"A gente não tem como saber se vai dar certo. Talvez, lá adiante, haja uma mesa num restaurante, onde você mexerá o suco com o canudo, enquanto eu quebro uns palitos sobre o prato -- pequenas atividades às quais nos dedicaremos com inútil afinco, adiando o momento de dizer o que deve ser dito. Talvez, lá adiante: mas entre o silêncio que pode estar nos esperando então e o presente -- você acabou de sair da minha casa, seu cheiro ainda surge vez ou outra pelo quarto –, quem sabe não seremos felizes? Entre a concretude do beijo de cinco minutos atrás e a premonição do canudo girando no copo pode caber uma vida inteira. Ou duas. "
"Brotherhood não é uma adaptação, mas é trabalhar com as mesmas matérias-primas de Sófocles e Sêneca - o desafio do pai, questões de honra, a incapacidade de se comunicar com entes queridos através da névoa da raiva e, em última análise, a traição. "
O filho deixou sua casa e aldeia para pegar em armas ao lado do Daesh na Síria (conhecido no Ocidente como ISIS). Como Joobeur observa em comunicações conosco, a Tunísia, após a derrubada do ditador Ben Ali em 2011, experimentou um grande surto de radicalização. Os tunisianos representam a maior proporção dos combatentes estrangeiros do ISIS na Síria. Munido desse contexto, é notável que um filme, de forma matizada, mergulhe nas relações sociais e familiares dos muçulmanos durante esta era de imensa turbulência.
Contar esse tipo de história não é simplesmente repetir o truísmo de que "ei, nem todos os muçulmanos são fundamentalistas religiosos" - aplicar esse nível de especificidade ao micro que está perfeitamente conectado ao macro é notável e, para uma coprodução canadense que sempre foi destinada a atingir um grande público no Ocidente, um serviço bem-vindo ao fornecer cor e contexto no combate à ignorância e ao outro. Entrelaçar temas clássicos no topo apenas promove esse objetivo e fornece um universalismo que é louvável. "
— Jason Sondhi, Ikhwène (Brotherhood) | Short of the Week
Lucas Cassales desenvolve um curta sensorial, repleto de tensão sexual, seja nos olhares, quanto nos gestos. O modelo de família religiosa tradicional do interior é problematizado, revelando a hipocrisia presente no âmago do ser humano.
Nenhum dos personagens tem nome, pois todos representam uma camada da sociedade. O pai é o homem provedor, líder da família, rígido no costumes, mas que na verdade é um egoísta, buscando sua auto-satisfação. A mulher, chamada desta mesma maneira, representa a conivência do marido, reforçando a opressão. O menino é a curiosidade juvenil, mas que está passando pela perda da inocência.
Assim sendo, nos deparamos com a personagem mais intrigante, a "guria". Sempre estática e em silêncio, podemos perceber que a situação de abuso sexual já acontecera antes. Ao vermos inúmeras mulheres indo rumo a estrada na cena final, percebemos que todos não apenas sabiam da situação de exploração sexual, quanto faziam parte dela. O fato da menina ter sido encontrada na estrada, indica o ciclo do abuso, onde se é descartada após a exploração, para que possa se repetir em outra família.
"O Corpo" expõe a violência velada, cometida no escuro, para que ninguém possa ver a real face do que há de pior no ser humano.
A maquiagem pode até esconder as marcas da violência, mas na verdade, apenas revela as marcas interiores, mais profundas e danosas na alma da mulher que é violentada.
"A violência não é força, mas fraqueza, nem nunca poderá ser criadora de coisa alguma, apenas destruidora. "
"Que a Felicidade não dependa do tempo, nem da Paisagem, nem da Sorte, nem do Dinheiro. Que ela possa vir com toda Simplicidade, de dentro para fora, de cada um para Todos! "
(Carlos Drummond de Andrade)
No filme da vida, a cronologia pode não importar. Quando os créditos chegam, o vazio, a fragilidade e a infelicidade continuam lá...
A verdadeira liberdade só é encontrada quando passamos a viver fora da cronologia que o mundo vive.
"O passado não reconhece o seu lugar: está sempre presente... " (Mario Quintana)
Estar longe de casa implica em saudade. Saudade da família, das tradições, da cultura, de comer comida caseira e de se sentir amado. A busca por um novo futuro dá um medo no estômago, mas lembrar de casa, torna perto o que se está longe.
"Ao contrário do que hoje se crê, a humanidade não representa uma evolução para algo melhor, de mais forte ou de mais elevado. O "progresso" é simplesmente uma ideia moderna, ou seja, uma ideia falsa. "
Onde terei jogado fora meu gosto e capacidade de escolher, minhas idiossincrasias tão pessoais, tão minhas que no rosto se espelhavam e cada gesto, cada olhar cada vinco da roupa sou gravado de forma universal, saio da estamparia, não de casa, da vitrine me tiram, recolocam, objeto pulsante mas objeto que se oferece como signo de outros objetos estáticos, tarifados. Por me ostentar assim, tão orgulhoso de ser não eu, mas artigo industrial, peço que meu nome retifiquem. Já não me convém o título de homem. Meu nome novo é coisa. Eu sou a coisa, coisamente.
(Carlos Drummond de Andrade)
ANDRADE, C. D. Obra poética, Volumes 4-6. Lisboa: Publicações Europa-América, 1989.
"Quem idolatra a beleza, julga pela estética, cujo tem um poder de ilusão tão grande quanto um belo sorriso ou o preconceito, assim como a primeira impressão, que não é a que fica, mas a que erra. "
Foxes cria uma ambientação misteriosa e desconfortável no espectador. Os planos da vizinhança nos remetem ao posterior Vivarium, do mesmo diretor, Lorcan Finnegan, onde as casas da vizinhança são idênticas, além de não se ver pessoas ao redor do casal, nos fazendo desconfiar que algo não está certo naquele lugar.
As raposas levantam uma série de interpretações, na China e no Japão, a raposa é tida como um animal feiticeiro e feminino. Em decorrência disso, costuma-se associá-la à natureza feminina instintiva e primitiva da mulher.
Uma Vida Inteira
4.2 180"A gente não tem como saber se vai dar certo. Talvez, lá adiante, haja uma mesa num restaurante, onde você mexerá o suco com o canudo, enquanto eu quebro uns palitos sobre o prato -- pequenas atividades às quais nos dedicaremos com inútil afinco, adiando o momento de dizer o que deve ser dito. Talvez, lá adiante: mas entre o silêncio que pode estar nos esperando então e o presente -- você acabou de sair da minha casa, seu cheiro ainda surge vez ou outra pelo quarto –, quem sabe não seremos felizes? Entre a concretude do beijo de cinco minutos atrás e a premonição do canudo girando no copo pode caber uma vida inteira. Ou duas. "
- Antonio Prata
Scenes from the Suburbs
4.3 245Agora estou ouvindo The Suburbs do Arcade Fire em looping. O curta me deixou pensativo...
Saria
4.3 47O sentimento de revolta que Saria nos gera é impressionante! Onde está a humanidade? Onde está a liberdade? Onde está o amor?
Brotherhood
3.5 28"Brotherhood não é uma adaptação, mas é trabalhar com as mesmas matérias-primas de Sófocles e Sêneca - o desafio do pai, questões de honra, a incapacidade de se comunicar com entes queridos através da névoa da raiva e, em última análise, a traição. "
O filho deixou sua casa e aldeia para pegar em armas ao lado do Daesh na Síria (conhecido no Ocidente como ISIS). Como Joobeur observa em comunicações conosco, a Tunísia, após a derrubada do ditador Ben Ali em 2011, experimentou um grande surto de radicalização. Os tunisianos representam a maior proporção dos combatentes estrangeiros do ISIS na Síria. Munido desse contexto, é notável que um filme, de forma matizada, mergulhe nas relações sociais e familiares dos muçulmanos durante esta era de imensa turbulência.
Contar esse tipo de história não é simplesmente repetir o truísmo de que "ei, nem todos os muçulmanos são fundamentalistas religiosos" - aplicar esse nível de especificidade ao micro que está perfeitamente conectado ao macro é notável e, para uma coprodução canadense que sempre foi destinada a atingir um grande público no Ocidente, um serviço bem-vindo ao fornecer cor e contexto no combate à ignorância e ao outro. Entrelaçar temas clássicos no topo apenas promove esse objetivo e fornece um universalismo que é louvável. "
— Jason Sondhi, Ikhwène (Brotherhood) | Short of the Week
Esclava
3.9 5Toda forma de prostituição infantil é um estupro, onde são perdidos os sonhos, a esperança, o amor e a dignidade.
Como encontrar uma saída? Fugir ou morrer, pouco importa, ambos são liberdade para uma vida oprimida.
No final, a vítima é tida como como culpada...
Uma dura realidade, que vai muito além do México.
A Ilha
4.0 3"Nenhum homem é uma ilha, completo em si próprio; cada ser humano é uma parte do continente, uma parte de um todo. "
(John Donne)
O Corpo
3.7 2Lucas Cassales desenvolve um curta sensorial, repleto de tensão sexual, seja nos olhares, quanto nos gestos. O modelo de família religiosa tradicional do interior é problematizado, revelando a hipocrisia presente no âmago do ser humano.
Nenhum dos personagens tem nome, pois todos representam uma camada da sociedade. O pai é o homem provedor, líder da família, rígido no costumes, mas que na verdade é um egoísta, buscando sua auto-satisfação. A mulher, chamada desta mesma maneira, representa a conivência do marido, reforçando a opressão. O menino é a curiosidade juvenil, mas que está passando pela perda da inocência.
Assim sendo, nos deparamos com a personagem mais intrigante, a "guria". Sempre estática e em silêncio, podemos perceber que a situação de abuso sexual já acontecera antes. Ao vermos inúmeras mulheres indo rumo a estrada na cena final, percebemos que todos não apenas sabiam da situação de exploração sexual, quanto faziam parte dela. O fato da menina ter sido encontrada na estrada, indica o ciclo do abuso, onde se é descartada após a exploração, para que possa se repetir em outra família.
"O Corpo" expõe a violência velada, cometida no escuro, para que ninguém possa ver a real face do que há de pior no ser humano.
Penny Dreadful
3.3 3Um Fargo às avessas, simplesmente maravilhoso. Renderia um longa, fácil.
Maquiagem
4.3 1A maquiagem pode até esconder as marcas da violência, mas na verdade, apenas revela as marcas interiores, mais profundas e danosas na alma da mulher que é violentada.
"A violência não é força, mas fraqueza, nem nunca poderá ser criadora de coisa alguma, apenas destruidora. "
(Benedetto Croce)
Palíndromo
3.8 32"Que a Felicidade não dependa do tempo, nem da Paisagem, nem da Sorte, nem do Dinheiro. Que ela possa vir com toda Simplicidade, de dentro para fora, de cada um para Todos! "
(Carlos Drummond de Andrade)
No filme da vida, a cronologia pode não importar. Quando os créditos chegam, o vazio, a fragilidade e a infelicidade continuam lá...
A verdadeira liberdade só é encontrada quando passamos a viver fora da cronologia que o mundo vive.
The Coin
3.4 3"O passado não reconhece o seu lugar: está sempre presente... "
(Mario Quintana)
Estar longe de casa implica em saudade. Saudade da família, das tradições, da cultura, de comer comida caseira e de se sentir amado. A busca por um novo futuro dá um medo no estômago, mas lembrar de casa, torna perto o que se está longe.
Homem
4.5 123"Ao contrário do que hoje se crê, a humanidade não representa uma evolução para algo melhor, de mais forte ou de mais elevado. O "progresso" é simplesmente uma ideia moderna, ou seja, uma ideia falsa. "
(Friedrich Nietzsche)
O Emprego
4.5 355Eu, Etiqueta
Onde terei jogado fora
meu gosto e capacidade de escolher,
minhas idiossincrasias tão pessoais,
tão minhas que no rosto se espelhavam
e cada gesto, cada olhar
cada vinco da roupa
sou gravado de forma universal,
saio da estamparia, não de casa,
da vitrine me tiram, recolocam,
objeto pulsante mas objeto
que se oferece como signo de outros
objetos estáticos, tarifados.
Por me ostentar assim, tão orgulhoso
de ser não eu, mas artigo industrial,
peço que meu nome retifiquem.
Já não me convém o título de homem.
Meu nome novo é coisa.
Eu sou a coisa,
coisamente.
(Carlos Drummond de Andrade)
ANDRADE, C. D. Obra poética, Volumes 4-6. Lisboa: Publicações Europa-América, 1989.
Psicopata Australiana
3.0 3"Quem idolatra a beleza, julga pela estética, cujo tem um poder de ilusão tão grande quanto um belo sorriso ou o preconceito, assim como a primeira impressão, que não é a que fica, mas a que erra. "
(Lucas Garcia)
Foxes
3.4 3Foxes cria uma ambientação misteriosa e desconfortável no espectador. Os planos da vizinhança nos remetem ao posterior Vivarium, do mesmo diretor, Lorcan Finnegan, onde as casas da vizinhança são idênticas, além de não se ver pessoas ao redor do casal, nos fazendo desconfiar que algo não está certo naquele lugar.
As raposas levantam uma série de interpretações, na China e no Japão, a raposa é tida como um animal feiticeiro e feminino. Em decorrência disso, costuma-se associá-la à natureza feminina instintiva e primitiva da mulher.
Nestes países acredita-se que as bruxas, assim como as mulheres histéricas, costumam tomar a forma da raposa. Seria Ellen uma bruxa?
Ou a transformação de Ellen seria uma metáfora para a demência? Visto que a raposa também está associada a dualidade da consciência humana
Changes
3.0 1Lorcan Finnegan discutindo amor líquido através de uma animação engraçada e até mesmo, um tanto estranha.
Defaced
3.2 1Aqui vemos um Lorcan Finnegan bem diferente dos trabalhos posteriores, com um curta leve e divertido.
Vader: Episódio I - Fragmentos do Passado
3.4 3Incrível, tudo que esperamos ver no cinema!
Quay
3.2 6Impressionante!
https://www.youtube.com/watch?v=z-xoS73f53A
Doodlebug
3.8 138:O Uol!
Tarantella
2.9 8Interessante como Tarantino é uma referência para tantos cineastras.
Berik
3.0 1Melancólico e sensível.
Medo & Vergonha
3.9 4O stress da cidade e o peso da fama sob uma perspectiva cômica. Todos queremos uma simples normalidade na vida.
The Spa
4.0 1Um belíssimo curta, tratando sobre o peso do passado, empatia e compaixão.