Curti a série do Bruxão. Não chega aos pés das melhores temporadas de GoT. É um Xena melhor produzido. O roteiro que ser esperto com suas várias linhas do tempo, mas acaba se atrapalhando. E certos diálogos são terríveis. Apesar de algumas atuações fracas, os personagens são muito cativantes (vai entender!). Quero ver a 2ª temporada.
A HBO queria, pelo menos, mais duas temporadas de GoT por ser seu produto mais valioso. Mas D&D não queriam mais saber da série. Queriam tocar outros projetos. Também a logística era insana, com filmagens em locais reais, em vários países. Sense 8 tinha o mesmo problema, mas foi cancelada por baixa audiência. No caso de GoT, a HBO considerava que o alto investimento compensava. E D&D tiveram carta branca para decidir os rumos de Westeros sem muita interferência, uma postura comum entre o canal e seus criadores, mas que foi levada à última consequência com GoT. Pra mim, o tiro saiu pela culatra. Muita liberdade criativa e muito dinheiro gasto para resultar numa das maiores frustrações da história recente da cultura pop. Uma coisa é subverter expectativas. Isso até mostra respeito à inteligência alheia. Outra coisa bem diferente é tratar fãs que acompanharam a série por 10 anos como idiotas.
Love, Death + Robots é uma proposta saída das mentes de Tim Miller, diretor do primeiro Deadpool, e de David Fincher. Há onze anos os dois tiveram a ideia de fazer um remake de Heavy Metal, a clássica antologia de curtas de animação dos anos 80. Ouviram várias negativas dos estúdios até que os direitos de adaptação de Heavy Metal foram comprados por Robert Rodriguez, em 2011. Depois que a Netflix deu o ok, Miller e Fincher tiveram que mudar o nome da antologia deles, mas mantiveram o espírito de fantasia adulta e cyberpunk de Heavy Metal. O saldo de Love, Death + Robots é positivo por causa de seus melhores episódios. Na minha conta, quase a metade. Os curtas que se destacaram foram aqueles que fugiram da estética de videogame, com um estilo de animação mais criativo, seja para a comédia ou para o drama. Além de ter narrativas que não colocaram mulher pelada gratuitamente, toneladas de violência e soluções preguiçosas de roteiro. Não é porque o formato é um curta que tudo deve ser chocante, apelativo, apressado, sem sutilezas. Seguem abaixo minhas histórias preferidas:
8)13, número da sorte (Um curta com estética de videogame, mas que conta uma bela história de "amizade" entre uma piloto e sua nave);
7) Metamorfos (Mais um curta com estética de videogame, eu sei, mas é uma história poderosa sobre identidade e pertencimento);
6) Histórias alternativas (Este curta teve o desafio - e a coragem - de tornar Hitler divertido);
5) Noite de pescaria (O curta com a proposta mais onírica, sobre o choque entre a banalidade do real e o maravilhamento do inexplicável);
4) Quando o iogurte assumiu o controle (A premissa é tão absurda, mas como sátira da condição humana funcionou muito bem, poderia tranquilamente ser um curta da Pixar);
3)Zima Blue (Um artista plástico revolucionário está prestes a apresentar sua obra definitiva, adorei o estilo de animação, uma mistura de Aeon Flux com expressionismo alemão, com uma relevação final cheia de significados);
2) Os três robots (O curta mais divertido, adoro histórias com robôs e I.A.´s irônicos);
1) Boa Caçada (Passado numa China steampunk, tem nudez feminina, mas fala sobre empoderamento e resistência, numa espécie de versão adulta das animações da Disney).
Inuyashiki é um anime diferente. Pelo menos, em sua premissa. O sr.Inuyashiki é um homem esgotado, pouco valorizado no trabalho e por sua família. Uma noite, ele está passeando sozinho no parque da cidade quando, de repente, uma nave alienígena cai, provoca uma baita destruição e o mata. Para consertar o acidente, os alienígenas reconstroem tudo e vão embora. Nada parece fora do lugar. E o sr.Inuyashiki volta à vida. Mas agora como um poderoso ciborgue. Passado o espanto, ele decide ajudar as pessoas, num senso de altruísmo bem característico do Japão. Contudo, naquela noite, ele não estava sozinho no parque. Shishigami é um adolescente bonito, inteligente e popular na escola. E um psicopata. Ele também se torna um ciborgue, tornando sua crueldade muito mais letal. O mais interessante no anime é colocar um idoso como protagonista. Um humano que não tinha muita afinidade com tecnologia e que agora precisa se atualizar para aprender como seu novo corpo ciborgue funciona. Há muito melodrama e maniqueísmo. Mas também momentos mais elaborados, abordando as relações entre pessoas de gerações diferentes e de pais e filhos. Outro acerto foi fazer de Shishigami um vilão mesmo óbvio e caricato. Há um conflito nele entre ser bom ou mal, ser aceito ou rejeitado. A animação é fluida e o 3D nas cenas de ação é bem decente. Prepare o lencinho.
Pegue um roteiro afiado, atuações marcantes e uma produção matadora e você tem Killing Eve. A série é a paródia dos filmes de espionagem mais sombria dos últimos anos. Sandra Oh é Eve Polastri, uma agente do Serviço Secreto Britânico, que caça Villanelle, uma assassina implacável de figurões da política e dos negócios na Europa. O que faz de Killing Eve algo especial é o protagonismo das mulheres. Essa é uma série feminista nada convencional. O que significa que aqui as mulheres estão livres para ser o que quiser. E então elas aproveitam para seguir suas intuições, errar feio, expressar sua sexualidade, não ligar para a opinião dos outros, desobedecer ordens, ser chatas, não sorrir, manipular. Todo o elenco feminino está em primeiro plano. Há personagens masculinos bem desenvolvidos, mas eles não são o foco. Eve e Villanelle não lutam contra os homens. Elas os amam, os ignoram ou os mata. A mente por trás da série é a atriz, roteirista, dramaturga e produtora britânica Phoebe Waller-Brigde. A mistura de humor pastelão, ironia perversa, gore e suspense dramático traz um frescor desconcertante. Sandra Oh é a estrela da série, mas quem rouba a cena é a Villanelle de Jodie Comer. Ela é tudo que um homem mais teme numa mulher: bonita, charmosa, segura de si e cheia de um humor ácido. Mas ela é também confusa e carente. A grande sacada da série é fazer um spy thriller cheio de estilo, com fotografia de cinema, montagem dinâmica, desing de produção misturando elementos dos anos 60 à atualidade e locações reais. A trilha sonora é viciante, composta por canções do pop francês do passado (Anna Karina, Brigitte Bardot, Françoise Hardy) e do pop contemporâneo, principalmente, o som da banda americana Unloved. A trilha sonora é mais um personagem na série, com cada canção entrando no momento certo para intensificar ou ironizar o que é mostrado. Killing Eve é divertido, sanguinolento e nos faz pensar sobre o estado das coisas.
Homecoming é uma série estrelada por Julia Roberts. Na verdade, é a estreia dela na "TV" como protagonista. Vocês podem pensar que, pelo título e pela fama de queridinha da América da atriz, a série seja uma comédia água com açúcar. Mas vocês vão ficar de queixo caído já no primeiro episódio. Homecoming é um thriller tenso pra burro, com todos os episódios dirigidos por Sam Esmail, o criador de Mr. Robot. Aqui Julia Roberts é uma terapeuta, coordenadora de um centro de recuperação para veteranos de guerra. Sua função é ajudar esses jovens traumatizados a lidar com as sequelas psicológicas dos horrores vivenciados no campo de batalha. Mas, aos poucos, alguns clientes, como os soldados são chamados, começam a desconfiar dos reais propósitos da empresa que financia o projeto. Homecoming se passa em duas linhas temporais, nos dias de hoje e em um futuro próximo. A série funciona muito bem porque as partes que a compõem formam um todo coeso e intrigante. São dez episódios com cerca de 30 minutos cada. A tensão está presente do primeiro ao último minuto de cada episódio. Os roteiros dos criadores da série Micah Bloomberg e Eli Horowitz têm diálogos ora penetrantes, ora casualmente irônicos, além de montar um quebra-cabeça que, ao final, faz sentido e de, certa maneira, explode nossas cabeças. A direção estilizada de Sam Esmail eleva a qualidade do texto. Esmail pegou, sem nenhum pudor, a estética dos filmes de conspiração dos anos 70, misturou com outro tanto de Hitchcock, um pouquinho de cyberpunk, bateu e saiu com escolhas visuais e sonoras que são ao mesmo tempo homenagem, paródia e evolução de filmes como Todos os Homens do Presidente, Maratona da Morte e Três Dias do Condor. Julia Roberts está muito bem, despida de qualquer glamour, num personagem bastante humano, ou seja, ambíguo. O final da série é surpreendente porque quebra expectativas ao entregar o que o espectador não pediu, mas que é interessante mesmo assim. O perigo é real, só que não do jeito que você pensa. A cena pós-crédito do season finale deixa um belo gancho para a 2ª temporada, que já ganhou o sinal verde.
Houve muitos comentários sobre essa série, mas eles ficaram restritos ao fandom brasileiro e ao americano. Final Space é uma "dramédia" espacial ágil, divertida, mas com momentos tensos. O grande barato aqui é o carisma dos personagens, que se parecem com outros já conhecidos. Assistindo à criação do ator, youtuber e cartunista Olan Rogers, as referências pipocam na tela: Star Wars, Star Trek, 2001, Buck Rogers, Rick and Morty, Futurama, Douglas Adams etc. Mas Rogers consegue fazer algo próprio, tanto no design dos personagens quanto com a narrativa. Às vezes, o humor é bem bobo, nível Homer Simpson. Mas, em algumas cenas dramáticas, a série alcança uma maturidade impressionante. O worldbuilding não é muito desenvolvido, porém a qualidade da animação torna Final Space uma aventura espacial dinâmica e cheia de cores.
Christopher Nolan é um diretor muito talentoso, mas metade de seu sucesso se deve ao irmão e roteirista Jonathan Nolan. É como se o irmão mais velho Chris fosse o frontman da banda e Johnny, o guitarrista misterioso.
Desde o inventivo roteiro do filme Memento virei fã de Jonathan Nolan. Depois ele, em parceria com David S. Goyer, escreveu aquela maravilha chamada O Cavaleiro das Trevas. E então veio Westworld. Junto com sua esposa Lisa Joy, Jonathan Nolan mostrou do que era realmente capaz de fazer com total liberdade criativa.
Mas antes houve Person of Interest. Uma série de TV que teve cinco temporadas (2011-2016) e que também falava sobre inteligência artificial. Já faz algum tempo que não tenho mais paciência para assistir série de canal aberto com vinte e tantos episódios. Mesmo assim resolvi tentar e fiquei viciado. Que série incrível!
O que me atraiu em Person of Interest foram os personagens carismáticos (inclusive os vilões), os diálogos afiados e o worldbuilding desenvolvido. Após o ataque às Torres Gêmeas, o cientista Harold Finch (Michael Emerson) cria um supercomputador para prever ameaças aos EUA. As coisas dão errado e ele se torna um fugitivo do governo americano que agora usa sua criação para ajudar as pessoas ao invés de prejudicá-las. Para isso, Finch conta com a ajuda do ex-militar e ex-agente da CIA John Reese (Jim Caviezel), um homem em crise.
Destaque para as personagens femininas: sábias, irônicas, determinadas, guerreiras, violentas e imperfeitas. A policial Joss Carter (Taraji P. Henson), a hacker Root (Amy Acker), a espiã Sameen Shaw (Sarah Shahi), a fixer Zoe Morgan (Page Turco) , a criminosa Harper Rose (Annie Ilonzeh), a dirigente da CIA Control (Camryn Manheim), a agente da CIA Kara Stanton (Annie Parisse), a assassina Martine Rousseau (Cara Buono) e outras. Mesmo havendo uma atenção quanto à diversidade, aconteceram na série mortes desnecessárias, reforçando estereótipos.
Person of Interest começa como um procedural, muito acima da média, e evolui para uma trama de ficção científica das mais relevantes. Temas como liberdade, escolha, determinismo social e vigilância são recorrentes, fazendo o espectador pensar melhor sobre as consequências do comportamento humano, como indivíduo e sociedade.
A série também é muito divertida, cheia de humor nerd, suspense e ação. Por ter tido mais de 100 episódios, é óbvio que a qualidade oscila. Mas há episódios memoráveis em cada temporada. E, pra mim, a 4ª atinge o auge. Toda ela praticamente voltada para o arco principal.
Outro destaque é a trilha sonora imersiva do sempre ótimo Ramin Djawadi (Pacific Rim, Westworld, Game of Thrones). Além de músicas do Radiohead, Pink Floyd e Massive Attack.
Christopher Nolan é um diretor muito talentoso, mas metade de seu sucesso se deve ao irmão e roteirista Jonathan Nolan. É como se o irmão mais velho Chris fosse o vocalista da banda e Johnny fosse o guitarrista, o cara que dá peso ao som. Desde o inventivo roteiro de Memento virei fã de Jonathan Nolan. Depois ele, em parceria com David S. Goyer, escreveu aquela maravilha chamada O Cavaleiro das Trevas. E então veio Westworld, para ele, junto com sua esposa Lisa Joy, mostrar do que é realmente capaz de fazer com total liberdade criativa. Mas só agora comecei a ver Person of Interest. Mesmo muito elogiada, já faz algum tempo que não tenho mais paciência para assistir série de canal aberto com vinte e tantos episódios. Mesmo assim resolvi tentar e fiquei viciado. Que série incrível! O que me atraiu na série foram os diálogos afiados e o conceito de The Machine. É um procedural muito acima da média. Estou na primeira temporada e sei que o melhor ainda estar por vir.
Dear White People evoliu na sua 2ª temporada. Faço uma comparação com os filmes de O Poderoso Chefão. O primeiro tem uma narrativa mais redonda, com cenas mais memoráveis. O segundo é mais disperso, porém revela-se mais complexo, elevando a qualidade do universo em torno de Michael Corleone. O mesmo acontece com Dear White People. Na 2ª temporada, o racismo é mais brutal e as consequências são mais devastadoras para os personagens, principalmente, para a birracial Sam, que sofre ataques de todos os lados, e Reggie, que tenta se recuperar do trauma de quase ser morto pela polícia simplesmente por ser negro, na temporada anterior. Ao mesmo tempo, a problemática desse racismo ganha novas camadas. O foco não é exatamente o homem branco cis como indivíduo. Mas a sociedade em geral que pensa como esse homem branco. Neste caso, o racismo pode vir dos lugares (melhor dizendo, das pessoas) mais inusitados. A coisa ficou mais séria, mas a série não perdeu sua leveza. Dear White People continua ágil, divertida, criativa e elegante.
A série The Expanse é uma espécie de Game of Thrones no espaço.
Desde o final do reboot de Battlestar Galactica, o canal SYFY tenta emplacar outro sucesso. Várias tentativas ficaram pelo caminho. Até acertarem com The Expanse. É uma space opera mais sombria e realista (claro que com suas liberdades dramáticas se tratando de espaço sideral), com personagens muito bem desenvolvidos e com personalidades complexas. Os heróis fazem coisas terríveis e os vilões não são cartunescos, possuem motivações convincentes. A força da série está justamente nos personagens e na trama, que mistura elementos de suspense, aventura espacial e uma boa pitada de terror.
Outro triunfo de The Expanse é apostar na diversidade. Nisso ela ganha de lavada de GoT. Tendo um worldbuilding tão rico, com várias culturas e línguas ao redor da galáxia, passando pelas mudanças na estrutura corporal e reação à gravidade de terráqueos, marcianos e belters, às tecnologias que permitem a viagem no espaço, há toda uma variedade de gente, seja como protagonistas, coadjuvantes ou para compor cenários de fundo. Há negros, asiáticos, árabes, latinos, indígenas.
Houve uma melhora significativa na qualidade da série na segunda temporada. As mulheres se tornaram personagens mais relevantes. A trama ficou mais interessante. Há uma boa dose de ação, mas este não é o foco. O grande mistério é construído aos poucos, o que pede certa paciência do espectador.
The Expanse ficou conhecida como a melhor série de ficção científica da atualidade que quase ninguém assiste. O que é uma pena. Ela merece mais audiência e reconhecimento.
Precisamos prestar mais atenção aos documentários da Netflix e aos documentários em geral. Sempre fui fã do gênero. E alguns dos melhores filmes nacionais são documentários. A verdade pode ser manipulada, se transformar numa obra de ficção. O diretor de um documentário, por mais talentoso que seja, precisa se ater ao compromisso ético de juntar seu quebra-cabeça de informações para mostrar a verdade ou as verdades possíveis dentro de um contexto social e/ou histórico.
No caso de Wild Wild Country, temos uma obra-prima nesse sentido. Uma história tão rica e real, filmada de maneira tão vibrante. A narrativa desse documentário é superior a muitas séries de ficção badaladas da Netflix. Em seis episódios, conhecemos a fundo um dos casos mais controversos da crônica americana nos anos 80: a chegada do guru Bhagwan Shree Rajneesh (depois conhecido como Osho) e seus seguidores ao estado do Oregon para fundar uma comunidade alternativa, numa área rural, cercada de cowboys.
Como diz um dos “personagens” no documentário, no futuro vão pensar que se trata de pura ficção. Porque a história é muito louca. E os personagens fascinantes. Principalmente, Ma Anand Sheela, a toda poderosa secretária de Osho. Ela era uma força da natureza. A pessoa que fazia as coisas acontecerem. À medida que o número de seguidores aumentava no Oregon, assim como a infra-estrutura da comunidade, os conflitos com os vizinhos se acirravam. Então começa uma guerra entre conversadores americanos contra essa comunidade, cheia de gente cansada do american way of life. Mas não pensem que era uma disputa entre caipiras e hippies. A coisa era mais complexa. Havia muito preparo intelectual de ambos os lados. Por isso, a sofisticação da guerra entre esses dois grupos chegou a níveis inacreditáveis.
O que torna Wild Wild Country tão marcante é a junção de conteúdo e forma. Os diretores Chapman e Maclain Way souberam criar uma narrativa empolgante com o uso de vários recursos audiovisuais, principalmente no trabalho com as imagens de arquivo. Esse documentários faz a gente pensar um pouco mais sobre o valor de nossas convicções. Até que ponto devemos deixá-las de lado ou mantê-las.
Finalmente consegui ver a 1ª temporada de "Atlanta", disponível na Netflix desde dezembro. O show do canal FX, de 2016, foi criado pelo ator, comediante, roteirista, diretor, produtor e músico Donald Glover. A série mostra Earn, personagem de Glover, que volta para sua cidade natal, depois de uma saída mal explicada da Universidade de Pricenton. Sem grana e com uma filha pequena para criar, Earn convence o primo, o traficante de drogas e rapper em ascensão Paper Boi, a fazer dele seu empresário, usando suas conexões como ex-DJ e muito jogo de cintura. A grande sacada da série é pegar cada esteriótipo sobre o que é ser negro nos EUA e virar pelo avesso. A começar pelo personagem de Paper Boi, que se vende e é vendido pelos outros como um perigoso gângster e um rapper fodão, mas que, na verdade, é um cara mais consciente das coisas do mundo e mais melancólico do que a superfície mostra. Atlanta tem um tom mais realista do que outras dramédias, uma pegada de filme independente. Mas que brinca e ousa na linguagem visual, tirando sarro do próprio formato de sitcom. Racismo, apropriação cultural e pobreza são temas muito presentes. Mas o tom de denúncia nunca é panfletário, raso, sem autocrítica. O humor não é para gargalhar. Há uma ironia constante. Algo de comédia do absurdo e até um pitada de realismo mágico.
A 2ª temporada de Stranger Things desenvolve melhor os personagens, sacrificando o ritmo e a coesão da trama. A série demora alguns episódios para engatar, mas termina muito bem. Steve e Will são as maiores surpresas dessa temporada. E Dustin e Eleven continuam sendo as melhores coisas da série. As referências aos anos 80 continuam: Gremlins, Aliens, Caça-Fantasmas, John Hughes, Spielberg, Stephen King, John Carpenter e por aí vai.
Apesar da perda de tempo em vários episódios com um romancezinho besta, na hora da ação, essa série é incrível. A comédia é outro ponto alto. Há personagens femininas fortes, mas temos aqui mais um anime no qual as mulheres viram objetos sexuais com roupas sexy, peitões e calcinhas à mostra. No geral, os personagens continuam interessantes. Fico feliz que a 3ª temporada já foi confirmada.
Houve quatro ou cinco grandes momentos nessa temporada, mas, sem dúvida, ela acaba como a pior de todas. E deixa para a última temporada uma sensação de jogo perdido, apenas para cumprir tabela. Ou será que os showrunners vão surpreender os fãs nos seis episódios finais? Missão praticamente impossível. A ironia é que a série vai acabar e os fãs ainda vão estar loucos para ler os dois livros restantes, na esperança de um final, pelo menos, mais digno para os personagens. Em segredo, o Tio Martin da Noite tá fazendo a dancinha da vitória.
A primeira temporada de Master of None me conquistou por ter tido a ousadia de fazer comédia romântica inteligente do ponto de vista do cara que nos filmes é o melhor amigo não-branco do protagonista branco. No caso, um cara de ascendência indiana. Aziz Ansari conseguiu ser divertido e, ao mesmo tempo, não banalizar temas cabeludos, como racismo, estereótipos e diferenças culturais. Na segunda temporada, vemos tudo mais ambicioso e maduro, mas sem perder a leveza tão marcante na série. Há mais experimentações de linguagem, o próprio Ansari se mostra um roteirista e diretor mais seguro e inventivo. As coisas ficam mais sérias nos últimos episódios. O drama vai tomando espaço da comédia. Mas tudo é tão bem executado que nos deixamos levar e sofrer as angústias dos personagens. A cena final deu um nó na cabeça. Porque, enfim, entre a fantasia e a realidade, não existe receita pronta quando o assunto é relacionamentos.
A série da Netflix Cara Gente Branca é uma ótima maneira de qualquer pessoa entender como o racismo opera na sociedade. Os dez episódios mostram a vida de estudantes negros numa universidade americana de elite. A escolha do cenário é certeira. Num ambiente onde o pensamento progressista devia dominar, arma-se um campo de batalha racial depois de uma festa blackface. A partir daí o espectador tem contato com todos os aspectos da vida universitária, principalmente, os menos nobres. A sistematização do racismo no campus não é muito diferente do que acontece em outros espaços sociais. Num lugar onde o jovem negro devia se sentir seguro, a violência simbólica é mais articulada. E a violência física é a mesma do mundo lá fora. Acompanhamos as várias nuances da experiência do jovem negro pelo ponto de vista de um elenco de personagens complexos. À primeira vista, eles podem ser vistos como estereótipos (a ativista, a patricinha, o radical, o capitão do mato). Mas a série dá oportunidade para que o espectador e os próprios personagens reflitam sobre quem eles são, a fundo. A todo momento, esses jovens tentam entender como fazer parte de uma sociedade que assimila e enaltece a cultura negra, mas que não se importa com corpos e mentes de gente negra. O humor aqui não é para gargalhar. Está mais para uma ironia incômoda. A série é muito bem escrita, dirigida com discrição e tem atuações marcantes. Ela é excelente, mas não é perfeita. Os primeiros cinco episódios seguem numa qualidade crescente, mas a segunda metade da série cai de rendimento, com momentos monótonos, repetitivos. Mas, no final, percebemos como Cara Gente Branca é inteligente, corajosa e necessária.
A série Legion é a coisa mais diferente que já vi, na TV ou cinema, envolvendo super-heróis. O canal FX deu carta branca para o badalado showrunner Noah Hawley virar o universo dos x-men pelo avesso.
A narrativa de Legion é uma mistura de Michel Gondry e David Lynch. A direção de arte também é uma mistureba interessante de referências dos anos 60, 70 e atuais. Uma solução para cortar custos, mas que funcionou muito bem para dar um visual único à série. Outro atrativo é a trilha sonora. Quem curte aqui Pink Floyd?
Provavelmente, o espectador médio, mesmo fãs da Marvel, vai achar tudo muito estranho e difícil de acompanhar. Há heróis, vilões e superpoderes, mas a atmosfera de sonho, de delírio talvez não agrade quem esperava uma narrativa mais linear, menos subjetiva.
A verdade é que Legion deu um novo fôlego às adaptações de super-heróis. Mesmo que pouca coisa dos quadrinhos tenha sido usada. Mas há uma ligação direta com os x-men, o que pode ser mais explorado no futuro.
A história gira em torno do protagonista David Haller, interpretado com competência e carisma por Dan Stevens. Ele é o centro de tudo. Mas há espaço para o desenvolvimento dos outros personagens, até dos vilões. Mas quem rouba o show é Aubrey Plaza com sua performance ligada no 220v. Outro que faz a diferença é Jemaine Clement, com seu Oliver Bird irônico e bon-vivant.
Legion não é perfeito. Lá pelo meio, a criatividade dos roteiros cai de rendimento, dando voltas que não levam a lugar nenhum, para se recuperar no final. E quando se exige mais dos efeitos especiais, fica evidente a falta de grana para algo mais sutil. A série acompanha a tendência atual. São oito episódios que focam em um grande arco. Talvez a trama ficasse melhor amarrada em seis episódios.
A segunda temporada já está confirmada. A questão é saber o que Hawley vai fazer daqui para frente. Os índices de audiência da primeira temporada não foram lá essas coisas para o padrão americano. Na casa de 1 milhão de espectadores ou menos por episódio. O canal FX reconhece a importância artística de Legion, mas sabe que é um produto difícil de vender. Para a série não acabar antes de fechar sua história, ela precisa de mais audiência. E geralmente, mais audiência significa concessões.
Depois de assistir fielmente, na HBO, às 5 primeiras temporadas de Madmen, só agora terminei de ver, na Netflix, a 6ª e a 7ª. A série se tornou um fenômeno não apenas televisivo, mas cultural, influenciando moda e comportamento. Na superfície, Madmen mostrava o glamour da publicidade nos anos 60. Uma publicidade que vendia uma América de sonho, como se a compra de produtos pudesse resolver todos os problemas da sociedade. Mas o que transformou a série num drama único, foi a capacidade de desmontar essa ilusão, mostrando que, na verdade, a sociedade de consumo gera ansiedade, frustração, machismo, alcoolismo, racismo, homofobia, relacionamentos artificiais, desigualdades e privilégios. Não é um show de esquerda. Está mais para liberal. Mas sua crítica é contundente. Vemos uma estética dos anos 60 (numa direção de arte absolutamente incrível), porém com uma perspectiva contemporânea. Os roteiros são muito habilidosos em evidenciar, por exemplo, o machismo escancarado nas agências (e por extensão em toda a sociedade) sob a ótica dos personagens femininos. Madmen era uma série sem perseguições de carro, explosões e tiros. Mesmo assim era cativante. E a principal razão disso era porque acompanhávamos o drama de personagens complexos, interpretados por um elenco muito bem escalado. O auge criativo da série foram as primeiras três temporadas. A 7ª foi apenas ok. O último episódio não foi dos melhores, mas digno, com uma cena final bem ao estilo Don Draper. Fica a lembrança do todo. Madmen foi um marco da TV.
Bojack Horseman não funcionou pra mim. Adorei o conceito da série e a abertura é muito legal. Mas você tem que garimpar, nas três temporadas disponíveis, para achar os melhores episódios (o que eu fiz com a ajuda de listas de top 5 e top 10 em alguns sites). Diferente de outros shows que contam com um elenco de personagens interessantes, aqui tudo é praticamente focado no protagonista. Bojack é uma paródia do anti-herói. Pena que a ideia se torna cansativa pela falta de variação do tema.
A série continua incrível. Humor louco e engraçado com afiados comentários sociais e filosóficos. Na média, os episódios são superiores aos da primeira temporada. Mas senti falta daqueles episódios uau, que beiram à genialidade, como A Poção do Rick e Contatos Imediatos. Acho que para surpresa de muitos, o final da segunda temporada é bem melancólico e deixa um enorme gancho.
Rick and Morty já pode ser considerada uma das melhores animações adultas de todos os tempos. É engraçado e grotesco, mas também emocionante e profundo. Alguns episódios chegam ao nível da genialidade. Os roteiros são bem fora da caixinha. Utiliza e homenageia várias referências culturais, só que criando ao algo próprio. O trabalho com as vozes é outro triunfo da série. Uma mistura De Volta para o Futuro com LSD.
A primeira temporada expõe as vísceras das megacorporações, a razão de ser do capitalismo. A série tem um clima cyberpunk, tantos pelas ideias anti-establishment como pela estética soturna. É um retrato realista da cultura hacker (na medida do possível, segundo especialistas). É a série pop mais tensa dos últimos tempos. A trilha sonora eletrônica retrô de Mac Quayle é decisiva para causar esse efeito. E as músicas de artistas de décadas anteriores, como Echo and Bunnymen, Pixies, Tangerine Dream e Neil Diamond, contribui para reforçar o tom de ironia nervosa, de desconforto com os tempos atuais. Os roteiros possuem diálogos perturbadores e a trama se desenvolve fugindo de clichês, com reviravoltas convincentes e que deixa o espectador sem chão. Eliott, o hacker protagonista, vivido por Rami Malek, incorpora monstruosamente bem a atmosfera de desesperança e paranoia da série. À medida que os episódios avançam, você reconhece referências de filmes que todo mundo já viu. Mas o criador, Sam Esmail, também se inspirou no mundo real, no Movimento Occuppy, na Primavera Árabe, na era pós-Snowden. Em termos de produção e narrativa, a série é praticamente perfeita. Mas há uma contradição de fundo, no mínimo, estranha: como considerar a autenticidade de uma série sobre derrubar o sistema que é financiada por um canal de TV pertencente a uma corporação de mídia?
The Witcher (1ª Temporada)
3.9 925 Assista AgoraCurti a série do Bruxão. Não chega aos pés das melhores temporadas de GoT. É um Xena melhor produzido. O roteiro que ser esperto com suas várias linhas do tempo, mas acaba se atrapalhando. E certos diálogos são terríveis. Apesar de algumas atuações fracas, os personagens são muito cativantes (vai entender!). Quero ver a 2ª temporada.
Game of Thrones (8ª Temporada)
3.0 2,2K Assista AgoraA HBO queria, pelo menos, mais duas temporadas de GoT por ser seu produto mais valioso. Mas D&D não queriam mais saber da série. Queriam tocar outros projetos. Também a logística era insana, com filmagens em locais reais, em vários países. Sense 8 tinha o mesmo problema, mas foi cancelada por baixa audiência. No caso de GoT, a HBO considerava que o alto investimento compensava. E D&D tiveram carta branca para decidir os rumos de Westeros sem muita interferência, uma postura comum entre o canal e seus criadores, mas que foi levada à última consequência com GoT. Pra mim, o tiro saiu pela culatra. Muita liberdade criativa e muito dinheiro gasto para resultar numa das maiores frustrações da história recente da cultura pop. Uma coisa é subverter expectativas. Isso até mostra respeito à inteligência alheia. Outra coisa bem diferente é tratar fãs que acompanharam a série por 10 anos como idiotas.
Amor, Morte e Robôs (Volume 1)
4.3 673 Assista AgoraLove, Death + Robots é uma proposta saída das mentes de Tim Miller, diretor do primeiro Deadpool, e de David Fincher. Há onze anos os dois tiveram a ideia de fazer um remake de Heavy Metal, a clássica antologia de curtas de animação dos anos 80. Ouviram várias negativas dos estúdios até que os direitos de adaptação de Heavy Metal foram comprados por Robert Rodriguez, em 2011. Depois que a Netflix deu o ok, Miller e Fincher tiveram que mudar o nome da antologia deles, mas mantiveram o espírito de fantasia adulta e cyberpunk de Heavy Metal. O saldo de Love, Death + Robots é positivo por causa de seus melhores episódios. Na minha conta, quase a metade. Os curtas que se destacaram foram aqueles que fugiram da estética de videogame, com um estilo de animação mais criativo, seja para a comédia ou para o drama. Além de ter narrativas que não colocaram mulher pelada gratuitamente, toneladas de violência e soluções preguiçosas de roteiro. Não é porque o formato é um curta que tudo deve ser chocante, apelativo, apressado, sem sutilezas. Seguem abaixo minhas histórias preferidas:
8)13, número da sorte (Um curta com estética de videogame, mas que conta uma bela história de "amizade" entre uma piloto e sua nave);
7) Metamorfos (Mais um curta com estética de videogame, eu sei, mas é uma história poderosa sobre identidade e pertencimento);
6) Histórias alternativas (Este curta teve o desafio - e a coragem - de tornar Hitler divertido);
5) Noite de pescaria (O curta com a proposta mais onírica, sobre o choque entre a banalidade do real e o maravilhamento do inexplicável);
4) Quando o iogurte assumiu o controle (A premissa é tão absurda, mas como sátira da condição humana funcionou muito bem, poderia tranquilamente ser um curta da Pixar);
3)Zima Blue (Um artista plástico revolucionário está prestes a apresentar sua obra definitiva, adorei o estilo de animação, uma mistura de Aeon Flux com expressionismo alemão, com uma relevação final cheia de significados);
2) Os três robots (O curta mais divertido, adoro histórias com robôs e I.A.´s irônicos);
1) Boa Caçada (Passado numa China steampunk, tem nudez feminina, mas fala sobre empoderamento e resistência, numa espécie de versão adulta das animações da Disney).
Inuyashiki
3.9 40Inuyashiki é um anime diferente. Pelo menos, em sua premissa. O sr.Inuyashiki é um homem esgotado, pouco valorizado no trabalho e por sua família. Uma noite, ele está passeando sozinho no parque da cidade quando, de repente, uma nave alienígena cai, provoca uma baita destruição e o mata. Para consertar o acidente, os alienígenas reconstroem tudo e vão embora. Nada parece fora do lugar. E o sr.Inuyashiki volta à vida. Mas agora como um poderoso ciborgue. Passado o espanto, ele decide ajudar as pessoas, num senso de altruísmo bem característico do Japão. Contudo, naquela noite, ele não estava sozinho no parque. Shishigami é um adolescente bonito, inteligente e popular na escola. E um psicopata. Ele também se torna um ciborgue, tornando sua crueldade muito mais letal. O mais interessante no anime é colocar um idoso como protagonista. Um humano que não tinha muita afinidade com tecnologia e que agora precisa se atualizar para aprender como seu novo corpo ciborgue funciona. Há muito melodrama e maniqueísmo. Mas também momentos mais elaborados, abordando as relações entre pessoas de gerações diferentes e de pais e filhos. Outro acerto foi fazer de Shishigami um vilão mesmo óbvio e caricato. Há um conflito nele entre ser bom ou mal, ser aceito ou rejeitado. A animação é fluida e o 3D nas cenas de ação é bem decente. Prepare o lencinho.
Killing Eve - Dupla Obsessão (1ª Temporada)
4.3 386 Assista AgoraPegue um roteiro afiado, atuações marcantes e uma produção matadora e você tem Killing Eve. A série é a paródia dos filmes de espionagem mais sombria dos últimos anos. Sandra Oh é Eve Polastri, uma agente do Serviço Secreto Britânico, que caça Villanelle, uma assassina implacável de figurões da política e dos negócios na Europa. O que faz de Killing Eve algo especial é o protagonismo das mulheres. Essa é uma série feminista nada convencional. O que significa que aqui as mulheres estão livres para ser o que quiser. E então elas aproveitam para seguir suas intuições, errar feio, expressar sua sexualidade, não ligar para a opinião dos outros, desobedecer ordens, ser chatas, não sorrir, manipular. Todo o elenco feminino está em primeiro plano. Há personagens masculinos bem desenvolvidos, mas eles não são o foco. Eve e Villanelle não lutam contra os homens. Elas os amam, os ignoram ou os mata. A mente por trás da série é a atriz, roteirista, dramaturga e produtora britânica Phoebe Waller-Brigde. A mistura de humor pastelão, ironia perversa, gore e suspense dramático traz um frescor desconcertante. Sandra Oh é a estrela da série, mas quem rouba a cena é a Villanelle de Jodie Comer. Ela é tudo que um homem mais teme numa mulher: bonita, charmosa, segura de si e cheia de um humor ácido. Mas ela é também confusa e carente. A grande sacada da série é fazer um spy thriller cheio de estilo, com fotografia de cinema, montagem dinâmica, desing de produção misturando elementos dos anos 60 à atualidade e locações reais. A trilha sonora é viciante, composta por canções do pop francês do passado (Anna Karina, Brigitte Bardot, Françoise Hardy) e do pop contemporâneo, principalmente, o som da banda americana Unloved. A trilha sonora é mais um personagem na série, com cada canção entrando no momento certo para intensificar ou ironizar o que é mostrado. Killing Eve é divertido, sanguinolento e nos faz pensar sobre o estado das coisas.
Homecoming: De Volta À Pátria (1ª Temporada)
3.9 108 Assista AgoraHomecoming é uma série estrelada por Julia Roberts. Na verdade, é a estreia dela na "TV" como protagonista. Vocês podem pensar que, pelo título e pela fama de queridinha da América da atriz, a série seja uma comédia água com açúcar. Mas vocês vão ficar de queixo caído já no primeiro episódio. Homecoming é um thriller tenso pra burro, com todos os episódios dirigidos por Sam Esmail, o criador de Mr. Robot. Aqui Julia Roberts é uma terapeuta, coordenadora de um centro de recuperação para veteranos de guerra. Sua função é ajudar esses jovens traumatizados a lidar com as sequelas psicológicas dos horrores vivenciados no campo de batalha. Mas, aos poucos, alguns clientes, como os soldados são chamados, começam a desconfiar dos reais propósitos da empresa que financia o projeto. Homecoming se passa em duas linhas temporais, nos dias de hoje e em um futuro próximo. A série funciona muito bem porque as partes que a compõem formam um todo coeso e intrigante. São dez episódios com cerca de 30 minutos cada. A tensão está presente do primeiro ao último minuto de cada episódio. Os roteiros dos criadores da série Micah Bloomberg e Eli Horowitz têm diálogos ora penetrantes, ora casualmente irônicos, além de montar um quebra-cabeça que, ao final, faz sentido e de, certa maneira, explode nossas cabeças. A direção estilizada de Sam Esmail eleva a qualidade do texto. Esmail pegou, sem nenhum pudor, a estética dos filmes de conspiração dos anos 70, misturou com outro tanto de Hitchcock, um pouquinho de cyberpunk, bateu e saiu com escolhas visuais e sonoras que são ao mesmo tempo homenagem, paródia e evolução de filmes como Todos os Homens do Presidente, Maratona da Morte e Três Dias do Condor. Julia Roberts está muito bem, despida de qualquer glamour, num personagem bastante humano, ou seja, ambíguo. O final da série é surpreendente porque quebra expectativas ao entregar o que o espectador não pediu, mas que é interessante mesmo assim. O perigo é real, só que não do jeito que você pensa. A cena pós-crédito do season finale deixa um belo gancho para a 2ª temporada, que já ganhou o sinal verde.
Final Space (1ª Temporada)
4.2 163Houve muitos comentários sobre essa série, mas eles ficaram restritos ao fandom brasileiro e ao americano. Final Space é uma "dramédia" espacial ágil, divertida, mas com momentos tensos. O grande barato aqui é o carisma dos personagens, que se parecem com outros já conhecidos. Assistindo à criação do ator, youtuber e cartunista Olan Rogers, as referências pipocam na tela: Star Wars, Star Trek, 2001, Buck Rogers, Rick and Morty, Futurama, Douglas Adams etc. Mas Rogers consegue fazer algo próprio, tanto no design dos personagens quanto com a narrativa. Às vezes, o humor é bem bobo, nível Homer Simpson. Mas, em algumas cenas dramáticas, a série alcança uma maturidade impressionante. O worldbuilding não é muito desenvolvido, porém a qualidade da animação torna Final Space uma aventura espacial dinâmica e cheia de cores.
Pessoa de Interesse (5ª Temporada)
4.5 71Christopher Nolan é um diretor muito talentoso, mas metade de seu sucesso se deve ao irmão e roteirista Jonathan Nolan. É como se o irmão mais velho Chris fosse o frontman da banda e Johnny, o guitarrista misterioso.
Desde o inventivo roteiro do filme Memento virei fã de Jonathan Nolan. Depois ele, em parceria com David S. Goyer, escreveu aquela maravilha chamada O Cavaleiro das Trevas. E então veio Westworld. Junto com sua esposa Lisa Joy, Jonathan Nolan mostrou do que era realmente capaz de fazer com total liberdade criativa.
Mas antes houve Person of Interest. Uma série de TV que teve cinco temporadas (2011-2016) e que também falava sobre inteligência artificial. Já faz algum tempo que não tenho mais paciência para assistir série de canal aberto com vinte e tantos episódios. Mesmo assim resolvi tentar e fiquei viciado. Que série incrível!
O que me atraiu em Person of Interest foram os personagens carismáticos (inclusive os vilões), os diálogos afiados e o worldbuilding desenvolvido. Após o ataque às Torres Gêmeas, o cientista Harold Finch (Michael Emerson) cria um supercomputador para prever ameaças aos EUA. As coisas dão errado e ele se torna um fugitivo do governo americano que agora usa sua criação para ajudar as pessoas ao invés de prejudicá-las. Para isso, Finch conta com a ajuda do ex-militar e ex-agente da CIA John Reese (Jim Caviezel), um homem em crise.
Destaque para as personagens femininas: sábias, irônicas, determinadas, guerreiras, violentas e imperfeitas. A policial Joss Carter (Taraji P. Henson), a hacker Root (Amy Acker), a espiã Sameen Shaw (Sarah Shahi), a fixer Zoe Morgan (Page Turco) , a criminosa Harper Rose (Annie Ilonzeh), a dirigente da CIA Control (Camryn Manheim), a agente da CIA Kara Stanton (Annie Parisse), a assassina Martine Rousseau (Cara Buono) e outras. Mesmo havendo uma atenção quanto à diversidade, aconteceram na série mortes desnecessárias, reforçando estereótipos.
Person of Interest começa como um procedural, muito acima da média, e evolui para uma trama de ficção científica das mais relevantes. Temas como liberdade, escolha, determinismo social e vigilância são recorrentes, fazendo o espectador pensar melhor sobre as consequências do comportamento humano, como indivíduo e sociedade.
A série também é muito divertida, cheia de humor nerd, suspense e ação. Por ter tido mais de 100 episódios, é óbvio que a qualidade oscila. Mas há episódios memoráveis em cada temporada. E, pra mim, a 4ª atinge o auge. Toda ela praticamente voltada para o arco principal.
Outro destaque é a trilha sonora imersiva do sempre ótimo Ramin Djawadi (Pacific Rim, Westworld, Game of Thrones). Além de músicas do Radiohead, Pink Floyd e Massive Attack.
Pessoa de Interesse (1ª Temporada)
4.3 169Christopher Nolan é um diretor muito talentoso, mas metade de seu sucesso se deve ao irmão e roteirista Jonathan Nolan. É como se o irmão mais velho Chris fosse o vocalista da banda e Johnny fosse o guitarrista, o cara que dá peso ao som. Desde o inventivo roteiro de Memento virei fã de Jonathan Nolan. Depois ele, em parceria com David S. Goyer, escreveu aquela maravilha chamada O Cavaleiro das Trevas. E então veio Westworld, para ele, junto com sua esposa Lisa Joy, mostrar do que é realmente capaz de fazer com total liberdade criativa. Mas só agora comecei a ver Person of Interest. Mesmo muito elogiada, já faz algum tempo que não tenho mais paciência para assistir série de canal aberto com vinte e tantos episódios. Mesmo assim resolvi tentar e fiquei viciado. Que série incrível! O que me atraiu na série foram os diálogos afiados e o conceito de The Machine. É um procedural muito acima da média. Estou na primeira temporada e sei que o melhor ainda estar por vir.
Cara Gente Branca (Volume 2)
4.2 123 Assista AgoraDear White People evoliu na sua 2ª temporada. Faço uma comparação com os filmes de O Poderoso Chefão. O primeiro tem uma narrativa mais redonda, com cenas mais memoráveis. O segundo é mais disperso, porém revela-se mais complexo, elevando a qualidade do universo em torno de Michael Corleone. O mesmo acontece com Dear White People. Na 2ª temporada, o racismo é mais brutal e as consequências são mais devastadoras para os personagens, principalmente, para a birracial Sam, que sofre ataques de todos os lados, e Reggie, que tenta se recuperar do trauma de quase ser morto pela polícia simplesmente por ser negro, na temporada anterior. Ao mesmo tempo, a problemática desse racismo ganha novas camadas. O foco não é exatamente o homem branco cis como indivíduo. Mas a sociedade em geral que pensa como esse homem branco. Neste caso, o racismo pode vir dos lugares (melhor dizendo, das pessoas) mais inusitados. A coisa ficou mais séria, mas a série não perdeu sua leveza. Dear White People continua ágil, divertida, criativa e elegante.
The Expanse (2ª Temporada)
4.2 63A série The Expanse é uma espécie de Game of Thrones no espaço.
Desde o final do reboot de Battlestar Galactica, o canal SYFY tenta emplacar outro sucesso. Várias tentativas ficaram pelo caminho. Até acertarem com The Expanse. É uma space opera mais sombria e realista (claro que com suas liberdades dramáticas se tratando de espaço sideral), com personagens muito bem desenvolvidos e com personalidades complexas. Os heróis fazem coisas terríveis e os vilões não são cartunescos, possuem motivações convincentes. A força da série está justamente nos personagens e na trama, que mistura elementos de suspense, aventura espacial e uma boa pitada de terror.
Outro triunfo de The Expanse é apostar na diversidade. Nisso ela ganha de lavada de GoT. Tendo um worldbuilding tão rico, com várias culturas e línguas ao redor da galáxia, passando pelas mudanças na estrutura corporal e reação à gravidade de terráqueos, marcianos e belters, às tecnologias que permitem a viagem no espaço, há toda uma variedade de gente, seja como protagonistas, coadjuvantes ou para compor cenários de fundo. Há negros, asiáticos, árabes, latinos, indígenas.
Houve uma melhora significativa na qualidade da série na segunda temporada. As mulheres se tornaram personagens mais relevantes. A trama ficou mais interessante. Há uma boa dose de ação, mas este não é o foco. O grande mistério é construído aos poucos, o que pede certa paciência do espectador.
The Expanse ficou conhecida como a melhor série de ficção científica da atualidade que quase ninguém assiste. O que é uma pena. Ela merece mais audiência e reconhecimento.
Wild Wild Country
4.3 265 Assista AgoraPrecisamos prestar mais atenção aos documentários da Netflix e aos documentários em geral. Sempre fui fã do gênero. E alguns dos melhores filmes nacionais são documentários. A verdade pode ser manipulada, se transformar numa obra de ficção. O diretor de um documentário, por mais talentoso que seja, precisa se ater ao compromisso ético de juntar seu quebra-cabeça de informações para mostrar a verdade ou as verdades possíveis dentro de um contexto social e/ou histórico.
No caso de Wild Wild Country, temos uma obra-prima nesse sentido. Uma história tão rica e real, filmada de maneira tão vibrante. A narrativa desse documentário é superior a muitas séries de ficção badaladas da Netflix. Em seis episódios, conhecemos a fundo um dos casos mais controversos da crônica americana nos anos 80: a chegada do guru Bhagwan Shree Rajneesh (depois conhecido como Osho) e seus seguidores ao estado do Oregon para fundar uma comunidade alternativa, numa área rural, cercada de cowboys.
Como diz um dos “personagens” no documentário, no futuro vão pensar que se trata de pura ficção. Porque a história é muito louca. E os personagens fascinantes. Principalmente, Ma Anand Sheela, a toda poderosa secretária de Osho. Ela era uma força da natureza. A pessoa que fazia as coisas acontecerem. À medida que o número de seguidores aumentava no Oregon, assim como a infra-estrutura da comunidade, os conflitos com os vizinhos se acirravam. Então começa uma guerra entre conversadores americanos contra essa comunidade, cheia de gente cansada do american way of life. Mas não pensem que era uma disputa entre caipiras e hippies. A coisa era mais complexa. Havia muito preparo intelectual de ambos os lados. Por isso, a sofisticação da guerra entre esses dois grupos chegou a níveis inacreditáveis.
O que torna Wild Wild Country tão marcante é a junção de conteúdo e forma. Os diretores Chapman e Maclain Way souberam criar uma narrativa empolgante com o uso de vários recursos audiovisuais, principalmente no trabalho com as imagens de arquivo. Esse documentários faz a gente pensar um pouco mais sobre o valor de nossas convicções. Até que ponto devemos deixá-las de lado ou mantê-las.
Atlanta (1ª Temporada)
4.5 294 Assista AgoraFinalmente consegui ver a 1ª temporada de "Atlanta", disponível na Netflix desde dezembro. O show do canal FX, de 2016, foi criado pelo ator, comediante, roteirista, diretor, produtor e músico Donald Glover. A série mostra Earn, personagem de Glover, que volta para sua cidade natal, depois de uma saída mal explicada da Universidade de Pricenton. Sem grana e com uma filha pequena para criar, Earn convence o primo, o traficante de drogas e rapper em ascensão Paper Boi, a fazer dele seu empresário, usando suas conexões como ex-DJ e muito jogo de cintura. A grande sacada da série é pegar cada esteriótipo sobre o que é ser negro nos EUA e virar pelo avesso. A começar pelo personagem de Paper Boi, que se vende e é vendido pelos outros como um perigoso gângster e um rapper fodão, mas que, na verdade, é um cara mais consciente das coisas do mundo e mais melancólico do que a superfície mostra. Atlanta tem um tom mais realista do que outras dramédias, uma pegada de filme independente. Mas que brinca e ousa na linguagem visual, tirando sarro do próprio formato de sitcom. Racismo, apropriação cultural e pobreza são temas muito presentes. Mas o tom de denúncia nunca é panfletário, raso, sem autocrítica. O humor não é para gargalhar. Há uma ironia constante. Algo de comédia do absurdo e até um pitada de realismo mágico.
Stranger Things (2ª Temporada)
4.3 1,6KA 2ª temporada de Stranger Things desenvolve melhor os personagens, sacrificando o ritmo e a coesão da trama. A série demora alguns episódios para engatar, mas termina muito bem. Steve e Will são as maiores surpresas dessa temporada. E Dustin e Eleven continuam sendo as melhores coisas da série. As referências aos anos 80 continuam: Gremlins, Aliens, Caça-Fantasmas, John Hughes, Spielberg, Stephen King, John Carpenter e por aí vai.
Knights of Sidonia (2ª Temporada)
3.8 8 Assista AgoraApesar da perda de tempo em vários episódios com um romancezinho besta, na hora da ação, essa série é incrível. A comédia é outro ponto alto. Há personagens femininas fortes, mas temos aqui mais um anime no qual as mulheres viram objetos sexuais com roupas sexy, peitões e calcinhas à mostra. No geral, os personagens continuam interessantes. Fico feliz que a 3ª temporada já foi confirmada.
Game of Thrones (7ª Temporada)
4.1 1,2K Assista AgoraHouve quatro ou cinco grandes momentos nessa temporada, mas, sem dúvida, ela acaba como a pior de todas. E deixa para a última temporada uma sensação de jogo perdido, apenas para cumprir tabela. Ou será que os showrunners vão surpreender os fãs nos seis episódios finais? Missão praticamente impossível. A ironia é que a série vai acabar e os fãs ainda vão estar loucos para ler os dois livros restantes, na esperança de um final, pelo menos, mais digno para os personagens. Em segredo, o Tio Martin da Noite tá fazendo a dancinha da vitória.
Master of None (2ª Temporada)
4.4 214 Assista AgoraA primeira temporada de Master of None me conquistou por ter tido a ousadia de fazer comédia romântica inteligente do ponto de vista do cara que nos filmes é o melhor amigo não-branco do protagonista branco. No caso, um cara de ascendência indiana. Aziz Ansari conseguiu ser divertido e, ao mesmo tempo, não banalizar temas cabeludos, como racismo, estereótipos e diferenças culturais. Na segunda temporada, vemos tudo mais ambicioso e maduro, mas sem perder a leveza tão marcante na série. Há mais experimentações de linguagem, o próprio Ansari se mostra um roteirista e diretor mais seguro e inventivo. As coisas ficam mais sérias nos últimos episódios. O drama vai tomando espaço da comédia. Mas tudo é tão bem executado que nos deixamos levar e sofrer as angústias dos personagens. A cena final deu um nó na cabeça. Porque, enfim, entre a fantasia e a realidade, não existe receita pronta quando o assunto é relacionamentos.
Cara Gente Branca (Volume 1)
4.3 304 Assista AgoraA série da Netflix Cara Gente Branca é uma ótima maneira de qualquer pessoa entender como o racismo opera na sociedade. Os dez episódios mostram a vida de estudantes negros numa universidade americana de elite. A escolha do cenário é certeira. Num ambiente onde o pensamento progressista devia dominar, arma-se um campo de batalha racial depois de uma festa blackface. A partir daí o espectador tem contato com todos os aspectos da vida universitária, principalmente, os menos nobres. A sistematização do racismo no campus não é muito diferente do que acontece em outros espaços sociais. Num lugar onde o jovem negro devia se sentir seguro, a violência simbólica é mais articulada. E a violência física é a mesma do mundo lá fora. Acompanhamos as várias nuances da experiência do jovem negro pelo ponto de vista de um elenco de personagens complexos. À primeira vista, eles podem ser vistos como estereótipos (a ativista, a patricinha, o radical, o capitão do mato). Mas a série dá oportunidade para que o espectador e os próprios personagens reflitam sobre quem eles são, a fundo. A todo momento, esses jovens tentam entender como fazer parte de uma sociedade que assimila e enaltece a cultura negra, mas que não se importa com corpos e mentes de gente negra. O humor aqui não é para gargalhar. Está mais para uma ironia incômoda. A série é muito bem escrita, dirigida com discrição e tem atuações marcantes. Ela é excelente, mas não é perfeita. Os primeiros cinco episódios seguem numa qualidade crescente, mas a segunda metade da série cai de rendimento, com momentos monótonos, repetitivos. Mas, no final, percebemos como Cara Gente Branca é inteligente, corajosa e necessária.
Legion (1ª Temporada)
4.2 287 Assista AgoraA série Legion é a coisa mais diferente que já vi, na TV ou cinema, envolvendo super-heróis. O canal FX deu carta branca para o badalado showrunner Noah Hawley virar o universo dos x-men pelo avesso.
A narrativa de Legion é uma mistura de Michel Gondry e David Lynch. A direção de arte também é uma mistureba interessante de referências dos anos 60, 70 e atuais. Uma solução para cortar custos, mas que funcionou muito bem para dar um visual único à série. Outro atrativo é a trilha sonora. Quem curte aqui Pink Floyd?
Provavelmente, o espectador médio, mesmo fãs da Marvel, vai achar tudo muito estranho e difícil de acompanhar. Há heróis, vilões e superpoderes, mas a atmosfera de sonho, de delírio talvez não agrade quem esperava uma narrativa mais linear, menos subjetiva.
A verdade é que Legion deu um novo fôlego às adaptações de super-heróis. Mesmo que pouca coisa dos quadrinhos tenha sido usada. Mas há uma ligação direta com os x-men, o que pode ser mais explorado no futuro.
A história gira em torno do protagonista David Haller, interpretado com competência e carisma por Dan Stevens. Ele é o centro de tudo. Mas há espaço para o desenvolvimento dos outros personagens, até dos vilões. Mas quem rouba o show é Aubrey Plaza com sua performance ligada no 220v. Outro que faz a diferença é Jemaine Clement, com seu Oliver Bird irônico e bon-vivant.
Legion não é perfeito. Lá pelo meio, a criatividade dos roteiros cai de rendimento, dando voltas que não levam a lugar nenhum, para se recuperar no final. E quando se exige mais dos efeitos especiais, fica evidente a falta de grana para algo mais sutil. A série acompanha a tendência atual. São oito episódios que focam em um grande arco. Talvez a trama ficasse melhor amarrada em seis episódios.
A segunda temporada já está confirmada. A questão é saber o que Hawley vai fazer daqui para frente. Os índices de audiência da primeira temporada não foram lá essas coisas para o padrão americano. Na casa de 1 milhão de espectadores ou menos por episódio. O canal FX reconhece a importância artística de Legion, mas sabe que é um produto difícil de vender. Para a série não acabar antes de fechar sua história, ela precisa de mais audiência. E geralmente, mais audiência significa concessões.
Mad Men (7ª Temporada)
4.6 387 Assista AgoraDepois de assistir fielmente, na HBO, às 5 primeiras temporadas de Madmen, só agora terminei de ver, na Netflix, a 6ª e a 7ª. A série se tornou um fenômeno não apenas televisivo, mas cultural, influenciando moda e comportamento. Na superfície, Madmen mostrava o glamour da publicidade nos anos 60. Uma publicidade que vendia uma América de sonho, como se a compra de produtos pudesse resolver todos os problemas da sociedade. Mas o que transformou a série num drama único, foi a capacidade de desmontar essa ilusão, mostrando que, na verdade, a sociedade de consumo gera ansiedade, frustração, machismo, alcoolismo, racismo, homofobia, relacionamentos artificiais, desigualdades e privilégios. Não é um show de esquerda. Está mais para liberal. Mas sua crítica é contundente. Vemos uma estética dos anos 60 (numa direção de arte absolutamente incrível), porém com uma perspectiva contemporânea. Os roteiros são muito habilidosos em evidenciar, por exemplo, o machismo escancarado nas agências (e por extensão em toda a sociedade) sob a ótica dos personagens femininos. Madmen era uma série sem perseguições de carro, explosões e tiros. Mesmo assim era cativante. E a principal razão disso era porque acompanhávamos o drama de personagens complexos, interpretados por um elenco muito bem escalado. O auge criativo da série foram as primeiras três temporadas. A 7ª foi apenas ok. O último episódio não foi dos melhores, mas digno, com uma cena final bem ao estilo Don Draper. Fica a lembrança do todo. Madmen foi um marco da TV.
BoJack Horseman (1ª Temporada)
4.3 287 Assista AgoraBojack Horseman não funcionou pra mim. Adorei o conceito da série e a abertura é muito legal. Mas você tem que garimpar, nas três temporadas disponíveis, para achar os melhores episódios (o que eu fiz com a ajuda de listas de top 5 e top 10 em alguns sites). Diferente de outros shows que contam com um elenco de personagens interessantes, aqui tudo é praticamente focado no protagonista. Bojack é uma paródia do anti-herói. Pena que a ideia se torna cansativa pela falta de variação do tema.
Rick and Morty (2ª Temporada)
4.6 245 Assista AgoraA série continua incrível. Humor louco e engraçado com afiados comentários sociais e filosóficos. Na média, os episódios são superiores aos da primeira temporada. Mas senti falta daqueles episódios uau, que beiram à genialidade, como A Poção do Rick e Contatos Imediatos. Acho que para surpresa de muitos, o final da segunda temporada é bem melancólico e deixa um enorme gancho.
Rick and Morty (1ª Temporada)
4.5 414 Assista AgoraRick and Morty já pode ser considerada uma das melhores animações adultas de todos os tempos. É engraçado e grotesco, mas também emocionante e profundo. Alguns episódios chegam ao nível da genialidade. Os roteiros são bem fora da caixinha. Utiliza e homenageia várias referências culturais, só que criando ao algo próprio. O trabalho com as vozes é outro triunfo da série. Uma mistura De Volta para o Futuro com LSD.
Mr. Robot (1ª Temporada)
4.5 1,0KA primeira temporada expõe as vísceras das megacorporações, a razão de ser do capitalismo. A série tem um clima cyberpunk, tantos pelas ideias anti-establishment como pela estética soturna. É um retrato realista da cultura hacker (na medida do possível, segundo especialistas). É a série pop mais tensa dos últimos tempos. A trilha sonora eletrônica retrô de Mac Quayle é decisiva para causar esse efeito. E as músicas de artistas de décadas anteriores, como Echo and Bunnymen, Pixies, Tangerine Dream e Neil Diamond, contribui para reforçar o tom de ironia nervosa, de desconforto com os tempos atuais. Os roteiros possuem diálogos perturbadores e a trama se desenvolve fugindo de clichês, com reviravoltas convincentes e que deixa o espectador sem chão. Eliott, o hacker protagonista, vivido por Rami Malek, incorpora monstruosamente bem a atmosfera de desesperança e paranoia da série. À medida que os episódios avançam, você reconhece referências de filmes que todo mundo já viu. Mas o criador, Sam Esmail, também se inspirou no mundo real, no Movimento Occuppy, na Primavera Árabe, na era pós-Snowden. Em termos de produção e narrativa, a série é praticamente perfeita. Mas há uma contradição de fundo, no mínimo, estranha: como considerar a autenticidade de uma série sobre derrubar o sistema que é financiada por um canal de TV pertencente a uma corporação de mídia?