[Com spoilers!!]: Tive o prazer de assistir no cinema do SESC em Juazeiro do Norte este terceiro longa-metragem do diretor Jim Jarmusch (1953) realizado em 1986, filme que teve boa recepção da crítica norte-americana e que levou a Palma de Ouro em Cannes revelando o astro italiano Roberto Benigni (1952) e catapultando a carreira de Jarmusch como diretor independente de estilo minimalista.
No elenco além do talentoso comediante Roberto Benigni temos o instrumentista e compositor musical Tom Waits, interpretando o personagem Zack, e o também compositor e ator John Lurie no papel de Jack, e finalizando o elenco principal temos a atriz italiana Nicoletta Braschi (1960), que se casou com Roberto Benigni em 1991 e está com ele até os dias atuais.
O filme reúne a elegância dos planos belíssimos de Jarmusch com a fotografia deslumbrante em preto e branco de Robby Muller (1940), que trabalhou com Jarmusch também em Dead Man (1995) e Ghost Dog (1999). A trilha sonora foi assinada pela instrumentista e cantora islandesa Bjork (1965) e com tantos talentos envolvidos na produção já tinha-se então um espaço amplo para que o filme se tornasse a obra de arte que é.
A trama narra a construção da amizade entre três personagens à margem da sociedade e que na cadeia após serem presos na mesma cela começam a se influenciar culturalmente e psicologicamente até o momento da fuga da prisão, ato este que simboliza a ruptura das personages com seu passado deliquente.[spoiler]
Um filme sobre a nossa incapacidade de comunicação, nossa solidão, as rebeldias juvenis e a alienação urbana. Poderíamos também pensar sobre o desconforto, a não adaptação e até mesmo o amor. Esta foi a primeira incursão em longas-metragens do diretor Malaio Tsai Ming Liang (1957). Como esta é minha primeira experiência com sua cinematografia, não quero fazer nenhuma leitura baseada em textos que já li sobre o diretor, quero apenas relatar intuitivamente as sensações que o filme transmitiu. Em primeiro lugar, destaco a fotografia de Pen-Jung Liao, os tais neóns do título, captados de uma maneira a extrair poesia das imagens, imbricá-las na angústia das personagens e expor a solidão urbana e a desolação das personagens.
A trama narra o dia-a-dia de dois jovens ladrões, Ah Tze, interpretado por Chao-jung Chen e Ah Bing, interpretado por Chang-bin Jen, e um jovem rebelde em conflito com os pais, Hsiao-Kang, interpretado por Lee Kang-Sheng. A mãe de Kang, acredita que ele é uma reencarnação do Deus Nezha e o pai de Kang é um taxista que não dá importância à religião. Kang por sua vez mata baratas em seu quarto, em certo momento chega a cortar a mão ao quebrar o vidro da janela de seu quarto tentando afugentar uma barata que estava do outro lado do vidro, demonstrando sua impulsividade e em certos momentos fazendo chacota dos pais. Ele acaba se apaixonando pela garota que está saindo com os dois ladrões, Ah Kuei, interpretada por Yu-Wen Wang, uma jovem que trabalha em uma loja de patinação.
Rebeldes do Deus Neon é um belo e intenso drama sobre a angústia urbana dos jovens, a direção de Liang é de uma elegância envolvente, trabalhando de forma a extrair o máximo de seu elenco, usando atores amadores, que é o caso de Lee Kang-Sheng; Liang não é à toa considerado um dos melhores diretores do cinema contemporâneo. Espero poder conferir seus outros longas em breve.
Anotações para quem já viu o filme (Wendell)
1 - Estive no templo fênix esta tarde. Sabe o que a sacerdotisa disse sobre Hsiao-Kang? Disse que ele é a reencarnação do lendário Deus Norcha/Nezha [The Taiwanese title refers to Nezha, a powerful child god in Chinese classical mythology who was born into a human family. Nezha is impulsive and disobedient - O título Taiwanês refere-se a Nezha, um poderoso Deus da Mitologia clássica chinesa que nasceu em meio à uma família humana. Nezha é impulsivo e desobediente]. 2 - Hsiao olha para um poster de James Dean no fliperama. 3 - Ah-Kuei trabalha em uma loja de patinação. Hsiao apaixona-se por ela. 4 - Ah-tse e Ah Bing, são os irmãos ladrões. An Bing é espancado em certo momento do filme quando tentava vender placas de fliperama roubadas.
Tsai Ming-Liang é um daqueles diretores que filmam como se estivessem compondo painéis e quadros estáticos vivos. Os sons captados da água que cai, barulho de chuva, goteiras, urina caindo no vaso, narrativa lenta, o diretor usa diversos elementos para fazer o espectador refletir sobre o tempo, a incomunicabilidade dos tempos atuais e o ritmo da vida moderna.
O filme narra as angústias de dois moradores de um prédio com problemas de instalação nos encanamentos. Um buraco é aberto no prédio do personagem de Lee Kang-Sheng e ele então passa a se comunicar com a vizinha do andar de baixo, papel da atriz Yang Kuei-Mei. Em meio à trama o diretor pontua números musicais interpretados por Yang e Lee que é uma homenagem à cantora Eileen Chang. O filme também aborda a questão das crises de epidemia por meio de um vírus que faz as pessoas se arrastarem como baratas. Onírico, belo e fantasioso esta é mais uma obra imperdível deste talentoso mestre do cinema contemporâneo chamado Tsai Ming-Liang.
O filme mais difícil de Tsai Ming-Liang. Difícil de acompanhar a narrativa, difícil de entender seus simbolismos. Com atuações de Fanny Ardant (1949) e Jean-Pierre Léaud (1944) e uma ponta de Jeanne Moreau (1928). No elenco também não poderia faltar o Kang-sheng Lee, ator fetiche do diretor. Uma espécie de homenagem a François Truffaut unido ao estilo Tsai Ming-Liang de filmar. A possível sinopse do filme é a seguinte: Logo após a morte de sua mãe, um Cineasta asiático vai a Paris para rodar no Museu do Louvre um musical sobre o mito de Salomé, neta de Herodes e tida no Novo Testamento como sendo a responsável pela execução de São João Batista.
O diretor Rosemberg Cariry nasceu em Farias Brito no ano de 1956 e é considerado hoje em dia um dos maiores cineastas Cearenses tendo realizado várias obras que buscam resgatar a história dos personagens e movimentos sociais que marcaram nossa região. Este documentário lançado em 1986 é um resgate da memória e da história da comunidade religiosa que ficou historicamente conhecida como Caldeirão da Santa Cruz do Deserto, um movimento messiâncio liderado pelo beato José Lourenço nascido em Pilões de Dentro no ano de 1872, tendo falecido em Exu aos 12 de fevereiro de 1946. Este movimento foi organizado em moldes socialistas primitivos no qual tudo o que era produzido pelos trabalhadores era repartido de forma igualitária entre todos que chegavam na comunidade. O grande progresso do Caldeirão provocou pavor entre os políticos que temiam um novo levante como ocorrera em Canudos, no interior da Bahia, liderado por Antônio Conselheiro. O diretor Rosemberg Cariry assina o roteiro juntamente com Firmino Holanda. O documentário é realizado com diversas entrevistas e fotografias de moradores do caldeirão, além de representaçoes poéticas e líricas que representam o que foi o movimento, um dos mais significativos da história do Cariri.
Cego Aderaldo, Valdemar dos Passarinhos e Jovita Feitosa recebem homenagem de Rosemberg Cariry neste belo filme sobre o amor ao cinema e aos aspectos culturais de um povo.
Daunbailó
4.1 133 Assista Agora[Com spoilers!!]: Tive o prazer de assistir no cinema do SESC em Juazeiro do Norte este terceiro longa-metragem do diretor Jim Jarmusch (1953) realizado em 1986, filme que teve boa recepção da crítica norte-americana e que levou a Palma de Ouro em Cannes revelando o astro italiano Roberto Benigni (1952) e catapultando a carreira de Jarmusch como diretor independente de estilo minimalista.
No elenco além do talentoso comediante Roberto Benigni temos o instrumentista e compositor musical Tom Waits, interpretando o personagem Zack, e o também compositor e ator John Lurie no papel de Jack, e finalizando o elenco principal temos a atriz italiana Nicoletta Braschi (1960), que se casou com Roberto Benigni em 1991 e está com ele até os dias atuais.
O filme reúne a elegância dos planos belíssimos de Jarmusch com a fotografia deslumbrante em preto e branco de Robby Muller (1940), que trabalhou com Jarmusch também em Dead Man (1995) e Ghost Dog (1999). A trilha sonora foi assinada pela instrumentista e cantora islandesa Bjork (1965) e com tantos talentos envolvidos na produção já tinha-se então um espaço amplo para que o filme se tornasse a obra de arte que é.
A trama narra a construção da amizade entre três personagens à margem da sociedade e que na cadeia após serem presos na mesma cela começam a se influenciar culturalmente e psicologicamente até o momento da fuga da prisão, ato este que simboliza a ruptura das personages com seu passado deliquente.[spoiler]
Rebeldes do Deus Neón
4.0 43Um filme sobre a nossa incapacidade de comunicação, nossa solidão, as rebeldias juvenis e a alienação urbana. Poderíamos também pensar sobre o desconforto, a não adaptação e até mesmo o amor. Esta foi a primeira incursão em longas-metragens do diretor Malaio Tsai Ming Liang (1957). Como esta é minha primeira experiência com sua cinematografia, não quero fazer nenhuma leitura baseada em textos que já li sobre o diretor, quero apenas relatar intuitivamente as sensações que o filme transmitiu. Em primeiro lugar, destaco a fotografia de Pen-Jung Liao, os tais neóns do título, captados de uma maneira a extrair poesia das imagens, imbricá-las na angústia das personagens e expor a solidão urbana e a desolação das personagens.
A trama narra o dia-a-dia de dois jovens ladrões, Ah Tze, interpretado por Chao-jung Chen e Ah Bing, interpretado por Chang-bin Jen, e um jovem rebelde em conflito com os pais, Hsiao-Kang, interpretado por Lee Kang-Sheng. A mãe de Kang, acredita que ele é uma reencarnação do Deus Nezha e o pai de Kang é um taxista que não dá importância à religião. Kang por sua vez mata baratas em seu quarto, em certo momento chega a cortar a mão ao quebrar o vidro da janela de seu quarto tentando afugentar uma barata que estava do outro lado do vidro, demonstrando sua impulsividade e em certos momentos fazendo chacota dos pais. Ele acaba se apaixonando pela garota que está saindo com os dois ladrões, Ah Kuei, interpretada por Yu-Wen Wang, uma jovem que trabalha em uma loja de patinação.
Rebeldes do Deus Neon é um belo e intenso drama sobre a angústia urbana dos jovens, a direção de Liang é de uma elegância envolvente, trabalhando de forma a extrair o máximo de seu elenco, usando atores amadores, que é o caso de Lee Kang-Sheng; Liang não é à toa considerado um dos melhores diretores do cinema contemporâneo. Espero poder conferir seus outros longas em breve.
Anotações para quem já viu o filme (Wendell)
1 - Estive no templo fênix esta tarde. Sabe o que a sacerdotisa disse sobre Hsiao-Kang? Disse que ele é a reencarnação do lendário Deus Norcha/Nezha [The Taiwanese title refers to Nezha, a powerful child god in Chinese classical mythology who was born into a human family. Nezha is impulsive and disobedient - O título Taiwanês refere-se a Nezha, um poderoso Deus da Mitologia clássica chinesa que nasceu em meio à uma família humana. Nezha é impulsivo e desobediente].
2 - Hsiao olha para um poster de James Dean no fliperama.
3 - Ah-Kuei trabalha em uma loja de patinação. Hsiao apaixona-se por ela.
4 - Ah-tse e Ah Bing, são os irmãos ladrões. An Bing é espancado em certo momento do filme quando tentava vender placas de fliperama roubadas.
O Buraco
4.0 53Tsai Ming-Liang é um daqueles diretores que filmam como se estivessem compondo painéis e quadros estáticos vivos. Os sons captados da água que cai, barulho de chuva, goteiras, urina caindo no vaso, narrativa lenta, o diretor usa diversos elementos para fazer o espectador refletir sobre o tempo, a incomunicabilidade dos tempos atuais e o ritmo da vida moderna.
O filme narra as angústias de dois moradores de um prédio com problemas de instalação nos encanamentos. Um buraco é aberto no prédio do personagem de Lee Kang-Sheng e ele então passa a se comunicar com a vizinha do andar de baixo, papel da atriz Yang Kuei-Mei. Em meio à trama o diretor pontua números musicais interpretados por Yang e Lee que é uma homenagem à cantora Eileen Chang. O filme também aborda a questão das crises de epidemia por meio de um vírus que faz as pessoas se arrastarem como baratas. Onírico, belo e fantasioso esta é mais uma obra imperdível deste talentoso mestre do cinema contemporâneo chamado Tsai Ming-Liang.
Face
3.5 11O filme mais difícil de Tsai Ming-Liang. Difícil de acompanhar a narrativa, difícil de entender seus simbolismos. Com atuações de Fanny Ardant (1949) e Jean-Pierre Léaud (1944) e uma ponta de Jeanne Moreau (1928). No elenco também não poderia faltar o Kang-sheng Lee, ator fetiche do diretor. Uma espécie de homenagem a François Truffaut unido ao estilo Tsai Ming-Liang de filmar. A possível sinopse do filme é a seguinte: Logo após a morte de sua mãe, um Cineasta asiático vai a Paris para rodar no Museu do Louvre um musical sobre o mito de Salomé, neta de Herodes e tida no Novo Testamento como sendo a responsável pela execução de São João Batista.
O Caldeirão de Santa Cruz do Deserto
4.3 7O diretor Rosemberg Cariry nasceu em Farias Brito no ano de 1956 e é considerado hoje em dia um dos maiores cineastas Cearenses tendo realizado várias obras que buscam resgatar a história dos personagens e movimentos sociais que marcaram nossa região. Este documentário lançado em 1986 é um resgate da memória e da história da comunidade religiosa que ficou historicamente conhecida como Caldeirão da Santa Cruz do Deserto, um movimento messiâncio liderado pelo beato José Lourenço nascido em Pilões de Dentro no ano de 1872, tendo falecido em Exu aos 12 de fevereiro de 1946. Este movimento foi organizado em moldes socialistas primitivos no qual tudo o que era produzido pelos trabalhadores era repartido de forma igualitária entre todos que chegavam na comunidade. O grande progresso do Caldeirão provocou pavor entre os políticos que temiam um novo levante como ocorrera em Canudos, no interior da Bahia, liderado por Antônio Conselheiro. O diretor Rosemberg Cariry assina o roteiro juntamente com Firmino Holanda. O documentário é realizado com diversas entrevistas e fotografias de moradores do caldeirão, além de representaçoes poéticas e líricas que representam o que foi o movimento, um dos mais significativos da história do Cariri.
Cine Tapuia
3.4 6Cego Aderaldo, Valdemar dos Passarinhos e Jovita Feitosa recebem homenagem de Rosemberg Cariry neste belo filme sobre o amor ao cinema e aos aspectos culturais de um povo.