devo tá viajando muito na interpretação, mas passei absolutamente o filme inteiro achando que o hibridismo da ada não era nada mais que uma coisa elaborada pela cabeça da maría para lidar com o luto pela morte da filha. e o marido, para não decepcioná-la, entrou no jogo. daí a razão de ter um berço lá aparentemente novo; de o casal tratar uma transa que era para ser corriqueira como algo grandioso e raro; de que, em determinado momento, rola até uma visita a um túmulo.
no final, parece-me só que o ingvar percebeu o quão grande era o luto do casal e por isso decide tirar a própria vida.
como se o bichão lá que mete bala fosse também ele exercendo um instinto animal: ele sofrendo, depois de atenuar e fingir a inexistência do sofrimento por muito tempo; e a ada sendo o que deveria ter sido desde o começo, se não tivesse sido usada como joguete por um casal meio doido da cabeça: um simples animal.
A forma como Connell vai construindo uma aura de tristeza até explodir em lágrimas quando está falando com a psicóloga sobre o amigo. Que cena, que angústia.
Eu tenho a impressão de que é sempre muito difícil lidar com esses filmes que tratam sobre culturas e países específicos, porque, não raro, eles estacionam naquele lugar do "exótico": como se assistir ao filme fosse só um exercício para observar e respeitar os personagens.
Atlantique ultrapassa esse pontinho meio clichê e coloca cada personagem no seu lugar de humano, recriando os traumas, colocando ênfase nos problemas, esclarecendo os amores.
Situar todas aquelas mulheres num lugar de importância e como um meio para que aqueles caras tomassem o que deveria ser deles por direito foi dar a cada uma um lugar diferente. Como se fossem úteis e necessárias ao alcance de uma ideia de justiça que seria impossível só com a força masculina.
O que eu falo pode ter pouquíssimo peso, já que eu não acompanho muito de perto as produções que explodem por aí com tanta regularidade, mas o episódio 6 - que foi ao ar dia 24 de novembro - foi uma das coisas mais fodas e ambiciosas que eu já tive a oportunidade de ver na TV em muito tempo.
Não li a HQ, mas pelo pouco que sei, a impressão que fica é que as personagens não são anuladas de forma alguma: só se expandem, só se mostram mais profundamente e sem qualquer medo. As críticas que têm surgido só se fundamentam, aparentemente, na questão racial - tratada sem qualquer tipo de rodeio. O fato de que algumas pessoas não consigam aceitar esse viés só corrobora o quão real é a problemática apresentada.
Leio alguns comentários tentando justificar as atitudes que o filme condenou — a abordagem violenta, o fato de não transmitirem informações à Kendra antes que o marido (branco) chegasse, para citar alguns exemplos — e fico pensando: quem faz esse tipo de defesa é desonesto ou só não consegue ter percepção ampla mesmo, já que não vivencia na pele?
Eu juro que cada vez mais tento adotar aquela tática cirandeira, didática e pedagógica de quem tenta não surtar e não ficar sempre na defensiva, que busca dar explicações, mostrar dados etc. Acontece que ver maluco fazendo volta pra tentar definir se o que aconteceu, não só no filme, mas em qualquer lugar, é racismo, me soa como um desrespeito sem tamanho e quase me faz perder o resto de esperança que ainda existe.
Fui pesquisar de novo sobre aquela última fala — "Jack, I swear." — e um comentário de 2006, num fórum, fez o filme bater ainda mais. Não é nenhuma inovação, mas acho que diz tudo que é preciso.
"I think when Ennis says Jack, I swear he is expressing his regrets for not allowing himself to be more open and to spend more quality time with Jack when he was alive. What I noticed at that scene, when Ennis is looking at the shirts, was a huge sense of loss in his face, not just because Jack was no longer around but because Ennis had little to remember him for. As Jack said, they spent a few times together in 20 years, and 20 years is a whole life. All Ennis had from the person he loved the most were the shirts and an old postcard of Brokeback Mountain. The real mountain, the real thing, as we can see through the little window at Ennis' trailer, was no longer there, but not because Jack had died but because Ennis himself had killed it. He killed it by spending those 20 years living in fear, keeping Jack away and breaking his heart over and over again."
Felizmente eu sou cafona o suficiente pra ficar EMOCIONADÍSSIMO com os exageros, maneirismos e trilhas sonoras mainstream características - mas que vieram bem mais forte nesse aí. Alguns limites são ultrapassados, mas ainda assim eu não entendi a proporção das críticas. Funcionou muito bem para mim.
Comecei a assistir esse filme uma vez, estava bêbado, me pareceu lento; desisti. Passei aquele tempo comprido envolto ao medo da decepção e, ainda, assim, curioso até o ponto em que me permiti assistir de novo.
Percebi um problema que até então eu ignorava - e que acho ser tabu e comum pra caramba: a incapacidade de lidar com qualquer coisa relacionada à morte.
Eu sei que, ao final, eu deveria me sentir feliz pela libertação que acontece e que é importante para qualquer pessoa, principalmente na situação vivenciada por M. Mas da mesma forma, me custa entrar na cabeça que as coisas possam terminar, assim, de forma tão abrupta, como se isso não fosse desleal.
Lembrei daquele diálogo que acontece no conto 'O dia em que Júpiter encontrou Saturno', do Caio:
"- Mas não seria natural. - Natural é as pessoas se encontrarem e se perderem. - Natural é encontrar. Natural é perder. - Linhas paralelas se encontram no infinito. - O infinito não acaba. O infinito é nunca. - Ou sempre.
(Silêncio)"
Fiquei relutante durante muito tempo quanto a ver esse filme e, no final, acabei cedendo por indicação de um cara que tem um bom gosto indiscutível. Valeu muito a pena.
Acho que, se não por ter passado por todas as situações possíveis em relação a esse desencaixe que algumas idades trazem pra vida de todo mundo, o filme me bateu forte pra caramba também e principalmente pela relação de amizade entre todos os garotos do grupo.
Foi uma construção tão bem feita e bonita de cada personagem (Ray, can we be friends?) que eu cheguei a relembrar algumas poucas relações próximas que eu tive - e que tinham a mesma importância das que são passadas ali - e que depois vão se esvaziando até tornarem-se porcaria nenhuma. Em que pese ainda terem enorme significado.
Não pode ser saudosismo da minha parte dizer que ali em meados de 1990 as coisas, as pessoas, isso que se dá entre as pessoas, tudo - parecia ser muito mais real.
"(...) la seule et vraie cruauté n'est pas celle d'un homme qui en blesse un autre… la vraie et terrible cruauté est celle de l 'homme qui rend l'homme inachevé, qui l'interrompt comme des points de suspension au milieu d'une phrase, qui se détourne de lui après l'avoir regardé, qui fait de l'homme une erreur du regard, une erreur du jugement, une erreur, comme une lettre qu'on a commencée et qu'on froisse brutalement juste après avoir écrit la date." Koltès
Não sei, pode ser reducionista da minha parte entender assim, mas muito embora o filme tenha conseguindo me agradar em MUITOS sentidos, não levei a cabo aquele momento em que Joan percebe, de fato, que tem um posicionamento importante em meio àquela história literária toda; e depois da discussão com o marido quanto à familia-casa-afazeres-etc, a também percepção de que a entrega havia sido dúplice: dela, pela obra, e dele, pela 'vida social'. Eu esperei muito um levante ainda mais forte do que o aconteceu no quarto de hotel, com os livros sendo jogados no chão. Mas talvez tenha sido levante também a fala dura dentro do avião, voltando para casa, como se compreendesse absolutamente todos os lados de maneira perfeita. Ai, sei lá.
no relacionamento entre Marlo e Tully, ainda que descubramos depois ser esta uma persona mais nova da personagem principal. Como se tentasse dar evidência ao desejo de como gostaria que fosse sua vida. Ou como se, nessa evidência, houvesse também uma menção àquela mulher por quem ela era apaixonada antes de se casar e ter filhos. É um espectro bonito, como se, mais uma vez, por dentro, ela se desse a oportunidade de sentir afeto tanto pelo marido atual quanto pelo amor antigo e até por ela mesma.
No mais, é uma reprodução muito fiel da maternidade; até crua. E que não tem dificuldade nenhuma para chegar àquele ponto em que as vidas se misturam tanto que a importância e a individualização da própria ficam em extremo segundo-plano. Ah, a trilha sonora é linda.
O que há de mais interessante nos comentários é ver como a gente parte sempre de um conceito estereotipado do que é uma relação entre dois homens e do que é uma relação entre um adulto e uma criança. Qualquer tipo de atitude - sem qualquer conexão com os supostos abusos anteriores - poderia ser motivo de incômodo e medo ao padre naquela falsa ligação que a Irmã Aloysius disse ter feito à uma freira da antiga paróquia. Mas, de novo, nada como uma sustentação à ideia criada por nós e que coaduna com o que de mais cruel existe no ser humano: acreditamos também no mais fácil, no mais palpável. Ainda que, sobre isso, continue a existir MUITA dúvida.
"Deve haver alguma espécie de sentido ou o que virá depois?", diz o Caio Fernando Abreu naquele conto Luz e Sombra, de Morangos Mofados. Procurando sim, depois do entrave, qualquer espécie de ponta solta para se segurar ou corpo que seja lúcido o suficiente para servir de cuidado. Ou como se buscasse, também em uma pós vida, uma resolução que seja diferente do que simplesmente o corpo humano silenciado por uma enorme quantidade de terra. Se existe céu, existe corpo. Se existe corpo, existe dúvida. Se existe dúvida: há resposta. E Call Me By Your Name é dar oportunidade para a resposta que fica depois que se faz o questionamento e não há fuga nenhuma possível a não ser esperar o que vem na sequência. Elio e Oliver, para contrariar o que eles próprios acreditavam ou para dar valia à expectativa de quem assiste às suas várias atividades corriqueiras, mas cheias de significado, são a exemplificação de uma descoberta única para a honestidade que na maioria das vezes só escapa. Não deve ser spoiler dizer que entre os dois existiu um amor forte como as composições de Bach. Mas o importante - a história que se tira por trás da história dos dois, que se entrecruzam em idades diferentes e que se aproximam em auras completamente iguais, é que depois da loucura alguma coisa sempre fica. Não dar a mão para o destroço é esquecer o prédio inteiro. É ignorar a construção que se fez e que foi também importante. É relembrá-lo, o prédio inteiro, como se nunca tivesse sido nada além de sangue, suor, lágrima, compreensão e poeira.
Julie é a representação mais clara para mim do mito da caverna conexo a um relacionamento. Porque se sentia mulher feliz, próspera, realizada, completa, amada, inteira e todos os outros possíveis adjetivos que dão substância a uma união entre duas pessoas. Mas depois da morte que acontece — e que é abrupta como um colocar-se para fora do ambiente de sombras — é que tem início a percepção de que nem tudo é como havia se criado em seu imaginário, a respeito do homem com quem vivia. E são dois pontos importantes a se tocar: o descobrir é o ir para fora. É o ato primário de enxergar o sol e amiudar a vista. O segundo é, depois de tudo, ainda que de visão reduzida, se sentir em meio a uma liberdade que é maior que qualquer discurso. A cor azul, então, é a representação da morte do homem que compunha e que era humano — a decoração no quarto, a pintura das paredes, a aura momentânea da lembrança. E foi quando o azul se tornou mais ralo e fraco em meio aos destroços do carro que Julie abriu os braços.
Cordeiro
3.3 553 Assista Agoradevo tá viajando muito na interpretação, mas passei absolutamente o filme inteiro achando que o hibridismo da ada não era nada mais que uma coisa elaborada pela cabeça da maría para lidar com o luto pela morte da filha. e o marido, para não decepcioná-la, entrou no jogo. daí a razão de ter um berço lá aparentemente novo; de o casal tratar uma transa que era para ser corriqueira como algo grandioso e raro; de que, em determinado momento, rola até uma visita a um túmulo.
no final, parece-me só que o ingvar percebeu o quão grande era o luto do casal e por isso decide tirar a própria vida.
como se o bichão lá que mete bala fosse também ele exercendo um instinto animal: ele sofrendo, depois de atenuar e fingir a inexistência do sofrimento por muito tempo; e a ada sendo o que deveria ter sido desde o começo, se não tivesse sido usada como joguete por um casal meio doido da cabeça: um simples animal.
Meu Pai
4.4 1,2K Assista Agoraquem convive ou conviveu com alguém com alzheimer vai ficar em pânico e agoniadíssimo com a fidelidade com que a doença é retratada.
O Mistério de Silver Lake
3.0 289 Assista AgoraTive a impressão de que o papagaio antes dizia "Not a friend" e depois da pintura em vermelho na parede, ao final, passou a dizer "Are a friend".
E, enquanto papagaio, partindo do clichêzão, deve ter alguma conexão com o cara que vive vestido de pirata - e que está sempre junto dos sem-teto.
Ou, melhor dizendo, daqueles que não querem esse teto comum, mas o teto das "tumbas".
Tô viajando? Provável.
Normal People
4.4 438A forma como Connell vai construindo uma aura de tristeza até explodir em lágrimas quando está falando com a psicóloga sobre o amigo. Que cena, que angústia.
Ema
3.5 80 Assista Agoracasos de família under neon lights
Inside Llewyn Davis - Balada de um Homem Comum
3.8 529 Assista Agora— No. Yes, but, no. I had a partner.
— Well, that makes sense. My suggestion? Get back together.
— That's good advice.
Atlantique
3.6 129Lindo.
Eu tenho a impressão de que é sempre muito difícil lidar com esses filmes que tratam sobre culturas e países específicos, porque, não raro, eles estacionam naquele lugar do "exótico": como se assistir ao filme fosse só um exercício para observar e respeitar os personagens.
Atlantique ultrapassa esse pontinho meio clichê e coloca cada personagem no seu lugar de humano, recriando os traumas, colocando ênfase nos problemas, esclarecendo os amores.
Situar todas aquelas mulheres num lugar de importância e como um meio para que aqueles caras tomassem o que deveria ser deles por direito foi dar a cada uma um lugar diferente. Como se fossem úteis e necessárias ao alcance de uma ideia de justiça que seria impossível só com a força masculina.
Lost (2ª Temporada)
4.4 377 Assista AgoraGrilado pois Ana Lucia merecia uma morte mais digna.
Cheio de ódio pelo chato do Michael.
As Golpistas
3.5 538 Assista AgoraJ-Lo + Fiona Apple = conceito, coesão e aclamação.
Watchmen
4.4 562 Assista AgoraO que eu falo pode ter pouquíssimo peso, já que eu não acompanho muito de perto as produções que explodem por aí com tanta regularidade, mas o episódio 6 - que foi ao ar dia 24 de novembro - foi uma das coisas mais fodas e ambiciosas que eu já tive a oportunidade de ver na TV em muito tempo.
Não li a HQ, mas pelo pouco que sei, a impressão que fica é que as personagens não são anuladas de forma alguma: só se expandem, só se mostram mais profundamente e sem qualquer medo. As críticas que têm surgido só se fundamentam, aparentemente, na questão racial - tratada sem qualquer tipo de rodeio. O fato de que algumas pessoas não consigam aceitar esse viés só corrobora o quão real é a problemática apresentada.
American Son
3.7 185Leio alguns comentários tentando justificar as atitudes que o filme condenou — a abordagem violenta, o fato de não transmitirem informações à Kendra antes que o marido (branco) chegasse, para citar alguns exemplos — e fico pensando: quem faz esse tipo de defesa é desonesto ou só não consegue ter percepção ampla mesmo, já que não vivencia na pele?
Eu juro que cada vez mais tento adotar aquela tática cirandeira, didática e pedagógica de quem tenta não surtar e não ficar sempre na defensiva, que busca dar explicações, mostrar dados etc. Acontece que ver maluco fazendo volta pra tentar definir se o que aconteceu, não só no filme, mas em qualquer lugar, é racismo, me soa como um desrespeito sem tamanho e quase me faz perder o resto de esperança que ainda existe.
Achei Kerry impecável, como de costume.
O Segredo de Brokeback Mountain
3.9 2,2K Assista AgoraAssisti pela milésima vez. Sofri à mesma maneira.
Fui pesquisar de novo sobre aquela última fala — "Jack, I swear." — e um comentário de 2006, num fórum, fez o filme bater ainda mais. Não é nenhuma inovação, mas acho que diz tudo que é preciso.
"I think when Ennis says Jack, I swear he is expressing his regrets for not allowing himself to be more open and to spend more quality time with Jack when he was alive. What I noticed at that scene, when Ennis is looking at the shirts, was a huge sense of loss in his face, not just because Jack was no longer around but because Ennis had little to remember him for. As Jack said, they spent a few times together in 20 years, and 20 years is a whole life. All Ennis had from the person he loved the most were the shirts and an old postcard of Brokeback Mountain. The real mountain, the real thing, as we can see through the little window at Ennis' trailer, was no longer there, but not because Jack had died but because Ennis himself had killed it. He killed it by spending those 20 years living in fear, keeping Jack away and breaking his heart over and over again."
A Morte e Vida de John F. Donovan
3.3 193Felizmente eu sou cafona o suficiente pra ficar EMOCIONADÍSSIMO com os exageros, maneirismos e trilhas sonoras mainstream características - mas que vieram bem mais forte nesse aí. Alguns limites são ultrapassados, mas ainda assim eu não entendi a proporção das críticas. Funcionou muito bem para mim.
Sombras da Vida
3.8 1,3K Assista AgoraComecei a assistir esse filme uma vez, estava bêbado, me pareceu lento; desisti. Passei aquele tempo comprido envolto ao medo da decepção e, ainda, assim, curioso até o ponto em que me permiti assistir de novo.
Percebi um problema que até então eu ignorava - e que acho ser tabu e comum pra caramba: a incapacidade de lidar com qualquer coisa relacionada à morte.
Eu sei que, ao final, eu deveria me sentir feliz pela libertação que acontece e que é importante para qualquer pessoa, principalmente na situação vivenciada por M. Mas da mesma forma, me custa entrar na cabeça que as coisas possam terminar, assim, de forma tão abrupta, como se isso não fosse desleal.
A cena do fantasma voltando pra casa é linda.
La La Land: Cantando Estações
4.1 3,6K Assista AgoraLembrei daquele diálogo que acontece no conto 'O dia em que Júpiter encontrou Saturno', do Caio:
"- Mas não seria natural.
- Natural é as pessoas se encontrarem e se perderem.
- Natural é encontrar. Natural é perder.
- Linhas paralelas se encontram no infinito.
- O infinito não acaba. O infinito é nunca.
- Ou sempre.
(Silêncio)"
Fiquei relutante durante muito tempo quanto a ver esse filme e, no final, acabei cedendo por indicação de um cara que tem um bom gosto indiscutível. Valeu muito a pena.
The Act
4.3 392Minha função depois dessa série é venerar (a sempre incrível) Patricia Arquette e Joey King.
Anos 90
3.9 502Acho que, se não por ter passado por todas as situações possíveis em relação a esse desencaixe que algumas idades trazem pra vida de todo mundo, o filme me bateu forte pra caramba também e principalmente pela relação de amizade entre todos os garotos do grupo.
Foi uma construção tão bem feita e bonita de cada personagem (Ray, can we be friends?) que eu cheguei a relembrar algumas poucas relações próximas que eu tive - e que tinham a mesma importância das que são passadas ali - e que depois vão se esvaziando até tornarem-se porcaria nenhuma. Em que pese ainda terem enorme significado.
Não pode ser saudosismo da minha parte dizer que ali em meados de 1990 as coisas, as pessoas, isso que se dá entre as pessoas, tudo - parecia ser muito mais real.
'We'll let you know' tocando enquanto eles andavam de skate foi um soco VIOLENTO no meu estômago.
Conquistar, Amar e Viver Intensamente
3.4 66 Assista Agora"(...) la seule et vraie cruauté n'est pas celle d'un homme qui en blesse un autre… la vraie et terrible cruauté est celle de l 'homme qui rend l'homme inachevé, qui l'interrompt comme des points de suspension au milieu d'une phrase, qui se détourne de lui après l'avoir regardé, qui fait de l'homme une erreur du regard, une erreur du jugement, une erreur, comme une lettre qu'on a commencée et qu'on froisse brutalement juste après avoir écrit la date." Koltès
A Esposa
3.8 557 Assista AgoraNão sei, pode ser reducionista da minha parte entender assim, mas muito embora o filme tenha conseguindo me agradar em MUITOS sentidos, não levei a cabo aquele momento em que Joan percebe, de fato, que tem um posicionamento importante em meio àquela história literária toda; e depois da discussão com o marido quanto à familia-casa-afazeres-etc, a também percepção de que a entrega havia sido dúplice: dela, pela obra, e dele, pela 'vida social'. Eu esperei muito um levante ainda mais forte do que o aconteceu no quarto de hotel, com os livros sendo jogados no chão. Mas talvez tenha sido levante também a fala dura dentro do avião, voltando para casa, como se compreendesse absolutamente todos os lados de maneira perfeita. Ai, sei lá.
Tully
3.9 562 Assista AgoraRola uma aclimatação muito gay-angle
no relacionamento entre Marlo e Tully, ainda que descubramos depois ser esta uma persona mais nova da personagem principal. Como se tentasse dar evidência ao desejo de como gostaria que fosse sua vida. Ou como se, nessa evidência, houvesse também uma menção àquela mulher por quem ela era apaixonada antes de se casar e ter filhos. É um espectro bonito, como se, mais uma vez, por dentro, ela se desse a oportunidade de sentir afeto tanto pelo marido atual quanto pelo amor antigo e até por ela mesma.
No mais, é uma reprodução muito fiel da maternidade; até crua. E que não tem dificuldade nenhuma para chegar àquele ponto em que as vidas se misturam tanto que a importância e a individualização da própria ficam em extremo segundo-plano. Ah, a trilha sonora é linda.
Meninas Malvadas
3.7 2,1K Assista AgoraWHY ARE YOU SO OBSESSED WITH ME??????
Dúvida
3.9 1,0K Assista AgoraO que há de mais interessante nos comentários é ver como a gente parte sempre de um conceito estereotipado do que é uma relação entre dois homens e do que é uma relação entre um adulto e uma criança. Qualquer tipo de atitude - sem qualquer conexão com os supostos abusos anteriores - poderia ser motivo de incômodo e medo ao padre naquela falsa ligação que a Irmã Aloysius disse ter feito à uma freira da antiga paróquia. Mas, de novo, nada como uma sustentação à ideia criada por nós e que coaduna com o que de mais cruel existe no ser humano: acreditamos também no mais fácil, no mais palpável. Ainda que, sobre isso, continue a existir MUITA dúvida.
Me Chame Pelo Seu Nome
4.1 2,6K Assista Agora"Deve haver alguma espécie de sentido ou o que virá depois?", diz o Caio Fernando Abreu naquele conto Luz e Sombra, de Morangos Mofados. Procurando sim, depois do entrave, qualquer espécie de ponta solta para se segurar ou corpo que seja lúcido o suficiente para servir de cuidado. Ou como se buscasse, também em uma pós vida, uma resolução que seja diferente do que simplesmente o corpo humano silenciado por uma enorme quantidade de terra. Se existe céu, existe corpo. Se existe corpo, existe dúvida. Se existe dúvida: há resposta. E Call Me By Your Name é dar oportunidade para a resposta que fica depois que se faz o questionamento e não há fuga nenhuma possível a não ser esperar o que vem na sequência. Elio e Oliver, para contrariar o que eles próprios acreditavam ou para dar valia à expectativa de quem assiste às suas várias atividades corriqueiras, mas cheias de significado, são a exemplificação de uma descoberta única para a honestidade que na maioria das vezes só escapa. Não deve ser spoiler dizer que entre os dois existiu um amor forte como as composições de Bach. Mas o importante - a história que se tira por trás da história dos dois, que se entrecruzam em idades diferentes e que se aproximam em auras completamente iguais, é que depois da loucura alguma coisa sempre fica. Não dar a mão para o destroço é esquecer o prédio inteiro. É ignorar a construção que se fez e que foi também importante. É relembrá-lo, o prédio inteiro, como se nunca tivesse sido nada além de sangue, suor, lágrima, compreensão e poeira.
A Liberdade é Azul
4.1 649 Assista AgoraJulie é a representação mais clara para mim do mito da caverna conexo a um relacionamento. Porque se sentia mulher feliz, próspera, realizada, completa, amada, inteira e todos os outros possíveis adjetivos que dão substância a uma união entre duas pessoas. Mas depois da morte que acontece — e que é abrupta como um colocar-se para fora do ambiente de sombras — é que tem início a percepção de que nem tudo é como havia se criado em seu imaginário, a respeito do homem com quem vivia. E são dois pontos importantes a se tocar: o descobrir é o ir para fora. É o ato primário de enxergar o sol e amiudar a vista. O segundo é, depois de tudo, ainda que de visão reduzida, se sentir em meio a uma liberdade que é maior que qualquer discurso. A cor azul, então, é a representação da morte do homem que compunha e que era humano — a decoração no quarto, a pintura das paredes, a aura momentânea da lembrança. E foi quando o azul se tornou mais ralo e fraco em meio aos destroços do carro que Julie abriu os braços.
Finalmente.