Bruno Farinazzo

Excelente filme!

Sugere a inteligencia artificial como algo inevitável, como se a própria inteligencia fosse algo que transcende o homo sapiens e que deve perdurar mesmo com a extinção da espécie.

Interessante como o filme retrata o ser humano como seres perigosamente frágeis diante da própria criação. Como podemos ser auto destrutivos (o simples abuso do álcool nos deixa nocauteados facilmente), como nossas emoções nos enganam, muitas vezes nos aprisionando, nos deixando confusos, manipuláveis e fracos.
O filme quase zomba da ideia de que estamos no controle deste tipo coisa. Como nossa capacidade de sentir nos torna algo único na natureza mas também nos enfraquece diante da pura lógica.

Os personagens humanos parecem pouco interessantes no filme,o que dá pouco espaço para os atores trabalharem suas complexidades. Os protagonistas acabam parecendo unidimensionais e frios, mas pelo menos isso tem uma função narrativa pois transfere essa complexidade para os seres engenhados.
Isso proporciona a atriz Alicia Vikander muitas possibilidades dramáticas, que ela aproveita e realiza com maestria, fazendo com que a Ava se apresente como uma personagem complexa, com certa doçura mas ao mesmo tempo de difícil leitura, o que a torna cativante até o fim

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O cenário é frio e claustrofóbico, traz a sensação constante de querer sair dali, as vezes fazendo o espectador sentir como se estivesse sendo monitorado e avaliado como uma cobaia.

A trama é bem sucedida em se concentrar na Inteligencia Artificial e se é possível replicar características humanas para agregar ao sistema. O problema é que sentimentos não são mensuráveis, vão além dos cálculos. Qualquer tentativa nesse sentido levaria apenas a uma versão simulada destes sentimentos.
Mas que utilidade teria isso para uma máquina? Talvez apenas tivesse utilidade para nós (humanos), para questões de convívio, para coexistir. Mas por quanto tempo?
Faz o ser humano parecer algo sem um propósito maior, quase como uma espécie de transição.
Qual o próximo passo evolutivo? O ser humanos fará parte disso? Será que nossa função seria apenas proporcionar a existência da consciência e da cognição? Seria possível coexistir com um ser superior? O que sobraria do ser humano depois da extinção da espécie? O que faz a inteligencia artificial parecer algo menos natural que a nossa?

A cabeça dói um pouco com essas perguntas ao terminar o filme, o que é uma coisa muito bem vinda em uma ficção científica!

“Nós sempre nos definimos por nossa habilidade de superar o impossível. Nós contamos estes momentos. Esses momentos em que ousamos almejar, quebrar barreiras, alcançar as estrelas, tornar conhecido o desconhecido. Mas perdemos isso. Ou talvez tenhamos nos esquecido de que ainda somos pioneiros. E mal começamos. E que nossas maiores realizações não podem ficar para trás, porque nosso destino está acima de nós."

Diz a voz de Matthew McConaughey no primeiro teaser do filme, e um dos trabalhos mais lindos que já vi para divulgação de um filme.

Este texto condensa toda a ideia do filme sem expor de verdade a trama!
O papel da consciência, da cognição, da inteligência que até onde se sabe só um exemplar vivo possui (ser humano) e como coisas que precisam ser preservadas num universo vasto e hostil é o questionamento mais bonito que o filme apresenta.
A nossa habilidade cognitiva pode ser o presente da humanidade para o universo, e não pode simplesmente sumir, mas será que nossa espécie está destinada a ser eterna?
No meio disso tudo é mencionado o amor, que pode ser entendido como um sentimento ou como algo que representa os sentimentos humanos como algo muito complexo e que vai além da pura lógica e nos permite aproximarmos uns aos outros e chegarmos além em nossas relações, o que é também algo único.

Apesar do fundo filosófico forte e bonito o filme consegue não soar pretensioso, apresentando tudo de forma bem didática e clara (o que pode incomodar alguns).

A Decisão de Christopher Nolan de trazer a ciência de forma mais “pé no chão” é acertada e serve ao filme para ilustrar a real dificuldade do ser humano tentar sobreviver ao fim iminente do planeta natal.
Dessa forma ele consegue usar conceitos avançados de física relativística para trabalhar o tempo de forma não linear (algo recorrente e característico no trabalho dele) e usar isso para causar urgência, tensão, sensação de falta de controle, e reforçar o peso para cada decisão errada tomada pelos personagens.

Os efeitos digitais servem ao filme para suportá-lo e não apenas para impressionar o expectador

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A trilha de Hans Zimmer é uma das coisas mais lindas do filme, capaz de trazer em cada nota sensações de fascínio, drama, beleza, imensidão. Vou levar esses temas para a vida!

O filme tem alguns problemas como excessos de exposição no texto, algumas “reviravoltas” que podem ser questionáveis para alguns, um terceiro ato de difícil compreensão para quem não está familiarizado com alguns conceitos de ciência real e a forma aparentemente dura de falar sobre o amor (ainda que eu veja isso como algo que serve bem ao filme e que ajudou a ter a ideia que tenho hoje sobre ele), porém ele contempla muito bem o impacto e importância da inteligência humana para o universo.

O filme me fez pensar, ter ideias, reforçou mais o interesse que já tinha em ciência e saí muito satisfeito.
Vale a leitura do livro “The Science of Interstellar” do Kip Thorne, que produziu e deu consultoria para a ciência retratada no filme.

Não é uma obra-prima ou a coisa mais incrível que fizeram na ficção científica e nem é o que o filme tenta fazer (alguém disse por aqui “nenhum filme precisa ser uma obra-prima”).
É um filme que dificilmente vai ser esquecido e é interessante ver um estúdio grande investindo grana alta em um projeto do tipo, com ciência real e sem exageros.

O filme é longo de uma forma que não se justifica nem na construção dos personagens e nas suas relações e nem no desenvolvimento da trama.
Me pareceu claro que aconteceu algum tipo de conflito de idéias pra resolver o roteiro do filme pois muitas tramas são apresentadas, mas na grande maioria são resolvidas de forma tosca e corrida ( o que parece estranho para um filme tão longo).

O impacto político e real do risco que a existência de um ser como o Superman no mundo real causaria é extremamente interessante mas o filme não conclui de forma satisfatória.

O filme se torna cansativo por deixar a sensação de vazio ao tentar compreender as motivações de alguns personagens:

Lex Luthor é apresentado aqui de uma forma um tanto infantil, o que não cai bem no personagem pois sua megalomania o transforma num vilão genérico típico de algum filme do James Bond.

Henry Cavill parece bem confortável no personagem, porém ainda faz faltou um pouco de amadurecimento do Super, ele parece tão desconectado e perdido quanto no (excelente) primeiro filme. Esperava mais depois do que o personagem passou.

Ben Affleck me surpreendeu com um Batman cínico, brutal, inconsequente e totalmente sem fé! O senso de justiça do personagem é questionável durante todo o filme, me lembrando um tipo de Capitão Nascimento e ele está gigantesco, porém faltou uma resolução compatível com a complexidade apresentada.
A cena do galpão é violentíssima e mostra fisicamente o que o personagem representava ideologicamente durante todo o filme. Pontos para o ator, para o diretor, o coreógrafo e edição! Está entre as minhas coisas favoritas do filme.

Pouco dá pra falar da Mulher Maravilha, pois ela tem pouca participação na trama, porém depois que ela aprece rouba cada cena. A fisicalidade da Gal Gadot traz uma credibilidade e uma força imensa para a personagem sem masculinizá-la, excelente!

Pouco também se pode dizer do vilão do filme. Genérico até o fim, me lembra um "monstro da semana" dos Power Rangers.

Mesmo com seus problemas o filme me agrada por ser autentico, graças a direção do Zack Snyder, que consegue extrair poesia até nos momentos mais "manjados" do que conhecemos sobre os personagens.
Ele parece saber bem o que quer e o que tem a marca dele é bem interessante!
O diretor parece muitas vezes filmar os sentimentos dos personagens ao invés de retratar a realidade do que está acontecendo, seja com mudanças drásticas na paleta de cores ou com mudanças na trilha.

Ele realmente parece gostar dos personagens, porém dava pra fazer melhor!