A Guatemala é um país que produz muito pouco cinema (“José” é um dos três longas de ficção feitos ao longo de 2018) e Li Cheng desenvolve com George F. Roberson um texto que estabelece inúmeras características de identificação mesmo com as barreiras culturais. O sentimento mais forte que fica ao final, entretanto, é a extensão de uma história que talvez estivesse mais confortável como curta-metragem, algo que se confirma com um terceiro ato mais à deriva que José.
+ www.goo.gl/Zb4akv + Cobertura da 42ª Mostra: www.goo.gl/V1xNJr
Laugier vai costurando “A Casa do Medo: Incidente em Ghostland” a partir de uma série de influências que rende resultados surpreendentes. Além de corresponder a uma cinematografia que encena o perigo sem se preocupar com censura, “Ghostland” ainda emula “O Massacre da Serra Elétrica”, o universo literário de H. P. Lovecraft e até mesmo as convenções do filão de bonecos do mal – há um aqui de olhos esbugalhados e luminosos que talvez seja o mais assustador desde Annabelle.
Aneesh Chaganty compreende perfeitamente o universo que está explorando e discute sobre a outra vida que cada um de nós encena no “plano virtual” sendo totalmente fiel ao modo como usamos os mecanismos que hoje fazem parte do nosso cotidiano. Talvez o limite seja o de forçar que o seu protagonista esteja 100% leal a eles, fazendo com que os eventos de “Buscando…” sejam totalmente reféns do formato trabalhado – “Amizade Desfeita” o fez de modo mais orgânico.
Todo crédito à Claire Foy como Janet. Os minutos finais de “O Primeiro Homem” são lindos, mas a caminhada até eles são insípidos, bem como Ryan Gosling, que, com feições não compatíveis com a da figura real, parece somente interpretar a versão aborrecida de si mesmo. O oposto faz Foy, mais grandiosa do que a encenação do grande feito de Armstrong e o coração que impede o filme de morrer.
O que não se pode negar é a devoção de Tom Hardy ao papel. Ator inglês um tanto inexpressivo que sempre se sai exemplar em papéis introspectivos, como o Bob de “A Entrega”, o Hardy de “Venom” parece chapado em quase todas as suas cenas, correspondendo tão bem ao tom bipolar involuntário do roteiro que chega a ser até comovente, como se vê quando devora crustáceos no aquário de um restaurante e em outras situações embaraçosas.
É uma produção brasileira que vem em excelente timing, mas o texto de Ricardo Elias, também assinado por Claudio Yosida e Enéas Carlos, envereda por um realismo fantástico que reduz o potencial das discussões. Talvez o período controverso que atravessamos peça por programas mais leves, mas usar a mágica para driblar entraves não convencerá os mais céticos da plateia.
Desenvolver um texto diante de algo que de fato se dá diante dos nossos olhos abre portas para muitas irregularidades, mas Clotilde Hesme contorna qualquer deslize principalmente quando os sentimentos que está verdadeiramente experimentando validam a sua Diane como uma figura palpável mesmo em suas excentricidades. O choro prolongado que toma os minutos finais de “O Poder de Diane” serão os mais verdadeiros que você testemunhará em qualquer ficção deste último ano.
Além de expor o cenário aterrador de mobilizações que se iniciaram pacíficas, "Marcha Cega" é também informativo principalmente ao compartilhar os procedimentos e como todos são quebrados na contenção das massas. Com as tensões da polarização das eleições ainda em curso, vem mais um registro que lamentavelmente será reprisado com ainda mais gravidade nos próximos tempos obscuros que nos aguardam.
Uma pena que a questão que levanta sobre comportamentos emperra “O Homem Perfeito” nos quesitos morais. Mesmo que Diana se manifeste duas ou três vezes diante de contextos machistas, o texto se desdobra justamente para esse fim quando as consequências começam a se desenhar. O comportamento da personagem de Juliana Paiva ao clímax é, por sinal, um dos mais vergonhosos já vistos na comédia romântica recente.
“10 Segundos para Vencer” não quer mexer em vespeiro e, por isso mesmo, acaba resultando esquecível (quando não enfadonho) pela adoção da estrutura episódica. Eventos dramáticos, como o casamento de Éder, a saúde frágil do irmão e a sua aposentadoria precoce, ocupam a tela sem qualquer ressonância. Alvarenga Jr. entende do riscado, contemplando o público com evidente apuro técnico e boa direção de atores, mas a sua cinebiografia se perde entre as demais produzidas em nosso cinema.
De versão adulta de um plot à lá “Gaby Estrella: O Filme” (a saída do urbano para o interior, a perseguição da agente inescrupulosa interpretada por Françoise Forton, a saúde fragilizada de um personagem chave), vai cedendo espaço para algo mais substancial e com o selo de aprovação de gente que entende do riscado, da participação de Lucas Lima na trilha sonora até as aparições de artistas como Chitãozinho & Xororó, Maurício Manieri e Rio Negro e Solimões.
Um time de excelentes atores (entre os quais Drica Moraes, Fabiana Gugli, Mariana Lima, Caco Ciocler e Gustavo Machado) é todo refém de um texto menos perspicaz e ácido como julga ser, além de uma mise-en-scène realmente desastrosa: reparem a câmera que recua sempre que ameaça ser refletida na parede espelhada da sala de jantar onde todos se encontram. Faz melhor quem for assistir o britânico “A Festa“, de Sally Potter e ainda em cartaz nos cinemas.
Escolhas repetitivas da montagem de Lívia Serpa (como as quebras estabelecidas com as intervenções dos fragmentos de Irene e Fernando abraçados em uma boia) e a falta de maior convencimento no aspecto da construção de um novo lar (de onde vem o dinheiro se ele não sobra?) não minimizam as demais virtudes de “Benzinho”, sendo a maior a de encontrar a catarse no mapa de sentimentos que se constitui o rosto de Karine Teles ao fim.
O maior incômodo de “Carnívoras” é a sensação de que os Renier lidam aqui com a estrutura do mistério como se não tivessem qualquer conhecimento de causa. Além de estabelecerem uma estética sem identidade (veja o take da banheira com água azulada, por exemplo), os 98 minutos da duração soam intermináveis porque se deduz com uma distância enorme exatamente como tudo se desdobrará. Desta vez, a brincadeira de duplos não passa de uma bobagem.
Esses flashbacks da infância do personagem-título são notáveis e correspondem aos melhores momentos do filme. Já no tempo atual, Anne Fontaine e o seu parceiro de escrita Pierre Trividic se perdem em alguns desdobramentos, como o relacionamento com Roland (Charles Berling), um homem mais velho e influente que apresenta Marvin à Isabelle Huppert – sim, a atriz interpreta a si mesmo.
Seria um diagnóstico curioso sobre o enfado de uma geração às voltas com as responsabilidades mundanas assumidas em um cotidiano em que o tempo passa com a ausência de vibrações significativas. Há, entretanto, três problemas gravíssimos que desmantelam “O Homem que Parou o Tempo”.
Com uma figura central apática como João, é difícil o interesse para acompanhar a sua estagnação. Com poucas ferramentas em mãos, Hilnando SM é repetitivo na sensorialidade. Por fim, a enxuta duração de uma hora só fortalece a suspeita de extensão de algo que seria melhor alocado em um formato de curta-metragem.
Trata-se de um documentário que chega em boa hora, um pouco superior diante do movimento empenhado em conceber híbridos (com a manifestação da ficção quando o verídico não oferta o impacto que realizadores pouco honestos ambicionam).
Falta somente um olhar mais incisivo e menos contemplativo dessa realidade de “Camocim”, algo que o realizador francês consegue com sucesso somente no encaminhamento para o encerramento de sua obra, quanto a polarização é ilustrada com uma perfeita simetria entre azuis e vermelhos. “Gretchen Filme Estrada” é uma obra relacionada superior, por exemplo.
Foi esperado que “Slender Man: Pesadelo Sem Rosto” tenha sofrido vários entraves em sua pós-produção e que chegue agora obtendo a pior recepção possível de público e crítica. O mais triste de tudo isso, no entanto, é o crédito de David Birke como autor do roteiro. Responsável por “Elle“, um dos textos mais mordazes do cinema contemporâneo, o americano transforma o seu envolvimento no aspecto mais horripilante de “Slender Man: Pesadelo Sem Rosto”.
Escrito em parceria com Jessica Candal, Aly Muritiba faz um filme dividido em duas partes. A primeira é excepcional e sem concessões, exibindo com perícia um universo adolescente sem filtros e no qual os adultos são presenças inconstantes. Lamentavelmente, as qualidades são se fazem presente na segunda. Nada há de bom nesse momento de “Ferrugem”, concentrando o peso do que aconteceu com Tati em Renet, um personagem aborrecido pelo qual vamos progressivamente deixando de nos importar. Se o registro pretensamente intimista dessa “Parte 2” fosse repensada para o contexto mais amplo da “Parte 1”, é certo que “Ferrugem” de fato impactaria com o seu conto moral.
No trailer de “Meu Tio e o Joelho de Porco”, a sentença “o primeiro documentário brasileiro sem depoimentos do Caetano Veloso” é apresentada em seus segundos finais. Nada mais que uma brincadeira, mas evidencia um vício em nosso cinema: o do enaltecimento das figuras do tropicalismo em detrimento de outros movimentos, artistas e grupos brasileiros.
Com grande fatia de seu currículo composto por créditos na concepção da abertura de filmes como “Chega de Saudade”, “As Melhores Coisas do Mundo” e “Tropa de Elite 2: O Inimigo Agora é Outro“, Rafael Terpins dá agora uma contribuição para remar contra essa predileção contando para velhas e novas gerações a história do Joelho de Porco.
Mesmo com o inegável fascínio pela figura em destaque e de um prólogo dedicado a exibir as suas interessantes impressões sobre a falta de sentido do universo e da concepção humana, o documentário imediatamente sucumbe a um formato extremamente tradicional, mesmo com as intervenções visuais. Faltou também se atentar a questões mais contemporâneas, o que certamente ampliaria a curiosidade de iniciados por Hélio Jaguaribe.
Afora por nos (re)aproximarmos de um talento que tão cedo partiu, deixando como legado uma produção musical realmente consistente e que tanto se comunica pela abordagem das frustrações da tenra idade, “Yonlu” falha não somente como tributo, mas principalmente como uma obra cinematográfica que poderia exercer uma função social para uma geração mais delicada como nunca e que por vezes incorre a uma solução permanente para um problema temporário.
O resultado vai além da mera colagem e volta a atrair atenção para uma parte de nosso cinema hoje restrita aos festivais especiais e canais fechados – isso quando totalmente inacessíveis principalmente por nossa preservação questionável. Ainda assim, falta a sensação de unidade, de que estamos vendo a algo realmente (re)construído do zero. Nem tudo se conecta harmoniosamente, por vezes trazendo o efeito de tevê sendo zapeada.
+ www.goo.gl/BxbMiu
+ Todos os filmes citados em “Histórias Que Nosso Cinema (Não) Contava”: • “1001 Posições do Amor” (1978), de Carlo Mossy • “19 Mulheres e Um Homem” (1977), de David Cardoso • “A Super Fêmea” (1973), de Anibal Massaini Neto • “Amadas e Violentadas” (1976), de Jean Garret • “Amante Muito Louca” (1973), de Denoy de Oliveira • “Árvore dos Sexos” (1977), de Sílvio de Abreu • “Aventuras Amorosas de Um Padeiro” (1975), de Waldir Onofre • “Bonitas e Gostosas” (1978), de Carlo Mossy • “Cada Um Dá o Que Tem” (1975), de Adriano Stuart, John Herbert e Sílvio de Abreu • “Café na Cama” (1973), de Alberto Pieralisi • “Colegiais e Lições de Sexo” (1980), de Juan Bajon • “Corpo Devasso” (1980), de Alfredo Sternheim • “E Agora José – A Tortura do Sexo” (1979), de Ody Fraga • “Elas São do Baralho” (1977), de Sílvio de Abreu • “Eu Transo, Ela Transa” (1972), de Pedro Camargo • “Gente Fina é Outra Coisa” (1977), de Antônio Calmon • “Histórias Que Nossas Babás Não Contavam” (1979), de Osvaldo de Oliveira • “Inseto do Amor” (1980), de Fauzi Mansur • “Manicures a Domicílio” (1978), de Carlo Mossy • “Noite em Chamas” (1977), de Jean Garret • “Nos Embalos de Ipanema” (1978), de Antônio Calmon • “O Bom Marido” (1978), de Antônio Calmon • “O Enterro da Cafetina” (1971), de Alberto Pieralisi • “Os Mansos” (1973), de Braz Chediak • “Palácio de Vênus” (1980), de Ody Fraga • “Porão das Condenadas” (1979), de Francisco Cavalcanti • “Terror e Êxtase” (1979), de Antônio Calmon • “Vítimas do Prazer – Snuff” (1977), de Cláudio Cunha
José
2.9 8A Guatemala é um país que produz muito pouco cinema (“José” é um dos três longas de ficção feitos ao longo de 2018) e Li Cheng desenvolve com George F. Roberson um texto que estabelece inúmeras características de identificação mesmo com as barreiras culturais. O sentimento mais forte que fica ao final, entretanto, é a extensão de uma história que talvez estivesse mais confortável como curta-metragem, algo que se confirma com um terceiro ato mais à deriva que José.
+ www.goo.gl/Zb4akv
+ Cobertura da 42ª Mostra: www.goo.gl/V1xNJr
A Casa do Medo: Incidente em Ghostland
3.5 749Laugier vai costurando “A Casa do Medo: Incidente em Ghostland” a partir de uma série de influências que rende resultados surpreendentes. Além de corresponder a uma cinematografia que encena o perigo sem se preocupar com censura, “Ghostland” ainda emula “O Massacre da Serra Elétrica”, o universo literário de H. P. Lovecraft e até mesmo as convenções do filão de bonecos do mal – há um aqui de olhos esbugalhados e luminosos que talvez seja o mais assustador desde Annabelle.
+ www.goo.gl/9ZVjLi
Buscando...
4.0 1,3K Assista AgoraAneesh Chaganty compreende perfeitamente o universo que está explorando e discute sobre a outra vida que cada um de nós encena no “plano virtual” sendo totalmente fiel ao modo como usamos os mecanismos que hoje fazem parte do nosso cotidiano. Talvez o limite seja o de forçar que o seu protagonista esteja 100% leal a eles, fazendo com que os eventos de “Buscando…” sejam totalmente reféns do formato trabalhado – “Amizade Desfeita” o fez de modo mais orgânico.
+ www.goo.gl/ZpkXYa
O Primeiro Homem
3.6 648 Assista AgoraTodo crédito à Claire Foy como Janet. Os minutos finais de “O Primeiro Homem” são lindos, mas a caminhada até eles são insípidos, bem como Ryan Gosling, que, com feições não compatíveis com a da figura real, parece somente interpretar a versão aborrecida de si mesmo. O oposto faz Foy, mais grandiosa do que a encenação do grande feito de Armstrong e o coração que impede o filme de morrer.
+ www.goo.gl/ZA6kpC
Venom
3.1 1,4K Assista AgoraO que não se pode negar é a devoção de Tom Hardy ao papel. Ator inglês um tanto inexpressivo que sempre se sai exemplar em papéis introspectivos, como o Bob de “A Entrega”, o Hardy de “Venom” parece chapado em quase todas as suas cenas, correspondendo tão bem ao tom bipolar involuntário do roteiro que chega a ser até comovente, como se vê quando devora crustáceos no aquário de um restaurante e em outras situações embaraçosas.
+ www.goo.gl/MVfrbi
Mare Nostrum
2.8 15É uma produção brasileira que vem em excelente timing, mas o texto de Ricardo Elias, também assinado por Claudio Yosida e Enéas Carlos, envereda por um realismo fantástico que reduz o potencial das discussões. Talvez o período controverso que atravessamos peça por programas mais leves, mas usar a mágica para driblar entraves não convencerá os mais céticos da plateia.
+ www.goo.gl/ni6SmF
O Poder de Diane
3.4 21Desenvolver um texto diante de algo que de fato se dá diante dos nossos olhos abre portas para muitas irregularidades, mas Clotilde Hesme contorna qualquer deslize principalmente quando os sentimentos que está verdadeiramente experimentando validam a sua Diane como uma figura palpável mesmo em suas excentricidades. O choro prolongado que toma os minutos finais de “O Poder de Diane” serão os mais verdadeiros que você testemunhará em qualquer ficção deste último ano.
+ www.goo.gl/bppJF5
Marcha Cega
4.1 3Além de expor o cenário aterrador de mobilizações que se iniciaram pacíficas, "Marcha Cega" é também informativo principalmente ao compartilhar os procedimentos e como todos são quebrados na contenção das massas. Com as tensões da polarização das eleições ainda em curso, vem mais um registro que lamentavelmente será reprisado com ainda mais gravidade nos próximos tempos obscuros que nos aguardam.
+ www.goo.gl/Hw3UFw
Um Pequeno Favor
3.3 690 Assista AgoraMeu comentário sobre o livro de Darcey Bell e a adaptação para cinema dirigida por Paul Feig em https://www.youtube.com/watch?v=TXO2Q5gYBNw
O Homem Perfeito
2.8 74Uma pena que a questão que levanta sobre comportamentos emperra “O Homem Perfeito” nos quesitos morais. Mesmo que Diana se manifeste duas ou três vezes diante de contextos machistas, o texto se desdobra justamente para esse fim quando as consequências começam a se desenhar. O comportamento da personagem de Juliana Paiva ao clímax é, por sinal, um dos mais vergonhosos já vistos na comédia romântica recente.
+ www.goo.gl/B6iWyK
10 Segundos Para Vencer
3.4 59“10 Segundos para Vencer” não quer mexer em vespeiro e, por isso mesmo, acaba resultando esquecível (quando não enfadonho) pela adoção da estrutura episódica. Eventos dramáticos, como o casamento de Éder, a saúde frágil do irmão e a sua aposentadoria precoce, ocupam a tela sem qualquer ressonância. Alvarenga Jr. entende do riscado, contemplando o público com evidente apuro técnico e boa direção de atores, mas a sua cinebiografia se perde entre as demais produzidas em nosso cinema.
+ www.goo.gl/fM5Rux
Coração de Cowboy
2.7 21 Assista AgoraDe versão adulta de um plot à lá “Gaby Estrella: O Filme” (a saída do urbano para o interior, a perseguição da agente inescrupulosa interpretada por Françoise Forton, a saúde fragilizada de um personagem chave), vai cedendo espaço para algo mais substancial e com o selo de aprovação de gente que entende do riscado, da participação de Lucas Lima na trilha sonora até as aparições de artistas como Chitãozinho & Xororó, Maurício Manieri e Rio Negro e Solimões.
+ www.goo.gl/bWcSJn
O Banquete
3.2 79Um time de excelentes atores (entre os quais Drica Moraes, Fabiana Gugli, Mariana Lima, Caco Ciocler e Gustavo Machado) é todo refém de um texto menos perspicaz e ácido como julga ser, além de uma mise-en-scène realmente desastrosa: reparem a câmera que recua sempre que ameaça ser refletida na parede espelhada da sala de jantar onde todos se encontram. Faz melhor quem for assistir o britânico “A Festa“, de Sally Potter e ainda em cartaz nos cinemas.
+ www.goo.gl/q4VrHG
Benzinho
3.9 348 Assista AgoraEscolhas repetitivas da montagem de Lívia Serpa (como as quebras estabelecidas com as intervenções dos fragmentos de Irene e Fernando abraçados em uma boia) e a falta de maior convencimento no aspecto da construção de um novo lar (de onde vem o dinheiro se ele não sobra?) não minimizam as demais virtudes de “Benzinho”, sendo a maior a de encontrar a catarse no mapa de sentimentos que se constitui o rosto de Karine Teles ao fim.
+ www.goo.gl/qgdp8R
Carnívoras
3.1 19O maior incômodo de “Carnívoras” é a sensação de que os Renier lidam aqui com a estrutura do mistério como se não tivessem qualquer conhecimento de causa. Além de estabelecerem uma estética sem identidade (veja o take da banheira com água azulada, por exemplo), os 98 minutos da duração soam intermináveis porque se deduz com uma distância enorme exatamente como tudo se desdobrará. Desta vez, a brincadeira de duplos não passa de uma bobagem.
+ www.goo.gl/jLFX7q
Marvin
3.7 71 Assista AgoraEsses flashbacks da infância do personagem-título são notáveis e correspondem aos melhores momentos do filme. Já no tempo atual, Anne Fontaine e o seu parceiro de escrita Pierre Trividic se perdem em alguns desdobramentos, como o relacionamento com Roland (Charles Berling), um homem mais velho e influente que apresenta Marvin à Isabelle Huppert – sim, a atriz interpreta a si mesmo.
+ www.goo.gl/25CVjq
O Homem que Parou o Tempo
1.6 19Seria um diagnóstico curioso sobre o enfado de uma geração às voltas com as responsabilidades mundanas assumidas em um cotidiano em que o tempo passa com a ausência de vibrações significativas. Há, entretanto, três problemas gravíssimos que desmantelam “O Homem que Parou o Tempo”.
Com uma figura central apática como João, é difícil o interesse para acompanhar a sua estagnação. Com poucas ferramentas em mãos, Hilnando SM é repetitivo na sensorialidade. Por fim, a enxuta duração de uma hora só fortalece a suspeita de extensão de algo que seria melhor alocado em um formato de curta-metragem.
+ www.goo.gl/RBffST
Camocim
3.5 19Trata-se de um documentário que chega em boa hora, um pouco superior diante do movimento empenhado em conceber híbridos (com a manifestação da ficção quando o verídico não oferta o impacto que realizadores pouco honestos ambicionam).
Falta somente um olhar mais incisivo e menos contemplativo dessa realidade de “Camocim”, algo que o realizador francês consegue com sucesso somente no encaminhamento para o encerramento de sua obra, quanto a polarização é ilustrada com uma perfeita simetria entre azuis e vermelhos. “Gretchen Filme Estrada” é uma obra relacionada superior, por exemplo.
+ www.goo.gl/yJmSvf
Slender Man: Pesadelo Sem Rosto
1.5 469 Assista AgoraFoi esperado que “Slender Man: Pesadelo Sem Rosto” tenha sofrido vários entraves em sua pós-produção e que chegue agora obtendo a pior recepção possível de público e crítica. O mais triste de tudo isso, no entanto, é o crédito de David Birke como autor do roteiro. Responsável por “Elle“, um dos textos mais mordazes do cinema contemporâneo, o americano transforma o seu envolvimento no aspecto mais horripilante de “Slender Man: Pesadelo Sem Rosto”.
+ www.goo.gl/48d23g
Ferrugem
3.0 129Escrito em parceria com Jessica Candal, Aly Muritiba faz um filme dividido em duas partes. A primeira é excepcional e sem concessões, exibindo com perícia um universo adolescente sem filtros e no qual os adultos são presenças inconstantes. Lamentavelmente, as qualidades são se fazem presente na segunda. Nada há de bom nesse momento de “Ferrugem”, concentrando o peso do que aconteceu com Tati em Renet, um personagem aborrecido pelo qual vamos progressivamente deixando de nos importar. Se o registro pretensamente intimista dessa “Parte 2” fosse repensada para o contexto mais amplo da “Parte 1”, é certo que “Ferrugem” de fato impactaria com o seu conto moral.
+ www.goo.gl/4pkRJt
Meu Tio e o Joelho de Porco
3.4 3No trailer de “Meu Tio e o Joelho de Porco”, a sentença “o primeiro documentário brasileiro sem depoimentos do Caetano Veloso” é apresentada em seus segundos finais. Nada mais que uma brincadeira, mas evidencia um vício em nosso cinema: o do enaltecimento das figuras do tropicalismo em detrimento de outros movimentos, artistas e grupos brasileiros.
Com grande fatia de seu currículo composto por créditos na concepção da abertura de filmes como “Chega de Saudade”, “As Melhores Coisas do Mundo” e “Tropa de Elite 2: O Inimigo Agora é Outro“, Rafael Terpins dá agora uma contribuição para remar contra essa predileção contando para velhas e novas gerações a história do Joelho de Porco.
+ www.goo.gl/hyKzEL
Tudo é Irrelevante, Hélio Jaguaribe
2.0 1Mesmo com o inegável fascínio pela figura em destaque e de um prólogo dedicado a exibir as suas interessantes impressões sobre a falta de sentido do universo e da concepção humana, o documentário imediatamente sucumbe a um formato extremamente tradicional, mesmo com as intervenções visuais. Faltou também se atentar a questões mais contemporâneas, o que certamente ampliaria a curiosidade de iniciados por Hélio Jaguaribe.
+ www.goo.gl/bQALW6
Yonlu
3.4 144Afora por nos (re)aproximarmos de um talento que tão cedo partiu, deixando como legado uma produção musical realmente consistente e que tanto se comunica pela abordagem das frustrações da tenra idade, “Yonlu” falha não somente como tributo, mas principalmente como uma obra cinematográfica que poderia exercer uma função social para uma geração mais delicada como nunca e que por vezes incorre a uma solução permanente para um problema temporário.
+ www.goo.gl/BXkKEB
Histórias Que Nosso Cinema (Não) Contava
3.7 71O resultado vai além da mera colagem e volta a atrair atenção para uma parte de nosso cinema hoje restrita aos festivais especiais e canais fechados – isso quando totalmente inacessíveis principalmente por nossa preservação questionável. Ainda assim, falta a sensação de unidade, de que estamos vendo a algo realmente (re)construído do zero. Nem tudo se conecta harmoniosamente, por vezes trazendo o efeito de tevê sendo zapeada.
+ www.goo.gl/BxbMiu
+ Todos os filmes citados em “Histórias Que Nosso Cinema (Não) Contava”:
• “1001 Posições do Amor” (1978), de Carlo Mossy
• “19 Mulheres e Um Homem” (1977), de David Cardoso
• “A Super Fêmea” (1973), de Anibal Massaini Neto
• “Amadas e Violentadas” (1976), de Jean Garret
• “Amante Muito Louca” (1973), de Denoy de Oliveira
• “Árvore dos Sexos” (1977), de Sílvio de Abreu
• “Aventuras Amorosas de Um Padeiro” (1975), de Waldir Onofre
• “Bonitas e Gostosas” (1978), de Carlo Mossy
• “Cada Um Dá o Que Tem” (1975), de Adriano Stuart, John Herbert e Sílvio de Abreu
• “Café na Cama” (1973), de Alberto Pieralisi
• “Colegiais e Lições de Sexo” (1980), de Juan Bajon
• “Corpo Devasso” (1980), de Alfredo Sternheim
• “E Agora José – A Tortura do Sexo” (1979), de Ody Fraga
• “Elas São do Baralho” (1977), de Sílvio de Abreu
• “Eu Transo, Ela Transa” (1972), de Pedro Camargo
• “Gente Fina é Outra Coisa” (1977), de Antônio Calmon
• “Histórias Que Nossas Babás Não Contavam” (1979), de Osvaldo de Oliveira
• “Inseto do Amor” (1980), de Fauzi Mansur
• “Manicures a Domicílio” (1978), de Carlo Mossy
• “Noite em Chamas” (1977), de Jean Garret
• “Nos Embalos de Ipanema” (1978), de Antônio Calmon
• “O Bom Marido” (1978), de Antônio Calmon
• “O Enterro da Cafetina” (1971), de Alberto Pieralisi
• “Os Mansos” (1973), de Braz Chediak
• “Palácio de Vênus” (1980), de Ody Fraga
• “Porão das Condenadas” (1979), de Francisco Cavalcanti
• “Terror e Êxtase” (1979), de Antônio Calmon
• “Vítimas do Prazer – Snuff” (1977), de Cláudio Cunha