Há muito, muito tempo, quando eu era um garoto, jurava que tinha visto de madrugada, na TV, um filme sobre um casal que se separava quando crianças, e se reencontram após adultos, no triângulo das Bermudas. A mulher usava o tempo todo um maiô preto, e há uma tartaruga marinha gigante que afunda um barco. Não vou contar tudo senão estraga, mas o roteiro de suspense (do tipo antigo, que deixa você ressabiado por um bom tempo depois de terminado o filme) e suas aterradoras revelações finais causaram uma grande impressão em minha mente, assim como alguns filmes clássicos daquela época (Caça Fantasmas, Krull, Goonies, Exorcista) só que, diferentemente dos filmes citados, o da tartaruga, pra todos os efeitos, simplesmente não existia. Vários anos após eu perguntava às pessoas: "vocês viram aquele filme da tartaruga gigante e da mulher de maiô?" e ninguém, por mais que gostasse de cinema, tinha ouvido falar dele.
Forçando minha memória pra tentar lembrar mais coisas do filme, fiquei noiado com o fato de que, muito provavelmente, os adultos (na casa onde eu estava) estivessem fumando maconha, o que me levou a tecer a hipótese de que eu devia ter estado sob efeito da fumaça alucinógena e imaginado tudo aquilo. Mas era um pensamento muito perturbador pra mim que eu, em tenra idade, tivesse imaginado um roteiro de filme assim, então continuei procurando. Vários anos se passaram, enquanto à noite, ocasionalmente fragmentos do filme assolavam minha mente, como se ele fosse um fantasma pedindo pra ser resgatado do limbo. Em uma dessas ocasiões, com o advento do Google, passei o dia pesquisando na internet palavras-chave que pudessem remeter ao (possível) filme. Foi difícil, mas descobri!!
E fiquei em choque. Ao ler a página, vi que era um relato de um cara também obcecado em descobrir que filme que ele viu quando garoto - e que ninguém mais tinha visto! E era o mesmo filme da tartaruga! Coincidência demais? Sim, mas não é só! Ele conta que OUTRAS pessoas também procuram esse mesmo Graal, e descreve o momento em que ele achou uma dessas pessoas como se fosse a cena "Contatos Imediatos do 3º grau", onde completos estranhos compartilham a mesma obsessão por uma montanha em especial. E era exatamente assim que eu me sentia naquele momento! Estava conectado a algo maior, que escapava do racional, independente da nacionalidade. As palavras que ele usou pra descrever essas pessoas - "haunted by this flick" - definiam com absoluta clareza meu estado de espírito até então. E, graças ao artigo que ele escreveu, o mesmo descobriu mais e mais pessoas que se perguntavam se seriam as únicas a terem visto esse filme.
Graças a ele, descobri que o nome do filme é "The Bermuda depths", feito em 1978 especialmente pra TV por um cineasta japonês, estrelando Burl Ives, Carl Weathers (mais conhecido como Apollo - O doutrinador), e Connie Selleca como a "mulher do maiô".
Oh, Deus. Dá pra ver o dedo de George Lucas em todo lugar. No uso intenso e irritante da trilha sonora (horrível) de Terence Blanchard (e ainda termine com "Deus salve a América") à completa falta de sutileza, diálogos infantis e péssimas atuações dos atores de apoio (geralmente os "brancos"). Mas nem tudo está perdido porque as cenas de ação são muito bem feitas (embora não empolguem) e a recriação da época também. Nas mãos de um bom diretor e produtor esse filme seria realmente comovente e bom. Seria...
Esse documentário mata saudades tanto do Chacrinha, quanto das Chacretes e do Documento Especial (da finada Manchete). Reside neste último aspecto o "charme" (que muitos verão como defeito) do documentário. Ora, quem conhece o programa do Chacrinha sabe que aquilo lá era uma zorra, uma experiência imprevisível, trash, anárquica e humilhante. Assim é o documentário, como se tivesse sido produzido e dirigido pelo Velho Guerreiro. Vemos à fundo a decadência das chacretes, o trauma dos calouros, os artistas saudosos de um jeito que não vemos, por exemplo, se estivessem falando pro videoshow. Um belo registro de uma época que se foi e não existiria no mundo politicamente correto de hoje.
Quem gostou de Goonies vai curtir esse filme, pois tem toda a aventura, a ingenuidade, o companheirismo na adversidade que Goonies tem, sem apelações, sem concessões ao humor barato de hoje.
14 de dezembro de 2012: O dia em que testemunhamos Peter Jackson perder a mão (e um braço) na direção de um filme de Tolkien. O Hobbit é longo, enfadonho, não empolga e só traz de volta a magia dos filmes anteriores quando aparece o Gollum e as belas tomadas aéreas da Terra Média.
Os 48fps não ajudam muito no campo de disfarçar as imperfeições da computação gráfica nas cenas de batalha (dá pra notar claramente que são bonequinhos em CG). Tudo parece um tanto acelerado demais, e deixaram as belas cidades da Terra Média com cara de maquete. Onde os 48fps se destacam são justamente nas panorâmicas belíssimas da Nova Zelândia e em Rivendel, e também nas cenas de chuva. O nível de nitidez da imagem é surpreendente, e você sente como nunca a textura das pedras, roupas e quase dá pra sentir o peso da espada. Mas a movimentação das cenas de ação ficou esquisita. A fotografia do filme, talvez por conta da técnica dos 48fps, ficou muito clara, muito chapada, com tudo em foco e com uma COMPLETA absência de atmosfera. Parece que tudo foi filmado em estúdio (e na maioria das cenas foi mesmo) sem nenhuma poeirinha e com uma luz bem forte em cima. Como um amigo falou, ficou com cara de Trapalhões misturado com Emmanuele. A imensa maioria das cenas "externas" foi gravada em estúdio, caramba. Nos outros Senhor dos Anéis eles gravaram do lado de fora, mesmo! Em O Hobbit abunda falsos pôr do Sol que lembram a cena mais fake de Titanic, que é o pôr do Sol pintado na proa do navio. Pra piorar a luminosidade da tela do cinema 3D do Shopping Recife estava baixa (em comparação com o do Plaza, pelo menos) e deixava tudo sem um bom contraste. O som nem se fala. Baixo, e quase não havia som nas caixas laterais. Algumas pessoas que foram comigo dormiram no meio do filme, e não posso culpá-las. Eu me peguei desejando que acabasse logo, porque estava se tornando cansativo. Daria pra cortar 1 hora de filme FÁCIL, e não ia perder nada do livro, já que muito do material foi inventado (repito, INVENTADO) pra encher linguiça.
E a perseguição dos cachorros a Radagast? Praticamente 15 minutos de filme que podiam ser resumidos em 3, já que sabíamos que nada ia acontecer com os anões, ninguém ia morrer rasgado pelos cachorros, nem nada. A mesma coisa da cena das árvores: não dava pra ficar aflito com nada ali, pois nem um personagem sequer parecia REALMENTE em apuros.
Não era aflitivo! Isso é problema de direção, caramba! Nós sabemos que Indiana Jones não vai morrer, e ainda assim ficamos aflitos por ele. Sabemos que James Bond não vai morrer, e curtimos as cenas de perigo SENTINDO perigo. E isso não acontece em O Hobbit. Talvez o fato de Peter Jackson ter dado as cenas de ação (como segundo diretor) a Andy Serkins não tenha ajudado em nada. Mas King Kong foi um (mau) presságio do que poderia acontecer (e aconteceu) com o Hobbit.
Esse foi o filme que lançou Stephen Chow pro mundo. Existem os filmes em que você ri, existem os engraçados, os muito engraçados e o Shaolin Soccer. Esse filme está num patamar que só "Corra que a Polícia vem aí" e "Apertem os Cintos, o piloto sumiu" chegaram.
O México tem Roberto Bolaños, o Brasil tem Renato Aragão e Hong Kong tem Stephen Chow. Todos são gênios da comédia besteirol, com seus altos e baixos. E os três têm a característica de usar a mesma turma em seus trabalhos. O que verão em God of Cookery é um dos pontos mais altos da carreira de um gênio, tão bom quanto Shaolin Soccer e com cenas que ficarão em sua memória pra sempre. É uma pena que God of Cookery não tenha sequer legendas no Brasil. PS: O gordinho engravatado lembra demais o visual do PSY.
O filme de herói mais doente que você vai ver. Um Batman sem grana e fracassado, com violência ultra-realista. Se for olhar como uma crítica, até que é divertido.
O que aconteceria de fato se uma pessoa normal conseguisse poderes. Muito bem filmado, com boa narrativa, cenas de ação muito boas no final, mas a conclusão eu achei um pouco sem brilho, não teve realmente um clímax, talvez pelo estilo documentário, mesmo, que não favorece grandes cortes ou música de fundo pra dar clima. Ainda sim um bom filme.
Cara, esse filme causou um impacto na minha vida pré-adolescente. Um mulheraço desses, naves espaciais, gore, apocalipse zumbi, terror, raios cortando o céu... isso é mais do que qualquer um podia pedir na época. E vendo o trailer o filme parece bom até hoje (descontando a tosquice dos bonecos, claro).
James Cameron foi o primeiro cara a fazer uma sequência que é tão boa quanto o primeiro, em alguns aspectos até mesmo superando (mérito que alguns fãs atribuem a O Poderoso Chefão Parte II). Seja como for, Cameron foi inteligente em não ir na mesma vibe do primeiro, e fazer um outro estilo de filme, só que respeitando o clima, o personagem, e muito dos elementos visuais do filme de Ridley Scott. Cameron nasceu pra esse tipo de filme, e consegue imprimir um ritmo e uma tensão que fazem esse filme simplesmente não envelhecer, algo que é muito difícil, especialmente no gênero ação/ficção científica.
"Somente após uma desgraça conseguirá despertar Somente depois de perder tudo, poderá fazer o que quiser Nada é estático Tudo é movimento E tudo esta desmoronando Esta é sua vida Melhor do que isso não pode ficar"
Clube da Luta é uma filosofia de vida, um retiro pra dentro de você mesmo. Uma ótima análise, com frases do filme, se encontra aqui
É incrível a sensibilidade da Pixar em transformar uma história originalmente feita pra crianças (e pra entreter os adultos) numa saga com relevância sentimental pra esses mesmos adultos que, meio sem querer, se apaixonaram por esses personagens ao longo dos filmes.
Simplesmente a melhor comédia do cinema nacional, e uma das melhores de todo o cinema, se formos descontar que muito do filme só faz sentido pra brasileiros.
Metropolis foi o filme mais caro de sua época, e um marco do expressionismo alemão. Durou quase 1 ano e meio pra ser feito e envolveu cerca de 37 mil extras. Dirigido por Fritz Lang e escrito por ele e Thea von Harbou (esposa de Lang), mostrava um futuro distópico que influenciou gerações de escritores e cineastas até hoje, e deu fruto a filmes, jogos e livros como 1984, Blade Runner, Robocop, Final Fantasy 7, Bioshock, Bastardos Inglórios, o movimento Steampunk, o cinema Noir, entre outros.
Num mundo futurístico - que é a extrapolação da revolução industrial - a sociedade vive em uma verdadeira metrópole não muito diferente da nossa (com direito até a engarrafamentos!). Porém ela está rigidamente dividida em duas grandes classes: Os cidadãos na cidade superior, curtindo o melhor que a tecnologia pode proporcionar em termos de transporte e diversão, e embaixo os operários, vivendo numa cidade subterrânea com suas famílias e trabalhando 10 horas por dia em condições terríveis para manter as máquinas que fazem com que as regalias da cidade superior não parem nunca.
Comandados de cima pelo industrial frio e calculista Joh Fredersen, esses operários-escravos vivem uma vida de trabalho duro, e pipocam aqui e ali planos de revolta dos trabalhadores. Essa revolta é aplacada por Maria, uma mulher simples da classe trabalhadora, que com seu encanto prega a compreensão e o amor aos "irmãos" da cidade alta, e lhes promete que um dia chegará um mediador vindo do "alto" que supostamente lhes dará melhores condições de vida (embora isso não seja dito). Esse mediador acaba sendo o filho do industrial Fredersen, Freder, que ao se apaixonar por Maria resolve descer à cidade subterrânea e se comove com a vida dos operários, decidindo até mesmo trocar de lugar com um deles pra se aproximar de Maria.
Assim começa um dos grandes filmes da história. O filme é mudo, o que pode afastar e cansar boa parte da platéia atual, mas se você gosta de cinema vale a pena investir seu tempo em vê-lo.
Uma análise mais aprofundada do filme pode ser vista aqui e aqui
O Resgate do Soldado Ryan é uma das melhores experiências sensoriais que o cinema já me proporcionou. Ele simplesmente não foi feito para a sala de estar. A história é chata, em nenhum momento convence que 8 soldados arriscariam a vida por um Matt Damon perdido no meio da guerra, mas a representação fiel das batalhas foi o que garantiu que este filme entrasse para a história logo nos primeiros minutos, o que garantiu que Spielberg ganhasse o Oscar de melhor direção. E disso Spielbeg entende: ele cresceu ouvindo as histórias do pai, e portanto o tema de seu primeiro filme caseiro seria um só: 2ª guerra mundial, com direito a aviões, jipes e explosões, engenhosamente feitas com sacos de areia! Esse menino talentoso cresceu, se tornou o diretor mais querido e famoso do mundo, e agora podia filmar sua versão da guerra com os mais modernos efeitos que o cinema poderia proporcionar. E ele o fez!
O filme começa com a bandeira dos EUA tremulando, lívida e modorrenta. Somos apresentados ao cemitério e ao dramalhão do filme (que eu detesto). Mas logo somos apresentados aos 20 minutos mais espetaculares da história do cinema. Ainda me lembro da minha reação quando a porta do barco se abriu. Eu não esperava aquilo. Ninguém esperava aquilo, ainda mais de um Spielberg! A partir daí foi uma montanha-russa onde por vezes eu me abaixava atrás das poltronas (juro!) e acompanhava com a cabeça o zunido das balas tracejantes (que pareciam passar a poucos centímetros!).
Não pensem que foi fácil fazer aquelas cenas, que apresentam um aspecto "sujo", grosseiro e tremido, como os documentários de época. Cada movimento de câmera foi planejado à exaustão, para criar um link entre as cenas e a platéia. As lentes e a velocidade do filme foram alteradas para se assemelhar às das antigas filmadoras (com ocasionais entradas excessivas de luz, como na cena das chamas na casa-mata), e as cores foram esmaecidas no computador. Os efeitos sonoros foram elevados a um novo patamar, fazendo muita gente comprar um home theater só por causa desse filme.
Apesar da cena do desembarque ter entrado pra história do cinema, a cena que mais me encanta é quando tocam Edith Piaf no meio da cidade francesa abandonada, com sua voz melancólica ecoando através dos escombros. E logo depois surgem os tanques de guerra alemães, as armas mais terríveis de Hitler apoiadas pela elite das tropas germânicas. Os alemães costumavam deixar seus tanques com pouco ou nenhum óleo nas engrenagens das esteiras, para fazer aquele barulho terrível, o "som da morte", que aterrorizava as tropas inimigas (e que, no cinema, me arrepiou dos pés à cabeça).
Algo que me chamou a atenção foi o lançamento de morteiros com a mão. Tive a oportunidade de perguntar a um soldado do exército se aquilo era possível, e ele disse que não. O morteiro tem um dispositivo de armação por deslocamento de ar, mas é preciso um GRANDE deslocamento de ar para ativá-lo (batendo no chão não ativa, tanto é que no exército eles usam um fuzil FAL disparando ar comprimido para atirar). Não é a primeira vez que Spielberg subverte a realidade pra dar mais emoção aos seus filmes. Em Tubarão o roteirista disse que era impossível a garrafa de ar comprimido explodir daquele jeito, mas aí Spielberg retrucou: "Se eu conseguir botar a platéia na minha mão com o filme, eles acreditarão em qualquer coisa que eu colocar lá".
"O Rei Lear" é uma história consagrada de um dos maiores escritores da humanidade (Shakespeare). Kurosawa, um dos maiores diretores de cinema do mundo. Junte os dois e teremos Ran (1985), a fina flor do cinema japonês.
A adaptação de Rei Lear é livre, pois incorporou elementos da história do Japão feudal e sua cultura, como o teatro Nô: o estilo de interpretação exagerada, a raposa-em-forma-humana (kitsune), a flauta, a figura andrógina do Bobo da corte, e o uso de cores pra representar seus personagens.
Kurosawa, que também ajudou no roteiro, acrescenta ainda toda a espiritualidade característica do Budismo, como a Roda do Sansara, o karma, a compaixão incondicional, etc. Aliado a isso, sua visão filosófica de mundo é sensível e refinada, como podemos ver em cenas onde o Bobo é o personagem mais sensato da trama, o julgamento pelas aparências, e especialmente a cena final, que é de uma desolação profunda e que representa os rumos que a humanidade está tomando (uma cena quase profética, pois nós, como seres humanos, estamos cada vez mais na mesma condição que o personagem do final). A fotografia é primorosa, com o uso de teleobjetivas, que tiram a profundidade das cenas e dão a idéia de uma pintura bidimensional. Kurosawa passou 10 anos pintando ele mesmo os storyboards, e esse esmero artístico está em cada frame do filme. Apesar de ter sido o filme japonês mais caro de sua época, Kurosawa consegue extrair cenas memoráveis e grandiosas com elementos simples, como um portão de madeira, ou um sangue esparramado na parede. O ritmo e enquadramento dos personagens lembra um teatro, onde podemos ver a reação de cada personagem às falas em tempo real, sem cortes. Por isso mesmo é fantástico rever o filme e perceber os olhares que os personagens trocam entre si, ou ficar prestando atenção a somente um determinado personagem, etc. Você verá que os atores estão totalmente dentro dos seus papéis, tanto que o personagem principal não parece caricato, mesmo sob pesada maquiagem e expressões teatrais. Pura genialidade, pura magia do cinema.
Nas Profundezas das Bermudas
3.1 16Há muito, muito tempo, quando eu era um garoto, jurava que tinha visto de madrugada, na TV, um filme sobre um casal que se separava quando crianças, e se reencontram após adultos, no triângulo das Bermudas. A mulher usava o tempo todo um maiô preto, e há uma tartaruga marinha gigante que afunda um barco. Não vou contar tudo senão estraga, mas o roteiro de suspense (do tipo antigo, que deixa você ressabiado por um bom tempo depois de terminado o filme) e suas aterradoras revelações finais causaram uma grande impressão em minha mente, assim como alguns filmes clássicos daquela época (Caça Fantasmas, Krull, Goonies, Exorcista) só que, diferentemente dos filmes citados, o da tartaruga, pra todos os efeitos, simplesmente não existia. Vários anos após eu perguntava às pessoas: "vocês viram aquele filme da tartaruga gigante e da mulher de maiô?" e ninguém, por mais que gostasse de cinema, tinha ouvido falar dele.
Forçando minha memória pra tentar lembrar mais coisas do filme, fiquei noiado com o fato de que, muito provavelmente, os adultos (na casa onde eu estava) estivessem fumando maconha, o que me levou a tecer a hipótese de que eu devia ter estado sob efeito da fumaça alucinógena e imaginado tudo aquilo. Mas era um pensamento muito perturbador pra mim que eu, em tenra idade, tivesse imaginado um roteiro de filme assim, então continuei procurando. Vários anos se passaram, enquanto à noite, ocasionalmente fragmentos do filme assolavam minha mente, como se ele fosse um fantasma pedindo pra ser resgatado do limbo. Em uma dessas ocasiões, com o advento do Google, passei o dia pesquisando na internet palavras-chave que pudessem remeter ao (possível) filme. Foi difícil, mas descobri!!
E fiquei em choque. Ao ler a página, vi que era um relato de um cara também obcecado em descobrir que filme que ele viu quando garoto - e que ninguém mais tinha visto! E era o mesmo filme da tartaruga! Coincidência demais? Sim, mas não é só! Ele conta que OUTRAS pessoas também procuram esse mesmo Graal, e descreve o momento em que ele achou uma dessas pessoas como se fosse a cena "Contatos Imediatos do 3º grau", onde completos estranhos compartilham a mesma obsessão por uma montanha em especial. E era exatamente assim que eu me sentia naquele momento! Estava conectado a algo maior, que escapava do racional, independente da nacionalidade. As palavras que ele usou pra descrever essas pessoas - "haunted by this flick" - definiam com absoluta clareza meu estado de espírito até então. E, graças ao artigo que ele escreveu, o mesmo descobriu mais e mais pessoas que se perguntavam se seriam as únicas a terem visto esse filme.
Graças a ele, descobri que o nome do filme é "The Bermuda depths", feito em 1978 especialmente pra TV por um cineasta japonês, estrelando Burl Ives, Carl Weathers (mais conhecido como Apollo - O doutrinador), e Connie Selleca como a "mulher do maiô".
Mais sobre ele aqui
Esquadrão Red Tails
3.5 142 Assista AgoraOh, Deus. Dá pra ver o dedo de George Lucas em todo lugar. No uso intenso e irritante da trilha sonora (horrível) de Terence Blanchard (e ainda termine com "Deus salve a América") à completa falta de sutileza, diálogos infantis e péssimas atuações dos atores de apoio (geralmente os "brancos"). Mas nem tudo está perdido porque as cenas de ação são muito bem feitas (embora não empolguem) e a recriação da época também. Nas mãos de um bom diretor e produtor esse filme seria realmente comovente e bom. Seria...
Alô, Alô, Terezinha!
3.1 35Esse documentário mata saudades tanto do Chacrinha, quanto das Chacretes e do Documento Especial (da finada Manchete). Reside neste último aspecto o "charme" (que muitos verão como defeito) do documentário. Ora, quem conhece o programa do Chacrinha sabe que aquilo lá era uma zorra, uma experiência imprevisível, trash, anárquica e humilhante. Assim é o documentário, como se tivesse sido produzido e dirigido pelo Velho Guerreiro. Vemos à fundo a decadência das chacretes, o trauma dos calouros, os artistas saudosos de um jeito que não vemos, por exemplo, se estivessem falando pro videoshow.
Um belo registro de uma época que se foi e não existiria no mundo politicamente correto de hoje.
ParaNorman
3.6 845 Assista AgoraQuem gostou de Goonies vai curtir esse filme, pois tem toda a aventura, a ingenuidade, o companheirismo na adversidade que Goonies tem, sem apelações, sem concessões ao humor barato de hoje.
O Hobbit: Uma Jornada Inesperada
4.1 4,7K Assista Agora14 de dezembro de 2012: O dia em que testemunhamos Peter Jackson perder a mão (e um braço) na direção de um filme de Tolkien. O Hobbit é longo, enfadonho, não empolga e só traz de volta a magia dos filmes anteriores quando aparece o Gollum e as belas tomadas aéreas da Terra Média.
Os 48fps não ajudam muito no campo de disfarçar as imperfeições da computação gráfica nas cenas de batalha (dá pra notar claramente que são bonequinhos em CG). Tudo parece um tanto acelerado demais, e deixaram as belas cidades da Terra Média com cara de maquete. Onde os 48fps se destacam são justamente nas panorâmicas belíssimas da Nova Zelândia e em Rivendel, e também nas cenas de chuva. O nível de nitidez da imagem é surpreendente, e você sente como nunca a textura das pedras, roupas e quase dá pra sentir o peso da espada. Mas a movimentação das cenas de ação ficou esquisita. A fotografia do filme, talvez por conta da técnica dos 48fps, ficou muito clara, muito chapada, com tudo em foco e com uma COMPLETA absência de atmosfera. Parece que tudo foi filmado em estúdio (e na maioria das cenas foi mesmo) sem nenhuma poeirinha e com uma luz bem forte em cima. Como um amigo falou, ficou com cara de Trapalhões misturado com Emmanuele. A imensa maioria das cenas "externas" foi gravada em estúdio, caramba. Nos outros Senhor dos Anéis eles gravaram do lado de fora, mesmo! Em O Hobbit abunda falsos pôr do Sol que lembram a cena mais fake de Titanic, que é o pôr do Sol pintado na proa do navio. Pra piorar a luminosidade da tela do cinema 3D do Shopping Recife estava baixa (em comparação com o do Plaza, pelo menos) e deixava tudo sem um bom contraste. O som nem se fala. Baixo, e quase não havia som nas caixas laterais. Algumas pessoas que foram comigo dormiram no meio do filme, e não posso culpá-las. Eu me peguei desejando que acabasse logo, porque estava se tornando cansativo. Daria pra cortar 1 hora de filme FÁCIL, e não ia perder nada do livro, já que muito do material foi inventado (repito, INVENTADO) pra encher linguiça.
E a perseguição dos cachorros a Radagast? Praticamente 15 minutos de filme que podiam ser resumidos em 3, já que sabíamos que nada ia acontecer com os anões, ninguém ia morrer rasgado pelos cachorros, nem nada. A mesma coisa da cena das árvores: não dava pra ficar aflito com nada ali, pois nem um personagem sequer parecia REALMENTE em apuros.
Kung-Fu Futebol Clube
3.5 230 Assista AgoraEsse foi o filme que lançou Stephen Chow pro mundo. Existem os filmes em que você ri, existem os engraçados, os muito engraçados e o Shaolin Soccer. Esse filme está num patamar que só "Corra que a Polícia vem aí" e "Apertem os Cintos, o piloto sumiu" chegaram.
O Deus da Cozinha
3.1 2O México tem Roberto Bolaños, o Brasil tem Renato Aragão e Hong Kong tem Stephen Chow. Todos são gênios da comédia besteirol, com seus altos e baixos. E os três têm a característica de usar a mesma turma em seus trabalhos. O que verão em God of Cookery é um dos pontos mais altos da carreira de um gênio, tão bom quanto Shaolin Soccer e com cenas que ficarão em sua memória pra sempre. É uma pena que God of Cookery não tenha sequer legendas no Brasil.
PS: O gordinho engravatado lembra demais o visual do PSY.
Super
3.4 603O filme de herói mais doente que você vai ver. Um Batman sem grana e fracassado, com violência ultra-realista. Se for olhar como uma crítica, até que é divertido.
Poder Sem Limites
3.4 1,7K Assista AgoraO que aconteceria de fato se uma pessoa normal conseguisse poderes. Muito bem filmado, com boa narrativa, cenas de ação muito boas no final, mas a conclusão eu achei um pouco sem brilho, não teve realmente um clímax, talvez pelo estilo documentário, mesmo, que não favorece grandes cortes ou música de fundo pra dar clima. Ainda sim um bom filme.
O Exterminador do Futuro: Gênesis
3.2 1,2K Assista AgoraComo é? O roteiro vai ser do Cameron?
Instituto de Beleza Vênus
3.2 11Filme leve, divertido, despretensioso. Pipocão europeu.
Bem Me Quer, Mal Me Quer
4.0 522Filme perfeito pra uma mulher cativante como Audrey Tautou. Assim como o personagem masculino, ficamos na dúvida se gostamos ou odiamos essa mulher.
Uma Doce Mentira
3.5 355 Assista AgoraFilme levíssimo e gostoso como a brisa do campo.
Força Sinistra
3.4 155 Assista AgoraCara, esse filme causou um impacto na minha vida pré-adolescente. Um mulheraço desses, naves espaciais, gore, apocalipse zumbi, terror, raios cortando o céu... isso é mais do que qualquer um podia pedir na época. E vendo o trailer o filme parece bom até hoje (descontando a tosquice dos bonecos, claro).
O Quinto Elemento
3.7 816Leeloo Dallas multipass!
Aliens: O Resgate
4.0 810 Assista AgoraJames Cameron foi o primeiro cara a fazer uma sequência que é tão boa quanto o primeiro, em alguns aspectos até mesmo superando (mérito que alguns fãs atribuem a O Poderoso Chefão Parte II). Seja como for, Cameron foi inteligente em não ir na mesma vibe do primeiro, e fazer um outro estilo de filme, só que respeitando o clima, o personagem, e muito dos elementos visuais do filme de Ridley Scott. Cameron nasceu pra esse tipo de filme, e consegue imprimir um ritmo e uma tensão que fazem esse filme simplesmente não envelhecer, algo que é muito difícil, especialmente no gênero ação/ficção científica.
Clube da Luta
4.5 4,9K Assista AgoraA melhor apresentação pro filme é mesmo a frase de Tyler Durden. Não é spoiler, mas caso alguém não queira ler NADA do filme, escondi abaixo
"Somente após uma desgraça conseguirá despertar
Somente depois de perder tudo, poderá fazer o que quiser
Nada é estático
Tudo é movimento
E tudo esta desmoronando
Esta é sua vida
Melhor do que isso não pode ficar"
Clube da Luta é uma filosofia de vida, um retiro pra dentro de você mesmo. Uma ótima análise, com frases do filme, se encontra aqui
Toy Story 3
4.4 3,6K Assista AgoraÉ incrível a sensibilidade da Pixar em transformar uma história originalmente feita pra crianças (e pra entreter os adultos) numa saga com relevância sentimental pra esses mesmos adultos que, meio sem querer, se apaixonaram por esses personagens ao longo dos filmes.
O Sexto Sentido
4.2 2,4K Assista AgoraFilmaço! Direção, roteiro, edição, tudo funcionando harmoniosamente! Nem parece o Shyamalan!
Jurassic Park: O Parque dos Dinossauros
3.9 1,7K Assista AgoraQuando Spielberg dominava a terra.
O Auto da Compadecida
4.3 2,3K Assista AgoraSimplesmente a melhor comédia do cinema nacional, e uma das melhores de todo o cinema, se formos descontar que muito do filme só faz sentido pra brasileiros.
Metrópolis
4.4 631 Assista AgoraMetropolis foi o filme mais caro de sua época, e um marco do expressionismo alemão. Durou quase 1 ano e meio pra ser feito e envolveu cerca de 37 mil extras. Dirigido por Fritz Lang e escrito por ele e Thea von Harbou (esposa de Lang), mostrava um futuro distópico que influenciou gerações de escritores e cineastas até hoje, e deu fruto a filmes, jogos e livros como 1984, Blade Runner, Robocop, Final Fantasy 7, Bioshock, Bastardos Inglórios, o movimento Steampunk, o cinema Noir, entre outros.
Num mundo futurístico - que é a extrapolação da revolução industrial - a sociedade vive em uma verdadeira metrópole não muito diferente da nossa (com direito até a engarrafamentos!). Porém ela está rigidamente dividida em duas grandes classes: Os cidadãos na cidade superior, curtindo o melhor que a tecnologia pode proporcionar em termos de transporte e diversão, e embaixo os operários, vivendo numa cidade subterrânea com suas famílias e trabalhando 10 horas por dia em condições terríveis para manter as máquinas que fazem com que as regalias da cidade superior não parem nunca.
Comandados de cima pelo industrial frio e calculista Joh Fredersen, esses operários-escravos vivem uma vida de trabalho duro, e pipocam aqui e ali planos de revolta dos trabalhadores. Essa revolta é aplacada por Maria, uma mulher simples da classe trabalhadora, que com seu encanto prega a compreensão e o amor aos "irmãos" da cidade alta, e lhes promete que um dia chegará um mediador vindo do "alto" que supostamente lhes dará melhores condições de vida (embora isso não seja dito). Esse mediador acaba sendo o filho do industrial Fredersen, Freder, que ao se apaixonar por Maria resolve descer à cidade subterrânea e se comove com a vida dos operários, decidindo até mesmo trocar de lugar com um deles pra se aproximar de Maria.
Assim começa um dos grandes filmes da história. O filme é mudo, o que pode afastar e cansar boa parte da platéia atual, mas se você gosta de cinema vale a pena investir seu tempo em vê-lo.
Uma análise mais aprofundada do filme pode ser vista aqui e aqui
O Resgate do Soldado Ryan
4.2 1,6K Assista AgoraO Resgate do Soldado Ryan é uma das melhores experiências sensoriais que o cinema já me proporcionou. Ele simplesmente não foi feito para a sala de estar. A história é chata, em nenhum momento convence que 8 soldados arriscariam a vida por um Matt Damon perdido no meio da guerra, mas a representação fiel das batalhas foi o que garantiu que este filme entrasse para a história logo nos primeiros minutos, o que garantiu que Spielberg ganhasse o Oscar de melhor direção. E disso Spielbeg entende: ele cresceu ouvindo as histórias do pai, e portanto o tema de seu primeiro filme caseiro seria um só: 2ª guerra mundial, com direito a aviões, jipes e explosões, engenhosamente feitas com sacos de areia!
Esse menino talentoso cresceu, se tornou o diretor mais querido e famoso do mundo, e agora podia filmar sua versão da guerra com os mais modernos efeitos que o cinema poderia proporcionar. E ele o fez!
O filme começa com a bandeira dos EUA tremulando, lívida e modorrenta. Somos apresentados ao cemitério e ao dramalhão do filme (que eu detesto). Mas logo somos apresentados aos 20 minutos mais espetaculares da história do cinema. Ainda me lembro da minha reação quando a porta do barco se abriu. Eu não esperava aquilo. Ninguém esperava aquilo, ainda mais de um Spielberg! A partir daí foi uma montanha-russa onde por vezes eu me abaixava atrás das poltronas (juro!) e acompanhava com a cabeça o zunido das balas tracejantes (que pareciam passar a poucos centímetros!).
Não pensem que foi fácil fazer aquelas cenas, que apresentam um aspecto "sujo", grosseiro e tremido, como os documentários de época. Cada movimento de câmera foi planejado à exaustão, para criar um link entre as cenas e a platéia. As lentes e a velocidade do filme foram alteradas para se assemelhar às das antigas filmadoras (com ocasionais entradas excessivas de luz, como na cena das chamas na casa-mata), e as cores foram esmaecidas no computador. Os efeitos sonoros foram elevados a um novo patamar, fazendo muita gente comprar um home theater só por causa desse filme.
Apesar da cena do desembarque ter entrado pra história do cinema, a cena que mais me encanta é quando tocam Edith Piaf no meio da cidade francesa abandonada, com sua voz melancólica ecoando através dos escombros. E logo depois surgem os tanques de guerra alemães, as armas mais terríveis de Hitler apoiadas pela elite das tropas germânicas. Os alemães costumavam deixar seus tanques com pouco ou nenhum óleo nas engrenagens das esteiras, para fazer aquele barulho terrível, o "som da morte", que aterrorizava as tropas inimigas (e que, no cinema, me arrepiou dos pés à cabeça).
Algo que me chamou a atenção foi o lançamento de morteiros com a mão. Tive a oportunidade de perguntar a um soldado do exército se aquilo era possível, e ele disse que não. O morteiro tem um dispositivo de armação por deslocamento de ar, mas é preciso um GRANDE deslocamento de ar para ativá-lo (batendo no chão não ativa, tanto é que no exército eles usam um fuzil FAL disparando ar comprimido para atirar). Não é a primeira vez que Spielberg subverte a realidade pra dar mais emoção aos seus filmes. Em Tubarão o roteirista disse que era impossível a garrafa de ar comprimido explodir daquele jeito, mas aí Spielberg retrucou: "Se eu conseguir botar a platéia na minha mão com o filme, eles acreditarão em qualquer coisa que eu colocar lá".
E ele tem razão...
Ran
4.5 265 Assista Agora"O Rei Lear" é uma história consagrada de um dos maiores escritores da humanidade (Shakespeare). Kurosawa, um dos maiores diretores de cinema do mundo. Junte os dois e teremos Ran (1985), a fina flor do cinema japonês.
A adaptação de Rei Lear é livre, pois incorporou elementos da história do Japão feudal e sua cultura, como o teatro Nô: o estilo de interpretação exagerada, a raposa-em-forma-humana (kitsune), a flauta, a figura andrógina do Bobo da corte, e o uso de cores pra representar seus personagens.
Kurosawa, que também ajudou no roteiro, acrescenta ainda toda a espiritualidade característica do Budismo, como a Roda do Sansara, o karma, a compaixão incondicional, etc. Aliado a isso, sua visão filosófica de mundo é sensível e refinada, como podemos ver em cenas onde o Bobo é o personagem mais sensato da trama, o julgamento pelas aparências, e especialmente a cena final, que é de uma desolação profunda e que representa os rumos que a humanidade está tomando (uma cena quase profética, pois nós, como seres humanos, estamos cada vez mais na mesma condição que o personagem do final).
A fotografia é primorosa, com o uso de teleobjetivas, que tiram a profundidade das cenas e dão a idéia de uma pintura bidimensional. Kurosawa passou 10 anos pintando ele mesmo os storyboards, e esse esmero artístico está em cada frame do filme. Apesar de ter sido o filme japonês mais caro de sua época, Kurosawa consegue extrair cenas memoráveis e grandiosas com elementos simples, como um portão de madeira, ou um sangue esparramado na parede. O ritmo e enquadramento dos personagens lembra um teatro, onde podemos ver a reação de cada personagem às falas em tempo real, sem cortes. Por isso mesmo é fantástico rever o filme e perceber os olhares que os personagens trocam entre si, ou ficar prestando atenção a somente um determinado personagem, etc. Você verá que os atores estão totalmente dentro dos seus papéis, tanto que o personagem principal não parece caricato, mesmo sob pesada maquiagem e expressões teatrais. Pura genialidade, pura magia do cinema.