Genial!! Um ótimo filme surrealista com um argumento atual como pano de fundo, sobre a ausência ou como nos colocamos diante da falta. A ausência do cão (Paul) é a nossa falta. E é essa falta que nós temos de "algo" no mundo que nos impulsiona (para criar? Não é essa a mola da arte?) Tudo isto faz sentido na cena final logo depois dos créditos. Quem não viu, (re)veja. Diz tudo!! Esse filme foi um ótimo convite para ver outras obras do diretor e já desde agora admirá-lo. Vale muito!!
filme muito fofo e agradável de se ver, ou como um pequeno ser pode mudar a vida e estreitar laços entre os homens. Os pais de primeira viagem tornam-se tão encantadores (e desastrados, pobre da pequena Marie) que faz do filme um belo aprendizado: para quem é ou não é pai. (Só a cena final me saiu estranha, poderia ser deletada).
Um filme envolvente -- não tanto quanto outros du genre policier, polar, ou de l'univers noir, caso queiram comparações. E por ser uma adaptação de um romance homônimo de Virginie Brac (e eu desconhecer tal obra), fico com uma leitura muito superficial. Mas a protagonista Véra parece conduzir bem a trama, embora um pouco pálida. E o final é uma verdade apoteose do filme. Lindo, lindo mesmo. Só achei o filme um pouco curto. Queria mais. Valia mais. E muito (Sempre me interesso por narrativas que circundam a psiquiatria).
Excelente filme. Há muitos Pauls pelo mundo: um casamento inesperado, filhos, ausência, segredos. O filme transita muito bem entre o passado do protagonista em suas memórias de um revolucionário e o drama do presente. Sob a ótica do pai, o inesperado. Sob a ótica da filha, o vazio e a falta do "amor familiar". Ironia da vida: é só a partir do momento
em que a filha cai em depressão e é hospitalizada que o pai cai em si: eu tenho uma familia, eu tenho filhos.
. Dá para se tirar daí a grande lição do filme: filhos devem/deviam ser nossos melhores amigos, amor e doação. Paul percebe a tempo que filhos não são objetos como sua câmera fotográfica. Que haja amor!
Pais e filhos deviam assistir a este filme. Não só pelo tema da diversidade. Como também da construção de maturidade. Ora, a passagem p/ a maturidade nada mais é que construir pontes. Pontes que ligam o Eu ao mundo. E, ao meu ver, o filme constrói um ótimo espaço para a questão da adolescência, das descobertas, da subjetividade, do amor, do ódio, dos diálogos consigo e com o mundo etc.
Sempre digo e repito: Não me agrada (no filmow e em qualquer outro lugar) essa crítica abnóxia e tola de abraçar-se 'num balão de ego inflado e querer ser melhor que o diretor com o intuito de depreciação gratuita. Concordemos ou não: o filme tem problemas. Tem um final abrupto. É irritante o excesso de grito do Xavier (Quer dizer, foi a meu ouvido) etc. Com efeito, prefiro a boa via de julgar a exegese, a narrativa. Sem ressentimentos. Sem afetações. E ao meu ver, Xavier Dolan tem talento e terá um bom caminho cinematográfico -- assim espero, de coração. Que as pontes do cinema de Dolan continuem crescendo.
Sabia que eu e a Jean Seberg tínhamos afinidades, afora o nascimento em um fatídico 13 de novembro. A dor. A solidão. A tristeza. O abandono. O mundo não tem espaço para a tristeza. Por isso nos isolamos, com um sorriso de pedra no rosto. 80 silenciosos minutos. Mudos. Dolorosos como a própria vida.
Aquela atmosfera da solidão e da velhice que me vi arrebatado com o "Era uma vez em Tóquio" volta aqui. Não sei se nesse entremeio o tema aparece em outras obras. Espero que sim, quero mergulhar. A velhice é sempre um medo. Medo por nos colocar diante da morte. Ou eliminar as relações antipodais vida/morte. E como Ozu faz isso com maestria. O cinema de Ozu é como andar de bicicleta: uma vez que assiste, você nunca esquece. Fica para a vida. Grande aprendizagem.
Tenho muito medo da velhice. Quer dizer, da solidão da velhice. Do abandono. O peso do tempo. A morte. Lembro-me sempre do sábio Norbert Elias que dizia que a velhice começa com o abandono, até afastarmos a morte de nosso convívio. Aí o Ozu toca fundo. Toca como estado de arte. E como doi. Como doi n'alma.
Confesso que só tomei gosto pelo filme nos 10min. finais. E fez daquilo que (me) estava sendo tedioso algo interessantíssimo -- a trilha sonora meio Senhor dos Anéis com Harry Potter não ajudaram nada. O filme constrói uma atmosfera muito boa: a busca pela sabedoria e pelo sentido da vida. Há uma coloração muito forte do budismo nessa busca, ou do que podemos chamar de "filosofia budista", se nos reportarmos ao budismo primitivo indiano. E quando eu digo que o final tornou interessante o tedioso foi justamente na apoteose do ciclo, ou da roda da fortuna, que recai sobre o protagonista do filme. Ai sim, o filme vale como um exímio aprendizado a nós, lógicos, aristotélicos e cultuadores do materialismo. Agora, se a intenção dos diretores foi essa, ou construir uma aventura qualquer, não se sabe. Na minha sessão, após o filme, um dos diretores estava presente mas falou pouco, detendo-se mais sobre os aspectos técnicos e o processo criativo. Não obstante, fica aí o dado lançado.
Bressane radicalizou em seu novo filme. Poético, gestual, cheio de citações, diretas e indiretas, flertando com o mitológico e o simbólico. De Platão, passando pelos neoplatônicos, aos poetas românticos do séc. XIX: um aprendizado (a descrição do pai morto que se suicidou no fogão da cozinha, referência ao suicidio do poeta marginal Torquato Neto? Não duvido..). E ainda: Lua, noite, escritura: quão blanchotiano! Esse filme precisa ser exibido nas faculdades de Letras!!! Meu desejo!!! (Também quero uma educação sentimental, Bressane. Sensibilidade...)
P.s: A locação inicial, aquela ladeira, é a mesma locação do seu anterior RUA APERANA 52 ???
O que eu comento em outros filmes do Bianchi, torno a dizer aqui: Bianchi é uma metralhadora, com toda a força sartreana possível. Mais um filme-bala ao estilo MATO ELES e DIVINA PREVIDÊNCIA. E ainda coloca um mestrando da USP (há cenas gravadas na fflch) obrigado a tomar partido e terminar sua tese, mais uma dessas teses-para-enfeitar-biblioteca (e não tenho dúvida que Bianchi não quis meter o dedo nessa babaquice que é o espaço atual da pós-graduação). Grande filme. Espero rever.
(Tive a sorte de ter o Bianchi na sessão de estreia na Mostra de SP, e o próprio Bianchi , antes de o filme começar, meteu crítica numa jornalista que entendeu completamente errado o filme. Infelizmente há quem não consiga acompanhar e penetrar na esfera crítica machadiana de Bianchi, como o jovem abaixo. Pena..).
Nunca chorei tanto em um filme!! Eu e as pessoas ao redor, na sala de cinema, ilhadas em pranto!! Que filme!! Um filme que nos conduz às coisas mais simples da vida. Um filme que busca a felicidade e mostra que ela é , sim, possível, pela ótica de Mateusz, desce cedo diagnosticado com paralisia cerebral. Mateusz, uma incógnita. Mateusz, imcompreensível. Um objeto, um obstáculo, um estorvo. Vegetal. A luta de Mateusz: uma luta com o corpo, com as palavras, com o olhar -- sua comunicação. Uma luta pela compreensão, pelo amor, pela vida. Mostrar que não é obstáculo, que não é vegetal. Que é gente. E aí, melhor que muitos livros de filosofia, nos mostra e nos diz: o que é a vida. CHCE SIE ZYC é um filme raro. Que todos deviam ver. Um filme para refletirmos: que fazemos, nós, da vida? Ficarei aqui, imerso, me perguntando. E por um bom tempo.
Um bom filme. Confesso que muito me identifiquei com a solidão do escrevente das cartas. Talvez não tivesse efeito em outro suporte, como e-mail. A carta traz esse jogo de poesia e mistério. Que casa com o filme. Acho que vou escrever umas. P.S: muito lembrou-me o CACHÉ, do Haneke e a sua construção de uma atmosfera de mistério e busca.
Documentário importantíssimo para quem estuda o Guimarães Rosa ou se interessa. No atual momento nosso em que falar da vida do autor está se tornando proibido (ah, a ironia da história), este documentário só vem a somar na fortuna crítica rosiana. Um doc. riquissimo, desde entrevista com dois singulares professores da UFMG e criticos literários, Eneida Maria e Wander Melo, a judeus que tiveram suas vidas cruzadas com a do diplomata Rosa. Além da voz do próprio Rosa comentando suas obras (este é um ponto interessante do doc. quando o Rosa toca na questão na poesia e é algo que passa "batido" em sua crítica: o crítico alemão pergunta a Rosa se dos contos "longos" de Corpo de Baile aos contos curtos do Primeiras Estórias, Rosa iria desembocar na poesia. O próprio Rosa muito bem lembra que ele já começou poeta. E vale descatar que Rosa segue poeta!! Mesmo na prosa...). Que OUTRO SERTÃO circule pelos cinemas. Afinal, o sertão está em nós. Todo meu agradecimento às realizadoras.
Que lindo filme!! Fui ver na Mostra de Cinema de Sp movido pela sinopse, que já maldosamente delineou a relação dos personagens como "ambigua" (odeio sinopses carregadas de spoiler, mas.. E quem não viu o filme, não continue neste comentário, por favor). Devo confessar que não vi ambiguidade no filme. Mas sim a descoberta de uma cúmplice amizade. Uma amizade transcendente. Uma relação quase beirando o místico. Uma relação movida (pela parte do tio) pela solidão, pelo estar só. OU no máximo dos máximos a reafirmação da tese heideggeriana de "estar-com-os-outros". A união - mesmo que essa acepção esteja carregada de mística. Ao meu ver, esse foi o "centro" do filme. E não digo isso arbitrariamente. Digo pensando em cineastas como o russo Alexsandr Sokurov, que muito bem filmou a oniricidade de uma relação entre dois corpos, o brilho de uma amizade transcendente. Ou um Carlos Hugo Christensen, inspirado em Guimarães Rosa, na poesia do encontro, na poesia da relação, na poesia do dois. Logo, com esses senhores e com esse pensamento que me oponho à ambiguidade e vejo o filme. Claro, não é a verdade imutável e eterna, pois não creio nisso. No mais, um filme para ficar gravado na vida.
maravilhoso. a câmera de Ozu toca como "estado de arte" no drama familiar, concentrado no pai, chefe de familia, tipico homem que resolve os problemas da rua, mas é incapaz de resolver os problemas de sua casa. E se vê nesse embate. Aí Ozu consegue magistralmente costurar os conflitos e dar fluido à exegese. Sem dúvida, um excelente filme p/ se debater a questão moral -- essa "moral" tão hasteada maldosamente pelo conservadorismo atual (e isso faz do filme atual) -- de uma tradição peculiar como a nipônica. Filme para se aprender. Hoje e sempre...
Não funcionou muito bem comigo. Pena. O filme tem seus pontos altos. Mas a trilha sonora meio comédia romântica francesa arruinou com o que poderia ser o ponto alto da poeticidade. Quer dizer, a trilha sonora, a meu ver, nada coerente com o "possível" da questão, arruinou com a minha relação com o filme. (pontuo sempre o cuidado em minha crítica e o ofício do afastar-me do "espevara mais", tão caro aos bravateadores do cinema). Há imagens e jogos de linguagens interessantes no filme. O sentido do barco e o sentido do deserto, por ex. Poderíamos ler com o velho Drummond e parodiá-lo: Mar não há mais, Marat, e agora? Mas o final do filme é ainda mais hiperbólico e, mais uma vez, arruina aquilo que chamo de "minha relação com o filme". O que eu, leitor-espectador incauto, pergunto é: nonsense?? Se em outro espectador funcionar, que bom. Quanto a mim, espero não ver barcos tão cedo.
Que filme maravilhoso!!!! De modo peculiar, o filme coloca a crise econômica como pano de fundo e toca como "estado de arte" na fragilidade humana, na fragilidade da vida, no cerne da existência, no centro, no sofrimento, nos liames dos laços afetivos. De modo peculiar, vai da crítica ao humano. Em um intenso diálogo e em um único espaço-temporal, o filme se (des)dobra. Flui. Anda. Recua. Corta. Fala pelas sondas do inconsciente (os cortes em preto-e-branco).
(Quando a protagonista diz que o mundo não gosta de pessoas que sofrem.. Ah, perfeito. Lembro-me sempre do sábio filósofo Blaise Pascal. O mundo gosta do divertimento. Pensar é sofrer. E como a protagonista desse filme sabe o que é sofrimento!!!!) Favorito porque é preciso. E que possamos aprender com o cinema espanhol contemporâneo.
Cru é realmente, como já apontado aqui, uma palavra-chave do filme. Olivier mais Francis. Este, um duplo. Ou melhor: uma dupla falta. E quantos Oliviers e Francis não estão por aí afora. Meu primeiro dos Dardenne. Doeu. Ainda estou lá na marcenaria..
Gostei do jogo da organização social posta no filme e dos elementos alinhados, como o pavor à heterogeneidade de Elysium na secretária Rhodes, uma Hitler do futuro a fundar Elysium apenas para elysianos. Lembrou-me muito de alguns contos do Cortázar. Fortemente. * * * E como não tenho doutorado em Cinema (e deus me livre em tê-lo), não me interessa o blablabla da atuação e da fotografia. Ganha-se muito discutindo o protagonista Max. A semiótica do corpo hibrido, não semiótica puramente fenomenológica: que corpo é esse que falamos? Como pensar a relação corpo x sentido nesse espaço? Que corpo cultural é esse? Não é isso o "pós-humano" que discute-se na semiótica? Não é esse o "corpo biocibernético" que diz a semioticista Lucia Santaella? Ora, e não é Elysium tão bem um "duplo" de nossa realidade????????? Pois bem. É um filme interessante para se ver/debater. Quem não gostou, paciência. Cada um com seus discursos.
"A Rússia central, este solo negro precisa de todos os cuidados que as mãos humanas podem proporcionar.As pessoas se preocupam com o futuro desta terra. E por esta razão, elas enfrentam os problemas com toda seriedade. Do empenho desta gente depende o futuro desta terra"
. Fé na mudança, eis a mensagem inicial de Sokurov para a vida!
De todos que vi do Paradjanov, esse foi o que mais me encantou, me tocou, me dilacerou.. Um verdadeiro encontro entre a poesia e a música, entre o trovador--rapsodo e a palavra cantada, ou para lembrar do ensaísta Octavio Paz, o encontro do nascimento da poesia ocidental com a música e com a dança. Tudo isso é muito próprio nesta obra. Certamente, um filme de encontros. De muitos encontros e diálogos. (E que cena belíssima do trovador
Lindíssimo, embora eu não tenha compreendido algumas cenas. Mas a cena do emparedamento é uma das coisas mais lindas que já vi. "Se o povo tem um mancebo capaz de se emparedar numa muralha da fortaleza, então esse povo e esse país são invencíveis"...
Wrong
3.2 97 Assista AgoraGenial!! Um ótimo filme surrealista com um argumento atual como pano de fundo, sobre a ausência ou como nos colocamos diante da falta. A ausência do cão (Paul) é a nossa falta. E é essa falta que nós temos de "algo" no mundo que nos impulsiona (para criar? Não é essa a mola da arte?)
Tudo isto faz sentido na cena final logo depois dos créditos. Quem não viu, (re)veja. Diz tudo!! Esse filme foi um ótimo convite para ver outras obras do diretor e já desde agora admirá-lo. Vale muito!!
Três Homens e um Bebê
2.9 3filme muito fofo e agradável de se ver, ou como um pequeno ser pode mudar a vida e estreitar laços entre os homens. Os pais de primeira viagem tornam-se tão encantadores (e desastrados, pobre da pequena Marie) que faz do filme um belo aprendizado: para quem é ou não é pai.
(Só a cena final me saiu estranha, poderia ser deletada).
Notre Dame des Barjots
3.5 1Um filme envolvente -- não tanto quanto outros du genre policier, polar, ou de l'univers noir, caso queiram comparações. E por ser uma adaptação de um romance homônimo de Virginie Brac (e eu desconhecer tal obra), fico com uma leitura muito superficial. Mas a protagonista Véra parece conduzir bem a trama, embora um pouco pálida. E o final é uma verdade apoteose do filme. Lindo, lindo mesmo. Só achei o filme um pouco curto. Queria mais. Valia mais. E muito (Sempre me interesso por narrativas que circundam a psiquiatria).
Une Vie Française
4.0 1Excelente filme. Há muitos Pauls pelo mundo: um casamento inesperado, filhos, ausência, segredos. O filme transita muito bem entre o passado do protagonista em suas memórias de um revolucionário e o drama do presente. Sob a ótica do pai, o inesperado. Sob a ótica da filha, o vazio e a falta do "amor familiar". Ironia da vida: é só a partir do momento
em que a filha cai em depressão e é hospitalizada que o pai cai em si: eu tenho uma familia, eu tenho filhos.
Eu Matei Minha Mãe
3.9 1,3KPais e filhos deviam assistir a este filme. Não só pelo tema da diversidade. Como também da construção de maturidade. Ora, a passagem p/ a maturidade nada mais é que construir pontes. Pontes que ligam o Eu ao mundo. E, ao meu ver, o filme constrói um ótimo espaço para a questão da adolescência, das descobertas, da subjetividade, do amor, do ódio, dos diálogos consigo e com o mundo etc.
Sempre digo e repito: Não me agrada (no filmow e em qualquer outro lugar) essa crítica abnóxia e tola de abraçar-se 'num balão de ego inflado e querer ser melhor que o diretor com o intuito de depreciação gratuita. Concordemos ou não: o filme tem problemas. Tem um final abrupto. É irritante o excesso de grito do Xavier (Quer dizer, foi a meu ouvido) etc. Com efeito, prefiro a boa via de julgar a exegese, a narrativa. Sem ressentimentos. Sem afetações. E ao meu ver, Xavier Dolan tem talento e terá um bom caminho cinematográfico -- assim espero, de coração. Que as pontes do cinema de Dolan continuem crescendo.
Altas Solidões
4.0 11Sabia que eu e a Jean Seberg tínhamos afinidades, afora o nascimento em um fatídico 13 de novembro. A dor. A solidão. A tristeza. O abandono. O mundo não tem espaço para a tristeza. Por isso nos isolamos, com um sorriso de pedra no rosto. 80 silenciosos minutos. Mudos. Dolorosos como a própria vida.
A Rotina Tem Seu Encanto
4.2 30 Assista AgoraAquela atmosfera da solidão e da velhice que me vi arrebatado com o "Era uma vez em Tóquio" volta aqui. Não sei se nesse entremeio o tema aparece em outras obras. Espero que sim, quero mergulhar. A velhice é sempre um medo. Medo por nos colocar diante da morte. Ou eliminar as relações antipodais vida/morte. E como Ozu faz isso com maestria. O cinema de Ozu é como andar de bicicleta: uma vez que assiste, você nunca esquece. Fica para a vida. Grande aprendizagem.
Era uma Vez em Tóquio
4.4 188 Assista AgoraTenho muito medo da velhice. Quer dizer, da solidão da velhice. Do abandono. O peso do tempo. A morte. Lembro-me sempre do sábio Norbert Elias que dizia que a velhice começa com o abandono, até afastarmos a morte de nosso convívio. Aí o Ozu toca fundo. Toca como estado de arte. E como doi. Como doi n'alma.
Dendrologium
2.5 2Confesso que só tomei gosto pelo filme nos 10min. finais. E fez daquilo que (me) estava sendo tedioso algo interessantíssimo -- a trilha sonora meio Senhor dos Anéis com Harry Potter não ajudaram nada. O filme constrói uma atmosfera muito boa: a busca pela sabedoria e pelo sentido da vida. Há uma coloração muito forte do budismo nessa busca, ou do que podemos chamar de "filosofia budista", se nos reportarmos ao budismo primitivo indiano. E quando eu digo que o final tornou interessante o tedioso foi justamente na apoteose do ciclo, ou da roda da fortuna, que recai sobre o protagonista do filme. Ai sim, o filme vale como um exímio aprendizado a nós, lógicos, aristotélicos e cultuadores do materialismo.
Agora, se a intenção dos diretores foi essa, ou construir uma aventura qualquer, não se sabe. Na minha sessão, após o filme, um dos diretores estava presente mas falou pouco, detendo-se mais sobre os aspectos técnicos e o processo criativo. Não obstante, fica aí o dado lançado.
Educação Sentimental
3.4 32Bressane radicalizou em seu novo filme. Poético, gestual, cheio de citações, diretas e indiretas, flertando com o mitológico e o simbólico. De Platão, passando pelos neoplatônicos, aos poetas românticos do séc. XIX: um aprendizado (a descrição do pai morto que se suicidou no fogão da cozinha, referência ao suicidio do poeta marginal Torquato Neto? Não duvido..). E ainda: Lua, noite, escritura: quão blanchotiano! Esse filme precisa ser exibido nas faculdades de Letras!!! Meu desejo!!!
(Também quero uma educação sentimental, Bressane. Sensibilidade...)
P.s: A locação inicial, aquela ladeira, é a mesma locação do seu anterior RUA APERANA 52 ???
Jogo das Decapitações
3.6 20O que eu comento em outros filmes do Bianchi, torno a dizer aqui: Bianchi é uma metralhadora, com toda a força sartreana possível. Mais um filme-bala ao estilo MATO ELES e DIVINA PREVIDÊNCIA. E ainda coloca um mestrando da USP (há cenas gravadas na fflch) obrigado a tomar partido e terminar sua tese, mais uma dessas teses-para-enfeitar-biblioteca (e não tenho dúvida que Bianchi não quis meter o dedo nessa babaquice que é o espaço atual da pós-graduação). Grande filme. Espero rever.
(Tive a sorte de ter o Bianchi na sessão de estreia na Mostra de SP, e o próprio Bianchi , antes de o filme começar, meteu crítica numa jornalista que entendeu completamente errado o filme. Infelizmente há quem não consiga acompanhar e penetrar na esfera crítica machadiana de Bianchi, como o jovem abaixo. Pena..).
Quero Viver
4.3 23Nunca chorei tanto em um filme!! Eu e as pessoas ao redor, na sala de cinema, ilhadas em pranto!! Que filme!!
Um filme que nos conduz às coisas mais simples da vida. Um filme que busca a felicidade e mostra que ela é , sim, possível, pela ótica de Mateusz, desce cedo diagnosticado com paralisia cerebral. Mateusz, uma incógnita. Mateusz, imcompreensível. Um objeto, um obstáculo, um estorvo. Vegetal. A luta de Mateusz: uma luta com o corpo, com as palavras, com o olhar -- sua comunicação. Uma luta pela compreensão, pelo amor, pela vida. Mostrar que não é obstáculo, que não é vegetal. Que é gente. E aí, melhor que muitos livros de filosofia, nos mostra e nos diz: o que é a vida. CHCE SIE ZYC é um filme raro. Que todos deviam ver. Um filme para refletirmos: que fazemos, nós, da vida?
Ficarei aqui, imerso, me perguntando. E por um bom tempo.
Caracóis Na Chuva
3.2 43Um bom filme. Confesso que muito me identifiquei com a solidão do escrevente das cartas. Talvez não tivesse efeito em outro suporte, como e-mail. A carta traz esse jogo de poesia e mistério. Que casa com o filme. Acho que vou escrever umas.
P.S: muito lembrou-me o CACHÉ, do Haneke e a sua construção de uma atmosfera de mistério e busca.
Outro Sertão
4.1 9Documentário importantíssimo para quem estuda o Guimarães Rosa ou se interessa. No atual momento nosso em que falar da vida do autor está se tornando proibido (ah, a ironia da história), este documentário só vem a somar na fortuna crítica rosiana. Um doc. riquissimo, desde entrevista com dois singulares professores da UFMG e criticos literários, Eneida Maria e Wander Melo, a judeus que tiveram suas vidas cruzadas com a do diplomata Rosa. Além da voz do próprio Rosa comentando suas obras (este é um ponto interessante do doc. quando o Rosa toca na questão na poesia e é algo que passa "batido" em sua crítica: o crítico alemão pergunta a Rosa se dos contos "longos" de Corpo de Baile aos contos curtos do Primeiras Estórias, Rosa iria desembocar na poesia. O próprio Rosa muito bem lembra que ele já começou poeta. E vale descatar que Rosa segue poeta!! Mesmo na prosa...).
Que OUTRO SERTÃO circule pelos cinemas. Afinal, o sertão está em nós. Todo meu agradecimento às realizadoras.
O Brilho do Dia
4.0 2Que lindo filme!! Fui ver na Mostra de Cinema de Sp movido pela sinopse, que já maldosamente delineou a relação dos personagens como "ambigua" (odeio sinopses carregadas de spoiler, mas.. E quem não viu o filme, não continue neste comentário, por favor).
Devo confessar que não vi ambiguidade no filme. Mas sim a descoberta de uma cúmplice amizade. Uma amizade transcendente. Uma relação quase beirando o místico. Uma relação movida (pela parte do tio) pela solidão, pelo estar só. OU no máximo dos máximos a reafirmação da tese heideggeriana de "estar-com-os-outros". A união - mesmo que essa acepção esteja carregada de mística. Ao meu ver, esse foi o "centro" do filme. E não digo isso arbitrariamente. Digo pensando em cineastas como o russo Alexsandr Sokurov, que muito bem filmou a oniricidade de uma relação entre dois corpos, o brilho de uma amizade transcendente. Ou um Carlos Hugo Christensen, inspirado em Guimarães Rosa, na poesia do encontro, na poesia da relação, na poesia do dois. Logo, com esses senhores e com esse pensamento que me oponho à ambiguidade e vejo o filme. Claro, não é a verdade imutável e eterna, pois não creio nisso. No mais, um filme para ficar gravado na vida.
Flor do Equinócio
4.3 13maravilhoso. a câmera de Ozu toca como "estado de arte" no drama familiar, concentrado no pai, chefe de familia, tipico homem que resolve os problemas da rua, mas é incapaz de resolver os problemas de sua casa. E se vê nesse embate. Aí Ozu consegue magistralmente costurar os conflitos e dar fluido à exegese. Sem dúvida, um excelente filme p/ se debater a questão moral -- essa "moral" tão hasteada maldosamente pelo conservadorismo atual (e isso faz do filme atual) -- de uma tradição peculiar como a nipônica. Filme para se aprender. Hoje e sempre...
Waiting for the Sea
3.0 1Não funcionou muito bem comigo. Pena. O filme tem seus pontos altos. Mas a trilha sonora meio comédia romântica francesa arruinou com o que poderia ser o ponto alto da poeticidade. Quer dizer, a trilha sonora, a meu ver, nada coerente com o "possível" da questão, arruinou com a minha relação com o filme.
(pontuo sempre o cuidado em minha crítica e o ofício do afastar-me do "espevara mais", tão caro aos bravateadores do cinema).
Há imagens e jogos de linguagens interessantes no filme. O sentido do barco e o sentido do deserto, por ex. Poderíamos ler com o velho Drummond e parodiá-lo: Mar não há mais, Marat, e agora?
Mas o final do filme é ainda mais hiperbólico e, mais uma vez, arruina aquilo que chamo de "minha relação com o filme". O que eu, leitor-espectador incauto, pergunto é: nonsense?? Se em outro espectador funcionar, que bom. Quanto a mim, espero não ver barcos tão cedo.
Ontem Nunca Termina
3.5 5Que filme maravilhoso!!!! De modo peculiar, o filme coloca a crise econômica como pano de fundo e toca como "estado de arte" na fragilidade humana, na fragilidade da vida, no cerne da existência, no centro, no sofrimento, nos liames dos laços afetivos. De modo peculiar, vai da crítica ao humano. Em um intenso diálogo e em um único espaço-temporal, o filme se (des)dobra. Flui. Anda. Recua. Corta. Fala pelas sondas do inconsciente (os cortes em preto-e-branco).
(Quando a protagonista diz que o mundo não gosta de pessoas que sofrem.. Ah, perfeito. Lembro-me sempre do sábio filósofo Blaise Pascal. O mundo gosta do divertimento. Pensar é sofrer. E como a protagonista desse filme sabe o que é sofrimento!!!!)
Favorito porque é preciso. E que possamos aprender com o cinema espanhol contemporâneo.
O Filho
3.9 45Cru é realmente, como já apontado aqui, uma palavra-chave do filme. Olivier mais Francis. Este, um duplo. Ou melhor: uma dupla falta. E quantos Oliviers e Francis não estão por aí afora. Meu primeiro dos Dardenne. Doeu. Ainda estou lá na marcenaria..
Guerra Conjugal
3.4 14Grandioso filme do Joaquim P. Andrade!! E que dó do sofrimento de Amália. Que só ri finalmente
com a morte do marido - e como ri, com sua boca quase banguela.
Fico e acompanho as palavras do josé carlos avellar sobre o filme: "Num processo antropofágico, o Brasil devora os brasileiros". sem mais.
Elysium
3.3 2,0K Assista AgoraGostei do jogo da organização social posta no filme e dos elementos alinhados, como o pavor à heterogeneidade de Elysium na secretária Rhodes, uma Hitler do futuro a fundar Elysium apenas para elysianos. Lembrou-me muito de alguns contos do Cortázar. Fortemente.
* * *
E como não tenho doutorado em Cinema (e deus me livre em tê-lo), não me interessa o blablabla da atuação e da fotografia.
Ganha-se muito discutindo o protagonista Max. A semiótica do corpo hibrido, não semiótica puramente fenomenológica: que corpo é esse que falamos? Como pensar a relação corpo x sentido nesse espaço? Que corpo cultural é esse? Não é isso o "pós-humano" que discute-se na semiótica? Não é esse o "corpo biocibernético" que diz a semioticista Lucia Santaella? Ora, e não é Elysium tão bem um "duplo" de nossa realidade?????????
Pois bem. É um filme interessante para se ver/debater. Quem não gostou, paciência. Cada um com seus discursos.
Os Empregos Mais Mundanos
2.5 2Bom documento sobre a agricultura. Alguns movimentos que já próprios do que vem adelante. O off final é muito interessante:
"A Rússia central, este solo negro precisa de todos os cuidados que as mãos humanas podem proporcionar.As pessoas se preocupam com o futuro desta terra. E por esta razão, elas enfrentam os problemas com toda seriedade. Do empenho desta gente depende o futuro desta terra"
O Trovador Kerib
4.2 11De todos que vi do Paradjanov, esse foi o que mais me encantou, me tocou, me dilacerou.. Um verdadeiro encontro entre a poesia e a música, entre o trovador--rapsodo e a palavra cantada, ou para lembrar do ensaísta Octavio Paz, o encontro do nascimento da poesia ocidental com a música e com a dança. Tudo isso é muito próprio nesta obra. Certamente, um filme de encontros. De muitos encontros e diálogos.
(E que cena belíssima do trovador
beijando o pombo
A Lenda da Fortaleza Suram
4.1 13Lindíssimo, embora eu não tenha compreendido algumas cenas. Mas a cena do emparedamento é uma das coisas mais lindas que já vi.
"Se o povo tem um mancebo capaz de se emparedar numa muralha da fortaleza, então esse povo e esse país são invencíveis"...