"E quem foi que disse que a poesia não embriaga?" Obra magistral do Claudio Assim. Traz um forte traço do que foi o "movimento Beat", poesia nas ruas, na estrada, na vida. Poesia libertária. De Kerouac a Ginsberg até o boom de nossa poesia despojada brasileira, com Leminski e demais. Aliás, "despojado" é palavra-chave no filme. Filme que vale muito mais que todo meu curso de Letras. Lembro sempre d'um poema do Manuel Bandeira, "Nova Poética", que diz que o poema deve ser uma nódoa que suja o paletó branco do sujeito. O Poema deve conter a "marca suja da vida". Sujar aquele leitor 100% virgens e as meninininhas estrelas-alfas. Sujar o bom-mocismo. E certamentente, à Bandeira, o filme e a poesia de Claudio Assis são essa nódoa de lama no paletó da caretice!!! (E sim, rapariga e cachaça são poesia, "tome e receba"!!!!).
Uma das coisas mais absurdamente maravilhosas que já vi no espaço cinematográfico. Muito além de uma mera biografia do poeta e trovador armênio Sayat Nova, do século XVIII. Como diz a epígrafe do filme, uma recriação simbolista e alegórica do mundo interior do poeta. Pra quem se interessa por poesia, este filme é fundamental. Uma poesia pra ser sentida... e com a alma... Experiência contemplativa.. Ou uma presença do Neoplatonismo.
Um ótimo filme para o velho debate "o que é literatura", "realidade x ficção", ou quando a imaginação é fuga.. e melhor. Entre loucura e manicômios, loucos abandonados em meio à guerra da Chechênia de 1996. Filme bárbaro. Um aprendizado p/ a vida. Sim, aprende-se muito com os loucos. E com estes então.
Excelente documentário sobre o Tarkovsky. Nos 10 primeiros minutos o doc. toca numa peculiar questão, que é a da chuva nos filmes do cineasta, assim como há no cinema de Kurosawa, retratando a sensibilidade nipônica e o elo com a natureza ("phýsis", como diziam os gregos). Isso me fez lembrar um texto que li na Revista Contracampo, não lembro o nome do autor, que dizia ser a obra de Tarkovsky um "cinema úmido". E as frases finais....belíssimo. Doc. pra se ver e rever.
Saí arrasado da sala de cinema. Peguei um ônibus, pensei na existência. Na minha solidão. No vazio do mundo (quase como se assistisse a um filme de Tarkovsky). Ilhado. Assim como Petra, me olho no espelho e não vejo nada através de meus olhos. Vazio. Uma fala de Petra nas cenas finais são magistrais e dolorosas: "Eu me afogo em você. Em Ofélias". Também me afogo em Elena. Todos nós -- e aí o documentário ganha na universalização.
. Uma luta da memória contra o esquecimento, contra a sombra do traumático. Silêncio? A saída: não esquecer (Em um texto, o prof. e pesquisador da Unicamp Marcio Seligmann-Silva diz-nos: "lembrar de esquecer, não esquecer de lembrar"). Um doc. que mais é um grito. Ou um exorcisar de traumas. A frase final dita por uma mulher sintetiza:
Belo documentário, e interessante a abordagem comparativa entre os autores a partir de algumas cenas, a fim de sublinhas as influências e diálogos entre os autores, o que dá ao documentário um ar interseccional e fusional. Depois de encerrar minha jornada em Tarkovsky, este doc. foi-me como convite para adentrar em Sergei Paradjanov, que não conheço. Como diz o Stalker de Tarkovsky: qual direção?
Uau, filme do Tarkovsky que me dilacerou por completo! Aquela sensação que senti fortemente com O ESPELHO, não só pela complexa estrutura. O SACRIFÍCIO dilacera quem vê porque fala do vazio do discurso humano, do vazio da espiritualidade do mundo moderno, encara a morte de frente, cita Nietzsche nitidamente, põe fogo tal como um Yukio Mishima. Sonho, devaneio, silêncio e morte --
"O que eu quis foi propor questões e demonstrar problemas que vão diretamente ao núcleo das nossas vidas e, desse modo, levar o. espectador de volta às fontes dormentes e ressequidas da nossa existência. Figuras, imagens visuais, estão muito mais capacitadas para realizar essa finalidade do que quaisquer palavras, particularmente hoje, quando o mundo perdeu todo o mistério e magia, e falar tornou-se mero palavrório — vazio de significado, como observa Alexander. Estamos sendo sufocados por uma avalanche de informações, contudo, ao mesmo tempo, nossos sentimentos permanecem intocados pelas mensagens de suprema importância que poderiam mudar nossas vidas"
Um dos filmes que mais gosto do Tarkovsky. Só a proposital colocação de um poeta, um cientista e um 'messias' já vale mais que todo um curso de teoria da literatura!! como és belo o embate dos discursos!! Na segunda parte, o escritor, ao chão, diz: "o homem escreve porque sofre, porque duvida de si". Como não lembrar de O ESPELHO (1975), momento em que Andrei diz que "escrever é um ato ético"?
E como venho procurando a Zona durante minha vida!!! Ah, Tarkovsky!!!
Pra mim, a maior poesia cinematográfica. Filme-fragmento. Memórias da mãe, da guerra, retorno bachelardiano à infância, união à natureza.. tudo em poesia. Filme pra viver e sentir.hoje e sempre.. Duas poesias declamadas no filme que me são magistrais: "Vivemos todos à beira mar". E como o poeta sabe bem como viver à beira mar. "Escrever é um ato de coragem. A obrigação do poeta é causar emoções espirituais, e não educar idólatras". belo!!
Solaris tem algo bastante peculiar: não apenas o debate existencial (filosoficamente falando), as leituras acerca do "oceano", Hari e a presença do devaneio (outra abertura filosófica, se se quer trazer uma epistemologia de Bachelard, por ex.). Mas a tomada do mundo (Solaris) como uma "imagem". (corroborada na cena
final, a terra --este nosso mundo sensível-- sob as nuvens, dentro d'uma ilha
). Essa é uma fundamentação neoplatônica e que vai aparecer nas outras obras de tarkovski. Sem teorizar,porque me falta ânimo p/ isso. mas acho que Solaris é uma perfeita introdução para as obras seguintes (digo: Stalker e Nostalgia).
Na minha visão (veja bem: na minha opinião) o filme é muito ingênuo. Assisti por força de uma amiga que também é operadora de Emergência.
1) Certamente a narrativa do filme acerta por mostrar o "outro lado" da vida de telefonistas de Emergência -- uma profissão que não é reconhecida por ninguém e muito hárdua (ninguém nos comentários aqui, inclusive, tocou nisso. Sim, li religiosamente os coments). 2) Após os 30min.iniciais o filme consegue uma atmosfera de tensão muito boa, com peripécias inteligentes. 3) A cena
da menina sequestrada deixando seu testemunho para a família
é cume do filme, o ponto alto de beleza e tristeza. 4) O filme abusa de "cópias" de muito mal-gosto, destruindo qualquer possibilidade de originalidade.4.1 -- O "sequestrador/assassino", com claros distúrbios psicológicos, parece uma caricatura de mal gosto de filmes como A Casa de Cera (2005) -- há uma cena diretamente referente. 4.2 -- a cena final,
fechar a porta e deixar um corpo ao cruel abandono
. Esta cena, inclusive, é totalmente deslocada da suposta proposta do filme. 5) A operadora Jordan é brilhante ao assumir as dores da vítima e ir atrás do algoz (violando uma tese de operadores que a própria fala, de não criar vinculo emocional com a vítima). Mas esse ato cai com a cena final, criando uma patética atmosfera. 6) Repito: minha opinião. 1 estrela, no MÁXIMO, pelo argumento do filme: mostrar à sociedade a dura vida dos operadores, "Estrelas" que lidam com um cruel mundo. Pessoas que também choram, desejam, amam, se indignam. Sim, há vida e amor do outro lado do telefone!!
(i) De uma trilha sonora maravilhosa, e que casa com a narrativa. O média-metragem, ao colocar soldados diante de bombas da 2ªGuerra, cria uma atmosfera de tensão no telespectador. A narrativa inscreve-se, assim, no limiar vida/morte. (ii) Confesso que duas coisas me intrigaram e intrigam ainda: a) A cena
do hospital, ao filmar um ato cirúrgico, parecendo-me que ficou isolada na proposta
; b) o magistral título da obra. Sobre essa última inquietação, é fabuloso pensar: como são soldados que são "escalados" a transportarem as bombas, lembrei-me muito dos antigos samurais nipônicos que encaravam com garra o enfrentamento "com" o limiar da morte. Certamente os nipônicos do Meiji, em situações similares, diriam que 'Hoje não haverá saída', não abandonando seus postos. Esta é uma leitura inicial. Não concordo em nada com que disse um renomado crítico que a obra é panfletária e desvia para questões ideológicas. Concordo com o estimado Sr. que a obra possa ser tomada de "registro histórico", documento, a depender do que entendamos por isso. Quem sabe nas próximas eu não venha com outras leituras. Vou alí ver umas bombas.
Uma realidade sensível, transparente, ou melhor, "superexposta", se seguirmos com Paul Virilio, que nos fala do mundo sem antípodas, sem faces ocultas; e ainda: realidade bombardeada de signos, se lembrarmos da semiótica. Do regime das imagens, circulantes e em movimento -- lição antonioniana de Blow-Up (1966) -- o argumento de Beckett me fez lembrar de uma frase antológica do filme "O sangue de um poeta" (1930), de Jean Cocteau (outro que perseguiu espelhos), que diz: “os espelhos deveriam pensar mais antes de refletir as imagens”. Duro espelho, como diz um poema do Ivan Junqueira. Não há como cobrir, fugir. Somos. Somos aí, no mundo. Ser-no-mundo, como pensará Heidegger. Frente aos outros, aos olhos, espelhos. Janelas. Portas. Genial curta. Genial Beckett.
Belíssimo! Encantei-me mais com a Tatiana e sua escritura, fruto de um corpo pútrido: poesia libertária, poesia das ruas, magma antropogenético, antropogeográfico. literatura como denúncia!! E a citação do filósofo alemão Heidegger sobre o moldar o vazio foi extremamente oportuna, somado ao belo trabalho sonoro do Wisnik. Documentário blanchotianamente fundamental.
Ótimo filme. A presença do grande escritor João Guimarães Rosa é constante: desde o título, que é uma referência ao conto "Corpo Fechado", do livro SAGARANA, sua primeira obra (cheguei a este filme do Schubert Magalhães por causa do conto), até os elementos narrativos:
o filme já começa com uma citação do Rosa, o feiticeiro, o coronel Trajano (no conto seu nome é Targino), João de Deus (que no conto é Manuel Flôr)
. Interessante também é a presença dos elementos da prosa rosiana no filme: o misticismo, o pacto, o amor, a luta, a linha tênue vida/morte, a brabeza do sertenejo, o sertão sem fim.. É um filme fiel às influências e de um resultado original, somado a uma belíssima fotografia. Filme perseverante.
Lindo!! Tanto na forma quanto no conteúdo. Ao vê-lo, vieram-me à tona lembranças de um certo humor do Cláudio MacDowell; a crítica humorada à censura, do Mamoru Hosi. O filme cria uma ótima atmosfera para se pensar o processo criativo e censura na época.E interessante e irônica é uma fala do dono da emissora:
Divertidíssima comédia quebequense. Estranhamente o diretor não é conhecido no Brasil, devido a tamanha preciosidade de sua obra. Mas uma grandeza não no sentindo estético, e sim na singeleza com que toca no cotidiano, e mais especificamente no gênero "comédia". Sem dúvida, um filme que fala da comédia, do fazer comédia. Metanarrativa. Metacinema. A partir de peripécias muito bem construidas e uso de todos elementos da teoria da narrativa -- um roteiro invejável -- Emile Gaudreault nos apresenta um filme original: E se muitos no Brasil (com o atual momento em que acha-se que faz comédia, e o resultado é uma afetação sem igual) prestigiassem esse filme.. Meu anseio é que o diretor, em breve, venha a ser difundido no Brasil. Grande filme. Um talento canadense, certamente.
Simplicidade e beleza que circunfundem-se no filme. Em apenas uma noite e em um fragmento de avenida, isto é, em um recorte espaço-temporal todas as peripécias da narrativa se desdobram -- corroborando a maestria do roteiro. Estruturalismos à parte -- e como não sou cinéfilo, esquivo-me dos detalhes operacionais -- a narrativa do filme vem tocar em questões muito interessantes (e que, geralmente, o cinema francês tão bem toca): 1) a questão do "Outro", o estrangeiro, as margens, o periférico, as culturas em trânsito (os temas tão caros da corrente dos Estudos Culturais). 2) Os momentos de situações-limite onde todas as máscaras caem.Onde, diante do "Outro", do diferente, da minoria, aí os preconceitos arraigados saltam. Onde todo o "bom-mocismo" parece já não existir. Aí o filme desvela algo de forte: longe de psicanálises junguianas, desvelar
Bela fotografia do cotidiano e a simplicidade com que a câmera de Esposito filma o dia-a-dia dos quatro amigos-irmãos. O que mais chamou-me atenção foi a tese que Esposito segue pela boca do personagem Manu (Jean-Pierre Darroussin): que é maravilhoso quando o "amor e o riso caminham juntos". Ah.. uma tese que devíamos aprender! E penso que o filme ganha neste ponto: aprender a humildade e simplicidade da vida (pela ótica do personagem Manu, e também do professor Antoine). O que ironicamente contrasta com os caracteres do personagem empresário Alex (Marc Lavoine). Certamente, uma grande lição. Só elogios para LE COEUR DES HOMMES. (E ainda tocado com a beleza espiritual do personagem Manu..).
Febre do Rato
4.0 657"E quem foi que disse que a poesia não embriaga?"
Obra magistral do Claudio Assim. Traz um forte traço do que foi o "movimento Beat", poesia nas ruas, na estrada, na vida. Poesia libertária. De Kerouac a Ginsberg até o boom de nossa poesia despojada brasileira, com Leminski e demais. Aliás, "despojado" é palavra-chave no filme. Filme que vale muito mais que todo meu curso de Letras.
Lembro sempre d'um poema do Manuel Bandeira, "Nova Poética", que diz que o poema deve ser uma nódoa que suja o paletó branco do sujeito. O Poema deve conter a "marca suja da vida". Sujar aquele leitor 100% virgens e as meninininhas estrelas-alfas. Sujar o bom-mocismo.
E certamentente, à Bandeira, o filme e a poesia de Claudio Assis são essa nódoa de lama no paletó da caretice!!!
(E sim, rapariga e cachaça são poesia, "tome e receba"!!!!).
A Cor da Romã
4.1 133Uma das coisas mais absurdamente maravilhosas que já vi no espaço cinematográfico. Muito além de uma mera biografia do poeta e trovador armênio Sayat Nova, do século XVIII. Como diz a epígrafe do filme, uma recriação simbolista e alegórica do mundo interior do poeta. Pra quem se interessa por poesia, este filme é fundamental. Uma poesia pra ser sentida... e com a alma... Experiência contemplativa.. Ou uma presença do Neoplatonismo.
Casa dos Loucos
4.0 27Um ótimo filme para o velho debate "o que é literatura", "realidade x ficção", ou quando a imaginação é fuga.. e melhor. Entre loucura e manicômios, loucos abandonados em meio à guerra da Chechênia de 1996. Filme bárbaro. Um aprendizado p/ a vida. Sim, aprende-se muito com os loucos. E com estes então.
Arabescos Pirosmani
4.2 3De tão belo que calo minhas palavras diante de tal arroubo azul.
Paradjanov me conquistou.
O Duplo
3.9 31Achei bárbaro este curta-metragem. O nosso temido Outro..
(E que final..).
Um Dia na Vida de Andrei Arsenievitch
4.5 5Excelente documentário sobre o Tarkovsky. Nos 10 primeiros minutos o doc. toca numa peculiar questão, que é a da chuva nos filmes do cineasta, assim como há no cinema de Kurosawa, retratando a sensibilidade nipônica e o elo com a natureza ("phýsis", como diziam os gregos). Isso me fez lembrar um texto que li na Revista Contracampo, não lembro o nome do autor, que dizia ser a obra de Tarkovsky um "cinema úmido". E as frases finais....belíssimo. Doc. pra se ver e rever.
Elena
4.2 1,3K Assista AgoraSaí arrasado da sala de cinema. Peguei um ônibus, pensei na existência. Na minha solidão. No vazio do mundo (quase como se assistisse a um filme de Tarkovsky). Ilhado. Assim como Petra, me olho no espelho e não vejo nada através de meus olhos. Vazio.
Uma fala de Petra nas cenas finais são magistrais e dolorosas: "Eu me afogo em você. Em Ofélias".
Também me afogo em Elena. Todos nós -- e aí o documentário ganha na universalização.
P.S: Uma das cenas finais mais lindas que já vi,
a de Petra e a mãe no lago. Antológico!!
Que Bom Te Ver Viva
4.3 55 Assista Agora"Tempos de chumbo". Diz-nos uma das mulheres em depoimento:
“nosso corpo como objeto de tortura"
Uma luta da memória contra o esquecimento, contra a sombra do traumático. Silêncio? A saída: não esquecer (Em um texto, o prof. e pesquisador da Unicamp Marcio Seligmann-Silva diz-nos: "lembrar de esquecer, não esquecer de lembrar"). Um doc. que mais é um grito. Ou um exorcisar de traumas. A frase final dita por uma mulher sintetiza:
"tentar não esquecer e continuar vivendo".
Para quem se interessa pelo tema da Memória, História e Esquecimento, é uma obra antológica. Se eu pudesse, dava 10 estrelas.
Andrei Tarkovsky & Sergei Parajanov: Islands
4.0 3Belo documentário, e interessante a abordagem comparativa entre os autores a partir de algumas cenas, a fim de sublinhas as influências e diálogos entre os autores, o que dá ao documentário um ar interseccional e fusional. Depois de encerrar minha jornada em Tarkovsky, este doc. foi-me como convite para adentrar em Sergei Paradjanov, que não conheço. Como diz o Stalker de Tarkovsky: qual direção?
O Sacrifício
4.3 148Uau, filme do Tarkovsky que me dilacerou por completo! Aquela sensação que senti fortemente com O ESPELHO, não só pela complexa estrutura. O SACRIFÍCIO dilacera quem vê porque fala do vazio do discurso humano, do vazio da espiritualidade do mundo moderno, encara a morte de frente, cita Nietzsche nitidamente, põe fogo tal como um Yukio Mishima. Sonho, devaneio, silêncio e morte --
Não é mesmo a epígrafe deixada para o seu filho que deseja "esperança e fé"?
O melhor mesmo é ler o próprio Tarkovsky sobre o filme, em Esculpir o Tempo (1998, pela Ed. Martins Fontes, página 274):
"O que eu quis foi propor questões e demonstrar problemas que vão diretamente ao núcleo das nossas vidas e, desse modo, levar o. espectador de volta às fontes dormentes e ressequidas da nossa existência. Figuras, imagens visuais, estão muito mais capacitadas para realizar essa finalidade do que quaisquer palavras, particularmente hoje, quando o mundo perdeu todo o mistério e magia, e falar tornou-se mero palavrório — vazio de significado, como observa Alexander. Estamos sendo sufocados por uma avalanche de informações, contudo, ao mesmo tempo, nossos
sentimentos permanecem intocados pelas mensagens de suprema importância que poderiam mudar nossas vidas"
Stalker
4.3 505 Assista AgoraUm dos filmes que mais gosto do Tarkovsky. Só a proposital colocação de um poeta, um cientista e um 'messias' já vale mais que todo um curso de teoria da literatura!! como és belo o embate dos discursos!!
Na segunda parte, o escritor, ao chão, diz: "o homem escreve porque sofre, porque duvida de si". Como não lembrar de O ESPELHO (1975), momento em que Andrei diz que "escrever é um ato ético"?
E como venho procurando a Zona durante minha vida!!! Ah, Tarkovsky!!!
O Espelho
4.3 264 Assista AgoraPra mim, a maior poesia cinematográfica. Filme-fragmento. Memórias da mãe, da guerra, retorno bachelardiano à infância, união à natureza.. tudo em poesia. Filme pra viver e sentir.hoje e sempre..
Duas poesias declamadas no filme que me são magistrais: "Vivemos todos à beira mar". E como o poeta sabe bem como viver à beira mar.
"Escrever é um ato de coragem. A obrigação do poeta é causar emoções espirituais, e não educar idólatras".
belo!!
Solaris
4.2 368 Assista AgoraSolaris tem algo bastante peculiar: não apenas o debate existencial (filosoficamente falando), as leituras acerca do "oceano", Hari e a presença do devaneio (outra abertura filosófica, se se quer trazer uma epistemologia de Bachelard, por ex.). Mas a tomada do mundo (Solaris) como uma "imagem". (corroborada na cena
final, a terra --este nosso mundo sensível-- sob as nuvens, dentro d'uma ilha
Andrei Rublev
4.3 130um denso itinerário poético, complexo e intimista. as últimas horas, então.
antológico, sem dúvidas. filme para a vida..
A Infância de Ivan
4.3 156 Assista AgoraAh, como atravessei alguns rios na minha infância, tal como Ivan..
Chamada de Emergência
3.7 1,5K Assista AgoraNa minha visão (veja bem: na minha opinião) o filme é muito ingênuo. Assisti por força de uma amiga que também é operadora de Emergência.
1) Certamente a narrativa do filme acerta por mostrar o "outro lado" da vida de telefonistas de Emergência -- uma profissão que não é reconhecida por ninguém e muito hárdua (ninguém nos comentários aqui, inclusive, tocou nisso. Sim, li religiosamente os coments).
2) Após os 30min.iniciais o filme consegue uma atmosfera de tensão muito boa, com peripécias inteligentes.
3) A cena
da menina sequestrada deixando seu testemunho para a família
4) O filme abusa de "cópias" de muito mal-gosto, destruindo qualquer possibilidade de originalidade.4.1 -- O "sequestrador/assassino", com claros distúrbios psicológicos, parece uma caricatura de mal gosto de filmes como A Casa de Cera (2005) -- há uma cena diretamente referente.
4.2 -- a cena final,
com as duas mulheres trancando o algoz,
fechar a porta e deixar um corpo ao cruel abandono
5) A operadora Jordan é brilhante ao assumir as dores da vítima e ir atrás do algoz (violando uma tese de operadores que a própria fala, de não criar vinculo emocional com a vítima). Mas esse ato cai com a cena final, criando uma patética atmosfera.
6) Repito: minha opinião. 1 estrela, no MÁXIMO, pelo argumento do filme: mostrar à sociedade a dura vida dos operadores, "Estrelas" que lidam com um cruel mundo. Pessoas que também choram, desejam, amam, se indignam. Sim, há vida e amor do outro lado do telefone!!
Hoje Não Haverá Saída Livre
3.5 19 Assista Agora(i) De uma trilha sonora maravilhosa, e que casa com a narrativa. O média-metragem, ao colocar soldados diante de bombas da 2ªGuerra, cria uma atmosfera de tensão no telespectador. A narrativa inscreve-se, assim, no limiar vida/morte.
(ii) Confesso que duas coisas me intrigaram e intrigam ainda: a) A cena
do hospital, ao filmar um ato cirúrgico, parecendo-me que ficou isolada na proposta
Esta é uma leitura inicial. Não concordo em nada com que disse um renomado crítico que a obra é panfletária e desvia para questões ideológicas. Concordo com o estimado Sr. que a obra possa ser tomada de "registro histórico", documento, a depender do que entendamos por isso. Quem sabe nas próximas eu não venha com outras leituras. Vou alí ver umas bombas.
Film
4.4 8 Assista AgoraUma realidade sensível, transparente, ou melhor, "superexposta", se seguirmos com Paul Virilio, que nos fala do mundo sem antípodas, sem faces ocultas; e ainda: realidade bombardeada de signos, se lembrarmos da semiótica. Do regime das imagens, circulantes e em movimento -- lição antonioniana de Blow-Up (1966) -- o argumento de Beckett me fez lembrar de uma frase antológica do filme "O sangue de um poeta" (1930), de Jean Cocteau (outro que perseguiu espelhos), que diz: “os espelhos deveriam pensar mais antes de refletir as imagens”. Duro espelho, como diz um poema do Ivan Junqueira. Não há como cobrir, fugir. Somos. Somos aí, no mundo. Ser-no-mundo, como pensará Heidegger. Frente aos outros, aos olhos, espelhos. Janelas. Portas.
Genial curta. Genial Beckett.
O Zero Não é Vazio
3.9 13Belíssimo! Encantei-me mais com a Tatiana e sua escritura, fruto de um corpo pútrido: poesia libertária, poesia das ruas, magma antropogenético, antropogeográfico. literatura como denúncia!! E a citação do filósofo alemão Heidegger sobre o moldar o vazio foi extremamente oportuna, somado ao belo trabalho sonoro do Wisnik. Documentário blanchotianamente fundamental.
O Homem do Corpo Fechado
2.9 2Ótimo filme. A presença do grande escritor João Guimarães Rosa é constante: desde o título, que é uma referência ao conto "Corpo Fechado", do livro SAGARANA, sua primeira obra (cheguei a este filme do Schubert Magalhães por causa do conto), até os elementos narrativos:
o filme já começa com uma citação do Rosa, o feiticeiro, o coronel Trajano (no conto seu nome é Targino), João de Deus (que no conto é Manuel Flôr)
Interessante também é a presença dos elementos da prosa rosiana no filme: o misticismo, o pacto, o amor, a luta, a linha tênue vida/morte, a brabeza do sertenejo, o sertão sem fim.. É um filme fiel às influências e de um resultado original, somado a uma belíssima fotografia. Filme perseverante.
As Delícias da Vida
2.6 10Lindo!! Tanto na forma quanto no conteúdo. Ao vê-lo, vieram-me à tona lembranças de um certo humor do Cláudio MacDowell; a crítica humorada à censura, do Mamoru Hosi. O filme cria uma ótima atmosfera para se pensar o processo criativo e censura na época.E interessante e irônica é uma fala do dono da emissora:
"a coisa [a novela] está descambando para um terreno perigoso, precisamos de algo mais romântico, otimista, de acordo com a realidade do momento"
Não conhecia o diretor. Um ótimo começo.
Le Sens de L'humour
4.0 1Divertidíssima comédia quebequense. Estranhamente o diretor não é conhecido no Brasil, devido a tamanha preciosidade de sua obra. Mas uma grandeza não no sentindo estético, e sim na singeleza com que toca no cotidiano, e mais especificamente no gênero "comédia". Sem dúvida, um filme que fala da comédia, do fazer comédia. Metanarrativa. Metacinema. A partir de peripécias muito bem construidas e uso de todos elementos da teoria da narrativa -- um roteiro invejável -- Emile Gaudreault nos apresenta um filme original: E se muitos no Brasil (com o atual momento em que acha-se que faz comédia, e o resultado é uma afetação sem igual) prestigiassem esse filme.. Meu anseio é que o diretor, em breve, venha a ser difundido no Brasil. Grande filme. Um talento canadense, certamente.
Le Jardin de Papa
4.0 1Simplicidade e beleza que circunfundem-se no filme. Em apenas uma noite e em um fragmento de avenida, isto é, em um recorte espaço-temporal todas as peripécias da narrativa se desdobram -- corroborando a maestria do roteiro.
Estruturalismos à parte -- e como não sou cinéfilo, esquivo-me dos detalhes operacionais -- a narrativa do filme vem tocar em questões muito interessantes (e que, geralmente, o cinema francês tão bem toca): 1) a questão do "Outro", o estrangeiro, as margens, o periférico, as culturas em trânsito (os temas tão caros da corrente dos Estudos Culturais).
2) Os momentos de situações-limite onde todas as máscaras caem.Onde, diante do "Outro", do diferente, da minoria, aí os preconceitos arraigados saltam. Onde todo o "bom-mocismo" parece já não existir. Aí o filme desvela algo de forte: longe de psicanálises junguianas, desvelar
o homem branco selvagem e colonizador (e ironicamente, na África).
diante desse enfrentamento
O Coração dos Homens
3.6 5Bela fotografia do cotidiano e a simplicidade com que a câmera de Esposito filma o dia-a-dia dos quatro amigos-irmãos. O que mais chamou-me atenção foi a tese que Esposito segue pela boca do personagem Manu (Jean-Pierre Darroussin): que é maravilhoso quando o "amor e o riso caminham juntos". Ah.. uma tese que devíamos aprender! E penso que o filme ganha neste ponto: aprender a humildade e simplicidade da vida (pela ótica do personagem Manu, e também do professor Antoine). O que ironicamente contrasta com os caracteres do personagem empresário Alex (Marc Lavoine). Certamente, uma grande lição. Só elogios para LE COEUR DES HOMMES.
(E ainda tocado com a beleza espiritual do personagem Manu..).