A realidade consegue ser muito pior que o sobrenatural. ... Em Madres acompanhamos Diana e Beto, um casal de latinos que, no fim da década de 1970, passa a morar numa cidadezinha do interior da Califórnia que reúne uma comunidade mexicana. Beto é supervisor de trabalhadores no campo e Diana uma jornalista que pretende escrever um livro enquanto espera o fim da gravidez. ... Não é preciso dizer como esse cenário é uma somatória de clichês e que esteticamente ele ainda se vale de cenas clássicas como a panorâmica do carro chegando na nova casa ou as sequências que criam tensão apenas para assustar em seguida. ... Clichês que servem de base para a questão dos imigrantes latinos nos EUA: da xenofobia aos abusos trabalhistas, o uso sem controle dos agrotóxicos e até mesmo uma complexa trama de eugenia. Elementos inspirados em eventos reais que ainda acontecem nos EUA, mas que não ganham espaço na mídia e são prontamente abafados pelo Estado. ... Infelizmente o desenvolvimento é bastante superficial, com o roteiro se agarrando na fórmula padrão de filmes de horror B ao trazer uma maldição que mascara a realidade e não deixando a trama de saúde pública avançar como poderia (discutindo inclusive a questão cultural como forma de controle). ... Ainda assim, o tema proposto é interessante, apresentando bom ritmo e tempo de filme suficiente para evoluir a história sem torná-la cansativa, com atores pouco conhecidos, mas que fazem um bom trabalho. ... Infelizmente ele é dependente do epílogo textual que deixou mais claro a conexão com eventos reais e ainda em conflito jurídico, ressaltando a atualidade do que foi apresentado. Porém, poderia ser muito melhor. ... 6/10
Quando um filme sobre um boneco assassino foi lançado na década de 1980, ninguém poderia imaginar o quão longe ele poderia chegar, não apenas em longevidade, mas em histórias que poderiam ser contadas. . Chucky chega na sua segunda temporada mais uma vez surpreendendo, graças ao que só pode ser uma carta branca dos produtores, Don Mancini explora seu assassino sádico e cínico sem chegar à exaustão. Brincando de forma tão natural com o cinema de horror por meio de referências diretas ou mesmo críticas que a própria franquia assume, tudo sempre com um sanguinário bom humor. . Neste ano o trio de adolescentes sobreviventes (e os atores ainda tem menos de 18 anos) são internados num colégio católico interno depois de serem responsabilizados pelo acidente explosivo do irmão menor de um deles. Chucky, que supostamente tinha sido destruído quando o caminhão de bonecos explodiu (sim, várias explosões), retorna em várias e diferentes versões (todas brilhantemente interpretadas pela dublagem de Brad Dourif). . Em paralelo temos a trama da Tiffany, guiada por sua paixão doentia por Nica Pierce, a tentativa de enganar todos que ela é uma atriz mundialmente famosa, além do retorno de Glen e Glenda, em versão de carne e osso e duplicada (a binariedade binária do personagem retomada desde que era apenas um boneco). . Daí mergulhamos nessas duas histórias que, aos poucos, vai se encontrando ao longo de oito episódios em inúmeras referências que passam desde Pânico ou Eu Sei o Que Vocês Fizeram no Verão Passado à Exorcista, Silêncio dos Inocentes Apocalipse Now e até uma clássica imagem da Pietà. . Bizarrices seguidas de bizarrices com muito, mas muito sangue para todos os lados e sempre nos surpreendendo com os rumos da narrativa (ainda sinto pelas perdas ao longo dos episódios). Que por trás disso é possível encontrar abordagens sérias sobre homofobia, bullying, masculinidade tóxica, sem perder o horror e a comédia de vista. . E para completar, ele tem efeitos tão simples, mas também tão reais que passamos a sentir medo daquele boneco desengonçado, boca suja e mortal. . Temporada 8,5/10 Série 8,5/10
O ruído branco é um som aleatório de frequência variada, mas de potência constante que atrapalha a atenção, uma cacofonia que nos impede focar em qualquer coisa. ... O filme Ruído Branco, nos apresenta uma feliz família que mora numa cidadezinha estadunidense no início da década de 1980. Ela é formada por quatro filhos neuróticos, uma esposa com problemas de memória e um pai professor universitário, o maior especialista em Hitler. ... Um belo dia, acontece um acidente químico num descarrilamento próximo da cidade e uma nuvem tóxica surge ameaçando e expulsando todos de suas casas. Ao ser exposto à nuvem, o professor Jack Gladney descobre que pode ter apenas mais 15 anos de vida, em média, e isso coloca sua mortalidade em perspectiva. ... É uma comédia dramática que se apresenta por meio de uma cadeia de acontecimentos surreais entre personagens com excentricidades naturalizadas, e a série de situações provoca o expectador a tomar consciência de das próprias excentricidades. ... A ambientação oitentista é o melhor da produção, pois ela reconstrói a década de 1980 em todos os aspectos, preocupando-se com os mínimos elementos dos cenários até o zeitgeist da época que traz uma mistura de medo e desinformação. O elenco complementa muito bem, com destaque para Adam Driver que protagoniza o filme. ... Infelizmente o desenvolvimento é muito confuso, com ideias inseridas e esquecidas com o passar dos três atos que são demarcados telas de título, quase numa estrutura de série sitcom, na qual nem tudo se resolve dentro de um mesmo episódio, mas pouca coisa é levada para o próximo. ... 7/10
Muito se fala que não existe mais imaginação no cinema atual, que tudo que assistimos é copiado de algo, mas mesmo o tão aclamado Shakespeare teve suas inspirações. ... Em O Homem do Norte acompanhamos Amlet, um jovem príncipe nórdico do século IX baseado na mitologia nórdica, sobre um príncipe que jurou vingança contra o tio que matou seu pai quando era criança, o Homem do Norte além de trazer o personagem que inspirou Shakespeare a criar Hamlet, empresta do autor inglês a linguagem teatral. ... Esse épico dramático de ação mistura elementos vindos de diferentes mídias em suas sequências da geografia teatral onde pequenas narrativas acontecem como se espalhadas no palco, apenas esperando o olhar do espectador guiado a partir de planos sequência. ... A própria narrativa dividida explicitamente em vários atos com títulos anunciando as mudanças até a própria atuação e tipos de enquadramento escolhidos que ampliam a carga dramática. ... A fotografia aproveita as fantásticas paisagens islandesas, mas se destaca nas passagens internas ou quando a escuridão emoldura as cenas, as transformando em pinturas na qual os protagonistas ganham destaque pelas cores mais fortes e pelo movimento que muitas vezes são os únicos a se mexer, ressaltando ainda mais a impressão do contraste entre o estático e o movimento. ... 9/10
Depois da fuga resta o medo, o trauma daquilo que não pode ser resolvido facilmente e mesmo depois de matar os monstros que nos assombram, as cicatrizes não deixam de existir. ... A quinta temporada de The Handmaid's Tale finalmente parece apontar para uma esperança, com June em segurança no Canadá. No entanto, isso não dura por muito tempo, pois além de ainda não ter libertado sua filha Hanna, o trauma acumulado ao longo dos anos a impele para o combate. ... Foi uma temporada que pareceu mais branda que as anteriores, provavelmente em resposta às seguidas críticas do sadismo crescente ano após ano. Ainda mantendo um bom ritmo, ela se desenrola a partir de principalmente três núcleos: June e sua família; Serena e Gilead ora focado no comandante Joseph, ora na Tia Lydia. ... Presenciamos o acirramento político, ao mesmo tempo que Gilead mostra sua força militar, também sugere mudanças com a criação de um território neutro para repatriar os refugiados estadunidenses que passaram a sofrer com a crescente xenofobia canadense. ... Esta é uma proposta controversa e de pouca confiança mesmo entre os comandantes e que Joseph vende para conquistar a opinião pública internacional comparando com uma espécie de Hong Kong com leis próprias, mas ainda submetida à Gilead. ... Esta ano também acompanhamos um tipo de redenção para personagens como a Serena e Tia Lydia, não que elas tenham ficado boas do dia para a noite, mas que finalmente perceberam o quanto também eram vítimas de um sistema de violência e que elas não poderiam fazer nada para mudá-los sozinhas. ... Temporada 9/10 Série 9/10
Qual o limite do amor dos pais para um filho? Até onde ele pode ser protegido? ... Em Anjo Maldito acompanhamos Lenore Harker que por causa da gravidez, abandona a faculdade para viver com o namorado numa casa de campo. O bebê apresenta um crescimento inesperado que a obriga fazer uma cesariana com uma gestação de seis meses. ... O parto acontece, mas assim que o bebê é retirado do corpo da mãe, descobrimos toda a equipe médica brutalmente assassinada. A partir de então coisas estranhas começam a acontecer com a mãe e o bebê. ... É um remake desconhecido de um filme obscuro de 1974 e o tom de horror bizarro se mantém. Como produção de baixo orçamento até que se sai muito bem em estabelecer ritmo e desenvolvimento. Também é interessante a forma como o filme "não mostra" os atos de violência, apenas seus chocantes resultados. ... No entanto, as atuações são muito irregulares, a protagonista se destaca por ser a pior de todas, perdendo até para o bebê em efeitos digitais. Efeitos que são bem precários, mas que amplificam a aura trash que temos desde a trama. ... Além disso, a direção insiste nos batidos sons que anunciam os sustos, isso mais incomoda do que ajuda em alguma coisa. Som, aliás, não é o forte, já que aparentemente houve falha na captação e os diálogos parecem todos dublados (mesmo na língua original). ... 5,5/10
No início da década de 1970 a editora Marvel encontrou um nicho de mercado abandonado alguns anos antes por uma política de censura, o terror. Assim vários personagens foram criados ou sofreram releituras do clássico com o superheroico. ... Assim nasceu Morbius, uma mistura de Médico e Monstro com Drácula e pitadas de Frankenstein. Explico, ele é um médico com uma doença debilitante que na tentativa de descobrir uma cura, acaba se transformando numa criatura sedenta por sangue, mas que também passa a sofrer por sua nova condição. ... A versão em carne e osso da Sony que se passa numa espécie de universo apêndice da Marvel que inclui o Venom traz essa origem. E para criar conflitos mais combativos insere um melhor amigo que também toma o soro, mas não se importa onde coloca suas presas. ... A produção tem um visual legal, gostei da forma como o Morbius se transforma e os efeitos dos poderes, mas os combates não tem muita imaginação e definitivamente não empolgam, além de serem confusos. ... Os problemas não param, pois falta ritmo e tem uma montagem (e consequente continuidade capenga). O roteiro também não consegue encontrar alguém para temer ou nos importarmos, os atores estão sempre com aquela cara de paisagem e mesmo o Jered Leto (que tanto "se entrega" para seus personagens) pareceu apagado. ... Apesar de tudo, ele não é aquele desesperador pior filme já produzido, é simplesmente ok, tem um espírito da década de 2000, quando os estúdios tinham um pouco de vergonha desse tipo de adaptação, mas não ofende como Venom.
Inspirado num livro de Louis Bayerd, publicado em 2003, somos levados aos Estados Unidos de 1830 num suspense que conta com a presença do jovem Edgar Allan Poe. ... Pálido Olho Azul conta a história da investigação sobre um jovem soldado da academia militar que foi encontrado enforcado e o coração arrancado. Quem assume o trabalho é Augustus Landor, um detetive aposentado que faz parceria com o empolgado cadete Allan Poe. ... O roteiro não perde tempo na apresentação do protagonista, e logo nos coloca em meio a interrogatórios e recolha de pistas. Impondo um bom ritmo narrativo de descobertas intercalados com diálogos que nos ajudam a organizar as informações. ... A ambientação envolta em névoa e campos nevados oprime nosso olhar, flertando com o sobrenatural e ganhando tons góticos. Mas o maior destaque fica com o desenvolvimento de Landon e Poe. ... Os protagonistas são antagônicos e complementares. A figura de Allan Poe é inteligente, eloquente e parece absorver tudo que vivencia, juntando as peças quase inexistentes de quebra-cabeças mentais. Landon, por sua vez, carrega a certeza da experiência, descobrindo aos poucos elementos bizarros sem ser afetado por eles ao mesmo tempo em que a mágoa pela filha desaparecida parece ser a única coisa que o mantém vivo. ... É um filme que captura o espectador, mas com algumas conveniências no desenvolvimento da investigação e que ganha força se conhecermos o Allan Poe histórico, como se essa experiência fosse essencial para quem ele viria a ser.
Muitos foram os revivals e reboots lançados nos últimos anos, mas poucos podem se orgulhar de superar o original, Top Gun é um deles. . Em Top Gun: Maverick acompanhamos o piloto rebelde Pete "Maverick" Mitchell, mais de 35 anos depois dos eventos mostrados no filme original, trabalhando como piloto de testes para a marinha, quando recebe a missão de treinar jovens pilotos para uma missão impossível. . A direção foi bem consciente na criação de uma ambientação sem pressa e embalada apenas por sons locais e a trilha sonora do filme de 1986. Leva o espectador a esse outro mundo aos poucos, numa grande sequência videoclíptica de aviões decolando e pousando num porta-aviões para em seguida mostrar o Tom Cruise que chega com toda marra numa base aérea de testes. . É um roteiro simples que amarra vários clichês, situações típicas dessas produções pautadas pela nostalgia, mas bem conduzido, de forma a ganhar ainda mais peso quando sequências e músicas são referenciadas com reencontros recorrentes. ... E como muitos revivals, Top Gun traz o conflito de gerações entre o velho herói e um novo tempo. Inicialmente até temos a trama da tecnologia substituindo o piloto (já trabalhada em outros filmes como o terror Stealth). Mas o foco se volta para Maverick precisado domar os jovens pilotos que vão encarar uma missão suicida, conflito que fica mais complexo quando descobre que um deles é filho de um amigo já falecido. ... Mas apesar de ser favorecido pela lembrança do filme dirigido por Tony Scott em 1986, ele não se basta a um montado de recordações. O filme funciona por si só, apresentando personagens novos, ainda que pudesse aprofundar mais em um ou outro novato. ... Os conflitos do Maverick, que nunca superou as perdas do passado, é equilibrado com sequências de ação realistas de tirar o fôlego, pode parecer inacreditável (e é), mas Tom Cruise faz a maioria das cenas dentro dos caças (e obrigou seu jovens colegas a fazer o mesmo). ... Por outro lado, incomodou um pouco a falta de consequências mais trágicas por maiores os riscos que existem e nos deixam tensos todo o tempo. Outra decisão discutível é a criação de uma nação vilã final que é genérica, afinal, desta vez a produção não foi "bancada" pela força aérea como o primeiro e nem estamos na guerra fria mais, mas também não atrapalha (e um bom observador consegue identificar algumas possibilidades).
Algumas amizades levamos para o resto da vida, mas invariavelmente mudamos e reencontrar um amigo pode despertar ao mesmo tempo uma viagem no tempo nostálgica e uma preguiça imensa. ... Em de Férias de Família acompanhamos Sonny, um "dono de casa" supercontrolador com os filhos que é coagido pela esposa para ficar sozinho em casa enquanto ela viaja. Mas na incompetência de se divertir sozinho, resolve encontrar um velho amigo super descolado em sua festa de 44 anos. ... É uma fórmula bem recorrente nos filmes do Mark Wahlberg, ele é sempre o cara de meia idade radical que se mistura entre os "jovens" que encontra outra pessoa da mesma idade, mas que não se encaixa com nada apesar de fazer o padrão mais quadrado possível. Pode ser engraçado? Sim, mas o tipo de piada que vem disso já está bem desgastado. ... Assim, temos um filme que tenta, mas o riso é forçado, o Kevin Hart rapidamente perde a graça com as situações cada vez mais absurdas que se mete. E não sei o motivo de usar CGI em algumas cenas, pois fica pior que o velho "boneco de testes" que era jogado de um lado para o outro antigamente.
O que acontece quando percebemos que o tempo passou e não vivemos a vida que sempre quisemos? . Em X - A Marca da Morte, uma equipe de produção de filmes pornôs aluga uma cabana dentro de uma fazenda para fazer um filme de baixo orçamento, mas acabam se confrontando com um casal de idosos, donos da fazenda. . Ao trabalhar com o tema do confronto entre a juventude e a velhice, o diretor identifica o sexo como marcador não apenas de liberdade, como também de vida ou mera sobrevivência. Tudo encapsulado num terror slasher bastante gore, que homenageia as origens do gênero a partir não apenas dos temas, como à estética de fins da década de 1970. Vale ressaltar a proposta de trilogia semestral (até o momento já foi lançado a prequel e existe uma sequência em produção) que faz lembrar outra série de filmes de terror lançada pela Netflix em 2021. . O diretor trouxe alguns elementos técnicos de montagem que merecem destaque tanto pelo ritmo, que acabou empregando, quanto por decisões que acabam se tornando marcas pessoais na montagem. Criando a densa atmosfera sem pressa e com personagens arquetípicos, mas com elementos suficientes para nos importamos com eles. . Então, temos desde os cortes secos e paralelos espelhados (num ponto específico de mudança de ato), que remetem às produções da época; até (e principalmente) nas transições entre sequências feitas de forma progressiva, com trechos da sequência seguinte aparecendo antes de mudar em definitivo, como se aquele outro momento precisasse "pegar no tranco". . E ao ambientar em 1979 observamos não apenas os temas do cinema referenciados, mas uma especial atenção ao contexto de crise econômica e política que colocou em cheque a ideia de sonho americano, que apesar de ainda defendido, não passava de um sonho ingênuo. . Quebra de expectativa que representou uma mudança brusca na sociedade que passou a buscar respostas hora na liberdade individual evidenciados por Hollywood e a indústria nascente dos filmes independentes de homevideo, como, por outro lado, no fundamentalismo religioso que condenava tais comportamentos.
O fim do mundo não acontece sempre com uma invasão alienígena, explosões atômicas ou meteoros, é mais provável que ele já tenha acabado e só não sabemos ainda. . Em Station Eleven acompanhamos Kirsten, uma jovem atriz de teatro que em meio ao caos de um acontecimento inesperado na peça é esquecida pelos responsáveis. Assim, quem a leva para casa é Jeevan, um criador de conteúdo desempregado que descobre sobre uma gripe sem precedentes com potencial de matar toda a população mundial. . Essa descrição toma apenas o primeiro episódio, que começa como uma noite qualquer, com notícias sobre uma gripe aparecendo na TV e que se tornam cada vez mais preocupantes (mas a maior parte das pessoas só passa a dar atenção quando é tarde de mais). Em paralelo vemos flash do que pode ser o futuro, uma Nova York a muito tempo abandonada. . A série assume várias linearidades nos episódios seguintes e passa a trabalhar com idas e vindas no tempo entre os momentos anteriores à crise e os anos que se seguiram à catástrofe pandêmica. Assumindo como ponto narrativo vinte anos depois da Pandemia e uma revista em quadrinhos permeando as histórias. . É uma ficção científica com drama e ação, mas diferente do que estamos acostumados, este roteiro não fala sobre grandes heróis, sociedades com déspotas renascidos das cinzas, grandes vilões maquiavélicos, mas sobre pessoas traumatizadas que tentam se encontrar no novo mundo e agem com violência pelo medo do desconhecido. . A escolha por essa narrativa múltipla é um trunfo ao mesmo tempo que um problema, pois permite o desenvolvimento de faces dos personagem aos poucos. Mas frequentemente atrapalha o ritmo da história, pois toda vez que encontra os clímax no final dos episódios, essa Catarse é descontinuada no seguinte, desenvolvendo outro momento do tempo que nem sempre estamos interessados ou acaba se prolongando muito além do necessário. . Nesse aspecto, são criados e apresentados muitos personagens interessantes, mas grande parte deles não tem espaço para desenvolver e uma economia em algumas histórias e até mais episódios ajudaria a não apressar algumas resoluções ou dar mais espaço para outros núcleos.
Algumas pessoas não deveriam ter filhos, e quando eles vem sem querer, muitas vezes precisam se esforçar para sobreviver em casa. . O Musical de Matilda nos apresenta uma garotinha inteligente maltratada pelos pais e a diretora da escola que faz uma revolução contra a opressão. Esta produção é inspirada numa peça britânica premiada, que por sua vez tem o livro de Roald Dahl, lançado em 1988, como base, da mesma forma que o filme que conquistou o público na década de 1990. . Este musical já revela que o tom surreal e o tema do abuso infantil vai ser o centro da narrativa desde sua introdução, colocando médicos e pais cantando sobre o milagre de ter um filho gênio num hospital supercolorido em contraste com os pais da jovem Matilda a renegaram desde antes do nascimento. . Essa montanha russa, pautada pelos números musicais acompanha todo o roteiro nesta produção infantil, que tem sim muita fantasia, mas também passagens de verdadeiro horror ao mostrar pais negligentes e uma diretora tirânica na escola. . Esse toque surreal, é encontrado dos pais à escola, mas é na história que Matilda conta para a dona da biblioteca itinerante que a imaginação ganha contornos ainda mais bizarros, no melhor estilo Federico Fellini. Ficção supostamente criada pela protagonista, mas que aos poucos se acaba por se encontrar com a realidade. . Mas diferente do filme dos anos 90, neste outros personagens ganham desenvolvimento, pois além da Matilda e da diretora; temos a dona da biblioteca móvel, que ouve as histórias da garota e a incentiva a sonhar; bem como a professora que ganha cada vez mais presença ao ver a coragem de sua pupila. Os pais, por sua vez, aparecem pela ausência, em especial a mãe que ignora a filha do início ao fim. . Todo o elenco é cativante, no entanto, falta algo. Embora as músicas sejam boas, pareceu faltar uma música clímax, todas estão muito bem inseridas na narrativa e ajudam no desenvolvimento de um ou outro elemento e personagem, mas não nenhuma é memorável a ponto de sobreviver além do filme.
O futuro é apenas uma porta que não sabemos como abrir. ... Em Periféricos acompanhamos Flynne Fisher, uma garota num trabalho comum de uma loja que vende objetos feitos por impressoras 3D, ao tentar ganhar um dinheiro por fora numa suposta realidade virtual super realista, torna-se alvo de uma organização secreta. ... Esses vários elementos já seriam suficientes para muitas histórias, e mesmo assim nem riscamos a superfície de Periféricos que ainda mistura grupos paramilitares, guerras mundiais, stress pós traumático e até uma conspiração envolvendo viagem no tempo. Mas para não revelar em excesso, eu paro por aqui, ressaltando que tudo que mencionei se revela apenas no primeiro episódio. ... Esta ficção científica foi inspirada num livro de William Gibson, autor que popularizou o subgênero cyberpunk com Neuromancer na década de 1980. Informação que cria a expectativa de encontramos algumas questões como implantes tecnológicos e guerra de classes generalizada com megacorporações totalitárias dominando o mundo. ... E por mais que trabalhe com diversos elementos complexos, o roteiro se vale de recursos para não perde nenhum espectador sem chamar a audiência de burra. Um expositivo criativo e variado que possibilita a compreensão sem nunca parece pedante ou esnobe. ... Como o uso de uma amiga da protagonista que nos primeiros episódios resume e organiza tudo que acontece ajudando os menos atento aos acontecimentos, que são tecnicamente caóticos, mas bem apresentados o suficiente para não em nenhum momento ficarmos confusos. ... Atuações sólidas e uma ambientação cuidadosa em tornar real futuros próximos ou distantes finalizam a receita que tem tudo para se manter por mais algumas temporadas.
É comum pensarmos em filmes de esporte como histórias de superação, mas As Nadadoras vai muito além de vencer desafios pessoais, ele nos mostra uma história de sobrevivência e reconstrução. ... Acompanhamos Yusra e Sara Mardini, duas excelentes nadadoras, com potencial olímpico, e que recebiam treinamento do pai desde criança, mas a guerra na Síria aconteceu. Inicialmente ela aparece apenas como manifestações observadas pelas redes sociais e que pouco pareciam afetar a família, mas que foi crescendo (em 2022 ela ainda não terminou). ... E assim, o roteiro se organiza em três grandes capítulos: em 2011 mostrando a vida ainda normal, mas com a violência se intensificando até que em 2015 as irmãs fogem na companhia de um primo; essa segunda etapa do filme é tensa e mostra uma jornada onde é necessário encontrar pessoas em quem confiar, mesmo que tudo diga o contrário; por fim, A necessidade de assumir a nova condição de refugiadas e a adaptação na qual novos desafios e decisões precisam ser tomadas para continuar a vida. ... Divisão bem trabalhada e que contribui para o ritmo da história, no entanto, caminha para a escolha de uma protagonista quase como um funil, de forma a identificarmos com cada vez mais importância uma personagem principal. Abandonando o desenvolvimento de outras narrativas que também tinham potencial. ... E então, por meio de duas personagens reais, temos o recorte de uma das maiores crises sociais e humanitárias no mundo contemporâneo: a imensa onda migratória de pessoas fugindo da violência e da guerra de seus países de origem, para outros que possivelmente possuem alguma culpa no conflito. ... Sem apelar para o melodrama, as irmãs Mardini (que são interpretadas também por irmãs) nos trazem realismo não apenas nos momentos mais críticos, mas naqueles fugazes, olhares que se perdem no horizonte, mas que trazem tristeza, medo e arrependimento. ... Mérito não apenas das atrizes, como também da diretora, claro, e esta ainda nos conduz com sutileza por todo o filme, nos preparando para o futuro com pequenas dicas ao brincar com tipos de tomadas típicas para determinados gêneros como a guerra nas primeiras sequências. Alguns momentos indicando até uma espécie de niilismo com naturalização do conflito, que ocorre até como forma de sobrevivência entre os civis que estão fadados a morte.
Muito antes dos Bruxos caçarem criaturas e serem caçados pelos humanos gananciosos, o mundo era povoado por diferentes clãs de Elfos. Mas quando os exércitos e os magos resolveram dar um golpe de estado em todos os reis que tudo começou a dar muito errado. ... The Witcher - Origem de Sangue volta mais de 1000 anos no tempo para mostrar o grande evento no qual sete valorosos e controversos heróis se juntaram para lutar contra a ganância, se vingar e de quebra criar os bruxos que conhecemos na série original. ... Lançado como uma minissérie em quatro partes, ela surgiu para preencher o hiato de temporadas de Witcher, mas ao recuar tantos anos no tempo, precisou nos apresentar todo um mundo novo. E para que isso acontecesse em tão pouco tempo, tudo precisou ser muito rápido. ... Assim, depois de uma interessante apresentação com o bardo Jaskier sendo salvo por uma entidade mágica que viaja no tempo e conta histórias esquecidas no momento que elas são mais uma vez necessárias, somos levados para a história em questão. Mas a partir do momento que vamos para esse passado, a trama que somos já estava em movimento e acelera mais e mais a cada minuto. ... Com um roteiro genérico e personagens que careciam de desenvolvimento e menos mudanças bruscas de personalidade, o que recebemos foi algo que passou a sensação de requentado com atropelo. Ao mesmo tempo que nada parece realmente novo, não parece ser preciso colocar na velocidade 2x para sentir a corrida acelerada de acontecimentos. ... Por fim, não é a pior coisa que já fizeram de fantasia recentemente, ela apresenta muita coisa interessante em potencial, mas falta cuidado em tanta coisa, do roteiro à produção, que desanima bastante.
A crença na reencarnação é bastante reconfortante, saber que podemos viver muitas vidas, ainda que não lembremos delas, mas e se pudéssemos guardar toda a experiência acumulada em tantas vidas? ... Infinito vai nos mostrar um mundo onde algumas pessoas conseguem lembrar desses passados e com o tempo passaram a se organizar em guildas à favor e contra a humanidade, buscando o controle ou a liberdade. ... Na trama acompanhamos Evan McCauley um homem atormentando pelos vários passados que precisa de remédios para controlar sua suposta esquizofrenia, até que descobre ser um desses reencarnados que precisa evitar o fim do mundo. ... É um filme de ação que encontra vários outros dos últimos trinta anos como perseguições de veículos tunados fazendo manobras impossíveis e lutas coreografadas se afogando em clichês e premissas pouco criativas entre Matrix e Velozes e Furiosos, mas que se perde em narrações saídas de um filme de autoajuda. ... E ainda assim o filme se preocupa em deixar tudo mastigadinho, não importando o quão simples tudo já é. Assim, não se preocupe se você estiver no celular ou sair para pegar um lanche, se perder alguma coisa importante, ela certamente será mencionada outra e outra vez de forma bem didática. ... Para encerrar, nem o elenco ajuda, tirando uns dois ou três atores que pelo menos tem carisma, grande parte não tem ideia do que está fazendo.
Enquanto o ocidente já não aguenta mais tantos filmes baseados em quadrinhos, o Japão assumiu de vez a versão live-action como uma das etapas no fluxo de exploração de suas histórias. ... Em Ajin acompanhamos um adolescente que descobre ser de uma espécie secreta de seres humanos, seres imortais que começaram a ser descobertos recentemente no mundo. Eles morrem por pouco tempo e possuem uma sombra invisível que podem usar para agradar outras pessoas. ... E como tudo que é diferente se transforma num alvo, eles começaram a ser caçados e estudados, sem qualquer ética médica. Como resposta, os semi-humanos começaram a se organizar num grupo terrorista e de auto preservação. ... É um filme de ação com elementos de ficção científica inspirado num mangá de mesmo nome, mas que nessa versão em carne e osso toma liberdades criativas que condensa metade das edições em menos de duas horas de filme. ... A estratégia foi focar quase exclusivamente nos confrontos, enquanto deixa o cenário e os personagens são apresentados por meio dos diálogos expositivos e notícias na TV. Funcional, mas apressado, com soluções que são quase mágicas e sem tempo para desenvolver ninguém.
A América do Norte no século XVIII ainda era um território de conflitos do expansionismo Europeu, apenas nos anos finais que os colonos ingleses ficaram independentes, antes disso ingleses, franceses e espanhóis faziam alianças com os povos originários para garantir suas conquistas. ... Em O Último dos Moicanos acompanhamos Chingachgook, o último chefe da etnia dos Moicanos e seus dois filhos, Uncas e Nathaniel, este último um colono branco adotado. O trio acaba se envolvendo na guerra entre ingleses e franceses que acontece na fronteira onde vivem aliados dos colonos que aceitaram ajudar o exército para proteger suas famílias. ... O filme assume um tom épico desde o início, observado pela grandiosidade em todos os elementos, das sequências de batalha com alto contingente de coadjuvantes e efeito práticos explosivos; à cenografia e caracterização; e até a trilha sonora intensa e emotiva que, não à toa, recebeu várias indicações em premiações. ... Mesmo com tantos anos do lançamento, o filme continua tecnicamente bom, apenas as escolhas pelo melodrama no ato final e o ritmo que prejudicam um pouco. Do primeiro, um romance que beira os folhetins na forma como foi retratado; e isso impacta no ritmo, pois nossa atenção é sempre redirecionada para o casal evidenciado pelo uso da câmera lenta ao exagero ainda que potencialize algumas cenas mais dramáticas.
Não é exclusividade do Papai Noel entregar presentes, várias culturas tem o mesmo tipo de criaturas fantásticas que geralmente são esquecidas. ... Em Reis contra Papai Noel acompanhamos os três reis magos que desde que entregaram ouro, mirra e incenso para o bebê Jesus vem cruzando o mundo dando presentes no fim do ano. Acontece que desde que um certo barbudo de roupa vermelha foi abraçado pelo capitalismo, eles ficaram relegados a, no máximo, um plano B. ... Por causa de uma briga entre algumas dessas entidades, o espírito do Krampus se liberta, sequestra o Papai Noel e enquanto se fortalece fica a cargo dos Três Reis Magos o desafio de reencontrar o velhinho arrogante. ... Uma aventura infantil de natal que ainda reserva certa ironia no roteiro que pode agradar mesmo os adultos com piadas como o esquecimento constante do rei mago do "meio" e o presente que ninguém entendeu para que serve, a inveja dos Reis e um Papai Noel arrogante com o estrelato que conquistou no último século. ... Foi interessante a forma como criaram o mundo mágico, trazendo referencia à entidades de diferentes culturas, com elas compartilhando a magia da virada do ano e o bom aproveitamento das locações da Espanha, com seus castelos e palácios que parecem mesmo ter saído de um dos contos.
Os melhores espiões não são os que conhecem milhares de formas de torturar alguém, mas aqueles que se passam por uma pessoa qualquer. ... Em O Espião Inglês acompanhamos um pequeno empresário com uma oportunidade de ouro, conquistar clientes em Moscou em pleno auge da Guerra Fria, quando os ânimos estavam tão acirrados que qualquer coisa era motivo para explodir uma bomba nuclear. ... Benedict Cumberbatch já provou seu domínio dramático em diversos filmes, e aqui temos mais uma mostra do seu bom trabalho ao nos trazer um vendedor de meia idade alcoólatra que se diverte com o que faz, principalmente depois de ser recrutado para espionar a temida União Soviética. ... Direção, roteiro e ambientação nos levam diretamente para o início da década de 1960, mas é Cumberbatch que realmente nos convence dos perigos crescentes que enfrenta, nos passando um turbilhão de emoções que acompanha a crescente tensão.
Em época de crise, nem os mosteiros mantém os seus monges. ... Em O Monge Desce a Montanha acompanhamos um monge, Anxia, um exímio lutador que foi abandonado pelos pais quando ainda era bebê. Extremamente inocente, só conhece a cidade depois de adulto, quando é adotado por um comerciante. Mas esse é apenas o começo de uma jornada por vários mestres. ... Ambientado na década de 1930, é interessante a forma como trabalha as religiões taoista e budista na base para a construção das tramas e conflitos, deixando essa ligação ora mais obscura, ora mais evidente. ... No entanto, o roteiro é confuso, principalmente por causa da narrativa fragmentada que adota, chegando até a alternar protagonistas. Com personagens e situações caricatas, tenso algo que poderia ser mais fabulesca, mas falha em não assumir completamente esse perfil e a alternância entre o dramalhão e o humor bobo, acaba perdendo o espectador no processo. ... As coreografias teatrais do Kung Fu Wushu de arames também tem um caráter ambíguo, pois contribui num tom ainda mais fantástico onde as lutas se confundem com uma dança. É bonito e hipnótico, mas a insistência em utilizar efeitos digitais ao invés dos práticos fragiliza ainda mais a obra.
Alguns filmes assistimos pela curiosidade mórbida do catálogo infinito dos streamings. ... O Chapeleiro do Mal é, antes de tudo, anacrônico, um filme B da década de 1990 feito em 2021, não como referência ou algo do gênero, mas uma produção que reúne todas as cenas e recursos daquela época sem nenhuma vergonha de se levar a sério. ... Assim, depois de uma abertura que se passa numa festa de época onde o uso descontrolado de drogas resulta num incêndio, avançamos no tempo para a aula de um professor universitário que organiza uma expedição para a casa que é supostamente assombrada. ... A partir disso reunimos quatro alunos exemplos de estereótipos de 30 anos fazendo o papel de jovens adultos, trilha sonora irritante, fantasmas aparecendo como alucinação ou no canto escondido pelos cantos. ... Mas sabe o mais bizarro? Ter como uma das principais a brasileira Isadora Cruz que agora faz a protagonista na novela Mar do Sertão!!! Ah, e a participação Michael Berryman, o icônico ator que esteve em Quadrilha de Sádicos de 1977. ... Simplesmente constrangedor.
É muito comum encontrarmos sucessos das mais variadas mídias serem adaptados para os cinemas, mas poucos exploram pela perspectiva de uma ficção metalinguística dos bastidores. ... Em Veja como eles Correm acompanhamos a investigação da morte do diretor que tinha como missão adaptar uma peça de sucesso sobre assassinatos, no melhor estilo Agatha Christie, com todos os suspeitos do fato confrontados num espaço restrito e, pelo menos motivo (segundo o próprio direto protagonista), não são nada menos que chatas e previsíveis. ... O diretor, assassinado nos primeiros momentos do filme, narra a introdução da história que vai se desenrolar com a investigação de sua morte, mas que gera mais e mais mortes com situações que se confundem com as mortes falsas da peça e entre os suspeitos se misturando entre a equipe de teatro. ... Ambientado na Londres da década de 1950, temos uma comédia de mistério que traz alguns dos elementos clássicos nas narrativas de detetive com a contemporânea metralhadora de diálogos intercalados em falas constrangedoras recheado de referências a personalidades da época e a própria peça original que ainda está em cartaz. ... Apesar de toda essa construção e da divertida composição de personagens excêntricos comandados por um detetive e uma policial super empolgada em participar de um crime com os atores que tanto gosta. O filme soa vazio, o elenco sensacional brilha de forma isolada e contrastante, com interpretações muito boas em detrimento de outras que simplesmente são aborrecidas e não convencem. ... A narrativa e estética peculiares brincam com perspectivas e metalinguagem, da divisão da tela que mostra ao mesmo tempo mais de uma reação ou o uso de flashbacks e clichês assim que tal recursos são criticados por um dos personagens. Mas muitas vezes os recursos são apenas visuais e pouco influenciam na forma ou na história. ... Enfim, um triste potencial desperdiçado, onde encontramos pérolas perdidas, mas que não conseguem sustentar o todo
Madres, Mães de Ninguém
2.5 34A realidade consegue ser muito pior que o sobrenatural.
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Em Madres acompanhamos Diana e Beto, um casal de latinos que, no fim da década de 1970, passa a morar numa cidadezinha do interior da Califórnia que reúne uma comunidade mexicana. Beto é supervisor de trabalhadores no campo e Diana uma jornalista que pretende escrever um livro enquanto espera o fim da gravidez.
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Não é preciso dizer como esse cenário é uma somatória de clichês e que esteticamente ele ainda se vale de cenas clássicas como a panorâmica do carro chegando na nova casa ou as sequências que criam tensão apenas para assustar em seguida.
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Clichês que servem de base para a questão dos imigrantes latinos nos EUA: da xenofobia aos abusos trabalhistas, o uso sem controle dos agrotóxicos e até mesmo uma complexa trama de eugenia. Elementos inspirados em eventos reais que ainda acontecem nos EUA, mas que não ganham espaço na mídia e são prontamente abafados pelo Estado.
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Infelizmente o desenvolvimento é bastante superficial, com o roteiro se agarrando na fórmula padrão de filmes de horror B ao trazer uma maldição que mascara a realidade e não deixando a trama de saúde pública avançar como poderia (discutindo inclusive a questão cultural como forma de controle).
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Ainda assim, o tema proposto é interessante, apresentando bom ritmo e tempo de filme suficiente para evoluir a história sem torná-la cansativa, com atores pouco conhecidos, mas que fazem um bom trabalho.
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Infelizmente ele é dependente do epílogo textual que deixou mais claro a conexão com eventos reais e ainda em conflito jurídico, ressaltando a atualidade do que foi apresentado. Porém, poderia ser muito melhor.
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6/10
Chucky (2ª Temporada)
3.7 99 Assista AgoraQuando um filme sobre um boneco assassino foi lançado na década de 1980, ninguém poderia imaginar o quão longe ele poderia chegar, não apenas em longevidade, mas em histórias que poderiam ser contadas.
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Chucky chega na sua segunda temporada mais uma vez surpreendendo, graças ao que só pode ser uma carta branca dos produtores, Don Mancini explora seu assassino sádico e cínico sem chegar à exaustão. Brincando de forma tão natural com o cinema de horror por meio de referências diretas ou mesmo críticas que a própria franquia assume, tudo sempre com um sanguinário bom humor.
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Neste ano o trio de adolescentes sobreviventes (e os atores ainda tem menos de 18 anos) são internados num colégio católico interno depois de serem responsabilizados pelo acidente explosivo do irmão menor de um deles. Chucky, que supostamente tinha sido destruído quando o caminhão de bonecos explodiu (sim, várias explosões), retorna em várias e diferentes versões (todas brilhantemente interpretadas pela dublagem de Brad Dourif).
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Em paralelo temos a trama da Tiffany, guiada por sua paixão doentia por Nica Pierce, a tentativa de enganar todos que ela é uma atriz mundialmente famosa, além do retorno de Glen e Glenda, em versão de carne e osso e duplicada (a binariedade binária do personagem retomada desde que era apenas um boneco).
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Daí mergulhamos nessas duas histórias que, aos poucos, vai se encontrando ao longo de oito episódios em inúmeras referências que passam desde Pânico ou Eu Sei o Que Vocês Fizeram no Verão Passado à Exorcista, Silêncio dos Inocentes Apocalipse Now e até uma clássica imagem da Pietà.
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Bizarrices seguidas de bizarrices com muito, mas muito sangue para todos os lados e sempre nos surpreendendo com os rumos da narrativa (ainda sinto pelas perdas ao longo dos episódios). Que por trás disso é possível encontrar abordagens sérias sobre homofobia, bullying, masculinidade tóxica, sem perder o horror e a comédia de vista.
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E para completar, ele tem efeitos tão simples, mas também tão reais que passamos a sentir medo daquele boneco desengonçado, boca suja e mortal.
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Temporada 8,5/10
Série 8,5/10
Ruído Branco
2.7 204O ruído branco é um som aleatório de frequência variada, mas de potência constante que atrapalha a atenção, uma cacofonia que nos impede focar em qualquer coisa.
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O filme Ruído Branco, nos apresenta uma feliz família que mora numa cidadezinha estadunidense no início da década de 1980. Ela é formada por quatro filhos neuróticos, uma esposa com problemas de memória e um pai professor universitário, o maior especialista em Hitler.
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Um belo dia, acontece um acidente químico num descarrilamento próximo da cidade e uma nuvem tóxica surge ameaçando e expulsando todos de suas casas. Ao ser exposto à nuvem, o professor Jack Gladney descobre que pode ter apenas mais 15 anos de vida, em média, e isso coloca sua mortalidade em perspectiva.
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É uma comédia dramática que se apresenta por meio de uma cadeia de acontecimentos surreais entre personagens com excentricidades naturalizadas, e a série de situações provoca o expectador a tomar consciência de das próprias excentricidades.
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A ambientação oitentista é o melhor da produção, pois ela reconstrói a década de 1980 em todos os aspectos, preocupando-se com os mínimos elementos dos cenários até o zeitgeist da época que traz uma mistura de medo e desinformação. O elenco complementa muito bem, com destaque para Adam Driver que protagoniza o filme.
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Infelizmente o desenvolvimento é muito confuso, com ideias inseridas e esquecidas com o passar dos três atos que são demarcados telas de título, quase numa estrutura de série sitcom, na qual nem tudo se resolve dentro de um mesmo episódio, mas pouca coisa é levada para o próximo.
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7/10
O Homem do Norte
3.7 947 Assista AgoraMuito se fala que não existe mais imaginação no cinema atual, que tudo que assistimos é copiado de algo, mas mesmo o tão aclamado Shakespeare teve suas inspirações.
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Em O Homem do Norte acompanhamos Amlet, um jovem príncipe nórdico do século IX baseado na mitologia nórdica, sobre um príncipe que jurou vingança contra o tio que matou seu pai quando era criança, o Homem do Norte além de trazer o personagem que inspirou Shakespeare a criar Hamlet, empresta do autor inglês a linguagem teatral.
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Esse épico dramático de ação mistura elementos vindos de diferentes mídias em suas sequências da geografia teatral onde pequenas narrativas acontecem como se espalhadas no palco, apenas esperando o olhar do espectador guiado a partir de planos sequência.
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A própria narrativa dividida explicitamente em vários atos com títulos anunciando as mudanças até a própria atuação e tipos de enquadramento escolhidos que ampliam a carga dramática.
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A fotografia aproveita as fantásticas paisagens islandesas, mas se destaca nas passagens internas ou quando a escuridão emoldura as cenas, as transformando em pinturas na qual os protagonistas ganham destaque pelas cores mais fortes e pelo movimento que muitas vezes são os únicos a se mexer, ressaltando ainda mais a impressão do contraste entre o estático e o movimento.
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9/10
O Conto da Aia (5ª Temporada)
4.0 173 Assista AgoraDepois da fuga resta o medo, o trauma daquilo que não pode ser resolvido facilmente e mesmo depois de matar os monstros que nos assombram, as cicatrizes não deixam de existir.
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A quinta temporada de The Handmaid's Tale finalmente parece apontar para uma esperança, com June em segurança no Canadá. No entanto, isso não dura por muito tempo, pois além de ainda não ter libertado sua filha Hanna, o trauma acumulado ao longo dos anos a impele para o combate.
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Foi uma temporada que pareceu mais branda que as anteriores, provavelmente em resposta às seguidas críticas do sadismo crescente ano após ano. Ainda mantendo um bom ritmo, ela se desenrola a partir de principalmente três núcleos: June e sua família; Serena e Gilead ora focado no comandante Joseph, ora na Tia Lydia.
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Presenciamos o acirramento político, ao mesmo tempo que Gilead mostra sua força militar, também sugere mudanças com a criação de um território neutro para repatriar os refugiados estadunidenses que passaram a sofrer com a crescente xenofobia canadense.
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Esta é uma proposta controversa e de pouca confiança mesmo entre os comandantes e que Joseph vende para conquistar a opinião pública internacional comparando com uma espécie de Hong Kong com leis próprias, mas ainda submetida à Gilead.
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Esta ano também acompanhamos um tipo de redenção para personagens como a Serena e Tia Lydia, não que elas tenham ficado boas do dia para a noite, mas que finalmente perceberam o quanto também eram vítimas de um sistema de violência e que elas não poderiam fazer nada para mudá-los sozinhas.
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Temporada 9/10
Série 9/10
Anjo Maldito
1.4 179Qual o limite do amor dos pais para um filho? Até onde ele pode ser protegido?
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Em Anjo Maldito acompanhamos Lenore Harker que por causa da gravidez, abandona a faculdade para viver com o namorado numa casa de campo. O bebê apresenta um crescimento inesperado que a obriga fazer uma cesariana com uma gestação de seis meses.
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O parto acontece, mas assim que o bebê é retirado do corpo da mãe, descobrimos toda a equipe médica brutalmente assassinada. A partir de então coisas estranhas começam a acontecer com a mãe e o bebê.
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É um remake desconhecido de um filme obscuro de 1974 e o tom de horror bizarro se mantém. Como produção de baixo orçamento até que se sai muito bem em estabelecer ritmo e desenvolvimento. Também é interessante a forma como o filme "não mostra" os atos de violência, apenas seus chocantes resultados.
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No entanto, as atuações são muito irregulares, a protagonista se destaca por ser a pior de todas, perdendo até para o bebê em efeitos digitais. Efeitos que são bem precários, mas que amplificam a aura trash que temos desde a trama.
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Além disso, a direção insiste nos batidos sons que anunciam os sustos, isso mais incomoda do que ajuda em alguma coisa. Som, aliás, não é o forte, já que aparentemente houve falha na captação e os diálogos parecem todos dublados (mesmo na língua original).
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5,5/10
Morbius
2.3 521No início da década de 1970 a editora Marvel encontrou um nicho de mercado abandonado alguns anos antes por uma política de censura, o terror. Assim vários personagens foram criados ou sofreram releituras do clássico com o superheroico.
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Assim nasceu Morbius, uma mistura de Médico e Monstro com Drácula e pitadas de Frankenstein. Explico, ele é um médico com uma doença debilitante que na tentativa de descobrir uma cura, acaba se transformando numa criatura sedenta por sangue, mas que também passa a sofrer por sua nova condição.
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A versão em carne e osso da Sony que se passa numa espécie de universo apêndice da Marvel que inclui o Venom traz essa origem. E para criar conflitos mais combativos insere um melhor amigo que também toma o soro, mas não se importa onde coloca suas presas.
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A produção tem um visual legal, gostei da forma como o Morbius se transforma e os efeitos dos poderes, mas os combates não tem muita imaginação e definitivamente não empolgam, além de serem confusos.
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Os problemas não param, pois falta ritmo e tem uma montagem (e consequente continuidade capenga). O roteiro também não consegue encontrar alguém para temer ou nos importarmos, os atores estão sempre com aquela cara de paisagem e mesmo o Jered Leto (que tanto "se entrega" para seus personagens) pareceu apagado.
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Apesar de tudo, ele não é aquele desesperador pior filme já produzido, é simplesmente ok, tem um espírito da década de 2000, quando os estúdios tinham um pouco de vergonha desse tipo de adaptação, mas não ofende como Venom.
O Pálido Olho Azul
3.3 275 Assista AgoraInspirado num livro de Louis Bayerd, publicado em 2003, somos levados aos Estados Unidos de 1830 num suspense que conta com a presença do jovem Edgar Allan Poe.
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Pálido Olho Azul conta a história da investigação sobre um jovem soldado da academia militar que foi encontrado enforcado e o coração arrancado. Quem assume o trabalho é Augustus Landor, um detetive aposentado que faz parceria com o empolgado cadete Allan Poe.
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O roteiro não perde tempo na apresentação do protagonista, e logo nos coloca em meio a interrogatórios e recolha de pistas. Impondo um bom ritmo narrativo de descobertas intercalados com diálogos que nos ajudam a organizar as informações.
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A ambientação envolta em névoa e campos nevados oprime nosso olhar, flertando com o sobrenatural e ganhando tons góticos. Mas o maior destaque fica com o desenvolvimento de Landon e Poe.
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Os protagonistas são antagônicos e complementares. A figura de Allan Poe é inteligente, eloquente e parece absorver tudo que vivencia, juntando as peças quase inexistentes de quebra-cabeças mentais. Landon, por sua vez, carrega a certeza da experiência, descobrindo aos poucos elementos bizarros sem ser afetado por eles ao mesmo tempo em que a mágoa pela filha desaparecida parece ser a única coisa que o mantém vivo.
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É um filme que captura o espectador, mas com algumas conveniências no desenvolvimento da investigação e que ganha força se conhecermos o Allan Poe histórico, como se essa experiência fosse essencial para quem ele viria a ser.
Top Gun: Maverick
4.1 1,1K Assista AgoraMuitos foram os revivals e reboots lançados nos últimos anos, mas poucos podem se orgulhar de superar o original, Top Gun é um deles.
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Em Top Gun: Maverick acompanhamos o piloto rebelde Pete "Maverick" Mitchell, mais de 35 anos depois dos eventos mostrados no filme original, trabalhando como piloto de testes para a marinha, quando recebe a missão de treinar jovens pilotos para uma missão impossível.
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A direção foi bem consciente na criação de uma ambientação sem pressa e embalada apenas por sons locais e a trilha sonora do filme de 1986. Leva o espectador a esse outro mundo aos poucos, numa grande sequência videoclíptica de aviões decolando e pousando num porta-aviões para em seguida mostrar o Tom Cruise que chega com toda marra numa base aérea de testes.
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É um roteiro simples que amarra vários clichês, situações típicas dessas produções pautadas pela nostalgia, mas bem conduzido, de forma a ganhar ainda mais peso quando sequências e músicas são referenciadas com reencontros recorrentes.
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E como muitos revivals, Top Gun traz o conflito de gerações entre o velho herói e um novo tempo. Inicialmente até temos a trama da tecnologia substituindo o piloto (já trabalhada em outros filmes como o terror Stealth). Mas o foco se volta para Maverick precisado domar os jovens pilotos que vão encarar uma missão suicida, conflito que fica mais complexo quando descobre que um deles é filho de um amigo já falecido.
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Mas apesar de ser favorecido pela lembrança do filme dirigido por Tony Scott em 1986, ele não se basta a um montado de recordações. O filme funciona por si só, apresentando personagens novos, ainda que pudesse aprofundar mais em um ou outro novato.
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Os conflitos do Maverick, que nunca superou as perdas do passado, é equilibrado com sequências de ação realistas de tirar o fôlego, pode parecer inacreditável (e é), mas Tom Cruise faz a maioria das cenas dentro dos caças (e obrigou seu jovens colegas a fazer o mesmo).
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Por outro lado, incomodou um pouco a falta de consequências mais trágicas por maiores os riscos que existem e nos deixam tensos todo o tempo. Outra decisão discutível é a criação de uma nação vilã final que é genérica, afinal, desta vez a produção não foi "bancada" pela força aérea como o primeiro e nem estamos na guerra fria mais, mas também não atrapalha (e um bom observador consegue identificar algumas possibilidades).
De Férias da Família
2.5 78 Assista AgoraAlgumas amizades levamos para o resto da vida, mas invariavelmente mudamos e reencontrar um amigo pode despertar ao mesmo tempo uma viagem no tempo nostálgica e uma preguiça imensa.
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Em de Férias de Família acompanhamos Sonny, um "dono de casa" supercontrolador com os filhos que é coagido pela esposa para ficar sozinho em casa enquanto ela viaja. Mas na incompetência de se divertir sozinho, resolve encontrar um velho amigo super descolado em sua festa de 44 anos.
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É uma fórmula bem recorrente nos filmes do Mark Wahlberg, ele é sempre o cara de meia idade radical que se mistura entre os "jovens" que encontra outra pessoa da mesma idade, mas que não se encaixa com nada apesar de fazer o padrão mais quadrado possível. Pode ser engraçado? Sim, mas o tipo de piada que vem disso já está bem desgastado.
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Assim, temos um filme que tenta, mas o riso é forçado, o Kevin Hart rapidamente perde a graça com as situações cada vez mais absurdas que se mete. E não sei o motivo de usar CGI em algumas cenas, pois fica pior que o velho "boneco de testes" que era jogado de um lado para o outro antigamente.
X: A Marca da Morte
3.4 1,2K Assista AgoraO que acontece quando percebemos que o tempo passou e não vivemos a vida que sempre quisemos?
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Em X - A Marca da Morte, uma equipe de produção de filmes pornôs aluga uma cabana dentro de uma fazenda para fazer um filme de baixo orçamento, mas acabam se confrontando com um casal de idosos, donos da fazenda.
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Ao trabalhar com o tema do confronto entre a juventude e a velhice, o diretor identifica o sexo como marcador não apenas de liberdade, como também de vida ou mera sobrevivência. Tudo encapsulado num terror slasher bastante gore, que homenageia as origens do gênero a partir não apenas dos temas, como à estética de fins da década de 1970. Vale ressaltar a proposta de trilogia semestral (até o momento já foi lançado a prequel e existe uma sequência em produção) que faz lembrar outra série de filmes de terror lançada pela Netflix em 2021.
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O diretor trouxe alguns elementos técnicos de montagem que merecem destaque tanto pelo ritmo, que acabou empregando, quanto por decisões que acabam se tornando marcas pessoais na montagem. Criando a densa atmosfera sem pressa e com personagens arquetípicos, mas com elementos suficientes para nos importamos com eles.
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Então, temos desde os cortes secos e paralelos espelhados (num ponto específico de mudança de ato), que remetem às produções da época; até (e principalmente) nas transições entre sequências feitas de forma progressiva, com trechos da sequência seguinte aparecendo antes de mudar em definitivo, como se aquele outro momento precisasse "pegar no tranco".
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E ao ambientar em 1979 observamos não apenas os temas do cinema referenciados, mas uma especial atenção ao contexto de crise econômica e política que colocou em cheque a ideia de sonho americano, que apesar de ainda defendido, não passava de um sonho ingênuo.
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Quebra de expectativa que representou uma mudança brusca na sociedade que passou a buscar respostas hora na liberdade individual evidenciados por Hollywood e a indústria nascente dos filmes independentes de homevideo, como, por outro lado, no fundamentalismo religioso que condenava tais comportamentos.
Station Eleven
4.0 75O fim do mundo não acontece sempre com uma invasão alienígena, explosões atômicas ou meteoros, é mais provável que ele já tenha acabado e só não sabemos ainda.
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Em Station Eleven acompanhamos Kirsten, uma jovem atriz de teatro que em meio ao caos de um acontecimento inesperado na peça é esquecida pelos responsáveis. Assim, quem a leva para casa é Jeevan, um criador de conteúdo desempregado que descobre sobre uma gripe sem precedentes com potencial de matar toda a população mundial.
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Essa descrição toma apenas o primeiro episódio, que começa como uma noite qualquer, com notícias sobre uma gripe aparecendo na TV e que se tornam cada vez mais preocupantes (mas a maior parte das pessoas só passa a dar atenção quando é tarde de mais). Em paralelo vemos flash do que pode ser o futuro, uma Nova York a muito tempo abandonada.
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A série assume várias linearidades nos episódios seguintes e passa a trabalhar com idas e vindas no tempo entre os momentos anteriores à crise e os anos que se seguiram à catástrofe pandêmica. Assumindo como ponto narrativo vinte anos depois da Pandemia e uma revista em quadrinhos permeando as histórias.
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É uma ficção científica com drama e ação, mas diferente do que estamos acostumados, este roteiro não fala sobre grandes heróis, sociedades com déspotas renascidos das cinzas, grandes vilões maquiavélicos, mas sobre pessoas traumatizadas que tentam se encontrar no novo mundo e agem com violência pelo medo do desconhecido.
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A escolha por essa narrativa múltipla é um trunfo ao mesmo tempo que um problema, pois permite o desenvolvimento de faces dos personagem aos poucos. Mas frequentemente atrapalha o ritmo da história, pois toda vez que encontra os clímax no final dos episódios, essa Catarse é descontinuada no seguinte, desenvolvendo outro momento do tempo que nem sempre estamos interessados ou acaba se prolongando muito além do necessário.
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Nesse aspecto, são criados e apresentados muitos personagens interessantes, mas grande parte deles não tem espaço para desenvolver e uma economia em algumas histórias e até mais episódios ajudaria a não apressar algumas resoluções ou dar mais espaço para outros núcleos.
Matilda: O Musical
3.6 155 Assista AgoraAlgumas pessoas não deveriam ter filhos, e quando eles vem sem querer, muitas vezes precisam se esforçar para sobreviver em casa.
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O Musical de Matilda nos apresenta uma garotinha inteligente maltratada pelos pais e a diretora da escola que faz uma revolução contra a opressão. Esta produção é inspirada numa peça britânica premiada, que por sua vez tem o livro de Roald Dahl, lançado em 1988, como base, da mesma forma que o filme que conquistou o público na década de 1990.
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Este musical já revela que o tom surreal e o tema do abuso infantil vai ser o centro da narrativa desde sua introdução, colocando médicos e pais cantando sobre o milagre de ter um filho gênio num hospital supercolorido em contraste com os pais da jovem Matilda a renegaram desde antes do nascimento.
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Essa montanha russa, pautada pelos números musicais acompanha todo o roteiro nesta produção infantil, que tem sim muita fantasia, mas também passagens de verdadeiro horror ao mostrar pais negligentes e uma diretora tirânica na escola.
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Esse toque surreal, é encontrado dos pais à escola, mas é na história que Matilda conta para a dona da biblioteca itinerante que a imaginação ganha contornos ainda mais bizarros, no melhor estilo Federico Fellini. Ficção supostamente criada pela protagonista, mas que aos poucos se acaba por se encontrar com a realidade.
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Mas diferente do filme dos anos 90, neste outros personagens ganham desenvolvimento, pois além da Matilda e da diretora; temos a dona da biblioteca móvel, que ouve as histórias da garota e a incentiva a sonhar; bem como a professora que ganha cada vez mais presença ao ver a coragem de sua pupila. Os pais, por sua vez, aparecem pela ausência, em especial a mãe que ignora a filha do início ao fim.
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Todo o elenco é cativante, no entanto, falta algo. Embora as músicas sejam boas, pareceu faltar uma música clímax, todas estão muito bem inseridas na narrativa e ajudam no desenvolvimento de um ou outro elemento e personagem, mas não nenhuma é memorável a ponto de sobreviver além do filme.
Periféricos (1ª Temporada)
3.6 90O futuro é apenas uma porta que não sabemos como abrir.
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Em Periféricos acompanhamos Flynne Fisher, uma garota num trabalho comum de uma loja que vende objetos feitos por impressoras 3D, ao tentar ganhar um dinheiro por fora numa suposta realidade virtual super realista, torna-se alvo de uma organização secreta.
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Esses vários elementos já seriam suficientes para muitas histórias, e mesmo assim nem riscamos a superfície de Periféricos que ainda mistura grupos paramilitares, guerras mundiais, stress pós traumático e até uma conspiração envolvendo viagem no tempo. Mas para não revelar em excesso, eu paro por aqui, ressaltando que tudo que mencionei se revela apenas no primeiro episódio.
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Esta ficção científica foi inspirada num livro de William Gibson, autor que popularizou o subgênero cyberpunk com Neuromancer na década de 1980. Informação que cria a expectativa de encontramos algumas questões como implantes tecnológicos e guerra de classes generalizada com megacorporações totalitárias dominando o mundo.
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E por mais que trabalhe com diversos elementos complexos, o roteiro se vale de recursos para não perde nenhum espectador sem chamar a audiência de burra. Um expositivo criativo e variado que possibilita a compreensão sem nunca parece pedante ou esnobe.
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Como o uso de uma amiga da protagonista que nos primeiros episódios resume e organiza tudo que acontece ajudando os menos atento aos acontecimentos, que são tecnicamente caóticos, mas bem apresentados o suficiente para não em nenhum momento ficarmos confusos.
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Atuações sólidas e uma ambientação cuidadosa em tornar real futuros próximos ou distantes finalizam a receita que tem tudo para se manter por mais algumas temporadas.
As Nadadoras
3.9 91 Assista AgoraÉ comum pensarmos em filmes de esporte como histórias de superação, mas As Nadadoras vai muito além de vencer desafios pessoais, ele nos mostra uma história de sobrevivência e reconstrução.
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Acompanhamos Yusra e Sara Mardini, duas excelentes nadadoras, com potencial olímpico, e que recebiam treinamento do pai desde criança, mas a guerra na Síria aconteceu. Inicialmente ela aparece apenas como manifestações observadas pelas redes sociais e que pouco pareciam afetar a família, mas que foi crescendo (em 2022 ela ainda não terminou).
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E assim, o roteiro se organiza em três grandes capítulos: em 2011 mostrando a vida ainda normal, mas com a violência se intensificando até que em 2015 as irmãs fogem na companhia de um primo; essa segunda etapa do filme é tensa e mostra uma jornada onde é necessário encontrar pessoas em quem confiar, mesmo que tudo diga o contrário; por fim, A necessidade de assumir a nova condição de refugiadas e a adaptação na qual novos desafios e decisões precisam ser tomadas para continuar a vida.
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Divisão bem trabalhada e que contribui para o ritmo da história, no entanto, caminha para a escolha de uma protagonista quase como um funil, de forma a identificarmos com cada vez mais importância uma personagem principal. Abandonando o desenvolvimento de outras narrativas que também tinham potencial.
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E então, por meio de duas personagens reais, temos o recorte de uma das maiores crises sociais e humanitárias no mundo contemporâneo: a imensa onda migratória de pessoas fugindo da violência e da guerra de seus países de origem, para outros que possivelmente possuem alguma culpa no conflito.
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Sem apelar para o melodrama, as irmãs Mardini (que são interpretadas também por irmãs) nos trazem realismo não apenas nos momentos mais críticos, mas naqueles fugazes, olhares que se perdem no horizonte, mas que trazem tristeza, medo e arrependimento.
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Mérito não apenas das atrizes, como também da diretora, claro, e esta ainda nos conduz com sutileza por todo o filme, nos preparando para o futuro com pequenas dicas ao brincar com tipos de tomadas típicas para determinados gêneros como a guerra nas primeiras sequências. Alguns momentos indicando até uma espécie de niilismo com naturalização do conflito, que ocorre até como forma de sobrevivência entre os civis que estão fadados a morte.
The Witcher: A Origem
3.0 54 Assista AgoraMuito antes dos Bruxos caçarem criaturas e serem caçados pelos humanos gananciosos, o mundo era povoado por diferentes clãs de Elfos. Mas quando os exércitos e os magos resolveram dar um golpe de estado em todos os reis que tudo começou a dar muito errado.
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The Witcher - Origem de Sangue volta mais de 1000 anos no tempo para mostrar o grande evento no qual sete valorosos e controversos heróis se juntaram para lutar contra a ganância, se vingar e de quebra criar os bruxos que conhecemos na série original.
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Lançado como uma minissérie em quatro partes, ela surgiu para preencher o hiato de temporadas de Witcher, mas ao recuar tantos anos no tempo, precisou nos apresentar todo um mundo novo. E para que isso acontecesse em tão pouco tempo, tudo precisou ser muito rápido.
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Assim, depois de uma interessante apresentação com o bardo Jaskier sendo salvo por uma entidade mágica que viaja no tempo e conta histórias esquecidas no momento que elas são mais uma vez necessárias, somos levados para a história em questão. Mas a partir do momento que vamos para esse passado, a trama que somos já estava em movimento e acelera mais e mais a cada minuto.
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Com um roteiro genérico e personagens que careciam de desenvolvimento e menos mudanças bruscas de personalidade, o que recebemos foi algo que passou a sensação de requentado com atropelo. Ao mesmo tempo que nada parece realmente novo, não parece ser preciso colocar na velocidade 2x para sentir a corrida acelerada de acontecimentos.
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Por fim, não é a pior coisa que já fizeram de fantasia recentemente, ela apresenta muita coisa interessante em potencial, mas falta cuidado em tanta coisa, do roteiro à produção, que desanima bastante.
Infinito
2.6 165 Assista AgoraA crença na reencarnação é bastante reconfortante, saber que podemos viver muitas vidas, ainda que não lembremos delas, mas e se pudéssemos guardar toda a experiência acumulada em tantas vidas?
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Infinito vai nos mostrar um mundo onde algumas pessoas conseguem lembrar desses passados e com o tempo passaram a se organizar em guildas à favor e contra a humanidade, buscando o controle ou a liberdade.
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Na trama acompanhamos Evan McCauley um homem atormentando pelos vários passados que precisa de remédios para controlar sua suposta esquizofrenia, até que descobre ser um desses reencarnados que precisa evitar o fim do mundo.
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É um filme de ação que encontra vários outros dos últimos trinta anos como perseguições de veículos tunados fazendo manobras impossíveis e lutas coreografadas se afogando em clichês e premissas pouco criativas entre Matrix e Velozes e Furiosos, mas que se perde em narrações saídas de um filme de autoajuda.
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E ainda assim o filme se preocupa em deixar tudo mastigadinho, não importando o quão simples tudo já é. Assim, não se preocupe se você estiver no celular ou sair para pegar um lanche, se perder alguma coisa importante, ela certamente será mencionada outra e outra vez de forma bem didática.
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Para encerrar, nem o elenco ajuda, tirando uns dois ou três atores que pelo menos tem carisma, grande parte não tem ideia do que está fazendo.
Ajin: Demi-Humano
3.4 18Enquanto o ocidente já não aguenta mais tantos filmes baseados em quadrinhos, o Japão assumiu de vez a versão live-action como uma das etapas no fluxo de exploração de suas histórias.
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Em Ajin acompanhamos um adolescente que descobre ser de uma espécie secreta de seres humanos, seres imortais que começaram a ser descobertos recentemente no mundo. Eles morrem por pouco tempo e possuem uma sombra invisível que podem usar para agradar outras pessoas.
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E como tudo que é diferente se transforma num alvo, eles começaram a ser caçados e estudados, sem qualquer ética médica. Como resposta, os semi-humanos começaram a se organizar num grupo terrorista e de auto preservação.
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É um filme de ação com elementos de ficção científica inspirado num mangá de mesmo nome, mas que nessa versão em carne e osso toma liberdades criativas que condensa metade das edições em menos de duas horas de filme.
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A estratégia foi focar quase exclusivamente nos confrontos, enquanto deixa o cenário e os personagens são apresentados por meio dos diálogos expositivos e notícias na TV. Funcional, mas apressado, com soluções que são quase mágicas e sem tempo para desenvolver ninguém.
O Último dos Moicanos
3.8 377 Assista AgoraA América do Norte no século XVIII ainda era um território de conflitos do expansionismo Europeu, apenas nos anos finais que os colonos ingleses ficaram independentes, antes disso ingleses, franceses e espanhóis faziam alianças com os povos originários para garantir suas conquistas.
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Em O Último dos Moicanos acompanhamos Chingachgook, o último chefe da etnia dos Moicanos e seus dois filhos, Uncas e Nathaniel, este último um colono branco adotado. O trio acaba se envolvendo na guerra entre ingleses e franceses que acontece na fronteira onde vivem aliados dos colonos que aceitaram ajudar o exército para proteger suas famílias.
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O filme assume um tom épico desde o início, observado pela grandiosidade em todos os elementos, das sequências de batalha com alto contingente de coadjuvantes e efeito práticos explosivos; à cenografia e caracterização; e até a trilha sonora intensa e emotiva que, não à toa, recebeu várias indicações em premiações.
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Mesmo com tantos anos do lançamento, o filme continua tecnicamente bom, apenas as escolhas pelo melodrama no ato final e o ritmo que prejudicam um pouco. Do primeiro, um romance que beira os folhetins na forma como foi retratado; e isso impacta no ritmo, pois nossa atenção é sempre redirecionada para o casal evidenciado pelo uso da câmera lenta ao exagero ainda que potencialize algumas cenas mais dramáticas.
Reis Magos vs. Papai Noel
2.5 1Não é exclusividade do Papai Noel entregar presentes, várias culturas tem o mesmo tipo de criaturas fantásticas que geralmente são esquecidas.
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Em Reis contra Papai Noel acompanhamos os três reis magos que desde que entregaram ouro, mirra e incenso para o bebê Jesus vem cruzando o mundo dando presentes no fim do ano. Acontece que desde que um certo barbudo de roupa vermelha foi abraçado pelo capitalismo, eles ficaram relegados a, no máximo, um plano B.
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Por causa de uma briga entre algumas dessas entidades, o espírito do Krampus se liberta, sequestra o Papai Noel e enquanto se fortalece fica a cargo dos Três Reis Magos o desafio de reencontrar o velhinho arrogante.
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Uma aventura infantil de natal que ainda reserva certa ironia no roteiro que pode agradar mesmo os adultos com piadas como o esquecimento constante do rei mago do "meio" e o presente que ninguém entendeu para que serve, a inveja dos Reis e um Papai Noel arrogante com o estrelato que conquistou no último século.
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Foi interessante a forma como criaram o mundo mágico, trazendo referencia à entidades de diferentes culturas, com elas compartilhando a magia da virada do ano e o bom aproveitamento das locações da Espanha, com seus castelos e palácios que parecem mesmo ter saído de um dos contos.
O Espião Inglês
3.5 73 Assista AgoraOs melhores espiões não são os que conhecem milhares de formas de torturar alguém, mas aqueles que se passam por uma pessoa qualquer.
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Em O Espião Inglês acompanhamos um pequeno empresário com uma oportunidade de ouro, conquistar clientes em Moscou em pleno auge da Guerra Fria, quando os ânimos estavam tão acirrados que qualquer coisa era motivo para explodir uma bomba nuclear.
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Benedict Cumberbatch já provou seu domínio dramático em diversos filmes, e aqui temos mais uma mostra do seu bom trabalho ao nos trazer um vendedor de meia idade alcoólatra que se diverte com o que faz, principalmente depois de ser recrutado para espionar a temida União Soviética.
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Direção, roteiro e ambientação nos levam diretamente para o início da década de 1960, mas é Cumberbatch que realmente nos convence dos perigos crescentes que enfrenta, nos passando um turbilhão de emoções que acompanha a crescente tensão.
O Monge Desce A Montanha
3.1 27 Assista AgoraEm época de crise, nem os mosteiros mantém os seus monges.
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Em O Monge Desce a Montanha acompanhamos um monge, Anxia, um exímio lutador que foi abandonado pelos pais quando ainda era bebê. Extremamente inocente, só conhece a cidade depois de adulto, quando é adotado por um comerciante. Mas esse é apenas o começo de uma jornada por vários mestres.
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Ambientado na década de 1930, é interessante a forma como trabalha as religiões taoista e budista na base para a construção das tramas e conflitos, deixando essa ligação ora mais obscura, ora mais evidente.
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No entanto, o roteiro é confuso, principalmente por causa da narrativa fragmentada que adota, chegando até a alternar protagonistas. Com personagens e situações caricatas, tenso algo que poderia ser mais fabulesca, mas falha em não assumir completamente esse perfil e a alternância entre o dramalhão e o humor bobo, acaba perdendo o espectador no processo.
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As coreografias teatrais do Kung Fu Wushu de arames também tem um caráter ambíguo, pois contribui num tom ainda mais fantástico onde as lutas se confundem com uma dança. É bonito e hipnótico, mas a insistência em utilizar efeitos digitais ao invés dos práticos fragiliza ainda mais a obra.
O Chapeleiro do Mal
1.1 37 Assista AgoraAlguns filmes assistimos pela curiosidade mórbida do catálogo infinito dos streamings.
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O Chapeleiro do Mal é, antes de tudo, anacrônico, um filme B da década de 1990 feito em 2021, não como referência ou algo do gênero, mas uma produção que reúne todas as cenas e recursos daquela época sem nenhuma vergonha de se levar a sério.
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Assim, depois de uma abertura que se passa numa festa de época onde o uso descontrolado de drogas resulta num incêndio, avançamos no tempo para a aula de um professor universitário que organiza uma expedição para a casa que é supostamente assombrada.
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A partir disso reunimos quatro alunos exemplos de estereótipos de 30 anos fazendo o papel de jovens adultos, trilha sonora irritante, fantasmas aparecendo como alucinação ou no canto escondido pelos cantos.
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Mas sabe o mais bizarro? Ter como uma das principais a brasileira Isadora Cruz que agora faz a protagonista na novela Mar do Sertão!!! Ah, e a participação Michael Berryman, o icônico ator que esteve em Quadrilha de Sádicos de 1977.
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Simplesmente constrangedor.
Veja Como Eles Correm
3.2 59 Assista AgoraÉ muito comum encontrarmos sucessos das mais variadas mídias serem adaptados para os cinemas, mas poucos exploram pela perspectiva de uma ficção metalinguística dos bastidores.
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Em Veja como eles Correm acompanhamos a investigação da morte do diretor que tinha como missão adaptar uma peça de sucesso sobre assassinatos, no melhor estilo Agatha Christie, com todos os suspeitos do fato confrontados num espaço restrito e, pelo menos motivo (segundo o próprio direto protagonista), não são nada menos que chatas e previsíveis.
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O diretor, assassinado nos primeiros momentos do filme, narra a introdução da história que vai se desenrolar com a investigação de sua morte, mas que gera mais e mais mortes com situações que se confundem com as mortes falsas da peça e entre os suspeitos se misturando entre a equipe de teatro.
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Ambientado na Londres da década de 1950, temos uma comédia de mistério que traz alguns dos elementos clássicos nas narrativas de detetive com a contemporânea metralhadora de diálogos intercalados em falas constrangedoras recheado de referências a personalidades da época e a própria peça original que ainda está em cartaz.
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Apesar de toda essa construção e da divertida composição de personagens excêntricos comandados por um detetive e uma policial super empolgada em participar de um crime com os atores que tanto gosta. O filme soa vazio, o elenco sensacional brilha de forma isolada e contrastante, com interpretações muito boas em detrimento de outras que simplesmente são aborrecidas e não convencem.
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A narrativa e estética peculiares brincam com perspectivas e metalinguagem, da divisão da tela que mostra ao mesmo tempo mais de uma reação ou o uso de flashbacks e clichês assim que tal recursos são criticados por um dos personagens. Mas muitas vezes os recursos são apenas visuais e pouco influenciam na forma ou na história.
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Enfim, um triste potencial desperdiçado, onde encontramos pérolas perdidas, mas que não conseguem sustentar o todo