e já volto. Baseado em um conto inédito do escritor argentino Antônio Laiseca (que aparece no filme para nos contar partes da história), percebemos desde a primeira cena – que nos apresenta o Imortal (Eusebio Poncela) – o caráter fantástico e cômico da história. O Imortal nada mais é do que um homem que foi atingido por um raio, morreu, foi atingido por um segundo raio e voltou a viver com poderes especiais. Antes que isso acontecesse, ele era um mercador. E como negociar era mesmo o seu talento, depois de se tornar imortal, ele não o abandonou e anda pelo mundo fazendo essa mesma proposta a pessoas diferentes, cujos pensamentos chamam a sua atenção.
Quando conhecemos Ernesto (Emilio Disi), o personagem principal de Querida, fui comprar cigarros, notamos instantaneamente que ele é simplório. Mas, após o seu contato com o Imortal e volta no tempo, ele parece pensar que pode mudar alguma coisa ou se tornar alguém especial. Em sua primeira viagem no tempo, ele tenta impedir o 11 de setembro. Na segunda, ele rouba a autoria da canção Imagine. Embora essas primeiras viagens sejam responsáveis por uma grande porcentagem do efeito cômico do filme, é a terceira, cujo conteúdo é bem mais cáustico (mas não deixa de ser engraçado. De um jeito perverso e quase sádico, mas engraçado), que as intenções tanto do escritor – que parece se divertir quando Ernestito se dá mal – quanto de uma espécie de “moral da história” se evidenciam.
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Amor Pleno
3.0 558Andam dizendo por aí que Amor Pleno (To The Wonder, 2012) é uma espécie de continuação de A Árvore da Vida (The Tree Of Life, 2011), o projeto anterior de Terrence Malick. Talvez seja mesmo. A proximidade estética e temática de ambos os longas é assombrosa – embora o foco de cada filme seja diferente. Enquanto A Árvore da Vida discutia a origem da – duh! – vida e o que movia as pessoas (a graça ou a natureza), Amor Pleno versa sobre a mesma coisa – mas num microcosmo, cujo o ambiente são as relações interpessoais de suas personagens.
No início do filme, escutamos Marina (Olga Kurylenko, esplêndida) narrar, enquanto a vemos sorridente e saltitante numa praia com Neil (Ben Affleck), o quanto o que ela sente por aquele homem é importante. O quanto tudo aquilo significa, para ela, um renascimento. Em contrapartida, percebemos que Neil também a ama, mas ao contrário dela, que devota sua toda sua vida em torno do que sente, ele não consegue lidar ou aceitar muito bem tudo isso. Mesmo assim, Neil decide convidar Marina e Tatiana (Tatiana Chiline), a filha dela, para irem morar nos Estados Unidos.
A visão que a personagem de Olga tem da vida que leva é resultado da idealização do que sente. Para ela, os Estados Unidos parecem ser um país justo, rico e limpo. E ali há oportunidades. Se contrapondo a isso, Neil encara em seu trabalho mazelas ambientais que provocaram doenças em famílias pobres que foram expostas a radiação e compostos químicos. Quintana, um padre, visita esses locais não tão brilhantes. Consciente de que há uma força maior do que ele e do que de todos, ele nunca duvida de sua fé – mas questiona as razões de seu deus não se mostrar. A vida e os dilemas dessa personagem acabam funcionando como um comentário da história principal. E nesse ponto notamos que a distância que separa A Árvore da Vida de Amor Pleno é muito menor do que imaginávamos – uma vez que todos os personagens buscam, de alguma forma, uma espécie de complemento que conceda a alegria completa a seus dias (o padre busca isso em Deus, e a francesa no amor).
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Sharknado
2.0 832 Assista AgoraFilmes tratando a respeito de catástrofes ambientais, quase sempre, fazem sucesso. Só para citar um exemplo recente, pensem em O Impossível (The Impossible, 2012), nas boas críticas recebidas, nas indicações a prêmios.
Outro gênero que sempre faz sucesso é aquele onde animais selvagens atacam uma determinada comunidade ou cidade, espalhando o pânico e fazendo com que um sujeito corajoso tome o posto de líder e salvador da pátria. Sejam piranhas, porcos (sério, clica aqui), pássaros, ursos, jacarés ou, o mais temível animal de todos em filmes do tipo, o tubarão, o fato é que essas produções, por alguma razão obscura (menos no caso de Os Pássaros, que toda atenção é completamente justificável) fazem sucesso.
E aí, o canal SyFy, muito espertão, decidiu que seria uma boa misturar catástrofes ambientais com eco-terror (isso existe?). Se você está se perguntando como isso pode ser possível, eu te explico: uma tempestade terrível está prestes a cair sob cidade de Los Angeles. Até aí, ok, plausível. Mas essa não é uma tempestade qualquer: ela virá acompanhada de tornados. E os tornados, por sua vez, vão vir acompanhados de tubarões. Sim, você leu certo. É que uma corrente de ar quente, fez com que todos eles migrassem para a região de L.A e, quando o tornado passa pelo oceano, tem tanto tubarão, mas tanto tubarão, que ele carrega alguns para as ruas da cidade. Não é incrível? Pois então! E só melhora.
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Procura-se um Amigo para o Fim do Mundo
3.5 1,8K Assista AgoraTop 5: Filmes sobre fim do mundo http://www.outrapagina.com/blog/top-5-filmes-sobre-o-fim-do-mundo/
Harry & Sally: Feitos um Para o Outro
3.9 504 Assista AgoraEu gosto de comédias românticas porque você pode fazer quase qualquer coisa dentro desse gênero. De Noivo Neurótico, Noiva Nervosa (Annie Hall, 1977) a, sei lá, os filmes da Katherine Heigl. Nem tudo mantém o mesmo padrão de qualidade, eu sei, mas aí já não tem a ver com o gênero. Tem a ver com enfoque, com roteiro, com os atores envolvidos, blábláblá. E hoje em dia, por mais que o gênero já esteja desgastado, de vez em quando surgem umas coisas interessantes, tipo Ruby Sparks – A Namorada Perfeita (Ruby Sparks, 2012) que me fazem não perder completamente as esperanças e sempre dar uma conferida nos lançamentos.
Lá nas décadas de 80 e 90, já não era exatamente uma novidade fazer comédia romântica, já existiam coisas como A Loja da Esquina (The Shop Around The Corner, 1940) que exploravam muitos dos elementos (hoje batidos) desse tipo de produção. Mas ainda havia algum frescor. Ainda havia mais originalidade e não parecia que tudo havia se padronizado, sendo salvo ocasionalmente por um longa com algum brilho. E Harry e Sally – Feitos Um Para O Outro, ilustra bem os acertos das comédias românticas
Hoje pode ser considerado clichê apostar em “será que homens mulheres podem mesmo ser amigos?” para construir um filme, mas acredito que o clichê tenha começado exatamente nesse filme. Porque a coisa dá tão certo e flui tão naturalmente que apesar de ser uma pergunta boba para o expectador de hoje, ela ainda ecoa enquanto você assiste a Harry e Sally. É claro que dá pra ter um amigo do sexo oposto, mas as afinidades entre os protagonistas (vividos por Billy Crystal e Meg Ryan), assim como a química entre os dois levam a gente a pensar que eles deveriam levar a relação para outro nível. Mais ou menos como os seus pais pensam ao te ver conversando com aquele amigo/amiga inseparável, que entende suas esquisitices e completa as suas frases.
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A Visitante Francesa
3.2 76A Visitante Francesa é um filme bastante simples. Trata-se de três variações da mesma história, cujos elementos são: uma estrangeira chamada Anne (Isabelle Huppert sendo encantadora), um salva-vidas sem muitos traquejos sociais, um cineasta e sua mulher grávida, um farol, um guarda-chuva e variações climáticas. Em cada um dos momentos esses elementos assumem papéis diferentes e importâncias diferentes, que vão cooperar para que se tenha um olhar diferente acerca dos mesmos fatos.
O farol é sempre o lugar para onde alguém quer ir e, no trajeto, há sempre a presença do salva-vidas – que saberá ou não dar informações. E os demais elementos, com o guarda-chuva, surgem com propósitos diferentes dependendo do que se deseja contar. Alguns podem pensar que se trata de três histórias diferentes cujo protagonismo é de uma mulher chamada Anne. Mas, por terem sido construídas em cima das mesmas coisas, a impressão que eu tive foi de uma espécie de efeito borboleta. É como se Hong Sang-soo, o diretor, desejasse dizer “se você alterar esse detalhe aqui na personalidade de Anne, isso acontece desse jeito”, “se a frase a fosse dita ao invés da b, isso daqui seria engraçado” ou “se você alterar o lugar onde o guarda-chuva está no momento x, isso vai se desdobrar da maneira y”.
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Truque de Mestre
3.8 2,5K Assista AgoraPessoas com habilidades especiais são apresentadas uma a uma. Aos poucos, elas são recrutadas e passam a agir em prol de um único objetivo – no caso, um grande roubo. Conforme a narrativa avança, a gente conhece detalhes do golpe que os mocinhos (bandidos?) tencionam aplicar e fica de cara com a complexidade da execução. E aí… Boom! Surpresa! Boom! Mais surpresa! Boooom! Surpresa de novo!
Diante de nossos olhos eles ludibriam seus oponentes e nos surpreendem. A descrição parece genérica? É, eu sei. A fórmula é batida. Mas a graça de Truque de Mestre (Now You See Me, 2013) é usar os clichês a favor de sua narrativa e transformar certos subterfúgios (como reviravoltas e indagações do tipo “como ele fez isso?) em mecanismos orgânicos e sinceros – graças a curiosa decisão de fazer de seus mocinhos (ou bandidos) personagens de um universo bastante particular: o da magia.
Tendo como guias quatro tipos bem diferentes, somos levados no escuro em uma jornada empolgante e divertida. Em linhas gerais, Truque de Mestre fala sobre essas quatro pessoas que trabalham com magia e que são recrutadas para fazerem grandes shows. Em um deles, eles conseguem o feito de roubar um banco em outro continente. Para a polícia, admitir que isso ocorreu é tratar a mágica como algo “possível” (o que seria um desastre). Tendo essa implicação em mente, cabe a uma novata da Interpol (Mélanie Laurent) e a um detetive avesso à mágica (Mark Ruffalo) descobrirem o que aconteceu de verdade. Em paralelo, uma espécie de Mister M (Morgan Freeman) estuda os movimentos do quarteto a fim de desmascará-los e um ricaço que financia os números (Michael Caine) parece querer que a coisa continue.
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Minha Mãe é Uma Peça: O Filme
3.7 2,6K Assista AgoraFui assistir à Minha Mãe É Uma Peça – O Filme praticamente sem saber do que se tratava. Sabia que era baseado na mãe de Paulo Gustavo, que também assina a peça teatral de mesmo nome e no longa atua como Dona Hermínia, e que Paulo Gustavo fazia a Senhora Dos Absurdos. Assim, não criei quaisquer expectativas porque eu não tinha material para cria-las e saí do cinema bem satisfeita com o que encontrei.
Pautado num humor fácil, no sentido de que as piadas podem não ser elaboradas e nem tão inéditas, mas são eficazes, Minha Mãe É Uma Peça traz personagens cotidianos: é a perua que se casou o ex-marido (Herson Capri sendo o tiozão gostoso de novo) da protagonista (uma Ingrid Guimarães repetindo a personagem com a qual já está acostumada); a filha que sofre bullying da própria mãe por seu peso (Mariana Xavier); o filho homossexual (Rodrigo Pandolfo); o filho mais velho perfeito e distante (Bruno Bebiano); a síndica e a vizinha insuportáveis; a tia (Suely Franco) que serve como muro de lamentações e conselheira…
Falando assim, parece que Paulo Gustavo, que roteirizou o longa, e André Pellenz, o diretor, se apoiaram milhares de clichês e criaram um produto final sem brilho. Mas não é isso. Minha Mãe É Uma Peça funciona exatamente porque opera num nível óbvio. Porque seu senso de humor não possui qualquer refinamento, mas tem apelo popular e é universal: toda família tem um que é________. E aqui você pode completar a frase com qualquer uma das características citadas: gay, gordo, perua, tiozão gostoso… E toda mãe é um pouco dona Hermínia. Em maior ou menor escala, mas ameaças de buscar os filhos num bar, quando ainda não são nem 22:00, estiveram presentes na vida de todo adolescente. Então, as piadas cumprem seu propósito porque você consegue se ver no lugar dos filhos de Hermínia e consegue reconhecer os dramas que sua própria mãe fez durante a sua adolescência.
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Tudo Sobre Minha Mãe
4.2 1,3K Assista AgoraTop 5 Travestis e Transexuais do Cinema: http://www.outrapagina.com/blog/top-5-travestis-e-transexuais-do-cinema/
O Homem de Aço
3.6 3,9K Assista AgoraO Super-Homem é um dos personagens mais emblemáticos da DC, e do mundo dos quadrinhos em geral, e provavelmente uma das figuras mais lucrativas da indústria de entretenimento mundial. Ainda assim, recentemente a editora vinha encontrando dificuldade em emplacar o personagem no cinema, a falta de qualidade dos filmes era um problema, mas mais que isso, o Homem de Aço parecia não se comunicar com as novas gerações, seu personagem aparentemente obsoleto em uma época de heróis menos maniqueístas, mais ambíguos.
No entanto, após o sucesso estrondoso da releitura que Christopher Nolan fez do Batman e da Marvel ter vendido, com relativo sucesso, o Capitão América (ainda mais anacrônico que o Super-Homem) uma nova tentativa se tornou inevitável. Confesso que fiquei surpresa quando um projeto desse tamanho foi parar nas mãos de um diretor que acabava de sair de um fracasso tão absoluto (não por acaso, todo material de divulgação diz apenas “do diretor de 300 e Watchmen“) e cuja fama nunca foi das melhores. Mas Zack Snyder, com supervisão de Nolan é preciso dizer, assumiu o trabalho de finalmente tornar o Super-Homem um blockbuster.
E Homem de Aço faz exatamente isso: ele torna o personagem palatável, viável para o público de hoje, menos patético e bom moço e entrega um filme com boas sequências de ação e altamente vendável. Não é que a direção exagerada e um tanto sem rumo de Snyder não esteja presente, ela está, mas a impressão é que o diretor foi posto na coleira e essa coleira foi entregue na mão de Nolan.
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A Bela Que Dorme
3.2 58 Assista AgoraNo ano de 1990, a italiana Eluana Englaro sofreu um acidente de carro. Esse acidente a deixou em estado vegetativo e fez com que a sua família entrasse com um pedido para que os tubos de alimentação fossem removidos e ela pudesse morrer de um modo natural. O pedido, porém, foi recusado e o que se seguiu a ele foi uma briga judicial, agravada pela presença de grupos pró e contra eutanásia do lado de fora do hospital onde a moça se encontrava. Então, 17 anos depois, a decisão judicial foi revertida e a família de Eluana conquistou o direito de desligar os aparelhos responsáveis por mantê-la viva.
A história de Eluana Englaro é o motor do último longa de Marco Bellocchio, A Bela Que Dorme. O diretor, que sempre busca colocar situações importantes para a história de seu país de origem em seus filmes, cria uma história multinuclear, onde cada um de seus personagens lida com a morte eminente de um ente querido à sua maneira. A religião, sempre muito importante para os italianos, assume um papel primordial nas histórias, mesmo quando as personagens nem têm consciência de que desempenham alguns papéis porque, em algum nível, a religião disse que deveria ser assim.
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Renoir
3.5 208 Assista AgoraSem dúvidas, você vai ver filmes melhores do que Renoir esse ano. Mas as chances de você assistir a algo tão bonito quanto, do ponto de vista imagético, são pequenas. Os cenários e a fotografia do longa são tão bonitos que chegam a comover. Não consigo imaginar alguém olhando aquelas paisagens, marcadas por tons amarelados que transmitem a sensação de constante luminosidade, e não desejando habitar o universo das personagens. E quando você percebe que é tudo criação – tanto de Giles Bourdos, roteirista e diretor do longa, quanto do cinematógrafo Ping Bing Lee (que também é responsável pelo lindíssimo Amor À Flor Da Pele) -, dá pra sentir uma pontinha de frustração.
Claro, aquelas paisagens existem em algum canto da França. Mas não existem salpicadas de tons dourados e não com aquelas cores cuidadosamente pensadas. Nem com os personagens bem caracterizados (e, algumas vezes, sem caracterização nenhuma). A sensação que se tem assistido ao filme é a de se estar preso em uma pintura de Renoir (vivido por Michel Bouquet). Mas é uma impressão mais temporal e espacial do que uma descrição literal das telas do pintor. O filme inteiro combina perfeitamente com uma frase dita por seu personagem título em determinado momento: “Há coisas bastante desagradáveis na vida. Eu não preciso pintar mais coisas desagradáveis”.
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A Espuma dos Dias
3.7 479 Assista AgoraAté ontem eu nunca tinha ouvido falar em Boris Vian. Antes de ler o nome dele nos créditos de A Espuma dos Dias (L’Écume des Jours, 2013), aliás, achava que o longa partia de uma ideia totalmente original. Hoje, depois de pesquisar um pouco, vi que Boris foi um dos nomes mais marcantes da cultura contemporânea francesa. Há quem diga, inclusive, que dentro de seu país de origem o livro A Espuma dos Dias tomou o lugar de O Apanhador no Campo de Centeio o lugar ‘no coração de toda uma geração’.
O curioso nisso tudo é que depois que assisti ao filme, mesmo já sabendo que ele era baseado no livro de Vian, continuei pensando que se tratava de algo cem por cento autoral. Porque aquilo tudo que eu acabara de ver era Michel Gondry em seu estado mais puro. E quando digo aquilo tudo, meus amigos, estou falando de uma beleza plástica impressionante, de linhas escritas com ternura, e de imagens cheias de imaginação. E excessos.
Para criar um mundo fantástico que parece uma versão do futuro imaginada por alguém dos anos 40, Gondry conta com ferramentas que vão desde móveis especificamente projetados (a direção de arte é estupenda e enche os olhos com o design das peças e dos cenários) a animações em stop-motion. Toda essa alegoria visual combinada com uma câmera que não para e personagens exóticos (há um ratinho que interage com os protagonistas, um cozinheiro que também é mentor e advogado e um chefe de cozinha que vive dentro da tv/geladeira) causa um estranhamento gigante a princípio e promove um distanciamento forçado entre o espectador e as personagens. Tem tanta coisa acontecendo a todo o tempo em todos os espaços da tela que fica difícil se envolver. O que soa paradoxal, uma vez que nossa atenção cresce justamente por esses motivos.
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Celeste e Jesse Para Sempre
3.6 478 Assista AgoraCeleste e Jesse Para Sempre (Celeste and Jesse Forever, 2012) é um filme bastante agridoce e mais duro do que parece. E isso é reforçado até pelo “para sempre” do título, que pode não representar exatamente aquilo que alguns espectadores vão esperar para o casal protagonista. Não é (500) Dias Com Ela (500 Days Of Summer, 2010), mas bem que poderia vir com um aviso semelhante ao que o filme de Marc Webb traz no começo. Porque “essa não é uma história de amor”. Ou pelo menos não apenas.
Dá pra resumir a sinopse dessa forma: Celeste e Jesse (Rashida Jones e Andy Samberg, com ótima química e defendendo muito bem, em cena, as diferenças que seus personagens possuem) formam um casal, vivendo o auge de sua vida de casados. Com o passar do tempo e com o convívio diário, Celeste frustra-se com o relacionamento e decide se separar do rapaz. Tudo é contado de forma ágil, numa sequência que passa como um slideshow tragicômico diante de nós. Ele não consegue superar o rompimento, e os dois continuam bastante próximos, mas como amigos. A situação muda quando Jesse encontra uma nova mulher e passa a reconstruir sua vida. Celeste está “empacada” na mesmice, reavalia o enlace que tiveram e percebe que, talvez, não deveria ter encerrado as coisas da maneira que fez.
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