Ramon Alves

Monótono e catártico, do jeito que eu gosto!

O filme me lembrou, pela temática, da obra "São Bernardo" de Graciliano Ramos, que foi muito bem adaptada para o cinema por Leon Hirszman. Sinto que "Propriedade", de Daniel Bandeira, traz uma leitura em camadas que vai além da ingênua dicotomia entre explorador e explorado.

O filme é bem-sucedido em transmitir a violência de ambos os lados, mostrando o explorado como um sujeito menos passivo do que comumente é retratado. Isso em nada desmerece sua condição. Pelo contrário, humaniza suas angústias, preocupações e interesses. Isso nos leva a admitir que a violência está enraizada em nossa sociedade, tornando difícil determinar quem seria o "lado certo" da história. O mais plausível é admitir que nossas relações cordiais são artificiais e que, ao menor deslize, esse véu é manchado por sangue.

Cinema e literatura são linguagens diferentes entre si. Toda comparação, livro versus filme, é um tanto insensata ao meu ver. Para aqueles que leram a obra de Aluísio de Azevedo, o filme serve como uma ilustração imagética da obra literária.